Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Letícia Ribeiro Lodo - @male.lodo – Centro Universitário das Américas Maria Letícia Ribeiro Lodo - @male.lodo – Centro Universitário das Américas Cirurgia Pediátrica Atresia de ESÔFAGO · Doença congênita que representa um estreitamento significativo do lúmen do órgão a pontos de interromper sua continuidade. · É um distúrbio que, em alguns casos, se acompanha de trajeto fistuloso entre o esôfago e a traqueia, o que determina a formação de fístula traqueoesofágica (FTE) Embriologia 4 semana: intestino começa a se diferenciar em parte ventral - respiratória e parte dorsal - esofágica 6 e 7 semana: separação completa da traqueia e do esôfago É uma falha no processo de formação e separação do intestino anterior do trato respiratório Epidemiologia i. Incidência varia 1:3000 a 5000 nascidos vivos, sendo o sexo masculino mais afetado ii. Mais frequente em gêmeos e em filhos de pais que tiveram a doença – forte suspeita do defeito ser hereditário iii. A chance de ter em um segundo filho é de 0,5 a 2% iv. 30% dos pacientes são prematuros v. Fatores ambientais: uso de metimazol (medicamento usado no tratamento de hipertireoidismo) no início da gestação, uso prolongado de contraceptivos hormonais, diabetes gestacional e uso de talidomida vi. Polidramnio está presente em 50% dos casos vii. Anomalias cromossômicas associadas (6 a 10%): trissomia 18, trissomia 21 e outras síndromes viii. 1/3 dos pacientes possui outros defeitos congênitos como hipospádia, criptorquidia, atresia duodenal e hidrocefalia consequente à estenose do aqueduto cerebral. · Acrônimo VACTERL (associação de defeitos) – cerca de 19% dos RN com atresia atendem os critérios: -Vertebral 6-12% -Anomalia anorretal 10-16% -Cardíaco 13-34% -TE (fistula) traqueoesofagica -Renal 5-14% -Limb (membros) 5-19% Classificação - Classificação de GROSS · A: Sem fístula (7%) · B: Fístula traqueoesofagica proximal (2%) · C: Fístula traqueoesofagica distal (85%) · D: Fístula traqueoesofagica proximal e distal (1%) · E: Fístula em H (4%) – fistula traqueoesofágica sem atresia C. A. B. D. E. Atresia de Esôfago com fístula distal · O RN apresenta-se com sialorreia importante, expelida pela boca e pelo nariz. · O início da alimentação caracteriza-se por regurgitação, tosse e cianose. · Há distensão abdominal por causa da fistula traqueoesofágica, fenômeno que compromete a dinâmica respiratória · É a forma mais comum de atresia de esôfago. Atresia do esôfago sem fístula · Os RN apresentam secreção oral abundante e asfixia, observando-se também abdome escavado. · A distância entre os cotos esofagianos é grande, o que torna a anastomose primaria de difícil realização. · Opta-se pela esofagostomia cervical e gastrostomia. · Por volta de 1 ano de idade, a continuidade é estabelecida pela interposição do cólon (esfogacoloplastia). · Uma alternativa consiste em retardar-se o tratamento em 6 a 12 semanas até que se consiga, por meio de dilatadores, alongar o coto proximal para adequa-lo a anastomose; o coto proximal também pode ser alongado no próprio ato cirúrgico através de miotomias circulares. Fístula traqueoesofágica sem atresia · As crianças com fístula tipo H apresentam episódios intermitentes de sufocação no período neonatal. · Entretanto, essa anomalia pode manifesta-se mais tardiamente, na forma de tosse crônica, pneumonias de aspiração recorrentes e hiperreatividade das vias aéreas. · O diagnostico é difícil, mesmo com o estudo baritado. · A fístula pode ser fechada através de um acesso cervical · A recidiva não é rara. Diagnóstico · Pré-natal: USG com presença de polidramnio + ausência/pequena bolha gástrica – encaminhar para RNM · Pós-natal: suspeita pré-natal OU polidramnio – passar sonda gástrica e fazer RX (evidencia a sonda enovelada no coto esofagiano proximal) · RX: além de identificar coto esofágico proximal com a sonda, possibilita a classificação e identificar outras anomalias · Exames complementares: a. Broncoscopia: acessa a fístula distal e também pode identificar uma fístula proximal; b. Ecocardiograma: além de ver se tem a presença de malformações associadas, identifica o lado do arco aórtico (aorta para a direita 2,5% dos casos – muda a via de acesso da cirurgia); c. USG renal e das vias urinárias; d. RX de coluna vertebral: para ver se tem outras malformações associadas e. Exames contrastados devem ser realizados com prudência, pois existe o