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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO- METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL II Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues Chiappetta Professora Esp. Daniela Sikorski Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SIKORSKI, Daniela; CHIAPPETTA, Juliana Cristina Teixeira Domingues; BERNARDO, Rafaela Cristina. Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social II. Daniela Sikorski; Juliana Cristina Teixeira Domingues Chiappetta; Rafaela Cristina Bernardo. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2015. Reimpresso em 2020. 197 p. “Graduação - EaD”. 1. Históricos. 2. Teórico. 3. Serviço Social. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0079-5 CDD - 22 ed. 360 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Maria Cristina Araujo de Brito Cunha Design Educacional Paulo Victor Souza e Silva Iconografia Isabela Soares Silva Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Robson Yuiti Saito Qualidade Textual Hellyery Agda Ana Carolina de Abreu Jaquelina Kutsunugi Ilustração André Luís Onishi Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Professora Esp. Daniela Sikorski Graduada em Bacharelado em Serviço Social, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Especialista em Política Social e Gestão de Serviços Sociais, pela Universidade Estadual de Londrina, experiência profissional na área de Serviço Social na Educação, Terceiro Setor, Responsabilidade Social e Gestão na Área da Saúde. Contato: daniela.sikorski@unicesumar.edu.br. Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues Chiappetta Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina (2000), especialista em Política Social e gestão de Serviços Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (2003), mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (2009), Doutoranda em Scienze Politiche e Sociali - Programma di Geopolitica pela Università di Pisa - Italia (2012-2014). Atualmente é professora assistente B da Universidade Estadual do Paraná. Tem experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Políticas Públicas e Sociais, atuando principalmente nos seguintes temas: assistência social, políticas públicas, desigualdade social e mundo do trabalho. Professora Esp. Rafaela Cristina Bernardo Graduada em Serviço Social pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (2010). Especialização em Gestão e Planejamento de Projetos Sociais pelo Centro Universitário Maringá (2013) e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2014). A U TO R A S SEJA BEM-VINDO(A)! Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)! É um grande prazer poder trabalhar com você esta disciplina tão relevante para sua formação profissional. Este material foi construído com a finalidade de apresentar, por meio de uma linguagem clara e de fácil compreensão, os temas relacionados aos Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social II, caracterizados entre o período de 1980 até os dias atuais. O objetivo da disciplina Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social II é apresentar as mutações ocorridas no mundo econômico a partir de 1980 nos contextos: mundial, latino-americano e brasileiro. Por conseguinte, seus reflexos na pro- fissão de Serviço Social. Isto porque, as transformações ocorridas no cenário econômi- co após o fim do Sistema Socialista, configurado através da queda do muro de Berlim em 1989, caracterizaram a migração definitiva do modelo de economia nacional para aquele de mercado. Tal transformação econômica ainda hoje influencia os projetos so- cietários tanto do capital como da classetrabalhadora. E, consequentemente, é respon- sável pelo agravamento dos problemas relacionados à luta de classes e à Questão Social. Sendo esta de suma importância para a construção do projeto ético-político do Serviço Social na contemporaneidade. Sendo assim, a unidade I verificará o surgimento e o enfraquecimento do Modelo de Produção Socialista e seus reflexos para os contextos mundial, latino-americano e brasi- leiro, bem como suas implicações para o Serviço Social. A unidade II, na mesma perspectiva histórica, verificará a constituição do processo ne- oliberal e de internacionalização do capital, bem como seus reflexos na questão Social. Vamos observar que as atuais manifestações sociais estão interligadas com o falimento do modelo estatal de bem-estar social, mediante a ofensiva neoliberal de desmantela- mento do Estado e de políticas públicas. Tal reflexão é necessária para aprofundarmos o entendimento dos rumos que a profissão de Serviço Social deve afrontar no futuro próximo, reforçando o papel de garantidor de acessibilidade de direitos. Na unidade III iremos discutir como os anos 1990 foram importantes para o fortaleci- mento da matriz teórico-metodológica marxista, ao mesmo tempo que concorrerão perspectivas teórico-metodológicas relacionadas à crise sociocultural capitalista como o pensamento pós-moderno. Na unidade IV iremos compreender por que o projeto profissional do Serviço Social é um projeto ético político, e por que o embate entre projetos societários antagônicos exige a compreensão da profissão a fim de construir as competências profissionais para alcançar uma nova ordem social sem exploração de classe, livre e emancipada. Na unidade V discutiremos os desafios da contemporaneidade para o alcance do proje- to ético político do Assistente Social e da intervenção destesprofissionais frente às de- mandas emergentes da realidade brasileira. Esperamos que este livro possibilite que você, futuro(a) assistente social, compreenda o desenvolvimento da profissão, seus avanços e retrocessos, que tenha clareza que diante APRESENTAÇÃO FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO- METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL II das contradições da sociedade capitalista é preciso que a profissão anule perspecti- vas profissionais tradicionais, conservadoras e pontuais, e desenvolva suas compe- tências de maneira crítica, ética e transformadora. Prezado(a) aluno(a), é de extrema importância que você faça a leitura do material previamente e resolva todas as questões propostas no final de cada unidade, pois isso contribuirá amplamente para seu processo de aprendizagem, no qual estare- mos prontamente disponíveis para atendê-lo(a). Deixamos aqui nossos sinceros agradecimentos por poder compartilhar nossos co- nhecimentos e contribuir para o processo de sua formação profissional. Desejamos um ótimo estudo e sucesso a você! Um grande abraço! Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues Chiappetta Professora Daniele Sikorski Professora Rafaela Cristina Bernardo APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, LATINO-AMERICANO E BRASILEIRO COM O FIM DO SOCIALISMO 15 Introdução 16 O Surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu 26 O Modelo de Produção Socialista Europeu e a Guerra Fria 29 A Queda do Modelo de Produção Socialista Europeu 30 Os Reflexos do Fim do Modelo de Produção Socialista Europeu para a América Latina e o Brasil 34 Considerações Finais UNIDADE II O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO E O AGRAVAMENTO DA QUESTÃO SOCIAL 41 Introdução 42 O Surgimento do Neoliberalismo 47 A Transição da Economia Nacional para a Economia de Mercado 51 O Conceito de Questão Social 55 O Agravamento da Questão Social 69 Considerações Finais SUMÁRIO UNIDADE III A CONSTRUÇÃO DO PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL 77 Introdução 78 Breves Considerações Acerca das Tendências Históricas e Téorico-Metodológicas do Debate Profissional 85 O Serviço Social nos Anos 80: As Tendências Históricas e Teórico-Metodológicas do Debate Profissional 91 O Serviço Social nos Anos 90: As Tendências Históricas e Teórico-Metodológicas do Debate Profissional 98 Considerações Finais UNIDADE IV OS PROJETOS SOCIETÁRIOS, OS PROJETOS PROFISSIONAIS E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 109 Introdução 110 Os Projetos Societários da Classe Trabalhadora e os Projetos Societários do Capital 116 Projetos Profissionais e Projeto Ético-Político 118 O Desenvolvimento dos Projetos Profissionais no Marco do Movimento de Reconceituação 125 Projeto Ético-Político do Serviço Social 134 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE V O MOVIMENTO SÓCIO-HISTÓRICO E AS DEMANDAS TRADICIONAIS E EMERGENTES NA SOCIEDADE BRASILEIRA COLOCADAS À PROFISSÃO 143 Introdução 144 O Serviço Social na Contemporaneidade 158 Demandas Tradicionais e Emergentes na Sociedade Brasileira Colocadas à Profissão e Sua Relação com a Questão Social 176 Considerações Finais 187 CONCLUSÃO 189 REFERÊNCIAS U N ID A D E I Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, LATINO-AMERICANO E BRASILEIRO COM O FIM DO SOCIALISMO Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar como ocorreu o processo de surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu. ■ Apresentar como ocorreu a queda do Modelo de Produção Socialista Europeu. ■ Apresentar os reflexos do fim do Modelo de Produção Socialista Europeu para a América Latina e o Brasil. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu ■ O Modelo de Produção Socialista Europeu e a Guerra Fria ■ A queda do Modelo de Produção Socialista Europeu ■ Os reflexos do fim do Modelo de Produção Socialista Europeu para a América Latina e o Brasil INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a), daremos início à primeira unidade da disciplina de Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social II. Salientamos inicialmente que foi um enorme prazer escrever esta unidade para você! Esperamos que estas discussões deem continuidade ao conhecimento cons- truído com a disciplina de fundamentos I. A unidade I se dedicará a analisar a influência da Primeira e Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e queda do Muro de Berlim. Este mergulho no tempo é necessário para a compreensão da atual economia mundial e sua configura- ção para a complexificação dos problemas sociais contemporâneos, isto porque estas guerras representaram o que houve de mais contundente no plano político e ideológico das relações sociais capitalistas que promovem embates, conflitos e resistências. Também veremos como se configurou o modelo de produção socialista euro- peu, que fatores influenciaram a sua queda e quais os impactos desse processo no avanço das relações sociais de produção capitalista no mundo com a incor- poração da reestruturação produtiva e do pacote de programas neoliberais como mecanismos de retomada do crescimento da taxa de lucros e de acumulação. E, por fim, serão apresentados os reflexos deste acontecimento para a América Latina e o Brasil. Pretendemos despertar em você através desta leitura alguns questionamen- tos e curiosidades, principalmente no sentido de relacionar os acontecimentos políticos e ideológicos que movimentaram o mundo no século XX e que represen- taram mudanças no plano político, econômico e social dos países que envolveram as alianças capitalistas e socialistas. Estas discussões são de suma importância para discutir os rumos do Serviço Social diante deste movimento global, pois, a profissão não se desenvolve de maneira endógena, muito pelo contrário, a sua imagem e posicionamento ético, político, teórico-metodológico e técnico operativo materializam os interesses societários em disputa. 15 Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al eL ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Esperamos que esta leitura seja o primeiro passo de investigação e pesquisa sobre o tema, pois as discussões não se esgotam com esta unidade, assim faça a leitura dos materiais complementares e de outras fontes de conhecimento, pes- quise o referencial bibliográfico sugerido e aproveite ao máximo a disciplina. Esperamos que faça grandes descobertas! O SURGIMENTO DO MODELO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA EUROPEU Para compreendermos a importância dos desdobramentos que a queda do Modelo de Produção Socialista Europeu causou na economia mundial e, consequen- temente, a profissão de Serviço Social, devemos inicialmente compreender a configuração histórica de tal evento. Dessa forma, é de suma importância conhecer antes de qualquer análise em relação à eliminação desse Modelo de Produção, o contexto histórico de seu surgimento e desenvolvimento, para somente depois entender os motivos que levaram a sua superação. O modelo de Produção Socialista, ou Socialismo, como comumente é conhecido, teve início nos primeiros anos do século XX no continente Europeu, especificamente na Rússia. Esse evento ocorreu devido à crise econômica e política agravada após a Primeira Guerra Mundial e pelo autoritarismo do governo czariano de Nicolau II. Esses fatores contribuíram para o agravamento da desigualdade social e eco- nômica entre a nobreza e o campesinato agrário russo, tornando esse quadro insustentável pelas classes populares. Graças aos posicionamentos políticos do Czar, a Rússia do início do século XX tinha se tornado a mais atrasada das nações europeias, sua economia baseava-se no setor agrário, mantendo-se sob o domínio industrial e tecnológico de países como Inglaterra e Alemanha. Para Gorodetzky (1947, s/p): 17 O Surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Para a Rússia da segunda metade do século XIX e princípios do século XX, a tarefa de vital importância era a supressão da servidão feudal no campo e do atraso medieval na economia e na política do país. Nisto estava interessada a esmagadora maioria do povo, quase toda a nação com exceção de um pequeno círculo de latifundiários. Esta era, justa- mente, a tarefa necessária para os interesses da nação inteira. E como a servidão e o medievalismo manifestavam-se, sobretudo, nas relações da terra, a solução do problema agrário adquiria uma importância ra- dical de primeira grandeza. Tal situação favoreceu o fortalecimento de lideranças políticas que desde 1915 vinham se manifestando contra a monarquia. Entre essas lideranças, destacava- -se o posicionamento do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), embasado sob duas alas distintas: os mencheviques e bolcheviques. ■ Os mencheviques (do russo menshe, que significava “minoria”): liderados por Georgy Plekanov e Yuly Martov, mantinham uma visão ortodoxa do marxismo pautada na social democracia. Defendiam a ideia que a lide- rança da nova república (com o fim da monarquia czariana) deveria estar nas mãos da burguesia russa, a qual seria responsável pela ampliação das forças produtivas com o intuito de uma revolução socialista acontecer décadas mais tarde. ■ Os bolcheviques (do russo bolshe, que significava “maioria”): sob a lide- rança de Vladimir Lênin, defendiam a ideia que o governo deveria ser diretamente controlado pelos trabalhadores, sendo a revolução proletária a responsável direta pelas transformações que modernizariam a economia russa e dariam fim aos contrastes sociais que marcavam o país. Nesse contexto conflituoso, Nicolau II propõe uma aliança, prometendo: reformas, eleições para o parlamento e o estabelecimento de um governo constitucional. Tais propostas foram imediatamente aceitas pela ala menchevique, todavia, os bolcheviques exigiam o fim da monarquia e um governo liderado pela classe tra- balhadora. De acordo com Gorodetzky (1947, s/p): Na Rússia existia somente um partido político capaz de levantar as massas e levá-las à ofensiva contra o capitalismo. Quando alguns de- mocratas no Ocidente estranham de que o povo soviético reconheça um só partido — o Partido Bolchevique — podemos dizer-lhes, no melhor dos casos, que eles não conhecem a história da revolução, a história do país. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Como resposta por parte da monarquia Russa, verificou-se uma severa repressão contra os focos revolucionários, contudo, as ações de coerção do governo não foram suficientes para impedir as manifestações por parte do proletariado russo, culminando na derrubada do império (conhecida como Revolução Burguesa), em fevereiro de 1917, e na instituição do Governo Provisório. Nas palavras de Gorodetzky (1947, s/p): Em fevereiro de 1917, o tzarismo foi derrotado. Triunfou a revolução burguesa-democrática; porém depois disto o poder estatal na Rússia caiu, como se sabe, nas mãos dos representantes da burguesia e dos latifundiários aburguesados. A revolução de fevereiro não mudou qua- se em nada o regime social da Rússia. O estado de servidão não foi destruído. A burguesia, chegando ao poder, conservou inteiramente a essência da política interior e exterior do tzarismo. Isso porque a formação desse novo governo não contava com representantes da ala bolchevique. Como esperado, o Governo Provisório não foi capaz de resol- ver os problemas sociais. Em 25 de outubro de 1917, liderados por Lênin, os bolcheviques tomam o poder em Petrogrado, hoje San Petersburgo. Tal mani- festação ficou conhecida historicamente como Revolução de Outubro, ou mais comumente como Revolução Russa. A importância da Revolução Russa no contexto histórico mundial se caracte- riza por ser, depois da Revolução Francesa, a mais expressiva manifestação de mudança das normas e das relações sociais de uma determinada sociedade. Nas palavras de Barros (1998, p. 19): O que é a Revolução? Pense se as mudanças radicais nas relações sociais capitalistas só podem acontecer por meio da força revolucionária. Fonte: a autora. 19 O Surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . A exemplo da Revolução Francesa, a de outubro de 1917 é um dos pou- cos acontecimentos históricos que fazem jus integralmente ao título de revolução, entendida como a completa transformação das normas e relações sociais vigentes. Como sua antecessora francesa, a Revolução Russa parece haver quebrado uma linha de continuidade de padrões de comportamento e de organização social inaugurando novo período histórico, moldado, em grande medida, sob sua inspiração. Da mesma maneira que a Revolução Francesa condicionaria, como nenhum outro evento singular, o desenvolvimento posterior do quadro social, polí- tico e ideológico do século XIX, a Revolução de Outubro iria marcar de modo profundo a evolução das sociedades nacionais e das relações internacionais em nosso século. Isso porque, como salienta Gorodetzky (1947, s/p), citando Stalin: (...) a vitória da Revolução de Outubro significa uma mudança radi- cal na história da humanidade, nos destinos históricos do capitalismo mundial, no movimento libertador do proletariado mundial, nos mé- todos de luta e formas de organização, no estado e tradições, na cultura e ideologia das massas exploradas de todo o mundo. A Revolução de Outubro de 1917 na Rússia foi uma revolução socia- lista. O caráter socialista da Revolução de Outubro demonstrou-se, so- bretudo, no fato de que a classe operária — a mais revolucionáriaentre todas as classes oprimidas existentes até estes tempos — tomou o poder e iniciou a construção socialista da sociedade. Neste contexto é criada a República Socialista Federativa Soviética Russa que mediante seu exército (conhecido como Exército Vermelho) desencadeia uma verdadeira Guerra Civil. Por meio da invasão das tropas russas em diversos territórios do antigo Império Czariano, os partidos comunistas locais che- gam ao poder, culminando na criação, em 1922, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), caracterizada pela unificação da Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Transcaucásia e as Repúblicas da Ásia Central. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Após a Guerra Civil, a economia da URSS estava praticamente destruída. Dessa forma, por uma iniciativa governamental, inicia-se a construção de um articulado mecanismo econômico, baseado nas teorias de Nikolai Kondratiev, por intermédio de uma planificação diretiva e centralizada como forma de ges- tão e funcionamento da economia socialista (MIKHAILOVA, 2012, p. 3). A primeira forma de planificação econômica da então recém-criada URSS se deu pelo Plano Estatal da Eletrificação Russa – GOELRO. O GOELRO tinha o objetivo de garantir o fornecimento de energia elétrica e o crescimento do setor energético nacional. A partir da experiência do GOELRO, é lançado, em 1921, o Órgão Estatal de Planificação GOSPLAN, presente na estrutura governamen- tal até o fim do regime socialista (MIKHAILOVA, 2012). Para superar a crise pós Guerra Civil, o governo soviético decide retornar por tempo determinado e de forma parcial a economia de mercado, permitindo atividades privadas em setores secundários da economia. Tal posicionamento político ficou conhecido como Nova Política Econômica ou NEP, idealizada por Kondratiev, que defendia como alternativa pensar uma economia mista, ou seja, com elementos da economia de mercado juntamente com a planificação centralizada. Nas palavras de Mikhailova (2012, p. 3): No entanto, já em 1921, para retirar a economia do caos pós-revolucio- nário e o da guerra civil, necessitaram-se medidas urgentes. Decidiu-se voltar temporariamente e parcialmente aos mecanismos da economia de mercado, permitindo a atividade de empresas privadas em setores secundários e liberalizando o setor do comércio, entre outras medidas. Esta política ficou conhecida como NEP (Nova Política Econômica). O teórico e ideólogo principal da NEP foi Kondratiev. Ele e seus pro- ponentes defenderam a ideia da economia mista, ou seja, de que ins- trumentos da planificação centralizada e os de mercado poderiam ser utilizados juntos na economia. A política da NEP permitiu reanimar a economia em poucos anos. Conforme algumas estimativas, no período da NEP, a economia cresceu em média 18% por ano. Assim, caro(a) aluno(a), por meio da Revolução Russa, Guerra Civil e a cria- ção da URSS. surge pela primeira vez, em cinco séculos de história econômica capitalista, outra alternativa de mercado, o SOCIALISMO. O que essa alterna- tiva provocou? 21 O Surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O novo governo Russo, administrado por políticos oriundos das classes populares, dissolve o conceito de propriedade privada, expropriando da nobreza, capitalistas e latifundiários russos: fábricas, terras, bancos etc., transformando esses bens em propriedade estatal. Tal transformação social de bens significou a transferência da riqueza nacional para as mãos da população da URSS de forma igualitária. Nas palavras de Gorodetzky (1947, s/p): De um só golpe a Revolução Socialista de Outubro terminou com a situação semi-colonial do país e criou condições para o grande desen- volvimento e crescimento da independente e grande Rússia Soviética: a expropriação dos latifundiários e capitalistas, a supressão da proprie- dade privada da terra, das fábricas e usinas e sua transferência para a propriedade comum de todo o povo, a nacionalização dos bancos e a instituição do monopólio do comércio exterior. Todas estas conquistas da revolução socialista eram uma base sólida para a criação da inde- pendência técnico-econômica do Estado soviético. É importante compreender que embora a Revolução Russa tenha alcançado seu objetivo, Lênin, mesmo através de toda luta armada, ideológica e política, não foi capaz de eliminar dentro do POSDR o pensamento Social-Democrata. Assim, após a sua morte, em meados de 1920, reinicia uma disputa interna dentro do partido entre Leon Trostky, seguidor da linha revolucionária Marxista e do ideal de vida de Lênin, e Josef Stalin, inimigo histórico do Lenismo. Lênin idealizava uma sociedade mundialmente socialista. Acreditava que tal ideal somente era possível por intermédio da luta armada ou revolução. Fonte: a autora. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Como apresentam Munchen e Koln (2004, s/p): Em aberta oposição às posições defendidas por Stalin e Kamenev, Lenin destacou a importância da dialética no domínio da formulação da tática revolucionária, demonstrando a mais plena inatualidade da velha fórmula bolchevique de luta por uma Ditadura Democrática Revolucionária do Proletariado e do Campesinato, em face do novo contexto histórico. Desse modo, conseguiu derrotar a concepção estratégica colaboracio- nista de Stalin e Kamenev de composição de uma comissão mista, vi- sando ao fomento da unidade de todos os sociais-democratas, incluin- do os defensores da pátria burguesa reacionária na guerra imperialista. Apesar dos esforços de Trostky em continuar a linha de pensamento de Lênin dentro do Partido Comunista, Stalin, que no momento era secretário geral, con- segue eliminar a oposição e assume o comando da URSS, dando início a uma nova fase para o modelo de Economia Planificada por meio do I Plano Quinquenal (1928 a 1932). Surge assim, dentro do par- tido, duas correntes que discutiam o futuro econômico da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. ■ De um lado, se mantinha o pensamento de Kontratiev, no qual se defendia a ideia que a economia deveria se basear na análise de mercados e na conjuntura real da economia em âmbito mundial, ou seja, que a planificação econômica deveria ser pen- sada mediante a análise dos aspectos teóricos e científicos da economia mundial em detrimento de posicionamentos ideológicos e políticos. Os defensores dessa linha eram chamados de “genéticos”. ■ Já a segunda corrente defendia que o fator determinante do sucesso eco- nômico estava na formulação de objetivos concretos e na elaboração das metas, ou seja, fundamentada em quesitos ideo-políticos sem sus- tentação científica. Essa corrente era chamada “teleológica”. Segundo 23 O Surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Mikhailova (2012, p. 4): No decorrer da elaboração do I Plano Quinquenal, houve grande discussão entre duas correntes contraditórias na economia socialista emergente. Defensores da primeira corrente, a qual Kontratiev também pertenceu, chamaram-se “genéticos”. Eles pensavam que diretrizes dos planos devem basear na análise das tendências existentes na economia, levar em conta disponibilidade de recursos e conjuntura real econômi- ca. A esta corrente pertenceram, em geral, especialistas da elite profis- sional e intelectual da Rússia tzarista, os quais não eram, na maioria, membros do Partido Comunista. [...] A segunda corrente defendeu a abordagem teleológica, e seus proponentes chamaram-se “teleólogos”. Eles consideravam a formulaçãode objetivos e a elaboração das me- tas de desenvolvimento como a etapa mais importante da planificação. Para o cumprimento das metas, devem ser buscados recursos neces- sários, alterada conjuntura econômica e formadas novas tendências. Sendo assim, o plano basear-se-ia mais nas diretrizes centrais do que nas previsões científicas. Os proponentes da segunda corrente foram, na maioria, membros do Partido Comunista e aqueles economistas que prefeririam seguir pela linha geral do Partido. O que seria essa Economia Planificada? Neste contexto, e, sinteticamente resu- mida, pode-se dizer que a Economia Planificada se caracterizava na exigência que a produção de todos os setores da economia estivessem rigorosamente pla- nejados, mediante os Planos Quinquenais. Tal modelo possibilitou uma rápida industrialização e coletivização da produção, bem como garantiu ao socialismo um papel crucial como força econômica após a Segunda Guerra Mundial. No interior desse modelo bem-sucedido se escondia outra realidade. Stalin governava a URSS com mãos de ferro, sendo um verdadeiro ditador. Não economizava esforços para manter o poder. A coletivização da produção era mantida de forma forçada, com jornadas de trabalho de 10 a 16 horas diá- rias, sendo que era condenada à morte, por traição, qualquer pessoa que se recusasse a trabalhar, ou fosse contrária ao regime. Fonte: a autora. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Ainda em Mikhailova (2012, p. 4): No início do período do I Plano Quinquenal, a política da NEP foi revogada como contraditória às ideias socialistas. Os proponentes da NEP e defensores da corrente “genética” foram reprimidos. O próprio Kondratiev foi dispensado do Instituto de Conjuntura, em 1928, preso, em 1930 e executado, em 1938, por ordem de Stalin. Muitos profissio- nais, os quais poderiam contribuir para o desenvolvimento científico da teoria da planificação, compartilharam o destino trágico de Kondratiev. Como resultado disso, o processo de planificação centralizada, desde o seu início, submeteu-se à esfera ideológica, tornando-se dependente das decisões políticas, às vezes voluntaristas e não profissionais. Em certa medida, a ideologização e a politização excessiva da planificação econômica predeterminaram várias desproporções no desenvolvimen- to socioeconômico em todo o período soviético. Os resultados do I Plano Quinquenal (1928-1932) foram positivos. Este, asso- ciado ao II Plano Quinquenal (1933-1937), possibilitou à indústria da URSS taxas de crescimento em torno de 16% ao ano, sendo o resultado principal des- ses dois planos a consolidação da base material do socialismo. Nas palavras de Mikhailova (2012, p. 4): Como resultado principal de dois primeiros planos quinquenais foi a formação da base material do socialismo. Em 1936, o XVIII Congresso do Partido Comunista da URSS, nomeado Congresso dos Vencedo- res, declarou a finalização, em princípio, da construção do socialismo. Naquele momento, a participação do setor estatal na produção total e, também, na capacidade produtiva total ampliou até 99%. Para compa- rar, os mesmos indicadores, no ano de 1924, contavam só por volta de 35% (ABALKHIN, 1978, p. 3). No entanto, para tal sucesso da econo- mia, os esforços e sacrifícios da população foram grandes. O III Plano Quinquenal (1938-1943) foi marcado por uma nova prioridade industrial soviética. Com a indústria de base concretizada, a URSS passa para um segundo estágio de evolução. Superado o atraso tecnológico do período que ante- cedeu a Revolução Russa, a URSS inicia o processo de militarização econômica. Esse processo foi expressivo para a economia soviética, pois enquanto as taxas de crescimento industrial entre 1938 a 1940 apresentavam crescimento de 13% por ano, a indústria bélica festejava o percentual de crescimento anual de 39% no mesmo período, chegando a 45% em 1941. Tal período de crescimento somente 25 O Surgimento do Modelo de Produção Socialista Europeu Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . foi interrompido graças ao início da Segunda Guerra Mundial (MIKHAILOVA, 2012). Assim, embora a URSS se configurasse como uma alternativa ao modelo de produção capitalista, ela não impediu que as décadas sucessivas à Primeira Guerra Mundial tornassem a situação econômica, social e política menos con- flituosa em âmbito mundial que seu período anterior. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a URSS em um primeiro momento se manteve isolada graças ao acordo firmado com a Alemanha Nazista, todavia tal acordo é quebrado em 1941 com a invasão das tropas de Adolf Hitler ao território soviético, dando início ao maior e mais sangrento teatro de guerra da história. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a URSS mantém em seu poder territó- rios que conquistou na Europa Central e Oriental durante o período de guerra, pertencentes às Potências do Eixo (Alemanha Nazista, Itália Fascista e Império do Japão). Esses territórios passaram a fazer parte dos Estados satélites soviéti- cos, também denominados de Bloco Oriental europeu. Como Estados satélites, encontravam-se diversos países: Polônia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, Romênia, Albânia, e, a mais estratégica de todas as áreas conquistadas, a parte oriental de Berlim na Alemanha, que depois da Segunda Guerra passou a fazer parte da URSS. Segundo Pereira (2009, p. 15): A produção de guerra foi controlada, a indústria alemã desconcentra- da (descartelização), e o país ficou obrigado a pagar reparações deter- minadas dentro de cada zona. Em contrapartida, os três aliados não chegaram a um acordo sobre as fronteiras e o estatuto da Alemanha. Fixou-se provisoriamente a fronteira oriental sobre a linha Oder-Neis- se, sendo os territórios a leste desta linha entregues às administrações polonesa ou soviética. A rápida recuperação econômica e o prestígio político em âmbito mundial, alcançados graças ao papel desempenhado pela URSS na derrota nazista, desenca- dearam diferenças ideológicas e políticas com o lado ocidental (bloco ocidental). Alemanha e Inglaterra, referências europeias do pós-guerra com relação ao modelo capitalista, liderados pelos Estados Unidos, começaram a ver a URSS como ameaça à ordem social. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Por isso, a URSS, peça central para derrota do nazismo na Segunda Guerra Mundial e país pertencente ao bloco dos Aliados, passa a ser um perigo eminente ao sistema capitalista. A partir de então, se inicia pelos dois lados a forma- ção de diversos pactos econômicos e militares que culminaram na Guerra Fria (PEREIRA, 2009). O MODELO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA EUROPEU E A GUERRA FRIA O jogo ideológico e político inicia quando, ao final da Segunda Guerra Mundial, os países da Europa praticamente destruídos e totalmente desprovidos de recur- sos para a sua reconstrução recebem ajuda financeira dos Estados Unidos para se recompor. Os Estados Unidos, com medo da ameaça de efetivação do Socialismo em países da Europa Ocidental, propõe a criação de um amplo plano econômico conhecido como Plano Marshall, o qual se resumia na concessão, como tam- bém em uma série de empréstimos a juros baixos e investimento público em países que não fizessem parte do bloco oriental. Conforme Xavier (2010, p. 6): Externada a guerra ideológica e geopolítica entre os EUA e a URSS, principalmente após a preocupação pioneira de Winston Churchill, primeiro estadista a perceber o avanço comunista; em 12 de março de 1947, Truman pronunciou diante do Congresso estadunidense a sua doutrina instada a “defender o mundo capitalista contra a ameaça co- munista”. Tal Doutrina marcou, de fato, o início das disputas geopolíti-cas da Guerra Fria, e ela foi aprofundada com o anúncio do secretário de Estado, George Marshall, de um plano que visava o apoio econômi- co e militar dos EUA à Grécia e à Turquia, e a outros países europeus – denominado de Plano Marshall. A Doutrina Truman foi elaborada mediante a concepção de que o expansionismo comunista soviético deveria ser tolhido. Como resposta, a URSS cria o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON) com o intuito de impedir que os países satélites se interessassem 27 O Modelo de Produção Socialista Europeu e a Guerra Fria Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . nos investimentos oferecidos pelos Estados Unidos por intermédio do Plano Marshall. Ainda em Xavier (2010, p. 6): Diante do Plano Marshall, e com sua autoconfiança perturbada, Stalin anunciou a criação do COMINFORM, em setembro de 1947, em lugar do antigo COMINTERN, implantando, destarte, a ortodoxia no mo- vimento comunista internacional. Seu propósito era coordenar ações entre partidos comunistas sob orientação soviética, bem como respon- der às divergências dos países do Leste Europeu quanto comparecer ou não à conferência do Plano Marshall em Paris. Além deste orga- nismo, Stalin também criou o COMECON, versão soviética do Plano Marshall, qual seja, um conselho planejado para incrementar o auxílio econômico mútuo entre os países do bloco comunista. A consolidação de sua presença no Leste europeu dependia apenas da solução a ser encontrada para a Alemanha. Paralelamente ao jogo ideo-político e econômico, a demonstração de força militar era fundamental para manter o clima de paz entre essas duas superpotências, pois enquanto se mantivesse o equilíbrio bélico, a ameaça de um confronto armado era nula. Isso porque os dois lados temiam um enfrentamento direto. De acordo com Xavier (2010, p. 6), temos: Trata-se de uma guerra marcada pela existência da paz armada. As duas potências envolveram-se numa corrida armamentista, espalhan- do exércitos e armamentos em seus territórios e nos países aliados. En- quanto houvesse um equilíbrio bélico entre as duas potências, a paz estaria garantida, pois haveria o medo do ataque inimigo. Para se proteger de tal ameaça, em 1949, os Estados Unidos juntamente com o Canadá e a maioria dos países da Europa Ocidental criaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar com o objetivo de pro- teção internacional em caso de um suposto ataque dos países do leste europeu. Em resposta à OTAN, a URSS firmou em 1955 com seus aliados o Pacto de Varsóvia, com a finalidade de unir as forças militares da Europa Oriental. Ainda consoante Xavier (2010, p. 6): [...] Formaram-se, então, dois blocos militares, em abril de 1949, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), liderada pelos O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I EUA, com suas bases militares nos países aliados, principalmente na Europa Ocidental, e em resposta, a URSS estabeleceu o Pacto de Var- sóvia, em 1955, que representou a organização militar dos países socia- listas no leste europeu. Sob o mesmo argumento, Rodrigues (2006, p. 120) apresenta: Em 1949, os EUA e seus parceiros europeus criaram a aliança mili- tar até hoje existente, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, ao que a URSS e seus aliados irão responder pouco mais tarde constituindo, em 1955, o Pacto de Varsóvia. Embora o clima de corrida armamentista promovida pelo temor de um possí- vel ataque militar estivesse presente em ambos os regimes produtivos, isso não significou que a disputa em torno do setor econômico tenha se tornado menos acurada em relação ao bélico. Diante do que discutimos sobre a Guerra fria, podemos estabelecer o seguinte quadro: PLANO MARSHALL CONSELHO PARA ASSISTÊNCIA ECONÔMICA MÚTUA (COMECON) ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE (OTAN) PACTO DE VARSÓVIA 1947 1949 1949 1955 EUA URSS EUA E CANADÁ URSS Apoio Econômico e Bélico dos Estados Unidos para os países da Europa Ocidental com o objetivo de reduzir o risco do avanço socialista. Apoio Econômico da Rússia para os países do bloco comunista com o intuito de im- pedir que inclinassem para os interesses dos EUA. Aliança internacional com o objetivo de proteger os países do bloco capitalista de possíveis ataques do bloco socialista – URSS/ Leste Europeu. Coalizão Militar de países do bloco socialista URSS/ Leste Europeu. Quadro 1: Alianças formadas pelos blocos capitalistas e socialistas no contexto da Guerra Fria Fonte: a autora. © shutterstock 29 A Queda do