Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
115 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS Unidade III 7 ATIVIDADE MOTORA PARA IDOSOS E GESTANTES 7.1 Idosos 7.1.1 Envelhecimento e síndrome da fragilidade do idoso O envelhecimento é descrito como um processo dinâmico e progressivo, em que ocorrem diversas modificações psicológicas, como a perda da capacidade de adaptação do idoso ao meio, alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, além do aumento da prevalência de doenças e disfunções incapacitantes, como a perda do papel social, da renda e da independência. Dessa forma, o envelhecimento conduz o idoso a uma maior vulnerabilidade a fatores intrínsecos e extrínsecos que o predispõem ao risco de morbimortalidade, como a perda de peso não intencional, o autorrelato de fadiga, a diminuição da força de preensão, a redução das atividades físicas, a diminuição da velocidade da marcha, a diminuição das atividades diárias e a diminuição das relações sociais (LANA; SCHNEIDER, 2014). Considerando a abrangência multidimensional e progressiva do envelhecimento, desde o final da década de 1980, iniciou-se a discussão sobre a vulnerabilidade que o envelhecimento provoca na pessoa idosa. Surgiu, então, o termo “síndrome da fragilidade do idoso”. Ainda não se tem um consenso definido sobre o termo “fragilidade”; no entanto, a discussão apresenta o propósito bem claro de compreender, identificar e avaliar o quanto o processo de envelhecimento, que conduz o idoso a uma maior fragilidade, pode ser adiado, controlado e tratado, afastando, assim, o risco de morbimortalidade. Uma das definições mais encontradas de “síndrome da fragilidade” diz respeito a uma síndrome biológica caracterizada pela diminuição da reserva homeostática e pela redução da capacidade de resistência do organismo às agressões, que resultam no declínio cumulativo em múltiplos sistemas fisiológicos, ocasionando um quadro de vulnerabilidade e efeitos adversos. Para o profissional de Educação Física, é de extrema importância ter conhecimento acerca do envelhecimento. Como já citado, ele tem papel fundamental no tratamento e nos cuidados com a saúde dos indivíduos, por ser o profissional que mais acompanha o paciente/aluno, e esse fato facilita a comunicação com os demais profissionais de saúde que assistem o mesmo indivíduo (LANA; SCHNEIDER, 2014; TRIBESS; OLIVEIRA, 2011). 116 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III 7.1.2 Epidemiologia Em 2018, o Brasil atingiu a marca de 30,2 milhões de pessoas idosas de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios (PARADELLA, 2018). As mulheres representam 16,9 milhões (56%) do total. Essa tendência é global, e, de acordo com o site de notícias da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Brasil, a população com mais de 60 anos irá passar dos atuais 841 milhões para 2 bilhões até 2050, o que tornará as doenças crônicas e o bem-estar da terceira idade um novo desafio para a saúde pública global. Pode-se conferir, na figura a seguir, a distribuição da população por idade e sexo. Anos Anos% da população 80 ou mais 80 ou mais 75 - 79 75 - 79 70 - 74 70 - 74 65 - 69 65 - 69 60 - 64 60 - 64 55 - 59 55 - 59 50 - 54 50 - 54 45 - 49 45 - 49 40 - 44 40 - 44 35 - 39 35 - 39 30 - 34 30 - 34 25 - 29 25 - 29 20 - 24 20 - 24 15 - 19 15 - 19 10 - 14 10 - 14 5 - 9 5 - 9 0 - 4 0 - 4 0 1,3 0,8 1,0 0,8 1,4 1,1 2,0 1,6 2,5 2,1 3,0 2,6 3,4 3,0 3,4 3,1 3,8 3,4 4,2 3,8 4,0 3,8 3,8 3,6 3,9 4,0 4,1 4,2 3,6 3,7 3,2 3,4 3,1 3,3 Figura 39 – Distribuição da população por sexo e grupo de idade – 2017 A longevidade se dá em países de alta renda em consequência de ações que resultam na diminuição da pressão arterial e do uso de tabaco. Ainda assim, a OMS garante que viver mais não significa necessariamente ser mais saudável. Um dos problemas que países como o Brasil devem encarar é a grande carga de doenças crônicas, juntamente com a falta de políticas públicas mais efetivas (ONUBR, 2014; BRITO et al., 2013). O envelhecimento de qualidade ruim reflete em uma demanda maior na utilização dos sistemas de saúde, além de em um aumento da frequência e do tempo das internações hospitalares (SOUZA; JACOB FILHO, 1994). Os autores, em sua revisão sobre os desafios da saúde pública frente à epidemiologia do envelhecimento, descrevem algumas abordagens necessárias. Também há mais estudos em diversas vertentes sobre a complexidade que o tema apresenta em relação aos aspectos sobre nutrição, atividade física, prevenções, serviços de saúde, institucionalização, entre outros. 117 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS 7.1.3 Fisiologia e anatomia do envelhecimento O profissional de Educação Física que atua com idosos deve conhecer as características fisiológicas e anatômicas do envelhecimento. É importante que ele entenda sobre o processo, também chamado de senescência, assim como sobre as alterações produzidas pelas afecções que podem acometer o idoso, chamadas de senilidade. Envelhecer pode variar muito ao se compararem os indivíduos; para alguns, acontece de forma mais rápida. Na literatura, o envelhecimento se relaciona com fatores biológicos associados ao estilo de vida, à condição socioeconômica e a doenças. Os aspectos biológicos estão ligados às questões moleculares, celulares, teciduais e orgânicas da pessoa. Na dimensão do psíquico, relaciona-se aos fatores cognitivos e psicoafetivos, que interferem na personalidade e no afeto (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). O envelhecimento pode ser subdividido e compreendido em três etapas: • envelhecimento primário; • envelhecimento secundário; • envelhecimento terciário. Fechine e Trompieri (2012) descrevem o envelhecimento primário como natural ou senescência, uma característica genética típica da espécie. Este acontece de forma gradativa e progressiva, na qual ocorrem efeitos cumulativos. Nessa condição, o indivíduo está submetido à influência de vários fatores determinantes para o envelhecimento, entre eles o exercício, a alimentação, o estilo de vida, a exposição a eventos diversos, a educação e a posição social. É um envelhecimento geneticamente determinado ou pré-programado. Quanto ao envelhecimento secundário ou envelhecimento patológico, este se refere às diversas doenças, que não se confundem com o processo normal de envelhecimento. Também pode estar relacionado aos sintomas clínicos, entre os quais se incluem os efeitos das doenças e do ambiente. É resultante das interações de influências externas, sendo variável entre os indivíduos de acordo com o ambiente. Considera-se que o envelhecimento primário e o secundário interagem entre si, e o estresse ambiental e as doenças podem provocar a aceleração dos processos básicos de envelhecimento e aumentar a vulnerabilidade do indivíduo. Por último, tem-se o envelhecimento terciário, também conhecido como terminal, que se caracteriza por um período de profundas perdas físicas e cognitivas, ocasionadas pelo acúmulo dos efeitos do envelhecimento e por patologias dependentes da idade (FECHINE; TROMPIERI, 2012). É importante entender que a idade cronológica ordena as pessoas conforme a data de nascimento. Já a idade biológica (individual) é demonstrada pelo organismo, que tem como base as suas condições tecidulares, quando comparadas a valores normativos. E, por fim, a idade psicológica é evidenciada pelos aspectos relacionados ao desempenho, à maturação mental e à soma de experiências (FECHINE; TROMPIERI, 2012). 118 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III 7.1.4 Principaisalterações decorrentes do envelhecimento e efetividade das práticas de exercícios físicos como ferramenta de prevenção, manutenção e tratamento Quanto à composição do corpo A partir dos 40 anos de idade, a estatura do corpo começa a diminuir cerca de 1 cm por década. Essa perda se deve à diminuição dos arcos do pé, ao aumento das curvaturas da coluna, além de a um encurtamento da coluna vertebral devido a alterações nos discos intervertebrais. Em decorrência do envelhecimento, perdem-se tônus e fibras musculares, e iniciam-se a degeneração dos discos intervertebrais, o desequilíbrio entre os músculos do quadril e os membros inferiores e as compensações, como o relaxamento, que pode ocorrer no tendão do tibial medial, o qual fará acentuar a diminuição do arco plantar (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE, TROMPIERI, 2012). Os exercícios físicos regulares podem retardar muitas dessas perdas e compensações, e, se o idoso for avaliado e a prescrição for direcionada, os benefícios serão ainda mais eficazes (FECHINE; TROMPIERI, 2012). Quanto à composição corporal, ocorre um aumento do tecido adiposo, que tende a se depositar nos compartimentos omentos (peritônio, membrana que recobre as paredes do abdômen) na região perirrenal (em torno dos rins). No tecido subcutâneo, o tecido adiposo diminui nos membros e aumenta no tronco. É comum o ganho de gordura em substituição à perda de massa muscular, e esse é considerado um dos principais fatores que influenciam no surgimento de certas doenças e incapacidades. Para as mulheres, o aumento da massa gorda é maior do que para os homens (1,7% e 1,5% por década, respectivamente) (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). O teor total de água do corpo diminui por perda de água intracelular, levando à diminuição da relação fluido intracelular para o extracelular. O potássio total, que, na maior parte, é intracelular, também diminui. A