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Vanessa Martins Giroto CARTA ROGATÓRIA E AUXÍLIO DIRETO: MEIOS DE COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL DO BRASIL Uberlândia, 05 de Agosto de 2021 Resenha resumo apresentada na disciplina de Processo Civil I no curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, para avaliação de nota no semestre 2020-2. Professora: Alice Ribeiro de Sousa Carta Rogatória e Auxílio Direto: meios de cooperação jurídica internacional do Brasil Brasil. Ministério Público Federal. Secretaria de Cooperação Internacional. Temas de Cooperação Intercional. 2. ed., rev. e atual – Brasília: MPF, 2016. 284 p. – (Coleção MPF Internacional; 2). A obra – Esta revista, publicada em 2016 pelo Ministério Público Federal, traz em seus capítulos temas gerais de cooperação jurídica internacional e a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ela é composta por sete partes num total de 284 páginas. O autor – O livro em questão não foi escrito por um autor específico, mas sim, pelos colaboradores do Ministério Público Federal – MPF. Essa entidade permanente é essencial para a função jurisdicional do Estado Brasileiro, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais. O chefe dessa instituição é o Procurador-Geral da República e junto com o Ministério Público da União e os Ministérios Públicos Estaduais formam o Ministério Público do Brasil. O MPF possui autonomia na estrutura do Estado e tem garantia constitucional. A obra em questão foi produzida pela Secretaria de Cooperação Internacional (SCI), departamento que tem como função facilitar o acesso das autoridades estrangeiras a informações de prazos e procedimentos jurídicos específicos em cada país, buscando soluções para as mais diversas questões jurídicas. Resumo – O artigo faz uma análise da coexistência entre Carta Rogatória e o Auxílio Direto dentro da Assistência Jurídica Internacional. O objetivo do texto é mostrar as diferenças, a convivência e os atritos desses instrumentos de institutos, contudo, também pretende mostrar que ambos visam facilitar o acesso a justiça através de mecanismos entre as jurisdições dos Estados para solicitar e realizar os diversos tipos de atos processuais. A assistência jurídica internacional nasceu da necessidade e da desconfiança, pois, o Brasil, notou a urgência de colaborar com Estados estrangeiros em matéria penal, visto que o crime não obedece as fronteiras políticas; e desconfiança devido a execução de atos de jurisdição em território nacional pode ofender a soberania do país. Ao mencionar o Brasil, o artigo já traz no texto dois instrumentos que concretizam a assistência jurídica internacional nos pais, quais são: a carta rogatória e o auxílio direto. A carta rogatória é o veículo pelo qual se pede que outra jurisdição atue em cumprimento ao ato referente, visando o bom desenvolvimento do processo. Para entender a as peculiaridades desse instrumento, é necessário conhecer seus aspectos históricos, a qual só foi regulada em 1894, através da Lei nº 221. No parágrafo 4º do art. 12 da Lei nº 221/1894, as cartas rogatórias emanadas de Estado estrangeiro somente seriam cumpridas após o “cumpra-se” que deveria ser dado pelo Governo Federal. Esse “cumpra-se”, também chamado de exequatur, se referia a um juízo de admissibilidade do pedido estrangeiro sem maiores parâmetros, já que a cooperação internacional naquele período era regida unicamente pela cortesia internacional. Tal questão valia somente para as cartas rogatórias passivas, já que as cartas ativas eram expedidas pelo próprio Poder Judiciário. O artigo cita o autor Madruga Filho para explicar que a exclusão das diligências “executórias” de cartas rogatórias passivas faz sentido, pois, devem depender de decisão judicial e o “cumpra-se”, nesse procedimento, tinha somente conotação administrativa, sendo competência do Governo Federal e não do Judiciário como necessário. Em 1934 o regime das cartas rogatórias passivas foi alterado a partir da nova Constituição e, por isso, a competência para o exequatur foi retirada do Poder Executivo e transmitida para o Poder Judiciário, o que é mantido até os dias atuais. Outra alteração pertinente nas cartas rogatórias foi com a Emenda