Buscar

ADORNO, T Educação após Auschwitz

Prévia do material em texto

ADORNO, T. (1965-1966). Educação após Auschwitz. In: Educação e Emancipação. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra. 1995, p. 119-154. 
 
A preocupação principal para Theodor Adorno no que se refere a educação emancipatória é 
uma educação que efetivamente promova uma conscientização nos homens contra o horror, a barbárie 
e a violência. O objeto dele em estudo é o holocausto judeu, cristalizado em Auschwitz, para isso ele 
propõe uma metodologia a partir da área da psicologia dos homens para entender quais são os 
mecanismos psicossociais que permitiram a concretização do genocídio judeu pelos nazistas. E mais 
especificamente, o que torna um homem um genocida. Segundo ele, a barbárie, a qual toda educação 
se opõe, “subsistirá enquanto as condições que produziram aquela recaída substancialmente 
perdurarem” (ADORNO, 1995). 
 Nesse sentido, ele argumenta que as condições estruturais da sociedade e as características 
que permitiram o genocídio e a perseguição de milhares ainda perduram contemporaneamente. 
Apesar disso, ele reconhece a dificuldade de atuar na transformação dos pressupostos sociais e 
políticos, defendendo, grosso modo, uma ação voltada para o lado subjetivo. Através do entendimento 
dos mecanismos que tornam os homens capazes desses atos e a promoção de uma conscientização 
geral desses mecanismos, deve-se evitar o retorno à barbárie. 
 Essa conscientização geral está diretamente ligada a educação, principalmente no âmbito da 
formação de subjetividades na primeira infância, onde essas características gerais, voltadas a 
violência costumam aparecer. E mais além, ele defende um “o esclarecimento geral, criando um clima 
espiritual, cultural e social que não dê margem a uma repetição; um clima, portanto, em que os 
motivos que levaram ao horror se tornem conscientes” (ADORNO, 1995). 
 O combate às condições subjetivas se refere sobretudo ao esclarecimento delas num primeiro 
momento, ou seja, das bases psicossociais que permitiram àqueles sujeitos o cometimento de tamanha 
atrocidade, para combatê-las antes de tudo no contexto individual. Por isso a importância da educação 
neste processo, por sua capacidade de emancipação através da reflexão crítica. 
 Tratando-se delas especificamente, Adorno aponta para o problema da autonomia, para o que 
ele define como um despreparo psicológico daqueles homens para a autodeterminação, o que facilitou 
uma aceitação das normas vigentes exteriores de forma acrítica, como nos mostra os contra-
argumentos nazistas no Tribunal de Nuremberg, coisas como: “fiz porque recebi ordens” e etc. 
Adorno argumenta que este tipo de comportamento é resultado da heteronomia, ou seja, uma 
dependência de normas e preceitos que é externa ao indivíduo e que fogem de sua racionalidade. O 
autor defende que só “a autonomia ou a força para a reflexão, para a autodeterminação, para a não-
participação” é a “verdadeira força contra o princípio de Auschwitz” (ADORNO, 1995). 
 Outro ponto que se relaciona diretamente com o problema anterior é a identificação cega com 
o coletivo. Segundo Adorno, a medida mais importante contra o perigo de uma repetição do genocídio, 
é “contrapor-se a qualquer supremacia coletiva cega e aumentar a resistência contra, focalizando o 
problema da coletivização.” (ADORNO, 1995) Para ele, pessoas que se enquadram cegamente em 
coletividades omitem-se como seres autodeterminados e se transformam em algo análogo a matéria 
bruta combinado com a capacidade de tratar os demais como massa amorfa, portanto também sem 
autonomia. Adorno denominou, num outro estudo, os indivíduos que se comportam dessa maneira 
como possuidores de caráter manipulativo. O autor sustenta que esta característica “distingue-se, […] 
pela incapacidade de vivenciar experiências humanas em geral”, pela falta de emotividade desses 
sujeitos e pelo realismo exagerado. Adorno dá nome a esta realidade de “consciente coisificado”, 
pelas pessoas que carregam consigo esta característica se equipararem as coisas e de modo análogo, 
equiparar também as outras pessoas às coisas. Adorno explica este conceito da seguinte forme: “Trata-
se porém de um consciente que rejeita tudo que é consequência, todo o conhecimento do próprio 
condicionamento, e aceita incondicionalmente o que está dado.” Percebemos com este conceito e com 
a problemática da identificação cega com o coletivo que a raiz do problema se encontra, sobretudo, 
no problema da autonomia e na dicotomia entre autodeterminação e autoritarismo. 
 Um fator importante a que ele também dá destaque e que se relaciona diretamente com 
algumas permanências autoritárias no ensino escolar tradicional, se trata da educação para a disciplina 
através da dureza, que tanto para ele, quanto para muitos educadores progressistas, é uma concepção 
eminentemente errada. Segundo Adorno, esse tipo de educação tende a gerar no indivíduo uma 
banalização e indiferença à dor. Utilizo então as palavras do autor para explicitar melhor esta questão: 
“Aquele que é duro contra si mesmo adquire o direito de sê-lo contra os demais e se vinga da dor que 
não teve a liberdade de demonstrar, que precisou reprimir. Esse mecanismo deve ser conscientizado, 
da mesma forma como deve ser fomentada uma educação que não mais premie a dor e a capacidade 
de suportá-la” (ADORNO, 1995).

Continue navegando