perda de água e potássio se deve, preferencialmente, à diminuição geral do número de células nos órgãos (SOUZA; JACOB FILHO, 1994). Em relação à perda de massa, os órgãos internos mais afetados são os rins e o fígado, mas os músculos são os que mais sofrem prejuízo ponderal com o passar do tempo. Os exercícios físicos regulares, como os aeróbios, são fundamentais para manter a eficácia do metabolismo oxidativo e auxiliar no maior gasto energético. Os exercícios de fortalecimento dos grupos musculares do tronco e os que diminuem a pressão interna do abdômen são essenciais para evitar o acúmulo de gordura visceral e no peritônio. Esses exercícios, quando associados a uma reeducação alimentar adequada, podem gerar, em muitos casos, a diminuição dessa gordura. Quanto à perda de água, é preciso diminuir o uso de sódio para evitar a retenção de líquido. Em períodos de muito calor, a ingestão de água deve ser mais rigorosa, pois a desidratação é mais intensa, e, com a perda de potássio, podem surgir, em algumas pessoas, quadros de câimbra e arritmia extrassístole. Como se sabe, o potássio é um dos principais componentes das células. Tem papel essencial em funções como contração muscular, condução nervosa, frequência cardíaca, produção de energia e síntese de ácidos nucleicos e proteínas. Os exercícios contra resistência ou de musculação são recomendados 119 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS para ganhar e/ou manter a massa magra; consequentemente, observa-se a manutenção ou a diminuição da massa gorda (NORDIN; FRANKEL, 2014; ACSM, 2014). Sistema ósseo No envelhecimento, a espessura do componente compacto diminui devido à reabsorção interna óssea. Na parte esponjosa do osso idoso, há a perda de lâminas ósseas em relação ao jovem, formando-se cavidades maiores entre as trabéculas ósseas. Os osteócitos, que controlam todo o metabolismo da matriz extracelular, diminuem em número e atividade. Com isso, há o desequilíbrio do metabolismo do cálcio e a perda de cálcio na matriz. Essa talvez seja a alteração mais importante que ocorre no osso com o envelhecimento. As moléculas de cálcio estão aderidas às fibras colágenas da matriz óssea. Como a destruição de colágeno no idoso é mais lenta do que a formação de novas fibras, a quantidade de sais inorgânicos no osso passa a ser maior do que a quantidade de colágeno, embora haja a perda real de cálcio. Isso torna o osso mais quebradiço (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). A manutenção da massa óssea é regulada por estímulos bioquímicos (fatores de crescimento e hormônios) e mecânicos. A falta de estímulo mecânico – como na imobilização prolongada e em situações nas quais há a diminuição da gravidade – leva à diminuição da massa óssea. Sabe-se que o estímulo mecânico é um fator que aumenta a massa óssea, podendo ser observado em estímulos como ultrassom de baixa potência, vibração ou campo eletromagnético, além de em exercícios físicos como caminhada, corrida e, principalmente, exercícios contra resistência. A prática de musculação em aparelhos é recomendada e apresenta alto grau de segurança. A musculação não produz impacto, e a pressão exercida nos segmentos corporais através da resistência dos pesos estimula o ganho de massa óssea (ACSM, 2014). O estímulo é reconhecido pelas células ósseas após um processo denominado mecanotransdução, responsável por produzir reações bioquímicas a partir de um fenômeno mecânico (físico), determinando uma resposta celular, que pode ser de produção ou reabsorção óssea. A figura a seguir apresenta uma massa óssea normal e outra com osteoporose. Figura 40 – Representação de massa óssea normal (à esquerda) e com osteoporose (à direita) 120 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III A perda de tecido ósseo ocorre de maneira diferente no homem e na mulher. Na mulher, não há perda óssea significante antes da menopausa. Porém, após esse período, o processo é mais intenso do que nos homens. Isso altera a densidade óssea tanto do tecido compacto quanto do esponjoso (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FOSS; KETEYIAN, 2000; GUSMÃO; BELANGERO, 2009). A osteoporose é outra doença que se encontra em mulheres e homens. Nas mulheres, a perda de sais minerais equivale a 0,75%, e, aos 35 anos e na menopausa, equivale de 2% a 3%. Para os homens, a perda chega a 0,4% a partir dos 40 anos. Para as mulheres, um dos fatores responsáveis pela osteoporose na menopausa é a produção diminuída de estrogênio, uma vez que esse hormônio está diretamente relacionado ao estímulo das atividades osteoblásticas, além de fatores como dieta e inatividade física (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006). Sistema articular Todos os tipos de articulações sofrem alterações com o envelhecimento. Os discos intervertebrais são constituídos por um núcleo pulposo e um anel fibroso. O núcleo pulposo, no jovem, é constituído por uma grande quantidade de água, fibras colágenas delgadas e proteoglicanas; o anel fibroso é uma fibrocartilagem constituída por condrócitos e uma matriz, onde se encontram fibras colágenas espessas e proteoglicanas. No envelhecimento, o núcleo pulposo perde água e proteoglicanas, e as fibras colágenas aumentam em número e espessura. No anel fibroso, ao contrário, há a perda de células e o acúmulo de cálcio, e as fibras colágenas ficam mais delgadas. Com tudo isso, a espessura do disco diminui, acentuando-se as curvas da coluna, especialmente a torácica, o que contribui para a cifose torácica e o aumento na compressão da coluna como um todo, comumente verificados entre os idosos. Na figura a seguir, pode-se observar exemplos de degeneração articular da coluna. As alterações são mais comuns nas regiões cervical e lombar (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). Figura 41 – Ressonância nuclear magnética da coluna em corte sagital, mostrandodiscopatias nos níveis L3-L4, L4-L5 e L5-S1 O estresse físico, como o trabalho de mobilidade específico e os exercícios físicos, é fundamental para a nutrição dos discos intervertebrais, que não possuem rede vascular. O suprimento dos discos vertebrais 121 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS depende da difusão dos vasos periféricos, e estes servem de aporte para as questões metabólicas e regenerativas (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; NORDIN; FRANKEL, 2014; ACSM, 2014). É observada uma diminuição de desconfortos, um ganho de mobilidade, um maior aporte metabólico, uma hidratação dos discos e menores deformidades degenerativas nas estruturas vertebrais. Modalidades de treinamentos que envolvem trabalhos de tração em grau fisiológico, equilíbrio dos grupos musculares envolventes, alongamento e fortalecimento são indicadas para reverter quadros graves de disfunções musculoesqueléticas e manter o equilíbrio estático e dinâmico, além de para promover uma melhor qualidade de vida ao idoso (NORDIN; FRANKEL, 2014; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008; COX, 2002). Nas articulações sinoviais (ou diartroses), ocorrem importantes alterações na cartilagem articular e na perda de líquido. A função dessa cartilagem é diminuir o atrito entre as superfícies articulares, o que explica a sua aparência lisa e brilhante e sua estrutura adaptada a essa função. No jovem, a cartilagem é constituída por camadas de células, os condrócitos, e uma matriz, onde se encontram água, fibras colágenas e proteoglicanas. Com o envelhecimento, ocorrem alterações, especialmente nas camadas superficiais da cartilagem articular: o número de células, a água e as proteoglicanas diminuem, enquanto as fibras colágenas aumentam em número e espessura. Como consequência, a cartilagem fica mais delgada, e surgem rachaduras e fendas na superfície. Essas alterações aumentam em frequência com a idade. Com a prática de exercícios físicos, é possível evitar a desidratação acelerada. Com o estresse físico, o volume de nutrientes intra-articular aumenta, provocando um ajuste na articulação em específico, e esses processos degenerativos podem ser retardados. O trabalho focado no reequilíbrio muscular e postural do idoso evita a degeneração por compensações provocadas pelo aumento do atrito indesejado, em consequência de uma determinada articulação estar trabalhando com sobrecarga (NORDIN; FRANKEL, 2014). O estresse físico apenas por exercícios de mobilidade articular pode melhorar significativamente o quadro de dor e desconforto, pois o estresse proporciona uma melhor vascularização, aumenta o volume de nutrientes e mantém certa atividade das bursas, promovendo, assim, a lubrificação da referida articulação (NORDIN; FRANKEL, 2014; COX, 2002). Sistema musculoesquelético Com o envelhecimento musculoesquelético, observa-se a diminuição no comprimento, na elasticidade e na quantidade de fibras musculares. Nota-se a perda de massa muscular e da elasticidade dos tendões e ligamentos (tecidos conectivos), bem como da viscosidade dos fluidos sinoviais. O autor relata a perda de massa muscular a partir dos 50 anos, sendo de 1,9 kg para homens e 1,1 kg para mulheres (por década). Essa diminuição é maior nos membros inferiores, e não há diferença entre os sexos (FECHINE; TROMPIERI, 2012). 