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Livro-Texto - Unidade I (1)

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. Adilson Rodrigues Camacho 
Colaboradores: Prof. Rogério Carlos Traballi
 Profa. Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo
Agricultura Sustentável
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Professor conteudista: Adilson Rodrigues Camacho
Possui graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP (1990) e mestrado em Geografia pela Faculdade 
de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp (1994). É doutor em Ciências 
pelo Programa de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (2008). Atualmente é professor 
titular da Fundação Armando Álvares Penteado – Faap e da Universidade Paulista – UNIP.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C172a Camacho, Adilson Rodrigues.
Agricultura sustentável. / Adilson Rodrigues Camacho. – São 
Paulo: Editora Sol, 2015.
112 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-085/15, ISSN 1517-9230.
1. Agricultura. 2. Sustentabilidade. 3. Agroindústria. I. Título.
CDU 631
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Moro
 Lucas RIcardi
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Sumário
Agricultura Sustentável
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 AGRICULTURAS SUSTENTÁVEIS ORIGINAIS OU SABERES E PERSONAGENS 
VERNÁCULOS: DOMESTICAÇÃO, CULTIVO E CRIAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS 
EM EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS ...................................................................................... 13
2 PRODUÇÃO DA ESCASSEZ ARTIFICIAL: DA ECOLOGIA AO MARKETING ................................... 39
3 TERRITORIALIZAÇÃO DOS SISTEMAS E CADEIAS PRODUTIVAS CONVENCIONAIS 
DE ECONOMIA E TECNOLOGIAS DURAS: UNIFORMIZADORAS E CONCENTRADORAS ........... 54
4 CONSOLIDAÇÃO DAS TECNOLOGIAS AGROINDUSTRIAIS NO CAMPO: SUCESSOS 
E DECLÍNIO DAS ATIVIDADES AGRÁRIAS CONVENCIONAIS E A COMPLEXIDADE 
DO NOVO RURAL OU “RURBANO” ............................................................................................................... 62
4.1 Modelos de produção agrários ....................................................................................................... 62
4.2 Formas de exploração da terra ....................................................................................................... 63
4.3 Tipos de lavouras .................................................................................................................................. 63
4.4 Relações de trabalho ........................................................................................................................... 64
4.5 Principais produtos agrícolas .......................................................................................................... 64
4.6 Atividade pecuária ............................................................................................................................... 70
Unidade II
5 OS PROBLEMAS DO MODELO CONVENCIONAL .................................................................................. 76
6 SOLUÇÕES: UMA INTRODUÇÃO ÀS OPÇÕES E ÀS POSSIBILIDADES DE MELHORIA 
DE QUALIDADE DO AMBIENTE E DA VIDA ................................................................................................ 78
7 SOLUÇÕES: DESENVOLVIMENTO DAS SOLUÇÕES COM PREDOMÍNIO DA CULTURA 
E DO AMBIENTE PARA O MANEJO ECOLÓGICO E ECONÔMICO, DE FATO ECOEFICIENTE ...... 82
8 SOLUÇÕES: APONTAMENTOS E PERSPECTIVAS................................................................................... 94
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APRESENTAÇÃO
Este é o livro-texto da disciplina Agricultura Sustentável, mais um instrumento de apoio didático 
do curso de Agronegócio, que tem por objetivos gerais apresentar um quadro geral da produção e seus 
sentidos culturais e econômicos, podendo assim planejar, orientar, avaliar e monitorar as atividades 
agropecuárias sustentáveis em seu uso do ambiente. Isso significa que a utilização produtiva dos 
recursos ambientais deve ser guiada, em todo o processo de planejamento e gestão, pelo ideal de 
sustentabilidade dos modos de cultivo e de criação; sustentabilidade cuja essência é o compromisso 
com os seres humanos na manutenção da Terra para o futuro, permitindo tanto a qualificação das 
atividades acadêmicas quanto daquelas diretamente produtivas dos agronegócios.
Com esse intuito ocupamo-nos, então, em fazer um percurso que vai da história das formas 
variadas de usos da terra ao longo do tempo, começando pelas agriculturas sustentáveis originais ou 
saberes e personagens vernáculos como experiências e práticas agroecológicas sustentáveis a serem 
seletivamente resgatadas de acordo com sua vitalidade. Passamos para a consideração da mudança 
da produção necessária à produção da escassez artificial, tratando dos limites efetivos da produção 
que não estão ligados aos limites produtivos da terra, uma vez que esta pode render muito mais em 
condições ambientalmente sustentáveis. Com isso, esperamos levar ao aluno os sentidos complexos que 
as atividades agrárias tinham para as sociedades tradicionais, como referências para as práticas atuais.
Enfocamos a formação ou territorialização dos sistemas e cadeias produtivas convencionais, 
uniformizadoras e concentradoras, de economia e tecnologias duras. Concluímos a primeira unidade 
tomando a consolidação das tecnologias no campo e da agroindústria, os sucessos e declínio das 
atividades agrárias convencionais e a insustentabilidade da produção “sem a natureza”, “sem o 
humano” e gestão ambiental “sem ambiente”. O novo rural ou o “rurbano” impõem-se. Desse modo, o 
estudante tem condições de estabelecer comparações entre o que foi e o que é realizado em termos 
de produção agropecuária, procurando o conteúdo das mudanças nas quais seu trabalho profissional 
estará inserido.
Encaminhamos o texto dos problemas desse modelo convencional às alternativas. Iniciamos a 
unidade seguinte pelos problemas advindos do modelo de desenvolvimento convencional, de suas formas 
de gestão e instrumentos, bem como do empregode toda ordem de venenos, agrotóxicos, pesticidas, 
equilíbrio artificial dos ecossistemas e degenerescência da produção. Passamos para um esboço teórico 
das soluções, uma introdução às opções e à transição para situações de melhoria de qualidade ambiental 
ou de vida, com as alternativas sustentáveis.
Em seguida vamos pelo desenvolvimento das soluções com predomínio da cultura e do ambiente 
para o manejo ecológico e econômico, de fato ecoeficiente. São apresentados as perdas e as correções, 
as experiências e os casos de sucesso da agricultura sustentável.
O encadeamento do texto leva, portanto, em consideração a construção das melhorias possíveis a 
partir de exemplos concretos de produtividade sustentável, passando pelas transformações sociais que 
explicam as mudanças na concepção de produto e na essência das tecnologias empregadas.
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No que diz respeito aos objetivos específicos, busca-se capacitar o aluno para entender a produção 
do agronegócio relacionando os conceitos da sustentabilidade e desenvolvimento limpo, isto é, 
encaminhando-o à aplicação das boas práticas e dos conceitos discutidos no início do texto. E, assim, o 
aluno tomará contato com conceitos de organização produtiva sustentável em um ambiente qualificado, 
saudável. Deve aprender a superar as práticas danosas ao ambiente e a dialogar com os profissionais que 
ainda a ela estiverem afeitos, expondo os prognósticos e tendências negativas das práticas nocivas em 
pesquisa e aplicação, além de difundir possibilidades de melhoria e limpeza dos processos produtivos, 
casando tecnologia e saúde.
Ao perguntar sobre as origens e o histórico da agricultura sustentável, o caminho trilhado aqui 
visa questionar o que há de comum nas mais variadas relações de produção agropecuárias e de sua 
sustentabilidade, com base em definições e conceitos correntes da Antropologia, Ecologia e Geografia 
(com auxílio de instrumentos da Economia e da Administração). Os principais conceitos são os de 
desenvolvimento limpo, sistemas e programas de gestão ambiental de recursos em diversas escalas da 
produção, como a água, as possibilidades de mitigação e aplicação dos resíduos resultantes das cadeias 
produtivas, além de noções de legislação de conservação e preservação.
Desse modo, fechamos o texto com alguns apontamentos e perspectivas acerca do material 
pesquisado aqui exposto e dos argumentos tecidos; em síntese, que o caminho de transição depende de 
(re)educação ambiental de todos os agentes e é essencialmente político, além de técnico e econômico.
INTRODUÇÃO
O livro-texto da disciplina Agricultura Sustentável que você tem em mãos é mais uma forma 
de comunicação empregada pelo curso. Nele, esperamos que encontre algumas respostas e muitas 
questões de reflexão e pesquisa. Haverá sempre uma resposta sumária e aberturas para ir além do 
livro, das aulas, dos fóruns, das simulações e das demais formas de interações que permeiam sua 
passagem pela graduação em Agronegócios.
Vamos discutir o que é ambiente, o que é o “agro” do ambiente e dos negócios ambientais e, portanto, 
seu manejo nas diversas atividades agrárias.
Baseado na relação existente entre ambiente, território e paisagem, que são os componentes da 
questão ambiental, propõe-se o percurso que vai da natureza ao território, amparando-nos na Filosofia, 
na Ecologia e na Geografia.
Aproveitando o aporte da Ecologia e da Geografia, vamos da imagem da natureza para as 
materialidades ou espacialidades dos ambientes e paisagens. Com o auxílio da teoria dos sistemas e 
da Ecologia reduzimos esse todo ao ambiente como conjunto de biomas e ecossistemas (compostos 
pelos processos que relacionam animais, solos, rochas, minerais, fungos e bactérias, entre inúmeros 
seres, que envolvem as reações biogeoquímicas e ciclos orgânicos, climáticos, rochosos, no solo, além 
das progressivamente mais intensas determinantes sociais), tornando-se, assim, passível de apreensão, 
medida e planejamento.
