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Teoria Geral do Direito Penal : Características e princípios Conceit� � característica� ● Direito penal X direito criminal: Direito “Penal”, mira nas consequências (a pena); já o Direito “Criminal”, mira na causa (no crime) ● Conjunto de leis que traduzem normas que pretendem tutelar bens jurídicos cuja violação se chama “infração penal” e tem como consequência uma coerção jurídica particularmente grave – “sanção penal”. ● Só ele pode privar o indivíduo da liberdade de locomoção (direito de ir, vir e ficar). Por mais que o Direito Civil possua excepcional medida coercitiva da prisão do devedor de pensão alimentícia, é uma providência de curta duração, enquanto o Direito Penal se vale da prisão, notadamente nos delitos mais graves. ● É um direito positivo: existência e coercibilidade através de normas escritas ditadas pelo Estado ● É um direito público: particular só detém excepcionalmente o persecutio criminis ("Persecução criminal" que é a perseguição criminal, a ação para a prisão do criminoso) e nunca o jus puniendi ("Direito de Punir", que é privativo do Estado, sendo vedado fazer justiça com as próprias mãos) ● É um direito valorativo: escala (de valores/ pena) varia de acordo com o fato/crime Objetiv�� ● Prevenção geral: retribuição (mecanismo inconsciente, reprimir tendências, privar-se) quando pune alguém, a ideia é que sirva de prevenção para a população em geral ● Prevenção especial: reeducação e ressocialização, incide sobre o próprio indivíduo que está sendo punido Históri� d� Direit� Pena� 1. Pré-histórico ou primitivo ➞ Direito Penal antes do surgimento da escrita, as regras eram transmitidas oralmente e conservadas pela tradição; ➞ Os direitos eram muito numerosos, com costumes distintos em cada agrupamento social (clã, tribo ou etnia) ➞ O direito encontrava-se maciçamente impregnado de religião (vingança divina: temor religioso ou mágico, lei de origem divina e, como tal, sua violação consistia numa ofensa aos deuses, punia-se o infrator para desagravar a divindade, bem como para purgar o seu grupo das impurezas do crime) ➞ Princípio da proporcionalidade: vingança entre grupos: extinção das tribos, surge a lei do talião (talis = tal qual) “pagará a vida com a vida; mão com mão, pé por pé, olho por olho, queimadura por queimadura” 2. Idade Antiga ➞ vingança pública: Estado tem o poder-dever de manter a ordem e a segurança social, conferindo aos seus agentes a autoridade punir em nome dos súditos ➞ Roma: magistrados poder discricionário e limitado pela apelação ao povo, “o que os sufrágios do povo ordenaram em último lugar, essa é a lei”. 3. Idade Média ➞ DP Canônico: procedimento de inquisição, pena para cura. ➞ contribuição para disciplina da repressão, combate à vingança privada ➞ surgimento da prisão moderna, penitência (pelo sofrimento e solidão a alma do homem se depura e purga o pecado) ➞ a autoridade se isenta de responsabilidade pela lei e pela aplicação concreta (ordálias ou provas de Deus: saco, escolha entre a cruz e a espada, azeite fervente, brasa, “positivismo”) 4. Idade Moderna ➞ Humanização das penas (iluminismo) ➞ Dos delitos e das penas (1764 – Beccaria): fim do absolutismo, atos de punição cruéis e arbitrários. ➞ Pacto social de Rousseau, criminoso adversário da sociedade, pena perde caráter religioso, predominando a razão ➞ “Os gritos de horror da tortura não retiram a realidade do crime” 5. Brasil Colônia ➞ Morte para a maioria dos delitos: cruel (lentamente, suplícios), atroz (confisco de bens, queima do cadáver), simples (degolação ou enforcamento) e civil (direitos de cidadania). ➞ Penas vis: açoite, corte de membro, galés ou trabalhos públicos ➞ Pena arbitrária: a pena fica ao talante do julgador, como “lhe bem, e direito parecer, segundo a qualidade da malícia e a prova, que dela houver” 6. Brasil Império ➞ Constituição de 1824: art.179 ➞ Código Criminal do Império (1830): aboliu a tortura, a pena de galés, trabalhos forçados, banimento, marca de ferro quente, açoites. ➞ Princípio da personalidade, Sistema do dia- multa (dívida que alguns ex-presidiários devem pagar ao estado, os valores são destinados ao Fundo Penitenciário), penas fixas e de caráter retributivo (preventivo) Fonte� d� DP 1. Fonte de produção (material ou substancial) ➞ sujeito que dita ou do qual emanam as normas jurídicas ➞ União (art.22, I/CF): cabe a ela legislar privativamente sobre as normas do direito penal ➞ Estados membros: LC pode autorizar os Estados a legislar em questões específicas 2. Fonte de conhecimento (formais ou cognitivas): ➞ modo ou meio pelo qual se manifesta a vontade jurídica, a forma como o direito objetivo se exterioriza na vida social ➞ imediata: Lei (art.5°, XXXIX/CF). Estão fora decretos, resoluções, portarias ou MPs ➞ mediatas ou secundárias: podem influenciar e auxiliar mais ou menos na sanção e modificação das leis ➔ ex: costumes, princípios gerais do direito (normas fundamentais que inspiram a elaboração e preservação do ordenamento jurídico), atos administrativos (complementam leis penais em branco.), jurisprudência e doutrina Princípi�� ● valores fundamentais que inspiram a criação e manutenção do sistema jurídico, servindo de critério para sua compreensão e definindo a lógica e a racionalidade do sistema normativo 1. Princípio Reserva legal ou estrita legalidade (lei em sentido material e formal) ➞ Magna Carta de João sem Terra, 1215 foi quem trouxe esse princípio, onde o rei devia julgar os indivíduos conforme a lei, seguindo o devido processo legal, e não segundo a sua vontade, até então absoluta. ➞ legalidade: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (lei em sentido geral) não basta para o direito penal, ele trabalha com a legalidade estrita ➞ estrita legalidade: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” 1° CP ➞ Reserva legal: só a lei, em sentido estrito pode dizer o que é crime (uma portaria ou uma MP não pode legislar sobre matéria penal art.62, I, “b”/CF), salvo para beneficiar o réu, apenas LC ou LO. ➞ Normas em branco: normas que precisam de complemento para ficarem completas, divididas em homogêneas (a lei vai buscar o conceito que está faltando no mesmo diploma legal, ex do 237/CP que não especifica o que é impedimento legal para o casamento, então é necessário ir até o CC, que é da mesma espécie de lei aprovada pelo CN que o CP) e heterogêneas (busca o conceito em outro dispositivo legal, ex: art.28 do uso de drogas, não determina o que é droga, quem o faz é uma portaria da ANVISA, que é subordinada a o ministério da saúde) ➞ Esse princípio proíbe: a retroatividade da lei penal (aplicação de uma lei para fatos anteriores à sua vigência); criação de crimes e penas pelos costumes; emprego da analogia para criar crimes ou agravar penas (lei tem que ser impressa): e incriminações vagas e indeterminadas 2. Anterioridade ou irretroatividade ➞ a lei somente será aplicável a fatos praticados depois de sua entrada em vigor ➞ Está escrito no art.5°, XXXIX/CF e art.1o/CP ➞ vacatio legis: prazo legal que uma lei tem pra entrar em vigor, ou seja, de sua publicação até o início de sua vigência ➞ tempus regit actum (o tempo rege a forma como o ato deve ser praticado). Nos termos do art. 2º do CPP, “a lei processual penal aplicar -se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. ➞ retroatividade da lei benigna, art.5o, XL/CF: estupro e atentado violento ao pudor, Lei 12.015/09 (HC 116904/STF) ➞ REsp 1.894.560 e REsp 1.851.174: não se aplica ao entendimento jurisprudencial, só o que retroage é quando é lei (prospective overruling) 3. Intervenção mínima ou da necessidade (bens fundamentais) ➞ DP só deve se preocupar com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade ➞ somente é legítima a intervenção penal apenas quando a criminalização de um fato se constitui meio indispensável para a proteção de determinado bem ou interesse que não pode ser tutelado de maneira eficaz por outrosramos do direito 4. Fragmentariedade ➞ defende a intervenção mínima na criação de tipos penais (âmbito abstrato), se relaciona a um bem que ainda será criado ➞ nem todos os ilícitos configuram infrações penais mas apenas os que atentam contra valores fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade 5. Subsidiariedade ➞ defende a intervenção mínima no âmbito concreto, já existe um tipo penal ➞ direito penal como ultima ratio: o DP só deve ser aplicado quando outros meios estatais de proteção mais brandos e menos invasivos da liberdade não forem suficientes ➞ âmbito concreto: o crime existe mas o tipo não pode ser utilizado (ex: HC 521.622/STJ: aproximação do agressor com consentimento da vítima) 6. Ofensividade, lesividade ou alteridade (comprovada a lesividade) ➞ não há infração quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem jurídico. ➞ proíbe a incriminação de: ★ atitude interna: meros atos preparatórios ou intenção ★ conduta que não exceda o âmbito do próprio autor: autolesão e consumo de drogas, despenalização x descriminalização, proibida prisão em flagrante (art.48, §2o da Lei 11.343/06; RE 430.105) e porte para consumo próprio (RE 635.659) ★ simples estados ou condições existenciais: contravenção de vadiagem, art.25/LCP, RE 583523) 7. Imputação pessoal, culpabilidade ou responsabilidade penal subjetiva ➞ Não existe responsabilidade objetiva no DP, só subjetiva, ou seja nenhum resultado penalmente relevante pode ser atribuído a quem não o tenha produzido por dolo ou culpa ➞ nulla poena sine culpa: se não há culpa, não há pena ➞ Só cabe atribuir responsabilidade penal pela prática de um fato típico e antijurídico sobre o qual recai o juízo de culpabilidade (imputabilidade, potencial conhecimento da ilicitude, inexigibilidade de conduta diversa) ➞ A expressão “culpabilidade” pode ser: ★ Elemento constitutivo do crime (fundamento da pena); ★ Critério de mediação da pena (limite da pena); ★ Negação da responsabilidade objetiva. 