risco de aspiração e pneumonite pelo contraste. Tratamento · Abordagem inicial consiste em monitorização, acesso venoso, aspiração contínua do coto proximal (evitar saliva na árvore brônquica) e manter a cabeceira elevada, intubação (se necessário porém com ventilação com alta frequência e baixa pressão - evitar distensão e ruptura gástrica) e início de antibioticoterapia. · Uma gastrostomia de emergencia pode ser necessária se a fístula for grande o bastante para promover intensa distensão abdominal e insuficiência respiratória. · Após a estabilização inicial, o paciente deve se submeter a correção cirúrgica · Em RNT com pouco ou nenhum comprometimento respiratório e sem outras anomalias, o fechamento primário da fístula e a anastomose primária esôfago-esofagianas término-terminal podem ser realizados em um mesmo tempo operatório (com 24 a 72 horas de vida). · A distância entre os cotos esofágicos costuma ser pequena (1 a 2 cm). · A abordagem é através de toracoscópica posterior, podendo ser feita a cirurgia por videolaparoscopia · Reparação cirúrgica: - Se 2 corpos vertebrais de distância do coto proximal até a carina: anastomose primaria - De 2-6 corpos vertebrais de distância: anastomose estagiada - Mais que 6 corpos vertebrais de distância: substituição esofágica. · Em crianças de muito baixo peso, mesmo na ausência de outras malformações, realiza-se uma gastrostomia com fechamento da fístula traqueoesofágica e mantém-se a sucção continua do coto esofágico próximo. Em alguns casos pode ser necessária uma esofagostomia cervical até que a continuidade do esôfago seja restabelecida. · A introdução dos alimentos deve ser progressiva, a partir do 7 a 10 dia de PO. Geralmente uma esofagografia é necessária antes da alimentação para verificar a integridade da anastomose. Complicações · Deiscência da sutura (pode ocorrer em até 50% dos pacientes) – sinais: taquipneia e sepse no 3 ou 4 dia de PO · Estenose da anastomose · Refístula traqueoesofágica · Traqueomalácia · Refluxo gastroesofágico (tração do coto proximal pode fazer com que o estômago entre na caixa torácica e cause essa complicação) · Disfunção de corda vocal (lesão do nervo laríngeo) · Morbidade respiratória (traqueomalácia e refluxo gastroesofágico) · Incisão toracotomia pode causar deformidades estruturais (escapula alada, assimetria torácica, escoliose, alteração muscular) Enterocolite necroSante · Doença inflamatória intestinal adquirida que acomete quase que exclusivamente os RN, principalmente os de baixo peso e prematuros. · Alguns distúrbios perinatais tornam o recém-nascido mais suscetível: hipóxia (asfixia) neonatal, persistência do canal arterial, cateterismo de veia umbilical, doença de membrana hialina e uso de indometacina (AINE) · Principal causa de mortalidade neonatal e de urgência cirúrgica · Em RNT, a enterocolite esta intimamente relacionada à isquemia devido a um agravo específico. A. Epidemiologia · 1-3 casos a cada 1000 nascidos vivos · Acomete principalmente prematuros e baixo peso. Apenas 7-13% dos casos são em RN termo · A frequência de ECN vem crescendo devido ao aumento da sobrevida dos RN de extremo baixo peso. · Geralmente está associado a dieta com fórmula – leite materno agente protetor: hormônios de crescimento trófico intestinal que auxiliam na maturação intestinal, fatores que aumentam a colonização de bactérias não virulentas, mediadores anti-inflamatórios, vitaminas, antixoxidantes, componentes de imunidade celular e humoral. Entretanto, cuidado com protocolos de alimentação precoce, sobretudoem grandes quantidades. · Fármaco relacionado a patologia: indometacina (usado em canal arterioso patente – bloqueia a síntese de prostaglandina causando vasoconstrição) B. Patologia · Pode acometer 1 (50% dos casos) ou mais segmentos intestinais, principalmente íleo distal e cólon · Lesão anal comum: necrose de coagulação · A associação de imaturidade da mucosa intestinal (mais permeável a macromoléculas e bactérias), deficiência imunológica específica (reduzida quantidade de células B e IgA secretória na mucosa), pH gástrico alcalino (dificultando digestão de macromoléculas), reduzida produção de enzimas digestivas e menor motilidade intestinal (facilitando a estase) promovem lesão intestinal, favorecendo a colonização bacteriana anômala. · A flora bacteriana envolvida na ECN é múltipla e dificilmente um agente é isolado. · A bacteriemias presente em cerca de 30% dos