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O sistema, como conjunto articulado de elementos com funções próprias e coerentes, permite atribuir 
funções, equacionar “variáveis”, quantificar, mensurar e operacionalizar, enfim, manipular a realidade 
reduzida, expandindo-a indefinidamente. Primeiramente se organiza o mundo visível, apreendido, para, 
depois, verticalizar o conhecimento.
Os diferentes ecossistemas são tomados pela Geografia como unidades, com certa identidade, de 
conteúdo diversificado, complexo e dinâmico. Essas unidades aparecem como paisagens, ou melhor, 
como a diversidade paisagística do planeta: florestas tropicais, de tundra, taiga, savanas ou cerrados, 
desertos frios ou quentes etc. O nível das relações ambientais, objeto da ecologia, não é, normalmente, o 
terreno do administrador ou do engenheiro de macroestruturas, sendo aí que o escopo da Geografia traz 
a categoria de território para a análise e manejo da realidade ambiental do modo como nos interessa, 
pois é próprio ao conceito de território permitir o zoneamento, a regionalização, a departamentalização 
e a federalização das atividades humanas, seja nos ambientes ditos “naturais” ou naqueles mais 
urbanizados. O que se está querendo dizer é que a gestão do ambiente dar-se-á por intermédio do 
território em razão da escala (processos sociais macroestruturais) e possibilidades conceituais, dada a 
síntese que o território representa.
A teoria geral da informação (EPSTEIN, 1988) nos mostra que a informação plena não existe, pois, 
para tomar sentido, ela requer redundância, repetição e redução. Todos os pixels da tela do monitor de 
TV, em seu máximo de luminescência, por exemplo, não cumprem sua função de mostrar movimento em 
imagens, o que fariam se acendessem gradativamente, ao passo que apenas uma luz de freio do painel 
do automóvel, quando acesa, informa claramente o que deve ser feito: averiguar o sistema de freios.
Com esse espírito também é que, ao pedido de que cada aluno numa sala de aula faça uma lista 
de “tudo” o que esteja vendo, o resultado que se percebe é que o teor da lista será a um só tempo uma 
fração do “tudo” intuído e direcionada, determinada mesmo pela experiência e intenções.
Nessa linha de raciocínio é que se percebe o porquê dos maiores fracassos das atividades de consultoria 
a uma empresa: diante de toda a complexidade de relações (informalidade, afetos, sentimentos, 
estratégias de despiste de coordenação etc.) que envolvem as organizações, difícil é confeccionar um 
instrumental eficiente de análise ou diagnóstico dos processos. Isso acontece devido à estreiteza de 
objetivos, normalmente limitados à dimensão do lucro concentrado, não alcançando outras esferas 
e dimensões humanas presentes nas organizações que, entretanto, manifestam-se a todo instante, 
sem a previdência dos planejadores e gestores, desatentos para a tal diversidade humana colocada em 
suspenso, senão ignorada.
Trata-se, aqui, de uma redução assumida como possibilidade de conhecimento, que então passa a 
servir como ponto de partida para que desse modo empreenda-se um aprofundamento e expansão dos 
estudos com a ajuda da razão. Expansão que é o objetivo do pesquisador.
Reiterando, aqui está a ciência e, logo, o plano da administração como se verá a seguir. Para gerir 
e planejar é preciso quantificar, sendo esse o reino do sistema e da função (equação), ao menos como 
ponto de partida, conforme ensina Motta (2003).
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Numa afirmação simples, ambiente e paisagem são, conforme já declarado, respectivamente 
conteúdo (objetos do sistema relacionados entre si) e forma do território.Se a natureza é “esse tudo” citado há pouco, ela é o ponto de partida da Filosofia, da arte, do 
pensamento religioso e, portanto, não será estudada por nós. O ambiente, reitera-se, é uma redução 
ou sistematização necessária, conforme os exemplos que mostraremos. O ambiente como lugar das 
relações energéticas entre os seres e com o meio é objeto da Ecologia.
A paisagem é a forma que essas relações assumem, ou seja, a aparência das marcas das atividades 
humanas.
O território é a categoria que reúne todas as outras e, assim como a paisagem, é objeto de estudo 
da Geografia, sendo fundamental à gestão ambiental. O território pode servir como síntese e expressão 
dos modelos “clássico” e alternativo de desenvolvimento (apresentados adiante), em suas dimensões 
política, cultural e econômica. A dimensão territorial da sociedade é aquela que expressa boa parte 
das relações sociais, é nela que estão os problemas e as soluções que as sociedades se dispuseram a 
“especializar”, pois nem todas as soluções vêm à luz para todos. Estradas e melhorias urbanas, como 
transportes, equipamentos coletivos e saneamento básico, estão desigualmente distribuídos pelo espaço, 
territorializados conforme decisão política manifesta. Para um aprofundamento da noção de território, 
pode-se consultar Santos (1996; 2001), além de Raffestin (1993).
Território é o plano da realidade em que são definidos politicamente a ocupação do espaço e o uso 
dos recursos pelas atividades humanas. Veremos por que as atividades agrárias devem superar, enriquecer 
pela educação, pelas políticas públicas e legislação o negócio da venda de paisagens (pacotes turísticos 
voltados para as formas ambientais isoladas, como rios, cachoeiras, vertentes, lagos etc.), integrando-as 
como elementos ambientais, no território. Dizemos que as atividades humanas se territorializam como 
soluções aos seus problemas. Neste livro-texto são consideradas, principalmente, as soluções técnicas 
de fundo econômico, mais ligadas às necessidades satisfeitas por meio de uso dos recursos do território, 
tais como a construção de estradas, áreas de cultivo e indústria, portos etc.
O território oferece uma boa porta de entrada para a análise e planejamento (diagnóstico e 
prognóstico) das relações e processos sociais, diretamente ligados à produção ou não. É nele que podem 
ser encontradas as razões de sua organização, ou seja, se a sociedade é uma organização de organizações, 
cada uma delas deverá, tanto como a articulação em diversos planos e escalas, apresentar-se em sua 
lógica espacial (redes, que são sempre geográficas). Algo como a junção entre os aspectos físicos e os 
humanos, na aludida geografia socioambiental (MENDONÇA, 2001).
Trataremos do território como unidade entre natureza e sociedade, como expressão das atividades 
econômicas, culturais, administrativas e geográficas; todas elas transformadoras da natureza e 
conversoras do ambiente em recursos para a satisfação direta do ser humano e à produção de 
modo geral.
As áreas mencionadas atuam sobre as relações ambientais por meio da organização territorial, 
tanto dos ciclos ecológicos (cadeias de energia e trabalho) quanto aspectos culturais e econômicos dos 
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recursos (valores e significados históricos). Trata-se de tomar o ambiente como unidade de interações 
entre o ser humano com sua cultura e as coisas e objetos que não constituiu.
Apresentaremos, primeiramente, as agriculturas sustentáveis originais (grupos de estrutura social 
horizontal arcaica). Em seguida, a valorização econômica da escassez, numa introdução ao tema do 
mercado de produtos agropecuários e a formação das cadeias produtivas convencionais.
O livro-texto apontará a consolidação e o declínio das atividades tradicionais, explorados com a 
categoria “problemas”, mais especificamente ligados ao que se pode chamar de abusos ou mesmo 
simples inadequação das aplicações da indústria química e biotecnológica (pesticidas, agrotóxicos e 
fertilizantes).
Passaremos, então, aos princípios e dimensões da produção agropecuária e agroindustrial ligadas à 
sustentabilidade, abordando conceitos e histórico de agricultura sustentável, desenvolvimento limpo, 
sistemas e programas de gestão, caracterização e utilização da água, escalas de produção e quantificação 
de resíduos, tecnologias de tratamento, aproveitamento e destinos de resíduos sólidos e líquidos e 
noções de legislação e licenciamento ambiental.
Por fim, aplicaremos tais princípios em alguns casos de estudo que permitem embasar e questionar 
perspectivas futuras e oportunidades de negócios cada vez mais saudáveis, os ecoempreendimentos.
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Unidade I
1 AGRICULTURAS SUSTENTÁVEIS ORIGINAIS OU SABERES E PERSONAGENS 
VERNÁCULOS: DOMESTICAÇÃO, CULTIVO E CRIAÇÃO DE PLANTAS E ANIMAIS 
EM EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS
Para efeito deste trabalho, conhecimento tradicional é definido como o 
conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural, 
transmitido oralmente de geração em geração. Para muitas dessas sociedades, 
sobretudo para as indígenas, existe uma interligação orgânica entre o mundo 
natural, o sobrenatural e a organização social. Nesse sentido, para estas, não 
existe uma classificação dualista, uma linha divisória rígida entre o “natural” e 
o “social”, mas sim um continuum entre ambos (DIEGUES, 2000b, p. 30).
