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Autismo - aspectos pedagógicos

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DOCÊNCIA EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
AUTISMO 
ASPECTOS PEDAGÓGICOS 
 
 
 
1 
 
Copyright © Portal Educação 
2012 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
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Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842a Autismo – aspectos pedagógicos / Portal Educação. - Campo Grande: 
Portal Educação, 2012. 
 98p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-8241-29-6 
 1. Autismo – Educação especial. 2. Autismo – Aspectos pedagógicos. 3. 
Criança autista. I. Portal Educação. II. Título. 
 CDD 618.928982 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 TRANSTORNO INVASIVO DO DESENVOLVIMENTO ..................................................... 4 
2 TRANSTORNO AUTISTA .................................................................................................. 6 
2.1 HISTÓRIA ........................................................................................................................... 6 
2.2 EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA E PATOGÊNESE ............................................................ 7 
2.2.1 Epidemiologia .................................................................................................................... 7 
2.2.2 Etiologia e Patogênese ...................................................................................................... 8 
2.3 FATORES GENÉTICOS, PERINATAIS E IMUNOLÓGICOS ............................................ 8 
2.3.1 Fatores Genéticos ............................................................................................................. 8 
2.3.2 Fatores Perinatais ............................................................................................................. 14 
2.3.3 Fatores Imunológicos ........................................................................................................ 14 
2.4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO .......................................................... 15 
2.5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ......................................................................................... 39 
2.6 CURSO E PROGNÓSTICO .............................................................................................. 41 
2.7 TRATAMENTO .................................................................................................................. 43 
2.8 ASPECTOS COGNITIVOS DO AUTISMO ........................................................................ 48 
3 TRANSTORNO DE RETT ................................................................................................ 50 
4 TRANSTORNO DE ASPERGER ..................................................................................... 56 
5 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: AVALIAÇÃO DOS TRANSTORNOS 
INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO ...................................................................................... 60 
6 APRENDIZAGEM E AUTISMO ......................................................................................... 65 
6.1 INTERVENÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS ........................................................................ 78 
6.2 INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS E COMPORTAMENTAIS ......................................... 79 
 
 
3 
 
7 A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL ................................................... 82 
7.1 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO 
INCLUSIVA ................................................................................................................................. 86 
8 EDUCAÇÃO DE ALUNOS COM AUTISMO ..................................................................... 91 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 96 
ANEXOS ...................................................................................................................................... 98 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1 TRANSTORNO INVASIVO DO DESENVOLVIMENTO 
 
 
Segundo Kaplan (1997), os transtornos invasivos do desenvolvimento são condições 
psiquiátricas nas quais as habilidades sociais, o desenvolvimento da linguagem e os aspectos 
comportamentais esperados não se desenvolvem de forma esperada ou são perdidos no início 
da infância. São afetadas várias áreas do desenvolvimento e de forma precoce e persistente. 
O transtorno Autista é caracterizado por comprometimentos persistentes nas 
interações sociais, problemas na comunicação, linguagem, e padrões de comportamentos 
estereotipados e restritos. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais (DSM-IV), esse funcionamento anormal nas áreas descritas acima deve estar presente 
aos três anos. Mais de dois terços dos sujeitos com transtorno autista têm retardo mental, mas 
esse diagnóstico de retardo mental não é necessário para o diagnóstico do autismo. 
Segundo Fuentes (2008), o autismo é um distúrbio do comportamento de início 
precoce e crônico com impacto em várias áreas do desenvolvimento. Acarreta problemas na 
interação social e na comunicação social, assim como maneirismos e estereotipias. Como já foi 
mencionado acima, essas anormalidades costumam estar presentes antes dos três anos de 
idade e podem acometer indivíduos com quociente de inteligência (QI) dentro dos limites de 
normalidade. O autismo é um transtorno biologicamente determinado, mas o diagnóstico é 
essencialmente clínico e deve seguir os critérios estabelecidos pela 10ª edição da Classificação 
Internacional de Doenças – CID-10 (Organização Mundial da Saúde, 1992 publicada pela 
Artmed) e pela 4ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV. 
O autismo infantil foi descrito por Leo Kanner em 1943, mas somente em 1980, na 
terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), ele foi 
reconhecido como entidade clínica distinta. Antes de 1980, as crianças com qualquer um dos 
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento eram classificadas como tendo um tipo de 
esquizofrenia infantil. 
O DSM-IV mantém a categoria de transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra 
especificação para pacientes que apresentam um comprometimento qualitativo nas interações 
 
 
5 
sociais, e na comunicação verbal e não verbal, mas não preenchem os critérios para o transtorno 
autista. 
O DSM-IV inclui diversos outros transtornos na categoria de transtorno invasivo do 
desenvolvimento como: Transtorno de Rett, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de 
Asperger. 
O transtorno de Rett aparece mais em meninas, a criança começa a apresentar 
comportamentos estereotipados das mãos, uma perda dos movimentos intencionais, diminuição 
no uso da linguagem, uma perda no envolvimento social, fraca coordenação. 
Já no transtorno desintegrativo da infância o desenvolvimento caminha normalmente 
até mais ou menos os dois anos de idade, depois a criança começa a apresentar uma perda nas 
habilidades adquiridas até então, em duas ou mais das seguintes áreas: uso da linguagem, 
contato social, jogos, controle esfincteriano e habilidades motoras. 
O transtorno de Asperger é um quadro clínico onde a criança apresenta um acentuado 
comprometimento na interação social e apresenta padrões repetitivos e estereotipados de 
comportamento sem um atrasono desenvolvimento da linguagem. As capacidades cognitivas e 
adaptativas da criança são normais. 
 
 
6 
 
 
2 TRANSTORNO AUTISTA 
 
 
2.1 HISTÓRIA 
 
Segundo Kaplan (1997), Henry Maudsley (1867) foi o primeiro psiquiatra a dar uma 
atenção mais séria às crianças com transtornos mentais severos, com atrasos e distorções 
severas no seu processo de desenvolvimento. Mas no começo todos esses transtornos eram 
considerados psicoses. 
Segundo Fuentes (2008), em 1943, Leo Kanner descreveu onze casos clínicos, que 
deu o nome de distúrbios autísticos, em que enfatizou que existia uma incapacidade de se 
relacionar bem com as pessoas desde o nascimento, com respostas incomuns ao ambiente e 
desinteresse em se relacionar com esse ambiente, com inclusão de maneirismos motores 
estereotipados, resistência à mudança, com dificuldades na linguagem, como: inversão de 
pronomes e ecolalia. 
Segundo Kaplan (1997), Kanner descreveu crianças que exibiam extrema solidão 
autista, com atraso no desenvolvimento da linguagem, com ecolalia, assim como inversão de 
pronomes (usar “você” ao invés de “eu”), repetições monótonas de sons, e é claro os 
maneirismos e estereotipias, mas com uma excelente memória de repetição, comportamentos 
obsessivos, pavor de mudança e imperfeição, relações anormais com as pessoas e preferências 
por seres inanimados. Ele sugeriu que esses problemas de comportamento eram muito mais 
frequentes do que se imaginava na época e que eram confundidas com crianças com retardo 
mental ou esquizofrenia. 
Durante os anos de 1950 e 1960, acreditava-se que o autismo era causado por pais 
não emocionalmente responsivos aos filhos, mas essa ideia foi abandonada por uma série de 
estudos que a negaram. Várias pesquisas começaram a acumular a noção de que o autismo é 
um transtorno orgânico cerebral presente desde a infância e encontrado em indivíduos de todos 
os países, grupos socioeconômicos e étnicos investigados. 
Em 1980, o autismo foi pela primeira vez reconhecido e colocado em uma nova classe 
diagnóstica: os transtornos invasivos do desenvolvimento (TID) no DSM-III. O termo TID também 
 
 
7 
foi adotado na décima revisão da CID-10 e no DSM-IV. Os critérios para o autismo foram 
uniformizados nas duas edições. 
 
 
2.2. EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA E PATOGÊNESE 
 
2.2.1 Epidemiologia 
 
O transtorno autista ocorre em uma taxa de 2 a 5 casos por 10.000 crianças com 
menos de doze anos. Se incluir o retardo mental severo com alguns aspectos do autismo isso 
pode subir para até 20 casos por 10.000. E na maioria dos casos o quadro autista começa antes 
dos 36 meses, mas muitas vezes passa despercebido pelos pais, pois depende da sua 
gravidade para a doença ser percebida. 
Segundo Fuentes (2008), acredita-se que existe uma incidência do autismo em cerca 
de dois indivíduos para cada mil nascimentos. O autismo é de quatro a cinco vezes mais 
frequente em sujeitos do sexo masculino, cerca de três a cinco vezes mais meninos do que 
meninas são afetadas pelo transtorno autista. Mas as meninas tendem a ser mais seriamente 
afetadas e a terem mais comprometimento cognitivo. 
Nos últimos 25 anos, nenhum estudo epidemiológico demonstrou uma associação 
entre autismo e condições socioeconômicas. Há alguns anos se acreditava que o transtorno 
autista era mais encontrado em famílias com uma alta condição econômica, mas passados 
alguns anos percebeu-se maior incidência em crianças cuja família tem uma remuneração mais 
baixa, isso se acredita ter acontecido devido ao acesso maior de profissionais capacitados para 
o reconhecimento do transtorno no serviço público de saúde. Mas nenhum estudo profundo foi 
feito nos últimos anos para demonstrar mais adequadamente o fator socioeconômico relacionado 
com o transtorno autista. 
 
