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03_CIVIL_31 03 11

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2) Negócio Jurídico
Conforme dissemos, o negócio jurídico traduz uma declaração de vontade, emitida segundo a autonomia privada, pela qual o declarante, nos limites da função social e da boa-fé objetiva, persegue determinados efeitos jurídicos desejados e possíveis.
Obs.: Mesmo nos contratos por adesão haverá uma margem, ainda que mínima, de autonomia privada, no que toca a liberdade de aderir ou não ao que fora proposto (Ver: A regra moral nas obrigações civis – Georges Ripert).
Na teoria geral do contrato, a ideia de autonomia privada será retomada, na perspectiva de autores como Judith Martins Costa e Luigi Ferri, que bem demonstram os parâmetros de contenção que a liberdade negocial deve experimentar.
3) Teorias explicativas do negócio jurídico
 
· Teoria ou corrente voluntarista (teoria da vontade)
Também conhecida como WILLENSTHEORIE.
Esta corrente sustenta que a pedra fundamental, a matriz explicativa do negócio jurídico é a própria vontade interna ou a intenção do declarante. Tal teoria influenciou especialmente o nosso código civil conforme se vê no art. 112:
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
· Teoria ou corrente objetivista (teoria da declaração) 
Também conhecida como ERKLARUNGSTHEORIE.
Para esta segunda corrente, o que explica, o que justifica o próprio negócio não é a intenção do declarante, mas sim, a sua própria vontade externa ou declarada.
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Em verdade, essas duas teorias se complementam, na medida em que o negócio jurídico deve ser explicado segundo a conjugação da vontade interna com a vontade que se declara.
No livro de Pablo Stolze:
Voluntaristas – Para esta teoria, negócio jurídico é a manifestação de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos, o ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico, ou uma declaração de vontade, pela qual o agente pretende atingir determinados efeitos admitidos por lei.
Afirma-se não ser verdadeira a premissa de que o declarante sempre manifesta a sua vontade dirigida a um determinado fim querido e previamente conhecido. 
Na hipótese de conversão substancial – medida sanatória do ato nulo que será ulteriormente analisada -, por exemplo, as partes celebram um determinado negócio jurídico inválido, mas que, por força do princípio da conservação, poderá ser convertido em outra categoria de negócio, se contiver os pressupostos de validade deste último. Note-se que, nesse caso, não se pode afirmar que o negócio resultante da conversão foi desejado e pretendido, e, ainda assim, não se nega sua natureza negocial.
Objetivistas – Negócio jurídico seria antes um meio concedido pelo ordenamento jurídico para a produção de efeitos jurídicos, que propriamente um ato de vontade.
Nesse contexto, o duelo doutrinário agravou-se entre os partidários da teoria da vontade e da teoria da declaração.
b.1) Teoria da vontade – Para esta teoria, o elemento produtor dos efeitos jurídicos é a vontade real, de forma que a sua declaração seria simplesmente a causa imediata do efeito perseguido (se não houver correspondência entre a vontade real e a declaração emitida, prevalece a intenção).
b.2) Teoria da declaração – Os adeptos dessa teoria, que em essência não se afasta da corrente voluntarista tradicional, negam à intenção o caráter de vontade propriamente dita, sustentando que o elemento produtor dos efeitos jurídicos é a declaração.
· Questão de concurso:
O que é TEORIA DA PRESSUPOSIÇÃO?
Na linha de entendimento de WINDSCHEID, a teoria da pressuposição sustentava a invalidade do negócio jurídico, quando a certeza subjetiva do agente se modificasse na execução do contrato. Essa teoria viola a segurança jurídica.
4) Planos de análise do negócio jurídico
· Plano de existência (Plano substantivo)
· Manifestação de vontade
· Agente emissor da vontade
· Objeto
· Forma
· Plano de validade
· Manifestação da vontade – Livre + Boa fé
· Agente – Capaz + Legitimado
· Objeto – Lícito + Possível + Determinado (Determinável)
· Forma – Livre ou Prescrita em lei
· Plano de eficácia 
São elementos acidentais.
· Condição
· Termo
· Modo ou Encargo
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· Plano da Existência
Analisam-se os elementos que compõem a existência do negócio (pressupostos existenciais).
