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Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Sistema Nervoso 1. Medula Espinhal A medula situa-se dentro do canal vertebral e durante seu desenvolvimento ocorre uma desproporção entre tamanho da coluna vertebral e medula espinhal, sendo que esta tem seu crescimento final até os quatro anos de idade, enquanto a estrutura óssea mantém crescimento até os 14 a 18 anos de idade. Dessa forma, o comprimento final da medula varia em aproximadamente 42 centímetros nas mulheres e 45 centímetros em homens. As vértebras oferecem um abrigo resistente, além dos ligamentos vertebrais, meninges e o líquido cerebrospinal que fornecem proteção adicional. A medula espinal tem formato aproximadamente oval, sendo levemente achatada anteroposteriormente. Em adultos, ela se estende do bulbo, a parte inferior do encéfalo, até a margem superior da segunda vértebra lombar. Seu diâmetro máximo é de aproximadamente 1,5 cm na região cervical inferior e é ainda menor na região torácica e em sua extremidade inferior. Em uma vista externa da medula espinal, são observadas duas intumescências. A superior, a intumescência cervical, se estende da quarta vértebra cervical (C4) até a primeira vértebra torácica (T1). Os nervos dos membros superiores derivados desta região, formando o plexo braquial. A inferior, chamada intumescência lombar, se estende da nona até a décima segunda vértebra torácica (T12). Os nervos dos membros inferiores se originam desta região, formando o plexo lombossacro. A formação destas intumescências se deve à maior quantidade de neurônios e, portanto, de fibras nervosas que entram ou saem destas áreas e que são necessárias para a inervação dos membros. Abaixo da intumescência lombar, a medula espinal se termina em uma estrutura cônica e afilada conhecida como cone medular, que se estende até o nível do disco intervertebral entre a primeira e a segunda vértebras lombares (L1-L2) em adultos. Do cone medular surge o filamento terminal, uma extensão de pia-máter que se estende inferiormente, se funde com a aracnoide e com a dura-máter, e ancora a medula espinhal no cóccix. Na medula, a substância cinzenta localiza-se por dentro da branca e apresenta a forma de uma borboleta ou de um H. Nela distinguimos, de cada lado, três colunas que aparecem nos cortes como cornos e que são as colunas anterior. posterior e lateral. A coluna lateral, entretanto, só aparece na medula torácica e parte da medula lombar. No centro da substância cinzenta localiza-se um pequeno espaço chamado de canal central. Ele se estende por toda a extensão da medula espinal e é preenchido com líquido cerebrospinal (é resquício da luz do tubo neural do embrião). A substância branca é formada por feixes de axônios mielinizados, que sobem e descem na medula e podem ser agrupados de cada lado em três funículos ou cordões: funículo anterior, lateral e posterior. Dois sulcos na substância branca da medula espinal a dividem em dois lados – direito e esquerdo. A fissura mediana anterior é um sulco largo situado na parte anterior. O sulco mediano posterior é um sulco mais estreito localizado na parte posterior. A substância cinzenta tem o formato de um H ou de uma borboleta; ela é composta por dendritos e corpos celulares, axônios não mielinizados e neuróglia. Na substância cinzenta da medula espinal e do encéfalo, agrupamentos de corpos celulares neuronais constituem grupos funcionais conhecidos como núcleos. Os núcleos sensitivos recebem aferências de receptores por meio de neurônios sensitivos, e os núcleos motores originam eferências para tecidos efetores por meio de neurônios motores. → Coluna vertebral A medula espinhal não é uma estrutura isolada, está em contato com diversas outras estruturas, incluindo estrutura óssea: a coluna vertebral. A coluna realiza um papel de proteção e estruturação da medula espinhal, desde a base do crânio a região de cóccix. A coluna vertebral é dividida em quatro regiões: cervical, torácica, lombar e Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 sacro-coccígea, sendo composta de 7 vértebras cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e cerca de 4 coccígeas. No adulto, a medula não ocupa todo o canal vertebral, uma vez que termina no nível da 21 vértebra lombar. Abaixo desse nível, o canal vertebral contém apenas as meninges e as raízes nervosas dos últimos nervos espinhais que, dispostas em torno do cone medular e filamento terminal constituem, em conjunto, a chamada cauda equina. Até o quarto mês de vida intrauterina, medula e coluna crescem no mesmo ritmo. Entretanto, a partir do quarto mês, a coluna começa a crescer mais do que a medula, sobretudo em sua porção caudal. Assim, essa diferença de tamanho entre a medula e o canal vertebral, bem como a disposição das raízes dos nervos espinhais mais caudais, forma a cauda