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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 1 1. Funções do fígado O fígado é a maior víscera do corpo humano, desempenhando grande número de funções vitais à saúde do organismo. A compreensão da fisiologia hepática é fundamental para a análise dos processos patológicos que acometem o órgão. A secreção de bile é a principal função digestiva do fígado, além disso, o fígado é essencial na regulação do metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios, no armazenamento de substâncias e na degradação e excreção de hormônios. Outras funções incluem a transformação e excreção de drogas, a hemostasia e o auxílio à esposta imune. Nessa apresentação, abordaremos as principais funções do fígado no controle e na regulação da homeostasia. http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/305/296 O fígado é notadamente um dos órgãos mais importantes do corpo, sendo ele de vital importância para o bom funcionamento do organismo (GUYTON, 1997). Também segundo ele o fígado é a maior víscera do corpo humano, sendo responsável pela produção e metabolismo de várias substâncias. O fígado atua de forma direta no armazenamento e degradação de substancias, hormônios e participa da síntese e secreção de sais biliares, além de promover a regulação dos carboidratos, proteínas e lipídeos. Segundo Guyton (1997), o fígado tem funções básicas que podem ser divididas em: - Funções vasculares para armazenamento e filtração do sangue, - Funções metabólicas relacionadas à maioria dos sistemas do organismo, - Funções secretoras e excretoras, responsáveis pela formação da bile. https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp- content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf O fígado é o maior órgão do corpo humano representando 2,5 a 4,5% da massa corporal total com um peso médio de 1500g. É um orgão muito complexo que realiza várias funções vitais, muitas das quais ainda não passíveis de ser substituídas pelas mais modernas tecnologias terapêuticas. Está estrategicamente situado no sistema circulatório recebendo um suprimento sanguíneo duplo: cerca de 20% do seu fluxo é rico em O2 e provém da artéria hepática, enquanto o restante 80% é rico em nutrientes e provém da veia porta. Esta particularidade permite ao fígado controlar as substâncias que são absorvidas em todo o intestino e determinar quais delas vão entrar, e como vão entrar, na circulação sistémica. Os hepatócitos são as células mais importantes do fígado constituindo cerca de 2/3 da sua massa. Entre os cordões de hepatócitos estão os sinusóides vasculares revestidos por células endoteliais fenestradas e descontínuas que demarcam o espaço de Disse, para dentro do qual se projectam abundantes microvilosidades da membrana basolateral do hepatócito que está assim em contacto directo com o sangue arterial e venoso portal. A membrana apical dos hepatócitos, com diferentes canais e transportadores em relação à membrana basolateral, vai ser a responsável pela formação dos canalículos biliares através da formação de sulcos entre hepatócitos adjacentes. Estes canalículos biliares que se fundem para formarem dúctulos biliares (ou canais de Hering) e depois a nível das zonas http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/305/296 https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 2 portais ductos biliares, já revestidos por células epiteliais ou colangiócitos, permitem a excreção de bile. Para além dos hepatócitos, das células endoteliais fenestradas e dos componentes biliares, existem outros tipos de células no espaço de Disse, nomeadamente as células de Kupffer (maior acúmulo de macrófagos em todo o corpo, responsáveis pela fagocitose de diversas substâncias) e as células de Ito ou estreladas (reserva de substâncias lipídicas e papel na fibrose hepática patológica), para além de várias estruturas de suporte. De um ponto de vista histológico o fígado parece estar organizado em lóbulos (ver fig.2) com as áreas portais na periferia e as veias centrais no centro de cada lóbulo. No entanto de um ponto de vista fisiológico/funcional, o fígado está organizado em ácinos com o fluxo sanguíneo quer portal, quer arterial a entrar nos ácinos pelas áreas portais/periportais. Os hepatócitos destas áreas constituem a zona 1 dos ácinos, sendo esta a zona mais irrigada e oxigenada, o que faz com que estes hepatócitos sejam mais resistentes a um compromisso circulatório, tenham maior capacidade de regeneração, possuindo também um maior número de enzimas para realização do metabolismo oxidativo. Os hepatócitos intermediários constituem a zona 2 dos ácinos e expressam um padrão enzimático misto entre os hepatócitos da zona 1 e 3. Finalmente os hepatócitos que se encontram adjacentes às veias centrais (pericentrais) constituem a zona 3 do ácino, sendo menos irrigados e portanto com menores concentrações de nutrientes e oxigénio razão pela qual expressam enzimas mais direcionadas para um metabolismo mais químico e menos aeróbio, sendo também mais susceptíveis à lesão e tendo uma menor capacidade regenerativa. A vantagem de ver o ácino como unidade fisiológica hepática é o facto deste ajudar a explicar vários padrões morfológicos de doença que não conseguem ser explicados pelo padrão lobular. http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 3 Funções hepáticas → O fígado recebe aproximadamente 25% do débito cardíaco total, o que lhe permite realizar numerosas funções vitais, essenciais à manutenção da homeostasia corporal. Destaca-se a regulação do metabolismo de diversos nutrientes, papel imunológico, síntese proteica e de outras moléculas, armazenamento de vitaminas e ferro, degradação hormonal e a inativação e excreção de drogas e toxinas. Metabolismo, conjugação e excreção de diversos compostos → O fígado metaboliza uma enorme variedade de compostos, não só endógenos (e.g. sais biliares, bilirrubina, hormonas) mas também exógenos (e.g. drogas e toxinas). O hepatócito lida com todas estas moléculas seguindo 3 passos fundamentais: (1) Captação de substâncias plasmáticas através de vários transportadores e canais existentes na sua membrana basolateral; (2) Processamento dessas substâncias o que inclui o transporte e modificação química intracelular através de numerosas enzimas e cofactores – este passo é essencial já que muitas das substâncias captadas pelos hepatócitos são lipofílicas e estas modificações tornam as substâncias mais hidrossolúveis permitindo a sua posterior excreção a nível renal ou pela bile; (3) Secreção de substâncias – esta secreção pode ser uma forma de excreção, isto é, secreção através da membrana apical para a bile, mas também pode ser uma secreção para o plasma sendo a substância reutilizada ou excretada por outras vias (e.g via renal). Apesar de alguns compostos serem completamente digeridos dentro dos lisossomas dos hepatócitos muitas outras substâncias sofrem uma série de reacções de biotransformação que geralmente ocorrem em 2 fases. As reacções de fase I representam reações de oxidação/redução (hidroxilação, desalogenação, dealquilação, etc) que têm como característica comum a todas a inserção de um átomo de oxigénio no substracto, transformando-o num composto mais polar. As principais enzimas envolvidas nestas reações de fase I são os citocromos P-450 que existem principalmente no retículo endoplasmático (RE) e tipicamente catalizam reações de hidroxilação. Como as reacções de fase I, apesar de essenciais, apenas conferem um aumento modesto na solubilidade, a maioria das substâncias,mas não todas, terá que sofrer reações da fase II. Nesta fase o hepatócito procede à conjugação dos metabolitos formados na fase I com compostos como o glucuronato, sulfato, glutationa, radicais metil e acetil entre outros, de maneira a produzir compostos mais hidrofílicos e/ou menos tóxicos que rapidamente são secretados no sangue ou na bile. Apesar do hepatócito usar várias reações de conjugação as 3 mais importantes são: (1) a conjugação com o glucuronato através das UGTs (uridine diphosphate glucuronosyl transferases) que existem principalmente no RE; (2) a conjugação com o sulfato, através das sulfotransferases; (3) a conjugação com a glutationa através das glutationa -S-transferases, estas 2 últimas enzimas a existirem principalmente no citosol. ❖ Síntese proteica → O fígado sintetiza quase todas as proteínas plasmáticas mais importantes entre as quais a albumina, transportadores de hormonas, factores da coagulação e fibrinolíticos, fibrinogénio, diversos factores de crescimento, globulinas, lipoproteínas, entre outras. É capaz também de sintetizar todos os aminoácidos não essenciais e outros peptídeos de menor tamanho dos quais se destaca a glutationa (um tripeptídeo). Cerca de 90% da glutationa plasmática tem origem no fígado sendo crítica na proteção contra o stress oxidativo em múltiplos órgãos. ❖ Regulação do metabolismo de nutrientes: Metabolismo energético e de carbohidratos → O fígado providencia energia aos outros tecidos fundamentalmente pela exportação de 2 substractos, a glicose e os corpos cetónicos. Estes últimos são uma importante fonte de energia providenciada pelo Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 4 fígado, principalmente em situações em que a utilização de glicose está comprometida como no jejum, ou em situações patológicas como a diabetes. O fígado tem um papel essencial em manter o nível plasmático de glicose mais ao menos constante e dentro da normalidade. Quando os níveis de glicose estão altos, o fígado capta a glicose