122 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III Ocorre, com o envelhecimento, uma diminuição da secção transversa do músculo. O volume intramuscular é representado por maior conteúdo gorduroso e de colágeno, e essa atrofia muscular decorre da perda de fibras musculares, que chega a ser 20% menor do que a observada em adultos. Alcança-se o pico de força muscular aos 25 anos, e o declínio é lento até os 50 anos. Após esse período, é possível observar, por década, a perda entre 12% e 15% (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). Consequentemente, a perda de massa muscular contribui para outras alterações, como a diminuição da densidade óssea, a menor sensibilidade à insulina, a menor capacidade aeróbia, a menor taxa de metabolismo basal, a menor força muscular e o menor nível de atividades físicas diárias. Nos idosos, o enrijecimento e a perda de elasticidade dos tendões e dos ligamentos associada à perda de força são fatores que desencadeiam torções, luxações e o aumento das quedas (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). Ao envelhecer, a redução da massa muscular se deve, possivelmente, à perda das fibras musculares de contração rápida do tipo II. Essa perda de força e potência muscular está relacionada com a perda da quantidade, assim como da qualidade, das proteínas nas unidades contráteis do músculo (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006). A inatividade física é uma das grandes responsáveis pelo aceleramento do processo de envelhecimento (FLECK; KRAEMER, 2006; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008; COX, 2002). Os idosos que não fazem exercício físico apresentam maior porcentagem de gordura e menor teor de massa muscular quando comparados aos idosos que praticam regularmente exercício físico (COX, 2002; FECHINE; TROMPIERI, 2012). A redução das atividades, a do gasto energético em repouso e a do efeito termogênico dos alimentos são fatores que favorecem o acúmulo de gordura. Juntas, elas induzem a um decréscimo substancial nas necessidades energéticas diárias (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006). A literatura é clara e unânime ao comentar sobre os programas de exercícios físicos para idosos, principalmente os mais frágeis. Quanto ao exercício de musculação, é importante para a prevenção da perda e o aumento substancial da massa muscular, a manutenção e o aumento no desempenho das atividades diárias. Observa-se a diminuição da frequência de quedas em idosos que participam de programas de treinamento físico, os quais, de forma contínua, atuam como fator preventivo de doenças e incapacidades funcionais, como as observadas na sarcopenia, na distrofia muscular e na artrite reumatoide relacionadas ao envelhecimento, que incrementam a síndrome da fragilidade física dos idosos (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008). Sistema nervoso Durante o envelhecimento, as alterações mais importantes do sistema nervoso ocorrem no cérebro. O SNC (sistema nervoso central), responsável pelas sensações, pelos movimentos e pelas funções biológicas, é a parte mais comprometida com o envelhecimento (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012). 123 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS O peso do cérebro diminui com a idade, assim como o seu volume. As menores perdas ocorrem a partir dos 45 anos, e, até os 90 anos, a perda pode chegar a, aproximadamente, 10% por década (FECHINE; TROMPIERI, 2012). Ocorre certo grau de atrofia no córtex cerebral e um aumento volumétrico dos ventrículos encefálicos. Lembrete O envelhecimento se relaciona com fatores biológicos associados ao estilo de vida, à condição socioeconômica e a doenças. Os aspectos biológicos estão ligados às questões moleculares, celulares, teciduais e orgânicas da pessoa. Na dimensão do psíquico, relaciona-se aos fatores cognitivos e psicoafetivos, que interferem na personalidade e no afeto. Com o envelhecimento e a reestruturação do cérebro, o idoso pode apresentar hipóxia. As alterações do sistema circulatório associadas à inatividade física contribuem para o declínio da oxigenação (FECHINE; TROMPIERI, 2012). Perda da substância cinzenta em virtude da morte celular neuronal e/ou da atrofia cortical Aumento dos ventrículos Cérebro envelhecidoCérebro adulto normal Perda da substância branca emvirtude da perda axônica ou da diminuição da mielinização Figura 42 – Diferenças entre cérebro jovem e envelhecido A maior parte das células que compõem o córtex são as células nervosas (ou neurônios), mas há também as células da glia (responsáveis pela produção de bainha de mielina). Com o envelhecimento, as células nervosas, como outras células, apresentam acúmulo de um pigmento: a lipofuscina (trata-se de um pigmento de desgaste, tipo lixo celular, que tem como base os lipídeos). Muitas das células piramidais mostram alterações no envelhecimento de vários tipos, como os dendritos inchados na base, o desaparecimento de dendritos ou o número reduzido de espinhas em várias áreas do córtex. Essas alterações podem evoluir até a morte completa da célula. Na medula espinal, somente após os 60 anos de idade se inicia a morte celular. A maneira como a perda de células nervosas pode afetar a função do sistema nervoso varia entre as pessoas e depende de vários fatores, entre os quais a região em que ela é mais intensa. 124 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III A prática de exercícios físicos é fundamental para a manutenção do SNC e das atividades do sistema circulatório, além de gerar um aumento do fluxo sanguíneo para uma boa oxigenação, observada em idosos mais ativos com exercícios tanto aeróbios quanto contra resistência, mesmo naqueles que apresentam doenças crônicas (FECHINE; TROMPIERI, 2012; NORDIN; FRANKEL, 2014; ACSM, 2014; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008). Sistema respiratório A função pulmonar aumenta na adolescência e se estabiliza aos 30 anos. Em seguida, inicia-se o seu declínio. Com o envelhecimento, são esperadas algumas alterações estruturais no aparelho respiratório. São observadas uma caixa torácica mais rígida e uma diminuição da elasticidade pulmonar. A capacidade vital diminui, e o volume residual aumenta. No entanto, na capacidade pulmonar total, observam-se poucas alterações (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012; FOSS; KETEYIAN, 2000). Após os 30 anos de idade, há a redução do consumo máximo de oxigênio (VO2 max) com perda gradativa de, aproximadamente, 1%. A redução do VO2 associada à idade ocorre devido a fatores como redução arteriovenosa de oxigênio e diminuição do débito cardíaco máximo. As alterações fisiológicas no envelhecimento podem ser atribuídas às combinações entre alterações anatômicas e às reorientações das fibras elásticas dos pulmões. São alterações fisiológicas definidas pela diminuição da elasticidade pulmonar: a redução da capacidade da difusão do oxigênio, a redução dos fluxos expiratórios, o fecho prematuro de vias aéreas e a redução da complacência da parede torácica. Em exercícios intensos, os idosos costumam se queixar de dispneia. A capacidade aeróbia máxima diminui com o envelhecimento; no entanto, os idosos fisicamente ativos possuem capacidade aeróbia melhor do que os idosos com a mesma idade inativos, ou jovens e sedentários (FECHINE; TROMPIERI, 2012; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008). Tendo em vista os aspectos positivos do exercício, os autores observam que o programa regular de exercício físico pode modificar vários processos fisiológicos que diminuem com o envelhecimento, melhorando, assim, a eficiência cardíaca, a função pulmonar e os níveis de cálcio. É consenso que os adultos praticantes de atividades aeróbias têm minimizado muitos dos declínios respiratórios decorrentes do envelhecimento, com significativa melhora da qualidade de vida (FECHINE; TROMPIERI, 2012; ACSM, 2014; FLECK; KRAEMER, 2006; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008). 7.1.5 Recomendações para prescrição de exercícios físicos para idosos Considerando as recomendações do ACSM e as Diretrizes de Atividades Físicas para Americanos – 2ª edição – (ACSM, 2018; PAGA, 2018), a prescrição de exercícios físicos para idosos deve incluir exercícios aeróbios, de fortalecimento e de flexibilidade e, de acordo com as necessidades individuais, deve levar em conta a condição individual de saúde, o uso de medicamentos, os fatores de risco, as características comportamentais, os objetivos pessoais e as preferências de exercícios. Em decorrência das disfunções motoras e fisiológicas, deve-se incrementar com exercícios específicos, como os respiratórios, de equilíbrio, entre outros. 125 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS A prescrição deve considerar os princípios do treinamento esportivo: • individualidade biológica; • especificidade; • sobrecarga; • adaptabilidade; • progressividade; • continuidade; • reversibilidade. As evidências quanto à prescrição devem ter base em: • melhora da aptidão física; • promoção da saúde; • redução de fatores de risco para doenças crônicas; • segurança; • interesses individuais, necessidades de saúde e condições. Quanto à frequência e duração das atividades, deve-se: • para atividades moderadas, acumular, pelo menos, de 30 a 60 minutos por dia (maior benefício), em episódios de, no mínimo, 10 minutos, para um total de 150 a 300 minutos por semana; • realizar de 20 a 30 minutos ou mais por dia de intensidade vigorosa, para um total de 75 a 150 minutos por semana; • realizar uma combinação equivalente de atividade moderada e vigorosa; • treinar de 3 a 5 vezes por semana (treinar menos que 3 vezes aumenta o risco por excesso de carga por intensidade do treinamento); • utilizar, se necessário, alguma escala de percepção de esforço. 