· Manifestação de Vontade
· Agente emissor da vontade
Em geral, esse agente emissor da vontade é uma pessoa física ou jurídica, podendo também ser um órgão.
· Objeto
O objeto é o bem da vida, sem o objeto o negócio jurídico não existe.
· Forma
A forma, enquanto elemento existencial do negócio, é o necessário meio pelo qual a vontade se manifesta, na linha de Vicente Ráo, traduz o revestimento exterior do próprio negócio.
O negócio jurídico, em geral, para existir, pressupõe a observância de uma determinada forma de exteriorização da vontade que poderá ser escrita, verbal, ou até mímica.
· O SILÊNCIO
Lembra-nos Caio Mário da Silva Pereira que, normalmente, o silêncio é o nada, de maneira que não serviria para completar a estrutura existencial do negócio. Todavia, na vereda dos sistemas belga, francês, alemão e suíço, e também a teor do art. 218 do Código de Portugal, o art. 111 do nosso Código Civil admite que em determinadas situações o silêncio seja forma de manifestação da vontade, como no caso da doação pura (art. 539, CC).
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.
· Plano de Validade
Estuda-se os pressupostos que qualificam o negócio jurídico.
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
· Manifestação da vontade – Livre + Boa fé
A noção de liberdade negocial está umbilicalmente ligada ao princípio da autonomia privada, pedra de toque de toda a teoria do negócio jurídico. Traduz a liberdade de atuação do indivíduo no comércio jurídico, respeitados os ditames mínimos de convivência social e moralidade média. O solidarismo social das atuais sociedades globalizadas exige o reconhecimento de normas limitadoras da autonomia privada (princípio da autonomia privada), em respeito ao princípio maior da dignidade da pessoa humana.
A boa-fé deve ser objetiva, a boa-fé subjetiva (crença interna, estado subjetivo, psicológico) não basta para se reconhecer a plena validade da manifestação volitiva. É preciso que além de um estado de ânimo positivo as partes se portem segundo um padrão ético objetivo de confiança recíproca, atuando em respeito a deveres implícitos decorrentes de todo negócio jurídico bilateral: confidencialidade, respeito, lealdade recíproca, assistência etc. Deve haver a boa-fé não apenas durante à conclusão (celebração) do contrato, mas também durante toda a sua execução.
Ex: Celebração de contrato de compra e venda de maquinismo complexo e de alta tecnologia por duas empresas. O alienante cumpre sua parte (dar, transferir a propriedade da coisa) em troca do valor recebido, contudo, não dá assistência operacional posterior necessária àquele tipo de maquinário complexo. O prejudicado pode alegar o desrespeito à boa fé:
· Subjetiva – quando, por exemplo, o alienante alega que, o contrato é silente em relação a esta circunstância (assistência), e o prejudicado, se soubesse da negativa de assistência pela indústria, jamais teria realizado o negócio. Poderia justificar a invalidade do negócio à luz da teoria do dolo ou erro.
· Objetiva – Quando, por exemplo, essa necessidade de assistência ocorresse somente posteriormente, presumindo-se não ter sido induzido a erro quando dacelebração do contrato. A necessidade de assistência surgiu posteriormente em virtude, por exemplo, da demissão do funcionário qualificado para operar tal maquinário, decorrendo a sua exigibilidade dos próprios termos do negócio celebrado. O fato do negócio ter sido celebrado em acordo com a boa-fé subjetiva não o valida, pois ocorreu a quebra da boa-fé objetiva, podendo o prejudicado pleitear a invalidação no mesmo.
CONCLUSÃO: Para a invalidação é suficiente que tenha havido a quebra de uma espécie de boa-fé (objetiva ou subjetiva), já para a sua validação é necessário que ambas estejam presentes.
· Agente – Capaz + Legitimado
Agente capaz – Diz respeito à capacidade civil
Legitimação – é uma capacidade específica, consistente no fato de o agente civilmente capaz não ter contra si IMPEDIMENTOS para a realização de ato específico, por relevantes razões sociais e morais. Ex.: tutor plenamente capaz não pode adquirir bens do tutelado.
Obs.: Autocontrato / Negócio jurídico consigo mesmo
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos.