Estamos estudando aqui as transformações do ambiente, que é a natureza conhecida. Então, a 
primeira complicação: como chegar a esse ambiente que posso calcular, planejar? Como fazemos isso 
num curso de Agronegócio? Para isso, é preciso ir dos mitos, da religião, da arte, da Filosofia antiga à 
Ecologia, Agronomia e Ciência Geográfica e, por fim, à administração territorial dos recursos ambientais. 
O manejo dos ambientes dá-se em dois níveis principais: aquele da intervenção direta na estrutura 
biológica (da célula, dos tecidos, da genética etc.) e aquele que mais compete à organização territorial 
do ambiente (do geógrafo, administrador); mas ambos os níveis, micro e macro, complementam-se 
e alguns profissionais podem eventualmente atuar mais diretamente em um ou em outro, como o 
agrônomo, o biólogo, o engenheiro, o profissional de saúde pública e mesmo o médico.
Se a “natureza inteira” é impensável e requer simplificação para o manejo, surge o ambiente como 
sistema de inspiração matemática, com o qual podemos operar, calcular, equacionar. Então, natureza 
somos nós juntamente com todos os outros e de todas as formas e possibilidades, conhecidas e 
desconhecidas. Aqui, não trataremos das formas desconhecidas, mas sim daquilo que conhecemos: 
o ambiente. Eis, assim, a solução que nos leva até a Ecologia (biomas, ambientes ou ecossistemas), 
Geografia (localizações, escalas e territórios dos usos) e Administração (organização e técnicas de 
controle dos usos). A natureza não é algo objetivo que está à nossa espera para manipulá-la e nos 
satisfazer; é, sim, a mistura de coisas com as quais estamos envolvidos, sejam plantas, fungos, rochas, 
minerais, gases, animais, insetos, dentre todos os demais seres.
A razão da redução é a manipulação do conhecido: não há outro jeito de planejar e fazer projetos. 
Num sistema sabemos o que está ligado e para onde o conjunto se dirige.
A humanização do sapiens-sapiens resulta diretamente de sua progressiva competência técnica, 
que requereu experimentação e conhecimento dos elementos de seu entorno com os quais passou a 
se relacionar conscientemente, primeiro de modo operacional e mítico e, só recentemente, científico. 
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Unidade I
Vejamos algo importante nesses 15 mil anos, fundamental para nossa conversa: a domesticação dos 
outros seres na relação com a natureza.
Ambiente, para nós, é uma primeira resposta racional e experimental ao problema do desconhecido: 
ambiente é uma redução da natureza ao conhecido; é a natureza conhecida. É uma redução sistêmica, 
isto é, redução a um todo funcional de elementos e situações conhecidos e projetados.
A vida humana em desenvolvimento implica criação e manutenção de condições de existência, 
tanto materiais quanto espirituais, cujas principais dimensões sociais são política, econômica, cultural 
e territorial.
O ambiente como um lugar das trocas de energia (cadeias alimentares, por exemplo), que liga 
tudo que identificamos e delimitamos, supõe problemas: quanto à ignorância dos desdobramentos da 
interferência nos processos biogeoquímicos nos níveis de seu funcionamento e quanto à sua apropriação 
social desigual, isto é, problemas no acesso diferenciado aos recursos e às riquezas produzidas a partir 
deles. A decisão e o controle do ambiente não são democráticos, aliás, nem mesmo se manifestam, são 
questões secretas e naturalizadas.
O que está fora da questão ambiental? Nada. Nada está fora desse pacote, pois todos os seres 
estão em associação direta e indireta: plantas e rochas, estas e o clima ou as condições atmosféricas, 
ou ainda a topografia, as águas e as modalidades de usos sociais. Os conjuntos ou ambientes variam na 
combinação e no grau de ocorrência ou relevância dos elementos, cujas formas resultantes podemos 
observar nas diferentes paisagens, os desertos quentes e secos e as áreas pantanosas e florestais, por 
exemplo.
O que significam os termos “lugar”, “território” e “paisagem”? Qual sua relação com o ambiente? São 
categorias geográficas de análise espacial e nos servirão de instrumentos de precisão no tratamento dos 
usos dos recursos.
Primeiramente, todas as atividades requerem recursos como matéria-prima, energia e administração, 
localizados e combinados em territórios sempre disputados.
As atividades de que estamos tratando são aquelas já chamadas primárias, isto é, agrárias, que 
englobam agricultura e pecuária, mais especificamente, na qualidade de sustentável.
Quanto à sustentabilidade da produção, Gliessman (2000) afirma que agroecologia é a consideração 
dos processos ecológicos para uma agricultura sustentável e complementa: “Eu sempre começo 
dizendo que a agroecologia é a aplicação dos conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de 
agroecossistemas sustentáveis” (GLIESSMAN, 2000, p. 4).
Já agricultura sustentável “é uma agricultura que protege a base de recursos naturais e permite 
uma economia viável e também propõe um aspecto social justo e aberto a todos que fazem parte da 
sociedade” (GLIESSMAN, 2000, p. 4).
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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Em se tratando de produção e negócios, é preciso caracterizar os papéis públicos e privados, isto 
é, aqueles do aparelho de Estado como um todo, nos níveis municipal, estadual e federal (autarquias, 
secretarias e ministérios) e aqueles dos setores privados (empresas de vários portes e investidores 
individuais). O que há de “novo” na sociedade e nos agronegócios é a via da sustentabilidade ambiental, 
da preservação do ambiente como valor ético, de uma ética prática: se não preservarmos as fontes há 
sérias dúvidas quanto à disponibilidade de estoques no futuro.
A via sustentável é original em meio ao fazer corrente (restrita à sustentabilidade econômica dos 
negócios), que esgota recursos como solos, florestas, rios, mares, animais e suas áreas de ocorrência. 
Porém, é preciso distinguir o discurso das práticas efetivas dos agentes sociais.
 Saiba mais
Na análise crítica dessas ações que se manifestam em campanhas 
publicitárias, mais do que nas intenções reais, recomendamos o trabalho de 
qualidade de Pierre-Pomier Layrargues:
LAYRARGUES, P. P. A cortina de fumaça: o discurso empresarial verde e 
a ideologia da racionalidade econômica. São Paulo: Annablume, 1998.
As políticas governamentais, as práticas levadas adiante por empresas privadas e os trabalhos de inúmeras 
organizações sociais são responsáveis pela direção e a qualidade do desenvolvimento do país (ABRAMOVAY, 
2010, p. 97). Este autor reflete sobre a relação desintegrada entre diversas instâncias com suas atribuições, não 
formando um todo coerente, o que lhes retira justamente o alcance estratégico. Para ele:
Desenvolvimento sustentável é o processo de ampliação permanente das 
liberdades substantivas dos indivíduos em condições que estimulem a 
manutenção e a regeneração dos serviços prestados pelos ecossistemas 
às sociedades humanas. Ele é formado por uma infinidade de fatores 
determinantes, mas cujo andamento depende, justamente, da presença 
de um horizonte estratégico entre seus protagonistas decisivos 
(ABRAMOVAY, 2010, p. 97).
Para Abramovay (2010, p. 97), a sustentabilidade é de qualidade ética, estando em jogo “o conteúdo 
da própria cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as sociedades optam 
por usar os ecossistemas de que dependem”.
Ainda segundo esse autor, embora tenham ocorrido melhorias sociais no Brasil, persistem graves 
problemas no acesso à educação, moradia, justiça e segurança. Ele vê graves problemas nos padrões 
dominantes de produção e consumo que se apoiam na degradação ambiental muito mais vigorosa 
do que o poder da legislação voltado a sua contenção. Haveria que promover inovação tecnológica 
“cada vez mais orientada a colocar a ciência a serviço de sistemas produtivos altamente poupadores de 
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materiais, de energia, e capazes de contribuir para a regeneração da biodiversidade” (ABRAMOVAY, 2010, 
p. 98). Indo direto ao ponto em sua análise da estrutura produtiva brasileira, o autor acrescenta que:
[...] os significativos progressos dos últimos anos são ameaçados pela ausência 
do horizonte estratégico voltado ao desenvolvimento sustentável, tanto por 
parte do governo como das direções empresariais: de um lado a redução no 
desmatamento da Amazônia não é acompanhada por mudança no padrão 
dominante de uso dos recursos. Assim, apesar da contenção da devastação 
florestal, prevalece entre os agentes econômicos a ideia central de que a 
produção de commodities (fundamentalmente carne, soja e madeira de baixa 
qualidade), minérios e energia é a vocação decisiva da região. Além disso, ao 
mesmo tempo em que se reduz o desmatamento na Amazônia, amplia-se de 
maneira alarmante a devastação do cerrado e da caatinga. De outro lado, o 
segundo exemplo aqui apresentado mostra que o trunfo representado pela 
matriz energética brasileira não tem sido aproveitado para a construção de 
avanços industriais norteados pela preocupação explícita em reduzir o uso 
de materiais e de energia nos processos produtivos. A consequência e o 
risco é que o crescimento industrial brasileiro — ainda que marcado por 
emissões relativamente baixas de gases de efeito estufa — se distancie do 
padrão dominante da inovação contemporânea, cada vez mais orientada 
pela descarbonização da economia (ABRAMOVAY, 2010, p. 98).
