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Nervos Cranianos PT. 2 e Visão

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Cecília Matos - MEDICINA 2021.1
Sistema Nervoso
1. Nervos Cranianos (pt. 2)
São nervos que fazem conexão com o encéfalo. A maioria
se liga ao tronco encefálico, exceto os nervos olfatório e
óptico que se ligam ao telencéfalo e diencéfalo
respectivamente. Ao total são 12 pares de nervos cranianos,
nomeados de acordo com sua origem aparente, em sentido
rostrocaudal.
CLASSIFICAÇÃO DOS NERVOS:
→ Nervo Óptico (II par)
Origem aparente: quiasma óptico e canal óptico;
Surge da porção posterior do globo ocular;
Exclusivamente sensitivo;
Leva informações visuais até o córtex visual no lobo occiptal;
Constituído por um grosso feixe de fibras que se origina na
retina, penetrando no crânio pelo canal óptico;
Conduz impulsos visuais (sensível à luz) responsáveis pelo
processamento da imagem.
Cada nervo se une ao lado oposto formando o quiasma
óptico, onde há cruzamento das fibras;
Classificação: fibras aferentes somáticas especiais
OBS: Os pares III, IV e VI são nervos motores responsáveis
pelos movimentos dos olhos que penetram na órbita pela
fissura orbital superior e distribuem-se aos músculos
extrínsecos do globo ocular, sendo a maioria inervados pelo
nervo oculomotor.
→ Nervo Oculomotor (III par)
Exclusivamente motor; Fica localizado na região central do
mesencéfalo, anterior ao aqueduto cerebral.
Enquanto o nervo óptico sai da órbita, o oculomotor
adentra na órbita e se bifurca, pois inerva mm diferentes;
A parte autonômica do oculomotor inerva o músculo
constrictor da pupila (responsável pelo reflexo fotomotor) e
o músculo levantador da pálpebra.
Ele inerva os músculos extrínsecos dos olhos:
Mm Reto Superior (olha pra cima)
Mm Reto Inferior (olha pra baixo)
Mm Reto Medial (olha pra dentro)
Mm Oblíquo Inferior (olha pra cima inclinado)
Classificação: fibras eferentes somáticas
Aplicação clínica: Ptose (pálpebra caída); estrabismo
divergente;
→ Nervo Troclear (Iv par)
É um nervo misto;
Único que emerge na região posterior do mesencéfalo. Ele
circunda o sulco ponto mesencefálico e vai para a região
anterior. Devido a isso, ele possui o maior trajeto
intracraniano, sendo mais susceptível às lesões.
Inerva o mm Oblíquo Superior (responsável pelo
movimento de olhar para baixo inclinado)
Responsável pela movimentação dos olhos e visão;
Classificação: fibras eferentes somáticas
→ Nervo Abducente (vI par)
Exclusivamente motor;
Surge no sulco bulbo pontino (tem origem na ponte);
Inerva o mm Reto Lateral (responsável pelo movimento
lateral dos olhos);
Aplicação clínica: estrabismo convergente; diplopia (visão
dupla de um só objeto);
Classificação: fibras eferentes somáticas
→ Nervo Glossofaríngeo (IX par)
Penetra na região lateral do sulco pontino (bulbo);
É um nervo misto que inerva parte da língua e faringe;
É responsável pela percepção do gosto e invervação da
glândula parótida;
Sua porção sensitiva é responsável pelo paladar e pela
sensibilidade do 1/3 posterior da língua.
Sua porção motora é responsável pela elevação do pálato e
constricção da faringe (ajuda na fonação e deglutição);
Classificação: eferentes viscerais especiais e gerais, aferentes
somáticas gerais, eferentes viscerais geria e especiais.
2. A visão
A visão é o sentido dominante no homem:
aproximadamente 70% dos receptores sensitivos no corpo
estão nos olhos e 40% do córtex cerebral está envolvido no
processamento da informação visual. As células receptoras
visuais (fotorreceptoras) percebem e codificam os padrões
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de luz que entram no olho; subsequentemente, o cérebro
confere um significado a esses sinais, formando imagens
visuais do mundo.
Apenas 1/6 anterior da sua superfície é visível; o restante
encontra-se na órbita óssea cuneiforme. Atrás do olho, a
metade posterior da órbita contém o nervo óptico, as
artérias e veias para o olho e os músculos extrínsecos do
bulbo do olho.
→ Anatomia Geral do Olho
Pupila: abertura que regula a entrada da luz no olho; ela é
escura devido aos pigmentos que absorvem luz na retina.
OBS: mitríase - pupila dilatada; miose - pupila
constricta.
OBS: quando os diâmetros são simétricos, diz-se
que são pupilas isocóricas.
Íris: sua pigmentação dá cor ao olho; ela contém dois
músculos que podem alterar o tamanho da pupila; um deles
a torna menor quando se contrai, enquanto o outro a torna
maior.
Córnea: superfície vítrea transparente externa do olho; não
possui vasos sanguíneos.