 
 
 
 
8 
2.2.2 Etiologia e Patogênese 
De acordo com Kaplan (1997), o transtorno autista foi considerado inicialmente como 
tendo sua origem psicossocial ou psicodinâmica, mas atualmente acumulam-se estudos e 
evidências de que existem fatores biológicos. Segundo Fuentes (2008), o autismo é multifatorial 
e com uma forte influência genética. Ele pode ser associado a uma causa conhecida que é a 
síndrome do X frágil, a esclerose tuberosa e anormalidades cromossômicas. E também podem 
existir fatores que influenciem como infecções pré-natais por citomegalovírus. 
O transtorno autista está ligado a lesões neurológicas, notoriamente rubéola congênita, 
esclerose tuberosa, e síndrome de Rett. As crianças autistas demonstram bem mais 
complicações perinatais do que as crianças normais ou aquelas que tenham outros transtornos. 
Isso sugere que as complicações que possam existir nos primeiros três meses da gravidez são 
significativas para o desenvolvimento do transtorno. 
 
 
2.3 FATORES GENÉTICOS, PERINATAIS E IMUNOLÓGICOS 
 
2.3.1 Fatores Genéticos 
 
Vários estudos demonstram que entre 2 e 4% dos irmãos de indivíduos autistas podem 
ser afetados pelo transtorno. O transtorno autista é um dos transtornos neuropsiquiátricos de 
maior herdabilidade. 
 
A diminuição rápida do risco relativo de parentes de primeiro para segundo e para 
terceiro graus, combinada com a concordância entre gêmeos monozigóticos de 64-
91%, e a concordância entre gêmeos dizigóticos e irmãos de 0-9% (Brune et al., 
2006; Bailey et al., 1995), indica que o autismo parece ser decorrente de efeito 
epigenético e/ou da interação de múltiplos genes, em combinações variadas de 
modo aditivo, multiplicativo, epistático ou de outras maneiras ainda desconhecidas 
(FUENTES et al.,2008, p. 231-232). 
 
 
 
9 
Outras evidências para a base genética desse transtorno vêm de investigações em 
familiares de autistas não afetados que demonstram algumas alterações leves na interação 
social, na área da comunicação e na área imaginativa semelhante a dos autistas. 
De acordo com Fuentes (2008 apud Baron-Cohen, 2004), anormalidades anatômicas 
foram encontradas em várias áreas encefálicas como: cerebelo (Figuras 4, 5, 7, 8); tronco 
encefálico (Figura 4); lobos frontais, parietais (Figuras 3,5,6,7); hipocampo (Figuras 2,9); corpos 
amigdaloides (Figura 1). Estudos de ressonância magnética indicam que podem existir 
diminuição de volume no cerebelo, no lobo parietal, no esplênio do corpo caloso (Figura 5), no 
tronco encefálico nos portadores do transtorno autista. Vários estudos demonstram que o 
autismo apresenta anormalidades nas regiões responsáveis pelo processamento emocional e 
pelo comportamento social. Isso quer dizer que está associado, principalmente, à área do corpo 
amigdaloide, pois eles se comportam de maneira parecida com pacientes que apresentam 
lesões nessa área e no córtex orbitofrontal. 
 
FIGURA 1- OS NÚCLEOS DA BASE 
 
FONTE: Bueno F.A. Orlando et al.: Neuropsicologia Hoje, 2004. 
 
 
 
 
 
 
10 
 
FIGURA 2- VISÃO MEDIAL DO HEMISFÉRIO CEREBRAL 
 
FONTE: Bueno F.A. Orlando et aL.: Neuropsicologia Hoje, 2004. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
FIGURA 3- DIVISÃO EM LOBOS DO CÓRTEX CEREBRAL 
 
 
FONTE: Bueno F.A. Orlando et aL.: Neuropsicologia Hoje, 2004. 
 
 
 
 
12 
 
FIGURA 4- VISÃO MEDIAL DO ENCÉFALO, CORTE SAGITAL MEDIANO 
 
 
FONTE: Bueno F.A. Orlando et aL.: Neuropsicologia Hoje, 2004. 
 
 
 
 
 
 
13 
 
FIGURA 5- FACE MEDIAL DE UM HEMISFÉRIO CEREBRAL 
 
 
FONTE: Machado Angelo: Neuroanatomia Funcional, 2006. 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
2.3.2 Fatores Perinatais 
 
Existe uma alta relação entre problemas perinatais e o transtorno autista, entretanto 
nenhuma complicação específica tem sido associada ao transtorno como causa direta. Pode 
estar associado a complicações no primeiro trimestre de gestação e no período perinatal, 
quando as crianças têm uma alta incidência de síndrome de aflição respiratória e anemia 
neonatal. E alguns estudos também mostram a relação entre o uso de medicações durante a 
gravideze o transtorno autista (KAPLAN, 1997). 
Sangramento materno após o primeiro trimestre e mecônio no líquido amniótico foram 
encontrados com mais frequência, e podem estar associados, dessa maneira ao autismo. 
 
 
2.3.3 Fatores Imunológicos 
 
Segundo Kaplan (1997), algumas evidências indicam que a incompatibilidade 
imunológica entre a mãe e o feto pode contribuir para o autismo. Dessa maneira, os linfócitos de 
algumas crianças autistas reagem com os anticorpos da mãe podendo assim danificar os tecidos 
neurais embrionários ou extraembrionários. 
 
 
15 
 
2.4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO 
 
Todas as crianças autistas apresentam dificuldades na interação com seus pais e 
outras pessoas. Quando bebês, não exibem muitas vezes o sorriso habitual que existe na 
interação com as outras pessoas, também apresentam pobre contato visual. O desenvolvimento 
social apresenta algumas características, como falta de apego, mas nem sempre ausência total, 
e um fracasso na capacidade de criar vínculos com uma pessoa específica, por exemplo, mais 
próxima. As crianças com o transtorno parecem não conseguir diferenciar as pessoas mais 
próximas, como pais e irmãos das outras pessoas. Além de não demonstrar qualquer dificuldade 
de separação, ou ansiedade de separação quando são deixadas em um local desconhecido com 
pessoas estranhas. 
Quando essas crianças entram em idade escolar e vão para a escola, apresentam uma 
dificuldade em se relacionar com seus pares, com seus colegas. Apresentam um fracasso no 
brincar, em fazer amigos e principalmente no desenvolvimento de empatia. 
Conforme descreve Fuentes (2008), segundo a teoria da mente, as bases neurais da 
empatia parecem depender da integridade dos corpos amigdaloides (Figura 1); do sulco 
temporal superior (Figura 6); dos córtices frontal medial e orbitofrontal (Figura 6) e do giro 
temporal superior (Figura 6). Essas áreas juntas podem ser chamadas de cérebro social. 
 
 
16 
 
FIGURA 6- FACE SUPEROLATERAL DE UM HEMISFÉRIO CEREBRAL 
 
FONTE: Machado Angelo: Neuroanatomia Funcional, 2006. 
 
 
17 
 
FIGURA 7- CISSURAS E LOBOS 
 
 
FONTE: Oliveira Maria A. D.: Neuropsicologia Básica, 2005. 
 
 
18 
 
FIGURA 8- CÉREBRO HUMANO EM TRÊS DIMENSÕES 
 
 
 
FONTE: Damásio A. R.: O Erro de Descartes, 1996. 
 
 
 
19 
 
FIGURA 9- O SISTEMA LÍMBICO 
 
FONTE: Kandel E. R. et al.: Fundamentos da Neurociência e do Comportamento, 1997. 
 
 
 
 
20 
Crianças com autismo com um alto funcionamento têm dificuldades de perceber que os 
estados mentais e o comportamento são representados por crenças, pensamentos, intenções, 
vontades, desejos e não simplesmente pela realidade objetiva. Portanto, chama-se teoria da 
mente essa capacidade de inferir a respeito dos estados mentais dos outros. 
Sendo assim, as crianças autistas têm dificuldade em deduzir os sentimentos ou 
estados mentais de seus pares, o que as tornam incapazes de interpretar e analisar o 
comportamento social das outras pessoas. Isso pode levar a uma grande dificuldade em 
desenvolver o relacionamento social. 
Na adolescência, os sujeitos autistas que fazem maior progresso sentem a 
necessidade de fazer amigos, mas a inadequação da abordagem e a incapacidade de responder 
aos interesses comuns se tornam grandes obstáculos para o desenvolvimento de amizades. 
Eles sentem necessidades sexuais, mas essa falta de competência para estabelecer vínculos 
afeta o desenvolvimento de relações sexuais. É muito difícil se casarem. 
De acordo com Gauderer (1997), os distúrbios globais do desenvolvimento são uma 
subclasse que se caracterizam pelas perdas no desenvolvimento da interação social recíproca, 
do desenvolvimento das habilidades de comunicação verbal e não verbal e também das tarefas, 
das atividades imaginativas. 
Muitos de seus interesses são realizados de maneira estereotipada e repetitiva e a 
gravidade dos sintomas varia de caso para caso. 
Esses comprometimentos podem estar associados a várias outras complicações, as 
dificuldades e comprometimentos estão ligados a atrasos na atividade intelectual, que podem ser 
verificados nos testes de inteligência, pois na maioria dos casos há um diagnóstico associado de 
retardo mental. Está com atraso a compreensão da fala, da linguagem, há problemas no uso 
dessa fala no meio social, normalmente estão comprometidos a postura, a alimentação, o sono e 
as respostas aos estímulos sensoriais. 
O distúrbio global do desenvolvimento é um termo que descreve um comprometimento 
em várias habilidades do desenvolvimento psicológico que são afetadas ao mesmo tempo e em 
níveis diferentes. 
Podemos descrever o comprometimento qualitativo na interação social recíproca. Esse 
comprometimento é caracterizado pela falência do desenvolvimento das relações interpessoais e 
 
