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GASTROCIRURGIA PEDIÁTRICA Internato Clínica Cirúrgica I ESÔFAGO, ESTÔMAGO, DUODENO, FÍGADO E VIAS BILIARES (“altas”) ATRESIA DE ESÔFAGO Doença congênita complexa e única para o cirurgião pediátrico Qualidades técnicas e de diagnóstico Muitos consideram o ápice da cirurgia neonatal 1959 Dr. Willis Potts - “Para anastomosar o esôfago de um neonato, o cirurgião deve ter técnica delicada e precisa como de um relojoeiro. Nenhuma outra cirurgia oferece a grande oportunidade aplicar de uma técnica artística pura.” Embriologia 4ª semana: intestino começa a diferenciar em parte ventral respiratória e parte dorsal esofágica 6ª e 7ª semana: separação completa da traqueia e do esôfago se ocorrer alguma alteração nessa separação a gente pode ter a atresia de esôfago Epidemiologia Incidência varia 1:2500 a 3000 nascidos vivos Sexo masculino Segundo filho 0,5 - 2% Fatores ambientais: uso de metimazol no início da gestação, uso prolongado de contraceptivo, exposição a estrogênio e progesterona, diabetes gestacional e uso de talidomida Anomalias cromossômicas podem estar associadas em torno de 6 - 10% dos casos: trissomia 18, trissomia 21, síndrome CHARGE e associação Vacterl Anomalias associadas VACTERL: Vertebral 6-21% Anomalia anorretal 10-16% Cardiaco 13-34% TE traqueoesofágico Renal 5-14% L imb (membros) 5-19% Classificação: GROSS A: sem fístula (7%) B: fístula traqueoesofágica proximal (2%) C: FÍSTULA TRAQUEOESOFÁGICA DISTAL (85%) D: fístula traqueoesofágica proximal e distal (1%) E: fístula em H (4%) Tipos de atresia: Aryane dos Reis CHARGE: C oloboma H eart (cardíaco) A tresia de coana R etardo do desenvolvimento G enital hipoplasia E ar (deformidade nas orelhas) DIAGNÓSTICO Pré-natal: USG polidrâmnio e ausência/pequena bolha gástrica solicitar RNM Pós-natal: suspeita pré-natal ou polidrâmnio - passar sonda gástrica e radiografar RX: além de identificar coto esofágico proximal com a sonda, possibilita a classificação, identificar outras anomalias associadas Distância de 2 corpos vertebrais: anastomose primária Distância de 2-6 corpos vertebrais : anastomose estagiada Mais que 6: substituição esofágica Exames complementares: Broncoscopia: acessa a fístula distal e também pode identificar uma fístula proximal Ecocardiograma: identifica o lado do arco aórtico (aorta pode estar para a direita 2,5% dos casos – muda a abordagem cirúrgica) USG renal RX coluna vertebral TRATAMENTO Monitorização, acesso venoso, aspiração contínua do coto proximal, intubação se necessário, porém alta frequência e baixa pressão (evitar distensão e ruptura gástrica) Há dois tipos de cirurgias: I. Técnica clássica: toracotomia extrapleural II. Cirurgia por vídeo (é muito delicada Complicações da cirurgia: Deiscência da sutura Estenose Refístula Traqueomalácia Refluxo gastroesofágico ESTENOSE HIPERTRÓFICA DO PILORO Causa mais comum de obstrução gástrica na infância Acomete 1,5 a 4:1000 nascidos vivos Sem anormalidades congênitas (Wallgren 1947: estudo com bário ao nascimento 1000 meninos sem alterações anatômicas no piloro - posteriormente 5 desenvolveram a doença) Epidemiologia Meninos 2:1 até 5:1 Brancos Termo História familiar Idade materna jovem Primogênito Estômago com piloro aumentado Disfunção de corda vocal Morbidade respiratória (traqueomalácia e refluxo gastroesofágico) Incisão toracotomia (escapula alada, assimetria torácica, escoliose, alteração muscular) Dieta (fórmula) Exposição à eritromicina DIAGNÓSTICO Quadro clínico: CLÁSSICO: vômitos não biliosos, leite coalhado, 30 minutos após mamadas, em neonatos a termo, 2-8 semanas de vida (pico 3-5 semanas) Emagrecido, desidratado, irritado, com fome, afebril Exame físico: ondas de Kussmaul (peritastismo