Antes de mostrarmos processos agropecuários industriais com crescentes valores econômicos 
agregados à produção muito impactantes nos grupos humanos, em seus estilos de vida e sistemas 
ambientais, e as alternativas mais sustentáveis, vamos apresentar brevemente formas de vida e produção 
que têm melhores relações com os ambientes, usando-os, mas mantendo-os, como agriculturas 
sustentáveis originais, com métodos vernaculares e que podemnos ensinar muito ainda hoje.
São formas de vida muito antigas com aproximadamente 10.000 anos (HAVILAND et al., 2011, 
p. 120) que, como veremos adiante, praticavam atividades de coleta (extrativismo) e cultivo (agricultura, 
pecuária) similares àquelas que hoje chamamos agroecologia, esta que é um conjunto de conhecimentos 
e procedimentos inspirados nos baixos impactos negativos dos velhos saberes e usos. A agroecologia 
soube aprender.
O território, que é nossa porta de entrada para essas questões, é moldado pelos usos dos grupos 
sociais, suas ligações com a natureza, mais especificamente com aquilo que chamamos ecossistemas 
ou conjunto ambientais, e mais organismos, identificando-os, classificando, inventariando, aplicando 
conhecimento, e também pelo modo como esses grupos representam tais usos na cultura que 
desenvolvem. Por usos nos referimos a todo trabalho desenvolvido pelo ser humano sobre as coisas, 
mudando-as e a ele próprio.
Usar as coisas ao nosso redor é o que enraíza a história humana, portanto sigamos com uma 
palavrinha sobre como nos relacionamos com o ambiente circundante baseados na necessidade 
irrefletida de sobrevivência e no impulso de criar meios diferentes dos naturais que nos antecedem.
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Disciplinas como História, Antropologia, Arqueologia, entre outras, vêm em nosso auxílio no esforço 
de retorno no tempo de situações diferentes das atuais, embora com necessidades semelhantes.
Standage (2010) nos leva por um caminho muito interessante quando mostra a dependência dos seres 
humanos em relação as suas novas criações e vice-versa. A agricultura, com solução para a obtenção de 
alimentos, passou a fornecer os meios de sustento mais confiáveis e abundantes, tornando-se a base de 
novas formas de vida e de sociedades mais complexas.
Os alimentos mais importantes foram os cereais, como trigo e cevada no Oriente Próximo, arroz e 
milhete na Ásia e milho nas Américas.
Figura 1 – Os centros de origem do milho, do trigo e do arroz domesticados
As civilizações que surgiram posteriormente fundadas nessas bases alimentares, inclusive a nossa, 
devem sua existência a esses antigos produtos de engenharia genética (STANDAGE, 2010).
Acompanhemos a história da espiga de milho contada por Tom Standage, que nos leva a pensar 
sobre domesticação e controle dos demais organismos (insetos, plantas e animais) de que necessitamos 
para viver. O autor identifica alimentos e tecnologias, atribuindo generosidade à natureza expressa 
numa espiga de milho, pois “com uma torção do punho ela é facilmente arrancada do caule, sem 
desperdício ou trabalho excessivo. É repleta de grãos saborosos e nutritivos, maiores e mais numerosos 
que os de outros cereais” (STANDAGE, 2010, C.1). Além disso, acrescenta que é protegida de pragas e 
da umidade por uma palha. Assim, o milho chega até nós como um presente da natureza; já vem até 
embrulhado. Mas não devemos nos enganar. O milho ou outro produto agrícola qualquer, numa área 
de cultivo, são tão manufaturados ou fabricados pelo homem quanto uma placa de computador, um 
livro ou um avião.
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O autor reitera:
Por mais que gostemos de pensar na agricultura como uma atividade natural, 
há 10 mil anos ela era uma estranha inovação. Para caçadores-coletores da 
Idade da Pedra, campos cuidadosamente cultivados que se estendiam até o 
horizonte seriam uma visão inusitada. O cultivo de terras é um projeto tão 
tecnológico quanto biológico. E no grande plano da existência humana, as 
tecnologias em questão – as plantações agrícolas – são invenções muito 
recentes (STANDAGE, 2010, C.1).
Nossos ancestrais hominídeos distanciaram-se dos “macacos” cerca de meio milhão de anos atrás, 
tendo surgido os seres humanos “anatomicamente modernos” há mais ou menos 150 mil anos. Os 
humanos primitivos eram caçadores-coletores que se alimentavam de plantas e animais obtidos por 
coleta e caça diretamente da natureza. Começamos há aproximadamente onze mil anos a cultivar 
alimentos e a agricultura foi desenvolvida em momentos e lugares diferentes, de modo independente: 
“já estava estabelecida no Oriente Próximo por volta de 8500 a.C., na China por volta de 7500 a.C. e nas 
Américas Central e do Sul por volta de 3500 a.C.” (STANDAGE, 2010, p. 12). Como representado no mapa 
que acabamos de apresentar, irradiam-se dessas três regiões principais a tecnologia da agricultura para 
o mundo todo, tornando-se o meio de produção de alimentos da humanidade, por excelência.
Trata-se de mudança de grandeza extraordinária para seres que tinham vida nômade, baseada na 
coleta e na caça, ao longo de toda a sua existência anterior.
Se os 150 mil anos de existência dos seres humanos modernos fossem 
transformados em uma hora, somente nos últimos quatro minutos e 
meio eles teriam começado a adotar a agricultura, e ela só teria se 
tornado o meio dominante de subsistência no último minuto e meio 
(STANDAGE, 2010, p. 12).
A mudança foi da procura de alimentos para a lavoura, “de um meio natural para um meio tecnológico 
de produção de alimentos” (STANDAGE, 2010, p. 14).
Muitos animais coletam e armazenam sementes e outros alimentos, porém os seres humanos são 
os únicos a controlar as condições dos cultivares, a selecionar e projetar determinadas características 
desejadas. O autor acrescenta: “como um tecelão, um carpinteiro ou um ferreiro, um agricultor cria coisas 
úteis que não estão na natureza” (STANDAGE, 2010, p. 14). A domesticação é um grande milagre para a 
evolução humana. São instrumentos cuidadosamente elaborados para produzir comida de forma nova e 
em quantidades ampliadas, diferente das condições naturais. O autor fala das três plantas domesticadas 
que, em particular, provaram-se extremamente importantes: trigo, arroz e milho, pois enraizaram a 
civilização e ainda nos sustentam.
O milho fornece a melhor demonstração de que colheitas domesticadas são inquestionavelmente 
criações humanas. A distinção entre plantas silvestres e domesticadas não é rígida. De fato, as plantas 
se distribuem num continuum: de inteiramente silvestres, passando por plantas que tiveram algumas 
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características modificadas para convir aos seres humanos, até aquelas inteiramente domesticadas, que 
só podem se reproduzir com ajuda humana. O milho encaixa-se na última categoria. Ele é o resultado da 
propagação, pelos seres humanos, de uma série de mutações genéticas aleatórias que o transformaram 
de uma simples erva num estranho e gigantesco mutante que não pode mais sobreviver na natureza. 
O milho é descendente do teosinto, um capim silvestre nativo do que hoje é o México. As duas plantas 
parecem muito diferentes. De fato, porém, apenas algumas mutações genéticas foram suficientes para 
transformar uma na outra.
O autor fala um pouco do milho, para ilustrar seu raciocínio:
Uma diferença óbvia entre o teosinto e o milho é que as espigas do primeiro 
consistem de duas fileiras de grãos contidas em invólucros duros, ou glumas, 
que protegem a parte comestível no interior. Um único gene, chamado pelos 
geneticistas modernos de tga1, controla o tamanho dessas glumas; uma 
mutação nesse gene resulta nos grãos expostos. Isso significa que os grãos 
têm menor probabilidade de sobreviver à viagem através do trato digestivo 
de um animal, pondo as plantas mutantes em desvantagem reprodutiva 
em relação às não mutantes, pelo menos na ordem normal das coisas. Mas 
os grãos expostos teriam também tornado o teosinto muito mais atraentepara seres humanos coletores, uma vez que não seria necessário remover 
as glumas antes do consumo. Ao coletar apenas as plantas mutantes, com 
grãos expostos, e depois usar esses grãos como sementes, protoagricultores 
puderam aumentar a proporção de plantas com grãos expostos. A mutação 
do tga1, em suma, tornou menos provável a sobrevivência do teosinto na 
natureza, mas tornou-o também mais atraente para os seres humanos, que 
propagaram a mutação (no milho, as glumas são tão reduzidas que só as 
notamos quando ficam presas entre nossos dentes. Elas são o filme sedoso e 
transparente que envolve cada grão) (STANDAGE, 2010, p. 14).
Figura 2 – A evolução do teosinto ao protomilho e à espiga moderna
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Continuamos a descrição da evolução da agricultura do paleolítico, neolítico, culminando na 
sedentarização, para entendermos seu significado na relação com os recursos.
Seguimos falando um pouco mais sobre as atividades originais que chamamos de tradicionais e 
como elas mantêm ligações profundas com o mundo em que foram criadas há milênios (MAZOYER; 
ROUDART, 2010).