 
21 
pela falta de interesse para com as outras pessoas e situações cotidianas. Nas primeiras fases 
da vida podemos presenciar a falta de interesse dessa criança, a falta de contato social e 
responsividade facial e a indiferença ao contato afetivo e físico de pais ou cuidadores. Algumas 
vezes, é possível confundir essas crianças com crianças surdas, por também estar associada à 
indiferença social. 
O tipo de vínculo estabelecido por essa criança costuma ser bizarro, como por 
exemplo, ela pode ligar-se a mãe e reconhecê-la fundamentalmente pelo olfato. 
Em alguns casos, pode-se observar que, nos primeiros anos, a criança apresenta um 
desenvolvimento social aparentemente adequado, mas mesmo assim percebe-se uma 
dificuldade do desenvolvimento do jogo imaginativo e das amizades. Com o passar do tempo, 
podem desenvolver um maior nível de alerta e interesse social. Algumas crianças menos 
deficientes podem estabelecer um contato passivo em brincadeiras com outras crianças, ou 
podem incluir outras em suas brincadeiras como ajudantes de suas atividades estereotipadas. 
Com relação ao comprometimento na comunicação e na atividade imaginativa, pode-
se observar uma dificuldade na comunicação verbal e não verbal. A linguagem pode estar 
totalmente ausente. Em alguns casos, quando essa fala se desenvolve, é possível ter uma 
estrutura gramatical imatura, ecolalia ou uma fala retardada, podendo haver inversão de 
pronomes, dificuldades na nomeação, comprometimento para usar termos abstratos, uma 
sonoridade anormal, como por exemplo, uma fala monótona ou entonações nos momentos 
errados. Na comunicação não verbal, como expressão facial, o gesto está ausente ou é mínimo, 
e quando presente é realizado de forma socialmente inadequado. Essa perturbação da 
linguagem no meio social pode ser observada na dificuldade de entender piadas e trocadilhos. 
Já o comprometimento na atividade imaginativa pode incluir a ausência de jogos 
simbólicos e fantasias com brinquedos ou perda da representação dos papéis de adulto. Essa 
atividade imaginativa pode ser realizada de maneira repetitiva e estereotipada. Como por 
exemplo, essa criança pode querer ficar repetindo sempre o mesmo personagem da televisão ou 
sempre utilizar o mesmo brinquedo na mesma quantidade. 
As crianças autistas de pouca idade usam os objetos inanimados quase sempre para 
girá-los ou sacudi-los. Possuem uma tendência em enfileirar ou arrumar esses brinquedos 
sempre da mesma maneira, para manter o seu ambiente sempre igual, para não ocorrer 
mudanças. 
 
 
22 
Segundo Tamanaha (2006), a criança autista tem peculiaridades no brincar. Ela 
desenvolveu uma pesquisa na qual foi observado o brincar da criança autista, primeiramente foi 
observado de maneira livre e depois de maneira dirigida, em que o avaliador interferia no brincar 
dessa criança. Na pesquisa, foi analisado o brincar dessa criança segundo os critérios propostos 
por Wetherby e Prutting (1984), como: 
- Sensório-motor: ela manipula livremente o brinquedo de maneira sensório-motora, 
levando a boca, por exemplo; 
-Agrupamento: ela agrupa peças em critérios estabelecidos; 
- Formação de conjunto: a criança, por exemplo, agrupa as peças por cores; 
- Sequencialização: organiza uma sequência de objetos seguindo um critério; 
- Funcionalidade: usa o brinquedo com sua função; 
- Jogo compartilhado: utiliza o brinquedo para estabelecer uma comunicação entre ela 
e o adulto; e 
- Jogo simbólico: brincadeiras de faz de conta. 
Pode-se observar nesse estudo que a maioria das crianças utilizou a forma sensório-
motora. Esse comportamento sugere mais do que um possível atraso no comportamento da 
exploração lúdica, essa característica deve estar presente por causa das estereotipias na criança 
autista. E essa manipulação sensório-motora pode ser observada em idades mais avançadas, 
demonstrando um atraso no desenvolvimento cognitivo, que decorreria também das falhas na 
aquisição da linguagem. Observou-se que essas crianças não utilizaram a forma de 
sequencialização, o que também demonstra falhas cognitivas, que irão atrapalhar no 
desenvolvimento da linguagem. Em relação aos outros critérios, verificaram-se diferenças 
estatísticas significativas no uso das categorias de agrupamento, formação de conjuntos, 
funcionalidade e jogo compartilhado em situação dirigida. Portanto, isso mostra a importância de 
compartilhamento em atividades lúdicas. O direcionamento, os incentivos parecem muito 
importantes para aquisição da linguagem. A interação de um adulto na brincadeira do jogo 
compartilhado é essencial para ajudar na interação social e na elaboração de jogos simbólicos. 
Foi possível verificar nessa pesquisa que a atividade lúdica da criança autista é 
essencialmente sensório-motora, mas com a participação de um adulto com incentivo, ou ajuda 
 
 
23 
para a criança explorar outras formas de brincar, e dessa forma pode ajudar no seu prognóstico 
de comunicação. 
Segundo Ocampo (2003), a hora de jogo diagnóstica constitui um recurso técnico que 
o psicólogo utiliza dentro do processo de diagnóstico com a finalidade de reconhecer as 
características da criança que está sendo analisada. Para a criança a atividade lúdica é uma 
forma de expressão, assim como para o adulto é a linguagem verbal. Quando se oferece para a 
criança um espaço onde poderá brincar com um enquadramento específico e estruturado, assim 
nessa condição ela irá expressar seu repertório de condutas. Mas não se pode confundir a hora 
de jogo diagnóstica com a hora de jogo terapêutica. 
Na hora de jogo a criança pode usar o brinquedo para expressar o que está 
vivenciando no momento. Essa hora de jogo diagnóstica é precedida das entrevistas realizadas 
com os pais. Nelas o psicólogo pode elaborar com os pais as instruções que serão dadas a 
criança por eles. Como pode haver interferências na forma dos pais colocarem essas 
informações, elas serão reformuladas para a criança em um momento adequado, para que 
sejam passadas para a criança de forma clara e precisa. Cada hora diagnóstica é única, e ela 
implica um estabelecimento de vínculo transferencial breve, com o objetivo de compreender a 
criança da melhor maneira possível. 
Na hora de jogo é necessário utilizar material de boa qualidade para evitar fáceis 
estragos, pois isso poderá causar culpa na criança. E deve-se evitar material perigoso que possa 
machucar a criança ou o avaliador. E além do mais, os materiais e brinquedos devem estar em 
bom estado. 
Deve-se esclarecer para a criança que ela pode usar o material como quiser, e que 
observaremos sua utilização, com o objetivo de conhecê-la e de compreender suas dificuldades 
para uma ajuda posterior, isso explicando que existe um tempo e um lugar determinado. E serão 
explicados os limites para a realização das atividades que possam ser perigosas para a criança, 
para o avaliador, para o ambiente ou para o mobiliário. 
O papel do psicólogo na hora de jogo diagnóstica é passivo. Ele só irá participar se for 
solicitado pela criança, para exercer um papel complementar em suas brincadeiras, ou 
atividades. Outro tipo de participação é no estabelecimento de limites, caso a criança quebre o 
enquadramento. 
 
 
24 
Quando nos deparamos com uma análise de jogo diagnóstica, verificamos a não 
existência de uma padronização deste material. Mas existem alguns itens importantes a serem 
observados para fins de diagnóstico e prognóstico, como a escolha de brinquedos e de 
brincadeiras; modalidades de brincadeiras; personificações; motricidade; criatividade; 
capacidade simbólica; tolerância a frustração; e adequação à realidade. 
De uma criança, por exemplo, de três anos é esperado um jogo de tipo egocêntrico, 
centrado em si mesmo. Pode pedir ajuda, ou fazer perguntas sobre os objetos, mas não coloca o 
avaliador como participante ativo na brincadeira. Essa criança pode passar com muita facilidade 
de uma brincadeira para outra, sem terminar nenhuma. E a sua atenção principal é na função 
dos objetos e na manipulação dos mesmos. 
Dos quatro aos sete anos as brincadeiras já se aproximam mais do real. E também 
costuma pedir mais a presença do outro nas brincadeiras. Aos cinco ou seis anos começa a 
colocar mais intencionalidade nas brincadeiras. Posteriormente, dos sete aos onze anos, 
encontram-se já estabelecidas as regras das brincadeiras, podendo exercer papéis mais 
próximos da realidade, como fazer papel de médico, de professor, etc. 
Como modalidade mais patológica de funcionamento egoico, podemos caracterizar as 
brincadeiras estereotipadas e a perseveração nas mesmas. Dessa maneira, observa-se uma 
desconexão com o mundo externo, com única finalidade de descarga de energia, repetem-se as 
brincadeiras e elas não têm fins de comunicação. Essa característica pode ser verificada nas 
crianças psicóticas, com lesões orgânicas e também nos casos de autismo, por exemplo. 
Por meio da hora de jogo o psicólogo pode verificar a falta de funcionalidade motora. 
Alguns aspectos podemos observar, como o deslocamento geográfico, possibilidade de encaixe, 
preensão e manejo, alternância de membros, lateralidade; movimentos bizarros, movimentos 
voluntários e involuntários, ritmo do movimento. A criatividade também é um fator importante a 
ser observado. Klein (1997), ao se referir à capacidade simbólica diz que o simbolismo é 
importante para toda a fantasia e sublimação, e é sobre ele que se constrói a relação do 
indivíduo com o mundo exterior e a realidade. E essa capacidade simbólica encontra-se 
comprometida nas crianças portadora do quadro autista. 
A dificuldade em brincar é um dos problemas evidentes em uma criança seriamente 
perturbada. São frequentes as organizações originais, os neologismos, as atitudes bizarras e as 
dificuldades de se adaptar à realidade, tolerância à frustração e a aprendizagem. 
 
