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TIPOS SANGUÍNEOS; TRANSFUSÃO; TRANSPLANTE DE TECIDOS E DE ÓRGÃOS - capítulo 36 A ANTIGENICIDADE CAUSA REAÇÕES IMUNES DO SANGUE Quando foram tentadas transfusões sanguíneas entre as pessoas, ocorreu, em geral, aglutinação imediata ou retardada com hemólise das hemácias, resultando em reação típica de transfusão que, com frequência, levava à morte. Após pouco tempo, descobriu-se que o sangue de pessoas distintas tinha propriedades antigênicas e imunes distintas, de modo que os anticorpos no plasma de um tipo sanguíneo reagem com os antígenos nas superfícies das hemácias de outro tipo sanguíneo. Se forem tomadas precauções adequadas, pode ser determinado se os anticorpos e antígenos presentes nos sangues do doador e do receptor causarão reação de transfusão. Multiplicidade dos antígenos nas células sanguíneas: Pelo menos 30 antígenos de ocorrências comuns e centenas de outros antígenos raros, cada um deles podendo acarretar reações antígeno-anticorpo, foram encontrados nas células do sangue humano, em especial nas superfícies das membranas celulares. A maioria dos antígenos é fraca, tendo, assim, importância principalmente para a herança dos genes e para o estabelecimento da paternidade. Dois tipos particulares de antígenos têm probabilidade muito maior de causar reações nas transfusões sanguíneas. Eles são o sistema de antígenos ABO e o sistema Rh. TIPOS SANGUÍNEOS ABO Antígenos A e B – aglutigênios Dois antígenos — tipo A e tipo B — ocorrem nas superfícies das hemácias em grande proporção dos seres humanos. São esses antígenos (também chamados aglutinogênios por causarem, com frequência, aglutinação das células sanguíneas) que provocam a maioria das reações de transfusão. Devido ao modo de herança desses aglutinogênios, as pessoas podem não ter qualquer um desses antígenos em suas células, podem ter apenas um ou podem ter ambos os antígenos simultaneamente. Os Tipos Sanguíneos ABO: Ao transfundir sangue de pessoa para outra, o sangue do doador e do receptor é normalmente classificado em quatro principais tipos ABO, dependendo da presença ou da ausência dos dois aglutinogênios, os aglutinogênios A e B. Na ausência dos aglutinogênios A e B, o sangue é do tipo O. Quando somente o aglutinogênio do tipo A está presente, o sangue é do tipo A. Quando somente o aglutinogênio do tipo B está presente, o sangue é do tipo B. Na presença dos aglutinogênios A e B, o sangue é do tipo AB. Determinação Genética dos Aglutinogênios: O locus genético do grupo sanguíneo ABO tem três alelos, o que significa três formas diferentes do mesmo gene. Esses três alelos, IA, IB e IO, determinam os três tipos sanguíneos. Geralmente, chamamos a esses alelos “A”, “B” e “O”, mas os geneticistas representam, com frequência, os alelos de um gene mediante variantes do mesmo símbolo. Nesse caso, o símbolo comum é a letra “I”, que significa “imunoglobulina”. O alelo do tipo O pode ser sem função ou quase sem função, de modo que não determina qualquer aglutinogênio do tipo O nas células. Inversamente, os genes dos tipos A e B determinam fortes aglutinogênios nas células. Assim, o alelo O é recessivo para os alelos A e B, que demonstram codominância. Dado que cada pessoa apresenta unicamente dois conjuntos de cromossomos, apenas um desses alelos está presente em cada um dos cromossomos de um indivíduo. Entretanto, a presença de três alelos diferentes significa que existem seis possíveis combinações dos genes são OO, OA, OB, AA, BB e AB. Essas combinações de alelos são referidas como genótipos, e cada pessoa tem um dos seis genótipos. A pessoa com genótipo OO não produz aglutinogênios e, portanto, seu tipo sanguíneo é O. A pessoa com genótipo OA ou AA produz aglutinogênios do tipo A e, portanto, tem sangue do tipo A. Os genótipos OB e BB produzem sangue do tipo B, e o genótipo AB produz sangue do tipo AB. Aglutininas: Quando o aglutinogênio do tipo A não está presente nas hemácias da pessoa, anticorpos designados como aglutininas anti-A se desenvolvem no plasma. Da mesma forma, quando o aglutinogênio do tipo B não está nas hemácias, anticorpos designados como aglutininas anti-B se desenvolvem no plasma. Assim o sangue do tipo O apesar de não conter aglutinogênios contém aglutininas