neonatos, tem origem na translocação bacteriana. · O leite humano e fórmula enterrais acabam servindo de substrato para a proliferação bacteriana intestinal – logo, protocolos de início precoce de alimentação, sobretudo em grandes quantidades, são agravantes da lesão intestinal. · Os radicais livres de oxigênio também participam da patogênese, principalmente após a repercussão do intestino isquêmico. C. Diagnóstico clínico · Geralmente o quadro se inicia na primeira ou segunda semana de vida (mais frequente entre o 4 e o 10 dia de vida). · O início é súbito e inespecífico, com distensão abdominal, hipoatividade, hipotermia, episódios de apneia e retenção gástrica. · Alguns sinais e sintomas mais frequentes: · Distensão abdominal (70-98%) · Sangramento retal (79-86%) – teste de catalase · Resíduo gástrico pós-alimentar (70%) · Vômito (70%) · Diarreia (4-26%) · Laboratório: neutropenia, trombocitopenia (Gram negativo), acidose metabólica, sinais de coagulação intravascular disseminada (CIVD). · Com a progressão do quadro, há deterioração do estado geral, com aumento da distensão abdominal e sinais de choque séptico. Pode-se notar, nas fases mais avançadas, eritema periumbilical (indicando peritonite e necrose), massa abdominal palpável (corresponde à perfuração bloqueada por alças de epíplon). D. Diagnóstico radiológico · RX de abdome – em ordem progressiva de gravidade: (1) distensão de alças, (2) espessamento da parede das alças por edema, (3) pneumatose intestinal (pequenas bolhas de ar na parede intestinal) – achado radiológico típico de ECN, (4) alça dilatada fixa presente em mais de uma radiografia (indica perda de peristalse por necrose), (5) portograma aéreo - gás no interior da veia porta, (6) pneumoperitônio – perfuração intestinal. · O acompanhamento radiológico deve ser realizado a cada 6 ou 8 horas para prever sinais de piora e/ou surgimento de complicações. · USG de abdome: identificação de alça necrótica, liquido livre, ar em veia porta, bolhas no parênquima hepático, afilamento da parede intestinal, redução da perfusão da parede intestinal · RNM de abdome: uso limitado por conta da anestesia que tem que ser feita e não tem muitos estudos ainda. E. Classificação e estadiamento F. Tratamento · Estágio I e II: Clínico – sem sinais de complicação – jejum, sonda gástrica aberta (descomprimir estômago), hidratação venosa, correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, antibioticoterapia de amplo espectro, suporte nutricional parenteral e controle laboratorial e radiológico (7 – 14 dias) · Cirúrgico: pneumoperitonio. · Relativas: paracentese positiva, massa abdominal palpável, eritema de parede abdominal, gás em veia porta, alça intestinal fixa, piora clínica apesar de tratamento clínico intensivo. · Indicada a ressecção com ou sem realização de ostomia. · Sinais de melhora clínica: diminuição da distensão, do resíduo gástrico, fezes catalase negativas e melhor funcionamento do intestino. A alimentação deve ser reiniciada, de preferência, sem lactose e com baixos volumes. · Prognóstico: variável. · Mortalidade chega a 50% nos RN com peso inferior a 1.000 g · Em criançadas a termo a mortalidade é de 5%. G. Complicações · Estenose de áreas isquemias que não perfuraram (em 20 a 35%) · Má absorção intestinal e síndrome do intestino curto · Doença hepática e/ou colestática (por conta do jejum prolongado e NPP) · Enterocolite recorrente (de 4 a 6% dos casos) · Úlcera da anastomose Anomalia anorretal Incidência · Ocorre a cada 1:4000 – 5000 nascidos vivos · Principalmente sexo masculino · Risco para o segundo filho ter anomalia anorretal é de 1% · Síndrome de Down – se tiver uma anomalia anorretal é geralmente sem fistula · Os meninos quando não tem fístula tem um sacro bem desenvolvido, com uma boa musculatura e tem um bom prognostico para controle intestinal. O reto e a uretra são separados por uma final parede. 