 
25 
Nas crianças autistas, o repertório de atividades e interesses é acentuadamente 
restrito, essa restrição pode ter várias formas. Na criança menor podem ser notadas reações de 
resistência a qualquer mudança, isso inclui mudanças no seu ambiente. Por exemplo, a criança 
pode ficar extremamente irritada quando se muda um móvel de lugar, ou quando trocarem o seu 
lugar de sentar à mesa. Há na maioria das vezes vinculação a objetos – pode acontecer mania 
de colecionar coisas e fixação a um tipo de comida. Estereotipias motoras como bater palmas, 
movimentos nas mãos, movimentos de inclinação, balanceio. 
Na criança mais velha pode acontecer insistência em seguir rotinas de modo preciso, 
ou seja, realizar determinada coisa sempre do mesmo modo, como por exemplo, pegar 
exatamente sempre o mesmo caminho para ir à escola. Pode ocorrer fascínio por um 
determinado movimento como ficar horas observando o movimento repetitivo do ventilador. 
As estereotipias verbais incluem repetições de palavras ou frases, independentemente 
do significado. Nas crianças mais velhas, é possível observar, em alguns casos, uma excelente 
memóriade longo prazo, em razão disso, muitas têm certos interesses como decorar músicas, 
números, mas sempre com uma relação anormal. 
Para o diagnóstico do distúrbio autista é necessário ter, além dos sintomas descritos 
acima relacionados aos distúrbios do desenvolvimento, idade inicial na primeira infância e 
também algumas características como: 
1. Incapacidade qualitativa na interação social recíproca manifestada pelo 
seguinte: falta de percepção de existência ou sentimentos dos outros. 
1.1 Ausência ou busca de consolo exagerado por ocasião de sofrimento. Por exemplo, 
pode ficar sorrindo quando está machucado, ou pode não buscar consolo quando se encontrar 
doente. 
1.2 Imitação ausente ou comprometida. 
1.3 Jogo anormal ou ausente, por exemplo, não participa de jogos com outras crianças 
e quando participa é de maneira mecânica. 
1.4 Incapacidade nítida de fazer amizades. 
2. Incapacidade qualitativa na linguagem verbal e não verbal e na atividade 
imaginativa. 
2.1 Ausência de modo de comunicação como: balbucio, expressão facial, gestos, 
mímica. 
 
 
26 
2.2 Comunicação não verbal anormal no uso de olhar fixo olho no olho, postura 
corporal, expressão facial. Não olha ou não sorri para uma pessoa quando se faz uma interação 
social. Não cumprimenta. 
2.3 Ausência de atividade imaginativa, como por exemplo, falta de interesse em 
histórias com acontecimentos imaginativos. 
2.4 Anormalidades marcantes na produção do discurso incluindo volume, ritmo, 
entonação, modulação. 
2.5 Anormalidades na forma e no conteúdo do discurso: o uso repetitivo ou 
estereotipado da fala. 
2.6 Dificuldade acentuada em iniciar ou sustentar uma conversação com as outras 
pessoas. 
3. Repertório de atividades e interesses restritos. 
3.1 Movimentos corporais estereotipados. 
3.2 Insistente preocupação com partes dos objetos e não com o objeto em si e nem 
interesse na sua função. 
3.3 Sofrimento acentuado com mudanças triviais no seu ambiente. 
3.4 Insistência sem motivo em seguir rotinas com detalhes precisos. 
3.5 Interesses limitados com fatos ou eventos. 
 
É de grande importância que estejam presentes pelo menos oito desses sintomas e 
com início na primeira infância ou infância. 
Características essenciais para o autismo incluem início antes dos dois anos e seis 
meses de idade; alterações no desenvolvimento social; alterações no desenvolvimento da 
linguagem; comportamentos estereotipados e rotinas; ausência de delírios, alucinações e 
distúrbios do pensamento do tipo esquizofrênico. 
Características mais presentes do desvio do desenvolvimento social é incapacidade de 
criar vínculos específicos, desta maneira desde os primeiros meses de vida a criança tem 
 
 
27 
dificuldades na postura antecipatória, como por exemplo, não estender os braços para as 
pessoas pegarem no colo, dificuldades em manter um contato visual. Já quando chegam à fase 
de começar a andar não seguem seus pais pela casa, não correm para recebê-los quando eles 
chegam a casa, como é esperado. Quando se machucam não costumam buscar ajuda nos seus 
cuidadores. 
Essas crianças não buscam companhia dos adultos e podem ou não demonstrar 
angústia de separação e não usam os relacionamentos para acalmar suas ansiedades quando 
isso se faria necessário e seria esperado. O contato olho a olho no desenvolvimento de 
interações sociais é muito importante para as crianças, e nas crianças autistas esse contato é 
anormal, normalmente elas não encaram as pessoas quando querem alguma coisa ou quando 
simplesmente alguém se dirige a ela. 
Esses sujeitos na maioria das vezes têm um rosto inexpressivo, dificultando o 
reconhecimento de suas emoções, mas sua característica mais acentuada é a ausência de 
variação na expressão de suas emoções em função das emoções dos outros. Têm grande 
dificuldade de cooperar com outras crianças em suas brincadeiras, dificultando assim o vínculo 
de amizades. 
As alterações da linguagem são várias. No início, a criança tem um balbucio irregular, 
pouco em termos de quantidade e anormal em termos de qualidade, além de não ter a 
característica de interação social, não vem acompanhado de gestos, como apontar as coisas, ou 
responder aos contatos de outras pessoas. Quando a fala se desenvolve, o aspecto mais 
acentuado é o pouco uso para contato social, pois a fala da criança quando está apreendendo a 
andar e extremamente relacionada ao seu conato com o meio. Normalmente, por exemplo, não 
seguem os pais pela casa tentando manter conversas, falando sobre tudo. 
São incapazes de descrever suas atividades a outras pessoas, além disso, a fala é 
estereotipada e repetem a fala de outras pessoas, apresentam uma linguagem egocêntrica, e 
com trocas pronominais, quando invertem falando você em vez de eu. 
Outra característica essencial do autismo são os comportamentos estereotipados e 
rotinas. As brincadeiras são repetitivas, sem qualidade, sem variedade, podem passar horas 
repetindo a mesma brincadeira ou ficar girando os objetos. Raramente brincam de faz de conta, 
e usam os brinquedos de forma pobre e sem simbolismo ou sem criatividade. É muito difícil uma 
 
 
28 
criança autista responder a uma brincadeira iniciada por um adulto, por exemplo, é muito difícil 
responder um adeus dado por outra pessoa ou bater palminhas. 
Muitas crianças se preocupam com itinerários, horários, números, datas, etc. rotinas 
rígidas na alimentação, nos hábitos, nas atividades diárias, e vêm acompanhadas de resistência 
a qualquer mudança. É comum terem fases de preferência por determinados alimentos. 
Outra característica é a presença de algum grau de retardo mental, mas o autismo 
também pode ocorrer em crianças de inteligência normal. Elas têm maiores habilidades em 
atividades que só exigem habilidades mecânicas ou memorização do que das tarefas que 
requerem abstração, percepção de sequência e conhecimento de conceitos. A maioria das 
crianças apresenta expressão de seriedade e pode dar uma ideia de inteligência, mas mesmo 
com a expressão facial normal, eles não têm expressão facial emocional. 
Segundo o CID-10 (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento de 
CID-10), o transtorno autista é definido pela presença de desenvolvimento anormal ou 
dificuldades que se manifestam antes da idade de três anos e tem as características de 
alterações em três áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. 
O transtorno é mais encontrado em meninos do que em meninas. 
Não há um momento determinado para que as alterações ocorram, mas elas começam 
a ser evidenciadas antes dos três anos de idade. Há sempre dificuldades qualitativas na 
interação social, falta de respostas para as emoções das outras pessoas e falta de adequação 
do comportamento de acordo com o contexto. Dificuldades em conversações, em brincadeiras, 
principalmente com aspectos imaginativos e pouca flexibilidade na expressão da linguagem e 
uma ausência de criatividade nos processos de pensamento e falta de gestos para ajudar a 
modular a comunicação emocional com outras pessoas. 
Também apresentam padrões de comportamento, interesses e atividades restritos, 
repetitivos e estereotipados. Esses gestos repetitivos podem ser encontrados tanto em 
brincadeiras, como em atividade do dia a dia. Mas as crianças com autismo podem mostrar uma 
série de outros problemas como, medo, fobias, perturbações do sono e alimentação, ataques de 
birra e agressão. Autolesão também é bem comum, principalmente quando há retardo mental 
grave associado. 
A maioria dos indivíduos com transtorno autista tem dificuldades em sua 
espontaneidade, iniciativa e criatividade, na organização do seu lazer e em aplicar 
 