através de um processo de difusão facilitada, um mecanismo independente da regulação pela insulina e que ocorre através do transportador GLUT-2 existente na membrana basolateral do hepatócito. Muita da glicose captada é convertida em glicogénio que funciona como reserva de glicose. Se os níveis estão baixos o glicogénio armazenado é convertido em glicose – glicogenólise - que por sua vez é libertada para o plasma através do mesmo GLUT-2. É também o sítio principal onde se procede à gliconeogénese, isto é, a conversão de aminoácidos, ou mesmo carbohidratos simples (lactato) em glicose. Metabolismo lipídico → Os lipídeos absorvidos deixam o intestino através do sistema linfático sob a forma de quilomicrons. Estes quando entram na corrente sanguínea sofrem a ação da lipoproteína lípase na superfície das células endoteliais libertando glicerol e ácidos gordos que são captados pelos adipócitos. A parte da molécula que resulta deste processo são os remanescentes dos quilomicrons que são captados e metabolizados a nível hepático. O receptor hepático responsável pela captação é o LRP (low-density lipoprotein (LDL)-receptor–related protein). O fígado também sintetiza e secreta VLDLs (very-low-density lipoproteins) a partir de lipídeos e colesterol absorvidos ou sintetizados de novo. Estas sofrem novamente a acção da lipoproteína lípase, que remove triglicerídeos da molécula, formando IDL (intermediate-density lipoprotein) e posteriormente LDL. Ambas podem ser removidas pelo fígado através dos LDL-R (LDL receptor). O colesterol é transportado dos tecidos para o fígado pelas HDL (high-density lipoprotein) onde é absorvido pela lípase hepática. No entanto, esse colesterol pode também ser reciclado a LDL ou VLDL pela CETP (cholesterol-ester transport protein). Estas lipoproteínas são a fonte principal de triglicerídeos e colesterol disponível para os outros tecidos. O fígado é assim o principal órgão responsável pela homeostasia do colesterol não só pela sua capacidade de sintetizar colesterol, através da enzima HMG-CoA reductase mas principalmente porque a conversão hepática de colesterol em ácidos biliares através da 7a-hidroxílase é a via mais importante de eliminação de colesterol. Metabolismo proteico → Quando as proteínas são degradadas libertam aminoácidos que, não podendo ser armazenados, ou são utilizados de forma imediata ou catabolizados formando amónia (NH3). Esta substância não é metabolizada pela maioria dos tecidos e é extremamente tóxica. A sua degradação ocorre principalmente no fígado através da sua conversão em ureia - ciclo da ureia. A ureia produzida pelo ciclo da ureia abandona o hepatócito para o plasma através da aquaporina 9, sendo posteriormente excretada a nível renal. Acredita-se que os transportadores dos hepatócitos para a captação de aminoácidos são muito semelhantes aos existentes nos enterócitos. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 5 Armazenamento de substâncias → O fígado armazena várias substâncias como as vitaminas A, D, E, K (lipossolúveis, principalmente armazenadas nas células de Ito), vitamina B12, ferro, ácido fólico, entre outras. Para algumas destas substâncias as reservas hepáticas permitem meses a anos de privação sem consequências clínicas evidenciáveis. Função endócrina → Apesar de o fígado não ser considerado um órgão do sistema endócrino tem a capacidade de converter importantes hormonas e vitaminas numa forma mais ativa. Destaca-se a hidroxilação inicial da vitamina D, a desiodinização da tiroxina (T4) em triiodotironina (T3) e a síntese de IGF-1 em resposta à hormona de crescimento produzida na hipófise. Para além disso, tem também um papel importante na degradação de diversas hormonas. Função Imunológica → As células de Kupffer hepáticas correspondem a cerca de 80- 90% da população fixa de macrófagos do sistema reticuloendotelial. Providenciam um importante mecanismo de filtro para a circulação sistémica não só por removerem do sangue partículas exógenas estranhas como bactérias, endotoxinas, parasitas, mas também partículas endógenas como os eritrócitos senescentes. ❖ Formação e secreção de bile → Função hepática mais importante no que se refere ao sistema digestivo. Para que o fígado possa captar substâncias do plasma através da sua membrana basolateral e posteriormente secretá-las na sua forma modificada para a bile através da membrana apical é necessário diversos transportadores membranares, muitos dos quais ainda não identificados. ❖ Bile → A Bile é uma secreção gastrointestinal essencial, que em termos gerais tem duas importantes funções: (1) Única via de excreção de vários solutos que não são excretados pelos rins; (2) Secreção de várias substâncias que são essenciais para a digestão e absorção lipídica. A sua formação ocorre em três passos sequenciais. Primeiro, os hepatócitos secretam activamente sais biliares, colesterol, fosfolípidos, pigmentos biliares e muitas outras substâncias para os canalículos biliares, para além de um fluído isotónico muito parecido com o plasma. A secreção desse fluído é em grande parte passiva e dependente da força osmótica das substâncias activamente secretadas pelo hepatócito, principalmente dos sais biliares, que vão atrair água e iões (solvent drag). Segundo, os ductos biliares não funcionam apenas como via de transporte da bile mas os seus colangiócitos também secretam um fluido aquoso Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 6 e rico em bicarbonato (cerca de 50% do conteúdo total da bile), secreção esta que é potenciada por diversas hormonas, principalmente a secretina mas também a CCK, VIP e glicagina. Estas hormonas aumentam os níveis de AMPc intracelular estimulando a abertura de canais de Cl- eo trocador Cl-HCO3 existentes na membrana apical do colangiócito (ver fig.5). A somatostatina por sua vez ao diminuir os níveis de AMPc tem um papel inibitório na secreção biliar. Este mecanismo de secreção é muito semelhante ao existente nas células ductais pancreáticas. Estes 2 primeiros passos produzem cerca de 900 ml/d da designada bile hepática. Em terceiro lugar, no intervalo entre as refeições, cerca de metade da bile secretada (~450 ml/d) é direccionada para a vesícula biliar que armaneza a bile e de forma isosmótica remove sais e água formando a designada bile vesicular. Quer a bile hepática quer a bile vesicular são secreções complexas e isosmóticas com o plasma. O efeito final é que devido à grande absorção de água e electrólitos que ocorre a nível do epitélio da vesícula biliar no período entre as refeições, a bile que atinge o intestino está muito mais concentrada (5 a 20 vezes mais) em sais biliares, colesterol e pigmentos biliares do que a secreção biliar primária. Na fig.6 podemos ver a estrutura da árvore biliar. http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf 2. Clínica da doença hepática São vários os sintomas e sinais típicos de doença hepática, os quais incluem icterícia, fadiga, náuseas, vómitos, mal estar geral, anorexia, prurido, dor no hipocôndrio direito, hepatomegalia, distensão abdominal, hemorragia intestinal, entre outros. Muitos destes sintomas são característicos, mas inespecíficos e, portanto, quanto maior o número de sintomas presentes maior a probabilidade de doença hepática. Existem outros sintomas e sinais clínicos típicos de doença hepática terminal e cirrose que serão abordados posteriormente. A icterícia é provavelmente dos sintomas mais específicos de doença hepática apesar de poder surgir no contexto de doença não hepática (ver estudo da função hepática). Este sinal clínico aparece como já vimos por aumento da bilirrubina plasmática e quando é consequência de doença hepática muitas vezes associa-se a colúria (urina escura) por aparecimento de bilirrubina conjugada na urina. Se a causa da doença hepática for uma obstrução das vias biliares a icterícia pode-se associar ainda a acolia (fezes de cor esbranquiçada por diminuição da quantidade de bilirrubina e consequentemente de menos estercobilinas nas fezes), prurido (refluxo dos ácidos biliares para o plasma com deposição nos tecidos) e esteatorreia (por menos ácidos biliares no intestino). A astenia/fadiga é o sintoma mais comum e mais característico de doença hepática, no entanto pode ser atribuível a muitas outras situações (e.g ansiedade, distúrbios do sono, insuficiência cardíaca e respiratória, cancro e múltiplas outras doenças). Quando é de etiologia hepática tipicamente surge após o exercício, é frequentemente intermitente e variável, e raramente de manhã ou após repouso. Náuseas e vómitos geralmente ocorrem só com doença hepática mais severa, frequentemente acompanhados por astenia e anorexia, podendo ser provocados por determinados odores ou alimentos ricos em gorduras. A diarreia é incomum no contexto de doença hepática exceto na patologia obstrutiva grave quando se acompanha de icterícia marcada, devendo-se a uma diminuição de sais biliares no intestino (esteatorreia). Dor no hipocôndrio direito, espontânea ou à palpação, ocorre em muitas doenças hepáticas, podendo-se associar a hepatomegalia e deve-se à distensão da cápsula de Glisson, muito rica em terminais nervosos. Uma dor muito severa é mais típica de doença da vesícula biliar (e.g cólica biliar, colecistite), mas ocasionalmente pode ocorrer numa doença hepática aguda. O prurido http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 7 também se pode associar a doença hepática sendo mais comum e precoce na patologia obstrutiva, e deve-se aos ácidos biliares não excretados que refluem para o plasma. http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf 3. Avaliação do fígado Enzimas que detectam lesão nos hepatócitos → As lesões nos hepatócitos são detectadas através da mensuração de enzimas séricas liberadas do rompimento celular hepático, fornecendo informações da extensão, magnitude e curso (aguda ou crônica) da lesão. ❖ ALT (alanina aminotransferase) → ALT no passado também foi denominada de transaminase glutâmico-pirúvica (GPT), é uma enzima encontrada livre no plasma dos hepatócitos, então no rompimento celular ela e liberada na corrente circulatória (THRALL et al., 2015). Esta enzima catalisa a reação de transaminação reversível de alanina e 2- cetoglutarato em piruvato e glutamato, e utiliza como cofator o piridoxal-fosfato. Os cães e gatos apresentam maiores concentrações desta enzima que as demais espécies, mas não necessariamente ela é uma enzima hepato-específica, pois também pode ser encontrada na massa muscular esquelética estriada e cardíaca, rins e eritrócitos. A enzima originaria destes tecidos não é capaz de induzir a um aumento de ALT muito maior que 3 vezes o valor normal. A concentração de ALT é baixa no citoplasma dos hepatócitos de equinos e ruminantes, não sendo desta forma uma prova confiável para estas espécies. Vários transtornos como exemplo, hipóxia, acúmulo de lipídeos hepáticos, doenças bacterianas e virais, inflamações, neoplasias hepáticas, endo e exotoxinas, bem como medicamentos podem induzir a lesão hetato-celular e a liberação ALT para a corrente circulatória dos cães e gatos. ALT é uma enzima que tem curso de elevação agudo, mas sua elevação é proporcional à lesão encontrada, tendo seu pico de liberação detectado de 3 a 4 dias após a lesão, mas com retorno basal em até 14 dias (GONZALEZ e SILVA, 2006). Segundo Thrall et al. (2015), ALT tem uma meia vida estimada de 17 a 60 horas em cães e de 3,5 horas em gatos. Em animais com lesões crônicas pode haver um discreto aumento desta enzima, o que pode ser quase imperceptível. ❖ AST (aspartato aminotranferase) → AST também chamada no passado de transaminase glutâmico-oxalacética (GOT), promove a catalisação de transaminação reversível de aspartato e 2-cetoglutarato em oxalacetato e glutamato, e tem como cofator piridoxal- fosfato (GONZALEZ e SILVA, 2006). É encontrada predominantemente no citosol e em menor quantidade nas mitocôndrias dos hepatócitos, e nas células musculares esqueléticas e cardíacas de todas as espécies domesticas. É considerada uma enzima de fase aguda, que nos cães tem uma meia-vida estimada de 4-12 horas, nos gatos de até 77 minutos e nos equinos e ruminantes pode permear por até 7 a 8 dias. Os valores de AST podem ser induzidos a alterações em várias doenças como exemplo, hipóxia, acumulo de lipídeos hepáticos, doenças bacterianas e virais, inflamações, neoplasias hepáticas, endo e exotoxinas, além de intoxicações medicamentosas. Seus níveis também podem estar elevados em exercício intenso e em deficiência de vitamina E e selênio, mas nestes casos também deve ser aferido CK (enzima especifica para desordem muscular) para fazer o diagnóstico diferencial de doenças musculares. Em cães e gatos o aumento de AST pode ser menos demarcado que o de ALT, porem se mantem em níveis basais por mais tempo, embora seja menos hepato-especifica que ALT pode ser sensível para algumas lesões hepáticas. Em equinos e ruminantes é a enzima de utilização mais corriqueira na clínica de grandes animais para a detecção de lesões hepáticas (THRALL et al., 2015). Seguindo o raciocínio do mesmo autor o único inconveniente do uso desta enzima em grandes animais é a sua inespecificidade, o que pode gerar a um falso positivo http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 8 por uma lesão muscular, mas que pode ser diferenciada através da dosagem de CK; da mesma forma que ALT, a AST também podeestar levemente alterado em doenças crônicas em todos os animais domésticos. ❖ SDH (sorbitol desidrogenase) → De acordo com o trabalho compilado por Gonzalez e Silva (2006), esta enzima catalisa a oxidação reversível de sorbitol para frutose, que se utiliza com cofator o NAD+, sendo uma enzima com exclusividade no citosol dos hepatócitos. Está presente em cães, gatos, equinos e ruminantes, em altas concentrações e em baixa nos demais tecidos, por isso pode ser definida como uma enzima hepato-específica que é liberado em qualquer lesão no hepatócito, tendo meia- vida de até 48 horas, com uma boa estabilidade no soro de grandes animais (THRALL et al., 2015). Seguindo o raciocínio da autora acima, ela não é superior que ALT em pequenos animais, porem nos grandes animais é especifica para lesão hepática. O único entrave no uso desta técnica na clínica veterinária, é que não há kits comerciais disponíveis para dosar esta enzima rotina. ❖ GLDH (glutamato desidrogenase) → Glutamato desidrogenase é uma enzima encontrada nas mitocôndrias de células hepáticas e renais, podendo também ser encontrada no musculo cardíaco e outros tecidos em pequenas concentrações, sendo é liberada a partir do extravasamento celular para a corrente circulatória (Gonzalez 2000). Ainda segundo o mesmo autor quanto maior sua presença no plasma, maior é a lesão hepática encontrada, sendo em ruminantes uma enzima que indica necrose hepática. Esta enzima é muito sensível para lesões hepáticas em cães, tendo também uma boa especificidade em equinos, sendo muito estável no soro das espécies domesticas por 48 horas a temperatura ambiente, e congelado por até 6 meses. Como observação negativa desta técnica, é os kits comerciais desta enzima são importados e muito caros para o uso na rotina, já nos EUA não há disponibilidade deste teste comercial (THRALL et al., 2015). https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Enzimas que detectam colestase → Durante a colestase o fluxo biliar fica comprometido de forma parcial ou total, no decorrer deste processo as células biliares extravasam liberando algumas enzimas que podem ser detectadas na corrente circulatória. ❖ GGT (y-glutamil transferase) → A GGT é uma enzima que tem papel de catalisar a transferência de grupos gamacarboxila do glutamato a um peptídeo, sendo ele geralmente o dipeptídeo Gly-Gly, podendo ser encontrada nas membranas e no citosol de células, especialmente no epitélio dos ductos biliares e túbulos renais (GONZALEZ e SILVA, 2006). De acordo com Thrall et al. (2015), GGT é uma enzima que pode estar elevada em lesão hepática aguda, e pode sem encontrada na maioria dos tecidos corporais, dentre eles, o pâncreas, rins, também pode estar em presente na glândula mamaria de cadelas, ovelhas e vacas, mas as enzimas que estão presentes no plasma sanguíneo têm geralmente tem origem hepática, com maior concentração dos túbulos biliares. Em cães a obstrução dos ductos biliares pode elevar em até 14 dias 50 vezes e para gatos até 16 vezes o valor de referência; sendo que em gatos esta enzima pode se apresentar mais especifica que sensível. Gonzalez e Silva (2006), afirma que esta enzima pode aumentar em neonatos que tem consumo regular de colostro, principalmente bezerros, podendo esta enzima permear por até 3 semanas na corrente sanguínea, em bovinos esta enzima pode ser bom indicativo de fasciolose e lipidose hepática. Thrall et al. (2015), também relata em seu livro que os bezerros que consumiram colostro a atividade desta enzima pode estar 50 vezes mais elevada que o normal, alcançando valores normais em até 5 semanas após a elevação, já os bovinos adultos com lipidose https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 9 hepática podem apresentar uma elevação plasmática dos valores de referência de 2 a 3 vezes; também apresenta uma boa sensibilidade nos equinos com colestase. ❖ FA (fosfatase alcalina) → De acordo com Gonzalez e Silva (2006), a FA promove a catalisação da hidrolise de ésteres do ácido fosfórico sob condições alcalinas, tendo um pH de ótima atividade in vitro em torno de 10, existindo isoenzimas de FA na membrana celular de vários tecidos. Os órgãos como fígado, rins, intestinos, pâncreas, ossos, e a placenta, tem maiores concentrações de FA nas membranas celulares; são duas formas de isoenzimas produzidas a partir de dois genes diferentes, uma intestinal e uma tecidual inespecífica, esta última pode sofrer alteração póstranslacional adicional nos diferentes tecidos, formando diferentes isoformas nos ossos, rins, placenta, e fígado. Também de acordo com a mesma autora a maior parte de FA de origem sérica é hepática, onde esta presente nas células do epitélio biliar e nas membranas caniculares dos hepatócitos. Porém, de acordo com Gonzalez e Silva (2006), deve se levar em consideração a possibilidade do aumento de FA não ser de origem hepática, mas sim das outras isoformas, como por exemplo a óssea ou renal. Cães com doenças colestásicas podem aumentar em até 10 vezes os valores de referência de FA, o comprometimento do fluxo biliar também pode induz ao aumento desta isoforma, que nestes animais pode permanecer aumentado por até 3 dias, mas apenas de 6 a 7 horas em gatos, já os equinos e ruminantes tem valores de referência mais amplos, o que dificulta a interpretação nos resultados nestas espécies; doenças como lipidose hepática e inflamação do parênquima também levam a obstrução de pequenos canalículos biliares e a liberação de FA de forma indireta. https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Avaliação da função hepática → A avaliação da função do fígado é feita através da mensuração de metabolitos hepáticos séricos de forma direta ou indireta, que são normalmente produzidos e ou excretados pelo órgão. ❖ Bilirrubina → A bilirrubina é originaria basicamente da degradação dos eritrócitos através do sistema reticulo-endotelial, mas também pode prover de outras hemoproteinas (GONZALEZ e SILVA, 2006). Em condições normais os eritrócitos velhos são destruídos a uma taxa constate, contudo em doenças hemolíticas essa taxa pode estar elevada acima do normal (THRALL et al., 2015). Também de acordo com a autora, os eritrócitos são fagocitados por células mononucleares, sendo a hemoglobina destes eritrócitos catabolizada, a globina transformada em aminoácidos e a porção heme dando origem a ferro e protoporfirina, a qual é transformada em biliverdina, e em seguida bilirrubina livre; a bilirrubina não-conjugada ou livre liga se a albumina e é liberada na corrente sanguínea onde vai até o fígado, uma vez nos hepatócitos a bilirrubina é conjugada ao ácido glicurônico originando a bilirrubina conjugada ou direta. Esta bilirrubina conjugada é secretada nos canalículos biliares para o intestino delgado, no qual sofre ação bacteriana e é convertida a urobilirubinogenio, 90% deste pigmento é eliminado nas fezes, e cerca de 10% pode ser reabsorvido, retornando até o fígado onde é reincorporado aos ácidos biliares, ainda assim no plasma pode haver pequenas quantidades de bilirrubina conjugada, sendo a que predomina é não conjugada ou livre. De acordo com Gonzalez e Silva (2006), em doenças hemolíticas agudas que sobrecarreguem ou levem a perda da função do sistema hepático, destruição eritrocitária intensa, hemorragia interna intensas ou perda da função hepato-celular podem levar ao aumento de bilirrubina não-conjugada, já o aumento de bilirrubina conjugada pode ser decorrência do último fator, ou por alguma doença de cunho https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 10 inflamatório e ou infeccioso que comprometamo sistema biliar, levando ao acumulo do pigmento biliar. A mensuração do teor de bilirrubina no soro deve levar em conta a bilirrubina conjugada, e a não conjugada, para saber qual a origem da mesma; caso alguma delas apresente alteração deve se completar o diagnóstico com a associação das demais enzimas hepáticas. Cães sadios frequentemente exibem bilirrubinúria discreta, em equinos sadios a concentração de bilirrubina total pode ser mais elevada que nas demais espécies domésticas, mas no sangue pode predominar a bilirrubina não- conjugada. Em ruminantes a hiperbilirrubinemia não é compatível doença hepática, mas sim com lipidose, ou insuficiência hepática crônica. A dosagem de bilirrubina fornece informações importantes e confiáveis, porem deve ter cuidado no armazenamento da amostra até o processamento, pois o pigmento é extremamente sensível a luz solar, podendo causar alteração no resultado. ❖ Ácidos biliares → O fígado sintetiza os ácidos biliares a partir do colesterol, após a síntese dos sais biliares primários ocorre a conjugação com aminoácidos (principal taurina) e a estocagem na vesícula biliar, ou liberação direta no caso dos equinos. Geralmente após as refeições ocorre um aumento dos ácidos biliares, devendo se levar em consideração, para dosagem no soro. De acordo com Thrall et al. (2015), a mensuração sérica dos ácidos biliares é um indicador sensível de colestase, obstrução biliar, ou disfunção hepática, pois o fígado nestes casos não consegue metabolizar e ou secretar seus produtos, causando assim a elevação na corrente sanguínea. Os ácidos biliares são muito estáveis no soro, tanto em temperatura ambiente, quanto congelada. Em cães e gatos ocorre a elevação dos ácidos biliares em doenças hepáticas, desvios portovenosos, colestase, cirrose, necrose e lipidose; os equinos e ruminantes também são afetados pelas mesmas doenças que os pequenos animais, porem seus valores de referência tendem a serem mais amplos e variáveis. Este teste fornece informações confiáveis para o diagnóstico de doenças hepáticas, porém não é rotineiramente aplicado na clínica veterinária devido a seu custo ser elevado poucos laboratórios fazem sua mensuração. ❖ Amônia → A amônia é produzida a partir da digestão de compostos nitrogenados, em todas as células orgânicas e nas bactérias do trato gastrointestinal (GONZALEZ e SILVA, 2006). Ela é detectada normalmente no plasma de todos os animais domésticos, mas seus aumentos acima dos valores de referência podem indicar alguma dificuldade hepática de metabolização no ciclo da ureia. Normalmente a amônia absorvida no trato gastrointestinal e a produzida no organismo são conduzidas pelo sistema porta até o fígado, porem se o sistema estiver comprometido através dos desvios porto-sistêmicos, ou pela perda da função hepática em cirrose, necrose, inflamação, ou infecção a produção de ureia estará comprometida, levando ao acumulo da amônia no organismo. ❖ Ureia → A ureia é um metabolito produzido normalmente no fígado de animais saudáveis a partir da amônia circulante. Nos animais com reduzida massa hepática funcional ocorre a diminuição da conversão de amônia em ureia, devendo levar sempre em consideração além do valor da ureia o valor da amônia e a dieta na qual o animal está exposto, como exemplo os ruminantes que tem como fonte de suas dietas básicas nitrogênio não- proteico, ou carnívoros com dietas ricas em fontes proteicas (THRALL et al., 2015). ❖ Albumina → A albumina é sintetizada de forma integral no fígado, compondo cerca de 50% das proteínas plasmáticas, com um peso básico de 66 kD (GONZALEZ e SILVA, 2006). Na média a hipoalbuminemia só é constatada quando 60 a 80% da função hepática já está comprometida. Os cães com 60% ou mais de comprometimento hepático já pode ser constatado hipoalbuminemia, porem lesões desta magnitude não alteram albumina Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 11 de equinos e ruminantes. Segundo Thrall et al. (2015), a concentração de albumina pode ser afetada além da função hepática, pelos processos inflamatórios orgânicos (albumina também é uma proteína de fase aguda negativa) e parasitismo que consomem albumina, equilíbrio hidroeletrolítico que pode diluir ou concentrar a albumina, e nível nutricional que o animal está exposto pode influenciar na produção e no consumo da mesma. De acordo com Thrall et al. (2015), o nível de albumina deve ser avaliado em conjunto com o de amônia e uréia para descartar a influência da dieta nos seus níveis. ❖ Globulinas → O fígado é responsável pela produção de grande parte das globulinas, com exceção de algumas imunoglobulinas, portanto na insuficiência hepática pode ocorrer a diminuição sérica das mesmas, mas ao comparar com albumina a sua variação é menor, pois elas geralmente estão associadas com processos inflamatórios (THRALL et al., 2015). Também de acordo com a mesma autora em vários casos de doença hepática a concentração de globulinas estará elevada em função da produção de imunoglobulinas e proteínas de fase aguda, como é o caso dos equinos com hepatopatias, onde 50% deles manifestam aumento das globulinas. De acordo com Gonzalez e Silva (2006), as globulinas podem aumentar com a idade do animal, durante gestação, vacinação, e em processos inflamatórios; mas no final da gestação as globulinas podem declinar com a passagem para o colostro, já nos bezerros e potrancos recém-nascidos seus níveis podem ser indicativos de baixa absorção de colostro. ❖ Glicose → O fígado é um órgão de suma importância na manutenção da glicemia, pois os hepatócitos têm a função de converter os produtos originários da digestão e metabolização tecidual endógena (Glicólise a partir de aminoácidos e glicerol) em glicose e outros produtos; também converte a glicose em glicogênio e regula o nível glicêmico sanguíneo. Segundo Thrall et al. (2015), os animais com distúrbios hepáticos podem apresentam a glicemia diminuída em caso de jejum prolongado, ou aumentada após a última refeição do animal (exceção dos ruminantes que não tem glicose direta sem participação hepática). ❖ Colesterol → O colesterol sanguíneo pode ter duas origens, uma proveniente da dieta, e outra originaria da metabolização do acetil-CoA pelo fígado em condições normais, sendo a principal via de excreção do colesterol hepático o sistema biliar. Em casos de insuficiência hepática os animais podem apresentar hipocolesterolemia, mas se o distúrbio for colestase poderá haver hipercolesterolemia, geralmente os animais domésticos com insuficiência hepática apresentam colesterol normal. ❖ Fatores de coagulação → O fígado é responsável pela produção de grande parte dos fatores de coagulação, dentre eles a fibrina, também produz substancias anticoagulantes como a antitronbina. De acordo com Thrall et al. (2015), animais com insuficiência hepática podem apresentar distúrbios na hemostasia, em vários testes de coagulação, além disso a menor função plaquetária pode estar associada a problemas hepáticos. Animais com função hepática baixa podem apresentar menor concentração de fibrinogênio em relação aos valores de referência, mas animais que estão com processo inflamatório também apresentam fibrinogênio baixo, devendo assim levar em consideração o quadro clinico em que o animal se apresenta, correlacionando com os demais indicadores de função hepática. https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Padrão hepatocelular → Quando o hepatócito é o alvo principal de um determinado agente de lesão e não os componentes biliares do fígado, diz-se que a lesão é hepatocelular. Geralmente essa lesão traduz-se analiticamente por um aumento https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2016/07/seminario_Chester.