intestinal de luta), oliva pilórica, desidratação, irritabilidade LABORATÓRIO: alcalose metabólica hipoclorêmica, hipocalêmica, hiponatrêmica, com acidúria paradoxal Imagem: USG: operador dependente, 4 mm x 16 mm 1ª imagem: sinal do alvo 2ª imagem: sinal do trilho do trem Contrastado: sinal do guarda-chuva, bico do seio ou rabo de rato (última imagem) Diagnósticos diferenciais (basicamente, tudo que cursa com vômitos) Piloroespasmo Refluxo gastroesofágico Gastroenterite Aumento da pressão intracraniana Desordens metabólicas Tratamento Estabilização clínica (24h), corrigir desordens metabólicas Cirurgia preconizada: piloromiotomia a Fredet - Ramstedt Aberta ou laparoscopia Manejo pós-operatório Início da dieta em 4-6 horas Progressão conforme aceitação Alta após 24 horas Complicações Mínimas (depende da experiência do cirurgião) Vômitos no pós-operatório precoce (refluxo gastroesofágico, incoordenação peristáltica gástrica, atonia gástrica) - o estômago fica tão dilatado que após a cirurgia ele demora a ter o peristaltismo normal Vômitos 3-4 dias pós-operatório: miotomia incompleta ou perfuração não suspeitada – fazer o exame contrastado ATRESIA E ESTENOSE DUODENAL Causa frequente de obstrução intestinal 1:5000 a 10.000 nascidos vivos Mais comum em meninos Polidrâmnio 32- 81% Anomalias associadas (50% dos casos): o Trissomia 21 (30%) o Defeitos cardíacos 30% o Anomalias gastrintestinais associadas 25%: outras atresias Etiologia Lesão intrínseca ou extrínseca Causa mais comum ATRESIA: falha na recanalização do duodeno fetal o 4ª semana: duodeno se origina distal do intestino proximal e proximal do intestino médio o 5ª e 6ª semana: lúmen se oblitera temporariamente pela intensa proliferação celular epitelial o 11ª semana: degeneração por vacuolização. Se houver falha, há atresia. Extrínseca: compressão por estruturas vizinhas como pâncreas, veia porta pré-duodenal, banda de Ladd Classificação Atresia x estenose (incompleta) Tipo I: mais de 90%, contem membrana composta de mucosa e submucosa. BIRUTA Tipo II: porção dilatada proximal e um cordão fibroso distal Tipo III: há um gap de distância entre as estruturas Pré-ampolar x pós-ampolar (85%): atresia antes ou depois da ampola water (por onde sai a bile). Se antes os vômitos não serão biliosos. Na maioria das vezes é pós ampolar, com vômitos biliosos. DIAGNÓSTICO Pré-natal: USG - polidrâmnio + dupla bolha 44% (7-8 meses) Perinatal: depende se a alteração é completa ou incompleta CLÁSSICA: vômito bilioso nas primeiras horas de vida (10% lesão pré-ampola de Vater - não bilioso), distensão abdominal em andar superior com restante escavado, aspiração da SNG mais de 20 ml sugere obstrução intestinal Imagem RX de abdome: sinal da DUPLA BOLHA, sendo a primeira bolha a esquerda o estômago e a segunda bolha a primeira porção dilatada duodenal Contrastado: quando ainda não há diagnóstico (estômago vazio) Tratamento Compensar clinicamente Excluir anomalias associadas (USG abdome e coluna, ECOcardiograma) Cirurgia: duodeno-duodeno anastomose a diamond shape (formato de diamante) - convencional ou laparoscópica ATRESIA DE VIAS BILIARES Icterícia: achado comum nos recém-nascidos maioria por bilirrubina indireta e tem resolução espontânea Atenção para a icterícia que não melhora com 2 semanas de vida Pensar em: atresia de vias biliares, cisto de colédoco ou colestase pelas mais diversas causas ATRESIA DE VIAS BILIARES: o 1:10.000 a 16.700 nascidos vivos o Sexo feminino o Asiáticos Classificação LOCALIZACAO DA ATRESIA Tipo I: nível do ducto biliar comum (A) Tipo II: nível do ducto hepático (B) Tipo III: PORTA HEPATIS (mais comum) (C)ETIOLOGIA É multifatorial Genética, inflamatória, infecciosa Anomalias congênitas associadas: má rotação intestinal, veia