 
29 
conceitualizações em seu trabalho. À medida que a criança cresce suas dificuldades vão 
mudando, mas todas estão relacionadas com problemas de interações sociais, comunicação e 
padrões de interesse. Todos osníveis de QI podem ocorrer em associação ao autismo, mas 
ocorre o retardo mental significativo em vários casos. 
O quadro clínico do autismo é complexo. O autismo é um transtorno comportamental 
ímpar que consiste em vários sintomas. Assim, é essencial para o diagnóstico a tríade de 
sintomas, envolvendo dificuldades na interação social, de comunicação, de linguagem e de 
reações a objetos. Os distúrbios na motilidade e os distúrbios da modulação sensorial recebem 
menos atenção, mas também são importantes componentes da síndrome em crianças autistas 
pré-escolares. A modulação sensorial refere-se tanto ao excesso como ao desinteresse em 
relação às reações a estímulos sensoriais. 
Segundo Fuentes (2008), a criança autista pode desenvolver um interesse em uma 
atividade repetitiva como: colecionar coisas; memorizar números, músicas. Os brinquedos são 
utilizados de maneira ritualística, com pouco aspecto simbólico, essa é uma característica do 
brincar autista, pois essas crianças na maioria das vezes não se utilizam dos brinquedos com 
suas funções adequadas, como por exemplo, pegam um carrinho, mas não brincam com ele 
como se fosse um carrinho, muitas vezes ficam só balançando o brinquedo por exemplo. 
Estereotipias, maneirismos e caretas são muito comuns. 
Déficits na linguagem estão entre os critérios essenciais para o diagnóstico do autismo. 
As crianças apresentam dificuldades em formar frases, mesmo quando o seu vocabulário é 
suficiente, além de terem prejuízos na comunicação não verbal, como gestos e entonação vocal. 
Essas crianças apresentam também dificuldades em manter um diálogo de forma adequada e, 
muitas vezes, não respondem ao chamado de outras pessoas. Elas têm grande dificuldade em 
abstração compreendendo as coisas no seu sentido literal. 
Indivíduos com autismo apresentam comprometimento global da linguagem, 
envolvendo recepção e produção fonológica (sons de fala), sintaxe (gramática), além da 
semântica (significado) e da pragmática (uso comunicativo da linguagem). Diferentemente de um 
atraso simples de linguagem eles não apresentam interesse, motivação para comunicar-se seja 
por vias verbais ou não verbais. 
 
 
30 
Já autistas com um melhor funcionamento, ou alto funcionamento, podem apresentar 
dificuldade na semântica e na pragmática, mas ocorre principalmente a dificuldade pragmática 
que pode ser decorrente da inflexibilidade mental. 
Os déficits verbais que o autismo apresenta levam a escores melhores nas tarefas de 
execução do que nas tarefas verbais no teste de Wechsler de inteligência, principalmente em 
sujeitos que têm escore na faixa de retardo mental, esse aspecto clínico é muito importante para 
auxiliar em um diagnóstico. 
De acordo com Kaplan (1997), no primeiro ano de vida, a quantidade e o padrão do 
balbucio das crianças autistas podem estar reduzidos quando comparados com as crianças 
“normais”. Podem emitir alguns sons, mas a maioria das vezes é de forma estereotipada, sem a 
intenção de verdadeira comunicação. 
Os autistas dizem mais do que entendem, palavras ou mesmo frases inteiras podem 
aparecer e desaparecer do seu vocabulário, às vezes, eles podem usar uma palavra e depois 
não voltar a usar por dias, meses, às vezes, ano. E a linguagem na maioria das vezes se dá de 
forma de ecolalia. Há presença de inversão pronominal, elas dizem “você quer algo”, quando na 
verdade estão querendo dizer que elas querem alguma coisa. Algumas crianças aprendem a ler 
sozinhas e, às vezes, muito bem, mas leem sem qualquer compreensão. 
Nos primeiros anos de vida a atividade exploratória, que é intensa em uma criança 
normal, não acontece da mesma maneira com as crianças autistas, essa atividade é mínima ou 
não existe. Elas não conseguem imitar ou usar os brinquedos de forma adequada, as atividades, 
jogos, quando existem, são rígidos, repetitivos e monótonos. Várias crianças autistas, 
principalmente com maior comprometimento intelectual, exibem várias anormalidades dos 
movimentos. Essas crianças resistem a mudanças e transições. As mudanças, por exemplo, de 
casa, mudança dos móveis na casa, ou comer antes de tomar banho quando estão acostumadas 
a fazer o inverso, podem causar pânico e ataques de raiva. 
Elas podem apresentar também instabilidades no humor, como súbitas mudanças de 
humor, com surtos de risada, ou choro sem razão aparente e sem expressão de pensamentos 
de afeto. Algumas têm uma elevação no limiar de dor, podendo machucar-se gravemente e não 
chorar. 
A hipercinesia é um problema comportamental comum em crianças pequenas autistas. 
A hipocinesia é menos frequente e quando acontece pode estar associada à hiperatividade. 
 
 
31 
Podem-se observar explosões de raiva e agressividade, assim como comportamentos 
autodestrutivos, como: morder-se, arranhar-se, arrancar os cabelos. Podem apresentar ainda 
fraco alcance da atenção, dificuldade grave para se concentrar, insônia, problemas de 
alimentação, enurese, encoprese. 
Segundo Fuentes (2008), distúrbios do sono e alimentares podem ser muito 
esgotantes para a família. Distúrbios alimentares podem causar aversão a certos alimentos 
devido à textura, à cor ou ao odor, ou podem querer comer só um alimento, recusando-se a 
provar alimentos novos. 
Podem ocorrer também episódios de heteroagressividade, como também 
autoagressividade. Elas podem morder as mãos ou punhos, muitas vezes, levando a 
sangramento e a formação de calosidades. A dificuldade em comunicar e interagir pode também 
causar explosões de raiva e agressividade principalmente em crianças autistas com o 
funcionamento mais prejudicado. 
As alterações na prosódia afetiva têm sido muitas vezes identificadas como 
característica fundamental para o quadro autista. Essas alterações seriam estáveis ao longo do 
tempo e representam sua maior dificuldade na interação social. 
Os indivíduos com autismo apresentam um déficit no processamento das emoções 
faciais. Alguns estudos, segundo Fuentes (2008 apud ASHWIN et al., 2007), demonstram que 
eles têm prejuízo no reconhecimento de raiva e de nojo, outros no reconhecimento de surpresa, 
mas não da alegria e tristeza. Mas os achados mais precisos foram que adultos autistas têm 
dificuldade no reconhecimento de expressões faciais de medo. 
Estudos da movimentação ocular têm demonstrado dificuldades da fixação do olhar, 
quando, por exemplo, olham para uma face humana eles direcionam o olhar para a boca e não 
para os olhos, isso vai de encontro com a ideia de que sujeitos autistas têm dificuldades com o 
contato visual direto. 
 
Estudos com neuroimagem funcional em autistas durante o reconhecimento explícito 
de emoções faciais mostraram déficits na ativação dos corpos amigdaloides, do 
córtex pré-frontal orbital e do giro fusiforme, ausência da modulação de ativação 
diante de variações de intensidade emocional e aumento da ativação do giro 
temporal superior e do córtex anterior do giro do cíngulo (FUENTES, 2008 apud 
ASHWIN et al., 2007, p. 238). 
 
 
32 
Em autistas de alto funcionamento, a área fusiforme, o corpo amigdaloide esquerdo e 
o cerebelo não mostraram ativação durante o processamento implícito de faces 
como nos controles saudáveis; a ínsula teve uma ativação reduzida provocada por 
faces de nojo, e o giro frontal medial também em resposta a faces de medo. Além 
disso, autistas tem diminuição da ativação do córtex pré-frontal medial em tarefas 
que consistem em inferir pensamentos e emoções em outras pessoas (FUENTES, 
2008 apud SPEZIO et al., 2007, p. 238). 
 
Sendo assim, esses estudos inferem que cérebros de indivíduos autistas reconhecem 
emoções na face de maneira diferencial. 
O retardo mental é presente em 75% dos casos e está ligado a um pior prognóstico, 
mas o autismo clássico pode estar presente mesmo em sujeitos com inteligência normal ou 
superior. Sendo assim, o teste de QI não é critério determinante para o autismo. Mas mesmoindivíduos que tenham autismo com QI normal, apresentam dificuldades nos aspectos da 
linguagem oral e escrita. As dificuldades tendem a ser maiores na abstração e na sequência 
verbal, com alguma preservação de habilidades visuoespaciais e memória de hábito. 
Antes de uma avaliação mais rigorosa, é importante permitir que os pais expressem de 
maneira natural suas preocupações e apreensões, pois os pais são as pessoas que melhor 
conhecem a criança, e é de suma importância considerar como foco principal os aspectos do 
comportamento da criança que estão causando maiores problemas e preocupações para os 
pais. 
O objetivo é obter o maior número de informações para se ter conhecimento dos 
comportamentos, relacionamentos, sentimentos da criança, como a intensidade, quando ocorre, 
qual motivo pode ser agravante para os sintomas e como os pais lidam com os sintomas quando 
ocorrem. Mas é claro que se deve buscar analisar a relevância do comportamento em questão 
para se aprofundar na questão, essa relevância pode ser relacionada à avaliação e ao 
tratamento. 
Exige-se uma análise sistemática do comportamento da criança, ou seja, identificação 
do contexto familiar ou ambiental associado ou não com o comportamento, condições que 
ajudam a ocorrência do comportamento que preocupam os pais ou cuidadores, fatores 
precedentes, reações que causam o comportamento e situações que eliminem esse 
comportamento. 
 