Esclera: parede do globo ocular, forma o “branco dos olhos”
Músculos extra-oculares ou músculos extrínsecos do bulbo
do olho - 6 músculos se originam nas paredes da órbita e se
inserem na superfície externa do bulbo do olho, controlam
o movimento de cada olho e os mantêm em suas órbitas.
São eles:
Mm Reto Superior
Mm Reto Inferior
Mm Reto Medial
Mm Reto Lateral
Mm Oblíquo Superior
Mm Oblíquo Inferior
→ Aparência oftalmoscópica do Olho
Outro modo de vermos o olho é através do oftalmoscópio,
um aparelho que permite examinar o fundo do olho como
visto através da pupila, mostrando a retina. A característica
mais óbvia da retina, quando vista através de um
oftalmoscópio, são os vasos sangüíneos em sua superfície.
Papila óptica: onde se originam os vasos sanguíneos; a
sensação de luz não pode ocorrer nessa região e nem onde
estão os grandes vasos, pois não existem fotorreceptores
(cones e bastonetes) nesse lugar. Contudo, não
distinguimos “buracos” em nosso campo de visão, porque
o encéfalo completa nossa percepção dessas áreas.
Mácula Lútea: parte da retina mais escura, com um aspecto
amarelado, dedicada à visão central (em oposição à visão
periférica). Em sua região há uma relativa ausência de
grandes vasos sangüíneos.
Fóvea: centro da retina e local onde ela é mais delgada;
→ Anatomia da Secção Transversal do Olho
Uma visão do olho em secção transversal mostra o caminho
percorrido pela luz quando atravessa a córnea em direção à
retina.
Cristalino: é uma lente biconvexa espessa e transparente,
localizada por trás da íris, que muda de forma a permitir a
focalização precisa da luz sobre a retina. Assim como a
córnea, ela não possui vasos sanguíneos, pois interfeririam
na sua transparência.
APLICAÇÃO CLÍNICA: Catarata
É uma nebulosidade da lente que faz que o mundo pareça
distorcido, como se fosse visto através de um vidro fosco.
Algumas cataratas são congênitas, mas a maior parte delas
resulta de alterações na lente associadas à idade. As
evidências indicam que a exposição excessiva à luz solar, o
alto consumo de cigarros e certas medicações, incluindo os
esteróides orais, o uso prolongado de aspirina e de
tamoxifeno (utilizado para tratar o câncer de mama), estão
ligados à formação da catarata. Independentemente da
causa, as cataratas parecem resultar de uma entrega
inadequada de nutrientes para as fibras mais profundas da
lente. Felizmente, a remoção cirúrgica da lente danificada e
sua substituição por uma lente artificial podem preservar a
visão de um paciente com catarata.
Zônula Ciliar: ligamentos que suspendem o cristalino e se
ligam aos músculos ciliares, responsáveis por mudanças no
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formato do cristalino e permitem que nossos olhos ajustem
o foco para diferentes distâncias visuais.
Humor Aquoso: fluido aquoso que se situa entre a córnea e
o cristalino, responsável por nutrir a córnea que é avascular.
É renovado continuamente e está em movimento constante.
O equilíbrio entre as taxas de formação e drenagem do
humor aquoso resulta em uma pressão intraocular
constante, que sustenta internamente o bulbo do olho.
Humor Vítrio: mais viscoso e gelatinoso, situa-se entre o
cristalino e a retina; sua pressão mantém esférico o globo
ocular.
CORRELAÇÃO CLÍNICA: Glaucoma
O glaucoma é uma doença em que a pressão intraocular
aumenta a níveis perigosos, provocando a compressão da
retina e do disco do nervo óptico. O glaucoma resulta de
uma obstrução no fluxo de saída, geralmente de um
entupimento da rede permeável através da qual o humor
aquoso drena no seio venoso da esclera. A destruição
resultante do nervo óptico acaba provocando cegueira.
Embora a visão possaser preservada se a condição for
detectada precocemente, muitas vezes o glaucoma rouba a
visão tão lentamente e de forma indolor que a maioria das
pessoas não percebe que tem um problema até o dano já
ter ocorrido.
Nervo óptico: reunindo os axônios da retina, sai do olho em
sua parte posterior, atravessa a órbita e alcança o encéfalo
em sua base, próximo à glândula hipófise.
→ A Formação da imagem pelo Olho
O olho coleta raios de luz emitidos ou refletidos por objetos
no ambiente e os focaliza sobre a retina para formar
imagens. A focalização dos objetos envolve os poderes de
refração combinados da córnea e do cristalino. No entanto,
é a córnea, e não o cristalino, a lente responsável pela maior
parte do poder de refração dos olhos.
As partes do olho que provocam a refração da luz
(conhecidas como meios refringentes) são a córnea, a lente
e os humores.
Os raios de um ponto distante são paralelos entre si quando
chegam ao olho, enquanto os raios de um ponto próximo
convergem na retina em um único ponto focal.