126 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III 7.1.6 Contraindicações São conhecidos os diversos benefícios dos exercícios físicos para a população idosa, que é considerada, no entanto, uma das que mais possuem riscos de eventos adversos durante a prática de exercícios. Esse fato se deve às múltiplas comorbidades. Na literatura, é consenso encontrar a recomendação de que, ao aderir a um programa de atividade física, o idoso se submeta a uma avaliação médica para diagnóstico e que a prescrição de exercícios seja elaborada a partir das considerações acerca das limitações (CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008; ACSM, 2018). As contraindicações para a prescrição de exercícios se aplicam às diversas modalidades que são indicadas para populações especiais: • PAS > 200 mmHg ou PAD > 110 mmHg em repouso; • queda da PA ortostática > 20 mmHg com sintomas; • hipotensão ao esforço maior que 15 mmHg; • angina instável; • arritmias não controladas; • estenose aórtica crítica ou sintomática; • doença aguda ou febre; • frequência cardíaca de repouso > 120 bpm; • insuficiência cardíaca descompensada; • bloqueio atrioventricular de 3º grau sem marcapasso; • pericardite ou miocardite em curso; • infarto ou embolismo pulmonar recente; • depressão de segmento ST maior que 2 mV em repouso; • problemas ortopédicos graves que proíbam os exercícios resistidos; • cardiomiopatia hipertrófica; • bypass coronário até quatro semanas; 127 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS • fração de ejeção ventricular esquerda menor que 30%; • hipertensão pulmonar severa (maior que 55 mmHg); • síndrome de Marfan como contraindicação absoluta à prática dos exercícios resistidos. Os autores ainda salientam que essas são condições de prejuízo significativo à saúde e que os pacientes devem ser assistidos clinicamente de forma rigorosa (CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008). 7.2 Gestantes A gravidez é entendida como uma alteração fisiológica, embora já tenha sido vista, historicamente, com similaridades a alguma doença devido a seussinais e sintomas. Atualmente, considera-se a gravidez como um processo fisiológico normal (FERREIRA; NAKANO, 2001), e, portanto, apesar das inúmeras adaptações gravídicas, não há impedimento para a prática de exercício físico quando a gravidez se desenvolve dentro da normalidade. 7.2.1 Modificações relacionadas à gravidez 7.2.1.1 Sistemas energéticos A energia química utilizada pelo corpo é liberada no processo de oxigenação. O oxigênio serve como oxidante através do sistema respiratório, e o sistema cardiovascular distribui a energia por meio da sua bomba propulsora (coração) e dos vasos sanguíneos. O período gestacional submete o metabolismo materno a mudanças intensas em curto intervalo de tempo. As demandas energéticas são bem evidentes. O ganho de peso acontece, principalmente, devido ao aumento da quantidade de água dentro e fora dos vasos sanguíneos e, em menor proporção, devido ao acúmulo de componentes energéticos e estruturais (carboidratos, lipídeos e proteínas) (ZUGAIB, 2008). O custo energético aproximado da gestação é de 80.000 kcal ou 300 kcal/dia (ACOG, 2002). Este é necessário para cobrir o crescimento e o desenvolvimento do feto, síntese de tecido materno, como o útero, as mamas e a gordura, e para compensar o aumento do metabolismo decorrente do incremento da atividade dos sistemas cardiovascular, respiratório e urinário e a adição do metabolismo fetal. A demanda é desigualmente distribuída, sendo bem intensa no meio da gravidez, com necessidade extra de 390 kcal. Isso é provocado, principalmente, pelo depósito de gordura durante esse período. Os últimos 25% do período gravídico são menos exigentes: apenas um adicional de 250 kcal/dia é necessário para o crescimento do feto (ACOG, 2002). 128 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III kg 15 13 11 9 7 Au m en to d e pe so 5 3 1 0 16 20 24 28 32 36 40 P 10 P 25 P 50 P 90 Amenorreia (semanas) Figura 43 – Ganho de peso materno em relação à idade gestacional A gravidez normal gera um desequilíbrio entre o metabolismo dos carboidratos e das gorduras. Observa-se, portanto, a redução da glicemia de jejum e da glicemia basal materna às custas do armazenamento de gordura, da glicogênese hepática e da transferência de glicose para o feto (ZUGAIB, 2008). Essas alterações são observadas na primeira fase, ou fase anabólica, que corresponde à primeira metade da gestação, e são desencadeadas pelos hormônios sexuais placentários (estrógeno e progesterona). A partir da segunda metade da gravidez, inicia-se o período catabólico, com lipólise, gliconeogênese e resistência à insulina. Acredita-se que o hormônio lactogênio placentário, por sua ação somatotrópica, estimule a lipólise com a liberação de ácidos graxos na corrente sanguínea materna. Assim, a partir da trigésima semana de gestação, a mulher começa a utilizar suas reservas para se adequar ao crescimento fetal. O excesso de ácidos graxos leva à resistência periférica à insulina, mantendo o ambiente de hiperglicemia pós-prandial, com consequente hiperinsulinemia. Observação A ação somatotrópica corresponde aos movimentos de mudança de direção de crescimento, que ocorrem em organismos vivos, nas células somáticas, devido a um fator externo. A redução da sensibilidade à insulina é comumente observada em gestantes a partir da 26ª semana de gestação. É nesse momento, portanto, que se deve atentar para o desenvolvimento da diabetes gestacional, principalmente se a oferta de glicose no sangue materno ultrapassa a capacidade da insulina de manter a glicemia em concentrações normais. A sensibilidade à insulina pode ser reduzida de 40% a 70%. 129 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS 250 200 150 100 50 0 8 13 18 Hora do dia 23 8 In su lin a (m cU /m L) Insulinemia gestante Insulinemia não gestante Glicemia gestante Glicemia não gestante 140 130 120 110 100 90 80 70 60 8 13 18 23 8 Gl ic em ia (m g/ dL ) Figura 44 – Ritmo circadiano de glicemia e secreção de insulina em gestantes no terceiro trimestre e em não gestantes 7.2.1.2 Sistema cardiovascular Uma das primeiras adaptações observadas na gestação são as modificações no volume e na constituição do sangue. O volume de sangue aumenta entre 30% e 50% durante a gravidez. Essas variações dependem da constituição individual de cada gestante, assim como da quantidade de tecido trofoblástico, sendo maior em gestantes gemelares e menor em gestantes com insuficiência placentária. Observa-se, assim, um volume menor em gestantes que apresentam restrição no crescimento da placenta ou hipertensão arterial sistêmica (ZUGAIB, 2008). 130 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III A função do aumento do volume sanguíneo está associada à maior necessidade de fluxo sanguíneo nos órgãos genitais, em especial o útero. Além disso, esse aumento tem papel de proteção para a gestante e para o feto em relação à redução do retorno venoso, comprometido quando a gestante está em posição supina e ereta, e em relação às perdas sanguíneas esperadas no processo do parto. Apesar do aumento do volume total de sangue, o volume plasmático aumenta em proporção maior que o volume celular. Em geral, pode-se observar um aumento de 45% a 50% do volume plasmático e de 33% do volume celular, o que resulta em hemodiluição e anemia fisiológica (ZUGAIB, 2008). As adaptações no volume de sangue materno, apesar de ainda controversas, parecem estar relacionadas às adaptações no controle hídrico do organismo feminino em gestação. O sistema renina-angiotensina-aldosterona aumenta a sua atividade para que compense a ação dos mecanismos de excreção, como é o caso do aumento da filtração glomerular e do fator natriurético atrial (GALLERY et al., 1987 apud ZUGAIB, 2008). Observação O peptídeo atrial natriurético (ANP) é um hormônio sintetizado principalmente por células cardíacas, cuja secreção é estimulada pelo aumento do volume de sangue e pelo aumento da osmolaridade do plasma. Pode desencadear ações sobre o sistema circulatório, como hipotensão, diurese, inibição da liberação e ação de vários hormônios, incluindo aldosterona, angiotensina II, endotelinas, renina e vasopressina. No organismo de indivíduos não grávidos, quando há o aumento da volemia, receptores de pressão e volume (barorreceptores) são ativados, assim como a baixa osmolaridade plasmática ativa os receptores químicos (quimiorreceptores). Para que haja a redução da volemia, aumenta-se a secreção do fator natriurético atrial, que atua nos rins, nos adrenais e nos vasos, gerando a excreção de água e sódio e a vasodilatação. Durante a gravidez, apesar do aumento progressivo da concentração do fator natriurético atrial, o aumento lento da volemia torna os receptores menos sensíveis aos estímulos, permitindo o acúmulo de sódio e água no organismo materno (GALLERY; BROWN, 1987 apud ZUGAIB, 2008). Saiba mais A hipótese de que os níveis séricos do ANP estejam aumentados na gestação humana normal, um estado de expansão fisiológica do volume plasmático, é considerada controversa. Leia mais em: REIS, Z. S. N. et al. Pressão arterial e concentração plasmática do peptídeo atrial natriurético e do peptídeo natriurético tipo B, em gestações complicadas pela pré-eclâmpsia. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 25, n. 6, p. 413-418, 2003. 