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Escravidão, família e compadrio ao sul do Império do Brasil Santa Maria (1844- 1882)

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i 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio de Janeiro 
 
 
 
 
ESCRAVIDÃO, FAMÍLIA E COMPADRIO AO SUL DO 
IMPÉRIO DO BRASIL: SANTA MARIA (1844-1882) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Letícia Batistella Silveira Guterres 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2013 
ii 
 
 
 
 
 
ESCRAVIDÃO, FAMÍLIA E COMPADRIO AO SUL DO IMPÉRIO 
DO BRASIL: SANTA MARIA (1844-1882) 
 
 
 
 
 
Letícia Batistella Silveira Guterres 
 
 
 
 
Tese de doutoramento apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-
graduação em História Social do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da 
UFRJ como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de doutor em 
História Social. 
Linha de pesquisa: Sociedade e Economia 
Orientador: João Luís Ribeiro Fragoso 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii 
 
 
 
 
iv 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 S587e Silveira Guterres, Letícia Batistella. 
 Escravidão, Família e Compadrio ao Sul do Império do Brasil: 
Santa Maria (1844-1882). / Letícia Batistella Silveira Guterres, 
2013. 
 Vi, 468 f.: il.; 30 cm. 
 Orientador: João Luís Ribeiro Fragoso. 
 Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
 Programa de Pós-Graduação em História Social, Instituto de 
 Filosofia e Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 2013. 
 1. Escravidão – família e compadrio. 2. Século XIX – Santa 
Maria (1844-1882). 3. Sociedade e economia – tese. I. Fragoso, 
João. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de 
Filosofia e Ciências Sociais, Programa de Pós-Graduação em 
História Social. III. T. 
 CDU: 930.85 
 
 
 
v 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
A presente pesquisa dedica-se ao estudo da composição de laços familiares envolvendo escravos 
em uma região de economia agrária, voltada ao mercado interno, mas cujas relações sociais 
estavam profundamente marcadas pela escravidão. Procuramos entender a lógica de organização 
parental destas famílias a partir do contexto de transformações que vivia o Brasil neste período. 
Ao contexto do fim do tráfico atlântico de escravos, em 1850; junto ao alastramento de ideias 
liberais contrárias à escravidão, somava-se uma série de eventos que anunciavam o fim da 
escravidão no Brasil. No Rio Grande de São Pedro, via-se a consolidação de redes de mercado 
regionais de abastecimento e produções voltadas para a exportação fora da Província (charque), 
junto ao expressivo crescimento demográfico. Todo este cenário não inviabilizou a conformação 
de redes parentais complexas, marcadas por estratégias fundamentadas na ideia de estabilidade 
familiar. Neste aspecto, os casamentos não eram desejados por todos escravos, assim como não 
eram caminhos que levavam necessariamente à liberdade. As composições familiares tantas 
vezes transcendiam os parâmetros circunscritos na categoria jurídica a que um determinado 
sujeito pertencia. Localizamos evidências empíricas de relações costumeiras que se traduzem 
numa família escrava estável, embora não referendada pela Igreja e pouco foram afetadas por 
todas as transformações supracitadas. 
 
Palavras-chave: Escravidão. Família. Compadrio. Século XIX. 
 
 
 
vi 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Slavery, Family and Spirituals relationships in the south of Brazilian Empire: Santa 
Maria (1844-1882) 
Leticia Batistella Silveira Guterres 
 
Orientador: Prof. Dr. João Luís Ribeiro Fragoso 
 
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em História, Instituto de 
Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos 
requisitos à obtenção do título de Doutor em História Social. 
 
 
This research is devoted to study the composition of family ties involving slaves in a region 
of the agrarian economy, focused on the domestic market, but whose social relations were deeply 
marked by slavery. We seek to understand the logic of parent organization of these families from 
the context of transformations that Brazil was living in this period. The context that attended the 
end of the Atlantic slave trade in 1850, with the spread of liberal ideas contrary to slavery, 
summed up a series of events that heralded the end of slavery in Brazil. In Rio Grande de São 
Pedro occurred the consolidation of networks of regional market supply and export-oriented 
productions outside the Province (beef jerky), along with the significant population growth. This 
scenario not prevented the forming of networks parental complex, marked by strategies based on 
the idea of family stability. In this respect, the marriages were not desired by all slaves, just as 
they were not paths that led necessarily to freedom. The family compositions often transcended 
the parameters circumscribed in legal category to which a particular subject belonged. Locate 
empirical evidence of customary relationships that translate into a slave family stable, though not 
ratified by the Church and were little affected by all the above transformations. 
 
Keywords: Slavery. Family. Spirituals relationships. XIX century. 
 
 
vii 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Talita, por ser a inspiração em tudo o que eu faço. 
Saudade para sempre. 
viii 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Chegar ao final desta longa jornada não foi fácil. Ninguém sobrevive a este imenso 
desafio pessoal se não estiver cercado de pessoas, que cada uma a seu modo, fazem toda a 
diferença. É hora de agradecê-los. 
Em primeiro lugar, agradeço ao Programa de Pós Graduação em História Social, da 
UFRJ, aos coordenadores, professores e funcionários, que buscaram solucionar as questões 
burocráticas, sempre que necessário. 
À CAPES, devo agradecimento pelas duas bolsas que permitiram a minha dedicação 
integral a este trabalho. A primeira delas, no Brasil, e a segunda, a bolsa PDEE, que viabilizou os 
cinco meses de meu proveitoso estágio doutoral na Universidade de Yale. 
Ao meu orientador, professor João Fragoso agradeço de forma muito especial. O rigor de 
sua orientação nunca prescindiu o respeito e a generosidade, que fazem dele o profissional que é. 
Ao professor Stuart Schwartz, que me recebeu em Yale, que ouviu atentamente o 
desenrolar de minha pesquisa, fez sugestões de bibliografia e que me colocou em contato com os 
seus orientandos, para que trocássemos informações. 
Aos funcionários dos arquivos que estive pesquisando ao longo destes anos, meu 
profundo agradecimento: Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, Arquivo Histórico 
do Estado do Rio Grande do Sul, Arquivo da Cúria Diocesana de Santa Maria, Arquivo 
Diocesano de Porto Alegre, Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. 
Agradeço aos professores que compõem esta banca, por terem aceito o convite. Aos 
professores Cacilda Machado e Roberto Guedes, que estiveram na banca de qualificação e cujas 
críticas e sugestões foram importantes à continuidade deste estudo. Aos professores Luis Augusto 
Farinatti e Paulo Moreira, além de agradecida, estou feliz por vocês fazerem parte desta etapa 
importante da minha vida. O professor Paulo acompanhou parte do meu Mestrado e esteve 
ix 
 
 
 
presente no momento da defesa, há oito anos atrás. O professor Farinatti, mesmo antes de eu 
sonhar em ser historiadora, já era um incentivador. Me levou aos arquivos, me iniciou na 
pesquisa científica e sempre esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida 
profissional. Obrigada. 
À professora Tereza Santos, que foi fundamental no auxílio da parte estatística deste 
trabalho e por toda a atenção depositada. 
A todos os colegas deCurso, em especial àqueles que se transformaram em grandes 
amigos: Jonas Vargas, Siméia e Carlos, Leandrin, Adrianna Setemy, Dani Carvalho, Moacir 
Maia, Maíra e Alexandre. Enfim, eu não tenho dúvida nenhuma que se não fosse vocês e nossa 
amizade seria muito mais penoso chegar até aqui. Só por tê-los conhecido, embarcar nessa 
jornada já valeu a pena. 
Durante esses longos quatro anos, sempre tive abrigo da minha amiga querida, Ana Paula 
Soares. Ela, junto a sua família linda, me hospedaram com o maior carinho todas as vezes (e 
foram muitas) que estive em Porto Alegre, pesquisando nos Arquivos. Muito obrigada, queridos. 
No Rio de Janeiro, das vezes que tive de resolver assuntos de trabalho, a casa da Adrianna 
Setemy era minha. Obrigada à toda família. 
À Natália Pinto, que topou me ajudar com o trabalho de digitação de registros batismais 
que não acabavam mais. Seu empenho, seriedade e amizade foram muito importantes para os 
resultados deste trabalho. 
À Gláucia Kulzer, agradeço por ter enviado inventários sempre que precisei, por ter 
cedido banco de dados, por ter lido e feito sugestões em partes deste texto. 
Ao Max Ribeiro, que trocou informações sobre Santa Maria e que ajudou com os bancos 
de dados. 
A Gabriel Aladrén e Renata Dal Sasso sou duplamente grata: além de me ajudarem com 
dicas para a longa trajetória de burocracias, em ocasião de minha ida para os Estados Unidos, 
através de vocês conheci duas grande figuras, que se tornaram amigos para uma vida: a Larissa 
da Costa, que mesmo sem me conhecer, ajudou com todas as pendências burocráticas, em Yale, 
x 
 