Há traços muito profundos das várias populações em seus diversos estágios de desenvolvimento e 
conhecimento de manejo e organização de seus espaços, bem como heranças das formas e procedimentos, 
junto com suas condições criativas originais que marcaram a terra e configuraram as paisagens. Mesmo 
com todas as mudanças nos instrumentos e tecnologias de transformação da matéria nas diversas 
partes da Terra, ainda persistem vestígios com intensidades variadas.
Antes das marcas mais profundas, nossos ancestrais, no período paleolítico, eram nômades e 
praticavam extração de frutos, raízes, fibras, rochas e minérios (HAVILAND et al., 2011).
As atividades de domesticação e cultivo desde o neolítico estão na base da fixação humana nos 
ambientes ecúmenos, isto é, favoráveis à reprodução da vida humana (HAVILAND et al., 2011). Há uma 
humanização de pedaços de espaço (paisagens) dominados pelas projeções humanas, tornados menos 
inóspitos pelos símbolos e rituais, responsáveis pelas cadeias de confiança desses homens e mulheres em 
seu sustento, como afirma Cassirer (1968, p. 83-84):
Não pode surgir nenhuma energia criativa de uma atitude inteiramente 
passiva. A este respeito, até a magia deve ser considerada um passo importante 
no desenvolvimento da consciência humana. A crença na magia é uma das 
primeiras e mais fortes expressões do despertar da confiança do homem em 
si mesmo. Não se sentindo mais à mercê das forças naturais ou sobrenaturais; 
começa a desempenhar o seu papel e se torna um ator no espetáculo da 
natureza. Toda prática mágica é baseada na convicção de que os efeitos 
naturais dependem fortemente fatos humanos. A vida da natureza depende 
da distribuição justa e cooperação das forças humanas e sobre-humanas. Um 
ritual rigoroso e complicado regula esta cooperação. Cada campo particular 
tem suas próprias regras mágicas. Alguns são especiais para a agricultura, para 
a caça, a pesca; nas sociedades totêmicas os vários clãs têm ritos mágicos 
diferentes que constituem seu privilégio e seu segredo são tanto mais 
necessários quanto mais difíceis e perigosos são para ser executados. A magia 
não é usada para fins práticos, para ajudar o homem sobre as necessidades do 
dia a dia; têm objetivos mais elevados, empresas arriscadas e perigosas.
 Observação
Deve-se destacar o papel da domesticação como fundamental para 
entendermos as feições do mundo moderno, como os animais denominados 
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de estimação (cães pequenos, com raças criadas por cruzamentos etc.), 
até frutas com polpas saborosas em tamanhos generosos (abacaxi, kiwi, 
morangos). Raras eram as espécies animais e vegetais prontas para comer, 
encontradas diretamente na natureza do modo como as conhecemos, pois 
elas vêm sendo adaptadas para facilitar os hábitos alimentares dos seres 
humanos e animais alimentados por nós.
Sauer (1956) também nos ajuda sobre a importância e a diversidade da vida e da produção do 
homem na Terra.
Ao falar das formas de vida camponesa e pastoril, Sauer (1992) trata das sucessivas intervenções 
revolucionárias do ser humano sobre a natureza, apontando como a principal delas a que veio quando 
ele selecionou certas plantas e animais tomando-os sob seus cuidados para serem reproduzidos, criados e 
domesticados cada vez mais de modo dependente dele para sobrevivência. A adaptação dessas formas para 
servir às necessidades humanas é contrária, como regra, ao processo de seleção natural. Com isso foram 
introduzidas novas linhas e processos da evolução orgânica, ampliando o fosso entre as formas selvagens e 
domésticas. A biota, a superfície e o solo natural foram deformados, gerando paisagens culturais instáveis.
Convencionalmente, as origens da agricultura são localizadas no início da era neolítica, embora seja 
óbvio que o registro arqueológico recente do neolítico apresenta um quadro de domesticação alcançado 
em plantas e animais, da agricultura e da vida pastoral que se assemelha às condições que ainda podem 
ser encontradas em algumas partes do Oriente próximo.
Carl Sauer (1992) apresenta três premissas sobre a origem da agricultura:
1. Esse novo estilo de vida foi sedentário, que surgiu a partir de uma sociedade sedentária anterior. Na 
maior parte das condições, especialmente entre agricultores primitivos, a terra plantada precisava 
ser vigiada continuamente contra predadores dos cultivares.
2. A atividade de plantio e domesticação não foi desenvolvida a partir de fome, mas de fartura e 
de tempo livre. As pessoas vítimas de fome não têm oportunidade e incentivos para a seleção 
lenta e contínua de formas domésticas. Comunidades aldeãs são as que oferecem circunstâncias 
favoráveis a tais progressos.
3. A agricultura primitiva está localizada em terrenos arborizados. Mesmo o fazendeiro americano 
pioneiro apenas invadiu pastos até meados do século passado. Seus campos foram clareiras 
estabelecidas pela morte das árvores, geralmente através de corte. Quanto maior era a árvore, 
mais fácil a tarefa; já o matagal requeria que se arrancasse e cortasse; as pradarias detiveram seu 
avanço, enquanto não se dispusesse de arados capazes de cortar os tapetes de raízes. Os restos 
no chão da floresta foram limpos com queima ocasional; troncos mortos quase não interferiram 
no seu plantio. O pioneiro americano aprendia e aplicava práticas indígenas. Curiosamente, os 
acadêmicos, por carregarem em seus pensamentos as imagens nítidas de campos arados criados 
pelo agricultor europeu com o corte de árvores com um machado, pensaram tantas vezes que as 
florestas repelem a agricultura e que as terras abertas a convidam.
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A mais antiga forma de agricultura envolve fazer furos, muitas vezes chamada − e, geralmente, de 
maneira imprópria − “cultivo de enxada”. Esta era a única maneira conhecida no Novo Mundo, na África 
Negra e nas ilhas do Pacífico. Em um nível avançado, levou aos jardins e horticultura de monções na Ásia 
e, talvez, no Mediterrâneo. Suas ferramentas modernas são a pá, o forcado e a enxada, todos derivados de 
formas antigas. Na América tropical, esse tipo de cultura é conhecido como “conuco”; no México, como 
“milharal”, sendo esta última um plantio de sementes de milho, abóbora, feijão e talvez outras espécies 
anuais. O “conuco” é composto principalmente por raízes e videiras, em um terreno de jardim perene. 
Recentemente, foi proposto o renascimento da antiga palavra norueguesaswithe ou “roça” (SAUER, 1992).
O horto começa detendo o crescimento das árvores, seguindo com a queima no final do período 
seco, de modo que as cinzas servem como um fertilizante imediato. No espaço “clareado” planta-se um 
conjunto diversificado de plantas úteis, cultivadas em linhas, se a fertilidade e a umidade são adequadas. 
No complexo de milho – feijão – abóbora, os caules e folhas desta última estendem-se pelo terreno; 
talos de milho crescem em altura e são enrodilhados por feijões. Assim, o solo está bem protegido por 
um dossel, com uma boa intercepção de chuva. Cada conuco pode conter uma variedade de plantas, a 
partir de gramíneas de arbustos como o algodão e mandioca, e as árvores cultivadas cobertas de vinhas. 
A aparente desordem, na verdade, corresponde a um uso completo de luz e umidade, um substituto 
ecológico admirável manipulado pelo homem, talvez equivalente à cobertura natural na proteção 
oferecida à superfície do solo. No conuco tropical, um pedaço de solo adequado é escavado em locais 
convenientes e a qualquer momento para extrair ou colher plantas diferentes, sem a necessidade de se 
escavar toda a área plantada. A extração e o plantio de raízes podem ocorrer simultaneamente. Nossas 
ideias sobre a época de colheita em que toda a produção é extraída do campo são inaplicáveis. Em 
conucos, você pode colher algo quase qualquer dia do ano. A mesma planta pode entregar verduras para 
a panela e salada, flores ricas em pólen, verdes e frutos maduros; a mesma lógica cabe à horticultura 
e ao cultivo de campos (culturas arbustivas). Cada planta pode ter, assim, vários usos domésticos. 
Essa ocupação múltipla do espaço cultivado permite maiores rendimentos por unidade de área, 
adicionando-se a observação de que neste sistema desenvolveram-se plantas de alta produtividade, 
como bananas, inhame e mandioca, cuja produção de alimentos não é de modo algum o único uso de 
tais plantas (SAUER, 1992). Em suma, os conucos são tipos de cultivo mais vantajosos.
Os sistemas agrícolas realmente não merecem os nomes “invejosos” que lhes forem atribuídos, tais 
como “corte e queima” ou “a agricultura itinerante”. O abandono dos cultivos depois de um tempo antes 
dos novos rebentos de plantas selvagens lenhosas é uma forma de rotação através do qual o solo é 
restaurado para nutrientes extraídos por árvores e arbustos de raízes profundas, a serem espalhados 
sobre a superfície como resíduos. Tal uso da terra é livre das limitações do terreno ao campo arado. Que 
possa oferecer bons retornos em declives íngremes e ravinas não é um bom argumento contra o método, 
que oferece uma melhor proteção contra a erosão do solo do que qualquer forma de recuperação. É 
também nesta cultura que são estabelecidos sistemas de terraceamento em encostas (SAUER, 1992).
