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Medicina UniFTC | 5° Semestre 1 Leucemias são um grupo de doenças caracterizadas pelo acúmulo de leucócitos malignos na medula óssea e no sangue. Essas células causam sintomatologia pelos mecanismos de: (i) insuficiência da medula (anemia, neutropenia, trombocitopenia); e (ii) infiltração de órgãos (ex., fígado, baço, linfonodos, meninges, cérebro, pele ou testículos) CLASSIFICAÇÃO São classificadas em 4 tipos – agudas e crônicas que, se subdividem em linfoides e mieloides. As agudas em geral, são doenças agressivas nas quais a transformação maligna ocorre em células-tronco na hematopoese ou em progenitores primitivos. Acredita-se que o dano biogenético envolva vários passos bioquímicos básicos, resultando em: 1. Aumento da velocidade de produção; 2. Diminuição da apoptose; 3. Bloqueio na diferenciação celular; Juntos esses eventos causam um acúmulo de células primitivas, chamadas blásticas (ou blastos). O aspecto clínico dominantes da LMA é a insuficiência da medula óssea, causada pelo acúmulo de blastos, embora também costume ocorrer infiltração tecidual. Se não forem tratadas são, rapidamente fatais, mas, são mais fáceis de curar do que as crônicas. DX A leucemia aguda é definida pela presença de mais de 20% de blastos no sangue ou na medula óssea na apresentação clínica. Pode, entretanto, ser diagnosticada com menos de 20% de blastos no caso de haver anormalidades genético- moleculares especificamente associadas à leucemia. A linhagem dos blastos é definida pela morfologia ao microscópio, imunofenotipagem (citometria em fluxo), análise citogenética e molecular. Isso definirá a origem mieloide ou linfoide e localizará o estágio de diferenciação celular. O imunofenótipo mieloide típico é CD13+, CD33+, CD117+ e TdT e anticorpos especiais são uteis no Dx dos raros subtipos eritroide, megacariocítico ou indiferenciado. Anaslises citogenética e molecular são essenciais; em geral são feitas em células da medula óssea, embora possa ser usado o sangue periférico quando há alta contagem de blastos. A citoquímica pode ser útil na determinação da linhagem dos blastos, porém há testes mais recentes e definitivos. LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA INCIDÊNCIA A LMA é a forma comum de LA em adultos e a incidência aumenta com a idade, com o começo Medicina UniFTC | 5° Semestre 2 mediano aos 65 anos. Constitui uma fração pequena das leucemias na infância (10-15%). CLASSIFICAÇÃO A LMA é classificada de acordo com o esquema da OMS. Há um foco progressivo nas anormalidades genéticas das células malignas e é provável que, quase todos os casos de LMA sejam classificados por subtipos genéticos específicos. Isso ainda não é possível, mas já há muitos subtipos genéticos determinados. Cerca de 60% dos casos exibem anormalidades cariotípicas em uma análise citogenética e muitos casos com cariótipo normal têm mutações em genes, como nucleofosmina (NPM), FLT3 e CEBPA, detectadas só por métodos moleculares. LMA COM ANORMALIDADES GENÉTICAS RECORRENTES Reúne subtipos com translocações cromossômicas ou mutações genéticas específicas. A detecção dessas anormalidades define o tumor como LMA e, assim o critério diagnóstico dispensa a necessidade de haver mais do que 20% de blastos na medula. Em geral, esses distúrbios têm um prognóstico melhor. LMA COM ALTERAÇÕES RELACIONADAS A MIELODISPLASDIAS Nesse grupo há sinais de mielodisplasia à microscopia em mais de 50% das células em, ao menos, duas linhagens. O prognostico desses pacientes é pior do que os do primeiro subgrupo. NEOPLASIAS MIELOIDES RELACIONADAS A TRATAMENTO (T-LMA) Surgem em pacientes que foram anteriormente tratados com fármacos como o etoposide ou agentes alquilantes. Costumam exibir mutações no gene MLL e a resposta ao tratamento é, em geral, pobre. LMA NÃO ESPECIFICADA SEPARADAMENTE Grupo definido pela ausência de anormalidades citogenéticas e constitui cerca de 30% de todos os casos. Mutações nos genes NPM e FLT3 são vistas respectivamente em 50 e 30% dos casos de LMA, e são mais frequentes naqueles que têm citogenética normal. SARCOMA MIELOIDE É um raro tumor sólido composto por