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 12 desproporcionalda ALT/AST plasmáticas em relação à FA e G-GT. Quando temos um padrão de lesão hepatocelular devemos considerar as hepatites víricas, hepatites tóxicas, hepatites auto-imunes, hepatite alcoólica ou doença hepática crónica (e.g.cirrose) de qualquer causa. Portanto o próximo passo do estud o será obviamente dependente dos factores de risco presentes e poderá incluir a serologia vírica (e.g.toxicodependente), marcadores de auto-imunidade ou níveis plasmáticos de determinados tóxicos (e.g.consumidores crónicos de etanol ou de paracetamol). Geralmente a subida de ALT é superior à de AST, se o inverso ocorrer deve-se suspeitar de lesão pelo etanol. Algumas vezes, apesar desses estudos não se chega a um diagnóstico e a biopsia hepática é o passo seguinte. http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Padrão colestático → O termo colestase refere-se à supressão da secreção de bile. Este fenómeno pode ocorrer por lesão directa dos hepatócitos e dos colangiócitos que ficam impossibilitados de secretar bile (colestase intra-hepática) mas também pode ocorrer porque há uma obstrução a qualquer nível da árvore biliar que impossibilita que a bile secretada atinja o intestino (colestase extra-hepática). Assim perante um padrão de lesão colestático, isto é, um aumento maior de FA em relação às transaminases o próximo passo será realizar uma ecografia. A ausência de dilatação da árvore biliar sugere colestase intra- hepática, e as causas muitas vezes são as mesmas que causam um padrão hepatocelular, devendo-se pedir a serologia vírica e um estudo auto-imune e toxicológico. Se a ecografia evidenciar dilatação da árvore biliar então o próximo passo será realizar exames de imagem mais precisos que permitam identificar o local da obstrução. http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Padrão misto → Por vezes o aumento das transaminases é semelhante ao aumento da FA e da G-GT. As causas mais comuns são iguais às que tipicamente causam lesão hepatocelular e, portanto, o estudo é idêntico. No entanto, é sempre preciso excluir colestase extra-hepática e, portanto, a ecografia é também essencial. Apesar das hepatites víricas causarem mais frequentemente um padrão de lesão hepatocelular podem causar um padrão de lesão misto ou até de colestase intra-hepática. Em relação aos fármacos o mesmo se verifica já que apesar de um determinado tóxico mais frequentemente causar um tipo de lesão pode eventualmente causar outro. Para além disso alguns tóxicos causam mais frequentemente um padrão colestático ou misto e não hepatocelular. http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Resumo: Avaliação de lesão hepatocelular AST (ou TGO): valores normais até 31 U/L (mulheres) e 37 U/L (homens) ALT (ou TGP): valores normais até 31 U/L (mulheres) e 41 U/L (homens) Relação AST/ALT Desidrogenase lática (DHL): valores normais de 24-480 U/L Avaliação do fluxo biliar e lesão das vias biliares FA GGT Bilirrubinas Avaliação da função de síntese do fígado Fatores da coagulação e atividade de protrombina Albumina Avaliação de complicações e estágio da cirrose Classificação de Child-Pugh Alfa- fetoproteína Plaqueta Elastografia hepática MELD/PELD http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf http://www.doencasdofigado.com.br/fisiologia%20hepatica.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 13 4. Metabolismo da bilirrubina O metabolismo da bilirrubina pode ser subdividido em captação, armazenamento, conjugação e secreção hepática, na qual se encontram enzimas cujas atividades podem ser alteradas causando processos patogénicos. As hemácias são formadas na medula óssea e se destinam ao sistema circulatório, circulam por 120 dias e são destruídas. No transcorrer desse período, seu sistema metabólico torna-se cada vez menos ativo, a sua membrana fica mais frágil (senescente) e rompe-se durante sua passagem em lugares estreitos. Muitas hemácias se autodestroem no baço, onde os espaços entre as trabéculas estruturais da polpa vermelham pelos quais devem passar a maioria das hemácias medem apenas 3 µm de largura em comparação com o diâmetro de 8 µm das hemácias. A ruptura das hemácias libera a hemoglobina, que é fagocitada de imediato pelos macrófagos em muitas partes do organismo, especialmente pelas células de Kupffer, no fígado, e pelos macrófagos no baço e na medula óssea. É captada pelo sistema retículo-endotelial, sendo transformada a sua hemoglobina pela hemeoxigenase em biliverdina, monóxido de carbono e ferro. A biliverdina-redutase converte a biliverdina em bilirrubina livre, sendo gradualmente liberada dos macrófagos para o plasma. A taxa de conversão da biliverdina em bilirrubina livre é de 4 mg/kg/dia. Essa bilirrubina é lipossolúvel e apolar, podendo ligar-se à albumina e sua fração livre atravessar a barreira hematoencefálica. A bilirrubina livre atravessa facilmente a barreira hematoencefálica, sendo potencialmente tóxica para o tecido nervoso. A afinidade da bilirrubina pelo tecido nervoso não conjugada concomitante às concentrações elevadas no sangue em recém-nascidos pode impregnar os gânglios da base, causando kernicterus. A bilirrubina sérica se liga fortemente à albumina plasmática, sendo transportada por todo o sangue e fluido intersticiais. Observa-se que a pequena fração de bilirrubina não ligada ao plasma pode aumentar na doença hemolítica grave ou quando drogas ligadoras de proteínas deslocam a bilirrubina da albumina. A bilirrubina ligada às proteínas plasmáticas é denominada "livre", a fim de distinguir-se da forma conjugada. A bilirrubina livre, quando chega ao fígado, é recolhida pelos hepatócitos por meio de sistemas proteicos, transportadores de membrana (proteínas X e Y), num processo chamado captação. É a seguir liberada da albumina plasmática e conjugada por ação de enzimas microssomais (UDP glicuroniltransferase) com uma ou duas moléculas de ácido glicurônico, formando um composto mais polar e hidrossolúvel, a "bilirrubina conjugada". Parte dessa bilirrubina liberada nos hepatócitos pode-se ligar a uma proteína citoplasmática denominada ligandina, etapa posterior à sua conjugação, que impede o efluxo dessa substância do hepatócito para o plasma. A bilirrubina conjugada é excretada através do polo biliar dos hepatócitos que está em íntimo contato com os canalículos biliares e daí para os intestinos. A conjugação da bilirrubina ocorre majoritariamente no fígado, sendo também observada nas células dos túbulos renais e nos enterócitos. A bilirrubina conjugada é transportada como complexo lipídico-micelar até o duodeno através do ducto biliar principal, sendo desconjugada e reduzida no cólon por ação das glicuronidases bacterianas, formando os urobilinogênios (Figura 1). Essas moléculas são excretadas nas fezes, em sua maioria, e pequena parte é reabsorvida através da mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema porta, constituindo o ciclo entero-hepático da bilirrubina; e cerca de 5% são excretados na urina pelos rins. A ligação forte da bilirrubina não conjugada com a albumina plasmática e o estabelecimento de interações fracas com os sais biliares, micelas mistas e vesículas lipídicas tornam-se sua excreção renal limitada, Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 14 razão pela qual é eliminada, sobretudo pelo fígado. http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 15 5. Icterícia A palavra icterícia significa amarelo, a partir das variações do latim icterus, que, por sua vez, tem origem no radical grego ikteros. Caracteriza a condição de coloração amarelada do plasma, pele e mucosas, determinadapelo acúmulo dos pigmentos biliares. A detecção de icterícia tem importante valor semiológico. Reflete perturbações na síntese ou nas etapas do metabolismo e excreção da bilirrubina e pode ser manifestação clínica de inúmeras doenças hepáticas e não hepáticas. A icterícia pode ser a primeira ou a única manifestação de hepatopatia. Pode ser evidenciada na esclera, pele, língua e outros locais ricos em elastina, devido à grande capacidade desses tecidos de se impregnarem do pigmento biliar. http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 A icterícia é evidente quando a bilirrubina está acima de 2,5 a 3 mg/dL. Em estágio mais avançado, a urina, a lágrima e até o suor podem se apresentar amarelados devido ao acúmulo de bilirrubina conjugada. http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 A bilirrubina não conjugada, quanto aos glucuronídeos de bilirrubina (conjugada), pode acumular-se sistematicamente e depositar-se nos tecidos, dando origem à icterícia. Essa icterícia torna-se evidente quando as concentrações de bilirrubina sérica sobem acima de 2,0 a 3,0 mg/dL, ocorrendo quando o equilíbrio entre a produção e a remoção é perturbado por um ou mais dos seguintes mecanismos: ❖ Produção excessiva de bilirrubinas → Pode ocorrer nas anemias hemolíticas, reabsorção de sangue de hemorragias internas e nas síndromes de eritropoiese ineficaz. ❖ Captação reduzida pelo hepatócito → Nas interferências de drogas com sistemas de transportes na membrana e alguns casos na síndrome de Gilbert. ❖ Conjugação prejudicada → Aparece nas icterícias fisiológicas do recém-nascido, nas deficiências genéticas da atividade de UGT1A1 (síndrome de Crigler-Najjar I e II, síndrome de Gilbert) e na doença hepacelular difusa. http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 16 ❖ Excreção hepatocelular reduzida → Pode ocorrer na deficiência de transportadores na membrana canalicular (síndrome de Dubin-Johnson); ❖ Fluxo