50% dos casos de anomalia sem fistula são pacientes com Síndrome de Down. · As meninas sem fístula são semelhantes aos meninos, com prognóstico parecido. Fistula Retoperineal · Defeito mais baixo · Localizado com a maior parte do mecanismo esfincteriano · Diagnostico clínico · Pode ser chamado de “Anus coberto”, “membrana anal”, “anus anteriorizado”, “malformação em alça de balde” Fístula Retouretral · É a mais comum nos meninos · Pode ser bulbar ou prostática · Acima da fistula tem a parede comum: quanto mais baixa a fistula, maior vai ser a parede comum da fistula · Lateral/posterior vai ter o elevador do anus · Também está presente o complexo muscular e a musculatura parassagital nesses casos Fístula Retovesical (10%) · Prognóstico ruim para controle intestinal: envolve o elevador do anus, musculatura complexa e esfíncter externo e estarão pouco desenvolvidos · O sacro é malformado e curto · O períneo é plano com a pelve pouco desenvolvida Atresia/estenose retal (1% dos casos) · Reto dilatado proximal, canal anal pequeno de 1-2 cm. · Anastomose primaria · Bom prognóstico: canal anal bem desenvolvido, sensação anorretal preservada, esfíncter voluntário normal · Screening: massa pré-sacral Fístula Retoperineal · Boa separação entre reto e vagina · Relação anatômica com mecanismo esfincteriano Fístula Retovestibular · Defeito mais comum nas meninas, com bom prognóstico funcional · Meato uretral normal, vagina normal, com terceiro orifício no vestíbulo · 5% dos casos: tem 2 hemivaginas com septo vaginal · Pode ser corrigido sem colostomia (dependendo da experiência do cirurgião) · Pode cursar com infecção perineal, deiscência, recorrência da fistula – fibrose local- interferindo na função esfincteriana Cloaca · É a terceira anomalia mais comum nas meninas · Tem canal perineal comum (1 a 7cm) · Quando o canal tem menos de 3cm, pode ser feito o reparo sagital posterior, com prognóstico melhor · Mais de 3 cm de canal é uma anomalia mais complexa, com pior prognóstico, podendo estar associada a hidrocolpo e a piocolpo Defeitos associados às anomalias anorretais · Deformidade sacral – ausência de 1 ou mais vértebras sacrais · Hemissacro – relacionado a massa pré-sacral e pobre controle intestinal · Hemivértebra – implicação negativa em controle intestinal · Relação sacral (0-1): para avaliar o prognóstico de controle esfincteriano, sendo o normal 0,77 · Relação sacral: BC/AB = 0,77 · Medula presa: prognóstico funcional ruim – defeito alto, sacro anormal, espinha bífida (liberação da medula – melhora urinária e evita a deterioração sensitiva motora dos MMII) · Defeitos genitourinários podem estar associados de 20 a 54% - USG pode ver hidronefrótico ou outro processo obstrutivo como hidrocolpo · Atresia de esôfago · Anomalias cardíacas · Atresia duodenal II. Tratamento · Reparo primário (imediato ou eletivo) x colostomia (se não tiver condições locais ou paciente instável) · Uma chance de correção: pode cursar com infecção local, fibrose, estenose se não corrigir nessa primeira chance · Tratamento cirúrgico definitivo: anorretoplastia sagital posterior ou por via laparoscópica DOENÇA de HIRSCHIRSPRUNG · Também conhecido como Megacólon congênito ou anganglionosecolonica congênita, é uma condição caracterizada pela ausência de células ganglionares dos plexos mioentéricos (Auerbach) e submucosos – tanto no superficial (Henle) quanto no profundo (Meissner) -da parede intestinal. · O defeito se inicia no anus e tem extensão variável, podendo comprometer todo o intestino. · É a principal causa de suboclusão intestinal baixa em neonatos. · A região afetada não há peristaltismo (pois há a ausência dos responsáveis pelo peristaltismo normal), portanto há obstrução nessa área · Na maioria dos casos o retossigmoide é o mais afetado (80%), porém há outras formas: a forma longa, com extensão proximal ao restossigmoide, é identificada em 5 a 7% dos pacientes; a forma cólica total é observada em 10%; a forma curta – restrita a porção terminal do reto- também pode ser encontrada, normalmente em idade mais tardia. · Incidência: 1:5000 nascidos vivos, afetando mais o sexo masculino (4:1) e RN a termo – rara em prematuros. · Componente genético · Células ganglionares são derivadas da crista neural · 13 semana da embriologia: migração das células da crista neural intestinal proximal para a distal – maturação da região · A doença parece resultar da falência na migração craniocaudal das células da crista neural, que formam os plexos entéricos. · Genes – mutação relacionada: RET (proto-oncogene), endotelina 3, endotelina B, SOX 10, S1P1, Phox2B · Síndromes associadas: trissomia 21, síndrome Goldberg-Shprintzen (raro conjunto de sinais sistêmicos do tecido conectivo, parte de um grupo de distúrbios caracterizados por cranioestenose, traços marfanoides e uma fácies característica), neurofibromatose, neuroblastoma, entre outras. Diagnósticos Quadro clínico · Obstrução neonatal (50 a 90% dos casos) – distensão