blastos mieloides. PROLIFERAÇÕES MIELOIDES RELACIONADAS À SINDROME DE DOWN Crianças com síndrome de down têm um risco de leucemia mais consideravelmente aumentado. São reconhecidas duas variantes: (i) mielopoese anormal transitória, na qual há uma leucocitose leucemoide autolimitada; e (ii) LMA. ASPECTOS CLÍNICOS São dominados pelo quadro de insuficiência da medula óssea causado pelo acúmulo de células malignas. Infecções frequentes e anemia e trombocitopenia quase sempre severas. Uma tendencia a sangramento decorrente de trombocitopenia e coagulação intravascular disseminada (CIVD) é característica da variante promielocítica de LMA. As células tumorais podem infiltrar vários tecidos. Hipertrofia de gengiva e acometimento da pele e do SNC são características do subtipo mielomonocítico e monocítico. EXAMES LABORATORIAIS Os exames hematológicos mostram anemia normocrômica e normocítica e trombocitopenia na maioria dos casos. Costuma ocorrer leucocitose, e a microscopia da distensão sanguínea mostra número variável de blastos. A medula óssea é hipercelular por infiltração de blastos leucêmicos, caracterizados pela morfologia citoquímica, citometria em fluxo e análise citogenética e molecular. Estas últimas são críticas para determinar o prognóstico e desenvolver o plano de tratamento. Exames para CIVD são positivos em pacientes com a variante promielocítica da LMA. Exames bioquímicos são feitos com valores basais antes de ser iniciada a quimioterapia e podem mostrar o aumento de ácido úrico e LDH. O diagnóstico diferencial inclui LLA (leucemia linfoblástica aguda) e infiltração da medula por outros tumores malignos, como carcinoma. Medicina UniFTC | 5° Semestre 3 CITOGENÉTICA E GENÉTICA MOLECULAR Anormalidade citogenéticas são usadas na classificação da maioria dos casos de LMA. Duas das mais comuns afetam os genes do fator de ligação ao núcleo CBFa ou CBF-B. CBF é um fator de transcrição heterodimérico importante na regulação de genes como IL-3 e fator estimulantes de colônias granulócito- macrofágicas (GM-CSF). As anormalidade são: t(8;21) em que o gene CBFa (ou AML1) é translocado para o gene ETO no cromossomo 8, e inv(16), na qual o gene CBF-B funde-se ao gene SMMHC(MYH11). Ambas são associadas a um bom prognóstico. Leucemia promielocítica aguda é uma variante de LMA que contém a translocação t(15;17), em que o gene leucemia-promielocítico PML, no cromossomo 15, funde-se com o gene receptor alfa do ácido retinóico, RARa, no cromossomo 17. A proteína de fusão resultante, PML-RARa, funciona como um repressor transcricional, enquanto o gene RARa normal (wild-type) é um ativador. Normalmente a proteína PML forma homodímeros consigo enquanto a RARa forma heterodímeros com a proteína receptora do retinoide X, RXR. A proteína de fusão PML-RARa liga-se a PML e RXR, impedindo-as de se ligar com as suas parceiras naturais, isso resulta no fenótipo de parada de diferenciação. Mutações pontuais afetando os genes NPM, FLT- 3, CEBPA, TET2, WT1, IDH1, IDH2 e outros são frequentes em LMA, especialmente em casos sem anormalidades citogenéticas. TRATAMENTO O tratamento é de suporte e específico. 1. O tratamento de suporte para insuficiência de medula óssea inclui a inserção de um cateter venoso central, suporte hemoterápico e prevenção da síndrome de lise tumoral. A contagem de plaquetas deve ser mantida acima de 10x10(9)/L e a Hb acima de 8g/dL. Qualquer episódio de febre deve ser imediatamente tratado. A leucemia promielocítica exige suporte especial. 2. A finalidade do tratamento de leucemia agudaé a indução da remissão completa (< 5% de blastos na medula óssea, hemograma e estado clínico normais) e, então, consolidá-la com quimioterapia intensiva na esperança de eliminar a doença. Transplante de células-tronco é considerado em maus casos de mau prognóstico ou recidivas. 