 
33 
Após o relato das queixas, é importante buscar maiores informações do 
desenvolvimento da criança. Como o autismo é um doença do desenvolvimento, é importante 
saber desde quando os sintomas iniciaram, saber o que acontecia na época. Às vezes, pela 
inexperiência dos pais, às vezes, por ser o primeiro filho pode ocorrer dos pais só se 
preocuparem com alguns comportamentos após algum tempo do início de sua ocorrência, 
algumas vezes, a partir do momento que vão para a escola. É importante pesquisar medicações 
usadas durante a gravidez, as condições do parto, duração da gestação, peso ao nascer, 
problemas após o nascimento, problemas na alimentação, no sono, etc. 
Deve-se buscar colher informações como: quando começou a andar, sorrir, engatinhar, 
falar, etc. Muitas vezes, eles não lembram exatamente quando ocorreu, mas recordam que foi 
com atraso. É claro que para ajudar no diagnóstico é de fundamental relevância perguntar sobre 
o desenvolvimento da linguagem, da atividade lúdica e da interação social. 
Sobre a linguagem, é importante fazer perguntas específicas, como quando falou a 
primeira palavra simples com sentindo, não só quando falou balbuciando, assim como o uso das 
primeiras frases simples e uso dos gestos. Os pais não costumam achar importante o processo 
de socialização, por isso é necessário saber se era uma criança afetuosa nos primeiros anos de 
vida, como por exemplo, se respondia a outras pessoas, se era afetuoso com os outros quando 
começou a andar, é importante fazer perguntas bem específicas sobre os aspectos 
fundamentais do relacionamento social e da sua sociabilidade nas diferentes idades e com 
diferentes pessoas. Assim, por exemplo, nos primeiros meses até um ano de idade é relevante 
saber se a criança se virava para olhar as pessoas que se comunicavam com ela, ou se estendia 
os braços para ser pego, se gostava de ser pego no colo, se reclamava quando a colocavam de 
volta no berço, ou se ria ou demonstrava alguma alegria quando recebia atenção, etc. 
Já na fase que começa a andar é bom investigar se esboçava alguma reação para com 
os pais quando esses saiam e depois voltavam para casa, como eram recebidos pela criança. 
Buscar saber também se quando se machucava buscava consolo nos pais, e se diferenciava os 
pais de outras pessoas, enfim se demonstrava ansiedade de separação, se respondia 
positivamente a brincadeiras de faz de conta. Saber se a criança usa seus brinquedos com suas 
funções determinadas, como brincar de fazer comidinha no fogão, brincar de pegar o carro para 
ir passear; enfim, se usava os brinquedos com algum sentido lógico, ou somente com atitudes 
bizarras. 
 
 
34 
Após analisar todos esses aspectos, como interação social, linguagem, atividade lúdica 
nos primeiros anos de vida da criança, é importante buscar colher todas essas informações no 
comportamento atual dessa criança. Nota-se que além de avaliar a criança com outras técnicas 
como testes é importante colher o maior número de informações necessárias sobre o seu 
desenvolvimento. 
O questionário para investigar a linguagem e funções relacionadas à fala deve colher 
informações como imitações, a linguagem interior, compreensão da linguagem, balbucio, 
qualidade dos sons, ritmo da fala. Na fase em que a criança começa a andar é importante 
observar a imitação, se imita a mãe limpando a casa, se imita o pai andando de carro etc. Se 
responde a um contato social realizado por outra pessoa, como um aceno com as mãos. 
A linguagem interior diz respeito a como a criança usa seus brinquedos, como escuta e 
responde aos sons a sua volta, se olha para o céu quando ouve um barulho de pássaro, se corre 
para a porta quando toca a campainha. Já a linguagem verbal pode ser observada pela 
capacidade da criança de seguir instruções de adultos, sem a ajuda de gestos, por exemplo. Se 
a criança fala é interessante saber a complexidade dessa fala, a qualidade, a quantidade e o seu 
uso social. Na qualidade da fala, deve-se investigar se consegue “bater um papo”, se fala, 
escuta, se reage ao que lhe é dito ou se a comunicação é incoerente e sem sentindo. Se 
consegue relatar a uma terceira pessoa o que foi feito em outro momento ou local e se essa fala 
vem acompanhada de variações emocionais adequadas e se existe um contato olho a olho com 
a pessoa com a qual se mantém a conversa. 
Além de investigar a articulação da fala, a fonética, o ritmo, pois normalmente a criança 
autista não apresenta as variações adequadas ao contexto e ao que está sendo relatado, o que 
é de grande importância para se estabelecer um contato social. 
Com relação às interações sociais, os pais tendem a perceber algum tipo de 
afetividade mesmo nas crianças autistas, mas, às vezes, os pais descrevem-nas como 
insensíveis. Uma das características principais a ser investigada é se essas crianças conseguem 
diferenciar os seus pais de outras pessoas e como esta diferença se manifesta. A próxima 
questão a ser avaliada é se a criança apresenta seletividade em seus vínculos ou afetos, pois o 
apego, a ansiedade de separação e desconfiança em relação a outras pessoas dura 
normalmente até os seus três, quatro ou cinco anos. Já a vinculação social é uma característica 
que dura por toda vida. É necessário verificar se existem iniciativas de relacionamento social. 
 
 
35 
Na maioria das vezes, a criança normal busca aproximações sociais com expressões 
faciais (como sorrir após a aproximação de uma pessoa), sendo assim necessário fazer uma 
investigação detalhada de como a criança tenta atrair a atenção de outra pessoa. Investigar 
como a criança brinca com outras pessoas, se ela procura outras pessoas para brincar, observar 
se ela é capaz de cooperar, repartir, esperar sua vez. Observar ainda se ela é capaz de respeitar 
regras, demonstra prazer enquanto a outra pessoa brinca, etc. Enfim, se é capaz de participar de 
uma dinâmica de jogo com as emoções adequadas à interação social. 
Ainda na avaliação do brincar é necessário observar se a criança explora seu 
ambiente, se explora os brinquedos, se desenha. Como um dos aspectos prejudicados no 
autismo é a atividade lúdica imaginativa, é necessário fazer brincadeiras de faz de conta para 
verificar a criatividade e a espontaneidade. Além do mais, muitos autistas apresentam dificuldade 
em iniciar e organizar suas próprias brincadeiras. Obviamente é importante e necessário prestar 
atenção a características do autismo, como rotinas, rituais e se ela apresentaresistência a 
mudanças, como mudanças de um móvel de um lugar para outro. E se tem alguma atividade que 
lhe interessa mais que outras brincadeiras comuns, como obsessões por números, datas. Assim 
como se apresentam interesses que costumam ser incomuns, como cheirar os objetos por 
exemplo. 
Após a investigação sistemática da anamnese é importante corroborar esses dados 
com uma observação direta com a criança. Assim como observar essa criança em contextos 
diferentes, como na escola, buscando o máximo de informação possível com a professora para 
saber como é a atividade grupal da criança. Na clínica é importante observar a criança com sua 
família para ver sua interação com a mesma (pode-se observar na sala de espera). Parte da 
entrevista da anamnese deve ser feita com toda a família junta. E é essencial verificar se há 
discrepância nas reações da criança no ambiente estruturado do consultório, e os relatos 
descritos pelos pais ou cuidadores. 
É importante uma avaliação completa do desempenho cognitivo da criança. Essa 
avaliação é de suma importância, mas não deve ser considerada isoladamente como forma para 
ajudar no diagnóstico. Devem associar a essa avaliação todos os aspectos investigados com os 
pais, aspectos esses citados acima, os relatos dos professores e a observação dessa criança em 
diferentes ambientes. 
A maturidade social pode ser avaliada por meio da capacidade que a criança tem de se 
vestir sozinha, abotoar as roupas, amarar os sapatos, assim como capacidades de ajudar nas 
 
 
36 
atividades domésticas, sua capacidade de usar objetos, como tesouras, ligar o rádio, etc. É 
necessária para esta avaliação cognitiva a utilização de testes padronizados. Para criança com 
idade escolar sem retardo mental grave, é possível utilizar escala Wechsler de inteligência, pois 
ela permite a avaliação de escores tanto para desempenhos de QI de execução, quanto QI 
verbal. Em casos de crianças com retardo mental grave associado é necessário utilizar outros 
testes adicionais. 
Às vezes, acredita-se que não se pode aplicar testes em uma criança autista, mas esta 
avaliação é possível quando realizada por um psicólogo com experiência em avaliações de 
crianças autistas. Muitas crianças autistas são difíceis de serem testadas exigindo do profissional 
paciência e persistência. Portanto, se o teste estiver no nível adequado para a criança e o 
profissional estimular o interesse da mesma para o teste, esta testagem se torna possível. 
Segundo Gauderer (1997), a base mais sólida para um critério diagnóstico é o 
conhecimento das causas da doença e os seus efeitos, mas para a maioria das condições 
psiquiátricas, incluindo o autismo, os detalhes etiológicos e patológicos ainda são 
desconhecidos. Portanto, a investigação do quadro autismo quer uma combinação de 
conhecimento das disfunções psicológicas e suas manifestações no comportamento. As 
pesquisas demonstram que o desenvolvimento das capacidades de interagir com os outros é 
uma das principais deficiências das pessoas autistas. A forma mais grave dessa deficiência é o 
isolamento e a indiferença em relação às outras pessoas. As crianças e/ou os adultos ignoram e 
evitam o contato físico ou social. Alguns se aproximam de outras pessoas quando querem 
alguma coisa, mas quando estão satisfeitos voltam a isolar-se; outros gostam apenas de 
carícias, mas não se interessam por uma interação social maior. 
Uma característica menos grave pode ser observada quando a criança não procura 
espontaneamente a outra pessoa, mas quando é solicitada pelo outro para participar de alguma 
atividade aceitam de bom gosto, sem oferecer resistência. Entretanto, normalmente fazem 
papéis de coadjuvante em brincadeiras. Outra forma de contato é quando a criança procura a 
outra pessoa para uma brincadeira, mas isso é feito de forma irregular, e sempre para satisfazer 
seus interesses, não se preocupando com as necessidades do outro e sempre querendo fazer 
brincadeiras repetitivas, ficando muitas vezes cansativos e inconvenientes. Muitas crianças 
autistas não usam gestos para obter uma interação social, são na maioria das vezes incapazes 
de tocar em alguém quando a necessidade de consolar ou encorajar outra pessoa, ou criança, 
se faz necessária. 
 