Embora o cristalino não seja tão poderoso quanto a córnea
na refração da luz, sua curvatura é ajustável. Essa
capacidade de ajuste permite que o olho focalize os objetos
próximos, afinal, como tais raios são divergentes, um poder
de refração maior é necessário para focalizá-los na retina —
esse processo é chamado de acomodação.
Já os raios de um ponto distante são praticamente paralelos
quando atingem a superfície do olho, então não é
necessária muita refração. Assim, a córnea deve ter poder
de refração suficiente para focalizar a luz sobre a retina, na
parte posterior do olho. Quando a luz atinge a córnea e
passa do ar para o humor aquoso, ela têm sua velocidade
diminuída e sua direção será desviada. Os raios de luz que
atingem a superfície curvada da córnea mudam de direção,
de forma a convergir na parte posterior do olho,
diretamente para a retina, onde há a formação da imagem.
Um olho em repouso, com sua lente estirada ao longo do
eixo longitudinal pela tensão na zônula ciliar, está
“configurado” para focalizar os raios quase paralelos
provenientes dos pontos distantes. Portanto, a visão à
distância é o estado natural. Os raios divergentes
provenientes dos pontos próximos precisam sofrer uma
refração mais acentuada para haver foco na retina. Para isso,
a lente torna-se arredondada: o músculo ciliar contrai de
uma maneira complexa que libera a maior parte da tensão
na zônula ciliar. Sem estar mais estirada, a lente torna-se
arredondada em consequência do seu próprio recuo
elástico. Essa capacidade de acomodação modifica-se com
a idade, mas Felizmente, lentes artificiais podem compensar
esse e outros defeitos da óptica do olho.
O foco nos objetos próximos é acompanhado pela
constrição da pupila, que evita que os raios de luz mais
divergentes entrem no olho e passem pelas margens
externas da lente. Esses raios não seriam focalizados
adequadamente e provocariam visão borrada.
Como o cristalino é uma lente biconvexa, ele produz
imagens invertidas. Dessa forma, uma imagem duplamente
invertida (vertical e horizontalmente) do campo visual é
projetada em cada retina. O córtex cerebral “desvira” a
imagem de modo que vemos as coisas com a sua
orientação real.
OBS: Vale lembrar que a diminuição da velocidade da
luz na interface ar-córnea depende do poder refrator.
Se substituíssemos o ar por um meio que seja
atravessado pela luz com aproximadamente a mesma
velocidade com que ela atravessa o olho, o poder
refrator da córnea seria eliminado. Essa é a razão pela
qual as coisas parecem borradas quando abrimos os
olhos sob a água; a interface água-córnea é incapaz
de produzir a focalização de uma imagem. Uma
máscara de mergulho restaura a interface ar-córnea e,
conseqüentemente, o poder refrator do olho.
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As células fotorreceptoras da retina são os bastonetes e
cones. Os fotorreceptores são altamente vulneráveis ao
dano causado pela luz ou calor intensos e essas células não
conseguem se regenerar se forem destruídas.
FUNÇÃO BASTONETES CONES
Sensibilidade
à luz
Sensíveis à luz de
baixa intensidade;
visão noturna
Sensíveis à luz de
alta intensidade;
visão diurna
Acuidade Menor acuidade visual;
Não estão presentes
na fóvea
Maior acuidade
visual; Presentes
na fóvea
Adaptação
ao escuro
Os bastonetes se
adaptam mais tarde
Os cones
adaptam-se
primeiro
Visão
colorida
Não Sim
→ Reflexo Pupilar
Esse reflexo pupilar envolve conexões entre a retina e os
neurônios do tronco encefálico que controlam os músculos
que contraem a pupila. O reflexo fotomotor direto é
quando o olho estimulado reage. Já o reflexo fotomotor
indireto ou consensual é quando ao estimular um dos olhos,
o olho oposto também reage, resultando na constrição das
pupilas de ambos os olhos. A ausência do reflexo pupilar
consensual para a luz é freqüentemente considerada um
sinal de algum distúrbio neurológico grave que envolva o
tronco encefálico.
→ O Campo Visual
É a extensão do espaço que pode ser visto por um olho;
É importante lembrar que a imagem está invertida: a retina
nasal vê o campo temporal e a retina temporal vê o campo
nasal.
As fibras da retina temporal se separam das fibras da retina
nasal no Quiasma óptico e vão para o mesmo lado (não
cruzam no quiasma). Já as fibras da retina nasal se separam
no quiasma e cruzam para o lado oposto;
OBS- Hemianopsia homônima é quando perde parte do campo
visual de cada olho.
→ Acuidade Visual
É a capacidade do olho de distinguir entre dois pontos
próximos. Ela depende de diversos fatores, em especial do
espaçamento dos fotorreceptores na retina e da precisão
da refração do olho.
Obs: O quadro do Teste de Snellen, que todos já vimos em
algum consultório médico, testa nossa capacidade para
discriminar caracteres (letras e números) a uma distância de
6 metros.
Referências:
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A.
Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 3 ed. Porto
Alegre: Artmed, 2008.
MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 3 ed. São
Paulo: Atheneu, 2014.

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