3. O tratamento específico da LMA é determinado pela idade e estado físico do paciente, mas também pelas alterações genéticas das células leucêmicas. Em pacientes mais jovens o tratamento consiste em quimioterapia intensiva. Costuma ser feito em quatro blocos de aproximadamente uma semana cada. Os fármacos usuais são citrabina e daunorrubicina (ambos em doses convencionais ou altas doses); idarrubicina, mitoxantrona e toposide também são utilizados. Medicina UniFTC | 5° Semestre 4 Os fármacos são mielotóxicos com seletividade limitada entre as células leucêmicas e as células medulares normais, de modo que a insuficiência medular decorrente do tratamento é severa, exigindo suporte intensivo e prolongado. Tratamento de manutenção não tem valor, exceto na LMA promielocítica, e profilaxia ao SNC geralmente não é feita. Fármacos novos estão sendo introduzidos, como inibidores de FLT3 para tumores com mutações FLT3. Imunoconjugados monoclonais com alvo em CD33 ou em CD45 proprocionam mais uma escolha para terapêutica adicional na indução ou consolidação em LMA. Problemas específicos da LMA incluem a síndrome hemorrágica associada à variante promielocítica. A doença pode ser apresentar com hemorragia catastrófica, ou esta pode surgir nos primeiros dias de tratamento. É tratado com CIVD com reposição de fatores de coagulação com plasma fresco e transfusões múltiplas de plaquetas, além disso, para essa variante, é feito o tratamento com ácido all- trans retinóico (ATRA) em conjunto a quimioterapia. A síndrome ATRA (ou síndrome de diferenciação) é uma complicação específica que pode surgir devido ao tratamento com ATRA. Problemas clínicos, que parecem ser devidos à neutrofilia que surge pela diferenciação dos promielócitos da medula óssea, incluem febre, hipóxia com infiltrados pulmonares e retenção com sobrecarga de líquidos. O tratamento é feito com 10mg de dexametasona 2x/dia, e só se suspende o ATRA em casos graves. A leucemia promielocítica com a translocação t(15;17) responde ao tratamento com altas doses de ATRA; há diferenciação dos promielócitos anormais e significativa melhora do prognóstico. É interessante notar que, em raras variantes, RARa funde-se com outros genes e isso torna ineficaz o tratamento com ATRA. PROGNÓSTICO E ESTRATIFICAÇÃO DO TRATAMENTO O resultado para cada paciente de LMA depende de uma série de fatore, incluindo idade e número de leucócitos no hemograma inicial, ao diagnóstico. O fator determinante crucial, é a alteração genética das células leucêmicas do caso. Um conceito importante em desenvolvimento no tratamento da LMA é o de basear o protocolo de tratamento do paciente no tratamento estipulado para o seu grupo de risco. Uma citogenética favorável e remissão depois de apenas um ciclo de quimio predizem um bom prognóstico. Em contrapartida, mossomia 5 ou anormalidades de 7, blastos com a mutação duplicação interna tandem em FLT-3 e doença que não responde bem ao tratamento inicial colocam o paciente em grupos de maior risco, exigindo tratamentos mais intensivos. A monitoração de doença residual mínima durante e após a quimioterapia está sendo investigada como meio de guiar apropriadamente o tratamento. Pode ser feita por PCR ou citometria em fluxo, pesquisando- se o imunofenótipo anormal associado a leucemia do paciente, visto em mais de 90%. TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO Medicina UniFTC | 5° Semestre 5 O transplante de células tronco alogênicas (TCT) reduz a frequência de recidiva da LMA, mas provoca risco de morbimortalidade, de modo que não é indicado em casos de risco favorável, a menos que tenha havido recidiva. O TCT é utilizado para alguns pacientes com risco padrão ou de alto risco em primeira remissão. PACIENTES ACIMA DE 70 ANOS DE IDADE A idade mediana de apresentação de LMA é de cerca de 65 anos, e o resultado do tratamento é pobre por causa de resistência da doença primária e da má tolerância aos protocolos de tratamento intensivo. Morte por hemorragia, infecção e insuficiência cardíaca, renal e de outros órgãos á mais frequente do que em pacientes mais jovens. Em idosos com doenças graves que acometam outros órgãos, deve-se decidir entre o tratamento de suporte com ou sem quimioterapia suave com apenas um fármaco. No entanto, em pacientes que estão bem, a combinação de quimioterápicos semelhante à utilizada em pacientes jovens pode produzir remissões a longo prazo, e TCT com condicionamento de intensidade reduzida pode ser considerado. TRATAMENTO DA