 
37 
O problema do transtorno da imaginação e compreensão sociais afeta a habilidade de 
imitar o comportamento da outra pessoa com real compreensão do seu significado, de seu 
objetivo. As crianças ditas normais adquirem essa habilidade por volta dos dois ou três anos de 
idade. O autista, quando imita o gesto de outra pessoa, o faz de maneira mecânica, sem 
compreender o sentido real da brincadeira de faz de conta. Mas o comportamento repetitivo por 
si só não pode ser utilizado como diagnóstico, pois também podemos encontrar essa 
característica em crianças pequenas. 
Como o brincar nessas crianças está prejudicado, a linguagem sofre muitos problemas, 
pois, por exemplo, as brincadeiras de faz de conta ajudam e muito na aquisição da fala e na 
compreensão da mesma. Assim como também ocorre uma perda nas respostas a estímulos 
sensoriais, prejudicando dessa forma todo o contexto cognitivo da criança. Por exemplo, muitas 
crianças não conseguem contar o que comeram na hora do almoço, mas essa incapacidade de 
responder pode estar ligada a uma dificuldade de compreender a pergunta e não a uma falha da 
memória em si. 
Algumas crianças podem apresentar discrepância de atitudes em determinadas tarefas 
diferentes. Por exemplo, uma criança totalmente isolada em termos de interação social e com 
grave retardo mental pode desenhar ou tocar um instrumento fantasticamente bem, o que se 
pode verificar é que a relativa independência entre os níveis de deterioração das várias funções 
psicológicas pode ter como resultado uma variação de perfis possíveis. 
Até agora falamos dos problemas na interação social como um dos aspectos principais 
do transtorno autista, mas todos os aspectos são de grande importância na hora da investigação 
do problema, pois tanto os problemas na interação social, como os distúrbios da fala, tanto na 
compreensão como na recepção dessa linguagem, como também problemas na leitura e na 
coordenação motora são de relevância significativa para serem examinados nesse quadro. Mas 
a questão social é uma função central para o ser humano, por isso é enfatizada. 
Áreas do cérebro que organizam o aprendizado da linguagem, da comunicação não 
verbal e de certas áreas da coordenação motora são mais suscetíveis de serem afetadas 
quando a área responsável pela interação social está afetada. 
É importante descrever a diferença entre crianças que sofreram privações ambientais e 
as crianças autistas. Muitas sequelas podem ser encontradas em crianças que sofreram 
privações, como em crianças criadas em instituições ou em famílias onde vivem desprovidas de 
 
 
38 
contato físico, afeto, estimulações. Os bebês assim carentes demonstram atraso no 
desenvolvimento e perturbações da motilidade, no relacionamento, na linguagem e na 
percepção. São exatamente as mesmas funções que estão com déficits no autismo, mas a 
natureza dos sintomas é diferente. 
Por exemplo, as crianças que sofrem privações apresentam uma dificuldade no uso 
dos brinquedos. Já as crianças autistas não usam os brinquedos para brincar, e sim para ficar 
olhando, girando. As crianças que são carentes de estimulação podem apresentar até os 
mesmos balanceios no corpo, e alguns movimentos rígidos das mãos, mas não apresentam os 
movimentos estereotipados e rígidos das crianças autistas. 
As crianças carentes podem até reagir de forma inadequada quando recebem alguma 
forma de carinho, mas não ficam com comportamentos como a rigidez. E as crianças carentes 
podem não buscar um carinho dos adultos, mas também não costumam negá-lo e fixam o olhar 
no adulto. As crianças carentes brincam com as outras crianças, e quando são retiradasda 
privação se desenvolvem de forma adequada, e adquirem a linguagem quando estimuladas e 
não apresentam nenhum problema nessa fala. 
Já na depressão anaclítica a criança pode ter um retardo mental e graves distúrbios 
dos relacionamentos associados. Essa depressão anaclítica está associada a uma relação 
insatisfatória entre a mãe e o bebê, assim sendo o bebê reage sendo chorão, birrento, manhoso, 
que pode seguir a uma fase de retardo psicomotor e de linguagem, perda de peso e choro 
intenso, e depois de algum tempo a criança se torna apática. Mas não ocorrem problemas na 
motilidade e na modulação sensorial, como ocorre no autismo e os problemas nos 
relacionamentos se caracterizam por apatia e retraimento e não pelo distanciamento encontrado 
no transtorno autístico. Além disso, o retardo mental citado é transitório e não orgânico como no 
autismo. 
 
 
 
39 
 
2.5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
 
 
Segundo Kaplan (1997), devemos ficar atentos aos principais diagnósticos diferenciais 
como a esquizofrenia de aparecimento na infância, transtornos mistos da linguagem 
receptivo/expressiva, surdez congênita, privação psicossocial, retardo mental com sintomas 
comportamentais, além de psicoses desintegrativas. 
A esquizofrenia é rara em crianças com menos de cinco anos, apesar de que na 
literatura sobre o transtorno autista seja maior, existe pouquíssima literatura ou dados sobre 
crianças com esquizofrenia com menos de doze anos de idade. E, quando existe algum quadro 
de esquizofrenia infantil, ela vai ser acompanhada de alucinações, delírios, com uma incidência 
mais baixa de convulsões e retardo mental e apresentam um QI mais homogêneo que os 
indivíduos com autismo. 
Existem outras diferenças como o fato do autismo iniciar antes dos trinta e seis meses, 
e a esquizofrenia ser mais rara antes do cinco anos. As complicações pré e perinatais e 
disfunção cerebral são mais comuns no transtorno autista e menos na esquizofrenia. No 
autismo, pode-se observar fracasso para desenvolver conexões sociais, ausência de fala ou 
ecolalia, a compreensão da linguagem é falha ou ausente, comportamentos estereotipados, 
insistência na mesmice e frases repetitivas. Já na esquizofrenia podem aparecer alucinações, 
delírios e transtornos do pensamento. O funcionamento adaptativo no autismo é sempre 
prejudicado, na esquizofrenia percebe-se uma deterioração no funcionamento. 
O nível de inteligência no quadro autista é na maioria dos casos subnormal, 
frequentemente prejudicado. Na esquizofrenia é geralmente dentro da faixa normal (dentre mais 
ou menos 70). O padrão de QI no autismo é a acentuada falta de uniformidade, já na 
esquizofrenia observa-se uma maior uniformidade. 
Em relação ao retardo mental e o autismo, pode-se ver que cerca de 40% das crianças 
com transtorno autista têm retardo moderado, severo ou profundo, e as crianças com retardo 
mental podem apresentar alterações com aspectos autistas. Quando ambos os transtornos estão 
presentes, ambos devem ser diagnosticados. As principais diferenças são que as crianças 
 
 
40 
retardadas geralmente se relacionam com adultos e com crianças de acordo com sua idade 
mental; usam alguma linguagem que possuem para se comunicar com os outros e apresentam 
um retardo homogêneo e não apresentam ilha de precocidade. 
Já no quadro autista e no transtorno misto da linguagem receptivo-expressiva pode-se 
observar diferenças como: no quadro autista, a surdez associada é muito infrequente, já no 
transtorno misto da linguagem não é infrequente. A comunicação não verbal como gestos é 
ausente ou rudimentar no autismo, no transtorno misto da linguagem ele é presente. É mais 
comum no autismo encontrar anormalidades na comunicação, como ecolalia, frases 
estereotipadas, e não são comuns no transtorno misto da linguagem. Também são mais 
frequentes no transtorno misto da linguagem problemas na articulação. Já em relação ao nível 
de inteligência e padrões de testes de QI, no autismo o nível de inteligência é frequentemente 
um grave prejuízo, e no padrão de QI são desiguais, mais baixos em escores verbais e mais 
baixos em subteste de compreensão. Já o transtorno misto da linguagem o nível de inteligência 
pode apresentar prejuízo no pensamento, menos severos, e nos padrões de QI eles apresentam 
maior regularidade, embora o QI verbal seja mais baixo do que o QI de execução. 
Comportamentos autistas, vida social prejudicada, assim como estereotipias, 
atividades ritualísticas no autismo é mais comum e mais severo, já no transtorno misto da 
linguagem é ausente ou, se presente, menos severo. Os jogos imaginativos são presentes no 
transtorno misto da linguagem e no autismo são ausentes ou rudimentares. 
Como as crianças autistas normalmente são mudas ou apresentam um desinteresse 
na linguagem, podem ser confundidas com crianças surdas. Algumas características podem 
diferenciar os dois quadros, como: as crianças autistas balbuciam muito pouco, enquanto os 
bebês surdos têm uma história de balbucio normal ou relativamente normal, que vão diminuindo 
ou cessam por volta dos seis meses a um ano de idade. As crianças surdas respondem a sons 
altos, enquanto as autistas podem ignorar sons altos e normais e respondem a sons baixos ou 
fracos. O mais importante é que o audiograma indica perda em crianças surdas e as crianças 
surdas normalmente se relacionam com seus pais, buscam um afeto e, quando bebês, gostam 
de um contato mais direto, como serem seguradas no colo, diferente das crianças autistas. 
Já em relação à privação social, em algumas crianças que sofreram alterações severas 
no ambiente físico e emocional (como hospitalizações, privação materna, ou um fracasso não 
orgânico do desenvolvimento), pode parecer que apresentam uma apatia, que são retraídas e 
distantes, assim como a linguagem e o contato social e motor pode ficar prejudicado, assim 
 
 
41 
como podem sofrer atraso no seu desenvolvimento. Entretanto, quando essas crianças são 
colocadas em um ambiente favorável, onde elas possam ter estimulação, melhoram 
rapidamente, o que não acontece com as crianças autistas. 
 
