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Princípios: Estado Democrático de Direito e os Princípios Fundamentais de Direito Penal. Com o Iluminismo, o Direito Penal formal passou a ser menos cruel. Tais limitações passaram a constar nos códigos penais e por fim, nas constituições de países democráticos, como princípios garantidores dos direitos fundamentais dos cidadãos, perante o poder punitivo estatal. As garantias e direitos fundamentais dos cidadãos, que regram os campos de atuação humana, sobretudo a atuação estatal, são a base do Estado Democrático de Direito. Estado de Direito - obediência à lei formal, que vincula todos e todos os poderes. (Poder sai da mão do Soberano, e passa para o legislador) Estado Democrático de Direito - obediência à lei formal, e aos princípios democráticos (direitos e garantias), que vinculam todos os cidadãos, e todos os poderes, até mesmo o legislador na criação das leis. “Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito, por reflexo, seu direito penal há de ser legítimo, democrático e obediente aos princípios constitucionais que o informam, passando o tipo penal a ser uma categoria aberta, cujo conteúdo deve ser preenchido em consonância com os princípios derivados desse perfil político-constitucional. Não se admitem mais critérios absolutos na definição dos crimes, os quais passam a ter exigências de ordem formal (somente a lei pode descrevê-los e cominar-lhes uma pena correspondente) e material (o seu conteúdo deve ser questionado à luz dos princípios constitucionais derivados do Estado Democrático de Direito).” (CAPEZ, 2020. p. 79) Os princípios e garantias são amparados pelo texto da Constituição Federal de 1988, e começam a aparecer já no preâmbulo do texto constitucional, pela proclamação dos princípios de liberdade, igualdade e justiça, fonte interpretativa e de integração das normas constitucionais. No art. 1º, inciso III da Constituição, encontramos o princípio da dignidade humana, como fundamento do Estado Democrático de Direito. Consagrando o direito de cada indivíduo a ser respeitado por seus pares e pelo Estado, que não poderá interferir na vida priva, salva expressamente autorizado a fazê-lo. Art. 3º, inciso I da Constituição, declaração que orienta a atividade jurisdicional penal, de construir uma sociedade livre e justa. Art. 4º, inciso II da Constituição, declara que nas relações internacionais, prevalecerá os princípios de direitos humanos. Art. 5º da Constituição, declara princípios específicos de matéria penal, bem como, em demais artigos, como art. 22, I, que trata da reserva legal. Os princípios podem ser: Explícitos: positivados no ordenamento. (Exemplo: Art. 5º, inciso XLVI - individualização da pena) Implícitos: derivam dos explícitos, em decorrência de interpretação sistemática. (Princípio da proporcionalidade, que deriva do princípio da individualização da pena) Diferença entre norma e princípio. Segundo Rogério Sanchez, são duas diferenças básicas, uma na solução de conflitos e a outra na concretude. Na solução de conflitos, havendo o embate de normas, uma afasta a aplicação da outra. Já no conflito de princípios, invoca-se a proporcionalidade, ponderação de valores, aplicando-os em conjunto, na medida de sua compatibilidade, permanecendo válido no campo abstrato, mesmo que outro venha prevalecer no caso concreto. Apesar da norma e dos princípios serem dotados de aplicação abstratas, os princípios possuem maior abstração, em relação a lei. A lei é elaborada para regrar determinado fato, situação, já o princípio pode ser aplicado a um número indefinido de hipóteses. Exemplo do código penal, a lei prevê o crime de furto, art. 155 do CP, já o princípio da legalidade, por exemplo, se aplica a todo o direito, inclusive todos os tipos penais. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Origem : Magna Carta do Rei João sem terra 1215. Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão 1789 - Revolução Francesa. “nullum crimen, nulla poena sine praevia lege” (Paul Johann Anselm Ritter Von Feuerbach, 1801) Diplomas internacionais Convênio para a proteção dos direito humanos e liberdades fundamentais (1950) Pacto de San José da Costa Rica Estatuto de Roma (Garantia fundamental do indivíduo contra arbitrariedade do Estado punitivo.) Previsto nos códigos brasileiros desde o Código Criminal do Império (1830). Previsão Constitucional Constituição Federal de 1988: Legalidade ampla Art. 5º inciso II: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” Legalidade específica Art. 5º inciso XXXIX - “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Código Penal Art. 1º - “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Lembrando que: Não são objeto de Emenda à Constituição propostas tendentes a abolir direitos e garantias fundamentais (art. 60, §4º da CRFB/88) “Trata-se de real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais, daí sua inclusão na Constituição entre os direitos e garantias fundamentais.” (CUNHA, 2016, p.83) Subprincípios: Reserva legal: Não há crime e não há pena sem lei. “Só a lei abre as portas da prisão” (MEZGER) (Da mesma forma contravenções e medidas de segurança.) Lei em sentido estrito, o princípio da reserva legal impede a criação de infrações penais por meio de: Medida Provisória, mesmo que convalidada. Art 62 da CF. Decreto Lei delegada - art. 68 da CF. Resoluções (CNJ, CNMP, TSE) Somente lei ordinária ou complementar, devidamente aprovada pelo Congresso Nacional. Anterioridade “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” A anterioridade impede a retroatividade maléfica da lei penal. Art 5º da CRFB/88: “XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;” Lei escrita O costume não pode criar o crime. Auxilia na interpretação da lei penal - “secundum legem” Ex. furto no repouso noturno. Costume também não pode revogar crime (STF e STJ - súmula 502). Lei estrita Analogia não pode criar crime. Analogia somente para beneficiar, jamais prejudicar. Art. 128 (hipóteses de aborto legais) art. 217-A (estupro de vulnerável) do CP. Lei certa Princípio da taxatividade, mandato de certeza A lei não pode ser ambígua, vaga, genérica. Ex. Lei de abuso de autoridade Art. 10 - “manifestamente descabida.” Lei n° 7.17011983 - "atos de terrorismo" Lei necessária Decorrência lógica do princípio da intervenção mínima. Não há crime sem lei, anterior, escrita, estrita, certa e necessária. Legalidade formal - obediência ao devido processo legislativo. Legalidade material - conteúdo da lei de acordo com os princípios, direitos e garantias do cidadão. Art. 22 , I, da CF - compete privativamente à União. CAPACETE PM Civil, agrário, penal, aeronáutico, comercial, eleitoral, trabalho, espacial, processual e marítimo. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS. Conceito material de crime. Crime é ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem jurídico penalmente tutelado. Conceito Legal - lei de introdução ao CP Infração penal - crime e contravenção. Conceito analítico - fato típico, ilícito e culpável. Destinatário do conceito material de crime é o legislador. Função do Direito Penal O funcionalismo penal é um movimento posterior ao finalismo que surge na Alemanha a partir de 1970 para questionar o conceito de conduta apresentado pelos sistemas causal e finalista. Claus Roxin - proteção de bens jurídicos (funcionalismo moderado) É possível controlar a atividade do legislador. Günther Jakobs - protege a própria norma (funcionalismo radical ou sistêmico) Prevenção geral. Não se pode fazer qualquer controle de legitimidade, pois todas as normas são legítimas. Critério adotado é o funcionalismo moderado de Roxin de proteção de bens jurídicos mais importantes da sociedade. Consequência: Não é qualquer valor ou interesse que é merecedorda tutela penal. Conclusão: O Direito Penal é fragmentário, pois nem todos os bens jurídicos merecem a tutela penal. Somente os bens jurídicos mais relevantes merecem a tutela penal, sob pena de desvirtuar-se a missão do Direito Penal. "Bem jurídico é um ente material ou imaterial haurido do contexto social, de titularidade individual ou metaindividual reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento do homem em sociedade e, por isso, jurídico-penalmente protegido. Deve estar sempre em compasso com o quadro axiológico vazado na Constituição c com o princípio do Estado Democrático e Social de Direito. A ideia de bem jurídico fundamenta a ilicitude material, ao mesmo tempo em que legitima a intervenção penal legalizada." (PRADO apud CUNHA, 2016, p.68) Não é lícito ao legislador punir orientações sexuais, punir orientações ideológicas, religiosas, sabendo que tais liberdades são garantidas na Constituição. Princípio da intervenção mínima do Direito Penal Origem - Declaração Francesa de Direitos do Homem e do Cidadão. Função do Direito Penal Proteção dos bens jurídicos (Funcionalismo de Claus Roxin) Conceito: “O princípio da intervenção mínima, também conhecido como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a prevenção de ataques contra bens jurídicos importantes. Ademais, se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, a sua criminalização é inadequada e não recomendável” (BITENCOURT, 2020,p. 127) Caráter subsidiário - o Direito Penal aguarda o fracasso das demais esferas de controle. (ultima ratio, soldado de reserva) Caráter fragmentário - o Direito Penal somente atua em casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Ex. Art. 135-A do CP: Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). 1990 - Código de Defesa do Consumidor. Prática abusiva contra o consumidor. 2002 - Código Civil Prática ilícita. Resoluções da ANS Prática ilícita administrativa. 2012 - Código Penal. Fragmentariedade às avessas: Condutas humanas tipificadas como infrações penais há muitos anos, foram descriminalizadas, em respeito ao princípio da fragmentariedade, uma vez que sua repercussão se restringia ao campo da moralidade, sem afrontar qualquer bem jurídico de relevância. Ex. Art. 240 do CP - crime de adultério, revogado em 2005. GARANTISMO PENAL http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12653.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12653.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12653.htm#art1 Direito penal máximo (panpenalismo, maximalismo penal ou movimento da lei e da ordem) Para essa teoria todas as infrações devem ser punidas com rigor, desde as mais simples à mais perversas, não havendo espaço para princípios oriundos de política criminal. Direito penal do inimigo. Teoria das janelas quebradas. Lei antiterror - lei 13260/16 Lei de crimes hediondos. Abolicionismo penal Afastamento do direito penal para resolução dos conflitos sociais, porque a prisão é: Irracional, Estigmatizante, Seletiva, Marginalizadora, Formadora de delinquentes. A meta é o desaparecimento do sistema penal. Os conflitos devem ser solucionados por meios de reparação civil, acordo, arbitragem, perdão. Não é possível adotar o abolicionismo no Brasil, tendo em vista que a Constituição possui mandamentos de criminalização. GARANTISMO PENAL (direito penal mínimo, minimalismo penal, ou do equilíbrio) Luigi Ferrajoli - Direito e razão. Criminoso não deve ser visto como objeto da investigação, mas sujeito de direitos. 10 axiomas, princípios O Garantismo Penal pugna pela mínima intervenção penal e máxima intervenção social. Em oposição ao movimento da lei e ordem e também ao abolicionismo penal, propõe a aplicação do Direito Penal apenas e exclusivamente como ultima ratio, ou seja, somente quando for imprescindível ante o fracasso dos demais ramos do Direito e das instituições sociais na solução dos conflitos. Direito penal máximo - o direito penal deve ser a regra. Abolicionismo penal - não deve existir o direito penal. Direito penal mínimo (garantismo penal) - direito penal deve ser a exceção, ultima ratio e o criminoso deve ser tratado como sujeito de direitos. Garantismo penal e princípio da proporcionalidade. Garantismo negativo - veda-se o excesso por parte do Estado. Garantismo positivo - veda-se uma proteção deficiente ou insuficiente, da coletividade. Garantismo Integral - soma do garantismo negativo com o positivo. Garantismo no Brasil: garantismo hiperbólico monocular. Garantias exageradas, míope unilateral em relação ao réu. Oitiva do Presidente da República por escrito mandada por escrito na condição de réu. A lei só garante se for testemunha. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE Origem Trata-se de princípio que deita suas raízes no Direito Alemão. É considerado um princípio constitucional implícito. Deve ser analisado em duas vertentes. Proibição do excesso: Garantismo negativo - proibição do excesso. O legislador não pode criar figuras típicas penais que não protejam qualquer bem jurídico. Além disso, ao criar uma infração penal, a pena cominada deve ser compatível com o bem jurídico tutelado. Exemplo: AI no HC 239.363/PR (26.02.2015) STJ reconheceu a inconstitucionalidade da pena do Art. 273 do CP - falsificação de medicamentos. Pena de 10 a 15 anos. STJ – 559 – Direito constitucional e penal. Inconstitucionalidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, V, do CP. É inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, V, do CP – “reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa” -, devendo-se considerar, no cálculo da reprimenda, a pena prevista no caput do art. 33 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), com possibilidade de incidência da causa de diminuição de pena do respectivo § 4º. De fato, é viável a fiscalização judicial da constitucionalidade de preceito legislativo que implique intervenção estatal por meio do Direito Penal, examinando se o legislador considerou suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou de sua margem de ação de forma adequada para a proteção suficiente dos bens jurídicos fundamentais. Nesse sentido, a Segunda Turma do STF (HC 104.410-RS, DJe 27/3/2012) expôs o entendimento de que os “mandatos constitucionais de criminalização [...] impõem ao legislador [...] o dever de observância do princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. A idéia é a de que a intervenção estatal por meio do Direito Penal, como ultima ratio, deve ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade [...] Abre-se, com isso, a possibilidade do controle da constitucionalidade da atividade legislativa em matéria penal”. Sendo assim, em atenção ao princípio constitucional da proporcionalidade e razoabilidade das leis restritivas de direitos (CF, art. 59, LIV), é imprescindível a atuação do Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena de “reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa" abstratamente cominada à conduta inscrita no art. 273, § 1º-B, V, do CP, referente ao crime de ter em depósito, para venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais de procedência ignorada. Isso porque, se esse delito for comparado, por exemplo, com o crime de tráfico ilícito de drogas (notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde pública), percebe-se a total falta de razoabilidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B,do CP, sobretudo após a edição da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), que, apesar de ter aumentado a pena mínima de 3 para 5 anos, introduziu a possibilidade de redução da reprimenda, quando aplicável o 4º do art. 33, de 1/6 a 2/3. Com isso, em inúmeros casos, o esporádico e pequeno traficante pode receber a exígua pena privativa de liberdade de 1 ano e 8 meses. E mais: é possível, ainda, sua substituição por restritiva de direitos. De mais a mais, constata-se que a pena mínima cominada ao crime ora em debate excede em mais de três vezes a pena máxima do homicídio culposo, corresponde a quase o dobro da pena mínima do homicídio doloso simples, é cinco vezes maior que a pena mínima da lesão corporal de natureza grave, enfim, é mais grave do que a do estupro, do estupro de vulnerável, da extorsão mediante sequestro, situação que gera gritante desproporcionalidade no sistema penal. Além disso, como se trata de crime de perigo abstrato, que independe da prova da ocorrência de efetivo risco para quem quer que seja, a dispensabilidade do dano concreto à saúde do pretenso usuário do produto evidencia ainda mais a falta de harmonia entre esse delito e a pena abstratamente cominada pela redação dada pela Lei 9.677/1998 (de 10 a 15 anos de reclusão). Ademais, apenas para seguir apontando a desproporcionalidade, deve-se ressaltar que a conduta de importar medicamento não registrado na ANVISA, considerada criminosa e hedionda pelo art. 273, § 1º-B, do CP, a que se comina pena altíssima, pode acarretar mera sanção administrativa de advertência, nos termos dos arts. 2º, 4º, 8º (IV) e 10 (IV), todos da Lei nº 6.437/1977, que define as infrações à legislação sanitária. A ausência de relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação com o dano ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a inexistência de consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de razoabilidade da pena prevista na lei, tendo em vista que a restrição da liberdade individual não pode ser excessiva, mas compatível e proporcional à ofensa causada pelo comportamento humano criminoso. Quanto à possibilidade de aplicação, para o crime em questão, da pena abstratamente prevista para o tráfico de drogas – “reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa” (art. 33 da Lei de drogas) –, a Sexta Turma do STJ (REsp 915.442-SC, DJe 19/2/2011) dispôs que "A Lei 9.677/98, ao alterar a pena prevista para os delitos descritos no artigo 273 do Código Penal, mostrou-se excessivamente desproporcional, cabendo, portanto, ao Judiciário promover o ajuste principiológico da norma [...] Tratando-se de crime hediondo, de perigo abstrato, que tem como bem jurídico tutelado a saúde pública, mostra-se razoável a aplicação do preceito secundário do delito de tráfico de drogas ao crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais”. (Al no HC 239.363-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/2/2015, DJe 10/4/2015.) Proibição de uma proteção deficiente ou insuficiente do Estado ou da coletividade. Garantismo positivo - atende os interesses da sociedade. Mandados Constitucionais de Criminalização Em relação a determinados bens jurídicos, o legislador constituinte impôs ao legislador ordinário um dever de criminalizar certas condutas. Esses mandados constitucionais de criminalização dividem-se em algumas espécies. Mandados explícitos de criminalização Constituição Federal Art. 5º (...) XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; Lei 7.716/89: Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; Lei 7.170/83 - Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento e dá outras providências. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; O legislador ainda não cumpriu com esse Mandado. Art. 227 (...) § 4º, CF. A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. Lei 8.068/90 – Crimes do Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 225 (...) § 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Lei 9.605/98 – Crimes ambientais Caso concreto: ADO 26 e MI 4733 (LGBTfobia) Art. 5º (...) XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. O que estava em discussão? I. saber se havia mora inconstitucional do Congresso Nacional na criminalização específica da homofobia e da transfobia (a homofobia e a transfobia seriam espécies do gênero racismo?); II. se era possível a aplicação subsidiária da Lei 7.716/89 Crime de racismo Lei 7.716/89 Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Julgamento 13/06/19: O STF, majoritariamente (8x3), votou a favor da aplicação da Lei do Racismo até a edição de lei específica pelo Congresso. Fundamento: As práticas homotransfóbicas qualificam-se como espécies do gênero racismo, na dimensão de racismo social. Consequência: A LGBTfobia passa a ser considerada uma conduta inafiançável e imprescritível. Código Penal Injúria Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. (...) § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa. Lei 9.455/97 Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: (...) c) em razão de discriminação racial ou Crítica doutrinária: E o princípio da legalidade? Somente a lei pode definir crime e cominar pena. Analogia “in malam partem”. Rol é taxativo no crime de racismo. Ativismo judicial Violação da separação dos poderes. De acordo com a doutrina majoritária, ante à inércia do legislador em relação a mandados de criminalização, há de se reconhecer que, na prática, inexistem meios concretos para se exigir do Poder Legislativo o cumprimento de sua obrigação jurídico-constitucional no sentido de criminalizar determinados comportamentos indesejados pela sociedade. “Parece-nos que é racismo, desde que, na esteira da interpretação dada pelo STF, qualquer forma de fobia, dirigida ao ser humano, pode ser manifestação racista. Daí por que, inclui-se no contexto da Lei 7.716/89. Nem se fale em utilização de analogia in malam partem. Não se está buscando, em um processo de equiparação por semelhança, considerar o ateu ou o homossexual alguém parecido com o integrante de determinada raça. Ao contrário, está-se negando existir o conceito de raça, válido para definir qualquer agrupamento humano, de forma que racismo, ou, se for preferível, a discriminação ou o preconceito de raça é somente uma manifestação de pensamentosegregacionista, voltado a dividir os seres humanos, conforme qualquer critério leviano e arbitrariamente eleito, em castas, privilegiando umas em detrimento de outras. Vamos além. Impedir a entrada, por exemplo, em um estabelecimento comercial, de pessoa pobre, é pura discriminação. Embora pobreza não seja, no critério simplista do termo, uma raça, é um mecanismo extremamente simples de se diferenciar seres humanos. Logo, é mentalidade racista. Ser judeu, para o fim de considerar atos antissemitas como manifestações de racismo, logo crime imprescritível, foi interpretação constitucionalmente válida. Logo, ser ateu, homossexual, pobre, entre outros fatores, também pode ser elemento de valoração razoável para evidenciar a busca de um grupo hegemônico qualquer de extirpar da convivência social indivíduos indesejáveis. Não se pode considerar racismo atacar judeus, unicamente por conta de lamentáveis fatos históricos, mas, sobretudo, porque são seres humanos e raça é conceito enigmático e ambíguo, merecedor, pois, de uma interpretação segundo os preceitos da igualdade, apregoada pela Constituição Federal, em função do Estado Democrático de Direito.” (NUCCI, 2012, p. 195). Mandados implícitos de criminalização Imperativo constitucional implícito de tutela penal, dada a relevância de alguns bens e valores centrados na dignidade humana, que gozam de primazia em relação aos demais. Direito à vida (art. 5º, caput): Tacitamente - crime de homicídio, infanticídio, aborto. Direito à moralidade pública (art. 37): Crimes funcionais, corrupção, crimes eleitorais. Não há desrespeito ao princípio da intervenção mínima, visto que se pressupõe que a atuação do Direito Penal deve ocorrer fragmentária e subsidiariamente. Mandados internacionais de criminalização a) Convenção de Palermo (Decreto 5015/04): Traz comandos para criminalização das ORCRIM e também da lavagem de capitais. Atendido pela Lei 12.850/13 (Organização Criminosa) e Lei 9.613/98 (Lavagem de Capitais) b) Convenção de Mérida (Decreto 5.687/06): a corrupção é um atentado contra os Direitos Humanos fundamentais. Prescreve o art. 15 da Convenção de Mérida que “Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e de outras índoles que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometidos intencionalmente”, por exemplo, “a promessa, o oferecimento ou a concessão a um funcionário público, de forma direta ou indireta, de um benefício indevido que redunde em seu próprio proveito ou no de outra pes- soa ou entidade com o fim de que tal funcionário atue ou se abstenha de atuar no cumprimento de suas funções oficiais”. PRINCÍPIO DO NÃO RETROCESSO Decorre do princípio da dignidade humana, da segurança jurídica, dentre outros. Cliquet - movimento dos alpinistas. Também conhecido como efeito “cliquet” dos direitos fundamentais, não admite o recuo na salvaguarda desses direitos, a menos que sejam criados outros mecanismos mais eficazes para alcançar o mesmo objetivo do constitiuinte. “As questões afetas aos direitos humanos devem ser analisadas na perspectiva do reconhecimento e consolidação de direitos, de modo que uma vez reconhecido determinado direito como fundamental na ordem interna, ou, em sua dimensão global na sociedade internacional, inicia-se a fase de consolidação. A partir daí, não há mais como o Estado regredir ou retroceder diante dos direitos fundamentais reconhecidos, o processo é de agregar novos direitos ditos fundamentais ou humanos” (MACHADO apud BITENCOURT, 2020, p. 176) PRINCÍPIO DA EXTERIORIZAÇÃO OU DA MATERIALIZAÇÃO DO FATO “nullum crimen sine actio” Direito Penal do Fato. Direito Penal do fato - Não admite a sanção do caráter ou do modo de ser do indivíduo. O que interessa para o Direito Penal é exclusivamente a conduta (o fato) praticada no caso concreto e não o perfil do agente ou o seu passado criminoso. Não se pude: pensamentos, estilos de vida. Direito Penal do Autor - o sujeito não é julgado e punido pelo que fez, mas pelo o que é, pelo seu perfil, pelo seu passado. Criminaliza-se a personalidade do agente e não a conduta por ele praticada. Ex. direito penal do inimigo. Código Penal: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito Penal do fato, mas considera circunstâncias relacionadas ao autor quando da análise da pena. O legislador só pode criminalizar fatos. Porém, o Juiz, no momento da aplicação da pena, deve considerar circunstâncias do autor, para adequação ao princípio da individualização da pena. Ex. Reincidência, maus antecedentes, personalidade. Art.59 do CP. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU DA LESIVIDADE Conceito: não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado (conceito material de crime) (nullum crimen sine iniuria) exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. "Está atrelado à concepção dualista da norma penal, isto é, a norma pode ser primária (delimita o âmbito do proibido) ou secundária (cuida do castigo, do âmbito da sancionabilidade). A norma primária, por seu turno, possui dois aspectos: (A) ela é valorativa (existe para a proteção de um valor); e (B) também imperativa (impõe uma determinada pauta de conduta). O aspecto valorativo da norma fundamenta o injusto penal, isto é, só existe crime quando há ofensa concreta a esse bem jurídico. Daí se conclui que o crime exige, sempre, desvalor da ação (a realização de uma conduta) assim como desvalor do resultado (afetação concreta de um bem jurídico). Sem ambos os desvalores não há injusto penal (não há crime)" (BIANCHINI, MOLINA, GOMES apud CUNHA, 2016, p. 94) Assim, não há crime sem exteriorização da conduta e sem efetiva lesão, ou perigo de lesão a um bem jurídico. “a) proibir a incriminação de uma atitude interna; b) proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor; c) proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais; d) proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico.” (BATISTA apud GRECO, 2017, p. 131) Parcela minoritária da doutrina considera inconstitucional crimes de perigo abstrato, uma vez que não se exige um efetivo dano ou perigo efetivo ao bem jurídico. Classificação doutrinária de crimes quanto ao Resultado Jurídico. Crime de dano - o dolo do agente é destruir o bem jurídico. Crimes de perigo - o dolo do agente é expor a perigo o bem jurídico. Perigo Abstrato - prova da conduta. (a lei presume o perigo de forma absoluta) Ex. Tráfico de drogas, embriaguez no trânsito. Perigo Concreto - Prova da conduta e prova do perigo. Ex. art. 309 do CTB - dirigir sem habilitação - perigo na segurança viária. Além de ofender o princípio da ofensividade, os crimes de perigo ofendem a ampla defesa, pois não há como fazer prova do perigo. A doutrina majoritária e tribunais superiores admitem os crimes de perigo abstrato, técnica legislativa para proteger de forma eficiente bens jurídicos, com tutela penal antecipada. “subsiste a possibilidade de tipificação dos crimes de perigo abstrato em nosso ordenamento legal, como legítima estratégia de defesa do bem jurídico contra agressões em seu estágio ainda embrionário, reprimindo-se a conduta, antes que ela venha a produzir um perigo concreto ou um dano efetivo. Trata-se de cautela reveladora de zelo do Estado em proteger adequadamente certos interesses. Eventuais excessos podem, no entanto, ser corrigidos pela aplicação do princípio da proporcionalidade ( CAPEZ, 2020, p.102) Para Claus Roxin: Essa expansão do direito penal, com a previsão de crimes de perigo abstrato e a consequente proteção de bens metaindividuais (difusos ou coletivos) é chamado de espiritualização, desmaterialização ou liquefação de bens jurídicosno Direito Penal. (Ex. Meio ambiente, sistema econômico, saúde pública) Crime de perigo abstrato x Estatuto do desarmamento x princípio da insignificância. Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. “1) O simples fato de possuir ou portar munição caracteriza os delitos previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, por se tratar de crime de perigo abstrato e de mera conduta, sendo prescindível a demonstração de lesão ou de perigo concreto ao bem jurídico tutelado, que é a incolumidade pública.”(Tese do STJ edição 108/2018) 2) A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada de arma de fogo, excepcionalmente, a depender da análise do caso concreto, pode levar ao reconhecimento de atipicidade da conduta, diante da ausência de exposição de risco ao bem jurídico tutelado pela norma.”(Tese do STJ edição 108/2018) STF: “2. A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se ao Supremo Tribunal Federal, tem entendido pela possibilidade da aplicação do princípio da insignificância aos crimes previstos na Lei 10.826/03, a despeito de serem delitos de mera conduta, afastando, assim, a tipicidade material da conduta, quando evidenciada flagrante desproporcionalidade da resposta penal. 3. Ainda que formalmente típica, a apreensão de 8 munições na gaveta do quarto da ré não é capaz de lesionar ou mesmo ameaçar o bem jurídico tutelado, mormente porque ausente qualquer tipo de armamento capaz de deflagrar os projéteis encontrados em seu poder.” (STJ Resp nº 1.735.871 - AM ) Art. 12, 14 e 16 - nova classificação do crime: ABSTRATO-CONCRETO. Abstrato - prova da conduta, perigo presumido. Abstrato-concreto - prova da conduta e do perigo possível.(probabilidade de perigo) Concreto - prova da conduta e do perigo efetivo. Expressões como expondo a dano, gerando perigo. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. Origem no direito civil, mais precisamente no Direito Romano. “de minimis non curat praetor” - o judiciário não cuida de coisas pequenas. Claus Roxin (1964) - introduz no direito penal. Campo de atuação do princípio: Na tipicidade mais precisamente na Tipicidade material. Tipicidade formal - ajuste do fato à norma. Tipicidade Material - efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico. Não tem previsão em lei, é criação doutrinária e jurisprudencial. Causa supralegal de exclusão da tipicidade material CPP art. 28-A, §2º, II - acordo de não persecução penal, faz menção à infração penal insignificante. Momento de aplicação - em qualquer fase, até mesmo antes de iniciada a investigação. O fato é atípico, não há crime. Legitimidade para aplicar - todos os atores da persecução penal, inclusive o delegado de polícia. Requisitos objetivos e cumulativos: Mínima ofensividade da conduta do agente. Ausência de periculosidade social da ação. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. Inexpressividade da lesão jurídica causada. Requisito subjetivo crimes de patrimônio, capacidade econômica da vítima, a importância do objeto subtraído da vítima. STJ: “A verificação da lesividade mínima da conduta apta a torna-la atípica, deve levar em consideração a importância do objeto material subtraído, a condição econômica do sujeito passivo, assim como as circunstâncias e o resultado do crime, a fim de se determinar, subjetivamente, se houve ou não relevante lesão ao bem jurídico tutelado” (REsp 1.224.795, Quinta Turma, julgado 13/03/2012). STF: Não reconheceu como insignificante o furto de “disco de ouro”, tendo em vista que o prêmio artístico, apesar de não ser de ouro, era dotado de valor inestimável para a vítima (valor sentimental). Nessa hipótese, o STF levou em conta o valor da coisa subtraída para a vítima, a qual recebera o prêmio após muito esforço para se destacar no meio artístico (1ª Turma, HC 107615/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 06/09/2011). Reincidente, maus antecedentes ou criminoso habitual. STF - não há regra, deve-se analisar o caso concreto. Info. 793. A maioria dos julgados não admite a aplicação da insignificância, se for reincidente ou responda outros processos ou inquéritos. Regime inicial do cumprimento de pena. Pode o juiz condenar o réu reincidente a um crime apenado com reclusão e aplicar o princípio da insignificância para fixar o regime inicial aberto? Detalhe! De acordo com o art. 33 do CP, o reincidente, independentemente da pena aplicada, deverá iniciar o cumprimento da reprimenda em regime fechado. A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, o juiz pode entender que a absolvição, com base nesse princípio, é penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade. STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938). Pode o juiz condenar o réu reincidente a um crime apenado com reclusão e substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direito? Detalhe! De acordo com o art. 44, II, do CP, é vedada a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos se o réu é reincidente em crime doloso. Em um caso concreto, o STF reconheceu a insignificância do bem subtraído, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info 913). Em resumo: Insignificância e réu reincidente Regra: A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta e absolva o réu, à luz dos elementos do caso concreto. Exceções: Na hipótese de o juiz da causa considerar penal ou socialmente indesejável a aplicação do princípio da insignificância para absolver o reú, poderá: a) Fixar regime inicial aberto, paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, "c", do CP no caso concreto, com base no princípio da proporcionalidade; b) Substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, a despeito do disposto no art. 44, II, CP. Princípio da insignificância e casos concretos: Lei de drogas Pequena quantidade de drogas, art. 28, os tribunais não admitem a aplicação. Por se tratar de crime de perigo abstrato. A pequena quantidade é inerente ao crime de posse de drogas. Um julgado do Ministro Toffoli HC 110475 de 2012, aplicando a insignificância. Tráfico de drogas art. 33 - crime de perigo abstrato. Há periculosidade social da ação. Além da falta de proporcionalidade em relação ao art. 28. Lei Maria da Penha - Súmula 589 do STJ - não se aplica. Não atende o reduzido grau de reprovabilidade. Crimes contra a Administração Pública. STF - reconhece a insignificância em crimes funcionais. STJ - não admite a aplicação do princípio, tendo em vista que o bem atingido é a moralidade pública, nem intangível. Há um crime que o STJ e STF admitem a aplicação o princípio da insignificância. Descaminho no valor até R$20.000,00 Diferença que é crime praticado por particular contra a Administração pública. De acordo com a lei 10.522/2002 e portaria MF 75/2012, nãose deve ajuizar ação de execução fiscal de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado do tributo seja igual ou inferior a R$20.000,00. Se não há interesse em executar na esfera fiscal, não é relevante para o direito penal. Contrabando - não se admite pois atinge bens jurídicos além do fisco, ordem pública, moralidade, saúde pública. Crimes ambientais Depende da análise do caso concreto, mas é possível. STF Inq 3788/DF 2016 info 816 Furto qualificado Em regra não se aplica pela gravidade da pena. Mas é possível a mitigação dependendo do caso concreto. Apropriação indébita e sonegação de contribuição previdenciária. art. 168-A e 337-A do CP. Não admite pela reprovabilidade da ação. Estelionato previdenciário art. 171,§3º, CP STF e STJ não admitem. Elevado grau de reprovabilidade. Moeda falsa Não admite, atinge a fé pública, bem intangível. Mesmo posicionamento para crimes de documento falso que atingem a fé pública. Manutenção de rádio comunitária clandestina. Transmissão clandestina de internet via rádio. Art. 183 lei 9472/97 Crimes contra o sistema financeiro nacional. Não se admite. Modernamente subdivide-se a bagatela em própria e imprópria. Bagatela própria - irrelevância da lesão ao bem jurídico. Conduta é atípica por faltar tipicidade material. Bagatela imprópria - irrelevância penal do fato. O fato é típico mas não tem relevância penal, ou seja, a pena é desnecessária. Fundamento no art. 59 do CP, levando em conta as circunstâncias judiciais favoráveis e o histórico do réu. RECURSO DEFENSIVO. APELAÇÃO. FURTO SIMPLES. PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. REPARAÇÃO DO DANO. PRESENÇA DE REQUISITOS SUBJETIVOS POSITIVOS. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORÁVEIS. RECONHECIMENTO DA DESNECESSIDADE DA PENA. POSSIBILIDADE. O reconhecimento do princípio da bagatela imprópria permite que o julgador, mesmo diante de um fato típico, antijurídico e culpável, deixe de aplicar a pena em razão desta ter se tornado desnecessária, diante da verificação de determinados requisitos. Excepcionalidade da medida. Cumpridos todos objetivos a serem atingidos pela reprimenda penal. In casu, os seguintes requisitos concorrem para a aplicação da insignificância imprópria: a) ínfima culpabilidade do agente; b) acusado primário e de bons antecedentes; c) valoração favorável das circunstâncias judiciais; d) pronta confissão da autoria do delito, que até então era desconhecida; e) inexistência de indicativos de personalidade voltada para o crime; f) ônus do indiciamento na fase inquisitorial e da persecução penal sobre o recorrente; g) ausência de afronta aos princípios da hierarquia e da disciplina, uma vez que o réu encontra-se na condição de civil; e h) espontâneo ressarcimento à vítima, o que permite o reconhecimento da desnecessidade da pena. Recurso provido. Decisão unânime” (AP 00000884420147070007, Rel. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, julgado em 10.11.2015). https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/54748/bagatela-impr pria-a-des-necessidade-da-aplicao-da-pena PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL Idealizado por Hans Welzel Assemelha-se ao princípio da Intervenção Mínima, pois busca excluir da tutela penal condutas socialmente aceitas, limitando o poder punitivo estatal. Possui a função de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e de orientar o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir, bem como, para que o legislador repense condutas penais já se adaptaram à evolução da sociedade. Nesse sentido, a ideia da adequação social, na melhor das hipóteses, não passa de um princípio interpretativo, em grande medida inseguro e relativo, o que explica por que os mais destacados penalistas internacionais não o aceitam nem como https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/54748/bagatela-imprpria-a-des-necessidade-da-aplicao-da-pena https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/54748/bagatela-imprpria-a-des-necessidade-da-aplicao-da-pena uma autêntica causa excludente da tipicidade nem como causa de justificação.(BITENCOURT, 2020, p.138) Também, na nossa ótica, a consideração de uma conduta como adequada para a produção de um resultado não é, realmente, suficiente para decidir sobre a relevância típica do comportamento, pois toda conduta pode ser perigosa em algum sentido e pode, em abstrato, ser apta a produzir algum resultado típico. Esse obstáculo não constitui, sem embargo, um motivo para o completo abandono da orientação da adequação social, pois, como veremos quando do estudo da tipicidade, ele é de utilidade como primeiro filtro de restrição dos riscos juridicamente relevantes.(BITENCOURT, 2020, p.139) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE Como já mencionado o princípio da dignidade da pessoa humana é a base do Estado Democrático de Direito. Assim, mesmo na atuação do Direito Penal, que vem a ser o ramo do direito mais contundente em relação aos direitos fundamentais, ou seja: “não pode ser conseguido sem dano e sem dor, especialmente nas penas privativas de liberdade, a não ser que se pretenda subverter a hierarquia dos valores morais e utilizar a prática delituosa como oportunidade para premiar, o que conduziria ao reino da utopia. Dentro destas fronteiras, impostas pela natureza de sua missão, todas as relações humanas reguladas pelo Direito Penal devem ser presididas pelo princípio de humanidade” (JESCHECK apud BITENCOURT, 2020, p. 164) Assim, se extrai o princípio da humanidade mais especificamente das vedações constitucionais contidas no art. 5º, nos incisos: “III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (...) XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;” PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XLVI, preconiza: “XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos;” A individualização da pena ocorrerá em três fases distintas: a) cominação: Seleção feita pelo legislador, plano abstrato. Penas compatíveis com a importância do bem jurídico tutelado. “A proteção à vida, por exemplo, deve ser feita com uma ameaça de pena mais severa do que aquela prevista para resguardar o patrimônio; um delito praticado a título de dolo terá sua pena maior do que aquele praticado culposamente; um crime consumado deve ser punido mais rigorosamente do que o tentado etc.” (GRECO, 2017, p. 150) b) aplicação; Compete ao julgador, no plano concreto, conforme o sistema trifásico constante no art. 68 do CP. “Ao individualizar a pena, o juiz sentenciante deverá obedecer e sopesar os critérios do art. 59, as circunstâncias agravantes e atenuantes e, por fim, as causas de aumento e diminuição de pena, para ao final impor ao condenado, de forma justa e fundamentada, a quantidade de pena que o fato está a merecer” (STJ, HC 48.122/SP; HC 2005/0156373-8, Rel.ª Min.ª Laurita Vaz, 5ª T., DJ 12/6/2006, p. 511). c) execução. Art. 5º da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal): “Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.” O princípio da individualização da pena reforça os postulados de necessidade e proporcionalidade das penas, em relação à gravidade do injustopenal. "O CP brasileiro segue o sistema conhecido como o das penas 'relativamente indeterminadas'. Salvo as penas que por sua natureza não admitem a quantificação, as demais são estabelecidas legalmente de forma relativamente indeterminada, isto é, fixando um mínimo e um máximo, possibilitando, sempre, uma margem para a consideração judicial, de conformidade com as regras gerais de que é o juiz que deve concretizá-las no caso concreto.” (ZAFFARONI e PIERANGELI apud CUNHA, 2016, p.401) Com base no Princípio da Individualização da pena o STF já julgou inconstitucional a obrigatoriedade de cumprimento de regime fechado nos crimes hediondos. “É inconstitucional a fixação ex lege, com base no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990, do regime inicial fechado, devendo o julgador, quando da condenação, ater-se aos parâmetros previstos no artigo 33 do Código Penal.”[Tese definida no ARE 1.052.700 RG, http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14274497 rel. min. Edson Fachin, P, j. 2-11-2017, DJE 18 de 1º-2-2018, Tema 972.] Art. 33 do CP: § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto. “Entendo que, se a CF/1988 menciona que a lei regulará a individualização da pena, é natural que ela exista. Do mesmo modo, os critérios para a fixação do regime prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. Deixo consignado, já de início, que tais circunstâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação das condições subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33 c/c o art. 59 do CP/1940. A progressão http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=5201890&numeroProcesso=1052700&classeProcesso=ARE&numeroTema=972 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art33 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art33 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm de regime, ademais, quando se cuida de crime hediondo ou equiparado, também se dá em lapso temporal mais dilatado (Lei 8.072/1990, art. 2º, § 2º). (...) Feitas essas considerações, penso que deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos previstos no art. 33, § 2º, b, e 3º, do CP/1940, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fechado. Nessa conformidade, tendo em vista a declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990, na parte em que impõe a obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento da pena aos condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados, concedo a ordem para alterar o regime inicial de cumprimento das reprimendas impostas ao paciente para o semiaberto.” [HC 111.840, voto do rel. min. Dias Toffoli, P, j. 27-6-2012, DJE 249 de 17-12-2013.] PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE Responsabilidade pessoal ou intranscendência: XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; A pena de multa, apesar de ser considerada dívida de valor, não deixa de ser pena e não passa aos herdeiros. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5049490 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5049490 A multa não pode ser exigida de ninguém além do condenado, mas pode ser quitada por qualquer pessoa, se essa desejar. O efeito extrapenal de ressarcimento de danos, passa aos sucessores nos limites da herança. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE “Nullum crimen sine culpa” A culpabilidade trata do juízo de reprovabilidade da conduta. “reprova-se o agente por ter optado de tal modo que, sendo-lhe possível atuar em conformidade com o direito, haja preferido agir contrariamente ao exigido pela lei.” (REALE JUNIOR apud GRECO, 2017, p.169) Elemento subjetivo do tipo penal - a responsabilidade será sempre subjetiva, assim, é imprescindível o dolo ou a culpa na conduta do agente. “Se não houve dolo ou culpa, é sinal de que não houve conduta; se não houve conduta, não se pode falar em fato típico; e não existindo o fato típico, como consequência lógica, não haverá crime.”(GRECO, 2017, p.171) Assim, pode-se entender a culpabilidade em três sentidos: I. Princípio que impede a responsabilidade objetiva - só há conduta se houver dolo ou culpa. Dolo - consciência e vontade. Culpa - Conduta voluntária, resultado previsível mas não querido, ou seja, violação de um dever de cuidado (Imprudência, negligência ou imperícia). Ex. Não se pune o motorista que conduzindo veículo em velocidade compatível com o local, e em sua mão de direção, acaba atropelando pedestre que surge subitamente à frente do automóvel. II. Elemento integrante do conceito analítico de crime - Após a análise do tipo penal e da ilicitude, a terceira fase determina a possibilidade de censura sobre o fato ou não. Ex. Coação moral irresistível - Gerente de banco que furta o estabelecimento em que trabalha por ordem do sequestrador de seu filho. III. Princípio medidor da pena - na aplicação da pena o julgador faz um juízo de censura da conduta para aplicar a pena-base como manda o art. 59 do CP: “Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.” PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO “BIS IN IDEM” Previsto no Estatuto de Roma Art. 20. Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Processual - ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato. Material - ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato. Execucional - ninguém pode ser executado duas vezes pelo mesmo fato. Princípio possui exceções, previstas no próprio Estatuto de Roma, no caso de subtração de competência do Tribunal Penal Internacional. No Código Penal, o art. 8º, autoriza novo julgamento e condenação pelo mesmo fato, nos casos de extraterritorialidade da lei penal brasileira. Ex. Na aplicação da pena, um antecedente criminal, ele somente pode ser considerado uma vez: ou como agravante da reincidência ou como circunstância judicial desfavorável do art. 59 do CP. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA princípio da não culpabilidade Art. 5º, LVII: “Ninguém será consideradoculpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” Declaração dos Direitos Humanos, da ONU, em 1948: “toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa” (art. 11). Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1971. Pacto de São José da Costa Rica, que estabeleceu, em seu art. 8º, I, o Princípio da Presunção de Inocência: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”. Princípio da proibição do retrocesso. Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969, artigo 29: “Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de: a. permitir a qualquer dos Estados Partes, grupo ou pessoa, suprimir o gozo e exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista; b. limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos de acordo com as leis de qualquer dos Estados Partes ou de acordo com outra convenção em que seja parte um dos referidos Estados;” Art. 5º, § 2º, da CF/88: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.” “A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. — O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. — A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v. g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar — mediante supressão total ou parcial — os direitos sociais já concretizados” (ARE-639337 — Rel. Min. Celso de Mello). Em 17 de fevereiro de 2009, por sete votos a quatro, o Supremo Tribunal Federal decidiu que um acusado só pode ser preso depois de sentença condenatória transitada em julgado (HC 84.078). No dia 17 de fevereiro de 2016, HC 126.292, por 7x4, com composição diversa, o plenário alterou a jurisprudência afirmando ser possível a prisão após 2ª instância. Em 07 de novembro de 2019, por 6x5, o STF novamente exige o trânsito em julgado para início da execução da pena. Funções do Princípio: “(a) limitação à atividade legislativa; (b) critério condicionador das interpretações das normas vigentes; (c) critério de tratamento extraprocessual em todos os seus aspectos (inocente); (d) obrigatoriedade de o ônus da prova da prática de um fato delituoso ser sempre do acusador. (ADC 43 / DF, voto ministro Alexandre de Moraes, 2019) “As exigências decorrentes da previsão constitucional do princípio da presunção de inocência não são desrespeitadas mediante a possibilidade de execução provisória da pena privativa de liberdade, quando a decisão condenatória observar todos os demais princípios constitucionais interligados, ou seja, quando o juízo de culpabilidade do acusado tiver sido firmado com absoluta independência pelo juízo natural, a partir da valoração de provas obtidas mediante o devido processo legal, contraditório e ampla defesa em dupla instância e a condenação criminal tiver sido imposta, em decisão colegiada, devidamente motivada, de Tribunal de 2º grau, com o consequente esgotamento legal da possibilidade recursal de cognição plena e da análise fática, probatória e jurídica integral em respeito ao princípio da tutela penal efetiva.”(ADC 43 / DF, voto ministro Alexandre de Moraes, 2019)
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