anti-A e anti-B; o tipo A contém aglutinogênios do tipo A e aglutininas anti-B; o sangue do tipo B contém aglutinogênio do tipo B e aglutininas anti-A. Por fim, o sangue AB contém aglutinogênios A e B, mas não contém aglutininas. Concentração Titulométrica das Aglutininas em Diferentes Idades: Logo após o nascimento, a quantidade de aglutininas no plasma é quase zero. Após 2 a 8 meses de vida pós-natal, o lactente começa a produzir aglutininas — aglutininas anti-A, quando os aglutinogênios do tipo A não estão presentes nas suas células, e aglutininas anti- B, quando os aglutinogênios do tipo B não estão nas suas células. Origem das Aglutininas no Plasma: As aglutininas são gamaglobulinas, assim como quase todos os anticorpos, sendo produzidas pelas mesmas células da medula óssea e dos órgãos linfáticos que produzem anticorpos para qualquer outro antígeno. Em sua maior parte são moléculas das imunoglobulinas IgM e IgG. Contudo, por que essas aglutininas são produzidas em pessoas que não expressam os respectivos aglutinogênios em suas hemácias? A resposta a essa pergunta é que pequenas quantidades de antígenos anti-A e anti-B entram no corpo por meio dos alimentos, das bactérias e de outras formas, e essas substâncias desencadeiam o desenvolvimento das aglutininas anti-A e anti B. Por exemplo, a infusão do antígeno do grupo A em pessoa receptora que tenha tipo sanguíneo não A causa resposta imune típica, com formação de maiores quantidades de aglutininas anti-A. Além disso, o neonato tem pouca ou nenhuma aglutinina, demonstrando que a formação das aglutininas ocorre quase inteiramente após o nascimento. Processo da aglutinação nas reações de transfusão: Quando sangues não compatíveis são misturados de modo que aglutininas anti-A ou anti-B são misturadas com hemácias com aglutinogênios A ou B, respectivamente, as hemácias se aglutinam como resultado da fixação das próprias aglutininas às hemácias. Como as aglutininas têm dois locais de ligação (tipo IgG) ou 10 locais de ligação (tipo IgM), a mesma aglutinina pode se fixar a duas ou mais hemácias ao mesmo tempo, fazendo com que as hemácias se prendam umas às outras por meio das aglutininas. Esse processo forma grumos celulares que constituem o processo de “aglutinação”. Esses grumos ocluem os vasos mais delgados em todo o sistema circulatório. Durante período de horas ou dias, a distorção física das células e/ou o ataque pelos leucócitos fagocíticos destroem as membranas das células aglutinadas, liberando hemoglobina no plasma, processo referido como “hemólise” das hemácias. Hemólise Aguda Ocorre em Algumas Reações de Transfusão: Algumas vezes, quando osangue do receptor e do doador não é compatível ocorre hemólise imediata das hemácias do sangue circulante. Nesse caso, os anticorpos causam a lise das hemácias pela ativação do sistema do complemento, que libera enzimas proteolíticas (o complexo lítico) e rompe as membranas celulares. A hemólise intravascular imediata é muito menos comum que a aglutinação seguida por hemólise tardia, pois tem de haver não somente alto título de anticorpos para que a lise ocorra, mas também parece ser requerido tipo diferente de anticorpo, principalmente os anticorpos IgM; esses anticorpos são chamados hemolisinas. Tipagem sanguínea: Antes de se fazer uma transfusão, é necessário determinar os tipos sanguíneos do receptor e do doador, para que o sangue possa ser apropriadamente compatível. Esse processo é chamado tipagem sanguínea ou compatibilidade sanguínea, e esses procedimentos podem ser realizados da seguinte maneira: as hemácias são separadas do plasma e diluídas com solução salina. Parte dessa solução é então misturada com aglutinina anti-Ae outra parte com aglutinina anti-B. Após alguns minutos, as misturas são observadas ao microscópio. Se as hemácias formaram grumos — ou seja, “aglutinaram”— sabe-se que ocorreu reação antígeno-anticorpo. As hemácias do tipo O não têm aglutinogênios e, portanto, não reagem com as aglutininas anti-A ou anti-B. O sangue do tipo A tem aglutinogênios A e, portanto, aglutina com as aglutininas anti-A. O sangue do tipo B tem aglutinogênios B e aglutina com as aglutininas anti-B. O tipo sanguíneo AB tem aglutinogênios A e B e aglutina com ambos os tipos de aglutininas. TIPOS