porta pré-duodenal, poliesplenia, alterações cardíacas, veia cava inferior interrompida EMBRIOLOGIA 4ª semana: sistema biliar se origina do divertículo hepático do intestino primitivo Diferenciação em cranial e caudal ducto intra-hepático e extra-hepático QUADRO CLÍNICO ICTERÍCIA progressiva (direta) ACOLIA fecal COLURIA HEPATOMEGALIA FIRME Se não tratada: fatal nos primeiros 2 anos de vida DIAGNÓSTICO História clínica + exame físico Laboratório: bilirrubina direta, GGT (mais específica) - excluir TORCH (toxoplasmose, outros vírus, rubéola, citomegalovírus, herpes) e deficiência de alfa 1 antitripsina USG em jejum: vesícula biliar murcha ou normal e ductos biliares mal delimitados Cintilografia (DISIDA): tecnécio 99 acumula no fígado e se não aparecer no intestino demonstra obstrução Diagnóstico definitivo: Biópsia hepática PATOLOGIA Proliferação de ducto biliar - diagnóstico Achados associados: estase biliar, inflamação periportal, presença de células gigantes, graus variados de fibrose TRATAMENTO Cirurgia de Kasai: hepático- porto enteroanastomose em Y de Roux Ideal: realizar até os 100 dias de vida RESULTADOS TAXA DE “CURA” : 1,1 % Inicialmente melhora a cor das fezes (até 10-14 dias) 2/3 dos pacientes (sem necessidade de transplante) Restante sem melhora: acompanhamento e provável transplante hepático PAREDE ADOMINAL E DIAFRAGMA ONFALOCELE E GASTROSQUISE Defeitos da parede abdominal Embriologia/etiologia 4ª semana de gestação: dobramento dos folhetos craniocaudal e mediolateral 6ª semana: rápido crescimento intestinal e hepático leva à herniação umbilical 10ª semana: retorno para cavidade e fixação duodeno e cólon no retroperitônio Onfalocele: não retorna pra cavidade Gastrosquise: falha na formação do folheto anterior: lateral (d) GASTROSQUISE 1:4.000 nascidos vivos Mãe jovem, condição socioeconômica baixa, tabagismo, parto prematuro 28% x 6%, diagnóstico 20ª semana, AFP (alfafetoproteína) aumentada Programar parto pelo espessamento de alça: exposição da alça no líquido amniótico (lesão por exposição a interleucina 6,8 e ferritina aumentados) Principal anomalia associada: atresia intestinal 6,9-28% Estudos recentes: anomalias associadas - cardíaca, pulmonar e anomalia cromossômica CUIDADOS NO PERINATAL: Parto vaginal x cesariano: indicação obstétrica ou sofrimento fetal Parto prematuro: menor exposição ao líquido amniótico (interleucina 6,8 e ferritina elevados) - dano às células, marca-passo e plexo nervoso intestinal Evitar grande perda de água, ocorre por evaporação (cavidade abdominal aberta e exposição de alças intestinais) Garantir acesso venoso e passar sonda nasogástrica para descomprimir as alças Proteger as alças da perda de líquido e de calor Deixar o bebê em decúbito lateral direito para evitar o kinking do mesentério Observar as alças - atresia, necrose ou perfuração Manejo cirúrgico Objetivo: colocar as alças para dentro minimizando traumas e evitando aumento da PIA Cirurgia assim que nasce Fechamento primário: atenção para a PIA (10-15 mHg diminuição da perfusão renal e intestinal // > 20 mmHg isquemia renal e intestinal) colocação de SILO Fechamento por etapas (SILO) 1-14 dias 10% atresia intestinal associada: jejunal ou ileal Pós-operatório: Avaliar motilidade e absorção alimentar anormais - demora para introdução alimentar Complicações: Intestino curto, doença hepática (uso prolongado NPP), enterocolite necrotizante 18,5% Atenção ao reparo: até 60% das crianças têm estresse psicossocial pela falta do umbigo ONFALOCELE Manejo pré-natal Diagnóstico: US 2D 18 semanas (caso 3D pode ser diagnosticado antes) Detecta anomalias associadas: Cardíaca (14-47%), SNC (3-33%) Algumas medidas podem ser úteis, mas nada comprovado: O/circunferência abdominal, O/comprimento