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1 Psicopatologia 2 Sabrina Feitosa O termo autismo foi criado por Bleuler, no início de século XX, se referia especificamente às pessoas com comportamento retraído em seu próprio mundo (MALEVAL, 2017). Até hoje, nenhum gene responsável pela síndrome autista foi identificado (JAMAIN et. Al, 1088, como citado em MALEVAL, 2017). Logo, nenhum exame biológico pode diagnosticar o transtorno do espectro autista (MALEVAL, 2017). As funções cognitivas dos autistas não são uniformes para todos. Alguns podem ter funções muito boas, enquanto, outros podem ter déficits maiores. Assim, tentar entender o autismo com base em sintomas é inútil, pois o transtorno do espectro autista não é uma doença, é um modo de ser único do autista (MALEVAL, 2017). A capacidade linguística do sujeito não basta para torná-lo “alto funcionamento”. Maleval (2017) propõe que o alto funcionamento de um indivíduo autista é a capacidade de abandonar a certeza do seu mundo interior, é uma escolha independente, escolha sentimentais, profissionais, etc. sem que tais escolhas sejam ditadas pelas pessoas ao seu entorno. Entretanto, Maleval (2017) também propõe que essa escolha pode ser incentivada, bem como pode ser interditada. Infelizmente, poucos chegam a esse nível. A falta de concordância entre os autores dificulta o diagnóstico e os estudos. Diferentes áreas têm diferentes modos de ver o autista (KUPFER, 2000). O diagnóstico de psicose e autismo infantil não existia até o início do século XIX. Qualquer criança com comportamentos desviantes tinha o mesmo destino de um adulto: asilo e tratamento com alienistas (KUPFER, 2000). Algumas características do autismo, segundo Kanner (citado em KUPFER, 2000): incapacidade para estabelecer relações pessoais, a comunicação não era pela linguagem, excelente capacidade de memória, repetição, potencialidade cognitivas e, em geral, tinham genitores muito inteligentes. • Pós-autista: criança que consegue sair do autismo infantil precoce, demonstrando comportamentos como o olhar direcionado para o outro, se relacionando com o outro (KANNER, com citado em KUPFER, 2000). Momentos psicóticos são comuns em adolescentes e jovens adultos, encontrados na forma, muitas vezes, de labilidade (LAURU, 2002). • Epigênese, plasticidade cerebral X Etiologia puramente biológica Como o entorno modifica os genes (visão mais saudável para trabalhar com autistas na psicologia) Vs Causalidade puramente biológica do autismo (essa é uma visão mais limitada do sujeito). O mais interessante é entender que mesmo havendo um gene no autismo, há também as influências do meio externo. • Somatório de sintomas, doenças X Funcionamento subjetivo singular • Educar para boas práticas X Como cuidar Educar para uma adaptação conforme a sociedade requer Vs As dificuldades de cuidar olhando para o que o sujeito precisa. Todas as psicopatologias complexas, como esquizofrenia, autismo, etc., se referem à alguma história difícil do indivíduo, em momentos primitivos da vida do sujeito. 2 Psicopatologia 2 Sabrina Feitosa Há uma predominância do autismo em irmãos de autistas. Entretanto, ainda não há certeza se um casal com um filho autista, terá apenas filhos autistas. 1.00 – Autismo Infantil Precoce – Tipo Kanner F84.0 Autismo Infantil - CID 1. Início geralmente durante o primeiro ano de vida com presença de manifestações características antes dos 3 anos de idade. 2. Associação de: • Transtornos graves do estabelecimento das relações interpessoais e das relações sociais. • Alteração qualitativa da comunicação (ausência de linguagem, transtornos específicos da linguagem, déficit e alteração da comunicação não verbal). É difícil para o autista entender ironia, metáforas, interpretando tudo de formal literal. • Comportamentos repetitivos e estereotipados, frequentemente com estereotipias gestuais, brincadeiras, e interesses restritos e estereotipados. • Busca por imutabilidade (constância do ambiente) • Transtornos cognitivos. O diagnóstico precoce hoje é chamado de identificação/diagnóstico a tempo: a intervenção chegar antes da psicopatologia se instalar de fato e se consolidar. 