· Objeto – Lícito + Possível + Determinado ou determinável
Todo objeto deve conter elementos mínimos de individualização que permitam caracterizá-lo.
· Forma – Livre ou Prescrita em lei
Obs.: Seguindo o pensamento de Orlando Gomes, a licitude do negócio jurídico abrange a legalidade e o respeito ao padrão médio de moralidade.
Vigora no Brasil, nos termos do art. 107, CC, como regra geral dos negócios jurídicos, o princípio da liberdade da forma. Todavia, em algumas situações, quando a lei prescreve determinada forma, poderá ser para efeito de prova do negócio jurídico (negócio ad probationem, art. 227, CC) ou a forma é exigida como requisito de validade do negócio (negócio solene ou ad solemnitatem, art. 108, CC).
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.
Obs.: O enunciado 289 da 4ª jornada de Dir. Civil estabelece que o valor que se considera para efeito de se lavrar ou não escritura pública, nos termos do art. 108, CC, é aquele lançado do contrato, e não o da administração tributária. 
Obs.: Independentemente do valor, não se exige escritura pública para contratos de promessa de compra e venda imobiliária (art. 1.417,CC), bem como naqueles garantidos por meio de alienação fiduciária de imóveis (art. 38 da Lei 9.514/07) ou que tenham por objeto aquisição de imóvel sujeito ao SFH (Sistema Financeiro de Habitação – art. 61, Lei 4.380/64). 
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
A) ERRO (Ignorância)
Teoricamente, afirma-se que o erro é uma falsa percepção positiva da realidade, ao passo que a ignorância traduziria um estado de espírito negativo, completo desconhecimento a respeito do fato. Na prática, entretanto, existe uma sinonímia.
Para o que mais nos interessa, é importante frisar que o erro é defeito do negócio jurídico que o invalida (causa de ANULAÇÃO), desde que, na linha da doutrina tradicional (Clóvis Bevilaqua) e segundo julgado do próprio STJ (Resp 744311/MT) dois requisitos concorram:
· Essencialidade (Substancial)
· Escusabilidade (Perdoável)
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Os autores mais modernos, conforme notamos da leitura do próprio enunciado 12 da 1ª Jornada de Direito Civil, corretamente, até pelo acentuado grau abstração, entendem dispensável o requisito da escusabilidade do erro, segundo o princípio da confiança.
Enunciado nº 12 – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança.
Não se admite, outrossim, a alegação de erro por parte daquele que atuou com acentuado grau de displicência.
· Espécies de Erro 
Na linha da doutrina de Roberto de Ruggiero, à luz do art. 139, CC, fundamentalmente, temos quatro tipos de erro:
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
Para Alberto de Ruggiero o erro pode incidir sobre:
Objeto (error in corpore) – É aquele que incide nas características essenciais do objeto do negócio, sobre a identidade do objeto. É o que ocorre quando, por exemplo, declara-se querer comprar o animal que está diante de si, mas acaba-se levando outro, trocado.
Error in substantia – É aquele que versa sobre a essência da coisa ou as propriedades essenciais de determinado objeto. É o erro sobre a qualidade do objeto. É o caso do sujeito que compra um anel de cobre imaginando ser de ouro.
Negócio (error in negotio) – Aquele que incide sobre a natureza do negócio, incide na própria declaração negocial de vontade.
Pessoa (error in persona) – Trata-se de erro que incide nos elementos de identificação ou características essenciais da outra parte do negócio. A principal aplicação do erro sobre a pessoa ocorre no Direito de Família, no campo da anulabilidade do casamento (arts. 1.556 e 1.557, CC). Na jurisprudência, ver TJRS AC. (apelação cível) 7001.680.7315.
· O que se entende por ERRO DE DIREITO? Ele é admitido no Brasil?
De direito – O Código de 2002, em seu art. 139, III, inova o sistema do Código anterior ao admitir o erro de direito. Trata-se de um erro sobre a ilicitude do fato, o qual, sem traduzir intencional recusa ao império da lei, projeta-se no âmbito de atuação permissiva da norma. Não consiste apenas na ignorância da norma, mas também no seu falso conhecimento e na sua interpretação errônea. Embora a regra geral não seja expressa a respeito, o requisito da boa-fé é obviamente indispensável para que se reconheça esta espécie de erro.

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