 
 
além de conseguir a casa em que acabei indo morar. O Atílio Bergamini, amigo de horas de 
conversas sobre história, literatura e a vida. Tudo sempre regado com muito humor. 
À Tetyana, a húngara com quem dividi casa no período em New Haven. Tenho certeza 
que nunca entendeu direito o que eu fazia, mas a convivência com ela, me enriqueceu como 
pessoa e como historiadora. 
A todos os amigos que reconheci nas andanças pela vida, meus sinceros agradecimentos. 
Lá no Rio de Janeiro, à Almerinda Castro, que cedeu a sua casa nas vésperas de viagem aos 
Estados Unidos. O casal Adriana e Antônio Lamas, por serem meus fiadores. Lá de Brasília, a 
Marília Lessa, que com a generosidade que lhe é característica hospedou a mim e minha mãe em 
um Hotel, para que tivéssemos a tranquilidade necessária para a longa espera do Visto. Também 
não menos importante a presença amiga de Ricardo Valença, Jackie Paz, e Tânia Aguiar. Sou 
grata a Eugênio e família a acolhida em Natal. 
Aos amigos “baianos”, Bianca e Gustavo, pela amizade e auxílio em empréstimos de 
livros, carregamentos de erva mate e toda a parceria. 
Ao Robinho, Janete e família, que tornam Salvador divertida de se viver. 
À minha família extensa, vô, vó, tios, tias, primos, primas, irmão, sogra, sogro, sobrinhos 
(a) e agregados. Vocês são tudo de bom! São, aliás, toda a inspiração para o que eu faço. 
Luiz Carlos e Sonia, pai e mãe, sem vocês nada disso seria possível. Não há palavras 
suficientes para agradecer todo o apoio dispensado. Tanto o material, quando a bolsa não havia 
chegado; e o afetivo, todas as vezes que precisei. Vocês nunca mediram esforços para estar junto 
e abraçaram como de vocês todos os meus projetos. Este trabalho também é de e para vocês. 
Por último, e em primeiro lugar, ao Ricardo, por tudo: por seu meu melhor amigo, meu 
grande parceiro e o amor da minha vida. Este trabalho é nosso! 
 
 
 
xi 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1. Compadrio dos filhos do casal de escravos Gregório e Benta.....................................137 
Quadro 2. Escravos herdados pelos filhos de Constantino e Dona Ricarda................................ 144 
Quadro 3. Plantel de escravos de Francisco José Pinto (1858)....................................................146 
Quadro 4. Escravos herdados pelos filhos de Francisco José Pinto (1858) e Joaquina Pereira 
Natividade (1864)........................................................................................................................148 
Quadro 5. Plantel de escravos de Clarimundo José Pinto (1866)................................................149 
Quadro 6. Escravos herdados pelos filhos de Clarimundo José Pinto e Maria Helena da Fontoura 
Pinto................................................................................................................ .............................150
Quadro 7. Os batizados realizados pelo padre Valle na fazenda de Francisco José Pinto....155-156 
Quadro 8. Fazenda de José Constantino Pinto............................................................................159 
Quadro 9. Casa do Capitão Clarimundo José Pinto..............................................................160-162 
Quadro 10. Fazenda do Capitão Olivério Antonio de Atáide...............................................164-165 
Quadro 11. Sujeitos que batizaram escrvos na propriedade de Cipriano..............................192-193 
Quadro 12. Apadrinhamento de escravos de Cipriano (em sua propriedade)..............................200 
Quadro 13. Apadrinhamento de escravos de Cipriano em outros locais da freguesia.................201 
Quadro 14.Padrinhos dos filhos da crioula Carolina....................................................................204 
Quadro 15. Padrinhos dos netos ingênuos da crioula Carolina....................................................208 
Quadro 16. Padrinhos dos filhos de Carolina...............................................................................209 
Quadro 17. Padrinhos dos filhos da crioula Afra.........................................................................210 
Quadro 18.Padrinhos dos filhos de Afra......................................................................................211 
Quadro 19. Escravos do Coronel Raimundo Fagundes Bitancourt..............................................235 
Quadro 20. Casamentos entre escravos em Santa Maria (1844-1882).................................255-256 
Quadro 21.Origem dos escravos nubentes ..................................................................................259 
Quadro22. Lista de senhores de escrvos e tamanho de plantel (uniões legítimas-escravos)262-264 
Quadro 23. Relação da propriedade de David José de Medeiros Filho.......................................267 
Quadro 24. Relação da propriedade de Manoel José de Medeiros..............................................268 
Quadro 25. Relação da propriedade de Manoel José de Medeiros..............................................268 
Quadro 26. Relação da propriedade de Manoel Luiz de Medeiros..............................................268 
Quadro 27. Escravos do plantel de Salvadr da Roza Garcia.................................................275-276 
Quadro 28. Relação da propriedade de Manoel Ignácio Diniz.............................................284-285 
Quadro 29. Relação da propriedade de José Francisco Escobar..................................................285 
Quadro 30. Batizados realizados na casa de Manoel Ignácio Diniz.....................................286-287 
Quadro 31. Fazenda de José Constantino Pinto....................................................................296-298 
Quadro 32. Lista de senhores de escravos, tamanho de plantel e número de casamentos (uniões 
legítimas mistas)...................................................................................................................298-301 
Quadro 33. Batizados realizados na casa de Jose Fracisco de Escobar.......................................303 
Quadro 34. Batizados realizados na casa de Manoel Luiz de Medeiros...............................321-322 
Quadro 35. Batizados realizados na propriedade de Manoel Gonçalves Chaves.................324-325 
Quadro 36. Registros de batismo dos filhos de Lucrecia.............................................................387Quadro 37. Registro de batismo dos filhos legítimos de Tereza Maria de Jesus e o escravo 
João...............................................................................................................................................389 
Quadro 38. Sujeitos devedores do Padre Valle............................................................................391 
Quadro 39. Sujeitos do qual o Padre Valle declara-se credor......................................................392 
Quadro 40. Legatários do Padre Valle..........................................................................................393 
xii 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1. Santa Maria da Boca do Monte. Movimento anual de batismos, casamentos e óbitos da 
população livre (1844-1882)..........................................................................................................50 
Gráfico 2. Santa Maria da Boca do Monte. Movimento de batismo, casamento e óbito da 
população escrava por décadas (1844-1882)..................................................................................51 
Gráfico 3. Santa Maria da Boca do Monte. Movimentos de alforrias concedidas em registro e em 
pia batismal (1850-1885)................................................................................................................64 
Gráfico 4. Movimento de batismo, casamento e óbito da população escrava por décadas. Santa 
Maria da Boca do Monte. (1844-1882).........................................................................................69 
Gráfico 5. Número de senhores de escravos por ano. Santa Maria. ( 1844-1882).........................85 
Gráfico 6. Número médio de escravos por proprietário, por ano. Santa Maria.(1844-1882).........86 
Gráfico 7. Número de escravos por ano. Santa Maria (1844-1882)..............................................87 
Gráfico 8. Percentual de senhores de escravos de acordo com o tamanho da escravaria. Santa 
Maria. (1844-1882).........................................................................................................................88 
Gráfico 9. Percentual de proprietários por tamanho da escravaria e período.................................89 
Gráfico 10. Número de casamento de escravos por décadas. Santa Maria. 1844-1882...............258 
Gráfico 11. Uniões legítimas e ilegítimas, por ano, através dos registros de batismo. População 
escrava..........................................................................................................................................260 
Gráfico 12. Uniões legítimas e ilegítimas por décadas. População escrava................................261 
Gráfico 13. Movimento de nascimentos de índios batizados na Paróquia de Santa Maria da Boca 
do Monte. 1844-1882...................................................................................................................339 
 
 
 