Alguns dos problemas atribuídos ao sistema resultam do impacto tardio de nossos próprios métodos 
de cultura, tais como o acesso a machadadas e facões, através da qual é possível eliminar focos de ervas 
daninhas, em vez de deixar a terra descansar sob o novo crescimento das plantas; a substituição de 
culturas de subsistência para as culturas de rendimento; o rápido crescimento da população mundial 
e demanda por bens industriais, associada a melhores padrões de vida. Não argumentam que sob este 
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primitivo sistema de cultura, o homem poderia melhor satisfazer as suas necessidades, sem esgotar o 
solo. Em vez disso, em seus procedimentos básicos e suas plantações, este sistema nos permite manter 
um alto grau de fertilidade do solo, com altos níveis de performance. Sendo protetor e intensivo, 
podemos considerar totalmente adequado às condições físicas e culturais das áreas onde ela existe. 
O nosso conhecimento ocidental é orientado para o uso da terra para uma curta série de anos e não 
equivalente à sabedoria do camponês primitivo enraizada em suas terras ancestrais (SAUER, 1992).
Nossas atitudes em relação ao cultivo vêm de outro tronco antigo, do qual brotam agricultores, 
colheitadeiros e os ceifeiros; homens do arado, que dependem de criadores de gado leiteiro e pastores 
de rebanhos. Este é o complexo que já está bem representado nos primeiros sítios neolíticos no Oriente 
Próximo. O interesse desta cultura é especificamente voltado para a produção de mudas anuais, 
especialmente gramas de cereal. A semente é cuidadosamente preparada com antecedência para 
minimizar o crescimento de plantas daninhas e fornecer uma luz na bem trabalhada superfície do 
solo em que as pequenas sementes germinam. A superfície lisa e bem trabalhada contrasta com pilhas 
dispersas de terra – “colinas” na fala do camponês americano – característica do conuco e do milharal. 
Em vez de uma variedade de plantas, o solo é preparado para receber sementes de um único tipo. O 
Oeste da Índia é uma exceção significativa. As plantas não recebem cultivo adicional, desenvolvendo-se 
até a maturidade, quando são colhidas uma vez. Após a colheita, o campo pode ficar em pousio até 
a temporada seguinte. Os instrumentos do cultivo é o arado; em segundo lugar, as grelhas, ambos 
usados para preparar o solo para o plantio. Este é tradicionalmente feito lançando-a aos punhados, e da 
colheita, utilizando lâminas afiadas (SAUER, 1992).
Rebanhos de animais, gado de corte, ovinos, caprinos, cavalos, jumentos e camelos são raros ou 
têm uma presença recente neste sistema. Cuidar de animais pastando ou ruminando é básico. Eles são 
ordenhados, ou eram no passado. Na opinião de Sauer (1992), a ordenha é uma atividade original e um 
elemento qualitativo de domesticação, e em muitos casos se manteve sua principal utilidade econômica, 
enquanto a carne e couro foram apenas os produtos de origem animal.
Este complexo espalhou-se de seu berço no Oriente Médio, especialmente em três direções, mudando 
seu caráter diante das mudanças ambientais e devido ao crescimento populacional:
• difusão para as estepes da Eurásia, a cultura perdeu preparo e tornou-se plenamente pastoral, 
com o nomadismo real;
• dispersão dos celtas, germânicos e eslavos para o oeste parece ter tomado seus assentamentos 
históricos principalmente como criadores de gado e cavalos;
• a dispersão das culturas de plantio e pastagem para o oeste ao longo de ambos os lados do clima 
mediterrânico, não sendo necessário um ajuste significativo. O trigo e a cevada continuaram os 
cereais de colheita; ovinos e caprinos tiveram maior importância do que gado e cavalos.
A descrição das transformações nas concepções e nas técnicas leva Sauer (1992) à identificação de 
problemas, como erosões, desertificação, alterações climáticas, rupturas da biodiversidade, gerados por 
nossas atividades agrárias em larga escala para o crescente mercado. Fala da importância de um saudoso 
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manejo que promovia integração entre plantas e animais, o que era comum nesses modelos antigos. Defende 
um aprofundamento dos estudos arqueológicos para entender os papéis dos ambientes e das culturas no 
desenvolvimento das práticas agrícolas menos impactantes e mais inteligentes do ponto de vista da Ecologia.
A retomada histórica de nossos primórdios produtivos deve-se à importância das origens da questão 
ambiental, isto é, da problemática tão antiga quanto nosso manuseio da terra para plantar. Sempre há 
impactos, de grande ou pequena extensão, diretos ou indiretos.
Nossa jornada do neolítico para cá pode ser identificada por grandes transformações, que implicam perdas 
e ganhos na qualidade de vida. Essas transformações aparecem de muitas maneiras como uma crescente 
desumanização da natureza do ser humano, conferindo uma ideia da base subjetiva quecompõe o assunto.
O caminho segue pelo tratamento da natureza, mesmo sem considerá-la em toda a variedade 
cultural de concepções que dela existe. Já apontamos tal dificuldade há pouco.
A natureza é tudo, apresenta o presente e o passado, é interna e externa ao ser humano, sendo condição 
da cultura e por esta também transformada. É o ponto de partida da Filosofia, dela continuamente escapando 
em virtude de sua complexidade. Reiteramos que por razões de método científico, não nos deteremos nesse 
nível de complexidade. Prova de que esse plano está além de nossa percepção, entendimento e cálculo, são 
as doenças, as cadeias energéticas e mesmo todas as ligações promovidas pelos impactos e poluições que 
indicam nosso desconhecimento dos demais seres (estruturas orgânicas e inorgânicas), com os quais nos 
relacionamos em profunda ignorância. Esta parece ser a causa maior dos desequilíbrios.
Registramos que é atribuição do método unir sujeito e objeto do conhecimento, no ambiente que é 
a natureza conhecida, atribuindo sentido à prática e aproximando-nos da realidade possível por meio 
de roteiro e de instrumentos mais modestos.
É por isso que a questão ambiental tornada acessível pela sua dimensão territorial já está no nível do 
conhecido (plano que nos permite a reprodução e a produção de artefatos), a partir da sistematização 
da realidade visível e intervenção. Assumem-se, portanto, os limites da razão para poder em seguida 
expandir o conhecimento que se pode ter. Reduz-se para, em seguida, expandir.
 Saiba mais
Permanecendo apenas no rol dos cientistas que corroboram a visão dos 
limites da percepção, é importante conhecer:
EL-HANI, C. N.; PEREIRA, A. M. Notas sobre a percepção e interpretação 
em ciência. Revista USP, n. 49, p. 148-159, 2001. 
SANTOS, L. G. Politizar as novas tecnologias: o impacto sociotécnico da 
informação digital e genética. São Paulo: Editora 34, 2003.
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Falemos um pouco sobre os saberes vernaculares (da população) como primeiros ou genuínos saberes 
de qualquer ser humano, sua importância e sobre o imenso preconceito acadêmico que desencadeia.
A base de todo o conhecimento contemporâneo deve se estabelecer sobre um diálogo entre o novo 
científico e tecnológico e suas premissas com aquelas formas de ver e fazer que nos apareçam como 
diferentes. Os saberes vernaculares, segundo Collignon (2010), são populares, tradicionais, nativos, 
endógenos, locais, cotidianos e ordinários. Todas essas expressões, apesar da sua diversidade, cobrem o 
mesmo campo: o do conhecimento não científico.
A autora comenta sobre a dificuldade em nomeá-los e qualificá-los com segurança. Diz ela que o 
termo “conhecimento vernacular” apareceu no início de 1990 e vem ganhando terreno na Geografia. 
“O principal desafio é o reconhecimento do valor do conhecimento não-científico para a produção de 
conhecimento científico de qualidade. [...] “Há muito tempo, o termo ‘conhecer’ foi reservado para o que 
ocorreu nos escritórios e laboratórios dos ‘cientistas’ e ‘pesquisadores’” (COLLIGNON, 2010, tradução nossa).
Béatrice Collignon (2010, tradução nossa) afirma:
Para construir o conhecimento [...] deve basear-se em informações coletadas 
de pessoas consideradas bons conhecedores de seu território por causa 
de sua prática diária do mesmo. Mas isso tem que parar o interesse que 
pode lhes dar. A circulação do conhecimento entre as diferentes esferas 
(cientista, ordinário, perito etc.) também foi atualizado. O desenvolvimento 
de etnogeografia também mudou a visão sobre o conhecimento dos outros, 
mas, mantendo-os sob certo exotismo.
O conhecimento caracterizado por essa expressão é baseado em pesquisa sobre como as próprias 
pessoas pensam e compreendem os seus lugares, paisagens e territórios, e deveria ser obrigatório na 
construção de qualquer estudioso sobre a nossa “terra”. Tais saberes são de difícil sistematização, pois 
são pouco formalizados e não tendem à teorização, dificilmente transmissíveis de um indivíduo para 
outro ou para um membro externo ao grupo. Uma das dificuldades é que tal saber é erigido em larga 
medida sobre a experiência individual, embora contextualizada culturalmente (COLLIGNON, 2010).