abdominal progressiva, obstipação intestinal , intolerância alimentar, eliminação tardia de mecônio (após 24 horas). · Alguns pacientes podem apresentar obstrução intestinal completa (com vômitos biliosos ou fecaloides e distensão abdominal maciça) · Manifestações clínicas raras: perfuração cecal ou do apêndice cecal · Diferencial: atresia intestinal, íleo meconial, plug meconial · Constipação crônica – manifestação mais tardia · Enterocolite: 10% dos casos com febre, queda do estado geral, vômitos, distensão abdominal, diarreia pútrida – sintomas pela estase fecal: Clostridium difficile ou rotavírus Radiológico · Radiografia simples: demonstra um padrão de obstrução baixa, com predominância de distensão colônica. · Enema: demonstra a zona de transição - cone de transição, entre o intestino aganglionico e o normal (sonda retal com contraste, auxilia a visualização da parte aganglionar, parte distal e mais estreita, e na parte que tem os gânglios funcionantes o intestino estará dilatado) - 90% dos casos · Por causa da perda de inervação intrínseca do intestino doente, há hiperestimulação através do SN simpático e do parassimpático, notada particularmente pela hipertrofia de fibras nervosas na submucosa e na muscular da mucosa. O segmento agangliônico se encontra espástico e o esfíncter interno do ânus e o canal anal permanecem contraídos, causando os sintomas obstrutivos. O segmento saudável (ganglionar) acima da obstrução se encontra dilatado, com progressiva hipertrofia muscular. Entre a zona ganglionar (dilatada) e a zona aganglionar (espástica) há uma zona de transição (hipoganglionar), conhecida como o cone de transição. · Manometria anorretal: ausência de reflexo de relaxamento do esfíncter interno anal em resposta a uma dilatação da ampola retal por uma espécie de balão (pouco disponível, melhor para crianças maiores e com diagnóstico de constipação de difícil manejo – evita a biópsia retal) · Biópsia retal: padrão-ouro, diagnóstico definitivo, ausência de células ganglionares no plexo mioentérico e submucoso – pode corar com hematoxilina eosina, acetilcolinesterase ou calcitonina - Imagem do Cone de transição do exame de enema Tratamento · Preparação pré-cirúrgica: triagem de malformações associadas (principalmente cardíacas), tratar os quadros de enterocolite, passagem de sonda nasogástrica para descompressão do estômago, antibioticoterapia de amplo espectro · O tratamento consiste na derivação intestinal assim que o diagnóstico é confirmado, com re- construção do trânsito após um ano, por meio do abaixamento abdominoperineal do cólon · Cirurgia semi-eletiva: · Colostomia descompressiva: nos casos com sofrimento, paciente instável · Abaixamento de cólon: retirada da parte aganglionar e descer o cólon para a região anal. · Na forma curta da aganglionose (restrita a porção terminal do reto), a biópsia do reto deve ser realizada em três níveis para confirmação diagnostica, o tratamento consiste em aniorretomiotomia por via endoadas. Longo prazo pode ser observado · Sintomas obstrutivos · Soiling – perda de fezes por conta de um vazamento de fezes liquidas ao redor de um fecaloma presente · Enterocolite – estão associados mais em casos com segmento longo, crianças menores, trissomia 21 Variantes do Megacólon congênito Displasia neuronal intestinal · Tipo A: menos comum, ausência de inervação simpática do plexo mioentérico e submucoso · Tipo B: relacionado à displasia do plexo submucoso e espessamento das fibras nervosas e ganglionares Hipogangliose: células esparsas e pequenas com anormalidade na distribuição de acetilcolinesterase Acalásia de esfíncter interno Megacólon ultracurto Onfalocele e gastrosquise Embriologia e etiologia 4 semana da gestação: dobramento dos folhetos craniocaudal e mediolateral 6 semana: rápido crescimento intestinal e hepático leva à herniação umbilical 10 semana: retorno para a cavidade e fixação do duodeno e cólon no retroperitonio · Onfalocele: vísceras não retornam para a cavidade · Gastrosquise: falha na formação do folheto anterior – lateral (d) Gastrosquise Definição · Ocorre a exteriorização das alças intestinais em virtude de um defeito na parede abdominal, geralmente pequeno e à direita do cordão umbilical. · Não há saco herniário, logo, as vísceras ocas (alças intestinais) se apresentam fora da cavidade enquanto as vísceras sólidas permanecem dentro da cavidade. Essas alças intestinais exteriorizadas apresentam-se