equina, por conta desses ritmos de crescimento diferentes, em sentido longitudinal. A importância clínica da cauda equina é a região da cisterna lombar, pois é a região da punção lombar para avaliação liquórica. → Diferença entre as partes da medula → Meninges As meninges, em número de três, dura-máter, aracnoide e pia-máter são componentes essenciais para proteção e funcionamento medular. O espaço epidural que separa as porções da dura-máter e aracnoide é repleto de gordura formando um coxim de proteção entre as camadas, abaixo da aracnoide há o espaço subaracnoide repleto de líquor e diretamente em contato com a medula espinhal está a pia- máter. O ligamento denteado é uma estrutura de “ancoragem” da medula, diminuindo a mobilização extrema da medula e consequentemente realizando proteção em casos de traumas. → Correlações anatomoclínicas O espaço subaracnóideo no nível da medula apresenta certas particularidades anatômicas da dura-máter e da aracnoide na região lombar da coluna vertebral, as quais facilitam sua exploração clínica. Sabe-se que essas meninges terminam em S2, ao passo que a medula termina mais acima, em L2. Entre estes dois níveis, o espaço subaracnóideo é maior, contém maior quantidade de liquor e nele se encontram apenas o filamento terminal e as raízes que formam a cauda equina. Não havendo perigo de lesão da medula, esta área é ideal para a introdução de uma agulha no espaço subaracnóideo, o que é feito com as seguintes finalidades: a) retirada de liquor para fins terapêuticos ou de diagnóstico nas punções lombares (ou raquidianas); b) medida da pressão do liquor; e) introdução de substâncias que aumentam o contraste em exames de imagem, visando o diagnóstico de processos patológicos da medula na técnica denominada mielografia; d) introdução de anestésicos nas chamadas anestesias raquidianas; e) administração de medicamentos. A introdução de anestésicos nos espaços meníngeos da medula, de modo a bloquear as raízes nervosas que os atravessam, constitui procedimento de rotina na prática médica, sobretudo em cirurgias das extremidades inferiores, do períneo, da cavidade pélvica e em algumas cirurgias abdominais. Em geral são feitas anestesias de 2 tipos: • RAQUIDIANAS: anestésico é introduzido no espaço subaracnóideo por meio de uma agulha que penetra no espaço entre as vértebras L2-L3, L3-L4 ou L4-L5. Certifica-se Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 que a agulha atingiu o espaço subaracnóideo pela presença do liquor que goteja de sua extremidade. • EPIDURAIS OU PERIDURAIS: São feitas geralmente na região lombar, introduzindo-se o anestésico no espaço epidural, onde ele se difunde e atinge os forames intervertebrais, pelos quais passam as raízes dos nervos espinhais. Essas anestesias não apresentam alguns dos inconvenientes das anestesias raquidianas, como o aparecimento frequente de dores de cabeça, que resultam da perfuração da dura-máter e de vazamento de liquor. Entretanto, elas exigem habilidade técnica muito maior e hoje são usadas quase somente em partos. 2. Nervos Espinhais São aqueles que fazem conexão com a medula espinhal e são responsáveis pela inervação do tronco, dos membros e partes da cabeça. Os nervos espinhais estão associados à medula espinhal e, como todos os nervos do SNP,são feixes paralelos de axônios envolvidos por várias camadas de tecido conjuntivo. Eles são responsáveis por conduzir informações que entram e saem no SNC por meio da medula. Como as fibras incluem os axônios dos neurônios e suas bainhas envoltórias, os nervos frequentemente possuem coloração esbranquiçada devido à presença de mielina e colágeno. Existem, porém, nervos finos que não apresentam fibras mielínicas. Nos sulcos lateral anterior e lateral posterior da medula, fazem conexão pequenos filamentos nervosos denominados filamentos radiculares, que se unem para formar, respectivamente, as raízes ventral e dorsal dos nervos espinhais. As duas raízes, por sua vez, se unem para formar os nervos espinhais, ocorrendo essa união em um ponto situado distalmente ao gânglio espinhal que existe na raiz dorsal. Os nervos espinais conectam o SNC a receptores sensitivos, músculos eglândulas em todas as partes do corpo. Os 31 pares de nervos espinais são nomeados e numerados de acordo com a região e o nível da coluna vertebral de onde surgem (8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo). Existem oito pares de nervos cervicais, mas somente sete vértebras. O primeiro par cervical (C1) emerge acima da 1ª vértebra cervical, portanto entre ela e o osso occipital. Já o 8º par (C8) emerge abaixo da 7ª vértebra, o mesmo acontecendo com os nervos espinhais abaixo de C8, que emergem, de cada lado, sempre abaixo da vértebra correspondente. Um nervo espinal típico tem duas conexões com a medula: uma raiz posterior e uma raiz anterior. Estas raízes se unem para