Por fim, para o cientista que pretende construir um saber pertinente sobre o mundo, a autora 
acrescenta:
Ora, este mundo não existe sem os seus povos, atores de sua contínua 
transformação. As ações são baseadas em suas representações do mundo, 
representações que refletem seu conhecimento deste mundo. Portanto, 
é imperativo tê-lo em conta. Além disso, o estudo da particularidade de 
cada conhecimento vernacular abre um questionamento promissor sobre as 
razões culturais do conhecimento científico. Se ele difere significativamente 
do conhecimento vernacular, há, contudo, certa continuidade com as suas 
raízes na cultura ocidental. Finalmente, contextualidade e finalidade prática 
dos saberes vernaculares colocam-nos mais perto do real que não cessa de se 
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transformar, sendo forçado a reformular-se constantemente para se adaptar 
a essas mudanças. A velocidade com que podem fazê-lo é relacionada à sua 
estrutura rica e reativa ao invés de analítica, deixando-os sempre à frente 
de formulações acadêmicas. Capturam em um movimento global, de forma 
parcial e em parte intuitiva, o conhecimento, que o saber científico pode, 
então, formalizar e teorizar. Este último tem, pois, tudo a ganhar com um 
diálogo com os primeiros (COLLIGNON, 2010, tradução nossa).
 Saiba mais
Nosso esquecimento das razões ou trama de causas desencadeadoras 
das inovações é um dos maiores males que atinge o conhecimento 
moderno. Então, segue a título de exemplo desse esquecimento uma 
questão, aparentemente prosaica, entretanto, fundamental: a do mundo 
sem geladeira!
WEBER, C. Y. How spices and smoking food developed in hot and 
cold regions. [s.d.]. Disponível em: <http://geography.about.com/od/
culturalgeography/a/Fire-And-Ice-The-Geography-Of-Food-Preservation.
htm>. Acesso em: 1 fev. 2014.
A classificação de um grupo como “população tradicional” é bastante polêmica e suas implicações 
ultrapassam a teorização, envolvendo uma série de questionamentos relacionados às políticas territoriais, 
ambientais e tecnológicas:
[...] uma vez que os diversos organismos multilaterais que trabalham em 
torno deste assunto apresentam dificuldades e discordâncias na tentativa 
de indicar uma definição aceita universalmente”, posição que facilitaria 
“a proteção dos conhecimentos tradicionais difundidos pela tradição oral 
destas populações (PEREIRA; DIEGUES, 2010, p. 39).
No Brasil, o Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, refere-se ao termo ”populações tradicionais” 
como povos ou comunidades tradicionais, os quais são definidos pelo artigo 3 como:
I – Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e 
que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização 
social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição 
para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, 
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela 
tradição (BRASIL, 2007).
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 Observação
É preciso esclarecer que o tradicional tem coerência ambiental e 
territorial, isto é, própria ao acontecer local, enquanto convencional 
traduz pactos entre grupos sociais hegemônicos sobre formas de produzir.
Apesar da existência da definição legal para “populações tradicionais”,é preciso considerar que o 
termo é permeado por aspectos semânticos e está sujeito a modificações. Partindo desse pressuposto, 
procurar-se-á assinalar algumas de suas características, a fim de possibilitar uma melhor compreensão 
das questões inseridas no cenário que envolve as populações tradicionais e respectivos conhecimentos, 
entre as quais são evidenciadas a transmissão oral, a existência de uma ampla ligação com o território 
habitado, os sistemas de produção voltados para a subsistência e o caráter econômico pré-capitalista 
(PEREIRA; DIEGUES, 2010, p. 39).
As comunidades tradicionais utilizam recursos naturais in loco, pois estabelecem relação direta 
com os recursos ambientais criando territórios, “assim como a fiação nos mesmos esteve diretamente 
acoplada aos ecossistemas locais, devido ao desenvolvimento das atividades culturais e de subsistência 
dessas populações” (PEREIRA; DIEGUES, 2010, p. 39).
Diegues (2008, p. 63) afirma que:
Na concepção mítica das sociedades primitivas e tradicionais existe uma 
simbiose entre o homem e a natureza, tanto no campo das atividades 
do fazer, das técnicas e da produção, quanto no campo simbólico. Essa 
unidade é muito mais evidente nas sociedades indígenas brasileiras, 
por exemplo, onde o tempo para pescar, caçar e plantar é marcado por 
mitos ancestrais, pelo aparecimento de constelações estelares no céu, por 
proibições e interdições. Mas ela também aparece em culturas como a 
caiçara do litoral sul e ribeirinhos amazonenses, de forma menos clara 
talvez, mas nem por isso menos importante.
Nessa linha de reflexão, como já trouxemos ao texto ao nos referirmos à natureza impensável, “o 
manejo dos recursos está diretamente ligado com mitos, regras, valores e conhecimentos, que definem 
a maneira e período como tais recursos serão utilizados”, podendo ser considerados “elementos 
culturais regulatórios” ao determinarem as atitudes das pessoas diante do ambiente (PEREIRA; 
DIEGUES, 2010, p. 39).
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 Saiba mais
Para uma brilhante apresentação do ser humano e suas relações com a 
natureza constituindo o mundo, recomendamos o trabalho clássico de Eric Dardel:
DARDEL, E. O homem e a Terra: a natureza da realidade geográfica. São 
Paulo: Perspectiva, 2011.
Depois da apresentação de um pouco da evolução da agricultura e de algumas colocações sobre 
saberes vernaculares, passemos agora para uma lista dos personagens reais desses saberes, produto de 
pesquisa de Diegues (2000b).
Em seu livro, Diegues (2000b) apresenta um quadro detalhado sobre as populações tradicionais, 
tanto de indígenas quanto de não indígenas no Brasil, numa perspectiva histórica:
O Brasil, além de apresentar uma das maiores taxas de diversidade biológica 
do planeta, é um dos países de maior diversidade cultural. Existem no 
país mais de 500 áreas indígenas reconhecidas pelo Estado, habitadas 
por cerca de 200 sociedades indígenas culturalmente diferenciadas, as 
quais desenvolveram, ao longo dos séculos de sua existência, formas 
de adaptação a toda variedade dos ecossistemas presentes no território 
nacional (DIEGUES, 2000b, p. 26).
A participação das populações indígenas foi fundamental e as áreas que ocupam são as de cobertura 
florestal mais preservada, assumindo papel de obstáculo à devastação ambiental que vai se expandido. 
Diegues (2000b, p. 26) afirma que “isso se aplica também às situações de envolvimento de povos indígenas 
em processos de extração ambientalmente predatórios (madeira, minérios etc.)”, pois suas organizações 
sociais são calcadas em restrições ao uso desmedido de recursos naturais, assim como ao acúmulo 
privado, além desses povos terem desenvolvido aprofundado conhecimento e manejo territorial dos 
recursos nos ambientes que habitam.
Segundo Diegues (2000b, p. 26), a conquista dos territórios indígenas no Brasil Colônia capitaneada 
pelos portugueses a partir do século XVI moldou na população rural não indígena um padrão sociocultural 
de adaptação ao meio que, apesar de suas diferenças regionais e temporais, “apresenta características 
comuns que marcam ainda hoje as comunidades humanas em regiões isoladas do país”. Tal padrão 
de ocupação do espaço e de utilização dos recursos naturais é tributário do contato com as formas 
indígenas, pois já haviam domesticado muitas espécies dos ambientes totalmente desconhecidos do 
conquistador não europeu.
Portugueses e brasileiros, ao longo do empreendimento colonial, adotaram as técnicas adaptativas 
indígenas, aprendendo a manejar milho, mandioca, abóbora, feijões, amendoim, batata-doce, cará etc. 
Foram bastante influenciados pelo conhecimento indígena, tanto no que concerne ao cultivo quanto às 
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formas de trabalho e de sociabilidade. A organização econômica dá-se com base nas unidades familiares, 
como unidades de produção e consumo que se integram em relações mais amplas, como nos mutirões 
e empreitadas comuns, congregados pelo calendário religioso e articulando-se em estruturas flexíveis 
em função das necessidades mais prementes de adaptação, sobrevivência e expansão, constituindo os 
”bairros rurais”, embriões dos atuais distritos municipais mais importantes, que em sua maior parte 
são os mais intensamente urbanizados. Essa configuração em espaço agrário caracteriza-se por certa 
dispersão geográfica, mas não isolamento, pois “esses ‘sitiantes tradicionais’ sempre mantiveram certa 
relação de dependência com os pequenos núcleos urbanos, com os grandes proprietários rurais e as 
autoridades locais, expressa nas categorias de meeiros, parceiros, posseiros, pequenos proprietários e 
colonos” (DIEGUES, 2000b, p. 27), o que caracteriza sua posição na estrutura fundiária e social.