 
 
 
xiii 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1.1. População livre, liberta e escrava de Santa Maria, século XIX...................................33 
Tabela 1.2. População da paróquia de Santa Maria quanto à nacionalidade..................................34 
Tabela 1.3. População livre considerada em relação à nacionalidade estrangeira.........................36 
Tabela 1.4. Batizados de livres. Santa Maria. 1844-1849..............................................................38 
Tabela 1.5. Batizados de livres. Santa Maria. 1850-1870.............................................................39 
Tabela 1.6. Batizados de livres entre os anos de 1871 e 1882........................................................40 
Tabela 1.7. Batizados de ingênuos entre os anos de 1871 e 1882..................................................40 
Tabela 1.8. Batizados de libertos entre os anos de 1844 e 1849....................................................42 
Tabela 1.9. Batizados de libertos entre os anos de 1850 e 1870...............................................42-43 
Tabela 1.10. Batizados de forros entre os anos de 1844 e 1849.....................................................43 
Tabela 1.11. Batizados de forros entre os anos de 1850 e 1870.....................................................44 
Tabela 1.12. População geral da paróquia de Santa Maria na relação da condição social e raça 45 
Tabela 1.13. População geral da paróquia quanto à raça...............................................................46 
Tabela 1.14. Homens e mulheres livres na relação de faixas etárias e raça. Santa Maria da Boca 
do Monte. Ano de 1872.............................................................................................................47-48 
Tabela 1.15. Registros de batismo. 1844 e 1849. População escrava. Santa Maria da Boca do 
Monte..............................................................................................................................................66
Tabela 1.16. Batizados de escravos entre os anos de 1850 e 1870.................................................67 
Tabela 1.17. Registros de batismos entre os anos de 1850 à 1869. População escrava. Crianças e 
adultos. Santa Maria da Boca do Monte.........................................................................................68 
Tabela 1.18. Mulheres escravas de acordo com faixas etárias. Santa Maria da Boca do Monte. 
Ano de 1872....................................................................................................................................70 
Tabela 1.19. Registros de batismos, 1844-1849. Cor/origem do batizado de acordo com a 
condição jurídica. Inocentes e adultos............................................................................................72 
Tabela 1.20. Registros de batismos, 1850-1870. Cor/origem do batizado de acordo com a 
condição social. Inocentes e adultos...............................................................................................73 
Tabela 1.21. Ocupações dos escravos conforme os inventários post mortem................................75 
Tabela 1.22 Número de proprietários de escravos, número de escravos, número médio de 
escravos por proprietário, por ano. Santa Maria – Rio Grande do Sul. Brasil. Período 1844-
1882...........................................................................................................................................83-84 
Tabela 1.23. Número e percentual de proprietários e de escravos nas categorias do tamanho da 
escravaria nos três períodos. Santa Maria. (1844-1882).................................................................90 
Tabela 5.1. Batismos de filhos legítimos e ilegítimos. População livre. Santa Maria. 1844-
1882..............................................................................................................................................336 
Tabela 5.2. Padrinhos de batizandos livres, filhos naturais. Santa Maria. 1844-1882.................342 
Tabela 5.3. Madrinhas de batizandos livres, filhos naturais. Santa Maria. 1844-1882................343 
Tabela 5.4. Condição jurídica das madrinhas de batizandos escravos, filhos naturais. Santa Maria. 
1844-1882.....................................................................................................................................348 
Tabela 5.5. Condição jurídica dos padrinhos de batizandos escravos, filhos naturais. Santa Maria. 
1844-1882.....................................................................................................................................348 
Tabela 5.6. Condição jurídica das madrinhas de batizandos escravos, filhos legítimos. Santa 
Maria. 1844-1882.........................................................................................................................349 
xiv 
 
 
 
Tabela 5.7. Condição jurídica dos padrinhos de batizandos escravos, filhos legítimos. Santa 
Maria. 1844-1882.........................................................................................................................349Tabela 5.8 – Tipos de alforria: pagas, condicionais e gratuitas Santa Maria da Boca do Monte, 
1858-1882............................................................................................................................. ........359 
Tabela 5.9. Tipos de alforria (subdivisões) Santa Maria da Boca do Monte, 1858-1882............360 
Tabela 5.10. Naturalidade dos alforriados e tipos de alforria Santa Maria da Boca do Monte, 
1858-1882.....................................................................................................................................363 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xv 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1. Movimentação de escravos pertencentes à família Pinto..............................................167 
Figura 2. Família de Cipriano.......................................................................................................193 
Figura 3. Ligações de compadrio: José Luiz de Medeiros e Rita Teixeira de Cesar....................196 
Figura 4. Escravos de Maria Teixeira Cezar batizados na propriedade de Cipriano Teixeira Cezar: 
Francina (13/1/1854)....................................................................................................................215 
Figura 5. Escravos de Rita Teixeira Cezar batizados na propriedade de Cipriano Teixeira Cezar: 
Zeferina (13/1/1854)....................................................................................................................218 
Figura 6. Escravos de José Luiz de Medeiros batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar............................................................................................................... .......................220-221 
Figura 7. Escravos de Rita Teixeira de Moraes batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar: Adriano (22/3/1859).........................................................................................................226 
Figura 8. Escravos de João Ignácio Xavier batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar............................................................................................................................................227 
Figura 9. Escravos batizados na propriedade de Cipriano e de posse de Faustina Maria de 
Carvalho.......................................................................................................................................230 
Figura 10. Famílias de escravos de Raimundo Bitancourt (batizados em sua propriedade e na 
paróquia de Santa Maria).............................................................................................................237 
Figura 11. Escravos de Raimundo Bitancourt na propriedade de Cipriano Teixeira Cezar........238 
Figura 12. Escravos do Capitão João Prestes dos Santos batizados na propriedade de Cipriano 
Teixeira Cezar: Silvéria (23/4/1858)............................................................................................239 
Figura 13. Escravos de Thereza Maria de Jesus batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar: Juliana (23/4/1858)...........................................................................................................240 
Figura 14. Escravos de Ignácio Martins de Moraes batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar: Bernardo (29/11/186?)......................................................................................................241 
Figura 15. Escravos de Antônio José Correia batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar.............................................................................................................................................242 
Figura 16. Escravos de Elias Victorino dos Santos batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar.............................................................................................................................................243 
Figura 17. Escravos de José Joaquim Cezar batizados na propriedade de Cipriano Teixeira 
Cezar.............................................................................................................................................244 
Figura 18. Famílias de escravos do plantel de Escobar................................................................306 
Figura 19. Movimento de escravos entre propriedades................................................................327 
 
 
 
 
xvi 
 
 
 
LISTA DE DIAGRAMAS 
 
 
Diagrama 1. Filhos da crioula Carolina........................................................................................202 
Diagrama 2. Filhos de Carolina....................................................................................................203 
Diagrama 3. Filhos de Afra..........................................................................................................203 
Diagrama 4. Filhos da crioula Afra..............................................................................................203 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xvii 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
APERS – Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul 
AHRS – Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul 
ACDSM – Arquivo da Cúria Diocesana de Santa Maria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xviii 
 
 
 
 SUMÁRIO 
Introdução ................................................................................................................................. 21 
Capítulo 1. “Na extremidade sul do Império do Brasil”: Santa Maria da Boca do Monte e suas 
características socioeconômicas ................................................................................................ 32 
1.1 Uma fronteira agrária aberta e uma população livre em franca expansão ........................... 33 
1.2 Por todos os lados e em todo o lugar: os escravos em Santa Maria......................................59 
1.3 Senhores de poucos escravos. Escravos de muitos senhores .............................................. 77 
1.4 Os registros batismais e a desconcentração da propriedade escrava em Santa Maria .......... 82 
Capítulo 2. A unidade produtiva e seus aspectos constitutivos: escravidão, família e parentesco 92 
PARTE I:................................................................................................................................ 92 
2.1 Os movimentos da historiografia da escravidão ................................................................. 92 
2.2. Sobre a família escrava .................................................................................................. 101 
2.3 Os laços familiares entre escravos e seus parâmetros analíticos ....................................... 109 
2.4 As alianças familiares, o parentesco e a ligações das unidades produtivas ....................... 117 
PARTE II: ............................................................................................................................ 125 
2.5 Os desenhos da propriedade: a família Pinto ................................................................... 125 
2.6 A Fazenda de Santa Catarina ........................................................................................... 131 
PARTE III: ........................................................................................................................... 133 
2.7 Laços familiares geracionais dos plantéis de Francisco José Pinto ................................... 133 
2.8 Thomé e Luzia ................................................................................................................ 142 
2.9 Ligações familiares consensuais e os projetos de estabilidade ......................................... 143 
2.10 Plantel de Clarimundo José Pinto ..................................................................................149 
2.11 Os padrinhos dos escravos de Clarimundo José Pinto .................................................... 153 
2.12 Os escravos de Theodoro José Pinto e Antonio José Pinto ............................................. 153 
PARTE IV: Visitas Paroquiais .............................................................................................. 155 
2.13 Visita paroquial à fazenda de Francisco José Pinto ........................................................ 155 
2.14 A parentela de Francisco José Pinto nas visitas paroquiais ............................................ 158 
2.15 Visita paroquial à fazenda de José Constantino Pinto.......................................................159 
2.16 Visita paroquial à casa do Capitão Clarimundo José Pinto ............................................. 160 
2.17 Visita paroquial à fazenda do Capitão Olivério Antônio de Ataíde ................................ 164 
2.18 O movimento de escravos e as suas estratégias familiares................................................166 
xix 
 
 
 