SANGUÍNEOS Rh Juntamente com o sistema sanguíneo ABO, o sistema Rh também é importante para as transfusões sanguíneas. A principal diferença entre o sistema ABO e o sistema Rh é a seguinte: no sistema ABO, as aglutininas plasmáticas responsáveis pelas reações de transfusão se desenvolvem espontaneamente, enquanto no sistema Rh quase nunca ocorrem aglutininas espontâneas. Em vez disso, primeiramente a pessoa precisa ser maciçamente exposta a antígeno Rh, tal como por transfusão de sangue contendo o antígeno Rh antes que o desenvolvimento suficiente de aglutininas cause reação de transfusão significativa. Antígenos Rh — Pessoas “Rh positivas” e “Rh negativas”: Existem seis tipos comuns de antígenos Rh, cada um deles sendo chamado fator Rh. Esses tipos são designados C, D, E, c, d e e. A pessoa que tem o antígeno C não tem o antígeno c, mas a pessoa que não tem o antígeno C sempre tem o antígeno c. O mesmo é verdadeiro para os antígenos D-d e E-e. Além disso, devido ao modo de herança desses fatores cada pessoa tem três pares de antígenos. O antígeno do tipo D é muito prevalente na população, sendo, consideravelmente, mais antigênico do que os outros antígenos Rh. Qualquer pessoa com esse tipo de antígeno é considerada Rh positiva, enquanto a pessoa que não tenha o antígeno D é considerada Rh negativa. Entretanto, deve ser observado que, mesmo em pessoas Rh negativas, outros antígenos Rh ainda podem causar reações de transfusão, apesar de essas reações, em geral, serem mais brandas. Aproximadamente 85% da população branca é Rh positiva e 15%, Rh negativa. Resposta imune Rh: Formação das Aglutininas Anti-Rh: Quando hemácias contendo fator Rh são injetadas em uma pessoa, cujo sangue não contém o fator Rh — ou seja, em pessoa Rh negativa — aglutininas anti-Rh se desenvolvem lentamente, atingindo sua concentração máxima após período de 2 a 4 meses. Essa resposta imune ocorre, em maior grau, em algumas pessoas do que em outras. Com exposições múltiplas ao fator Rh, a pessoa Rh negativa, finalmente, pode ficar muito “sensibilizada” contra o fator Rh. Características das Reações de Transfusão Rh: Se a pessoa Rh negativa nunca foi exposta ao sangue Rh positivo, a transfusão de sangue Rh positivo nessa pessoa, provavelmente, não causará reação imediata. Entretanto, anticorpos anti-Rh podem se desenvolver em quantidade suficiente, durante as próximas 2 a 4 semanas, para ocasionar a aglutinação das células transfundidas que ainda estão circulando no sangue. Essas células são hemolisadas pelo sistema de macrófagos dos tecidos. Assim, há reação de transfusão retardada, apesar de ser, em geral, leve. Em transfusão subsequente de sangue Rh positivo na mesma pessoa que agora está imunizada contra o fator Rh, a reação de transfusão se dá de forma amplificada e pode ser imediata e tão grave quanto a reação de transfusão provocada por incompatibilidade entre tipos sanguíneos A e B. Eritroblastose Fetal (“Doença Hemolítica do Recém-nascido”): A eritroblastose fetal é doença do feto e do recém-nascido, caracterizada pela aglutinação e fagocitose das hemácias do feto. Na maioria dos casos de eritroblastose fetal, a mãe é Rh negativa e o pai, Rh positivo. O recém-nascido herda o antígeno Rh positivo do pai e a mãe desenvolve aglutininas anti-Rh pela exposição ao antígeno Rh do feto. Por sua vez, as aglutininas da mãe se difundem através da placenta para o feto, causando a aglutinação das hemácias. Incidência da Doença: Mãe Rh negativa, gestante do primeiro filho Rh positivo, geralmente não desenvolve aglutininas anti-Rh suficientes para causar dano. Entretanto, cerca de 3% dos segundos filhos Rh positivos exibem sinais de eritroblastose fetal; cerca de 10% dos terceiros filhos exibem a doença; e a incidência aumenta, progressivamente, com as gestações subsequentes. Efeito dos Anticorpos da Mãe sobre o Feto: Depois que anticorpos anti-Rh se formam na mãe, eles se difundem lentamente através da membrana placentária para o sangue do feto. No feto, causam aglutinação do sangue fetal. As hemácias aglutinadas, em seguida, se hemolisam, liberando hemoglobina no sangue. Os macrófagos do feto convertem essa hemoglobina em bilirrubina, fazendo com que a pele do neonato fique amarela (ictérica). Os anticorpos podem