RECIDIVA A maioria doa pacientes sofre recidiva da doença, e o prognóstico dependerá da idade, duração da 1ª remissão e do grupo de risco citogenético. Além de nova quimioterapia, em geral é feito TCTC, com condicionamento padrão ou reduzido, em pacientes que possam tolerar o procedimento e que tenham um doador HLa compatível, relacionado ou não relacionado. Trióxido de arsênio é útil no tratamento da recidiva da variante promielocitica. PROGNÓSTICO O prognóstico de pacientes com LMA tem melhorado continuamente, sobretudo em pacientes abaixo dos 60 anos de idade; cerca de um terço desse grupo pode esperar longa remissão ou cura. As anomalias citogenéticas e a resposta inicial ao tratamento são os principais sinais de prognóstico favorável, intermediário ou adverso. A pesquisa de doença residual mínima utilizando marcadores citogenéticos moleculares ou fenótipos aberrantes pode ser útil na predição de remissões longas ou recidivas. Para os idosos, a situação é desfavorável: menos de 10% daqueles acima de 70 anos podem esperar por uma longa remissão. Medicina UniFTC | 5° Semestre 6 LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA BCR- ABL1 POSITIVA A leucemia mieloide crônica BCR-ABL1+ (LMC) é um distúrbio clonal de uma célula tronco pluripotente. A doença é responsável por cerca de 15% das leucemias e pode ocorrer em qualquer idade. O Dx de LMC raramente é difícil, é confirmado pela presença característica do cromossomo Filadélfia (Ph). Ele resulta da translocação t(9;22) (q34;q11) entre os cromossomos 9 e 22, em que parte do oncogene ABL1 é transferido para o gene BCR no cromossomo 22 e parte do braço longo do cromossomo 22 é transferida para o braço longo do cromossomo 9. O cromossomo 22 anormal é o cromossomo Ph Na translocação Ph, éxons 5’ do BCR são fundidos nos éxons 3’ do ABL1. O gene quimérico BCR-ABL1 resultante codifica uma proteína de fusão de tamanho 210 kDa (p210), com atividade de tirosinoquinase excessiva em relação ao produto normal de 145 kDa do ABL1. A translocação Ph também é observada em uma minoria de casos de leucemia linfoblástica aguda (LLA) e, em alguns, o ponto de ruptura do BCR ocorre na mesma região que na LMC. Esse gene BCR-ABL1 quimérico é expresso como uma proteína p190 que, tal como a p210, tem a atividade aumentada de tirosinoquinase. Na maioria de pacientes, o cromossomo Ph é visto pela análise do cariótipo. Em raros pacientes, a anormalidade Ph não pode ser vista à microscopia, mas o mesmo rearranjo molecular é detectado por técnicas mais sensíveis: FISH ou PCR. Essa LMC Ph-negativa e BCR-ABL1 positiva comporta-se clinicamente como a LMC Ph-positiva. Sendo uma anomalia adquirida de células tronco hematopoéticas, o cromossomo Ph é encontrado em células da linhagem mieloide e linfoide. Casos de leucemia mieloide crônica são classificados como neoplasias mielodisplásicas/mieloproliferativas. ASPECTOS CLÍNICOS A doença ocorreem ambos os sexos, com mais frequência entre os 40-60 anos de idade. Pode, no entanto, ocorrer em crianças e em recém- nascidos, assim como em pessoas muito idosas. Na maioria dos casos, não há fatores predisponentes, mas a incidência foi maior nos sobreviventes das explosões atômicas do Japão. • Sintomas relativos a hipermetabolismo (perda de peso, lassidão, anorexia ou suores noturnos); • Esplenomegalia em geral está presente – com frequência, de forma maciça. Em alguns pacientes, o aumento do baço associa-se a considerável desconforto, dor ou indigestão; • Sintomas de anemia podem incluir palidez, dispneia e taquicardia; • Equimoses, epistaxe, menorragia e hemorragia em outros locais por causa de função anormal das plaquetas; • Gota ou insuficiência renal causadas pela hiperuricemia do catabolismo excessivo de purina; • Sintomas raros incluem distúrbios visuais e priapismo; • Em até 50% dos casos, o Dx é feito por acaso em hemograma de rotina; ACHADOS LABORATORIAIS • Leucocitose, geralmente 50 X 10 (9)/L, algumas vezes > 500 X 10 (9)/L. um espectro completo de células mieloides é visto no sangue periférico. Os níveis de neutrófilos e mielócitos excedem os de blastos e promielócitos; • Aumento de basófilos circulantes; • Anemia