Modelo de Produção Socialista Europeu Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . A QUEDA DO MODELO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA EUROPEU Caro(a) aluno(a), agora que compreendemos o que foi a Guerra Fria, vamos avançar nos estudos buscando analisar como ocorre a queda do modo de pro- dução socialista na Europa. Para falarmos sobre esse assunto, vamos nos apropriar das discussões do autor Robert Kurz, que escreveu o livro “O Colapso da Modernização – Da derrocada do Socialismo de Caserna à Crise da Economia Mundial” no início de 1990, apre- sentando de uma forma inovadora a derrocada do Socialismo. Inovadora, porque abordou o assunto de maneira diferente da maioria dos autores, que até então escreviam sobre o tema e defendiam a ideia de o colapso do modelo socialista ser resultado dos problemas de gestão, derivados da incapacidade do modelo de planejamento, centralizado em dar conta de uma economia complexa como estava se tornando o mercado mundial naquele período. Kurz, que vem de uma escola de pensamento Marxista, avalia tal período afastando da discussão as categorias mercado e planejamento/Estado, analisando o fenômeno apenas em seu contexto por uma perspectiva de produção de mercadorias. A chave do raciocínio de Kurz está no fato de que as economias socialistas nunca deixaram de fazer parte do sistema mundial de produção de mercadorias, sendo presentes no contexto da URSS todas as categorias que fundamentam o Capital, ou seja: preço, salário e, com uma nova roupagem, o lucro. Uma nova roupagem, porque, em relação ao modelo socialista, o lucro significava o ganho das empresas estatais. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Assim, a Revolução de Outubro de 1917, que caracterizou o início do Modelo Socialista de produção não inaugurou outra fase da história, mas desenvolveu um novo e próprio sistema produtor de mercadorias. Em outras palavras, não ocorreu a superação da sociedade do trabalho, uma vez que surge através do socialismo um novo e moderno sistema produtor de mercadoria, diferen- ciando-se do modelo capitalista por abolir a concorrência interna e por ser comandado inteiramente pelo Estado. Durante um determinado período, a abolição de concorrência proporcionou um significativo crescimento econômico, levando a crer que poderia superar as economias capitalistas. Caro(a) aluno(a), é de suma importância ressaltar que no mesmo período ocorria uma grande conturbação econômica e política nos países capitalistas. Su- perada essa fase, a dinâmica do sistema de produtos de mercadorias se impôs, apontando os limites da economia de comando estatal. O pa- drão de produtividade que emerge de um sistema cada vez mais mun- dial não permite a coexistência de economias que não privilegiem o emprego de novas tecnologias (MARQUES, 1993). O fim desse modelo de produção nessa realidade era inevitável. OS REFLEXOS DO FIM DO MODELO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA EUROPEU PARA A AMÉRICA LATINA E O BRASIL O fim do Modelo de Produção Socialista Europeu abriuum novo capítulo na história da América Latina e do Brasil. Isso porque, com o fim da Guerra Fria e a consagração do Sistema Capitalista como único modelo de produção, dimi- nuíram ou simplesmente desapareceram os recursos financeiros destinados aos países em desenvolvimento para subsidiar o crescimento interno ou propiciar ajuda humanitária. 31 Os Reflexos do Fim do Modelo de Produção Socialista Europeu Para a América Latina e o Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Com o fim da ameaça socialista, não interessava mais ao Capital manter programas de subsídios, pois o conflito ideológico tinha acabado e o sistema capitalista havia vencido. Dessa forma, o interesse do capital aos países perifé- ricos novamente se voltou a questões meramente de mercado ou econômicas. Nas palavras de Almeida (2009, p. 9): No plano estratégico, como os países periféricos deixaram de ser, mo- mentaneamente, terreno de disputa por posições chaves no grande xa- drez da Guerra Fria, eles não mais precisam ser cortejados, comprados ou de alguma forma sustentados por alguns dos contendores em confli- to ideológico, o grande jogo tático resumiu-se, novamente, a conquis- tas puramente econômicas ou comerciais. Isso significou para a América Latina, caro(a) aluno(a), a entrada pela porta dos fundos no contexto de globalização. Endividados e dependentes economicamente, os países latino-americanos não tinham condições de combater diretamente os preços dos produtos dos países industrializados, em especial o norte-americano. Sendo assim, a economia latino-americana entra em crise. Inicia-se um vasto processo de reforma estrutural, que se resumiu no des- mantelamento do Estado em prol do aumento do poder de mercado, forçando os países que compõem essa localização geográfica a abrirem seus mercados aos grandes fluxos globais de mercadorias. Para as empresas latino-americanas, era uma questão de sobrevivência: ou se abria o mercado, ou se declarava falência. Segundo Albano e Costa (2005, p. 278): O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional - FMI propu- seram os Programas de Ajustes Estruturais - PAEs em 1980, quando muitos países em desenvolvimento atravessavam uma profunda reces- são ocasionada, em parte, por fatores fora do seu controle, e estavam com grande endividamento com os órgãos internacionais. Foi o caso do Brasil e de vários países subdesenvolvidos, que em 1980 estava com uma elevada dívida externa e precisava de ajuda do FMI e do Banco Mundial para quitar os débitos. [...] Para receber a ajuda financeira os países subdesenvolvidos tinham que por em prática, por pressão do FMI e do Banco Mundial, os PAEs. Um PAE típico implicava na libe- ralização do comércio, redução do gasto com programas sociais (saú- de, educação), eliminação de subsídios à alimentação e aumento dos preços pagos a produtores de culturas para o mercado externo. (Grifo Nosso) O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Nesta conjuntura são implantados organismos específicos para administrar tal contexto. No hemisfério norte emerge o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), composto pelos Estados Unidos, Canadá e México, tendo o Chile como país associado. Ao sul, é criado o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), representado em sua formação original pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, aderindo em 2006 a Venezuela. O objetivo dessas associações foi criar condições para a eliminação das barreiras alfandegárias entre esses países. Conforme Herz (2002, p. 85): Os anos de 1990 foram marcados por algumas mudanças significativas nas relações entre os Estados Unidos e a América Latina. A indefini- ção de uma política hemisférica clara se aliava à ênfase nos interesses econômicos, à afirmação do modelo neoliberal e à perspectiva de um multilateralismo limitado porém emergente. Depois de um período dominado pelas expressões da Segunda Guerra Fria no continente, as iniciativas da administração Bush concentraram-se em estreitar os laços econômicos entre os EUA e a América Latina, negociando o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e lançando a Iniciativa para as Américas. A mudança teve caráter paradigmático, havendo um translado de uma política mais coerciva e ideológica para uma perspectiva que enfatizava a cooperação, maiores investimentos e comércio. As duas administrações seguintes, sob liderança de Bill Clin- ton, mantiveram objetivos similares. A partir de janeiro de 1994 passou a vigorar o Nafta, dando continuidade ao processo de integração das economias dos Estados Unidos, Canadá e México, além de alguns paí- ses da bacia do Caribe. O problema