131 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS Outra adaptação cardiovascular importante relacionada ao aumento do volume de sangue no organismo materno é o aumento da frequência cardíaca em conjunto como aumento do volume sistólico, que desencadeia o aumento do débito cardíaco. Essas relações são organizadas, portanto, da seguinte forma: ↑ Débito cardíaco =↑ ↑ volume sistólico x ↑ frequência cardíaca O débito cardíaco em gestantes chega a ser 50% maior do que em mulheres não gestantes. 10 9 8 7 6 5 5 6,8 6,2 7,2 8,9 9,3 5,8 7,1 4 3 2 1 0 N ão g es ta nt e Dé bi to c ar dí ac o (L /m in ) 20 -2 4 se m an as 28 -3 2 se m an as 28 -4 0 se m an as Fa se la te nt e Fa se a tiv a Pe río do e xp ul siv o Pó s- pa rt o im ed ia to Figura 45 – Débito cardíaco em mulheres não gestantes, ao longo da gravidez, no momento do trabalho de parto e no pós-parto imediato É importante ressaltar, também, que ocorrem alterações bioquímicas relevantes na circulação, que têm por objetivo proporcionar a redução da resistência vascular periférica e, consequentemente, a vasodilatação (NEME, 2005), levando a uma redução da pressão arterial sistêmica na mulher gestante. Essa redução é mais pronunciada no segundo trimestre da gestação e é mais observada nos valores da pressão diastólica (queda de 5 a 15 mmHg) (WILSON et al., 1980 apud ZUGAIB, 2008). ↓ Pressão arterial sistêmica x ↓ ↓ resistência vascular periférica = ↑ débito cardíaco O aumento da pressão venosa nos membros inferiores é justificado pela compressão das veias pélvicas pelo útero volumoso. Por essa razão, existe uma maior chance de a gestante apresentar hipotensão, edema, varizes e hemorroidas. 132 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III Observação Hemorroidas são veias ao redor do ânus ou do reto que se inflamam ou dilatam e que, em geral, não costumam causar danos à saúde, mas incomodam e causam dores nas gestantes. A compressão do útero também pode ocorrer sobre os vasos maiores, como a veia cava inferior, quando a gestante está em posição supina, principalmente a partir da segunda metade da gravidez. A redução da pré-carga, nessas ocasiões, provoca hipotensão seguida de bradicardia por reflexo vagal. A distribuição do fluxo sanguíneo se altera ao longo das semanas, desviando-se com prioridade para o útero, os rins, as mamas e a pele (ZUGAIB, 2008). Observação Pré-carga é o volume de sangue que chega ao ventrículo esquerdo antes de a contração ser iniciada. ↑ Débito cardíaco ↑ Volume sistólico ↑ Frequência cardíaca ↑ Volume de sangue ↑ Resistência vascular sistêmica ↑ Fluxo de sangue uterino ↑ Conteúdo proteico ↑ Depósito de gordura ↑ Lipídeos sanguíneos ↑ Retenção de sódio Mudancas hormonais para promover retenção de água ↑ Peso corporal ↑ Volume total ↑ VO2 Ventilação prejudicada (elevação do diafragma) ↑ Alterações de humor ↑ Desestabilidade emocional ↑ Instabilidade Mudança do centro de gravidade ↑ Relaxamento articular ↑ Riscos de lesões ↑ LH ↑ GH ↑ Lactogênio placentário humano ↑ Estrógenos ↑ Progesterona Cardiovascular MetabólicoEmocional RespiratórioEndócrino Musculoesquelético Figura 46 – Principais adaptações durante a gravidez 133 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS Em relação às adaptações morfológicas, pode-se observar que, ao longo da gestação, com o crescimento fetal, o músculo diafragma se eleva. Esse deslocamento pode alterar a posição cardíaca, e, assim, o coração pode se apresentar deslocado para cima e para a esquerda. Além disso, o volume do coração aumenta. Por esses motivos, pequenas alterações no ritmo cardíaco podem acontecer, em especial as extrassístoles. Sopros cardíacos também podem ser observados devido à redução da viscosidade do sangue e ao aumento do débito cardíaco (CUTFORTH; MACDONALD, 1966 apud ZUGAIB, 2008). 7.2.1.3 Outras modificações na gestação Outras alterações provocadas pela gestação podem incluir o sistema locomotor. Praticamente todas as mulheres grávidas experimentam algum desconforto musculoesquelético durante a gravidez. Destas, pelo menos 25% apresentam, ao menos, sintomas temporários (BORG-STEIN; DUGAN; GRUBER, 2005). As mulheres grávidas apresentam um risco aumentado de queixas musculoesqueléticas, principalmente de lombalgia. A mudança do centro de gravidade, devido ao aumento do tórax, do útero e do feto, a rotação anterior da pelve, o aumento da lordose lombar e o aumento da elasticidade ligamentar, causada pela ação de alguns hormônios (SHEPHARD, 2000), são os principais responsáveis pelos sintomas (GARSHASBI; FAGHIH ZADEH, 2005). Figura 47 – Mudança no eixo gravitacional da gestante com o progressivo aumento do volume abdominal e aumento de líquido das articulações Modificações extensas também acontecem no sistema respiratório da mulher gestante, incluindo alterações anatômicas e funcionais. Elas ocorrem já no início da gestação e sob a influência, principalmente, 134 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III da progesterona, que, mesmo antes do crescimento uterino, já piora a ventilação. O diafragma se eleva em torno de 4 cm, o que colabora para o aumento do volume e do consumo de oxigênio (VO2) e, presumidamente, ajuda a aumentar o suporte de oxigênio para o feto (PIVARNIK; STEIN; RIVERA, 2002). A gravidez e o parto também têm sido considerados fatores de risco para a gênese da disfunção do assoalho pélvico (VAN VEELEN; SCHWEITZER; VAN DER VAART, 2014). A pressão dentro da cavidade abdominal gerada pelo útero em crescimento, assim como o estresse mecânico imposto pelo parto, pode causar denervação parcial do assoalho pélvico e lesão no músculo e tecido conjuntivo. Algumas situações, como o ganho excessivo de peso na gestação, a macrossomia fetal (bebê com peso excessivo), o parto instrumental ou o trabalho de parto prolongado, relacionam-se, tradicionalmente, com fatores que propiciam as lesões no assoalho pélvico, sendo a incontinência urinária a mais comum desordem do assoalho pélvico (SOLANS-DOMENECH et al., 2010). As mesmas modificações hormonais provocadas pela relaxina, pela progesterona e pelo estrógeno, associadas ao crescimento uterino e já mencionadas, podem provocar o estiramento da musculatura abdominal, atingindo, principalmente, os músculos retoabdominais, acompanhadas pelas modificações de postura. Tais alterações posturais podem provocar mudanças no ângulo de inserção dos músculos abdominais e pélvicos, influenciando a biomecânica postural, além de gerar um déficit na função de sustentação dos órgãos pélvico-abdominais. Assim, quanto mais a gravidez progride e os músculos abdominais se alongam, mais haverá um prejuízo no vetor de força desses músculos, podendo ocorrer uma diminuição na força de contração (ARTAL; O’TOOLE; WHITE, 2003). Dessa forma, tanto as alterações biomecânicas quanto o estiramento dessa musculatura facilitam o aparecimento da diástase dos músculos retoabdominais. A diástase dos músculos retoabdominais é definida como a separação ou o afastamento dos feixes desses músculos ao longo da linha alba (ARTAL; O’TOOLE; WHITE, 2003). Figura 48 – Fotografia clínica de mulher de 30 anos de idade, seis meses após o parto 135 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS A ocorrência desse fenômeno é mais comum na gestação e no pós-parto imediato (BURSCH, 1987 apud RETT et al., 2009), tendo como principais fatores predisponentes a obesidade, a multiparidade, a macrossomia fetal, a flacidez da musculatura abdominal, o polidrâmnio e as gestações múltiplas (MESQUITA; MACHADO; ANDRADE, 1999). Pode ser uma situação transitória (ARTAL; O’TOOLE; WHITE, 2003) ou pode permanecer ao longo da vida da mulher (CHIARELLO et al., 2005). Observação Polidrâmnio é a produçãoexcessiva de líquido amniótico. 7.2.2 Atividade física/exercício físico para gestantes A atividade física é definida como qualquer movimento corporal decorrente de contração muscular, com dispêndio energético acima do repouso, que, em última análise, permite o aumento da força física, da flexibilidade do corpo e da resistência, com mudanças no campo da composição corporal ou da performance desportiva (WHO, 2004). Evidências de estudos científicos apontam o importante papel da atividade física na promoção da saúde e da qualidade de vida, na prevenção e no controle de várias doenças. No entanto, para os indivíduos com condições fisiológicas específicas, tais benefícios podem não ocorrer ou ser válidos com certas restrições. Até algumas décadas atrás, as mulheres grávidas eram aconselhadas a reduzir as suas atividades e até mesmo interromper seu trabalho ocupacional, especialmente na fase final da gravidez. Porém, desde a década de 1990, tem-se admitido o efeito positivo da atividade física regular durante a gestação, desde que a mulher não apresente condições adversas específicas (LIMA; OLIVEIRA, 2005; ACOG, 2002). Na literatura, parece haver o consenso de que manter um nível de atividade física razoável durante uma gravidez descomplicada fornece vários benefícios para a saúde da mulher. Isso é explicado pelo fato de a atividade física provocar uma resposta de redistribuição circulatória e térmica, mudando a concentração no sangue do útero e da placenta para as extremidades. Esse processo ajuda a reduzir e prevenir dores nas costas, promove a baixa retenção de líquidos, reduz o estresse cardiovascular, aumenta a capacidade de oxigenação, diminui a pressão arterial, reduz o risco de diabetes gestacional e de pré-eclâmpsia (BONEN et al., 1995 apud BARAKAT et al., 2015), evita tromboses e varizes e ajuda a controlar o ganho de peso gestacional (DAVENPORT et