normocítica normocrômica como regra; • Contagem de plaquetas alta (mais frequente), normal ou baixa; Medicina UniFTC | 5° Semestre 7 • A medula óssea hipercelular com predominância granulopoética; • Presença do gene de fusão BCR-ABL1 por PCR ou FISH e, em 98 dos casos, cromossomo Ph na análise citogenética; • Ácido úrico sérico geralmente aumentado; Figura – LMC: distensão de sangue periférico mostrando vários estágios de granulopeoese, incluindo promielócitos, mielócitos, metamielócitos, bastonetes e neutrófilos segmentados. TRATAMENTO DA FASE CRÔNICA INIBIDORES DA TIROSINOQUINASE (TKI) Imatinibe (Gilvec®) foi desenvolvido como um inibidor específico da proteína de fusão BCR- ABL1 e bloqueia a atividade da tirosinoquinase por competir com a ligação de trifosfato de adenosina (ATP). É o fármaco de primeira linha no tratamento da fase crônica da doença. Na dose de 400mg/dia, produz uma resposta hematológica completa em quase todos os pacientes. Efeitos colaterais incluem exantema, retenção de líquido, cãibras musculares e náusea. Podem ocorrer neutropenia e trombocitopenia e pode haver necessidade de redução da dose ou suspensão do fármaco. MONITORAÇÃO DA RESPOSTA AO IMATINIBE O imatinibe é altamente eficaz na redução do número de células leucêmicas na medula óssea e pode ser monitorado por análise cariotípica da medula junto com análise PCR para transcritos BCR-ABL1 na medula ou sangue. Avaliação da resposta começa com exames regulares (a cada 3-6 meses) de medula para evidenciar a citogenética das metáfases. Define- se resposta citogenética completa (CCrR) como ausência de metáfases Ph-positivas na medula; uma vez atingida, a monitoração continua com quantificação por PCR dos transcritos BCR- ABL1 no sangue em intervalos regulares. A resposta ao imatinibe pode ser definida como ótima, subótima ou insatisfatória. Resposta ótima Resposta hematológica completa (hemograma normal) e, pelo menos, resposta citogenética mínima (CyR) (Ph+ <95%) aos 3 meses; CyR parcial (Ph+ <35%) aos 12 meses; CyR completa aos 12 meses; Grande resposta molecular com ao menos uma redução de 3-log nos transcritos BCR-ABL1 aos 18 meses; Resposta insatisfatória Resposta hematológica incompleta aos 3 meses; Falta de CyR (Ph+ > 95%) aos 6 meses; CyR menos do que completa aos q8 meses; Perda de resposta hematológica completa ou citogenética prévias; Nas demais situações, a resposta é definida como subótima. Medicina UniFTC | 5° Semestre 8 Pacientes com resposta ótima continuam recebendo imatinibe, enquanto pacientes com resposta insatisfatória passam a tratamento com uma TKI de segunda geração ou transplante de células tronco (TCT). Em pacientes com a resposta subórima, pode-se tentar um aumento de dose de imatinibe para 600-800mg/dia, mudança no tratamento com TKI ou TCT precoce. TRIAGEM DA MUTAÇÃO BCR-ABL1 Um dos mecanismos de resistência ao imatinibe é o desenvolvimento de mutações dentro do gene de fusão BCR-ABL1. Essas mutações podem ser detectadas pelo sequenciamento do gene, o que é feito em vários centros de tratamento nos pacientes que não respondem ao tratamento. O padrão de mutação pode ser útil para a escolha do tratamento de segunda linha. INIBIDORES DE SEGUNDA GERAÇÃO DA TIROSINOQUINASE Desatinibe é um inibidor amplo, de múltiplas quinases, eficaz em muitos casos em que o gene BCR-ABL1 sofreu mutações que o tornaram resistente ao imatinibe. É muito usado nessas circunstâncias apesar de ter efeito colateral indesejável de uma severa retenção de fluidos. Nilotinibe tem ação similar ao imatinibe, mas com maior afinidade pela quinase BCR-ABL1. Pode ser eficaz em caso de mutações resistentes ao imatinibe. Ambos os inibidores de 2ª geração estão sendo testados em comparação com o imatinibe como primeira escolha do tratamento de LMC. RESPOSTA GLOBAL AO TRATAMENTO COM IMATINIBE Em estudo IRIS com 553 pacientes, cerca de 60% permanecerem em tratamento com imatinibe e 40% cessaram, por ter havido progressão da doença/intolerância ao fármaco. Sobrevida de 84%. Se pacientes se tornarem negativos para transcritor BCR-ABL1 e o imatinibe for suspenso, alguns continuam negativos. Naqueles que se tornam novamente posistivos, a