Constitucional nº 45 de 2004, onde o Supremo Tribunal Federal – STF deixou de ter competência para apreciar o exequatur. Quem passou a ser responsável para tal foi o Superior Tribunal de Justiça – STF. No que tange tais definições com relação à assistência jurídica internacional e carta rogatória, o texto menciona que o primeiro tratado internacional ratificado pelo Brasil foi o Protocolo de Cooperação Interjurisdicional Cível e Administrativa do Mercosul, o chamado Protocolo de Las Leñas. Logo após esse tratado, foi autorizado que a carta rogatória pudesse conter homologação e execução de sentenças proferidas pelos órgãos judiciários dos países que compõem o bloco do Mercosul. Sobre o exequatur, ele tem como objetivo a centralização do cumprimento de solicitações de Estados estrangeiros na cúpula dos Poderes em um Estado continental como o Brasil, para que, assim, seja possível evitar o descontrole e parâmetros diversificados. O artigo menciona que apesar da crescente tecnologia e informatização, além da necessidade de acelerar os ritos processuais, não há expectativa de alterar o modelo já criado, visto que ele está previsto na Constituição e, por isso, exige alteração de texto constitucional, o que demanda votação e aprovação parlamentar de três quintos de cada casa do Congresso Nacional. Após as tratativas sobre carta rogatória, o texto começa a descrever sobre o auxílio direto. Este instrumento que, assim como a carta rogatória, também veicula pedidos de assistência jurídica internacional, desde o ano de 1990. Esse veículo consiste na “colaboração internacional penal através do qual é feito o encaminhamento do pedido realizado de um ato judicial que se faz necessário para a instrução de um procedimento penal em curso no Estado requerente”, de acordo com a definição da Procuradoria-Geral da República. Esse instrumento é previsto em vários tratados bilaterais de cooperação jurídica internacional em matéria penal, como também em tratados multilaterais que tem como objetivo os temas de cooperação jurídica internacional, como a Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria Penal, a Convenção de Parlermo e vários outros. Diferente da carta rogatória, no auxilio direto o pedido é recebido pela autoridade central brasileira e encaminhado ao órgão interno incumbido dos poderes para realização da diligência. Caso haja necessidade de autorização judicial, a autoridade enviará o pleito ao Ministério Público Federal e, este, irá propor ação judicial solicitando atendimento ao pedido. O texto menciona 5 características básicas da assistência jurídica veiculada no auxilio direto, quais são: 1 – É um ato que se trata de demanda internacional da parte de outro Estado e da alçada do Poder Executivo brasileiro na gestão das relações internacionais; 2 – Enquanto na carta rogatória a concessão do “cumpra-se” se dá no que diz respeito aos requisitos formais e ao conteúdo do pleito cooperacional, no auxilio direto o pleito do Estado estrangeiro é verificado quanto ao mérito. Ou seja, no auxilio direto busca-se produzir uma decisão judicial doméstica e, diferente da carta rogatória, não se sujeita ao juízo de deliberação; 3 – É um procedimento nacional iniciado por solicitação de Estado estrangeiro para que, caso seja necessária uma ordem judicial, um juiz nacional conheça seu pedido e seja iniciado uma demanda interna, através do órgão competente, que na área criminal é o Ministério Público Federal; 4 – O Poder Executivo desempenha papel de destaque, pois cabe a ele a qualidade de autoridadecentral, para encaminhar ou não o pedido de cooperação aos órgãos internos, bem como escolher o órgão com atribuição para tanto; 5 – A última característica é que o auxilio direto consiste ser uma Lex specialis, pois estabelece veiculo especifico para o pedido de assistência jurídica internacional, distinto do veiculo tradicional da carta rogatória. A partir dessas características, o artigo mostra, também, que o auxilio direto cível, baseado no anteprojeto do Código de Processo Civil, em seus artigos 27 e 30, diferencia-se da carta rogatória justamente por não decorrer de cumprimento de autoridade estrangeira epor ser integralmente submetido à autoridade judiciária brasileira. Após definir