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Sistema Somatossensorial

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Cecília Matos - MEDICINA 2021.1
Sistema Nervoso
1. Introdução
O sistema nervoso só foi possível de se desenvolver a partir
de três propriedades básicas:
• Irritabilidade: É a propriedade de uma célula de ser
sensível ao meio ambiente, dando origem a um impulso;
• Condutibilidade: Consiste na condução desse impulso
pelo meio interno;
• Contratilidade: É a resposta do ser vivo ao estímulo inicial;
Trata-se de um encurtamento da célula, visando fugir de um
estímulo nocivo.
A partir disso, surgiram células bem diferenciadas,
responsáveis pela captação de estímulos (irritabilidade) e os
redirecionando para as células musculares (condutibilidade):
os neurônios. Todos os neurônios existentes no sistema
nervoso do homem, embora recebendo nomes diferentes e
variados em diferentes setores do sistema nervoso central,
podem, em última análise, ser classificados em um destes
três tipos fundamentais:
→ Aferente ou sensitivo
São neurônios situados na superficie que são especializados
em receber os estímulos originados nos receptores
periféricos e conduzir os impulsos ao SNC, informando-o
acerca do mecanismo externo que causou essa irritação.
O corpo do neurônio sensitivo está presente em gânglios
sensitivos situados junto ao SNC, sem, entretanto, penetrar
nele. Caso sua presença fosse na superfície, ele estaria mais
sujeito a lesões e, ao contrário dos axônios, que podem se
regenerar, as lesões do corpo de um neurônio são
irreversíveis.
A condução dos impulsos nervosos sensitivos se faz através
dos prolongamentos periféricos dos neurônios sensitivos.
Esse tipo de neurônio possui um prolongamento periférico
que se liga ao receptor e um prolongamento central que se
liga a neurônios da medula ou do tronco encefálico. O
prolongamento periférico é morfologicamente um axônio,
mas conduz o impulso nervoso centripetamente, sendo,
pois, funcionalmente um dendrito. Já o prolongamento
central é um axônio no sentido morfológico e funcional,
uma vez que conduz centrifugamente. Os impulsos
nervosos sensitivos são conduzidos do prolongamento
periférico para o central, e admite-se que não passam pelo
corpo celular.
→ Eferente ou motor
Situados no gânglio e especializados na condução do
impulso do SNC até o efetuador, seja músculos ou glândulas.
O impulso eferente determina, assim, uma contração ou
uma secreção. Esses impulsos motores são conduzidos no
sentido do corpo celular para o efetuador.
O corpo do neurônio eferente surgiu dentro do SNC e a
maioria deles permaneceu nesta posição durante toda a
evolução. Contudo, os neurônios eferentes que inervam os
mm lisos, cardíacos ou glândulas têm seus corpos fora do
SNC, em estruturas que são os gânglios viscerais. Estes
neurônios pertencem ao sistema nervoso autônomo e são
chamados neurônios pós-ganglionares.
→ De associação
Situado no gânglio e faz a associação de um segmento com
outro. O aparecimento dos neurônios de associação trouxe
considerável aumento do número de sinapses, aumentando
a complexidade do sistema nervoso e permitindo a
realização de padrões de comportamento cada vez mais
elaborados.
O corpo do neurônio de associação permaneceu sempre
dentro do SNC e seu número aumentou muito durante a
evolução. Constituem a grande maioria dos neurônios
existentes no SNC dos vertebrados, e recebem vários
nomes. Alguns tem axônios longos e fazem conexões com
neurônios situados em áreas distantes. Outros possuem
axônios curtos e ligam-se apenas com neurônios vizinhos.
Estes são chamados neurônios internunciais ou
interneurônios.
2. Sistema somatossensorial
O sistema somatossensorial é o responsável pelas
experiências sensoriais detectadas nos órgãos sensoriais
que não pertencem ao sentido especial. Enquanto os
receptores sensoriais dos sentidos especiais (visão, audição,
gustação, olfato e equilíbrio) estão restritos à cabeça, os do
sentido somático geral estão espalhados pelo corpo todo. A
sensibilidade somática é constituída de: tato; temperatura;
nocicepção (dor e prurido) e propriocepção.
Nas extremidades das fibras nervosas sensoriais, há
especializações formando receptores que podem ser de
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diversos tipos (mecanoceptor, fotorreceptor, quimioceptor,
termoceptor e nociceptor).
3. Vias Aferentes ou ascendentes
Essas vias são regiões medulares que captam estímulos
periféricos (do SNP) e levam informações ao córtex cerebral
(ao SNC) para gerar uma resposta. Essa é uma via sensitiva,
na qual os estímulos sensitivos entram na medula pela
coluna ou corno posterior (normalmente a maioria deles
cruzam de lado assim que chegam).