para a América Latina com essa nova configuração política concen- tra-se no fato de que o processo ocorre de forma unilateral. Isto é, os mercados latinos abriram suas portas e alfândegas para os produtos norte-americanos, todavia, as barreiras alfandegárias dos países industrializados se mantiveram fechadas para os produtos latino-americanos. Como exemplo, verifica-se o ocorrido no setor agrícola, um dos primeiros segmentos latino-americanos a sofrer os reflexos da abertura de mercado, em que os Programas de Ajustes Estruturais, nesse caso específico o Acordo sobre a Agricultura de 1993, estipulavam a diminuição das tarifas aos produtos agríco- las importados. Nesse sentido, Mandeley (2003, apud ALBANO; COSTA 2005, p. 279) salienta que mediante esse acordo: 33 Os Reflexos do Fim do Modelo de Produção Socialista Europeu Para a América Latina e o Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . (...) os países não poderão aumentar a sua proteção ao setor agrícola acima do nível que já existia antes de 1993. Os países industrializados que já arcavam com altos níveis de proteção podem mantê-los, mas os países em desenvolvimento não podem elevar seus níveis. Assim sendo, as consequências desse processo foram catastróficas para o âmbito social latino-americano e brasileiro. Mas por que foram catastróficas? Foram catastróficas, caro(a) aluno(a), porque como resultado verificou-se a apropriação de empresas públicas e privadas pelo capital mundializado, bem como terras nacionais. Com o desmantelamento do Estado, a luta de organismos sociais para a efetivação de políticas sociais públicas, como a luta dos trabalha- dores da saúde para a reforma do sistema sanitário, por exemplo, que na década de 1980 era expressivas na América Latina, enfraqueceu. O crescimento econômico nas décadas sucessivas está baseado na lógica do consumo, não em questões voltadas à emancipação econômica, cultural ou inte- lectual, surgindo assim novos contextos na luta de classes e no agravamento da desigualdade social desencadeado pela emancipação. De acordo com Iamamoto (2006, p. 4): O resultado tem sido uma ampla radicalização da concentração de ren- da, da propriedade e do poder, na contrapartida de um violento em- pobrecimento da população; uma ampliação brutal do desemprego e do subemprego; o desmonte dos direitos conquistados e das políticas sociais universais, impondo um sacrifício forçado a toda a sociedade. À reestruturação da produção e dos mercados apoiada mais em métodos de consumo intensivo da força de trabalho do que em inovações cientí- ficas e tecnológicas de última geração somam-se mudanças regressivas na relação entre o Estado e sociedade quando a referência é a vida de todos e os direitos conquistados pelas grandes maiorias. Esses são os principais impactos causados pela incorporação de mecanismos polí- tico/ideológicos de ajuste estrutural que colocam o neoliberalismo na ordem do dia para garantir que o movimento econômico global de mundialização de mer- cados se realize. Tais medidaspossibilitaram preparar o chão de fábrica necessário para receber empresas multinacionais e transnacionais que se aproveitaram de mão de obra barata e incentivos fiscais para produzir o processo mais custoso de produção, enquanto ditavam as regras do jogo nos países periféricos na ordem capitalista global e financeira que se instalava. O CONTEXTO SÓCIOPOLÍTICO E ECONÔMICO EM ÂMBITO MUNDIAL, Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I Por isso, vamos avançar nas discussões sobre os impactos do neoliberalismo na realidade brasileira, e como a questão social sofre com tal processo. Esse fato exige do leitor estabelecer a relação entre a intervenção profissional do assis- tente social e o movimento contraditório da realidade com os aspectos políticos, econômicos e sociais que interferem no desenvolvimento de políticas sociais e de redefinição dos papéis do Estado na sua relação com o capital e sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), esperamos que tenha compreendido de forma clara a impor- tância de discutir os aspectos políticos, sociais e econômicos que se manifestam no cenário internacional a partir do desenvolvimento do regime socialista euro- peu e seus desdobramentos no confronto com interesses político/ideológicos capitalistas. Tal confronto gerou violentos embates por meio da luta armada, que visam muito mais do que orquestrar um cenário de guerra com o objetivo de conquistar novos territórios, mas expressam a face mais incontrolável da con- tradição entre capital e trabalho que, para garantir a manutenção das relações sociais de produção capitalistas, violentam a vida dos sujeitos e atingem todas as esferas e proporções da vida social. A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria – que realizaram o combate no plano político — foram exemplos materiais desse processo, cada um ao seu tempo redefiniu e influenciou a vida social no contexto global, exigindo que os países se posicionassem frente ao embate entre socialismo e capitalismo, e que se submetessem aos ditames dos blocos hegemônicos no processo de abertura econômica e desnacionalização das economias dos países da América Latina. Essa questão não é livre de interferências e colocou para os países latino- -americanos a tarefa de criarem alianças para fortalecer os mercados regionais em detrimento da mundialização de mercados. Verificamos também que essas medidas não impediram que as consequências desse processo avançassem, ques- tão que será discutida na unidade II. Desejamos a você bons estudos! 35 1. Com o fortalecimento de lideranças políticas russas em 1915, que se manifesta- vam contra a monarquia, destacava-se o Partido Operário Social-Democrata Rus- so (POSDR) embasado sob duas alas distintas: os mencheviques e bolcheviques. Descreva as características e posicionamento de cada um deles. 2. Diante do que foi apresentado sobre a Guerra Fria, podemos completar o quadro abaixo a partir das alianças estabelecidas pelos blocos capitalistas e socialistas. Ano de criação País ou Países Envolvidos Objetivo/Descrição Plano Marshall Conselho para Assistência Econômica Mútua (COME- CON) Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) Pacto de Varsóvia 3. A partir da Revolução Russa, Guerra Civil e a criação da URSS, surge pela primei- ra vez, em cinco séculos de história econômica capitalista, outra alternativa de mercado, o SOCIALISMO. Aponte quais foram as mudanças provocadas pelo So- cialismo. TESES EQUIVOCADAS SOBRE A ORDEM MUNDIAL PÓS-GUERRA FRIA - CARACTE- RÍSTICAS DA ORDEM PÓS-45 (...) Retrospectivamente, quatro características parecem ter sido as mais significativas da or- dem da Guerra Fria: 1. A bipolaridade estratégico-militar; 2. A primazia econômica dos Estados Unidos; 3. O “compromisso liberal”; 4. A importância do Terceiro Mundo enquanto ator político. A bipolaridade estratégico-militar EUA-União Soviética e a dissuasão nuclear como forma de controle do conflito entre as duas superpotências constituem as características definidoras daquela ordem. A sua principal implicação foi dar certa medida de estabi- lidade ao sistema mundial, com base em dois processos. Por um lado, o congelamento dos conflitos locais e regionais anteriores à Segunda Guerra, resultado de sua vinculação ao conflito político-ideológico bipolar, permitiu às duas superpotências administrá-los e controlá-los, tendo em vista seus respectivos interesses político-estratégicos. Por outro, a dissuasão nuclear controlava o conflito entre as duas superpotências, uma vez que ao disporem, ambas, de second-strike capability, nenhuma delas tinha incentivo para usar suas armas contra a outra. Ademais, o status na hierarquia internacional e a superiorida- de