também atacar e destruir outras células do corpo. Quadro Clínico da Eritroblastose: O recém-nascido ictérico e eritroblastótico, em geral, é anêmico ao nascer, e as aglutininas anti-Rh da mãe usualmente circulam pelo sangue do neonato durante 1 a 2 meses após o nascimento, destruindo cada vez mais hemácias. Os tecidos hematopoéticos do recém-nascido tentam repor as hemácias hemolisadas. O fígado e o baço se dilatam e produzem hemácias do mesmo modo como faziam durante o meio da gestação. Devido à produção muito acelerada de hemácias, muitas formas precoces de hemácias, incluindo diversas formas blásticas nucleadas, passam da medula óssea para o sistema circulatório do neonato, e devido à presença dessas hemácias blásticas nucleadas, a doença é chamada eritroblastose fetal. Apesar de a grave anemia da eritroblastose fetal, muitas vezes, levar à morte, muitas crianças que sobrevivem a essa anemia apresentam retardo mental permanente ou lesões das áreas motoras do cérebro devido à precipitação da bilirrubina nas células neuronais, causando a destruição de muitas delas, a condição chamada kernicterus. Tratamento do Neonato com Eritroblastose Fetal: O tratamento da eritroblastose fetal é a substituição do sangue do neonato por sangue Rh negativo. Cerca de 400 mililitros de sangue Rh negativo são transfundidos durante período de 1,5 hora ou mais, enquanto o próprio sangue Rh positivo do neonato é removido. Esse procedimento pode ser repetido várias vezes durante as primeiras semanas de vida, principalmente para manter baixos níveis de bilirrubina prevenindo contra o kernicterus. Com o passar do tempo, as células Rh negativas transfundidas são substituídas pelas células Rh positivas próprias do neonato, processo que necessita de 6 ou mais semanas, tempo mais que suficiente para que as aglutininas anti-Rh da mãe sejam destruídas. Prevenção da Eritroblastose Fetal: O antígeno D do sistema de grupo sanguíneo Rh é o culpado primário pela imunização da mãe Rh negativa contra um feto Rh positivo. Na década de 1970, ocorreu drástica redução da incidência de eritroblastose fetal, alcançada por meio do desenvolvimento da imunoglobulina Rh globina, um anticorpo anti-D que é administrado à gestante após 28 a 30 semanas de gestação. O anticorpo anti-D é também administrado às gestantes Rh negativas, que têm o primeiro filho Rh positivo, para impedir a sensibilização das mães contra o antígeno D. Essa etapa diminui enormemente o risco de desenvolvimento de grande quantidade de anticorpos D durante a segunda gestação. O mecanismo pelo qual a imunoglobulina Rh globina previne contra a sensibilização do antígeno D não é completamente compreendido, mas um dos efeitos do anticorpo anti-D é o de inibir a produção de anticorpos pelos linfócitos B induzida pelo antígeno na gestante. O anticorpo anti-D administrado também se fixa aos locais antigênicos das hemácias Rh positivas fetais que podem cruzar a placenta e entrar na circulação da gestante, interferindo com a resposta imune ao antígeno D. Reações de transfusão resultantes de tipos sanguíneosnão compatíveis: Se o sangue do doador com determinado tipo sanguíneo for transfundido para o receptor com outro tipo sanguíneo, é provável que ocorra reação de transfusão, na qual as hemácias do sangue do doador são aglutinadas. É raro que o sangue transfundido cause aglutinação das células do receptor pelo seguinte motivo: a porção plasmática do sangue do doador é diluída por todo o plasma do receptor, diminuindo consequentemente a titulação das aglutininas transfundidas até um nível muito baixo para causar aglutinação. De forma inversa, a pequena quantidade de sangue infundido não dilui, significativamente, as aglutininas no plasma do receptor. Portanto, as aglutininas do receptor ainda podem aglutinar as células não compatíveis do doador. Todas as reações de transfusão causam por fim hemólise imediata, resultante das hemolisinas, ou hemólise tardia, resultante da fagocitose das células aglutinadas. A hemoglobina liberada pelas hemácias é convertida pelos fagócitos em bilirrubina, sendo excretada na bile pelo fígado. A concentração de bilirrubina nos líquidos corporais se eleva o suficiente para causar icterícia — ou seja, os tecidos internos e a pele da pessoa são coloridos