carta rogatória e auxílio direto, bem como suas características e maneiras atuarem, o texto traz jurisprudências sobre os instrumentos de cooperação, visto que à atritos na convivência de ambos os institutos, considerando que é sutil a diferença entre auxilio direto e carta rogatória. O STJ sinalizou após a Emenda Constitucional nº 45, que aceitaria o auxilio direto passivo através do art. 7º, parágrafo único, da Resolução nº 9 de 2005. Deste modo, os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não ensejem juízo de deliberação pelo STJ, ainda que chamados de carta rogatória, serão encaminhados ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao se cumprir um auxilio direto. Ou seja, se existir decisão processual no pleito de cooperação, é necessário verificar a forma de encaminhamento. Contudo, em 2005, o caso Pitta contestou tais procedimentos e decisão. O caso envolveu a acusação de lavagem de ativos de um empresário do futebol em contas-correntes da Suíça, onde, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região - TRF acatou o pedido da jurisdição da Suíça para inquirição de testemunhas e cópia de documentos da investigação que estava em andamento no Brasil. O réu, ao contrário, pediu a suspensão desses atos, pois sustentou STJ que estaria ocorrendo “usurpação de competência constitucional”, vês que tais pedidos só poderiam ser atendidos mediante carta rogatória passiva. O Ministro Sálvio Teixeira do STJ, em liminar, acolheu o pedido do réu e reconheceu a violação do artigo que trata da competência do STJ de conceder exequatur à carta rogatória, previsto no art. 105, inciso I, da Constituição Federal. O Ministério Público Federal – MPF recorreu à Corte Especial do STJ que deu provimento ao agravo interposto para proclamar a legitimidade da atuação do TRF, independentemente da carta rogatória. Para Edson Vidigal, relator do agravo, esperar que a inquirição de testemunhas e documentos sejam conseguidos através de carta rogatória é o mesmo que desconsiderar o tratado de cooperação. Ainda, de acordo com o Ministro, o acordo de cooperação jurídica visa a troca de informações para auxilio mutuo no combate à lavagem de dinheiro. Contudo, essa última decisão foi suspensa pelo STF e teve força de decisão liminar concedida pelo Ministro Marco Aurélio. O Supremo entendeu que a pratica de atos decorrentes de pronunciamento de autoridade judicial estrangeira, em território nacional, objetivando o combate ao crime, pressupõe carta rogatória a ser submetida, não cabendo potencializar a cooperação internacional a ponto de colocar em segundo plano as formalidades essenciais. Deste modo, no caso Alexeevitch, que envolvia investigação sobre a máfia russa, o STJ impediu o auxílio direto, considerando que a única via admissível para solicitação de diligência proveniente do exterior é a carta rogatória. Porém, não houve nenhuma consideração sobre a possibilidade de se distinguir os casos em que a assistência jurídica internacional penal solicitada deve obter exequatur e quais que tal crivo é dispensável. Para concluir, o texto sugere que para entender a convivência entre os dois institutos é necessário que a analise se volte para a verificação de ser ou não ser possível a existência de dois ou mais veículos incidindo sobre determinado pedido cooperacional. No entendimento dos autores, a utilização dos instrumentos para tentar compreender a cooperação penal pode transmitir a ideia de que tais instrumentos são fins em si mesmos, quando, na realidade, devem assegurar comunicação eficiente e justa entre Estados. Ou seja, os veículos podem conter diversos conteúdos de prestação cooperacional, a depender do tratado ou da prática costumeira. Além disso, a Constituição faz menção a esses instrumentos e não os listou de modo exaustivo, sequer proibiu o desenvolvimento e criação de outros. Portanto, conclui-se que não é inconstitucional a veiculação de pedido de assistência judiciária em instrumento diferente da carta rogatória, podendo, assim, ser possível a utilização do auxílio direto, bem como a adoção de novos institutos de cooperação, visando o acesso à justiça e a igualdade da aplicação da lei na globalização mundial.
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