espessadas e edemaciadas. · A presença de anomalias é rara; estas quando ocorre, incluem má rotação ou atresia intestinal Incidência · 1:4000 nascidos vivos · Mãe jovem, condição sócio-econômica baixa, tabagismo, parto prematuro 28% x 6%, diagnóstico 20 semana, AFP aumentada · Programar parto pelo espessamento de alça: exposição da alça no líquido amniótico (interleucina 6 e 8 e ferritina aumentados) · Anomalia associada: atresia intestinal 6,9 a 28% · Estudos recentes: anomalias associadas – cardíacas, pulmonar e anomalia cromossômica Cuidados no pré-natal · Diagnóstico da gastrosquise pode ser feito através do USG, geralmente, entre o segundo e terceiro trimestre. · Se diagnosticado, não é necessário a antecipação do parto. Cuidados no perinatal · Parto vaginal x cesariano: indicação obstétrica ou sofrimento fetal · Porém o parto cesariano é mais recomendado para evitar trauma nas alças intestinais. · Parto prematuro: menor exposição ao líquido amniótico (interleucina 6 e 8 e ferritina elevados) - dano as células, marca-passo e plexo nervoso Cuidados pós-natal · Grande perda de água por evaporação (cavidade abdominal aberta e exposição das alças intestinais) · Acesso venoso e sonda nasogástrica · Proteger as alças da perda de liquido e calor, envolvendo-as cuidadosamente por um envoltório plástico (SILO) ou gaze com solução salina aquecida. · Decúbito lateral direito – kinking do mesentério · Observar as alças – atresia, necrose ou perfuração Manejo cirúrgico · Objetivo: colocar as alças para dentro da cavidade minimizando traumas e evitando aumento da PIA · Nos defeitos pequenos, a redução das vísceras e o fechamento da parede podem ocorrer em um tempo apenas · Cirurgia assim que nasce · Fechamento primário: atenção para a PIA (10-15 mmHg diminuicao da perfusãorenal e intestinal // > 20mmHg isquemia renal e intestinal) – SILO · Fechamento por etapas (SILO) 1 a 14 dias · 10% dos casos com atresia intestinal associada: jejunal ou ileal Pós-operatório · Motilidade e absorção alimentar anormais – demora para introdução alimentar Complicações · Intestino curto, doença hepática (uso prolongado NPP), enterocolite necrotizante 18,5% dos casos · Atenção ao reparo: até 60% das crianças tem estresse psicossocial pela falta de umbigo Onfalocele I. Definição · Defeito central no fechamento da parede abdominal, com aproximadamente 4 cm ou mais de diâmetro · Quando o defeito é inferior a 4 cm é chamado de hérnia do cordão umbilical · Quando o defeito é maior que 10 cm é conhecido como onfalocele gigante · Anomalias associadas ocorrem em 30 a 70% dos casos e incluem anormalidades cromossômicas (trissomia 13, 18 e 21), cardiopatias congênitas (tetralogia de Fallot, defeito do septo atrial), síndrome de Beckwith-Wiedmann (GIG, hiperinsulinemia, visceromegalias do rim, suprarrenal e pâncreas, macroglossia, tumores hepatorrenais e extrafina cloacal) e síndrome de Prune-Belly (ausência de músculos da parede abdominal, criptorquidia e anomalias genitourinárias) · Esse defeito permite a formação de um “saco herniário, que pode conter tanto vísceras ocas (alças intestinais) quanto sólidas (fígado), recobertas internamente por peritônio parietal e externamente por membrana amniótica. · O cordão umbilical insere-se no ápice do saco amniótico, o que serve para diferenciá-la da gastrosquise. II. Manejo pré-natal · Diagnóstico: USG 2D com 18 semanas de gestação (caso USG 3D pode ser diagnosticado em torno de 12 a 14 semanas) · Detecta anomalias associadas: · Cardíacas (14-47%) · SNC (3-33%) · Algumas medidas podem ser úteis, mas nada comprovado: O/circunferência abdominal, O/comprimento do fêmur ou O/circunferência da cabeça III. Manejo perinatal · Parto pela indicação obstétrica, porém o cesariano é mais recomendado para evitar rotura da membrana · Triagem de malformações associadas: · ECO, USG abdome total e de rins e vias urinárias, hipoglicemia (Síndrome Beckwith-Wiedemann), laboratório · Cobrir o defeito cuidadosamente por um envoltório plástico (SILO) ou gaze e solução salina aquecida, além de evitar perda de água e calor (impermeável), SNG IV. Manejo Cirúrgico · O tratamento é instituído após a estabilização da criança e início de antibioticoterapia profilática. · A cirurgia precoce na onfalocele elimina o risco de rotura da membrana. · Várias técnicas diferentes: fechamento estagiado ou fechamento postergado · Nas onfalocele maiores, o cirurgião realiza o fechamento