 
2.6 CURSO E PROGNÓSTICO 
 
 
O transtorno autista tem um curso crônico e um prognóstico reservado. Mais 
comumente pode-se observar que crianças autistas com altos QIs. (acima de 70) e aquelas que 
usam a linguagem comunicativa por volta dos cinco aos sete anos, apresentam o melhor 
prognóstico. Os estudos demonstram que os adultos autistas continuam vivendo com sérias 
dificuldades e vivem com completa dependência ou semidependência. Vivendo com seus 
parentes ou em instituições. Somente um ou dois por cento adquirem uma situação normal ou 
independente com empregos remunerados e de cinco a vinte por cento conseguem chegar a um 
estado boderline. Claro que o prognóstico será melhor se o ambiente ou o lar fornecer um apoio, 
com estimulação necessária a essas crianças. 
De acordo com Fuentes (2008), algumas características do transtorno autista podem 
ser observadas precocemente, como perda do sorriso social, perda da expressão facial, perda 
do controle e contato visual e gestual, baixa atenção, e falta de respostas a sons. Alguns fatores 
vão ajudar nesse curso e prognóstico como a presença da linguagem antes dos cinco ou sete 
anos, a gravidade da condição e as respostas à estimulação. Uma minoria pode ter capacidade 
de desenvolver alguma atividade profissional com eficiência e ter uma vida independente. 
Embora possamos ver um atenuamento dos sintomas, em muitos casos a 
automutilação severa ou a agressividade e regressão podem estar presentes e prejudicar 
bastante o prognóstico. 
O comportamento autista aparece desde muito cedo, começa mais ou menos em torno 
da idade de dezoito ou vinte e quatro meses. Independente da idade de início do quadro 
autístico o quadro clínico subsequente é o mesmo. 
 
 
42 
O recém-nascido pode apresentar-se como uma criançadiferente dos outros bebês, 
pode chorar pouco e não apresentar necessidade de companhia ou estimulação. Normalmente é 
descrito como um bebê muito fácil, que nunca reclama ou às vezes se mostra muito irritado 
respondendo de forma intensa a qualquer estímulo. Nos primeiros seis meses, o bebê não nota 
as idas e vindas da mãe, não sorri para as outras pessoas, e não costuma esticar os braços para 
ser pego no colo. As primeiras vocalizações estão nitidamente atrasadas. No período de seis a 
doze meses, encontramos problemas com a alimentação, não querem comer alimentos sólidos, 
apresentam indiferença aos brinquedos. O sentar, o andar encontram-se atrasados, não 
estranham outras pessoas, e são indiferentes. 
No segundo e terceiro anos, a criança busca se estimular por meio de atividades 
repetitivas e estereotipadas, e as brincadeiras são sem criatividade, sem fantasia. No quarto e 
quinto anos, a fala está muito comprometida, as crianças não falam ou falam muito pouco, há 
presença de ecolalia, e uso incorreto de pronomes pessoais. Do sexto ano até a puberdade, os 
sintomas de autismo podem se tornar menos evidentes. Se até essa idade a criança não 
desenvolveu o uso da fala é provável que não se desenvolva mais. Continuam os problemas de 
socialização, assim como emocionalmente distantes. Quadro de irritabilidade, agitação, falta de 
controle emocional podem ocorrer. 
A puberdade pode vir acompanhada de comportamentos perturbadores, grande 
distanciamento social e resistência a mudanças. A depressão pode ocorrer também. Já na fase 
adulta, a maioria dos autistas com retardo mental acaba vivendo em instituições, e a minoria, 
sem o retardo mental, leva uma vida cheia de rotinas e rituais. Têm muitos problemas sociais, 
são incapazes de apresentar uma boa reciprocidade social. Às vezes, eles conseguem ter uma 
vida mais independente, inclusive com algum tipo de emprego, mas isso acontece muito 
raramente. 
Segundo Gauderer (1997), algumas crianças autistas são epilépticas na infância. E 
aproximadamente 7% a 28% dos casos desenvolvem quadros epilépticos depois em outras 
fases. Cerca de 75% dessas crianças permanecem mentalmente retardadas. As crianças que 
têm crises epilépticas associadas, ou outras lesões cerebrais, possuem uma tendência maior a 
serem retardadas e também apresentam uma dificuldade maior na linguagem. 
A incapacidade de usar a linguagem até os cinco anos de idade, e a dificuldade em 
usar os jogos simbólicos para a comunicação, levam a um prognóstico pobre em termos de 
 
 
43 
desenvolvimento intelectual e de personalidade e provavelmente essa criança vai necessitar de 
cuidados institucionais por toda a vida. 
Mas, em contraste a essa realidade, nas crianças que conseguem desenvolver a 
linguagem antes dos cinco anos de idade e que apresentem algum tipo de interação social o 
prognóstico é melhor, mas mesmo assim terão muitas dificuldades. 
 
 
2.7 TRATAMENTO 
 
 
Os principais objetivos do tratamento consistem em diminuir os sintomas 
comportamentais, poder ajudar no desenvolvimento de funções atrasadas, ou que sejam 
rudimentares ou ausentes, como a linguagem, e tentar desenvolver o máximo de independência 
possível. Assim como é muito importante para os pais e familiares o acompanhamento, para 
terem um apoio e um aconselhamento. 
Métodos educativos e comportamentais, além de melhor escolha, são mais eficientes 
nas ajudas necessárias. A psicoterapia individual orientada para o insight não é a melhor 
escolha, pois tem se mostrado ineficaz, devido a todas as dificuldades cognitivas existentes no 
quadro do transtorno autista. 
O treinamento estruturado em sala de aula, assim como um acompanhamento mais de 
perto com métodos comportamentais tem se mostrado mais eficaz para muitas crianças autistas. 
Estudos mostram melhoras nos aspectos da linguagem e cognição, além de uma melhora no 
comportamento mal adaptativo. 
Nenhum medicamento tem se mostrado especificamente adequado para o transtorno 
autista, mas mesmo assim a psicofarmacologia é um coadjuvante valioso para o tratamento. 
A administração de haloperidol diminui os sintomas comportamentais e melhora o 
aprendizado, acelerando-o. A droga diminui a hiperatividade, estereotipias, retraimento, 
inquietação, irritabilidades e afeto instável. Quando essa medicação é utilizada de maneira 
 
 
44 
criteriosa, continua fazendo efeitos em longo prazo. A fenfluramina, que reduz níveis sanguíneos 
de seretonina, pode ser eficaz em algumas crianças autistas. O lítio pode ser utilizado para os 
sintomas de agressividade quando outras medicações não são eficazes. 
Segundo Mercadante (2005), existem diversas drogas antipsicóticas (lembrando que 
esse nome foi dado a um grupo de drogas pela sua função, o que não quer dizer que essas 
drogas sejam usadas apenas para “combater a psicose”), que podem ser usadas também, por 
exemplo, para tratar tiques. 
Os agentes antipsicóticos são utilizados para o tratamento de quadros psicóticos, 
comportamentos agressivos graves e determinadas alterações comportamentais observadas em 
indivíduos com autismo ou com transtornos invasivos do desenvolvimento. O Haloperidol, o 
pimozida e a flufenazina estão indicados para o tratamento de tiques também. O haloperidol é 
uma das drogas mais estudadas no caso de autismo, esquizofrenia, comportamentos agressivos 
graves e tiques. Esses estudos mostram que embora o haloperidol tenha efeitos colaterais 
importantes, é menos sedativo do que outras drogas o que interferirá menos no aprendizado das 
crianças. 
A flufenazina, uma piperazina, não tem seu uso liberado para crianças menores de 
doze anos, mas é muito utilizada em adultos. Em poucos estudos realizados com crianças foi 
possível observar a eficácia no controle de sintomas de hiperatividade, agressividade e 
estereotipias em indivíduos com transtornos invasivos do desenvolvimento. A dose utilizada 
nesse estudo foi de 0,04mg/kg/dia (MERCADANTE 2005 apud JOSHI et al., 1998). Uma dose de 
início de 0,5mg, com aumento gradual a cada três a cinco dias até a dose chegar de 1 a 
2,5mg/dia, sendo tomados duas vezes ao dia para dividir. 
O lítio também tem sido estudado como uma droga eficaz para transtornos bipolares e 
em transtornos que apresentam problemas graves de comportamento agressivo. Mas o seu uso 
também não foi aprovado para crianças menores de doze anos. 
A melhor estratégia de tratamento é uma abordagem flexível, na qual o tratamento 
pode ser adaptado às mudanças que ocorrem ao longo do tempo, pois ocorreram mudanças nos 
sintomas, na capacidade de comunicação e de aprendizagem. 
A psicoterapia para os pais é de grande importância é deve ser dirigida a ajudar no 
manejo dos comportamentos difíceis da criança, assim como a diminuir a enorme culpa e perda 
 
 
45 
da autoestima vivida por esses pais, pois se sentem incapazes de manter com seus filhos um 
relacionamento normal. 
Já a psicoterapia só é recomendável para a criança autista em alguns casos em que a 
criança possa ter atingido um bom nível de desenvolvimento da fala relativamente cedo. O nível 
de eficácia das técnicas de modificação de comportamento é bastante variável. Pode haver 
alguma melhora nas verbalizações, no comportamento social e na atividade lúdica, melhorando 
de alguma maneira também os comportamentos autodestrutivos. A modificação de 
comportamento é um dos meios de tratamentos mais central para a criança autista. 
A educação especializada é provavelmente a intervenção mais utilizada para as 
crianças autistas, em instituições especializadas em educação especial. Algumas instituições 
incluem aconselhamento aos pais e o envolvimento destes com terapeutas. A educação especial 
tende a ser eclética e quando usada de maneira adequada com programas comportamentais 
bem estruturados pode ser um dos melhores tratamentos para as crianças autistas. 
Gauderer (1997 apud BARON-COHEN, 1991; FRITH

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