formar um nervo espinal no forame intervertebral. Como a raiz posterior contêm axônios sensitivos e a raiz anterior apresenta axônios motores, o nervo espinal é classificado como um nervo misto. A raiz posterior contém um gânglio, no qual estão localizados os corpos celulares dos neurônios sensitivos. Cada nervo periférico é constituído por fibras de diferentes tipos: A) AFERENTES As fibras aferentes são responsáveis por levar as informações que o corpo obtém do meio externo e de seu interior até o SNC. • Somáticas - originadas em proprioceptores (músculos e tendões) e em exteroceptores (pele). As fibras originadas em exteroceptores trazem informações de diferentes modalidades de tato, dor, temperatura e pressão, enquanto as originadas em proprioceptores trazem as de propriocepção consciente e inconsciente (atividades voluntárias e involuntárias, respectivamente). • Viscerais - originadas nos interoceptores; Tem como função perceber as condições internas do organismo e trazer informações sobre o estado geral do corpo. B) EFERENTES As fibras eferentes garantem que os impulsos do SNC cheguem até os órgãos efetores. • Somáticas - terminam emmúsculos estriados esqueléticos; • Viscerais - terminam nos músculos liso, estriado cardíaco ou em glândulas; Os nervos que apresentam apenas fibras aferentes recebem o nome de nervos sensoriais, e aqueles que possuem https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/neuronios.htm Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 apenas fibras eferentes são chamados de motores. Existem ainda nervos mistos, que apresentam os dois tipos de fibras. Se um nervo é estimulado ao longo de seu trajeto, a sensação geralmente dolorosa é sentida não no ponto estimulado, mas no território sensitivo que ele inerva. Assim, quando um membro é amputado, os cotos nervosos irritados podem originar impulsos nervosos que são interpretados pelo cérebro como se fossem originados no membro retirado, resultando na chamada dor fantasma, pois o indivíduo sente dor em ummembro que não existe. 3. Dermátomos Denomina-se dermátomo o território cutâneo inervado por fibras de uma única raiz dorsal. O dermátomo recebe o nome da raiz que o inerva. Assim, temos os dermátomos C3, T5, L4 etc. Ao ter uma raiz seccionada, o dermátomo correspondente não perde completamente a sensibilidade, visto que raízes dorsais adjacentes inervam áreas sobrepostas. Para a perda completa da sensibilidade em todo um dennátomo, seria necessária a secção de três raízes. Porém, a herpes zoster (caso da abertura da APG), doença conhecida vulgarmente como cobreiro, é uma infecção viral que se limita a um lado do corpo, geralmente confinada ao dermátomo do nervo afetado. Vesículas avermelhadas se formam devido à presença do vírus varicella zoster (VZV), que é a forma adulta do vírus que causa a catapora (varicela). Essa condição leva ao aparecimento de dores e pequenas vesículas em uma área cutânea que corresponde a todo o dermátomo da raiz envolvida. O vírus permanece latente no gânglio nervoso e pode surgir em períodos de estresse ou quando o sistema imunológico encontra-se debilitado. Essa condição geralmente melhora em um mês, apesar de alguns pacientes sofrerem durante anos devido a lesões aos nervos, quadro conhecido como neuralgia (nevralgia) pós-herpética. A seguir estão os principais dermátomos do corpo: • Dermátomos cervicais (rosto e pescoço): são especialmente inervados pelo nervo que sai das vértebras C1 e C2; • Dermátomos torácicos (tórax): são as regiões enervadas por nervos que saem das vértebras T2 a T12; • Dermátomos dos membros superiores (braços e mãos): são inervados pelos nervos que saem das vértebras C5 a T2; • Dermátomos lombares e dos membros inferiores (pernas e pés): contêm as regiões inervadas pelos nervos que saem das vértebras L1 a S1; • Glúteos: é a área inervada pelos nervos que estão no sacro, em S2 à S5. A figura abaixo mostra os mapas dos territórios cutâneos de distribuição dos nervos periféricos dos dermátomos. Mapas como este permitem, diante de um quadro de perda de sensibilidade cutânea, determinar se a lesão foi em um nervo periférico, na medula ou nas raízes espinhais. → Observações 1. Os dermátomos também podem ser usados em terapias alternativas, como a acupuntura ou reflexologia, para estimular diretamente determinados locais da medula espinhal ou outros órgãos inervados pelo par de nervo correspondente. Dessa forma o acupunturista poderá inserir uma agulha na coluna, com o intuito de aliviar a dor e o desconforto que surgem em outras áreas do corpo. 2. Os dermátomos se referem a alterações sensitivas da pele, enquanto que os miótomos são responsáveis pelos movimentos dos músculos dessa mesma região. Referência: MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 3 ed. São Paulo: Atheneu, 2014.
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