Adotaram os produtos de coleta compondo sua dieta com a extração do 
palmito e de inúmeras frutas nativas como o maracujá, pitanga, goiaba, 
bananas, caju, mamão e tantas outras. E, como complemento essencial, 
apoiaram-se na caça e pesca. Isso implicou a adoção de técnicas de plantio 
indígenas (roça consorciada, itinerante, com base na queimada, tipo 
“slash-and-burn”), de artefatos como as peneiras, os pilões, o ralo, o tipiti e 
outros implementos que fazem parte da cultura rústica brasileira. Implicou 
também a incorporação da extraordinária capacidade de ajustamento ao 
meio demonstrada pelos índios: conhecimento minucioso dos hábitos dos 
animais, técnicas precisas de captura e morte, incluindo inúmeros tipos de 
armadilhas. A base alimentar indígena foi ampliada e mesclada com espécies 
vegetais trazidas de fora, como o trigo, o arroz branco, legumes, bananas 
exóticas e outros, naturalizadas e incorporadas à dieta da população. A lista 
de elementos apropriados das culturas indígenas é enorme e não caberia 
aqui detalhá-la, mas apenas mencionar mais alguns itens como as técnicas 
de fabrico e uso de canoas, da jangada, de tapagem, redes e armadilhas de 
pesca, de cobertura de casas rurais com material vegetal, o uso da rede para 
dormir etc. (DIEGUES, 2000b, p. 27-28).
 Observação
Os interesses externos sempre prevaleceram na confirmação do nosso 
território colonial e imperial, desde a escolha dos sítios de exploração até 
mesmo seu abandono e refluxo de povoamento.
Diegues (2000b, p. 27-28) desenvolve esse raciocínio das imposições de modelos externos sobre as 
antigas colônias, tão fundamental à compreensão das localizações dos “grupos étnicos” e culturais:
Em linhas bastante gerais, a colonização portuguesa dedicou-se à exploração 
intensiva de certos produtos valiosos no mercado internacional, promovendo 
o adensamento populacional apenas nas regiões em que essa exploração era 
mais bem-sucedida.Dessa forma o centro nervoso da economia brasileira 
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migrou de região para região ao sabor da substituição de um produto por 
outro. Cada uma dessas regiões — o litoral no ciclo do pau-brasil, o Nordeste 
no ciclo da cana-de-açúcar, nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e 
Goiás no ciclo do ouro e pedras preciosas, os estados de Amazonas e Pará 
no ciclo da borracha etc.— concentrou em períodos diversos da história do 
Brasil núcleos populacionais e produção econômica de certa envergadura, 
baseados no trabalho escravo, e na monocultura ou extrativismo de um 
único produto.
A perda da importância econômica ou o esgotamento do recurso em exploração deslocava o eixo 
do povoamento deixando a região ao abandono, restando no mais das vezes núcleos populacionais 
relativamente isolados e dispersos subsistindo numa economia voltada para a autossuficiência, marcados 
por uma fisionomia e características predominantemente indígenas (DIEGUES, 2000b, p. 28).
Para Darcy Ribeiro (1977), esse modelo desdobra-se em grupos de cultura rústica ou criola, coexistindo 
tanto com as fazendas monocultoras quanto com as fazendas de criação de gado, constituindo a base 
da produção do abastecimento para essas empresas e os povoados e expandindo-se por todo o Brasil à 
medida que encontrava terras devolutas para reproduzir seu modo de vida. O autor aponta os traços dos 
grupos que identifica e os regionaliza:
[...] classifica as variantes desse modelo de povoamento rural de cultura 
criola — desenvolvida na faixa de massapé do Nordeste, sob a égide do 
engenho açucareiro; cultura caipira — constituída pelo cruzamento do 
português com o indígena e que produziu o mameluco paulista, caçador de 
índios e depois “sitiante tradicional” das áreas de mineração e de expansão 
do café e que se apresenta no litoral sob o nome de cultura caiçara; cultura 
sertaneja — difundida pelo sertão nordestino até o cerrado do Brasil central 
pela criação de gado; cultura cabocla — das populações amazônicas, afetas 
à indústria extrativa; e cultura gaúcha — de pastoreio nas campinas do sul 
(RIBEIRO, 1977).
Esses grupos vêm sendo marginalizados, no Brasil, geográfica (habitando periferias) e historicamente 
(por desdobramentos regionais do mesmo processo de valorização periódica desigual), adotando o que 
Darcy Ribeiro (1977) chama de “cultura criola” e Diegues (2000b), “modelo da cultura rústica”.
A tônica recente na questão ambiental motiva certo “olhar pedagógico” sobre os métodos de 
produção “tradicionais”, por nós denominados originais. Diegues (2000b, p. 29) faz importante 
observação: “ao deslocar o eixo de análise do critério da produtividade para o do manejo sustentado dos 
recursos naturais, evidenciou a positividade relativa dos modelos indígenas de exploração dos recursos 
naturais e desse modelo da cultura rústica [...]”.
O que há de mais importante nos saberes das populações “tradicionais”, como seringueiros, 
castanheiros, ribeirinhos, quilombolas e sociedades indígenas, é a elaboração de “extenso e detalhado 
conhecimento dos processos naturais e, até hoje, as únicas práticas de manejo adaptadas às florestas” 
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(DIEGUES, 2000b, p. 29), contribuindo para a boa utilização da biodiversidade pelos migrantes 
estrangeiros, sobretudo, no domínio da agricultura e da silvicultura.
As populações tradicionais não indígenas são trazidas aqui a partir de conciliação do conceito de 
“áreas culturais”, com base na qual alguns autores buscaram ordenar essas populações com um enfoque 
mais operacional, utilizando também as denominações que constam dos trabalhos analisados.
Destacamos, conforme trabalho de Diegues (2000b), as seguintes populações tradicionais não 
indígenas: caiçaras, caipiras, babaçueiros, jangadeiros, pantaneiros, pastoreio, praieiros, quilombolas, 
caboclos/ribeirinhos amazônicos, ribeirinhos não amazônicos, varjeiros, sitiantes, pescadores, açorianos 
e sertanejos/vaqueiros.
A fim de esclarecer o contexto cultural e o modo de vida em que se produz o conhecimento tradicional 
dessas populações, apresentamos uma descrição sucinta de cada uma delas.
Caiçara
Diegues (2000b, p. 41) faz uma revisão bibliográfica sobre o universo das populações caiçaras e 
define a categoria de vida e trabalho da seguinte maneira:
Entende-se por caiçaras aquelas comunidades formadas pela mescla da 
contribuição étnico-cultural dos indígenas, dos colonizadores portugueses 
e, em menor grau, dos escravos africanos. Os caiçaras apresentam uma 
forma de vida baseada em atividades de agricultura itinerante, da pequena 
pesca, do extrativismo vegetal e do artesanato. Essa cultura se desenvolveu 
principalmente nas áreas costeiras dos atuais estados do Rio de Janeiro, São 
Paulo, Paraná e norte de Santa Catarina. Alguns autores consideram que 
as comunidades caiçaras se formaram nos interstícios dos grandes ciclos 
econômicos do período colonial, fortalecendo–se quando essas atividades 
voltadas para a exportação entraram em declínio. A decadência destas, 
principalmente as agrícolas, incentivou as atividades de pesca e coleta 
em ambientes aquáticos, sobretudo os de água salobra como estuários e 
lagunas. No interior desse espaço caiçara, surgiram cidades como Parati, 
Santos, São Vicente, Iguape, Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião, Antonina, 
Paranaguá que, em vários momentos da história colonial, funcionaram 
como importantes centros exportadores. As comunidades caiçaras sempre 
mantiveram com essas cidades, em maior ou menor intensidade, contatos 
e intercâmbio econômicos e sociais, também dependendo delas para o 
aprovisionamento de bens não produzidos nos sítios e nas praias. Esse 
contato se manteve por via terrestre (caminhos), fluvial e marítima, 
tendo-se destacado, do século passado até as primeiras décadas do século 
XX, as chamadas “canoas de voga”, onde se transportavam produtos 
agrícolas, peixe seco, aguardente etc.
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Jangadeiros
As atividades de pesca dos jangadeiros são baseadas na “jangada” como instrumento de trabalho, 
uma embarcação que utiliza vela e leme para a pesca em alto mar e que, embora tenha sido usada 
também por indígenas, foi fruto de várias adaptações introduzidas pelos europeus e pelos africanos.
Os jangadeiros são essencialmente pescadores marítimos que habitam a 
faixa costeira situada entre o Ceará e o sul da Bahia; pescando com jangadas. 
Para efeito deste relatório, apesar dessa área geográfico-cultural, chamada 
por Maynard de “janganda” em oposição à área litorânea sulina, chamada 
por ele de “ubá” (canoa de um tronco só), muitos dos trabalhos coletados e 
analisados referem-se à pesca com canoas, nos estuários dessa região, ou 
com botes, que muitas vezes sucederam as jangadas, sobretudo a partir dos 
anos 50, no Nordeste. No entanto, esses trabalhos foram incorporados à 
área de jangadeiros (DIEGUES, 2000b, p. 46-47).
Caboclos/ribeirinhos amazônicos
As populações tradicionais não indígenas da Amazônia caracterizam-se sobretudo pelas suas 
atividades extrativistas, de origem aquática ou florestal terrestre. Os caboclos/ribeirinhos, seringueiros e 
castanheiros são populações tradicionais extrativistas; ribeirinhos vivem nas várzeas e beiras dos rios em 
que pescam e, enquanto muitos dos seringueiros e castanheiros vivem à beira de rios, igapós e igarapés, 
outros vivem em terra firme, dependendo menos das atividades pesqueiras.
Os caboclos/ribeirinhos vivem, principalmente, à beira de igarapés, igapós, 
lagos e várzeas. Quando as chuvas

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