Capítulo 3- “A porta por onde se entra”: o batismo e seus “efeitos maravilhosos” através das 
visitas paroquiais ao Rincão de São Pedro.......................................................................... ...169 
PARTE I............................................................................................................................... ......169 
3.1 Os “efeitos maravilhosos” do batismo ............................................................................. 169 
3.2 Das tradições jurídicas de uma vila católica .................................................................... 174 
3.3 O compadrio de escravos: outras considerações .............................................................. 178 
3.4 As redes familiares e de compadrio em Santa Maria: um olhar através das visitas paroquiais
 ............................................................................................................................................. 185 
PARTE II - ........................................................................................................................... 189 
3.5 As visitas paroquiais ao Rincão de São Pedro ................................................................. 189 
3.6 Vizinhos, parentes e compadres: os visitantes à propriedade de Cipriano Teixeira Cezar . 192 
3.7 Visitas à propriedade de Cipriano Teixeira Cesar ............................................................ 197 
PARTE III - .......................................................................................................................... 214 
3.8 “Em visita Paroquial”: Familiares de Cipriano Teixeira Cezar ........................................ 214 
3.9 O batizado de escravos de Maria Teixeira Cezar em propriedade de Cipriano ................. 214 
3.10 O batizado de escravos de Rita Teixeira Cezar em propriedade de Cipriano Teixeira Cezar
 ............................................................................................................................................. 217 
3.11 O batizado de escravos de José Luiz de Medeiros na propriedade de Cipriano............... 219 
3.12 O batizado de escravos de Rita Teixeira de Moraes em propriedade de Cipriano ........... 226 
3.13 O batizado de escravos de João Ignácio Xavier em propriedade de Cipriano ................. 227 
PARTE IV – ......................................................................................................................... 229 
3.14 Vizinhos, parentes: outras visitas à propriedade de Cipriano ......................................... 229 
Capítulo 4 – Entre o/posições e vontades: o casamento de escravos em Santa Maria ............... 248 
4.1 O casamento entre escravos ............................................................................................ 254 
4.2 As famílias escravas de David José de Medeiros ............................................................. 266 
4.3 Um grande plantel: Salvador da Roza Garcia .................................................................. 275 
4.4 Um pequeno plantel: Maria Elias .................................................................................... 279 
4.5 Um médio plantel: Manoel Ignácio Diniz ........................................................................ 284 
4.6 Uniões mistas e o casamento: José Francisco de Escobar, seus escravos, compadres e 
vizinhos ................................................................................................................................ 290 
4.7 Visita ao oratório da casa de José Francisco de Escobar .................................................. 302 
4.8 Os casamentos mistos no plantel de Escobar ................................................................... 307 
xx 
 
 
 
4.9 O amasiar entre escravos ................................................................................................. 309 
4.10 Amasiados e vivem juntos; amasiados e vivem separados ............................................. 309 
4.11 “Por causa de uma preta amásia de Domingos” ............................................................. 311 
4.12 “Foi por ele levada ao seu rancho, onde então residia” .................................................. 314 
4.13 “Em casa onde mora com suas filhas” ........................................................................... 315 
4.14 Das implicações da pretensão de casamento de Constantino: “eu, você e eles” .............. 316 
4.15 As interações familiares, a vizinhança e o compadrio escravo ....................................... 318 
4.16 Pontos de interação: o compadrio de escravos ............................................................... 319 
4.17 Visita paroquial à fazenda de Manoel Luiz de Medeiros...................................................321 
4.18 Visita paroquial ao oratório privado de Manoel Gonçalves Chaves..................................324 
4.19 O movimento de escravos e suas estratégias familiares. .............................................. ..325 
Capítulo 5 – Laços consensuais, filhos naturais e a estabilidade familiar. ................................ 329 
5.1 A ilegitimidade em números em Santa Maria .................................................................. 334 
5.2 Ailegitimidade e a população livre .................................................................................. 336 
5.3 A ilegitimidade e a população escrava.......................................................................... 345 
5.4 “Da fina flor da sociedade” ............................................................................................. 352 
5.5 “Enquanto for do seu gosto” ........................................................................................... 355 
5.6 O pároco mediador: alianças em diferentes direções ....................................................... 364 
5.7 “Tendo-se metido em política tornou-se inimigo a uma parte da população”: o sucessor do 
Padre Valle ........................................................................................................................... 371 
5.8 A figura de um Coronel.................................................................................................. 375 
5.9 “Encaram semelhante ato como de maior conveniência e felicidade”: as redes sociais do 
Padre Valle ........................................................................................................................... 379 
5.10 A tia Lucrecia e sua família .......................................................................................... 384 
5.11 Entre uma união estável ou fortuita?............................................................................. 391 
5.12 A consensualidade e a estabilidade familiar: “Por minha morte, deixo a ele os meus bens 
por sinal de gratidão” ............................................................................................................400 
Considerações finais ............................................................................................................. 405 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................412 
ANEXOS..........................................................................................................................................431-468 
21 
 
 
 
 
Introdução 
 
Era ano de 1878. O escravo Constantino defendia-se da acusação do assassinato de sua 
sogra, a parda liberta Engrácia Maria da Conceição. O réu era amásio da filha da vítima, de nome 
Maria Liotides. A imputação ao crime ligava-se à sua suposta pretensão de casar-se com Liotides 
e da mãe desta não admitir dita união
1
. 
O evento deu-se no segundo distrito do termo de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, 
mesmo local onde vivia a família da vítima. Ali, Engrácia, seu amásio, o lavrador José Pedro; sua 
filha, Maria Liotildes e o neto, Francisco, de oito anos de idade, estavam estabelecidos na 
condição de agregados em propriedade de Dona Maria Cândida da Costa. 
Ao narrar os fatos que teriam gerado o assassinato, o adjunto do Promotor Público de 
Santa Maria, Henrique do Rego, referiu-se à “harmonia dos indícios”, responsáveis por apontar à 
culpabilidade do réu, Constantino. Fundamentalmente, o fato do escravo querer casar-se com 
Liotildes e sua mãe não permitir a concretização do casamento, por si só teria o levado à cometer 
o crime. 
*** 
A primeira vez que tomei contato com este processo crime, ainda durante a graduação, fui 
instigada à entender os significados da família para escravos como Constantino em uma vila 
católica
2
, como o era Santa Maria, que, entretanto, era habitada por sujeitos de distintas 
designações sociais. 
Na ocasião, investir neste tema no Rio Grande do Sul era urgente, dado à quase 
inexistência de trabalhos nesta direção
3
. À medida que a pesquisa se desenrolava, eu percebia que 
grande parte dos estudos sobre este tema no Brasil estavam condicionados a um modelo de 
 
1
 Processo-crime 1002, Santa Maria, maço 28, Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. APERS. 
2 O Censo Geral de 1872 diz que, entre a população geral de Santa Maria, 8.176 eram católicos e 82 acatólicos. Estes 
últimos todos alemães. 
3 Cabe salientar o trabalho de Laureano, entre os inauguradores deste tema no Rio Grande do Sul. LAUREANO, 
Marisa. A última vontade. Um estudo sobre os laços de parentesco entre os escravos na Capitania do Rio grande de 
São Pedro. 1767-1809. Dissertação de Mestrado, PUCRS, 1999. 
22 
 
 
 
classificação da família, que talvez não se adequasse às questões envolvendo os escravos.
4
 Nesses 
modelos, a família pensada como nuclear e monogâmica, constituída sob os auspícios da Igreja 
católica eram a linha mestra destes estudos. O trabalho que resultou em dissertação de Mestrado
5
 
nos apontou a outros aspectos organizacionais daquela sociedade, que instigaram à continuidade 
da investigação em outras direções, fundalmentalmente as relações consensuais, os laços de 
compadrio e o apadrinhamento nas interações dos escravos, de seus senhores e outros sujeitos de 
suas relações. 
O tema da família dialoga com questões relacionadas às contribuições historiográficas 
que, desde a década de 1980, no Brasil, se debruçam neste tema. A primeira delas se refere à 
pouca importância atribuída às regiões cujas economias estiveram mais voltadas ao mercado 
interno.
6
 A historiografia da década de 1980, marcada pela “deformação peculiar aos cursos de 
graduação”, no sentido de que os pesquisadores, quando se dedicavam ao estudo do espaço 
agrário brasileiro, buscavam, a priori, plantations exportadoras, porque achavam que era 
exatamente isto que iriam encontrar.
7
 As plantations escravistas eram, em grande medida, o local 
privilegiado destes estudos, já que entendido como locus que incorporava os elementos 
fundamentais à explicação da economia brasileira. Somente com o despontar de trabalhos mais 
regionalizados, o mercado interno brasileiro é redimensionado; assim como a escravidão, 
disseminada para muito além dos mercados agroexportadores, em sociedades que não estavam 
apenas divididas entre senhores e escravos.
8
 