8. Adequação social ➞ não se pode considerar criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afronta o sentimento social de Justiça. ➞ as condutas que são consideradas socialmente adequadas não se revestem de tipicidade ➞ ex. trote, adultério e circuncisão 9. Proporcionalidade ➞ juízo de ponderação entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que pode alguém ser privado (gravidade da pena) ➞ Princípio da vedação do excesso: impede o expansionismo e abolicionismo penal ➞ abstrato (cominação legal) e concreto (cominação das penas) ➞ HC 239.363/STJ: falsificação de medicamentos 10. Insignificância ou criminalidade de bagatela ➞ o direito penal não deve se ocupar de assuntos irrelevantes incapazes de lesar o bem jurídico. ➞ Funciona como causa de exclusão da tipicidade: nas condutas que afetam o bem jurídico de forma insignificante exclui-se ou afasta-se a tipicidade penal. ➞ Sua aplicação resulta na absolvição do réu (ex: se alguém furtar um bombom, isso lesiona a propriedade de outra pessoa, mas ele tem um valor tão pequeno e essa lesão é tão insignificante que não precisa aplicação do DP) ➞ Não é aplicado quando o agente é reincidente, mesmo a conduta tendo afetado o bem jurídico de forma insignificante ➞ Critérios objetivos do STF sobre a aplicabilidade desse princípio: ★ mínima ofensividade da conduta ★ ausência de periculosidade social da ação: emprego de violência ou grave ameaça ★ reduzido grau de reprovabilidade do comportamento ★ inexpressividade da lesão jurídica: sob a perspectiva da vítima, moral administrativa: indisponibilidade do interesse público ➞ Crimes contra a Administração Pública ★ Súmula 599 do STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública ★ Crimes contra a Ordem Tributária: Atualmente o limite para observância do princípio da insignificância nos crimes tributários é de R$ 20.000,00 ★ Crimes contra a fé pública: Em entendimento atual, o STF e o STJ não têm reconhecido a insignificância em crime de moeda falsa ou mesmo falsificação de documento público ★ O princípio da insignificância não se aplica aos crimes de apropriação indébita previdenciária (art. 168- A/CP) e de sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A/CP) (RvCr n. 4.881/STJ) 11. Princípio do ne bis in idem ➞ não se admite a dupla punição pelo mesmo fato ➞ Esse princípio não impede que o agente seja responsabilizado por instâncias distintas (áreas diferentes do direito, penal, cível etc) Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (para parte da doutrina, é uma exceção ao princípio do bis in idem) 7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país. (Pacto internacional) 12. Princípio da personalidade ou intranscendência ➞ Ninguém pode ser responsabilizado por fato cometido por terceira pessoa, por isso qualquer que seja a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio e à pessoa do condenado (art.5o, XLV/CF) ➞ A exceção é o uso do patrimônio transferido em herança para quitar obrigação de decretação de perdimento de bens e de reparação de danos. O objetivo é descontar os valores do patrimônio do falecido, de modo que os herdeiros não sejam obrigados por indenizações e penas além do que for transferido 13. Princípio da humanidade das penas ➞ decorre da dignidade da pessoa humana: art.1°, III/CF ➞ veda a criação de tipos ou cominação de penas que violem a incolumidade física o moral de alguém, como penas cruais, trabalhos forçados e banimento (art.5°, XLVII/CF) ➞ A única exeção é a pena de morte em caso de guerra declarada 14. Princípio da Individualização da Pena ➞ veda a padronização das penas nas fases legislativa, judicial e executória ➞ As penas devem ser proporcionais à conduta do agente. Logo, se os crimes são diferentes entre si, não pode haver aplicação de penas genéricas, mas apenas as devidamente individualizadas, conforme exigência da norma do art. 5º, inciso XLVI, da CRFB XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; ➞ Onde ocorre: ★ na previsão do crime: diz respeito aos preceitos de sanção ★ na aplicação da pena: observa-se qual o limite da culpabilidade do delito ★ na execução da pena: possibilidade de mudar a pena de acordo com o delito
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