pelo pigmento amarelo da bile. Entretanto, se a função hepática estiver normal, o pigmento biliar será excretado pelos intestinos, por meio da bile hepática, de modo que a icterícia geralmente não aparece no adulto, a não ser que mais de 400 mililitros de sangue sejam hemolisados em menos de 1 dia. Insuficiência Renal Aguda após Reações de Transfusão: Um dos efeitos mais letais das reações de transfusão é a insuficiência renal, que pode se iniciar após alguns minutos ou horas e continuar até que a pessoa morra por insuficiência renal aguda. A insuficiência renal parece resultar de três causas: primeira, a reação antígeno-anticorpo da reação de transfusão libera substâncias tóxicas do sangue hemolisado, causando vasoconstrição renal muito intensa. Segunda, a perda de hemácias circulantes pelo receptor, juntamente com a produção de substâncias tóxicas das células hemolisadas e das reações imunes, em geral causa choque circulatório. A pressão arterial cai lentamente, com diminuição do fluxo renal e do débito urinário. Terceira, se a quantidade total de hemoglobina livre liberada no sangue circulante for maior que a quantidade que pode se ligar à “haptoglobina” (proteína plasmática que liga pequenas quantidades de hemoglobina), grande parte do excesso vazará através das membranas glomerulares para os túbulos renais. Se essa quantidade ainda for pequena, ela poderá ser reabsorvida para o sangue pelo epitélio tubular sem causar danos; contudo, se for grande, somente pequena porcentagem será reabsorvida. Além disso, a água continua a ser reabsorvida, causando elevação da concentração de hemoglobina tubular, que pode chegar a nível que leva à precipitação da hemoglobina e bloquear muitos dos túbulos renais. Assim, a vasoconstrição renal, o choque circulatório e o bloqueio dos túbulos renais, em conjunto, causam insuficiência renal aguda. Se essa falência for completa e não for revertida, o paciente morre em um período de 7 a 12 dias, a menos que seja tratado pelo uso de rim artificial. TRANSPLANTE DE TECIDOS E ÓRGÃOS A maioria dos diferentes antígenos das hemácias que ocasionam reações de transfusão também está muito presente em outras células do corpo, e cada tecido corporal tem seus próprios complementos de antígenos. Consequentemente, células estranhas transplantadas de qualquer local para o corpo de um receptor podem causar reações imunes. Em outras palavras, a maioria dos receptores é capaz de resistir à invasão de células estranhas, da mesma forma que é capaz de resistir à invasão de bactérias ou de hemácias estranhas. Autoenxertos, Isoenxertos, Aloenxertos e Xenoenxertos: O transplante de tecido ou órgão de parte do animal para outra parte do mesmo animal é chamado autoenxerto; o transplante entre gêmeos idênticos é chamado isoenxerto; de ser humano para outro ou de qualquer animal para outro animal da mesma espécie é aloenxerto; e o transplante de animal não humano para ser humano ou de animal de uma espécie para animal de outra espécie é chamado xeno enxerto. Transplante de Tecidos Celulares: No caso dos autoenxertos e dos isoenxertos, as células do transplante contêm, praticamente, os mesmos tipos de antígenos dos tecidos do receptor e, na maioria das vezes, irão sobreviver normal e indefinidamente se for fornecido suprimento sanguíneo adequado. No outro extremo, nos xenoenxertos, as reações imunes quase sempre ocorrem, acarretando morte celular do enxerto entre 1 dia e 5 semanas após o transplante, a menos que alguma terapia específica seja utilizada para impedir as reações imunes. Alguns dos diferentes tecidos celulares e órgãos que foram transplantados como aloenxertos tanto experimentais quanto para propósitos terapêuticos de pessoa para outra são pele, rins, coração, fígado, tecido glandular, medula óssea e pulmões. Com a “compatibilidade” apropriada dos tecidos entre as pessoas, muitos aloenxertos renais foram bem-sucedidos durante períodos de pelo menos 5 a 15 anos, e aloenxertos hepáticos e cardíacos já duram 1 a 15 anos. Tentativas de superar as reações imunes no tecido transplantado: Devido à extrema importância em potencial do transplante de certos tecidos e órgãos, estão sendo feitas tentativas sérias para a prevenção das reações antígeno-anticorpos associadas aos