 
4 No primeiro capítulo traçamos um panorama geral desses trabalhos. 
5 SILVEIRA GUTERRES, Letícia Batistella. Para além das fontes: im/possibilidades de laços familiares entre 
livres, libertos e escravos em Santa Maria. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós graduação em História: 
PUCRS, 2005. 
6 Na realidade, pode-se dizer que essa historiografia esteve assentada, em descrever a dinâmica histórica do Brasil 
marcada por interesses metropolitanos, que teria permanecido mesmo após a indenpendência. O mercado interno, 
neste cenário era apenas dependente do comércio exterior. Cito aqui uma referência clássica sobre o tema: PRADO 
JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 6. Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1961. 
7 MATTOS DE CASTRO, Hebe. Ao Sul da História: lavradores pobres na crise do trabalho escravo. 2 ed. Rio de 
Janeiro: FGV, 2009, p.11. Entretanto, convém reconhecer que na década de 1970, alguns estudos começam a apontar 
a importância dos aspectos internos constitutivos da sociedade colonial para entender a sociedade brasileira. Um 
destes é Gorender, que propôs a existência de um “modo de produção colonial” na colônia. GORENDER, Jacob. O 
escravismo colonial. 4 ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2010. 
8 Alguns desses trabalhos: MATTOS DE CASTRO, Das cores do silêncio. Os significados da liberdade no sudeste 
escravista. Brasil, século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. 1998.; FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em 
Movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998; FRAGOSO, João. 
Homens de Grossa Aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). 2 ed. 1998. 
23 
 
 
 
Em meados do século XIX, o Rio Grande do Sul seguia um momento de consolidação das 
redes de abastecimento e produções voltadas para a exportação (entendida como fora da 
Província), como é o caso do charque.
9
 Guardadas as especificidades regionais, a Província do 
Rio Grande de São Pedro encerrava características comuns à tantas outras áreas brasileiras, onde 
as relações sociais incorporadas à uma estrutura social hierárquica, estavam marcadas pelo 
trabalho escravo. Nesse sentido, o espaço deste estudo definitivamente não é atípico, ou seja, um 
local essencialmente agrário, de economia voltada ao mercado interno e cujo trabalho cativo, 
ainda que significativamente inferior às áreas de plantation, estava disseminado por todas as 
atividades econômicas e nos diferentes grupos sociais, marcando profundamente todas as 
relações sociais. 
A segunda questão, se relaciona à anterior, no sentido que parece se refletir dela: quanto 
aos estudos sobre a família escrava, a atribuição primeira à sua existência costuma ser 
condicionada ao tamanho das propriedades estudadas (médias e grandes), ou seja, geralmente em 
regiões de plantation de café e açúcar, onde o número de escravos não era menor do que dez em 
cada propriedade. Como exemplo pode-se citar a obra de Robert Slenes
10
, onde o autor atribuiu 
como fator de explicação fundamental à possibilidade de formação de famílias escravas no 
Sudeste brasileiro, o tamanho das posses de terras maiores, junto ao número relativamente grande 
de cativos, que tornava mais fácil a escolha de um cônjuge na mesma propriedade, unido à 
relativa estabilidade, visto que, em tais propriedades (médias e grandes), o escravo, 
provavelmente depois de adquirido, não mais seria alienado por venda. O autor declara que, em 
outras regiões, como no Sul do Brasil, onde as propriedades eram menos estáveis(por se tratarem 
de áreas, que em 1850 seriam grandes perdedoras de escravos no tráfico interno), havia a 
probabilidade de que ali se revelassem estruturas familiares mais fracas. Com efeito, cabe 
destacar que a família aqui estava sendo refletida a partir das uniões através do casamento. 
Este estudo pretende justamente ir além dessa inferência, na tentativa de entender como se 
organizaram (e foram afetadas) as estruturas parentais da escravidão, em meio às transformações 
 
9
 CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1977; SANTOS, Corcino Medeiros dos. Economia e sociedade no Rio Grande do Sul: século XVIII. São Paulo: Ed. 
Nacional; Brasília: INL, 1984. 
10 SLENES, Robert. Na senzala uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava – Brasil sudeste, 
século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 
 
24 
 
 
 
resultantes da segunda metade do século XIX, que, em síntese anunciavam o fim do escravismo 
brasileiro. Em que medida o alastramento de ideias liberais (no Brasil e no mundo) contrárias à 
escravidão interfiriam nessas organizações familiares? 
O fim do tráfico atlântico de escravos, em 1850, e o consequente aumento nos preços de 
escravos teriam resultado na instabilidade familiar? O impactante crescimento demográfico 
ocorrido em áreas como Santa Maria, fruto da expansão territorial e apropriação de áreas de 
fronteira agrária aberta também seguia junto à lenta construção do Estado Nacional. No Rio 
Grande do Sul isto não se deu longe de conflitos e guerras que envolveram sujeitos de diferentes 
designações sociais. Partimos da hipótese que a estrutura parental escrava, não necessariamente 
conformada através do casamento, mas em uniões de concubinato, mantiveram padrões estáveis, 
com recursos que podiam os aproximar do casamento. O que o padrão normativo tratava de 
chamar de ilegitimidade, era, para muitos dos sujeitos que o conformavam uma união costumeira 
estável. 
A terceira questão, também relacionada às anteriores se encaminha à discussão sobre a 
idéia de família implícita nestas abordagens. Grande parte dos trabalhos ainda pauta-se como 
modelo para o estudo da família negra, a nuclear e monogâmica, conforme pontuamos 
anteriormente. Este fato ajudou a formar idéias apriorísticas sobre este tema, já que se costumou 
buscar a família constituída nas uniões legítimas, sancionadas pela Igreja Católica. Caso as 
uniões legítimas não se confirmassem nos registros de casamento, isto revelaria a ausência de 
conformação familiar dita estável. 
 Neste sentido, coloca-se como aspecto central deste trabalho acessar as redes de relações 
nas interações de sujeitos de diferentes designações sociais: livres, libertos e escravos e 
compreendê-las através de laços como o compadrio, o apadrinhamento e os círculos de 
vizinhança. A ideia de família não está reclusa à unidade doméstica ou à coabitação. Mais do que 
o número de sujeitos que compõem a casa, este conceito está atrelado ao sentido de 
pertencimento àquela sociedade. Assim, cabe à análise das unidades produtivas não somente 
como fontes de produção e consumo, mas nas relações que interligam as famílias e a propriedade: 
a vizinhança e o parentesco. 
25 
 
 
 
 As questões pontuais acima mencionadas tentarão ser analisadas através de trajetórias 
familiares, à luz de uma metodologia de inspiração microanalítica. Nesse sentido, a proposta em 
que se insere a obra de Carlo Ginzburg
11
 é inspiradora: o indivíduo é o ponto de encontro de 
diferentes facetas da sociedade, do social e, nesse sentido, uma importante ferramenta para 
acessar o geral.
12
 
A escolha do período temporal (1844-1882) deste estudo refere-se fundamentalmente aos 
registros batismais, que são a base para as análises aqui expostas. As descontinuidades dos 
assentos batismais no período anterior, em especial durante a guerra farroupilha (1835-1845), 
junto à existência dos resultados demográficos envolvendo a mesma região neste período 
temporal ajudaram a corroborar esta opção.
13
 Ademais, os anos anteriores ao fim do tráfico 
atlântico nos permitiram (ainda que reconhecendo o curto período temporal) visualizar os 
impactos desta Lei nas organizações parentais que dali por diante de sucederam. 
Partindo dos assentos de batismo de toda a população livre, liberta e escrava nos anos que 
contemplam este estudo, buscamos informações suplementares que ajudassem a explicar os 
comportamentos ali destacados. Uniu-se, portanto, os registros de casamento de escravos, os 
inventários post-mortem, processos crime, testamentos, cartas de alforria, registros paroquiais de 
terras. Recompor parcelas de trajetórias de algumas famílias geracionalmente foi possibilitado 
pelo método de cruzamento de nomes (onomástico).
14
 
Alguns termos recorrentes utilizados neste trabalho merecem ser esclarecidos: 
 
11 GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2006. 
12 Conforme nos sugere o antropólogo norueguês, Fredrik Barth, a microanálise pode ser uma possibilidade de 
acessar tanto as regularidades quanto os desvios sociais. A implicação desses preceitos teóricos não está em um 
modelo de representação de sociedade prevista pelo estruturalismo, mas na presença da variação como parte da vida 
humana. Os agentes sociais não podem ser vistos como cópias ou simples reprodutores do modelo que se 
convencionou chamar sociedade, mas cada sujeito é ponto de encontro de diferentes relações sociais, ou seja, as 
escolhas dos agentes partem de estratégias ligadas aos seus respectivos recursos disponíveis e as interações entre 
estes sujeitos são atravessadas de conflitos e tensões, no constante jogo de maximizar seus interesses (FRAGOSO, 
2006). E estas relações sociais estão em contínua geração, são generativas. FRAGOSO, João. Alternativas 
metodológicas para a história econômica e social: micro-história italiana, Fredrick Barth e a história econômica 
colonial. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho & OLIVEIRA, Mônica Ribeiro (orgs). Nomes e números: 
alternativas metodológicas para a história econômica e social. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2006, p.27-48. 
13 Me refiro ao trabalho de BELINAZO, Terezinha. A população da paróquia de Santa Maria da Boca do Monte 
(1844-1882). Santa Maria: UFSM – Dissertação de Mestrado, 1981. 
14 GINZBURG, Carlo; Poni, Carlo. O nome e o como. In: A micro-história e outros ensaios. Rio de Janeiro: Difel-
Bertrand Brasil, 1989. 
 