do fêmur ou O/circunferência da cabeça Manejo perinatal: Parto: indicação obstétrica Triagem de malformações associadas: o ECO, US abdome total e rins e vias urinárias, hipoglicemia (síndrome Beckwith Wiedemann), laboratório Cobrir o defeito com gaze e solução salina, além de evitar perda de água e calor (impermeável), SNG Manejo cirúrgico: Existem muitas técnicas diferentes: fechamento estagiado ou fechamento postergado Onfalocele gigante: tamanho, presença do fígado, quantidade de alças? Fechamento primário (assim que possível - descartadas anomalias associadas) o Menor que 1,5 cm (hérnia de cordão) Fechamento estagiado: perda de domicílio, auxílio de telas biológicas Fechamento postergado: flaps de pele, SILO TRATAMENTO NÃO OPERATÓRIO Escarificação: agentes que permitem escarificação no saco amniótico → epitelização com o tempo → hérnia ventral → correção posterior (entre 1 e 3 anos de idade) Defeitos muito grandes para fechamento primário ou cardiopatia/pneumopatia importante associada - síndrome compartimental ou ausência de pele suficiente Substâncias: mercurocromo, álcool, nitrato de prata (todos muito efetivos, porem tóxicos) → Atualmente são mais utilizados: sulfadiazina de prata, iodopovidona, curativos com prata, neomicina, bacitracina. 4-10 semanas, com curativo compressivo Hérnia ventral (corrigir entre 1-5 anos), expansor de tecido, uso de telas Pós-operatório: Avaliar o retorno do trânsito intestinal para iniciar dieta, antibiótico 48h, observar infecção de ferida operatória Podem evoluir com: DRGE, insuficiência pulmonar, infecção pulmonar de repetição, asma, dificuldade em alimentar (60% nas onfaloceles gigantes) DEFEITO DIAFRAGMÁTICO HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNICA Doença congênita de incidência rara, grandes centros atendem 10 por ano, manejo e tratamento continuam um desafio: mortalidade significativa e sequelas Morbimortalidade: hipoplasia pulmonar e hipertensão pulmonar ECMO, ventilação de alta frequência, hipercapnia permissiva aumento da sobrevida (50-90%) Epidemiologia: 2,4:10.000 nascidos vivos 1/3 morrem assim que nascem (anomalias associadas) HDC isolada - maioria do sexo masculino 80% do lado esquerdo Bilateral raro: geralmente associado a anomalias Mães abaixo do peso Esquerdo: Bochdalek Anterior: Morgagni Genética: Associação com mais de 70 síndromes o Hérnia como defeito principal: síndrome Fryns e Donnai-Barrow o Alguns casos de Beckwith-Wiedemann Anomalias associadas Aproximadamente 50% são defeitos isolados Cardiovascular 27,5%, urogenital 17,7%, musculoesquelético 15,7%, SNC 9,8% Consequências da hérnia: hipoplasia pulmonar, má rotação intestinal, malformação cardíaca e ducto arterioso patente Cardíaco: lesão importante com 8% de sobrevida, lesão menor com 67%, sem defeito cardíaco com 73% Embriologia: Diafragma: desenvolvimento é complexo, multicelular, com interação multitecidual e pouco compreendido 4ª semana: forma precursora do diafragma o Fusão de 4 estruturas: anterosseptal transversal, dorsolateral da membrana pleuroperitoneal, dorsal da crura do mesentério esofágico e posterior muscular da parede torácica o Lado direito fecha antes que o esquerdo Nitrofurantoína (teratogênico) Deficiência de vitamina A, ácido retinoico e retinol ALTERAÇÃO PULMONAR: Formação normal do pulmão em 5 fases: embriogênica, pseudoglandular, canalicular, sacular e alveolar Hipoplasia pulmonar: diminuição da divisão dos brônquios, bronquíolos e alvéolos - septações anormais, parede espessa que impede troca gasosa Vasculaturapulmonar menos complacente com arteríolas mais espessas Nível de surfactante menor: funcionamento imaturo dos pulmões Diagnóstico Pré-natal: US 11 semanas, porém mais frequente após 16 semanas. 