transplantes. Tipagem Tecidual — O Complexo de Antígenos Leucocitários Humanos de Antígenos: Os antígenos mais importantes no desencadeamento da rejeição de enxertos formam o complexo chamado antígenos leucocitários humanos (HLA). Seis desses antígenos estão nas membranas celulares dos tecidos de cada pessoa, mas existem cerca de 150 antígenos HLA diferentes, que representam mais de um trilhão de combinações possíveis. Como consequência, é praticamente impossível que duas pessoas, exceto no caso de gêmeos idênticos, tenham os mesmos seis antígenos HLA. O desenvolvimento de imunidade significativa contra um desses antígenos pode causar rejeição do enxerto. Os antígenos HLA ocorrem nos leucócitos, bem como nas células teciduais. Portanto, a tipagem do tecido para esses antígenos é feita nas membranas dos linfócitos que foram separados do sangue da pessoa. Os linfócitos são misturados com o antissoro e complemento apropriados; após a incubação, as células são testadas para relação da lesão da membrana, em geral por meio de teste da intensidade de captação transmembrana de corante especial pelas células linfocíticas. Alguns dos antígenos HLA não são fortemente antigênicos. Portanto, a combinação precisa entre o doador e o receptor nem sempre é essencial para permitir a aceitação do enxerto. Ao obter a melhor combinação possível entre o receptor e o doador, o procedimento do transplante se tornou muito menos perigoso. O melhor sucesso foi obtido com as combinações de tecidos entre parentes e entre pais e filhos. A combinação entre gêmeos idênticos é exata, de modo que os transplantes entre gêmeos idênticos quase nunca são rejeitados devido às reações imunes. Prevenção da Rejeição do Enxerto por meio da Supressão do Sistema Imune: Se o sistema imune for completamente suprimido, não deve ocorrer rejeição do enxerto. Em pessoa com depressão acentuada do sistema imune, os enxertos podem ser bem-sucedidos, sem uso de terapia significativa para impedir a rejeição. Entretanto, na pessoa normal, mesmo com a melhor classificação possível do tipo de tecido, os aloenxertos raramente resistem à rejeição por mais de alguns dias ou semanas sem o uso de terapia específica, para a supressão do sistema imune. Além disso, como as células T formam o principal componente do sistema imune para a eliminação das células enxertadas, sua supressão é muito mais importante do que a supressão dos anticorpos do plasma. Alguns dos agentes terapêuticos utilizados para essespropósitos são: 1. Hormônios glicocorticoides isolados do córtex das glândulas adrenais (ou fármacos com atividade semelhante à dos glicocorticoides), que inibem os genes que codificam várias citocinas, especialmente interleucina 2 (IL-2). A IL-2 é um fator essencial que induz proliferação de linfócitos T e anticorpos. 2. Vários fármacos com efeito tóxico sobre o sistema linfoide e que, portanto, bloqueiam a formação de anticorpos e das células T, sobretudo a azatioprina. 3. Ciclosporina e tracrolimo, que inibem a formação das células T auxiliares e, por conseguinte, são principalmente eficazes no bloqueio da reação de rejeição da célula T auxiliares. Esses agentes demonstraram ter elevado valor, por não deprimir outros componentes do sistema imune. 4. Tratamento imunossupressor com anticorpos, o que inclui anticorpos do receptor da IL-2 ou antilinfocitários específicos. O uso desses agentes, com frequência, deixa a pessoa desprotegida contra doenças infecciosas; assim, algumas vezes, infecções bacterianas e viróticas evoluem sem o menor controle. Além disso, a incidência de câncer é maior nas pessoas imunossuprimidas, presumivelmente porque o sistema imune é importante na destruição das células cancerosas iniciais antes que comecem a proliferar. O transplante de tecidos vivos em seres humanos tem tido sucesso importante, principalmente devido ao desenvolvimento de fármacos que suprimem a resposta do sistema imunológico. Com a introdução de melhores agentes imunossupressores, o transplante bem-sucedido de órgãos se tornou muito mais comum. A abordagem atual para a terapia imunossupressora tenta equilibrar as incidências aceitáveis de rejeição, com moderação dos efeitos adversos dos fármacos imunossupressores.
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