1.01 – Outras formas de autismo F84.1 Autismo atípico - CID Síndrome autística incompleta ou de aparecimento após a idade de 3 anos. 1.02 – Autismo com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) com atraso mental precoce Imbricação de um atraso mental grave presente desde o início com traços autísticos, particularmente crises de angústia aniquiladora associadas a regressões e comportamentos autoagressivos. F84.1 Autismo atípico + F70 a F79 Atraso mental – CID 1.03 – Síndrome de Asperger Presença de uma síndrome autística sem atraso do desenvolvimento cognitivo, e sobretudo, do desenvolvimento da linguagem. F84.5 Síndrome de Asperger – CID 1.10 Esquizofrenia da criança F20 Esquizofrenia 1. Aparecimento após 4 ou 5 anos de idade, os transtornos psicóticos manifestam-se seja progressivamente, seja a partir de um episódio agudo ou subagudo, se inscrevem em processo evolutivo a longo prazo. Predominam dissociação, discordância, manifestações de angústia psicótica, um retraimento e uma desorganização importante da vida mental com perda rápida de capacidades adaptativas. 2. Manifestações delirantes menos frequentes e mais difíceis de serem evidenciadas. 3. Tomam forma de ideias persecutórias ou de ideias de transformação corporal, fobias estranhas. 1.11 Transtornos esquizofrênicos na adolescência 1.110 Aspectos Prodrômicos F21 Transtorno esquizotípico 1. Diminuição da atenção e das capacidades de concentração. 2. Baixa sensível em resultados escolares e de interesses. 3. Anedonia. 4. Retraimento social; tendência ao isolamento. 5. Inversão do ritmo nictemeral; irritabilidade, acessos de violência. 6. Pensamento difluente, discurso desafetado, ideias bizarras, megalomania, pensamentos ou gestos suicidas. 7. Intensificação regular ao longo de vários meses, associados a uma ansiedade constante, angústia maciça, indizível, quase contínua. 3 Psicopatologia 2 Sabrina Feitosa Hoje, há esforços para distinguir os dois quadros clínicos (autismo e psicose). Jerusalinsky simplifica: Autismo como falha na função materna e Psicose como falha na função paterna. Em outras palavras, olhar o que falhou na função materna (autismo) e olhar o que falhou na função paterna (psicose). Isso não quer dizer que a culpa passou a ser dos pais, mas sim que eles precisam se responsabilizar. KANNER (1938): Autismo Infantil Precoce A delicadeza da discussão sobre o papel das mães de autistas: as dificuldades daquelas colocadas no exercício de uma função que desconheciam exercer. • Função materna: o lugar de Outro primordial, impelido pelo próprio desejo suporá uma existência que ainda não está lá no bebê; e que por isso mesmo se instalará no sujeito. Em outras palavras, para o sujeito surgir é preciso supor que o bebê está lá. • Pequenos e recíprocos reconhecimentos: o reconhecimento no olhar, no desejo materno – o bebê se reconhece no olhar que é direcionado para ele. Para entender melhor é preciso ver o estágio do espelho proposto por Lacan. • Pequenas hipotonias (corpo mole, tônus muscular reduzido, bebês esparramados) e a evitação do olhar materno serão os primeiros sinais manifestos. • Diante da falha da função materna, vem a ausência da imagem do corpo. • Dificuldade em inserir o outro na linguagem. • Função paterna: a psicose se constitui pela foraclusão (exclusão da interdição) do Nome-do-Pai, pela expulsão (é isso que quer dizer foraclusão) da metáfora paterna. Nos constituímos sempre em uma relação triangular: mãe – bebê (relação simbiótica que é interrompida por uma interdição de um terceiro que pode ser o pai, o trabalho, é aquilo que separa a mãe do bebê). • A psicose não é definida na infância. • 4 tempos, deacordo com Calligaris, para a instalação da psicose: 1. Uma disposição já inscrita no Outro: um registro prévio da psicose em gerações anteriores. 2. Algo relativo a 1ª relação com Outro dito materno: a existência de uma relação simbiótica com a mãe, ou seja, uma mãe que coloca seu bebê como o único objeto de amor. 3. O tempo do Édipo: houve interdição (castração)? A criança aprendeu sobre as diferenças nas funções masculinas e femininas? A criança aprendeu as regras dos pais ou responsáveis? 