retomada do imatinibe causa nova remissão à negatividade. É possível que o fármaco e similares em desenvolvimento possam curar alguns pacientes de LMC. QUIMIOTERAPIA Tratamento com hidroxicarbamida (antes designada hidroxiureia) pode controlar e manter a contagem de leucócitos na fase crônica, mas não reduz a porcentagem de células BCR-ABL1 positivas. Um programa típico é o início com 1 a 2g/dia, com diminuição semanal da dose até a dose de manutenção de 0,5 a 1,5 g/dia. O agente aquilante bussulfano também é eficaz no controla da doença. Mas seus efeitos colaterais a longo prazo são consideráveis, e é pouco usado. O imatinibe susbstituiu de forma ampla ambos os fármaco. INTERFERON-A Costumava ser usado após controle da contagem de leucócitos com hidroxicarbamida; hoje foi superado pelo imatinibe. Um programa típico é 3-9 megaunidades, entre 3 e 7 vezes por semana, administradas por via subcutânea. O objetivo é manter a contagem baixa em torno de 4 X 10 (9)/L. quase todos os pacientes têm sintomas parecidos com os de gripe nos primeiros dias de tratamento, que respondem ao paracetamol e gradualmente regridem. Complicações mais sérias envolvem anorexia, depressão e citopenia. Uma minoria dos pacientes podem ter remissão a longo prazo com perda do cromossomo Ph, embora o gene de fusão ainda possa ser detectado no PCR. O interferon produz um prolongamento da fase crônica com aumento da expectativa de vida. TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO O TCT alogênico é um tratamento curativo da LMC estabelecido, mas, devido ao risco, é reservado para o fracasso do imatinibe. Os Medicina UniFTC | 5° Semestre 9 resultados são melhores quando o procedimento é feito na fase crônica, em vez das fases aguda ou acelerada. A sobrevida de cinco anos está em 50-70%, embora essa estimativa baixe para aproximadamente 10% se o transplante for adiado para além de um ano do Dx. Recidiva da LMC depois do transplante é um problema significativo, mas infusões de leucócitos do doador são bastante eficazes na LMC, sobretudo se a recidiva dor diagnosticada precocemente por detecção molecular do transcrito. FASE ACELERADA E TRANSFORMAÇÃO BLÁSTICA A transformação aguda (≥ 20% de blastosna medula) pode ocorrer rapidamente em dias ou semanas, mas é mais comum o paciente ter antes uma fase acelerada com anemia, trombocitopenia e aumento de basófilos, eosinófilos e blastos no sangue e na medula. O baço pode estar aumentado, apesar de a contagem de leucócitos no sangue estar contida; biópsia costuma mostrar grau de mielofibrose. Essa fase pode durar vários meses, durante os quais o controle da doença é mais difícil do que na fase crônica. Nas fases acelerada e aguda, é comum o aparecimento de novas anomalias cromossômicas. Em cerca de 1/5 dos casos, a transformação aguda é linfoblástica, e os pacientes podem ser tratados de modo semelhante ao da LLA, com vários pacientes retornando à fase crônica durante meses ou por até 1 ano ou 2. Na maioria deles, a transformação é em LMA, ou em tipos mistos, que são mais difíceis de tratar, e a sobrevida raramente ultrapassa alguns meses. O imatinibe é útil no tratamento da transformação blástica, mas surge resistência ao tratamento em algumas semanas. LEUCEMIA NEUTROFÍLICA CRÔNICA Se apresenta com intensa neutrofilia, sem que haja causa inflamatória ou outras causas, e os pacientes não mostram evidências de nenhuma das demais doenças mieloproliferativas. Pode haver moderada esplenomegalia. A citogenética costuma ser normal e o prognóstico é variável. LEUCEMIA EOSINOFÍLICA CRÔNICA Trata-se de uma eosinofilia clonal (>1,5 X 10(9)/L), crônica e persistente. Em vários casos há uma lesão intersticial no cromossomo 4 resultando em um gene de fusão FIP1L1-PDGFRA (nesses pacientes, há resposta ao tratamento com imatinibe) ou outros defeitos citogenéticos ou moleculares mais raros. A medula pode mostrar entre 5 e 20% de blastos. Eosinófilos podem infiltrar vários órgãos causando dano cardíaco. Se não puder ser demonstrada clonalidade e houver < 5% de blastos na medula, a condição é designada como síndrome hipereosinofílica.
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