50-70% diagnosticados Diagnóstico diferencial: malformação adenomatoide cística, cisto broncogênico, atresia nos brônquios, sequestro pulmonar, lesões mediastinais - Sinais: polidrâmnio, alças intestinais no tórax, massa ecogênica no tórax ou estômago intratorácico - Relação pulmão-coração: > 1,35 de sobrevivência 100%, se relação < 0,6 de 0% - Herniação de fígado: sem herniação 100%, herniado 56% - RNM amplamente usado para confirmar diagnóstico Quadro clínico: Insuficiência respiratória, APGAR baixo, taquipneia, retração de fúrcula, cianose, grunhido e palidez Abdome escavado (pois as alças estarão dentro do tórax), aumento do diâmetro torácico, ausculta de ruídos hidroaéreos no tórax, diminuição do murmúrio vesicular Diagnóstico: RADIOGRAFIA de TÓRAX 20% podem se manifestar fora do período neonatal - desconforto respiratório leve, pneumonia de repetição, intolerância alimentar. Geralmente não tem hipoplasia pulmonar nem hipertensão pulmonar Tratamento Pré-natal: diagnóstico acurado, determinar anomalias associadas, screening cromossômico, encaminhar para centro terciário Ao nascimento: estabilização clínica, intubação orotraqueal, sonda gástrica, cateter umbilical, avaliar perfusão cerebral (saturação pré-ductal - 85-95%) o NO, surfactante, ECMO o Avaliar anomalias associadas: ECO, Rx tórax, US abdome e rins e vias urinárias Cirurgia: Tempo: melhor momento? Não é emergência → esperar estabilidade cardiopulmonar ("honey moon") Via: torácica ou abdominal Saco herniário verdadeiro (< 20%) deve ser retirado Dreno torácico: evitar para evitar desbalanço do mediastino Patch ou tecido autólogo Terapia fetal: Oclusão traqueal (24-28 semanas): observaram que havia aumento pulmonar nos pacientes que tinham obstrução congênita de via aérea o Aumento de proteína pulmonar, tamanho, espaço alveolar, melhora da vascularização e da complacência pulmonar o Entretanto, o uso prolongado diminui pneumócito tipo 2 e surfactante (ou seja, a oclusão deve ser temporária) - retirar com 34 semanas Outros defeitos menos comuns Hérnia de Morgagni Anterior Menos de 2% Falha na fusão das porções crural e esternal do diafragma Pode ocorrer dos dois lados: artéria epigástrica superior atravessa o diafragma Saco herniário com: omento, intestino delgado, cólon. Raro: fígado e baço Maioria assintomático Desconforto epigástrico, tosse, vômito, obstrução intestinal Quadro agudo: isquemia, necrose, perfuração, volvo gástrico O RX de tórax: nível hidroaéreo no centro do tórax e herniação de víscera no espaço retroesternal Hérnias muito pequenas: RX contrastado ou CT Cirurgia: reduzir a hérnia, retirar o saco herniário e aproximar o diafragma da margem costal Pentalogia de Cantrell: falha no desenvolvimento do septo transverso (onfalocele, defeito cardíaco, ectopia cordis e defeito diafragmático anterior) EVENTRAÇÃO DIAFRAGMÁTICA Elevação anormal do diafragma → respiração paradoxal, interferindo no funcionamento e no mecanismo normal do pulmão Embriologia: desenvolvimento incompleto do centro tendíneo ou da porção muscular do diafragma Mais comum à esquerda, mas pode ter casos bilaterais O diafragma está presente, mas não funciona coordenadamente, é fino e difícil distinguir do saco herniário Adquirido: paralisia do nervo frênico (tumores mediastinais, cirurgia cardíaca - 5% após cirurgia de Fontan e Blalock Taussig, trauma ao nascimento) Clínico: agudo (insuficiência respiratória), crônico (infecção pulmonar de repetição, respiração ofegante) Inspiração: diafragma comprometido sobe causando desbalanço mediastinal e compressão do pulmão contralateral RX tórax: suspeita com elevação do diafragma US ou escopia: confirma o diagnóstico observando a mobilidade Dúvida diagnóstica com cisto broncogênico, tumores mediastinais, sequestro