26 
 
 
 
Família senhorial refere-se às famílias proprietárias de escravos de Santa Maria. No caso 
desse estudo, como se verá a seguir, as famílias senhoriais foram o ponto de partida à análise das 
redes mais complexas em que se inseriam as estratégias familiares dos cativos de suas 
propriedades. 
A parentela senhorial
15
 relaciona-se à família extensa, no sentido de incorporar os laços 
provenientes do casamento, leia-se, cunhados, noras, sogros (a), cunhados (as); assim como 
padrinhos e afilhados e escravos. 
Outro termo aqui utilizado é estratégia, que está associado à importância da rede de 
relações consangüíneas ou outras alianças como elementos fundamentais nas escolhas dos 
sujeitos, que estão posicionados para a ação. Sob a lente das estratégias familiares e de redes de 
amizade, proteção, compadrio e apadrinhamento pretende-se “preencher um quadro que os 
cálculos estritamente econômicos representavam apenas de maneira parcial e distorcida.”
16
 
Nessas ações, as estratégias adotadas se valem do que Levi denominou de racionalidade seletiva, 
e que confere a elas se movimentar em um campo limitado, ou seja, pressupõe:A ambigüidade das regras, a necessidade de tomar decisões em situações de incerteza, a 
quantidade limitada de informações que, todavia, não impede a ação, a tendência psicológica a 
simplificar os mecanismos causais considerados relevantes para a determinação de 
comportamentos e, enfim, a utilização consciente das incoerências entre os sistemas de normas e 
de sanções (LEVI, op.cit, p.46). 
 
Norbert Elias
17
 ajuda a pensar nas limitações presentes nas estratégias dos indivíduos na 
medida em que trabalha com a perspectiva de que estes sujeitos vivem em redes de dependências, 
 
15 Embora com diferenças nas proprostas anlíticas, tomo emprestado a definição do termo desta autora. PEDROZA, 
Manoela da Silva. Engenhocas da moral: uma leitura sobre a dinâmica agrária tradicional (freguesia de Campo 
Grande, Rio de Janeiro, século XIX). Tese de Doutorado apresentada na UNICAMP, 2008, p.11. 
16 LEVI, Giovanni. A Herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: 
civilização Brasileira, 2000, p.96. 
17 ELIAS, Norbert. A Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. No que diz respeito às redes de 
dependência em que os sujeitos estão imersos, diz: “Ela vive, e viveu desde pequena, numa rede de dependências que 
não lhe é possível modificar ou romper pelo simples giro de um anel mágico, mas somente até onde a própria 
estrutura dessas dependências o permita; vive num tecido de relações móveis que a essa altura já se precipitaram nela 
como seu caráter pessoal.” (ELIAS, 1994, p.44). 
27 
 
 
 
que, todavia, é contraditória e passível de ser rompida e modificada. Porém, essas alterações 
estão circunscritas em seu campo de possibilidades, de seus valores. 
A implicação desses preceitos teóricos não está em um modelo de representação de 
sociedade prevista pelo estruturalismo, mas na presença da variação como parte da vida humana. 
Os agentes sociais não são cópias ou simples reprodutores do modelo que se convencionou 
chamar sociedade, mas cada sujeito é ponto de encontro de diferentes relações sociais, ou seja, as 
escolhas dos agentes partem de estratégias ligadas aos seus respectivos recursos disponíveis e as 
interações entre estes sujeitos são atravessadas de conflitos e tensões, no constante jogo de 
maximizar seus interesses.
18
 
*** 
Além dos termos acima mencionados com efetiva recorrência, citarei ao longo deste 
trabalho, uma historiografia local
19
, que apresentou importantes contribuições sobre diferentes 
objetos de pesquisa relacionados à Santa Maria. Menciono aqui os fundamentais à nossa análise. 
Primeiramente, destaco os trabalhos dos memorialistas de Santa Maria: João Belém
20
, 
Romeu Beltrão
21
 e João Daudt Filho
22
, cujas obras trazem informações sobre os moradores, as 
questões políticas, religiosas e costumes da região. 
Além destes, temos as falas de viajantes europeus que estiveram na Província do Rio 
Grande do Sul e que passaram por Santa Maria. De seus relatos, apreendemos algumas das 
impressões que deixaram sobre a paisagem geográfica santamariense de meados dos oitocentos.
23
 
Terezinha Belinazzo
24
 traçou um panorama demográfico da região de Santa Maria entre 
os anos de 1844 e 1882 e que tem servido como obra de referência para os trabalhos que se 
seguiram, inclusive deste. 
 
18 FRAGOSO, op.cit. 
19 RIBEIRO, José Iran; WEBER, Beatriz Teixeira (orgs.). Nova história de Santa Maria: outras contribuições 
recentes. Santa Maria: Câmara Municipal de Vereadores, 2012. 
20
 BELÉM, João. História do Município de Santa Maria (1797-1933). 3. ed. Santa Maria: Editora da UFSM, 2000. 
21 BELTRÃO, R. Cronologia histórica de Santa Maria e do extinto município de São Martinho (1797-1930). Porto 
Alegre, 1979. 
22 FILHO, João Daudt. Memórias. 4 ed. Santa Maria: UFSM, 2003. 
23 MARCHIORI, José Newton; NOAL FILHO, Valter. Santa Maria: relatos e impressões de viagem. Santa Maria: 
Editora da UFSM, 1997. 
28 
 
 
 
Luis A. Farinatti
25
, ocupou-se em compreender a dinâmica de ocupação e distribuição 
fundiária de Santa Maria na segunda metade dos oitocentos. Dentre as importantes contribuições 
de sua análise destaco a dinâmica de apropriação de terras ligada a lavradores pobres de outras 
áreas brasileiras, bem como a quebra da tradicional dualidade da campanha – grandes e pequenos 
criadores – demonstrando uma paisagem agrária bem mais diversificada e complexa. 
Ana Paula Flores
26
 dedicou-se à reflexão das relações e interpretações dos seus habitantes 
com a morte, tomando como fato marcante a construção do primeiro cemitério extramuros 
daquela localidade. 
O trabalho de Alexandre Karsburg
27
 dialoga com os trabalhos de Vitor Biasoli
28
 e Luis 
Eugenio Véscio
29
, em investigação que mostra as divergências e disputas políticas associadas a 
um momento em que a Velha Matriz caía em ruínas junto ao regime do padroado no Brasil. 
Gláucia Kulzer
30
 desenvolveu seu estudo acerca da formação patrimonial das famílias de 
elite em Santa Maria em período semelhante ao nosso. Com a utilização de inventários post 
mortem, entre os anos de 1858 e 1889, analisou o grupo de proprietários/criadores de Santa 
Maria. A trajetória da família Pinto, inserida neste grupo e de maior patrimônio (monte bruto) 
entre os inventários permitiu à autora discutir questões ligadas à mobilidade social, à formação e 
transmissão de patrimônio e o acesso à terra. 
 
 *** 
 
24 BELINAZO, op.cit. 
25 FARINATTI, Luis Augusto Ebling. Sobre as cinzas da mata virgem: lavradores nacionais na Província do Rio 
Grande do Sul (Santa Maria, 1845-1880) – Dissertação de Mestrado do curso de Pós-Graduação em História do 
Brasil da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1999. 
26 FLORES, Ana Paula Marquesini. Descanse em paz: testamentos e cemitério extramuros na Santa Maria de 1850 à 
1900. Dissertação de Mestrado do curso de Pós-Graduação em História do Brasil da Pontifícia Universidade Católica 
do Rio Grande do Sul, 2006. 
27 KARSBURG, Alexandre de Oliveira. Sobre as ruínas da Velha Matriz: religião e política em tempos de ferrovia. 
Santa Maria (1884-1897). Dissertação de Mestrado. PUCRS, 2007. 
28 BIASOLI, Vitor. O catolicismo ultramontano e a consquistas da Santa Maria da Boca do Monte (Rio Grande do 
Sul – 1870-1920). São Paulo: USP, 2005 (tese de Doutorado). 
29 VÉSCIO, Luis Eugênio. O crime do Padre Sório: maçonaria e Igreja católica no Rio Grande do Sul – 1893-1928. 
São Paulo, USP, 2001 (tese de Doutorado). 
30 KULZER, Glaucia. De sacramento à Boca do Monte: a formação patrimonial de famílias de elite na Província de 
São Pedro (Santa Maria, RS, século XIX). Dissertação de Mestrado – UNISINOS. São Leopoldo, 2009. 
 