al., 2013). As vantagens incluem, também, aspectos emocionais, uma vez que a atividade física ajuda a tornar a mulher grávida mais autoconfiante e satisfeita com a sua aparência, além de aumentar a sua autoestima, reduzindo, assim, os riscos de depressão (ROBLEDO-COLONIA et al., 2012). Para que, de fato, as vantagens de realizar exercício físico durante a gravidez sejam evidentes, devem ser considerados vários aspectos fisiológicos na prática de exercícios da gestante. As alterações cardiovasculares associadas à gravidez são uma consideração importante para mulheres grávidas em 136 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III repouso e durante o exercício. Após o primeiro trimestre, a posição supina, como já mencionado, resulta em obstrução relativa do retorno venoso e pode, portanto, reduzir o débito cardíaco e causar hipotensão ortostática. Por essa razão, as mulheres grávidas devem evitar a posição supina durante o exercício sempre que possível. Em geral, a participação em uma ampla gama de atividades de lazer parece ser segura. A segurança de cada esporte é determinada, em grande parte, pelos movimentos específicos exigidos. Atividades ou esportes de contato, como hóquei no gelo, futebol e basquete, podem resultar em trauma para a mulher e o feto. Da mesma forma, atividades recreativas, que aumentem o risco de queda, como ginástica, equitação e esqui, ou muito intensas, como esportes de raquete, oferecem mais riscos para as gestantes e devem ser evitadas. O mergulho também deve ser evitado em toda a gravidez porque, durante essa atividade, o feto está em risco aumentado para descompressão, que pode comprometer a circulação pulmonar fetal. Esforço em pequenas altitudes parece ser seguro; no entanto, engajar-se em atividades físicas em maiores altitudes envolve vários riscos. A lista a seguir apresenta alguns tipos de exercícios físicos e/ou situações não recomendadas para a prática durante o período gestacional: • qualquer atividade competitiva, artes marciais ou levantamento de peso; • exercícios com movimentos repentinos ou de saltos, que podem levar à lesão articular; • flexão ou extensão profunda, pois os tecidos conjuntivos já apresentam frouxidão; • exercícios exaustivos e/ou que necessitem de equilíbrio, principalmente no terceiro trimestre; • basquetebol e qualquer outro tipo de jogo com bolas que possa causar trauma abdominal; • prática de mergulho (condições hiperbáricas levam ao risco de embolia fetal quando ocorre a descompressão); • qualquer tipo de ginástica aeróbia, corrida ou atividade em elevada altitude é contraindicado ou, excepcionalmente, aceito com limitações, dependendo das condições físicas da gestante; • exercícios na posição supino após o terceiro trimestre, pois podem resultar em obstrução do retorno venoso. Também existem algumas contraindicações para a prática de exercícios físicos na gestação de acordo com possíveis complicações apresentadas pela gestante. Contraindicações de exercício durante a gravidez O exercício regular é contraindicado em mulheres com as seguintes complicações (LIMA; OLIVEIRA, 2005): 137 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS • Contraindicações absolutas: —↑ doença miocárdica descompensada; —↑ insuficiência cardíaca congestiva; —↑ tromboflebite/embolia pulmonar recente; —↑ doença infecciosa aguda; —↑ risco de parto prematuro; —↑ sangramento uterino; —↑ isoimunização grave; —↑ doença hipertensiva descompensada; —↑ suspeita de estresse fetal; —↑ paciente sem acompanhamento pré-natal. • Contraindicações relativas: —↑ hipertensão essencial; —↑ anemia; —↑ doenças tireoidianas; —↑ diabetes mellitus descompensada; —↑ obesidade mórbida; —↑ histórico de sedentarismo extremo. Muitas das alterações fisiológicas e morfológicas da gravidez persistem por semanas após o parto. Assim, os exercícios podem ser retomados gradualmente. A intensidade do exercício deve ser monitorada de acordo com os sintomas que a gestante apresentar. Essa intensidade se revela através da demanda sobre o sistema cardiovascular. 138 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III 7.2.2.1 Prescrição de exercícios para gestantes Na prescrição do exercício físico para a gestante, é muito importante que seja escolhida uma atividade que melhor se adapte às suas características e aos seus interesses para, com isso, aumentar a aderência ao exercício escolhido em longo prazo. Entre as modalidades de exercício, os aeróbios são os mais estudados, e a caminhada é o exercício mais frequente e o mais escolhido entre as gestantes (NASCIMENTO; SURITA; CECATTI, 2012). A inclusão do exercício aeróbio durante a gestação é importante para preservar a capacidade cardiorrespiratória e o condicionamento físico, além de prevenir e controlar a diabetes gestacional, a hipertensão gestacional e o ganho de peso materno (NASCIMENTO; SURITA; CECATTI, 2012). As atividades incluídas devem envolver grandes grupos musculares, como caminhada ou corrida leve (trote), bicicleta ergométrica, natação, hidroginástica, dança ou ginástica aeróbia de baixo impacto (ZAVORSKY; LONGO, 2011). O treinamento de força também pode ser incluído no programa de exercícios da gestante. Seu benefício inclui o fortalecimento muscular, que proporciona a manutenção do condicionamento muscular ou o aumento de força muscular global, permitindo uma melhor adaptação do organismo materno às alterações posturais provenientes da evolução gestacional, e contribuindo para a prevenção de traumas e quedas, bem como para a prevenção e o tratamento de desconfortos musculoesqueléticos (ZAVORSKY; LONGO, 2011). O fortalecimento deve priorizar a musculatura paravertebral lombar e a cintura escapular, envolvendo, preferencialmente, grandes grupos musculares.Deve-se optar, como critério de escolha, por utilizar o próprio peso corporal e as faixas elásticas no lugar de aparelhos de musculação ou pesos livres. Deve-se, também, evitar cargas elevadas, exercícios isométricos intensos repetidos e posturas que coloquem a gestante em risco, principalmente as que possam afetar seu equilíbrio. Os exercícios de resistência muscular devem ser adaptados com muito cuidado a cada período gestacional (ZAVORSKY; LONGO, 2011). O alongamento também deve ser parte fundamental do programa de exercícios, permitindo melhorar a flexibilidade e o relaxamento muscular e ajudando na adaptação postural e na prevenção de dores de origem musculoesquelética. Deve ser, portanto, complementar ao exercício aeróbio e ao treinamento de resistência (WOLFE; DAVIES, 2003; ZAVORSKY; LONGO, 2011). Técnicas de alongamento muscular, como a ioga e o stretching global ativo (SGA), comprovadamente diminuem as queixas de dor pélvica posterior e de dor lombar durante a gestação (MARTINS; PINTO E SILVA, 2014). Diante do aumento nos níveis de relaxina e de progesterona durante a gestação, deve-se evitar alongamentos extremos para prevenir lesões ligamentares e articulares. Outro ponto importante é a inclusão do treinamento dos músculos do assoalho pélvico durante a gestação, o que diminui o risco de incontinência urinária no pós-parto (BOYLE et al., 2012). A gestante deve realizar o treinamento dos músculos do assoalho pélvico com contrações sustentadas, ou seja, contrair e manter de cinco a dez segundos, e contrações rápidas (contrair e relaxar) em diferentes posturas. Como sugestão, deve-se realizar, diariamente, duas séries de oito contrações sustentadas por cinco segundos e duas séries de dez contrações rápidas (NASCIMENTO; SURITA; CECATTI, 2012). 139 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS 7.2.2.1.1 Intensidade A intensidade do exercício deve ser medida, preferencialmente, pela FC ou pela sensação subjetiva de esforço (escala de Borg) (BORG; NOBLE, 1974 apud NASCIMENTO; SURITA; CECATTI, 2012). Assim, recomenda-se que o exercício seja realizado de acordo com os seguintes critérios: 60 a 80% da FC máxima, calculada pela fórmula FCmáx = 220-idade. A Sociedade Canadense de Ginecologistas e Obstetras (SCGO) assume as seguintes faixas de treinamento para gestantes (WOLFE; DAVIES, 2003; ZAVORSKY; LONGO, 2011): • Idade < 20 anos: 140 a 155 batimentos cardíacos por minuto (bpm); • 20-29 anos: 135 a 150 bpm; • 30-39 anos: 130 a 145 bpm; • > 40 anos: 125 a 140 bpm. Outro critério é a escala de percepção subjetiva de esforço de Borg, que varia de 6 (sem esforço) a 20 (esforço máximo). A intensidade deve ser, preferencialmente, entre 12 e 14, correspondendo a uma atividade leve ou um pouco cansativa (11). Outra opção mais simples é o talk test (TT), em que a gestante é orientada a observar sua habilidade em manter uma conversa durante o exercício físico, o que assegura que este esteja sendo realizado com intensidade leve a moderada, prevenindo-se o esforço físico excessivo (WOLFE; DAVIES, 2003). Alguns pesquisadores questionam essas medidas, principalmente a intensidade calculada pela frequência máxima, visto ser essa uma medida indireta, que não leva em conta o nível de condicionamento físico e as características de cada gestante. Defendem a utilização da FC de reserva (FCR), que corresponde à diferença entre FC máxima (medida por teste de esforço) e FC basal (medida no repouso), podendo variar, para gestantes saudáveis ou previamente ativas, entre 45 e 60%, e, para gestantes com sobrepeso ou obesidade e sedentárias, entre 35 e 60%. A zona-alvo de treinamento aeróbio é calculada pela seguinte fórmula: FC prescrita = (% intensidade x FC de reserva) + FC basal. Se uma gestante previamente sedentária, obesa e com DG deseja iniciar a prática de exercício aeróbio na gestação, sua zona de treino será entre 35% e 40% da FCR. Se sua FC medida em repouso for 90 bpm e sua FC máxima (medida em um teste de esforço) for 185 bpm, sua %FCR para o treino será, então, entre 123 e 128 bpm (FC prescrita = (0,35 x 95) + 90 = 123; (0,40 x 95) + 90 = 128). No entanto, os próprios autores reconhecem que tal método não é prático e dificulta a orientação para as gestantes. Eles concordam que o uso da escala de percepção de esforço de Borg é uma boa alternativa; porém, apoiam que, no segundo trimestre gestacional, o exercício possa ser realizado em intensidade 15-16 da escala de Borg, que corresponde a um exercício cansativo (ZAVORSKY; LONGO 2011). 