biliar prejudicado → Como nas colestase. *Os três primeiros produzem hiperbilirrubinemia não conjugada e os dois últimos hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada. http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 6. Alterações dermatológicas Icterícia → Caracteriza-se pela hiperbilirrubenemia e cor amarelada em virtude de depósito de pigmento biliar na pele, membranas mucosas e escleróticas, sendo facilmente diferenciada da carotenodermia pela localização, pela pigmentação das conjuntivas e pelos antecedentes. O prurido é observado em 25% dos casos, sem relação com a gravidade do quadro, e é de intensidade variável. Pode ocorrer no período pré-ictérico ou desaparecer ainda na presença da icterícia. É relacionado ao aumento de ácidos biliares no sangue e, por isso, é mais frequente na icterícia obstrutiva. Quando é eliminada a obstrução das vias hepáticas, há imediata melhora do prurido. O mecanismo do prurido é desconhecido. Rivitti, Evandro A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti [recurso eletrônico] / Evandro A. Rivitti. – Dados eletrônicos. – São Paulo: Artes Médicas, 2014 7. Ascite Denomina-se ascite ao acúmulo de líquido livre de origem patológica na cavidade peritoneal. O termo ascite tem origem na palavra grega “askos” que significa saco ou conteúdo de um saco. Deste radical derivou “askites” e depois “ascite”. Embora a origem do líquido que se acumula na cavidade peritoneal possa variar (plasma, bile, sangue, suco pancreático, líquido intestinal, linfa, urina, etc.), a grande maioria das ascites tem como causa a cirrose hepática. https://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n4/a28v55n4.pdf O desenvolvimento da ascite é a consequência final de uma série de anormalidades anatômicas, fisiopatológicas e bioquímicas que ocorrem em pacientes com cirrose hepática. Três teorias foram elaboradas ao longo do tempo para explicar o surgimento da ascite no cirrótico: o “underfill” (baixoenchimento), o “overflow” (super- fluxo) e a vasodilatação. A visão moderna preconiza que as três teorias estão presentes no mesmo paciente com cirrose, em maior ou menor grau dependendo da fase e do tempo de doença. A teoria da vasodilatação estaria presente na fase pré-ascítica e seria importante em toda a evolução posterior. A teoria do “overflow”2 seria a mais importante nos primeiros meses do desenvolvimento da ascite no cirrótico, e a teoria do “underfill”3 explicaria a maior parte dos achados em pacientes com vários meses de ascite. A teoria da vasodilatação veio harmonizar as ideias sobre a formação de ascite no cirrótico, http://www.rmmg.org/artigo/detalhes/104 https://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n4/a28v55n4.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 17 englobando as teorias do “overflow” e do “underfill”. Nas fases iniciais da cirrose hepática haveria vasodilatação periférica e retenção renal de água e sódio. A seguir haveria “overflow” e escape de fluido para a cavidade peritoneal (vindo principalmente da superfície hepática). Provavelmente depois que a ascite começa a se formar e piora a vasodilatação periférica, o “underfill” passa a assumir papel relevante, com queda do volume efetivo circulante e estimulação permanente dos sistemas vasopressores, levando à retenção contínua de água e sódio pelos rins. A saturação da capacidade de drenagem linfática abdominal, e principalmente a limitação da drenagem linfática hepática, contribuem para o acúmulo final de líquido na cavidade peritoneal. Desta forma, diante de um paciente com ascite, podemos especular qual o mecanismo atuante de forma predominante em um determinado momento. Se a história obtida for de ascite de recente começo (até 1 a 2 meses) provavelmente a vasodilatação estará presente e o “overflow” predominará. Um paciente com ascite de longa duração (4 a 6 meses) terá grau mais acentuado de vasodilatação periférica com predomínio do “underfill”. https://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n4/a28v55n4.pdf 8. Encefalopatia hepática A encefalopatia hepática é a deterioração da função cerebral que ocorre em pessoas com doença hepática grave, porque substâncias tóxicas normalmente eliminadas pelo fígado se acumulam no sangue e chegam ao cérebro. https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da- ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a- hep%C3%A1tica/encefalopatia-hep%C3%A1tica A EH é uma complicação neuropsiquiátrica frequente nos hepatopatas. Caracteriza-se por distúrbios da atenção, alterações do sono e distúrbios motores que progridem desde simples letargia a estupor ou coma. É um distúrbio metabólico, portanto potencialmente reversível. A amônia está relacionada à sua gênese, ao lado de várias neurotoxinas e fatores diversos, como o edema cerebral, o tônus GABAérgico e microelementos como zinco e manganês. Seu alvo comum, via de regra, é o astrócito. Técnicas de ressonância magnética mostram que na EH do paciente cirrótico há edema cerebral, que se inicia ainda na fase de EH mínima e aumenta nas fases subsequentes. Ele pode reverter nos casos de tratamento bem sucedido ou após transplante hepático. Este grau leve de edema cerebral, mesmo quando assintomático, parece ser um gatilho para alterações astrocitárias e disfunção neuronal. Amônia e a indução de estresse oxidativo e nitrosativo exacerbam o edema cerebral. O aumento de citocinas inflamatórias, o uso de benzodiazepínicos e distúrbios hidroeletrolíticos se integram como fatores que promovem o edema cerebral. Vários estudos experimentais mostram que o maior sistema neuroinibitório dos mamíferos (o GABA) está aumentado na EH. O estudo de uma família de esteroides sintetizados no cérebro e também em outros órgãos, os neuroesteroides, parecem lançar nova luz sobre o velho problema. Receptores periféricos mitocondriais de benzodiazepínicos(PTBR) são ativados pela presença de amônia ou manganês, assim como de ligandinas, e provocam a síntese de neuroesteroides nos astrócitos. A alopregnanolona, potente neuroesteroide inibitório, está aumentada cerca de dez vezes no cérebro de pacientes autopsiados após morte por cirrose e EH, e seria ela a responsável pelo aumento do tônus GABAérgico encontrado. A carência de zinco, cofator necessário às enzimas do ciclo da ureia, responsável pela metabolização da amônia, tem sido também descrita na cirrose, em especial nos casos de EH. Por outro lado, o acúmulo de manganês nos gânglios da base do cérebro ocorre comumente na EH de diversos graus. O manganês é tóxico para https://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n4/a28v55n4.pdf https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/encefalopatia-hep%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/encefalopatia-hep%C3%A1tica https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/manifesta%C3%A7%C3%B5es-da-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/encefalopatia-hep%C3%A1tica Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 18 os astrócitos, estando também associado à inibição dos neurotransmissores. Assim, no modelo atual de patogênese da EH, a amônia e outros fatores desencadeantes promovem aumento do edema cerebral, estresse oxidativo e nitrosativo, alterando expressões gênicas, de proteínas e RNA, com sinalizações que levam à disfunção astrocítica e neuronal. O distúrbio da rede oscilatória sináptica produz os sintomas e sinais da EH. http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf A amônia deve ser vista como uma neurotoxina pois promove alterações em astrócitos e induz neuroinflamação. Seu papel na EH é fundamental. Existem diferentes processos metabólicos para sua geração ou eliminação em diversos órgãos e sistemas no chamado metabolismo interórgão da amônia. Produtos nitrogenados são absorvidos e aproveitados pelo organismo, tanto na produção de energia como para a estrutura das células. Dentre os compostos da dieta, as proteínas, os aminoácidos livres e a amônia são fontes de nitrogênio. No organismo, a forma gasosa da amônia (NH3) coexiste com o amônio (NH4+), sendo que suas concentrações relativas dependem de modificações do pH. Para simplificar, chama-se de amônia o complexo NH3/NH4+. A amônia é hidrófila e facilmente transportada no plasma, onde se mantém em baixas concentrações. Ela pode ser sintetizada em vários órgãos, mas as maiores concentrações provêm dos intestinos, secundados pelos rins, havendo trocas metabólicas entre esses diversos compartimentos. Duas principais enzimas interferem no seu metabolismo. A glutamino-sintetase (GS) transforma amônia e glutamato em glutamina, gastando uma molécula de ATP. Por outro lado, a glutaminase ou glutaminase ativada pelo fosfato (PAG) faz a reação inversa, transformando glutamina em glutamato e amônia. A glutamina é um aminoácido não essencial, abundante em proteínas, que corresponde a 50% da quantidade total de aminoácidos do corpo humano, servindo tanto para doar nitrogênio como aceitá-lo de volta. A alimentação aumenta a produção intestinal de amônia, principalmente as carnes, seguida pelos laticínios e proteínas vegetais, com possível infl uência dos carboidratos. Além das proteínas da dieta, as bactérias intestinais produzem amônia. No entanto, estudos mais recentes comprovam que 50% da amônia intestinal é gerada a partir de aminoácidos que chegam aos intestinos pela circulação. De fato, a fonte de energia para os enterócitos é a glutamina, a qual é convertida em amônia e glutamato pela ação da PAG. Estudos experimentais e em humanos mostram que 80% da PAG intestinal está no