29 
 
 
 
O primeiro capítulo traça as características sócio-econômicas de Santa Maria na segunda 
metade dos oitocentos. Com o auxílio dos registros batismais, de inventários post mortem e do 
Censo Geral de 1872, destacamos a presença de uma fronteira agrária aberta e de uma população 
livre e escrava crescente. A disseminação da propriedade escrava, que acompanhou os anos que 
anteceram a abolição da escravatura no Brasil conformou uma área em que as relações sociais a 
despeito disso, permaneciam profundamente influenciadas pela escravidão, no que traduziu-se os 
seus padrões parentais. 
O segundo capítulo está dividido em quatro partes. A primeira delas é marcada por 
tópicos relacionados à historiografia da escravidão, em especial ao tema da família escrava. Esta 
parte, por seu turno, está dividida em outras três. Na primeira, traçamos uma breve discussão 
acerca do encaminhamento da historiografiadedicada ao tema da escravidão no Brasil, em 
especial as suas transformações a partir das décadas de 1970 e 1980 e como elas abriram 
caminhos novos à temas e objetos de análise, como é o caso da família escrava. 
A segunda parte deste mesmo nexo central trouxe algumas reflexões sobre a família 
escrava no Brasil e nos Estados Unidos, não só chamando a atenção para o aspecto já recorrente, 
que diz respeito à influência dos estudos norteamericanos sobre a família na historiografia 
brasileira, mas em especial, a manutenção da associação do casamento à família. 
A terceira parte, traça alguns parâmetros analíticos que vem pautando os estudos sobre a 
família escrava no Brasil. Em especial, a atenção para o que se refere à estrutura de posse de 
escravos (tamanho da escravaria). Este elemento vem servindo de parâmetro analítico para as 
relações familiares envolvendo escravos, em especial, no que diz respeito à ideia generalizada de 
que havia maior probabilidade de famílias estáveis em plantéis médios e grandes. Este referencial 
também toca os laços de parentesco fictício e a própria possibilidade de conformação de uma 
comunidade cativa. 
A quarta parte deste mesmo tópico é uma tentativa de apresentar em que medida está 
inserida a abordagem que pretendemos fazer sobre o tema. Ela deve considerar dois aspectos 
centrais: o primeiro diz respeito à ideia de família, enquanto algo que transcende as relações de 
consanguinidade e/ou coabitação e a de unidade produtiva. Estes dois elementos tornam-se 
basilares para compreeender como se organizavam essas unidades, levando em consideração que, 
30 
 
 
 
os laços de parentesco de escravos bem como as alianças de consanguinidade e vizinhança de 
seus senhores eram importantes dados para entender como aquela estrutura, representada pela 
unidade produtiva, estava em permanente mudança. Assim, mais importante do que atestar o 
tamanho da unidade produtiva a que pertencia o escravo, procuramos estabelecer relações entre 
as alianças de parentesco dos cativos e como eles ligavam outras fazendas que, no caso desta 
análise, estavam vinculadas a membros da família senhorial e de sua vizinhança. 
Nesse sentido, a opção metodológica foi partir para trajetórias familiares, e através da 
família Pinto, seus parentes, vizinhos e escravos, traçar aspectos que ajudassem a pensar sobre 
como aquela unidade se organizava. Aqui, as alianças de apadrinhamento tecidas pelos escravos, 
ligam as fazendas e sugerem que, daquelas escolhas, havia uma estratégia de fortalecimento de 
laços familiares entre escravos, e isso pouco estava atrelado à escolha de padrinhos de condições 
jurídicas diferentes das suas. Por fim, a última parte do segundo capítulo, partiu das visitas 
paroquiais realizadas à propriedade de membros da família Pinto, e teve por finalidade captar o 
movimento dos escravos entre as fazendas ligadas à vizinhança e à família senhorial. 
O capítulo três teve como proposta fundamental a análise dos laços de compadrio escravo. 
Para tanto, nos utilizamos das visitas paroquiais referidas nos registros de batismo realizados em 
Santa Maria. Através delas, agregamos à análise do apadrinhamento das famílias escravas de 
Cipriano Teixeira Cezar (ao longo de mais de uma geração), também, a de membros de sua 
família e vizinhança. Procuramos, nesse sentido, observar outros elementos, para além dos 
demográficos, na opção pelas escolhas que envolviam o parentesco fictício das famílias escravas 
de seu plantel. 
No quarto capítulo, estudamos a prática do casamento católico envolvendo escravos. 
Tratando-se de uma vila católica, o fato de ter em seu bojo o caráter de disciplina social, a 
efetivação do casamento não ocorria sem contradições. A primeira delas é a possível ressonância 
da herança cultural africana, no que resultou em práticas familiares distintas das preconizadas 
pela Igreja católica. A segunda questão fundamental tratada neste capítulo diz respeito às 
implicações do casamento para os diferentes sujeitos nele envolvidos. Ainda que em muitos casos 
ele se relacione à aquisição de um certo prestígio social lincado a escravos e seus senhores, por 
outro lado, procuramos questionar até que ponto a todos os escravos interessava casar. 
31 
 
 
 
O último capítulo, apresenta o perfil das famílias consensuais em Santa Maria, além de 
investir na trajetoria familiar envolvendo a participação do vigário da região. Nesse quadro, 
procuramos demonstrar como os guardiões da ordem pública e moral, centrais ao funcionamento 
burocrático imperial, tinham seus poderes atrelados à sociedade civil. Nesse imbricado aspecto da 
organização social, a família nem sempre reproduziu os padrões normativos do catolicismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
 
 
Capítulo 1. “Na extremidade sul do Império do Brasil”
31
: Santa Maria da 
Boca do Monte e suas características socioeconômicas 
 
Santa Maria da Boca do Monte esteve inserida nos contextos de ocupação do extremo sul 
brasileiro da América lusa. De um acampamento militar, em 1784, no ano posterior, já tinha 200 
almas, tendo sido realizado, no ano de 1798, o primeiro batizado na capela do Acampamento.
32
 
O que era um povoado subsistiu ao acampamento, tornando-se em 1804, Oratório; em 1814, 
Capela Curada; em 1837, Freguesia; em 1857, Vila de Santa Maria e em 17 de maio de 1858, 
Município. Até a sua emancipação, a região era formada por uma área mais extensa do que os 
atuais limites do município e englobava os municípios de Silveira Martins, parte de Itaara, São 
Pedro do Sul e a própria Santa Maria, conformando a região da Depressão central rio-
grandense
33
. 
O cenário emancipacionista de meados do século XIX
34
 refletia as características da sua 
população que, assim como nas diversas províncias brasileiras, caracterizava-se pela sua ampla 
heterogeneidade, guardando espaço para sujeitos de diferentes condições e designações sociais. 
 
 
 
 
 
 
31 Memória Estatística do Brasil no Acervo da Biblioteca do Mininstério da Fazenda do Rio de Janeiro. Acessível em 
http://memoria.org.br/index.php?b=1 
32 BELÉM, João. História do Município de Santa Maria (1797-1933). 3. ed. Santa Maria: Editora da UFSM, 2000. 
 p. 33. 
33 Ver mapa em anexo 1. 
34 Isabel Reis, em estudo sobre a família na Bahia no mesmo período do século XIX destaca à ampliação que ocorreu 
neste contexto, no sentido da interação entre sujeitos com estatutos jurídicos diferentes, unidos por laços familiares e 
de parentesco. A isso está relacionada a opção de Reis por adotar a expressão “família negra” e não “família 
escrava”. ___________________. A FAMÍLIA NEGRA NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO: BAHIA, 1850-1888. Tese 
de Doutorado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da 
Universidade Estadual de Campinas, 2007. Sobre isso ver em especial o capítulo 1. 
http://memoria.org.br/index.php?b=1
33 
 
 
 
 
Tabela 1.1. População livre, liberta e escrava de Santa Maria, século XIX 
Ano Livre % Liberto % Escravo % Total 
1859 4.124 80,7% 20 0,4% 966 18,9% 5.110 
1872 7.054 85,4% Não consta - 1.204 14,6% 8.258 
 Fonte: KULZER, 2009. “Mappa Statistico da População da Província classificada por idades, sexos, estados e 
condições com o resumo total de livres, libertos e escravos.” In: Fundação de Economia e Estatística. De 
Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul – Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre, 1981. 
Censo Geral de 1872 disponível em: www.ibge.gov.br 
 
No intervalo dos treze anos da realização dos censos referidos acima houve o aumento da 
população livre e escrava em Santa Maria. A população livre quase dobrou, crescendo 71%, 
passando a representar de 80,7% da população, em 1859, mais de 85% da população total, em 
1872. A população escrava, embora tenha aumentado 24% no mesmo intervalo detempo, 
diminuiu percentualmente em relação à população total, de 18,9% para 14,6%. Possivelmente a 
ausência de referência no censo de 1872
35
 à população liberta, não signifique a sua inexistência, 
mas a atribuição destes números à população livre, o que tenderia a relativizar este aumento 
acentuado de sujeitos situados nesta categoria jurídica. 
Assim como os dados dos censos, os registros batismais aqui analisados confirmam uma 
população crescente e heterogênea em Santa Maria de meados dos oitocentos. É sobre as 
características desta população em crescimento que trataremos a seguir. 
 