pulmonar: TC Tratamento: pequenos (observar, diafragma contralateral tende a compensar, fisioterapia respiratória), grandes - disfunção pulmonar ou infecção recorrente o Plicatura do diafragma Elevação do diafragma pós cirurgia cardíaca INTESTINO DELGADO, CÓLON, RETO E ÂNUS (“baixas”) INVAGINAÇÃO INTESTINAL Intussuscepção: latin intus (dentro) e suscipere (receber) 3 cilindros de parede intestinal estão envolvidos: a interna, a do meio são do invaginado e a externa do receptor. UMA DAS CAUSAS MAIS FREQUENTES DE OBSTRUÇÃO INTESTINAL EM CRIANÇAS: 2a causa mais comum de dor abdominal após constipação Diagnóstico: pediatra, radiologista e cirurgião pediátrico Epidemiologia 1-4 : 2000 crianças 2:1 ou 3:2 (meninos) 75% < 2 anos principal causa idiopática 90% até 3 anos Intraútero: pode levar a atresia intestinal Incidência é sazonal, de acordo com as infecções virais (respiratória, gastrintestinal) Patofisiologia O intestino invaginado leva o seu mesentério para dentro do receptor, causando sua angulação e a compressão entre as camadas dos intestinos Edema → compressão venosa → congestão → estase → extravasamento de muco e sangue → fezes em geleia de morango/framboesa Isquemia → necrose (72h) Classificação 4 tipos: I. Geral: permanente (fixo 80%) x intermitente (redução espontânea 20%) II. Específico: idiopático (95%) x patológico (4%) x pós operatório (1%) III. Anatômico: ileocólico (85%) x ileoileocólico (10%) x apendicocólico/cecocólico/colocólico (2,5%) x jejunoileal/ileoileal (2,5%) IV. Outros: recorrentes (5%) e neonatais (0,3%) Idiopático: placas de Peyer como cabeça de invaginação - adenovírus e rotavírus Patológico: divertículo de Meckel, pólipo intestinal, duplicação intestinal. Menos comuns: pâncreas ectópico, tumores (adenoma, hemangioma, linfoma, sarcoma, leucemia), trauma abdominal Lembrar: púrpura de Henoch-Schonlein, fibrose cística, doença celíaca, polipose familiar, Peutz-Jeghers (espessamento multifocal da parede intestinal/alteração da motilidade) Quadro clínico Sintomas: dor abdominal e vômito Sinais: massa abdominal e evacuação com sangue e muco (geleia de morango/framboesa) Maioria diagnosticado com 24h dos sintomas 4 sinais e sintomas juntos apenas em 30% e em doença tardia DOR ABDOMINAL SÚBITA, DE FORTE INTENSIDADE, EM CÓLICA, ENCOLHE AS PERNAS, INTERMITENTE (PERÍODOS DE CALMARIA -PÁLIDO, QUIETO, SUADO E RETORNA AO NORMAL) MASSA ABDOMINAL: FORMATO DE SALSICHA EM QUADRANTE SUPERIOR DIREITO (65%), FID VAZIA - SINAL DE DANCE Diagnóstico RX do abdome: raros casos que podemos fazer diagnóstico de certeza US do abdome: massa abdominal 3-5 cm, sinal do alvo ou da rosquinha corte transversal ou sinal do pseudo-rim corte longitudinal Enema: antes do US, era muito usado e, além do diagnóstico, é terapêutico TC ou RNM: raros casos Tratamento Estabilização clínica Tratamento não operatório: enema – (sonda retal) hidrostático/pneumático, por escopia/US. Contraindicação: desidratação, choque, peritonite, sinais de perfuração. Menores de 2 anos (idiopáticos) Tratamento cirúrgico: falha no tratamento não cirúrgico, cabeça de invaginação patológica. Laparoscopia ou laparotomia ENTEROCOLITE NECROTIZANTE Doença inflamatória intestinal adquirida que acomete quase exclusivamente os recém- nascidos. É a principal causa de mortalidade neonatal e urgência cirúrgica. Epidemiologia 1-3 casos cada 1000 nascidos vivos Principalmente, prematuros e baixo peso. Apenas 7-13% em termos Associado a dieta enteral (fórmula) - leite materno agente protetor: hormôniosde crescimento trófico intestinal, fatores que induzem a maturação intestinal, fatores que aumentam a colonização de bactérias não virulentas, mediadores anti- inflamatórios, vitaminas, antioxidantes, componentes de imunidade