estagiado (com peritoneostomia e silagem) para previnir a insuficiência respiratória (decorrente da compressão do diafragma) · Fechamento primário – em um tempo apenas, em defeitos menores (assim que possível – descartadas anomalias associadas) · Fechamento estagiado: colocação de tela de silicone sobre o defeito, confeccionando uma “chaminé de silástico”, isso permite a redução gradual das alças intestinais para a cavidade abdominal. · Fechamento postergado: flaps de pele, SILO V. Pós-operatório · Avaliar o retorno do transito intestinal para iniciar dieta, antibiótico por 48 horas, observar infecção de ferida operatória · Podem evoluir com: DRGE, insuficiência pulmonar, infecção pulmonar de repetição, asma, dificuldade em alimentar (60% nas onfalocele gigantes) VI. Tratamento não operatório · Escarificação: agentes que permitem escarificação no saco amniótico – epitelização com o tempo – hérnia ventral – correção posterior · Defeitos muito grandes para fechamento primário ou cardiopatia/pneumopatia importante associada – síndrome compartimentar ou ausência de pele suficiente · Substâncias: mercurocromo, álcool, nitrato de prata (todos muito efetivos, porém tóxicos) – sulfadiazina de prata, iodopovidona, curativos com prata, neomicina, bacitracina. 4-10 semanas, com curativo compressivo · Hérnia ventral (1-5 anos), expansor de tecido, uso de telas Hérnia diafragmática CONGÊNITA · Doença congênita que resulta de um defeito de fusão das membranas peluroperitoneais, mantendo uma solução de continuidade na porção posterolateral do diafragma. · Incidência de 1:2000 a 3.000, com mortalidade significativa e sequelas importantes. · Morbimortalidade: hipoplasia pulmonar e hipertensão pulmonar · ECMO, ventilação de alta frequência, hipercapnia permissiva – aumento da sobrevida (50-90%) Epidemiologia · Incidência de 1:2000 a 3.000 · 1/3 morrem assim que nascem – anomalias associadas · HDC isolada: maioria no sexo masculino · 85% dos defeitos são do lado esquerdo · Defeitos bilaterais são raros (5%), geralmente está associado a anomalias associadas · Defeitos posterolaterais são chamados de hérnias de Bochdalek, enquanto as anteromediais são chamadas de Morgagni. · Hérnias de Morgagni geralmente possuem diagnóstico mais tardio e menos sintomas. · Síndrome da hérnia diafragmática: má rotação intestinal + persistência da circulação fetal (patência do forame oval e do canal arterial) + hérnia diafragmática congênita Fator genético · Associação com mais de 70 síndromes · Defeito principal: síndrome Fryns e Donnai-Barrow · Alguns casos de Beckwith-Wiedemann · Anomalias associadas · Aproximadamente 50% são defeitos isolados · Cardiovascular 27,5% · Urogenital 17,7% · Musculoesquelético 15,7% · SNC 9,8% · Consequências da hérnia: hipoplasia pulmonar, má rotação intestinal, malformação cardíaca · Cardíaco: lesão importante com 8% de sobrevida, lesão menor com 67%, sem defeito cardíaco com 73% Embriologia · Diafragma: desenvolvimento é complexo, multicelular, com interação multitecidos e pouco compreendido · 4 semana: forma precursora do diafragma · Fusão de 4 estruturas: anterosseptal transversal, dorsolateral da membrana pleuroperitoneal, dorsal da crura do mesentério esofágico e posterior muscular da parede torácica · Lado direito fecha antes que o esquerdo · Deficiência de vitamina A, ácido retinóico e retinol afetam o desenvolvimento adequado Alteração pulmonar · Formação normal do pulmão em 5 fases: embriogenica, pseudoglandular, canalicular, sacular, alveolar · Com a herniação visceral (que pode conter o estômago, o intestino e até o lobo esquerdo do fígado), ocorre uma falha no desenvolvimento pulmonar. Há hipoplasia pulmonar em graus variados, com desvio do mediastino. Ambos os pulmões são pequenos, porém o ipsilateral à lesão é mais afetado. Quanto mais precoce a herniação, maior o grau de hipoplasia. Há redução do número e tamanho dos alvéolos e gerações brônquicas além de septações anormais com parede espessa que impede troca gasosa. · Ocorre muscularização excessiva das arteríolas pulmonares, que também se encontram em número reduzido. Essas arteríolas são mais sensíveis a estímulos como hipóxia, hipercapnia e acidose, levando à hipertensão pulmonar persistente, com shunt direita-esquerda, através da persistência da circulação fetal. Quanto mais intenso for o shunt, maior é o grau de hipóxia e acidose, promovendo vasoconstrição pulmonar e perpetuação do