140 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III 7.2.2.1.2 Volume Mulheres ativas podem manter (ou adaptar) sua rotina de exercícios entre 4 e 5 vezes na semana, em sessões de 30 minutos ou mais. Mulheres previamente sedentárias devem começar com 15 minutos de exercício aeróbio, 3 vezes por semana, e aumentar gradativamente o tempo de exercícios. Por exemplo: acrescentar 5 minutos por semana até o recomendado de 150 minutos de exercício aeróbio por semana ou 30 minutos de exercício 5 vezes na semana (ACOG, 2002). Devem ser evitados exercícios por períodos prolongados, além de, por exemplo, 60 minutos contínuos. Vale lembrar que o ideal é a combinação de exercícios aeróbios, de resistência e de alongamento muscular. Logo, uma ou duas sessões de exercício aeróbio na semana podem ser substituídas pelo treino de resistência muscular em dias não consecutivos. Muitas vezes, é difícil estabelecer uma duração máxima de exercício, pois dependerá do tipo, das condições de preparo individual prévio e da relação entre intensidade e duração. Sabe-se que o tempo superior a 50 minutos poderá levar à hipoglicemia e ser prejudicial ao feto. Recomenda-se a realização de uma refeição leve entre 30 e 60 minutos antes do exercício. A gestante deve ser orientada a interromper os exercícios ao apresentar os seguintes sinais e sintomas de alerta (ACOG, 2002): • sangramento vaginal; • redução dos movimentos fetais; • dor no abdômen ou no peito; • dor ou sensação de ardência ao urinar; • perda de líquido pela vagina; • febre, inchaço repentino nas mãos, na face ou nos pés; • náuseas ou vômitos persistentes; • dor de cabeça forte e persistente; • contrações uterinas frequentes; • palpitações; • sensação de falta de ar; • tontura; • torpor ou sensação de luzes piscando. 141 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS 7.2.2.1.3 Recomendações por trimestre de gestação A seguir, são apresentadas algumas recomendações de exercício físico no primeiro trimestre da gestação: • Iniciar sob autorização médica. • A atividade física de intensidade leve a moderada é recomendada a todas as grávidas, mesmo as sedentárias, que desejam iniciá-la durante a gestação. Nesse caso, a recomendação atual é que seja iniciada após a 12ª semana de gestação. • As gestantes fisicamente ativas antes de engravidar podem manter suas atividades, inclusive no primeiro trimestre gestacional, mas modificando (ou adaptando) sua intensidade e frequência (ACOG, 2002). • Mal-estares, como náuseas e vômitos, além de sonolência e indisposição, acontecem com frequência, o que pode dificultar a aderência e a disposição para os exercícios. • Recomenda-se priorizar sempre os exercícios que envolvam grandes grupos musculares, com pouca carga e maior número de repetições, bem como evitar manobra de Valsalva durante o treino de força. • Todas as gestantes devem ser orientadas a realizar diariamente o treinamento dos músculos do assoalho pélvico, com contrações sustentadas e rápidas desses músculos desde o primeiro trimestre. Agora, são apresentadas as recomendaçõesde exercício físico no segundo trimestre da gestação: • Melhor período para a prática de exercícios; mais disposição. • Mulheres que não praticavam exercício antes da gestação podem iniciar sua prática a partir do segundo trimestre. • A partir da vigésima semana, com o crescimento acelerado do volume uterino, deve-se ter cuidado com a realização de exercícios em posição supina por tempo prolongado, a fim de evitar a síndrome da hipotensão supina. • Embora o alongamento seja recomendado para esse período, deve-se levar em conta alguns cuidados a partir da décima semana de gestação, quando ocorre o pico do hormônio relaxina circulante, levando a maior flexibilidade dos tecidos articulares e ligamentares. Logo, alongamentos extensos e extremos podem aumentar o risco de lesões dessas estruturas. Por fim, são apresentadas as recomendações de exercício físico no terceiro trimestre da gestação: • A gestante diminui naturalmente a intensidade; porém, exercícios leves devem ser estimulados. 142 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III • Atividades aeróbias na água, como natação e hidroginástica, e caminhadas são indicadas para manter a capacidade aeróbia e o condicionamento físico, assim como os exercícios de respiração, mobilização e relaxamento envolvidos na preparação para o parto. • Adaptações em exercícios podem ser necessárias para o conforto durante a execução de movimentos. • O treinamento muscular do assoalho pélvico deve continuar durante o terceiro trimestre, não havendo contraindicação para a sua prática. 7.2.2.1.4 Precauções e cuidados gerais Quanto à temperatura A termorregulação altera-se durante a gestação. Embora não haja evidências de que a prática de exercício seja suficiente para causar hipertermia considerável, muito temida por seus possíveis teratogênicos, alguns cuidados devem ser tomados, como a hidratação adequada e permanente, além de evitar a prática de exercícios em temperaturas altas ou extremas (EDWARDS, 2006). Quanto à hidratação A gestante deve ter cuidado extra com a hidratação durante a prática de exercício, mantendo-a adequada antes, durante e após a prática (ACOG, 2002). Quanto à nutrição Diante do aumento do gasto calórico na gravidez e com o exercício, a mulher deve consumir calorias suficientes para garantir uma nutrição adequada durante a sua prática. 8 HIV POSITIVO/AIDS, CÂNCER E ATIVIDADE MOTORA 8.1 HIV positivo/aids 8.1.1 Definição e características gerais A aids é uma doença causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana (HIV é a sigla em inglês), que pode provocar imunossupressão profunda e um consequente quadro de infecções oportunistas, neoplasmas secundários e distúrbios neurológicos (RASO et al., 2007). Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T-CD4+. O vírus é capaz de alterar o DNA dessa célula e fazer cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção (BRASIL, 2018a). O vírus da imunodeficiência humana pode ser encontrado em diversos tipos de secreções, como sangue, saliva, esperma, secreções vaginais e leite materno. Todas as maneiras de possível contato com essas substâncias podem gerar contágio. Porém, entre as principais já detectadas, estão: a transfusão de 143 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS sangue, as relações sexuais sem preservativo, e o compartilhamento de seringas ou objetos cortantes que possuam resíduos de sangue. O vírus também pode ser transmitido da mãe para o filho durante a gestação ou amamentação (AIDS EDUCATION AND TRAINING CENTER, 2012). Quando alguém diz que uma pessoa é portadora do HIV, ela está se referindo à fase assintomática da doença. Quando se fala em pessoa com a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), isso significa dizer que ela apresenta sinais e sintomas que caracterizam a doença, como imunodepressão com infecções oportunistas, perda de peso e degeneração do sistema nervoso central (SNC), o que, geralmente, marca o início do tratamento com os medicamentos antirretrovirais. FIQUE ATENTO: HIV E AIDS HIV AIDS NÃO SÃO A MESMA COISA! Nem sempre o indivíduo com HIV desenvolve aids É a sigla para vírus da imunodeficiência humana, uma infecção sexualmente transmissível. É a sigla para síndrome da imunodeficiência adquirida, que atinge o sistema imunológico do indivíduo. Figura 49 – Diferença entre HIV e aids Mesmo que a pessoa não desenvolva aids, ela já é contaminante se for HIV positiva. O HIV é responsável pela contaminação de mais de 76 milhões de pessoas, infectadas pelo vírus desde o início da epidemia até 2017, e pela morte de mais de 14 milhões de pessoas no mundo. Em 2016, foram identificadas 1,8 milhão de novas infecções pelo vírus (um novo caso a cada 17 segundos) e um total de 1 milhão de mortes decorrentes de complicações da aids. No Brasil, apenas em 2016, foram identificados 37.884 novos casos (UNAIDS, 2017). 8.1.2 Infecção pelo vírus HIV O HIV infecta as células T auxiliares que expressam o grupamento de diferenciação (CD4+), macrófagos e células dendríticas, produzindo uma doença lenta, progressiva e fatal, e pertence à família dos lentivírus dos retrovírus. Esse tipo de vírus tem como característica um período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, da infecção das células sanguíneas e do sistema nervoso e da inibição do sistema imune. Para se multiplicar no organismo humano, o HIV utiliza, especialmente, os linfócitos T-CD4+, responsáveis pelo comando da resposta específica antígeno-anticorpo. Por meio da glicoproteína gp120, o vírus tem a capacidade de se ligar ao receptor CD4 (componente da membrana dos linfócitos) e penetrar nas células, usando o ácido desoxirribonucleico (DNA) destas para se multiplicar. Ao completar o seu ciclo reprodutivo, liberado por brotamento, os novos vírus caem na corrente sanguínea, infestando outros linfócitos e continuando, assim, a sua replicação (HAMMER et al., 2008). 