celular e humoral. Fármaco envolvidos: indometacina (usado em canal arterioso patente - bloqueia a síntese de prostaglandina causando vasoconstrição) Patologia Pode acometer 1 (50%) ou mais segmentos intestinais, principalmente ileoterminal e cólon Lesão mais comum: necrose de coagulação DIAGNÓSTICO CLÍNICO Distensão abdominal (70- 98%) Sangramento retal (79-86%) Resíduo gástrico pósalimentar (70%) Vômito (70%) Diarreia (4-26%) Laboratório: neutropenia, trombocitopenia (Gram negativo), acidose metabólica Diagnóstico radiológico: RX de abdome Distensão de alças, pneumatose intestinal (bolhas ou lineares), gás na veia porta, pneumoperitôneo, fluido intraperitoneal ou alça fixa US de abdome: Identificação de alça necrótica, líquido livre, ar em veia porta, bolhas no parênquima hepático, afilamento da parede intestinal, redução da perfusão da parede intestinal. RNM de abdome: Recentemente usado, porém limitado TRATAMENTO Depende do estágio Estágio I e II Clínico: sem sinais de complicação - jejum, sonda gástrica aberta (descomprimir estômago), hidratação venosa, antibioticoterapia, controle laboratorial e radiológico (pelo menos 7-14 dias) Cirúrgico: quando há pneumoperitônio. o Relativas: paracentese positiva, massa abdominal palpável, eritema de parede abdominal, gás em veia porta, alça intestinal fixa, piora clínica apesar de tratamento clínico intensivo. Complicações Estenose pós-enterocolite Má absorção intestinal e intestino curto Doença hepática colestática (NPP e jejum prolongado) ECN recorrente 4-6% Úlcera da anastomose MEGACÓLON CONGÊNITO ou DOENÇA DE HIRSCHPRUNG Condição reconhecida há séculos: primeira descrição data do século 17 Caracterizado pela AUSÊNCIA DE CÉLULAS GANGLIONARES DO PLEXO MIOENTÉRICO E SUBMUCOSO DO INTESTINO DISTAL - descrito em 1901 Responsáveis pelo peristaltismo normal → região afetada não há peristalse portanto há obstrução nessa área Maioria: retossigmoide. Mas pode ter em outras áreas, ou então o megacólon total 1:5000 nascidos vivos GENÉTICA células ganglionares são derivadas da crista neural 13ª semana: migração das células da crista neural intestinal proximal para distal maturação Genes: RET proto-oncogene, endotelina 3, endotelina B, SOX 10, S1P1, Phox2B Síndromes associadas: trissomia 21, síndrome Goldberg-Shprintzen, neurofibromatose, neuroblastoma, outros DIAGNÓSTICO Quadro clínico: Obstrução neonatal 50-90% - distensão abdominal, vômito bilioso, intolerância alimentar, eliminação tardia de mecônio (após 24h). Raro: perfuração cecal ou apendicular. Diferencial: atresia intestinal, íleo meconial, plug meconial. Constipação crônica Enterocolite: 10% febre, distensão abdominal, diarreia - estase fecal: Clostridium difficile ou rotavírus Radiológico: Enema: cone de transição 90% (sonda retal com contraste) Manometria anorretal: ausência de reflexo de relaxamento do esfíncter interno anal em resposta a dilatação retal (pouco disponível, melhor para crianças maiores e com diagnóstico de constipação de difícil manejo – útil para evitar biópsia retal) Biópsia retal: diagnóstico definitivo, ausência de células ganglionares no plexo mioentérico e submucoso - hematoxilina eosina, acetilcolinesterase, CALCITONINA Cone de transição pelo exame de enema Tratamento Preparação pré-cirúrgica: triagem de malformações associadas (cardíacas), tratar enterocolite, sonda nasogástrica, antibióticoterapia Cirurgia semi-eletiva o Colostomia descompressiva: nos casos de sofrimento ou paciente instável o Abaixamento de cólon: retirar parte aganglionar e descer colon Longo prazo Sintomas obstrutivos Soiling: vazamento de fezes líquidas ao redor do fecaloma Enterocolite (segmento longo, crianças menores, trissomia 21) Variantes do megacólon congênito Displasia neuronal