4. O tempo da latência e a saída na puberdade: há uma revisão dos dilemas da sexualidade e de identidade (identificação com quem ou quais grupos?); dos papeis dos pais (como o adolescente passa a encarar seus pais: caretas, legais, mandões, sensatos, ciumentos?). Em resumo, o Outro não se estruturou como barrado. A metáfora paterna inoperante não faz a falta, o furo. • Um paradoxo: de um lado uma questão bastante rara, porém grave e duradoura. De outro, com uma nosografia incerta e flutuante. • As funções maternas e paternas não estão coladas na mulher e no homem, outras pessoas podem exercer essas funções, por exemplo: a cuidadora da creche pode exercer a função materna. • Crise da adolescência x esquizofrenia incipiente. • Dificuldade do diagnóstico diferencial entre a esquizofrenia incipiente e outras formas de crise. Antecedentes do sujeito: a) ocorrência anterior de episódios equivalentes; b) fatores de risco; c) personalidade esquizoide (esmorecimento escolar, acessos de comportamentos agressivos, longos devaneios solitários, preocupações estranhas, evitação geral de contatos sociais não-familiares). 4 Psicopatologia 2 Sabrina Feitosa Crise da adolescência x esquizofrenia incipiente Na crise aguda: sintomas positivos (alucinações, delírio) aparecem numa primeira crise; ou se exacerbam. O primeiro episódio do tipo psicótico é considerado como um período, com um tempo específico de duração, durante o qual o indivíduo manifesta um número mínimo de sinais específicos para satisfazer os critérios dados à categoria de desordem psicótica. O início do episódio é a apresentação específica dos sinais que definem a síndrome, enquanto o fim do episódio é definido como a remissão dos sinais durante um período de tempo específico. Essa remissão pode ser parcial, incluindo a persistência de alguns sinais residuais, ou completa, quando o sujeito não apresenta mais que sinais mínimos • Pródromos: ocorrem inicialmente mudanças específicas na atenção e na percepção. Algumas mudanças perceptuais também ocorrem secundariamente aos distúrbios da atenção. Mudanças perceptuais e de atenção conduzem para outras características específicas na fala e na mobilidade e no bloqueio do pensamento. Estados mentais de risco. São os primeiros sinais que o sujeito está se encaminhando para uma crise. • Os delírios podem tomar formas de ideais persecutórias ou de ideias de transformação corporal, fobias estranhas. Crises da Adolescência • Constituição da identidade subjetiva: crise da identidade, eu, self, separação- individuação. • Relação com o corpo (autoerotismo) e a identidade sexual. • O nível de pensamento: fantasia, realidade, simbolização, linguagem, abstração e intelectualização. • Relações interpessoais: dependência vs autonomia, confronto. • Manejo pulsional: afetos, prazer, ansiedades, frustrações, agressividade, defesa. • O desenvolvimento de capacidade sublimatórias. • Os momentos psicóticos no adolescente são frequentes, mas se apresentam lábeis e intermitentes, não sendo definitivos. • Isso se apresentará no centro da fragilidade do sujeito, deslizamento crítico. Uma passagem na estrutura. • Falhas na organização simbólica de processos da sexualidade e da identidade. O Outro está ausente. • Há reversibilidade. • Indicadores de que esses momentos psicóticos são reversíveis: posicionamento do sujeito na linguagem, conservação de certas capacidades psíquicas (escola), humor conservado, não há despersonalização. LAURU, Didier. Momentos Psicóticos na Adolescência. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, Porto Alegre, n. 23, p. 69-75, dez. 2002. Semestral. Disponível em: https://appoa.org.br/uploads/arquivos/revistas/r evista23.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021. KUPFER, M. Cristina M. Notas sobre o diagnóstico diferencial da psicose e do autismo na infância. Psicologia USP, [S.L.], v. 11, n. 1, p. 85-105, 2000. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0103- 65642000000100006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusp/a/9wQz5yN8bkTrkg 3vsRmHhCb/. Acesso em: 22 ago. 2021. MALEVAL, Jean-Claude. Introdução. in: MALEVAL, JEAN-CLAUDE (2017). O autista e sua voz. p. 15-36. Veja Também: Neurose e Psicose
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