Chamamos de vias aferentes ou sensitivas as fibras que
conduzem os estímulos (ambientais ou internos) ao cérebro,
e por meio de receptores especializados em transformar
esse estímulo sensorial em potencial de ação.
Os componentes dessa via são: fascículo grácil, fascículo
cuneiforme, trato espinocerebelar e trato espinotalâmico.
• TRATO ESPINO-CEREBELAR (posterior e anterior):
propriocepção inconsciente.
• FASCÍCULO GRÁCIL E CUNEIFORME: esterognosia, tato
discriminativo, propriocepção consciente e sensibilidade
vibratória.
• TRATO ESPINO-TALÂMICO (anterior e lateral): tato e
pressão (TEA), dor e temperatura (TEL).
4. Receptores sensoriais
O termo receptor sensorial refere-se à estrutura neuronal ou
epitelial capaz de transformar estímulos fisicos ou químicos
em atividade bioelétrica (transdução de sinais) para ser
interpretada no sistema nervoso central. Distinguem-se dois
grandes grupos de receptores: os especiais e os gerais.
Os receptores especiais são mais complexos e fazem parte
dos chamados órgãos especiais do sentido: visão, audição e
equilíbrio, gustação e olfação, todos localizados na cabeça.
Os receptores gerais ocorrem em todo o corpo, fazem parte
do sistema sensorial somático. que responde a diferentes
estímulos, tais como tato, temperatura, dor e postura
corporal ou propriocepção.
Usando-se como critério os estímulos mais adequados para
ativar os receptores, estes podem ser classificados como:
→ Quimiorreceptores
São receptores sensíveis a estímulos químicos, como os da
olfação e gustação e os receptores do corpo carotídeo
capazes de detectar variações no teor do oxigênio
circulante;
→ Osmorreceptores
Receptores capazes de detectar variação de pressão
osmótica;
→ Fotorreceptores
Receptores sensíveis à luz, como os cones e bastonetes da
retina;
→ termorreceptores
Receptores capazes de detectar frio e calor. São
terminações nervosas livres. Alguns se localizam no
hipotálamo e detectam variações na temperatura do
sangue, desencadeando respostas para conservar ou
dissipar calor;
→ Nociceptores
São receptores ativados por diversos estímulos mecânicos,
térmicos ou químicos, mas em intensidade suficiente para
causar lesões de tecidos e dor. São terminações nervosas
livres;
→ mecanorreceptores
São receptores sensíveis a estímulos mecânicos e
constituem o grupo mais diversificado. Aqui situam-se os
receptores de audição e de equilíbrio do ouvido interno; os
receptores do seio carotídeo, sensíveis a mudanças na
pressão arterial (barorreceptores); os fusos
neuromusculares e órgãos neurotendinosos, sensíveis ao
estiramento de músculos e tendões; receptores das vísceras,
assim como os vários receptores cutâneos responsáveis
pela sensibilidade de tato, pressão e vibração.
Outra maneira de classificar os receptores, leva em conta a
sua localização, o que define a natureza do estímulo que os
ativa. Com base nesse critério, distinguem-se 3 categorias:
Os exteroceptores localizam-se na superficie externa da
pele, onde são ativados por agentes externos como calor,
frio, tato, pressão, luz e som (inclui-se os mecano, termo e
nociceptores).
Os proprioceptores localizam-se mais profundamente,
situando-se nos músculos, tendões, ligamentos e
articulações. Os impulsos nervosos originados nesses
receptores, impulsos nervosos proprioceptivos, podem ser
conscientes e inconscientes. São, pois, responsáveis pelos
sentidos de posição e de movimento.
Os interoceptores (ou visceroceptores) localizam-se nas
vísceras e nos vasose dão origem às diversas formas de
sensações viscerais, geralmente pouco localizadas, como a
fome, a sede e a dor visceral. Grande parte dos impulsos
aferentes originados em interoceptores é inconsciente,
transmitindo ao SNC informações sobre o estado interno,
necessárias à coordenação da atividade visceral, tais como o
teor de O2, a pressão osmótica do sangue e a pressão
arterial. Dessa forma, transmitem impulsos relacionados às
vísceras e são, por conseguinte, viscerais.
5. áreas sensitivas do córtex
cerebral
Existe uma área cortical distinta (um córtex sensitivo
primário), para cada um dos sentidos principais: os sentidos
somáticos gerais e os sentidos especiais da visão, audição,
equilíbrio, olfação e gustação.