intestinal: o Tipo A: menos comum, ausência de inervação simpática do plexo mioentérico e submucoso o Tipo B: displasia do plexo submucoso e espessamento das fibras nervosas e ganglionares Hipoganglionose: células esparsas e pequenas e anormalidade na distribuição de acetilcolinesterase Acalásia do esfíncter interno Megacólon ultracurto ANOMALIA ANORRETAL Incidência 1:4000 - 5000 nascidos vivos Meninos Risco para o segundo filho 1% Síndrome de Down - sem fístula MENINOS FÍSTULA RETOPERINEAL: Defeito mais baixo Localizado com a maior parte do mecanismo esfincteriano Diagnóstico clínico “Ânus coberto”, "membrana anal”, “ânus anteriorizado” e “malformação em alça de balde FÍSTULA RETOURETRAL: Mais comum Bulbar ou prostática Acima da fístula tem parede comum: quanto mais baixa a fístula, maior a parede comum Lateral/posterior: elevador anus Complexo muscular, musculatura parassagital FÍSTULA RETOVESICAL (10%): Prognóstico ruim para controle intestinal: elevador do ânus, musculatura complexa e esfíncter externo pouco desenvolvidos Sacro malformado e curto Períneo plano, pelve pouco desenvolvida Meninos sem fístula: Sacro bem desenvolvido, com boa musculatura com bom prognóstico para controle intestinal Reto e uretra separados por fina parede 50% têm síndrome de Down 90%, síndrome de Down e anomalia anorretal - sem fístula Atresia/estenose retal (<1%): Reto dilatado proximal, canal anal pequeno 1-2 cm Anastomose primária Bom prognóstico: canal anal bem desenvolvido, sensação anorretal preservada, esfíncter voluntário normal SCREENING: massa pré-sacral MENINAS FÍSTULA RETOPERINEAL: Boa separação entre reto e vagina Importante: relação anatômica com mecanismo esfincteriano FÍSTULA RETOVESTIBULAR: Mais comum defeito, com bom prognóstico funcional Meato uretral normal, vagina normal, com 3º orifício no vestíbulo 5%: 2 hemivaginas com septo vaginal Pode ser corrigido sem colostomia (experiência) Infecção perineal, deiscência, recorrência da fístula - fibrose - interfere na função esfincteriana Meninas sem fístula: Semelhante aos meninos, com prognóstico parecido Relacionadas com a Síndrome de Down Cloaca (3ª mais comum): Canal perineal comum (1-7 cm) < 3 cm: reparo sagital posterior, prognóstico melhor > 3 cm: complexo! Hidrocolpo, piocolpo Na figura a primeira cloaca tem canal mais logo e a segundo mais curto DEFEITOS ASSOCIADOS: o Deformidade sacral - ausência de 1 ou mais vértebras sacrais o Hemissacro - relacionado a massa pré-sacral e pobre controle intestinal o Hemivértebra - implicação negativa em controle intestinal o Relação sacral (0-1): prognóstico o Normal 0,77 Medula presa: prognóstico funcional ruim - defeito alto, sacro anormal, espinha bífida. o Liberação - melhora urinária e evita deterioração sensitiva motora dos membros inferiores o Defeitos genitourinários 20 - 54% o US - hidronefrose ou outro processo obstrutivo, hidrocolpo Atresia de esôfago Anomalias cardíacas Atresia duodenal RÉCEM-NASCIDO NO BERÇÁRIO Exame cuidadoso do períneo Nádegas bem formadas, boa impressão anal e presença de sulco interglúteo Ânus: calibre normal vela de Hegar #12 e deve ser circundado completamente por mecanismo esfincteriano Atresia de esôfago 8% RX AP e lateral (hemissacro – massa pré-sacral RNM) Ecocardiograma (30% alteração hemodinâmica) US dos rins e vias urinárias e coluna (25% coluna presa) RX do corpo inteiro: anomaliascoluna, dupla bolha Hidratação IV, antibiótico, SOG aberta, jejum TRATAMENTO Reparo primário (imediato ou eletivo) x colostomia Experiência do cirurgião, condição clínica do paciente e condições hospitalares UMA CHANCE pra corrigir Tratamento cirúrgico definitivo: anorretoplastia sagital posterior ou laparoscopia
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