intestino delgado e os outros 20% nos cólons. A glutamina, assim, é importante fonte de amônia, como demonstrado em ratos, em que há produção elevada de amônia mesmo quando desprovidos de flora intestinal. Enquanto no intestino delgado a produção de amônia provém principalmente do metabolismo da glutamina no cólon, as bactérias respondem por cerca de 50% da amônia produzida. Assim, conceitos antigos e novas ideias reforçam a importância dos intestinos no metabolismo da amônia. http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf Papel do fígado no metabolismo da amônia → As proteínas da dieta são carreadas ao fígado para serem metabolizadas, sendo de 100 gramas ao dia a quantidade necessária para suprir nossas necessidades de nitrogênio. O excesso protéico precisa ser convertido em formas não tóxicas a serem eliminadas, e este processo ocorre tanto em hepatócitos periportais como perivenosos. As reações enzimáticas nos hepatócitos, entretanto, são compartimentadas, conforme ilustrado na Figura 3. Os hepatócitos periportais são providos de arsenal enzimático que caracteriza o conhecido ciclo da ureia, em que a amônia é convertida em ureia, produto final do metabolismo do nitrogênio. Como o processo também envolve o bicarbonato, a detoxificação pode ser afetada por http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 19 modificações do pH. A presença de PAG nos hepatócitos periportais, agindo na produção de glutamato intramitocondrial, provoca a síntese de enzimas que agem na regulação do ciclo da ureia. Assim, amônia e glutamina, procedentes da veia porta, são os principais substratos para a síntese de ureia, através do ciclo de Krebs. Os hepatócitos perivenosos são bem menos numerosos do que os hepatócitos periportais e não têm o mesmo arsenal enzimático. Entretanto, a grande quantidade de GS presente nesses hepatócitos permite que eles convertam a amônia em glutamina. Assim, a amônia que escapa de ser detoxificada nos hepatócitos periportais pode sê-la nos perivenosos. Como nestes hepatócitos há tanto PAG como GS, eles têm função regulatória de controlar os níveis de amônia circulante. Assim, em fígados normais, mesmo no período pós-absortivo, não ocorre hiperamoniemia na presença de fluxo hepático adequado. A diminuição da atividade metabólica em hepatócitos periportais e perivenulares, característica dos processos de dano hepatocelular, reduz a capacidade de detoxificação da amônia, embora isto ocorra apenas em fase tardia. Assim, os níveis de amônia arterial no período pós- absortivo encontram-se discretamente elevados na cirrose (40 a 60 μmol/L), aumentados nos casos de lesão aguda em fígado crônico (70 a 90 μmol/L) e ainda mais na falência hepática aguda (200 a 240 μmol/L). Por outro lado, os níveis de amônia no sangue venoso não se relacionam diretamente com o grau de EH, tendo valor diagnóstico muito restrito. O papel da circulação colateral, tanto intra como extrahepática, não pode ser esquecido, uma vez que ela pode ser responsável por redução de até 50% na detoxificação hepática de amônia. Em indivíduos com TIPS, este percentual pode chegar a 93%. http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 20 Classifica-se a EH de acordo com o grau de comprometimento da função hepática, duração e características do distúrbio neurológico ou pela presença de fatores desencadeantes. Várias terminologias já foram empregadas para descrever as manifestações clínicas da EH. http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf 9. Sorologia para as hepatites Não existem manifestações clínicas ou padrões de evolução dos diferentes agentes. O diagnóstico etiológico só é possível por meiode exames sorológicos e/ou de biologia http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf http://sbhepatologia.org.br/pdf/encefalopatia/ged.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 21 molecular. O diagnóstico das hepatites virais é baseado na detecção dos marcadores presentes no sangue, soro, plasma ou fluido oralG da pessoa infectada, por meio de imunoensaios, e/ou na detecção do ácido nucleico viral, empregando técnicas de biologia molecular. O constante avanço tecnológico na área de diagnóstico permitiu o desenvolvimento de técnicas avançadas de imunoensaios, incluindo o de fluxo lateral, que são atualmente empregadas na fabricação de testes rápidos (TR). Os TR são de fácil execução, não exigem infraestrutura laboratorial para a sua realização e podem gerar resultados em até 30 minutos, permitindo ampliar o acesso ao diagnóstico (HEIAT; RANJBAR; ALAVIAN, 2014). https://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/04162030-manual-diagnostico-das- hepatites-virais-ms-2015.pdf As manifestações clínicas da hepatite são extremamente variadas, podendo ser encontrada desde uma infecção assintomática até uma doença potencialmente grave, até mesmo de evolução fulminante. Na fase denominada Pré-ictérica, podem ser observados sintomas inespecíficos (fadiga, náuseas, anorexia e dor leve no quadrante superior direito do abdome). A titulação viral se encontra elevada e os níveis séricos de aminotransferases iniciam sua elevação. Já na fase Ictérica predomina a icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas por impregnação de bilirrubina), e os mesmos sintomas da faze anterior podem ser encontrados, com intensificação, podendo ocorrer disgeusia e perda ponderal. No exame físico a icterícia e dor à palpação profunda do hipocôndrio direito são perceptíveis. Nos casos de elevada gravidade, pode ocorrer hepatoesplenomegalia, elevação dos níveis séricos de bilirrubina total e direta e aminotransferases (essas últimas com níveis superiores a dez vezes o limite máximo do permitido). Evidenciou-se a partir do advento da vacinação contra hepatite A e B, somado à redução dos comportamentos de risco, uma queda na incidência anual da hepatite desde 1990. https://www.mastereditora.com.br/periodico/20140429_213345.pdf Diagnóstico das Hepatites A IgM anti-HAV B AgHBs fase aguda diagnóstico IgM AntiHBc diagnóstico IgG AntiHBc cicatriz sorológica AntiHBc aumenta na replicação AgHBc não aparece no soro (está no core) AgHBe só surge durante a replicação Vacinado: AgHBs – e AntiagHBs + C AntiHVC no soro D AgHVD HVD-RNA (carga viral) E AntiHVE tanto para IgM quanto para IgG HVE-RNA https://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/04162030-manual-diagnostico-das-hepatites-virais-ms-2015.pdf https://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201701/04162030-manual-diagnostico-das-hepatites-virais-ms-2015.pdf https://www.mastereditora.com.br/periodico/20140429_213345.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 22 Medcurso 2018 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 23 https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/marcadores_de_triagem_1254507667.pdf https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/marcadores_de_triagem_1254507667.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 24 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 25 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 26 Aula do 17ª Regional de Saúde e do CISMEPAR, conforme o PNHV/MS e o LACEN - PR Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 27 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/07_0044_M2.pdf 10. Outras etiologias para hepatite Parasitoses Medicamentos e ervas hepatotoxicas Suplementos (ex.Whey protein) Desnutrição http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/07_0044_M2.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 28 11. Hipertensão portal A hipertensão portal é um distúrbio hemodinâmico, na maioria das vezes decorrente de hepatopatia crônica, esquistossomose ou cirrose hepática. O fluxo portal no adulto é de cerca de 1000 a 1200 ml/min, gerando pressão portal de cerca de 7 mmHg. A interrupção do fluxo portal desencadeia desvio de aporte sanguíneo nas vias anastomóticas naturais, em direção à circulação sistêmica. Tais vias são, em regra, a veia umbilical recanalizada, conduzindo sangue a vasos da parede abdominal, os plexos hemorroidários, que desviam o sangue de tributárias da veia mesentérica inferior, para ramos das veias ilíacas internas e pudendas, e as veias esofagocardiotuberositárias, que utilizam vasos murais gástricos e esofágicos, além de ramos que correm ao lado do esôfago, para descarregar sangue portal nos sistemas ázigos e hemi-ázigos. Estes últimos representam o fulcro do problema, por originarem as varizes esofágicas, muitas vezes fatais complicações da hipertensão portal. http://www.doencasdofigado.com.br/HIPERTENSAOPORTAL.pdf Fisiopatologia: ❖ A pressão (∆P) no sistema portal como em qualquer outro sistema vascular, é o resultado da interação entre o fluxo sanguíneo (Q) e a resistência vascular (R) que se opõe a esse fluxo; é representada matematicamente de acordo com a lei de Ohm como ∆P= Q x R. Assim, a pressão portal pode aumentar, se houver aumento do fluxo sanguíneo portal ou aumento da resistência vascular ou de ambos. ❖ Os fatores envolvidos no desenvolvimento e na manutenção da hipertensão portal não estão completamente esclarecidos. Na cirrose, é bem estabelecido que o fator primário, que leva à hipertensão portal, é o aumento da resistência vascular ao fluxo portal e que o aumento do fluxo se torna especialmente importante em fases mais avançadas da doença e contribui para a manutenção da hipertensão portal. ❖ Aumento da resistência → O aumento da resistência pode ocorrer em qualquer ponto ao longo do sistema venoso, na veia porta, nos espaços vasculares dentro do fígado e nas