círculo vicioso. A hipertensão pulmonar compromete a função do ventrículo direito, causando baixo débito. O desvio do mediastino contribui para a piora do status hemodinâmico por diminuir o retorno venoso. · Nível de surfactante menor: funcionamento imaturo dos pulmões Manifestações clínicas · Não há manifestação intrautero, pois o débito pulmonar é baixo. · Noventa por cento dos recém-nascidos tornam-se sintomáticos nas primeiras 24h, sendo assintomáticos nas primeiras horas de vida (período chamado de "lua de mel"). · Quanto mais precoces os sintomas, pior o prognóstico. · Desconforto respiratório, taquidispneia progressiva, cianose e sinais de hipoperfusão são os achados mais comuns. · A insuficiência respiratória decorre da distensão gasosa progressiva do intestino herniado por aerofagia, auxiliada pela pressão negativa intratorácica. · O abdome é escavado na maioria dos casos; murmúrio vesicularestá diminuído e borborigmo intestinal pode ser audível na ausculta pulmonar. Mais raramente, as manifestações podem ser resultantes da perfuração e/ou estrangulamento de vísceras ocas intratorácicas, volvos ou ruptura de baço herniado. · Fora do período neonatal, a hérnia diafragmática congênita pode se manifestar através de síndromes obstrutivas intestinais ou pneumonias. Diagnóstico · Pré-natal (80% dos casos são diagnosticados): USG com 11 semanas, porém mais frequente após as 16 semanas. · Diagnóstico diferencial: malformação adenomatoide cística, cisto broncogenico, atresia nos brônquios, sequestro pulmonar, lesões mediastinais · Sinais: polidramnio, alças intestinais no tórax, massa ecogenica no tórax ou estômago intratorácico · Relação pulmão-cabeça: > 1,35 de sobrevivência 100%, < 0,6 de 0% · Herniação de fígado: sem herniação 100%, herniado 56% · RNM amplamente usado para confirmar diagnóstico · Após o nascimento, uma radiografia simples identifica a anomalia. Alças intestinais são observadas em campos pulmonares, com desvio do mediastino e diminuição ou ausência de gás no abdome. O uso de sonda gástrica pode ajudar a confirmar o diagnóstico. Tratamento · Pré-natal: diagnóstico acurado, determinar anomalias associadas, screening cromossômico, encaminhar para centro terciário · Ao nascimento: estabilização clínica, intubação orotraqueal, sonda gástrica (descompressão gástrica contínua), cateter umbilical, avaliar perfusão cerebral (saturação pré-ductal – 85 a 95%), evitar hidratação excessiva (edema pulmonar) · NO, surfactante, ECMO · ECO, RX de torácico, USG abdome, USG rins e vias urinárias · Ventilação mecânica branda (com parâmetros baixos) com hipercapnia permissiva evita a piora da hipertensão pulmonar. Se o lactente permanecer estável com essas medidas, o reparo do diafragma deve ser realizado entre 24 e 72 horas de vida. · O tratamento emergencial só deve ser realizado em casos de estrangulamento do conteúdo herniado. Cirurgia · A correção cirúrgica da hérnia é feita através de laparotomia oblíqua subcostal do mesmo lado da hérnia; as vísceras são reduzidas para a cavidade abdominal e o defeito no diafragma é fechado. · Caso o defeito seja pequeno é realizada a sutura primária. · Os orifícios herniários grandes eram classicamente tratados com retalhos musculares. Mais recentemente, são utilizadas telas de PTFE ou telas de material biológico · A hipertensão pulmonar deve ser tratada com drogas que atuem diretamente na circulação pulmonar, como a tolazolina (efeito alfablo- queador e cardiotônico). A ação costuma ser imediata com abertura da circulação pulmonar e melhora da hipoxemia. · Se a estabilização clínica não for atingida com as medidas acima, com manutenção do shunt, pode-se tentar a Circulação Extracorpórea com Oxigenador de Membrana (CEOM) · A CEOM parece melhorar a sobrevida, pois diminui a hiper-reatividade vascular pulmonar, permitindo o remodelamento e o aumento da com- placência arteriolar, fenômenos que ocorrem após o nascimento. Nas crianças em CEOM, o momento de correção cirúrgica da hérnia ainda é assunto controverso. Terapia fetal · Oclusão traqueal (24-28 semanas): observaram que havia aumento pulmonar nos pacientes que tinham obstrução congênita de via aérea · Aumento de proteína pulmonar, tamanho, espaço alveolar, melhora da vascularização e da complacência pulmonar · Entretanto, o uso prolongado diminui pneumócitos tipo II e surfactante (ou seja, a oclusão deve ser temporária) – retirar com 34 semanas 2
Compartilhar