144 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III Progressivamente, o HIV leva à falência do sistema imunológico do indivíduo, trazendo, como consequência, a perda da capacidade de resposta do organismo diante de agentes como vírus, bactérias e outros microrganismos. Vários anos podem se passar entre o momento da infecção pelo HIV e o surgimento dos primeiros sintomas da aids. A fase inicial é caracterizada por uma infecção aguda, controlada parcialmente pela imunidade, que, na maioria dos pacientes, é confundida com uma gripe forte. A segunda fase atinge os linfonodos e o baço, que são locais de contínua replicação do HIV, levando à destruição tecidual. Ciclo replicativo do HIV Partícula HIV CCR5 gp 120 Protease Integrase CD4 RNA Célula infectada Transcrição reversa Proteínas do HIV DNA integrado no genoma da célula do hospedeiro Nova partícula viral Célula do hospedeiro ligada ao HIV Figura 50 – Ciclo replicativo do vírus HIV O diagnóstico em tempo hábil, a disponibilização universal de medicamentos eficazes pelo sistema público de saúde e o acompanhamento clínico adequado aumentaram tanto a expectativa quanto a qualidade de vida das pessoas portadoras de HIV/aids, trazendo novos desafios para a promoção da integralidade, como a reinserção social, incluindo o mercado de trabalho e o sistema educacional, e a promoção de hábitos saudáveis, como a alimentação adequada e a atividade física (AIDS EDUCATION AND TRAINING CENTER, 2012). Há alguns anos, receber o diagnóstico de aids era quase uma sentença de morte. Atualmente, pode ser considerada umadoença de perfil crônico, para a qual não há cura, mas há tratamento. Uma pessoa infectada pelo HIV pode viver com o vírus por vários anos sem apresentar nenhum sintoma ou sinal ou apenas com uma fragilidade maior em uma idade mais avançada. 8.1.3 Classificação e estágios Duas grandes classificações estão em uso atualmente: o sistema da World Health Organization Clinical Staging and Disease Classification System e o do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (AIDS EDUCATION AND TRAINING CENTER, 2012). A tabela a seguir indica a classificação deste último: 145 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS Tabela 24 – Sistema de classificação para adultos e adolescentes infectados pelo HIV do Centers for Disease Control and Prevention Contagem de células CD4 Categorias clínicas A B C Assintomático, HIV agudo ou LGP Sintomático, não A ou C Condição indicadora de aids ≥ 500 células/µL A1 B1 C1 200-499 células A2 B2 C2 < 200 células/µL A3 B3 C3 HIV = vírus da imunodeficiência humana; LGP = linfoadenopatia generalizada persistente. Adaptada de: Grace, Semple e Combrink (2015, p. 51). As categorias mostradas na tabela anterior são baseadas na contagem de células CD4 e na condição diagnóstica relacionada ao HIV. Se o indivíduo infectado, por exemplo, está na categoria B, mas está assintomático, ele continua na categoria B. Além disso, a categorização é baseada em condições específicas. Indivíduos nas categorias A3, B3, C1, C2 e C3 são considerados com aids. 8.1.4 Tratamento No momento do parto, o vírus pode passar da mãe para o bebê pela placenta, devido ao contato deste com a secreção e o sangue, e, ainda, por meio da amamentação. Os medicamentos antirretrovirais impedem a multiplicação do HIV no organismo, diminuindo as chances de a mãe infectada passar o vírus para o filho. O parto cesárea também diminui as chances dessa transmissão em comparação ao parto normal (BRASIL, 2010). O HIV, apesar de ainda não ter cura, pode ser controlado e permitir que o indivíduo tenha uma vida normal. O objetivo desse controle é reduzir a morbidade e mortalidade, diminuir a replicação viral de forma sustentada e recuperar ou prevenir a deterioração do sistema imune, evitando, assim, infecções e neoplasias oportunistas (HSUE et al., 2009). Para o tratamento, estão disponíveis 18 medicamentos, divididos em cinco classes: • Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa: entre eles, está um dos medicamentos mais conhecidos para o tratamento do HIV, denominado azidotimidina (AZT). Esse medicamento atua em uma enzima chamada transcriptase reversa e se incorpora à cadeia de DNA criada pelo HIV, tornando-a defeituosa e impedindo a replicação viral. • Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa: atuam bloqueando diretamente a transcriptase reversa e impedem a replicação viral. • Inibidores da protease. 146 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 Unidade III • Inibidores de fusão. • Inibidores da integrase: os três últimos têm como objetivo impedir a fusão do HIV com o linfócito T-CD4+; portanto, diminuir sua proliferação. Esse tratamento pode apresentar efeitos colaterais, como diarreia, vômitos, náuseas, rash cutâneo (vermelhidão), agitação e insônia. Muitas pessoas não sentem nenhum desses efeitos, o que pode estar relacionado com características pessoais, estilo e hábitos de vida (HSUE et al., 2009). Com o tratamento, ainda podem surgir efeitos adversos, que são alterações ou doenças passíveis de ocorrer em longo prazo, resultantes da ação inflamatória do HIV no organismo e da toxicidade dos medicamentos somadas aos fatores individuais e genéticos (idade, hábitos e estilo de vida). Entre esses efeitos, pode-se destacar o surgimento de doença cardiovascular, alterações metabólicas, ósseas e minerais e lipodistrofia. A patogênese da lipodistrofia é multifatorial: HIV, genética e tratamento antirretroviral (Tarv). Caracteriza-se por uma redistribuição de gordura corpórea no indivíduo infectado pelo HIV e em uso de Tarv. A lipodistrofia relacionada ao HIV só foi reconhecida após a introdução da terapia antirretroviral altamente potente (Haart), tendo sido descrita, inicialmente, em 1998. Ela pode ocorrer em diversos locais do corpo, sendo a lipoatrofia facial a responsável por gerar o maior estereótipo da doença (BEHRENS, 2008). Perna direita mostrando atrofia da gordura subcutânea, com evidência da musculatura e dos vasos subcutâneos. Afinamento importante dos membros superiores pela perda da gordura subcutânea. Vasos temporais e do arcabouço ósseo evidentes por perda de gordura facial subcutânea. Depressão na região bucal por perda da gordura de Bichat. Atrofia importante da gordura subcutânea facial, conferindo aspecto envelhecido à face do indivíduo. Figura 51 – Lipodistrofia em indivíduos com HIV/aids 147 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di ag ra m aç ão : I sm ae l X av ie r - d at a 02 /0 5/ 20 19 ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS Os pacientes que vivem com o HIV podem apresentar, também, alta prevalência de alterações da densidade mineral óssea, como osteoporose e osteopenia, que são alterações metabólicas do tecido ósseo caracterizadas pela diminuição da densidade mineral e pelo comprometimento da resistência e da qualidade óssea. Podem ser fisiológicas ou patológicas e predispõem a elevação do risco de fratura (LEOW; ADDY; MANTZOROS, 2003). 8.1.5 Efeitos do exercício físico É de grande importância que os profissionais da área da saúde entendam os efeitos do exercício físico como terapia coadjuvante e complementar em indivíduos infectados com HIV, principalmente porque ainda existem muitas lacunas no conhecimento sobre o tipo de exercício ideal, a duração, a frequência e a intensidade que devem ser prescritas para essa população (GRACE; SEMPLE; COMBRINK, 2015). O exercício físico parece diminuir efetivamente alguns efeitos colaterais associados ao estresse fisiológico da infecção pelo vírus (DERESZ et al., 2007), melhorar o perfil lipídico (TERRY et al., 2006) e reduzir o risco de doença cardiovascular (O’BRIEN et al., 2010). Estudos recentes com indivíduos infectados pelo HIV têm mostrado o impacto dos exercícios aeróbios e dos exercícios de força, individualmente ou de maneira combinada, na função imunológica, nos fatores psicológicos, no condicionamento cardiorrespiratório, na força, na composição corporal e na qualidade de vida (HAND et al., 2009; MUTIMURA et al., 2008). Esses estudos indicam que exercícios de leve a alta intensidade, assim como a combinação entre eles, parecem ser seguros e trazer efeitos positivos para a população infectada pelo HIV. Tais benefícios incluem mudanças positivas na composição corporal, na capacidade funcional, na depressão e ansiedade, na saúde geral e na qualidade de vida (HAND et al., 2009; O’BRIEN et al., 2010). O treinamento físico, contudo, não confere, aparentemente, benefícios no status do HIV, na carga viral ou na função imunológica (HAND et al., 2009). 8.1.6 Programa de exercícios físicos 8.1.6.1 Cuidados Atualmente, há um grande reconhecimento da importância da atividade física no tratamento do HIV e da aids. Porém, é essencial saber que nem todos os pacientes estarão aptos a realizar os exercícios físicos. Os principais fatores que geram restrição são: • idade superior a 34 anos para homens e 44 anos para mulheres; • dois ou mais fatores de riscos cardiovasculares; • pressão arterial sistólica > 120 milímetros de mercúrio (mmHg); pressão arterial diastólica > 80 mmHg; • lipoproteína de baixa densidade (LDL) – colesterol ruim – > 160 miligramas por decilitro (mg/dL); • triglicérides > 150 mg/dL; 148 Re vi sã o: B ru na B al de z - Di
Compartilhar