1.1 Uma fronteira agrária aberta e uma população livre em franca expansão 
 “Era ano de 1871 de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Floriano Pereira de Souza encontrava-se 
em juízo, defendendo-se da acusação de homicídio
36
. Na ocasião, disse trabalhar “com plantações 
 
35
 É recorrente na historiografia brasileira relacionada ao século XIX o uso do Censo Geral de 1872, embora também 
o seja a confirmação de suas limitações que, todavia, não inviabilizam ou desqualificam a sua utilização nas 
aproximações às característica daquelas populações. 
36 Processo crime n.961, Cartório de órfãos e ausentes, 1871, APERS. O processo trata do assasssinato de Antônio 
Cabellina, que foi flagrado pelo réu, tentando violentar sua esposa. Depois de uma luta corporal, o resultado foi a 
morte do agressor. 
34 
 
 
 
nos matos da Serra Geral”. Ele, assim como a maioria dos seus vizinhos, chamados a prestar 
depoimento em dito processo, não eram naturais de Santa Maria. Ele mesmo havia dito “ter vindo 
de muda para esta Vila com sua família”, ainda que não tenha referido o local exato de sua 
procedência. Assim como ele, o lavrador José dos Santos; Joaquim Henrique de Cristo e o 
também lavrador, João Lima da Costa, eram naturais de outras localidades. Os dois primeiros, da 
Província de São Paulo e o último, da Província de Entre Rios. Possivelmente, o réu do 
mencionado processo tenha emigrado (junto à sua família) de áreas vizinhas à Santa Maria, assim 
como a maior parte dos habitantes da região naquele período. Já os sujeitos que prestaram 
depoimento naquela ocasião, eram parte da minoria dos habitantes de Santa Maria, pois naturais 
de outras Províncias brasileiras e estrangeiras. É isto que nos mostra os dados do Censo de 1872. 
 
Tabela 1.2. População da paróquia de Santa Maria quanto à nacionalidade 
Condições Brasileiros % Estrangeiros Total % 
Homens livres 3.366 94,8% 186 3.552 5,2% 
Mulheres livres 3.383 96,6% 119 3.502 3,4% 
Soma de livres 6.749 95,7% 305 7.054 4,3% 
Homens escravos 622 98,9% 7 629 1,1% 
Mulheres 
escravas 
570 99,1% 5 575 0,9% 
Soma de escravos 1.192 99% 12 1.204 1% 
Soma geral 7.941 96,2% 317 8.258 3,8% 
 Fonte: Censo Geral de 1872 disponível em www.ibge.gov.br 
 
Os sujeitos livres que compunham esta população não eram exclusivamente originários do 
território nacional. Disso deve-se os processos migratórios ocorridos nos limites fronteiriços de 
todo o espaço brasileiro oitocentista. Além disso, o quadro acima nos diz que, no que se refere à 
35 
 
 
 
população escrava, também esta era, em sua maioria, originária do Brasil, anunciando que o seu 
crescimento dificilmente teria relação com a presença de africanos, através do tráfico ilegal, pós 
1850. Nos deteremos nisto adiante. 
Mais de 95% da população livre de Santa Maria no ano de 1872 era composta por 
brasileiros de diferentes localidades da então Província do Rio Grande de São Pedro. O aumento 
desta população deveu-se ao processo migratório entre as províncias brasileiras. E, ainda que tal 
evento aponte à um contexto histórico característico da região estudada, não é atípico ou singular 
quando analisado no cenário brasileiro do século XIX. Dos mecanismos migratórios ocorrentes 
neste período em outros espaços do território nacional, Maria Bassanezzi
37
, por exemplo, 
analisou o movimento interno na Província de São Paulo, da segunda metade do século XIX e 
observou que “13,6% da população que vivia nessa Província havia nascido em outras regiões do 
Brasil ou em outros países (10% e 3,6% respectivamente)”. De forma semelhante, Cavalcanti e 
Guillen
38
 constataram que “durante o século XIX houve um aumento da população dos homens 
livres pobres, caracterizado pelo constante movimento em direção ao interior do país”. Ainda que 
esses movimentos sejam anteriores ao século XIX, se intensificaram a partir deste período, à 
medida que as suas bases econômicas foram diversificando-se, “propiciando a constituição de 
novas fronteiras agrícolas, fontes de novas riquezas.” 
Dos dados do censo de 1872, sabemos que a presença de estrangeiros na composição dos 
habitantes livres de Santa Maria era pouca, representando apenas 4,3% do total. Destes 
estrangeiros, figuravam entre a maioria os alemães, embora também se fizessem presentes 
sujeitos de outras nacionalidades. 
 
 
 
 
37
 BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo. “Migrantes no Brasil da segunda metade do século XIX”, p.2. Disponível 
em http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/todos/hist1_4.pdf 
38 CAVALCANTI, Helenilda; GUILLEN, Isabel. Atravessando fronteiras: movimentos migratórios na história do 
Brasil, p.3. Disponível em 
http://200.144.182.150/neinb/files/Movimentos%20migrat%C3%B3rios%20na%20hist%C3%B3ria%20do%20Brasi
l.pdf 
http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/todos/hist1_4.pdf
http://200.144.182.150/neinb/files/Movimentos%20migrat%C3%B3rios%20na%20hist%C3%B3ria%20do%20Brasil.pdf
http://200.144.182.150/neinb/files/Movimentos%20migrat%C3%B3rios%20na%20hist%C3%B3ria%20do%20Brasil.pdf
36 
 
 
 
 
Tabela 1.3. População livre considerada em relação à nacionalidade estrangeira 
Sexo Alemã Paraguaia Portu
guês 
Argentino Oriental Francês Inglês Italiano Espanhol Soma 
H* 119 19 10 9 7 3 2 3 1 173 
M* 77 11 10 7 7 4 2 - - 118 
Total 191 
68% 
25 
8,9% 
20 
7,1% 
16 
5,7% 
14 
5% 
7 
2,5% 
4 
1,4% 
3 
1,1% 
1 
0,3% 
281 
100% 
 Fonte: Censo Geral de 1872 disponível em www.ibge.gov.br 
 *H para homens, M para mulheres. 
 
Os italianos, que aí se mostram numericamente inexpressivos terão uma relevância 
numérica maior naquele então município a partir de 1877, momento em que houve a instalação 
do núcleo italiano de Silveira Martins.
39
 
Em algumas áreas do Rio Grande do Sul, o crescimento da população neste período 
esteve mais fortemente associado ao movimento migratório de contingentes italianos e alemães
40
. 
Em alguns deles, mais expressivamente do que em Santa Maria. Para Rio Pardo, por exemplo, 
Perussato observou o aumento da população livre, que no intervalo de 14 anos (entre 1858 e 
1872) cresceu 34,8%.
41
 A explicação para o crecimento teria sido o movimento imigratório de 
alemães.
42
 
 
39 Sobre a instalação desse núcleo de imigrantes: VENDRAME, Maíra. “Lá éramos servos, aqui somos senhores”: a 
organização dos imigrantes italianos na ex-colônia Silveira Martins (1877-1914). Dissertação de Mestrado, PUCRS, 
2007. 
40 BRENNER, José Antonio. Imigração alemã: a saga dos Niederauer. Santa Maria: Editora da UFSM, 1995. 
41
 PERUSSATO, Melina K. Como se de ventre livre nascesse. Experiências de cativeiro, parentesco, emancipação e 
liberdade nos derradeiros anos da escravidão. Rio Pardo/RS. 1860-1888. Dissertação de Mestrado – UNISINOS, 
2010, p.54. 
42 PERUSSATO, Ibid, p.55. “O principal fenômeno que permite explicar o crescimento populacional rio-pardense, a 
que desconhecemos anexações territoriais ou grandes migrações nesse período, consiste no movimento imigratório 
de contingentes alemães alocados em núcleos coloniais no local que passou a se chamar Santa Cruz.” 
37 
 
 
 
Em Santa Maria, pelo menos desde 1828,

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