As áreas sensitivas do córtex estão distribuídas nos lobos
parietal, temporal e occipital. Elas são divididas em áreas
primárias (de projeção) e secundárias (de associação),
relacionadas, respectivamente, à sensação do estímulo
recebido e à percepção de características específicas desse
estímulo.
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ÁREAS CORTICAIS RELACIONADAS COM A
SENSIBILIDADE SOMÁTICA
→ Área somestésica primária (S1)
Área somestésica primária (S1) e a área da sensibilidade
somática geral estão localizadas no giro pós-central, que
corresponde às áreas 3, 1 e 2 de Brodmann. A área 3 localiza-
se no fundo do sulco central, enquanto as áreas 1 e 2
aparecem na superficie do giro pós-central.
Trazem impulsos nervosos relacionados a temperatura, dor,
pressão, tato e propriocepção consciente da metade
oposta do corpo.
Todas as partes do corpo estão representadas nesta área,
sendo esta representação chamada somatopia. O cientista
Penfileld criou um homúnculo sensitivo, projetado de cabeça
para baixo no giro pós-central, para dar idéia desta
representação. Na parte superior deste giro, na porção
mediana do hemisfério, situam-se as áreas dos órgão
genitais e dos pés, seguidas das áreas da perna, tronco e
braço, estas últimas todas pequenas. Mais abaixo vem a
área da mão e da cabeça, onde a face e a boca têm uma
grande representação. Na parte mais baixa do sulco, já
próximo ao sulco lateral, aparece a área da língua e da
faringe.
A maior e a menor representação de cada uma destas
partes no giro pós-central demonstra o princípio de que a
extensão da representação cortical de uma parte do corpo
depende da importância funcional e da densidade de
aferências dessa parte para a biologia da espécie, e não de
seu tamanho.
Lesões da área somestésica podem ocorrer, por exemplo,
como consequência de acidentes vasculares cerebrais que
comprometem as artérias cerebral média ou cerebral
anterior. Há, então, perda da sensibilidade discriminativa do
lado oposto à lesão. O doente perde a capacidade de
discriminar dois pontos, perceber movimentos de partes do
corpo ou reconhecer diferentes intensidades de estímulo.
Apesar de distinguir as diferentes modalidades de estímulo,
ele é incapaz de localizar a parte do corpo tocada ou de
distinguir graus de temperatura, peso e textura dos objetos
tocados. Em decorrência disso, o doente perde a
estereognosia, ou seja, a capacidade de reconhecer os
objetos colocados em sua mão. É interessante lembrar que
as modalidades mais grosseiras de sensibilidade
(protopática), tais como o tato não discriminativo e a
sensibilidade térmica e dolorosa, permanecem
praticamente inalteradas, pois elas se tornam conscientes
em nível talâmico.
→ Área somestésica Secundária (S2)
Esta área situa-se no lobo parietal superior, logo atrás da
área somestésica primária, e corresponde à área 5 e parte
da área 7 de Brodmann. Sua lesão causa agnosia tátil, ou
seja, incapacidade de reconhecer objetos pelo tato
6. Arco Reflexo
Um arco reflexo é a resposta a um dado estímulo recebido
por um nervo, ocorrendo de forma inconsciente. Trata-se de
uma excitação processada na medula e não no encéfalo.
Quando o neurologista bate com o martelo no joelho de um
paciente, a perna se projeta para frente. O martelo produz
estiramento do tendão que acaba por estimular receptores
no músculo quadriceps, dando origem a impulsos nervosos
que seguem pelo neurônio sensitivo. O prolongamento
central destes neurônios penetra na medula e termina
fazendo sinapse com neurônios motores aí situados. O
impulso sai pelo axônio do neurônio motor e volta ao
membro inferior, onde estimula as fibras do músculo
quadriceps, fazendo com que a perna se projete para frente.
Assim, o reflexo todo ocorre sem envolver o cérebro.
Temos, assim, os elementos básicos de um arco reflexo
simples: um neurônio aferente com seu receptor, um centro
onde ocorre a sinapse, e um neurônio eferente que se liga
ao efetuador, no caso os músculos. Ele pode ser um arco
reflexo intrassegmentar, quando a conexão entre o
neurônio aferente e o eferente envolve apenas um
segmento (ex: reflexo patelar), ou interssegmentar, quando
o estímulo se inicia em um segmento e a resposta se faz em
outro, devido a sinapses com o neurônio de associação.
Grande número de reflexos medulares são
intersegmentares, e a resposta eferente se origina em
segmentos às vezes muito distantes, localizados acima ou
abaixo.
Referência:
MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 3 ed. São Paulo:
Atheneu, 2014.
https://www.stoodi.com.br/blog/2020/01/02/sistema-sensorial/

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