veias e compartimentos vasculares que recebem o fluxo portal após sair do fígado. Em fases posteriores as colaterais portossistêmicas passam a contribuir para o aumento da resistência. Os fatores que influenciam a resistência vascular (R) são inter-relacionados pela lei de Poiselle, na equação: R= 8mL/r4, onde m é o coeficiente de viscosidade do sangue, L é o comprimento do vaso e r o raio do vaso. Sendo assim, o principal fator na determinação da resistência vascular é o raio do vaso. A resistência aumentada do fluxo pode ser pré hepática, pós-hepática e intra-hepáticas. Na pré-hepática, o aumento da resistência ocorre na veia porta ou tributárias antes de alcançar o fígado. Na pós hepática, o aumento da resistência ocorre em veias ou compartimentos vasculares que recebem o fluxo sanguíneo portal ao sair do fígado. Na intra-hepática, o aumento da resistência, tendo os sinusóides como referência, pode ser sinusoidal, pré-sinusoidal e póssinunoidal. As síndromes de resistência intra hepáticas são mais complexas e, raramente, podem ser classificadas de acordo com um único sítio de resistência. É comum que o aumento da resistência ocorra em várias áreas, e, se a doença progride, novos sítios podem ser envolvidos. O exemplo típico é a hipertensão portal que ocorre na hepatopatia crônica pelo álcool, onde o aumento da resistência é intra-hepático, principalmente sinusoidal (aumento do volume dos hepatócitos, deposição de colágeno nos espaços de Disse) e pós-sinusoidal (esclerose das veias centrolobulares) e, além disso, a presença dos nódulos de regeneração comprometem a drenagem sanguínea. Reconhece-se o importante papel da alteração estrutural da microcirculação hepática (fibrose, capilarização dos sinusóides e nódulosde regeneração) como o mecanismo mais http://www.doencasdofigado.com.br/HIPERTENSAOPORTAL.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 29 importante para o aumento da resistência vascular na cirrose, processo esse que, na maioria das vezes, é considerado irreversível. Assim, por muitos anos, pensou-se que a resistência vascular era fixa, consequência mecânica da distorção da arquitetura da microcirculação hepática. Recentemente (década de 80), esse conceito mudou, sendo demonstrado que, em associação com o componente mecânico da resistência vascular hepática, existe um componente dinâmico, que se deve ao aumento do tônus vascular. Como em qualquer outro endotélio vascular, a modulação da resistência depende da interação entre vasodilatadores e vasoconstrictores. Portanto, o aumento do tônus vascular pode resultar da diminuição de vasodilatores e/ou aumento de vasoconstrictores. Vale ressaltar que existem elementos contráteis no fígado que são capazes de se contra ir de maneira reversível em resposta a agonistas causando aumento da resistência vascular intra-hepática. Assim, parte do aumento da resistência pode ser diminuída por agentes farmacológicos indicando que essa porção intra-hepática do aumento da resistência não é fixa e que anormalidades funcionais têm importante papel na manutenção da hipertensão portal. Do componente funcional participam células não parenquimatosas que produzem substâncias vasoativas ou sofrem os efeitos dessas substâncias vasoativas liberadas localmente ou produzidas sistemicamente. Os elementos contráteis podem estar localizados nos sinusóides (células estrelares ativadas) ou em sítios extra-sinusoidais (vasos contendo células musculares lisas contráteis como pequenas vênulas portais, vênulas présinusoidais e pós-sinusoidais). Recentemente, foi demonstrado que o endotélio vascular tem importante papel na regulação do tônus vascular por sintetizar substâncias vasoativas (vasodilatadores e vasoconstrictores), que agem de maneira parácrina em resposta a diferentes estímulos mecânicos e químicos. Fatores relativos à localização e às características das células estrelares sugerem sua participação na regulação da pressão portal e no aumento do tônus vascular na cirrose. Essas células localizam-se estrategicamente nos sinusóides (espaço de Disse), têm extensões que envolvem os sinusóides e os hepatócitos, quando ativadas adquirem propriedades contráteis semelhantes a miofibroblastos e têm receptores para substâncias vasoativas. As substâncias vasoativas produzidas pelo endotélio vascular como vasodilatadores (prostaciclinas e óxido nítrico) e vasoconstrictores (endotelinas e prostanóides) agem de forma parácrina na musculatura lisa de vasos e nas células estrelares ativadas e modulam o tônus vascular normal, o qual é mantido pelo balanço entre substâncias vasodilatadoras e vasoconstrictoras. A perturbação desse balanço leva a anormalidades no tônus vascular. Dentre as substâncias produzidas localmente pelas células endotelias, merecem destaque o óxido nítrico – NO - (potente vasodilatador) e as endotelinas (potente vasoconstrictor). Vários estudos têm reforçado o papel das endotelinas na determinação da hipertensão portal. Por outro lado, o papel do NO, vasodilatador endógeno com importante papel na regulação fina do tônus vascular local, tem sido extensamente investigado. Estudos sugerem que na cirrose ocorre diminuição intra-hepática de NO e que esse seria o principal fator responsável pelo aumento da resistência vascular intra-hepática. Os mecanismos envolvidos na diminuição do NO intra-hepático ainda não estão totalmente elucidados. Ressalta-se ainda o papel de vasoconstrictores circulantes como norepinefrina, angiotensina e vasopressina, usualmente aumentados na circulação de cirróticos. Embora o fator primário no desencadeamento da hipertensão portal na cirrose seja o aumento da resistência vascular, o aumento do fluxo contribui para o aumento da pressão portal e para sua manutenção em níveis altos. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 30 ❖ Aumento do fluxo sanguíneo → Na década de 80, a partir de trabalhos envolvendo modelos experimentais de hipertensão portal, o aumento do fluxo sanguíneo, como componente da hipertensão portal, passou a ser valorizado. O aumento do fluxo sanguíneo portal é consequente à vasodilatação em órgãos esplâncnicos, que drenam o sangue para a veia porta. A vasodilatação também ocorre na circulação sistêmica. Ressalta-se que a vasodilatação é o evento iniciador da circulação hiperdinâmica que é observada em estágios avançados de hipertensão portal. A circulação hiperdinâmica é caracterizada por diminuição da resistência vascular periférica, diminuição da pressão arterial média, expansão do volume plasmático, aumento do fluxo sanguíneo esplâncnico e aumento do débito cardíaco. Os fatores envolvidos na determinação do aumento do fluxo sanguíneo não estão totalmente esclarecidos. Três mecanismos podem contribuir para a vasodilatação periférica, como aumento dos vasodilatadores circulantes, aumento da produção endotelial de vasodilatadores locais e diminuição da resposta a vasocontrictores endógenos, o último, provavelmente, sendo efeito dos dois primeiros. ❖ Aumento dos vasodilatadores circulantes → Alguns estudos favorecem o papel de vasodilatadores esplâncnicos, cujos níveis podem estar aumentados em consequência ao aumento da produção ou à diminuição da metabolização hepática quer pela presença de shunt portossistêmico ou por disfunção hepática. Acredita-se que possam ter participação o glucagon, os ácidos biliares e peptídeos vasodilatadores. Os níveis de glucagon estão aumentados na cirrose experimental e humana, e várias evidências sugerem sua participação na hiperemia esplâncnica. ❖ Aumento da produção endotelial de vasodilatadores locais → Recentemente, importante papel de fatores vasoativos produzidos pelo endotélio vascular tais como NO e prostaciclinas, tem sido demonstrado na patogênese de anormalidades circulatórias associadas à hipertensão portal. Evidências apoiam o papel do NO, potente vasodilatador derivado do endotélio, na vasodilatação esplâncnica e sistêmica. Vários estudos têm dado suporte também à participação das prostaglandinas na vasodilatação que acompanha a hipertensão portal. A vasodilatação esplâncnica é associada à vasodilatação periférica e à manifestação de circulação sistêmica hipercinética. É provável que os mesmos mecanismos estejam envolvidos na circulação hipercinética de ambas, circulação esplâncnica e circulação sistêmica. ❖ Diminuição da resposta a vasoconstrictores endógenos → A hiporresponsividade a vasoconstrictores endógenos como norepinefrina, angiotensina e vasopressina, é provavelmente mediada pelo NO. Em resumo, podemos concluir que, na hipertensão portal de cirróticos os dois fatores, aumento de resistência vascular e aumento do fluxo sanguíneo contribuem para a hipertensão portal, em fases mais precoces com predomínio do primeiro e em fases mais tardias com a participação dos dois. O tônus vascular está comprometido de maneira oposta comparandose com a circulação sistêmica e esplâncnica e a microvascularização hepática. Enquanto na sistêmica e esplâncnica o tônus está diminuído, na microvasculatura hepática o tônus está aumentado. https://core.ac.uk/download/pdf/268326439.pdf Consequências da hipertensão portal: ❖ Retenção de sódio e ascite → Em cirróticos, o aumento da pressão hidrostática nos vasos esplâncnicos associado à diminuição da pressão oncótica, secundária à hipoalbuminemia, resulta em extravasamento do fluido para a cavidade peritoneal. Uma https://core.ac.uk/download/pdf/268326439.pdf Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL CASO 3: ICTERÍCIA 31 vez ultrapassada a capacidade de reabsorção do
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