estratégico-militar, conferidos pelas armas atômicas, proviam um incentivo especial aos EUA e à União Soviética para controlar a proliferação dessas armas cuja posse asse- guraria a condição de grande potência a quem a obtivesse, mesmo nos países de suas respectivas esferas de influência. Uma consequência relevante da emergência das armas atômicas na política mundial foi quebrar o vínculo entre poder militar e poder econômico que tem caracterizado o moderno sistema internacional. O ciclo de emergência e queda das grandes potências evidencia uma correlação significativa, ao longo do tempo, entre capacidade econômi- ca e força militar (Kennedy, 1989; Gilpin, 1981). A erosão desta combinação histórica é fruto do paradoxo das armas nucleares: a escala da violência tornada possível pela capa- cidade destrutiva das armas nucleares ultrapassou exponencialmente o espaço físico no qual a violência poderia ser empregada, tornando essas armas inúteis do ponto de vista de sua utilização em um conflito real. O teste de força entre as superpotências foi deslo- cado para a periferia, não ocorrendo um enfrentamento direto entre elas. Entretanto, o que mantinha a bipolaridade e o status de superpotência eram as armas nucleares, inde- pendentemente de eventuais reduções de fato nas respectivas capacidades econômi- cas. Ademais, ao atenuar o “dilema de segurança”, em especial dos membros da aliança do Ocidente, o guarda-chuva nuclear acabou por permitir que alguns destes (Alemanha e Japão) se tornassem potências econômicas, sem serem necessariamente potências militares. Finalmente, a própria monopolização do jogo estratégico pelas duas superpo- tências deslocou o espaço de manobra das demais para o campo econômico. 37 Um aspecto importante da Guerra Fria foi sua funcionalidade para as duas superpo- tências. Desta forma, o sistema de Guerra Fria expressava e reforçava o domínio destas na política mundial, pois não apenas ajudava a controlar os aliados mais rebeldes no continente europeu, como provia uma justificativa para sua intervenção nos assuntos domésticos dos países periféricos. De fato, a rivalidade estratégico-militar operava com vantagem para as superpotências: permitia o controle do Leste Europeu pela União Soviética, gerando estabilidade em uma região tradicionalmente instável; continha as ambições alemãs na área; e, por último, assegurava a hegemonia dos EUA na Europa, empurrando os países da Europa Ocidental para os braços norte-americanos (Cox, 1994; Lynch, 1992; Waltz, 1964). A primazia econômica dos Estados Unidos constitui outra característica relevante da antiga ordem. Esta é incontestável nos primeiros vinte anos do pós-Segunda Guerra, momento em que é mais acentuado o diferencial econômico entre os Estados Unidos e os demais países capitalistas. Em 1950, o PIB americano era três vezes maior que o da União Soviética, oito vezes o da Alemanha Ocidental e o da França e doze vezes o do Japão (Kennedy, 1989, p. 353). Foram esta primazia econômica e a rivalidade bipolar os responsáveis pela disposição norte-americana de investir recursos não apenas na re- construção européia no pós-guerra, mas na montagem de um arcabouço institucional multilateral nos planos políticoe econômico cuja importância para a normalização das relações econômicas internacionais não foi desprezível. Essa combinação entre supe- rioridade econômica e rivalidade estratégica também foi relevante para a reintegração dos vencidos na Segunda Guerra em especial Alemanha e Japão à aliança do Ocidente, patrocinada pelos EUA, muitas vezes contra a vontade dos demais parceiros da aliança (Keohane, 1982). Fonte: LIMA, Maria Regina Soares. Teses Equivocadas Sobre a Ordem Mundial Pós-Guerra Fria. Re- vista SciELO, São Paulo, v. 39, n. 3, 1996. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?scrip- t=sci_arttext&pid=S0011-52581996000300005>. Acesso em: 05 maio 2015. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581996000300005 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581996000300005 MATERIAL COMPLEMENTAR Da Guerra Fria À Nova Ordem Mundial Ricardo de Moura e Monica Liz Miranda Editora: Contexto Sinopse: Esta obra foge do lugar comum à maior parte das interpretações sobre a “paz armada” que marcou, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, a relação entre os EUA e a ex-URSS. O livro faz ainda uma pertinente reflexão sobre os rumos da humanidade. Crise do Socialismo à Ofensiva Neoliberal Jose Paulo Netto Editora: Cortez Sinopse: Neste volume, os temas são tratados sob uma perspectiva crítica. A crise do socialismo é abordada não como signo do “fim da história”, mas como esgotamento de um padrão da transição social que se revelou incapaz de realizar a dupla socialização que compete ao período pós-revolucionário - a socialização do poder político e a socialização da economia. Já a ofensiva neoliberal é enfocada como expressão da incompatibilidade entre o capitalismo contemporâneo e as instituições democráticas. Uma tese articula os dois ensaios deste livro - enquanto a sociedade estiver subordinada ao capital, a história continuará mobilizada pelas lutas dos trabalhadores na direção de uma ordem societária sem exploração, sem opressão e sem alienações. Para saber mais sobre Stalin, acesse: Dicionário Político <https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/s/stalin.htm>. Na web, você pode acessar o site da OTAN e entender melhor qual é a sua função em relação aos países do bloco capitalista. <http://www.nato.int/>. https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/s/stalin.htm http://www.nato.int/ U N ID A D E II Professora Me. Juliana Cristina Teixeira Domingues O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO E O AGRAVAMENTO DA QUESTÃO SOCIAL Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar como ocorreu o processo de reabsorção do modelo liberal pelo mercado capitalista intitulado como neoliberalismo. ■ Apresentar como ocorreu o processo de transição da economia tradicional para economia de mercado e as repercussões desse modelo para o agravamento dos problemas relacionados à Questão Social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O surgimento do Neoliberalismo ■ A transição da economia nacional para a economia de mercado ■ O conceito de Questão Social ■ O agravamento da Questão Social INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Estamos iniciando a unidade II do Livro de Fundamentos II e esperamos que você compreenda o que é o neoliberalismo, como foi incorporado na reali- dade brasileira, de que forma impactou nos desdobramentos da questão social e por que é importante que o Serviço Social entenda seus impactos para desenvolver suas competências profissionais articuladas com os direitos da classe trabalha- dora. Por isso, veremos como se iniciou o processo político do neoliberalismo e quais os seus reflexos diretos na política de bem-estar em âmbito mundial, bem como esse processo interferiu no desmantelamento do Estado, na economia de mercado, no processo de globalização e no agravamento da Questão Social. Você verá que o desenvolvimento da política neoliberal se consolidou como o principal mecanismo político ideológico de reafirmação do capitalismo central na América Latina, e de conformação de desenvolvimento de uma nova socia- bilidade pautada em ordenamentos individualistas, de incentivo ao consumo, à concorrência e à competição. Compreenderá que o neoliberalismo incorporado no Brasil expressou o estreitamento das relações políticas e econômicas com os organismos interna- cionais, como o Banco Mundial e o FMI, ao mesmo tempo em que tornou o Brasil chão de fábrica para a abertura de mercados e de desnacionalização da Economia. É importante que faça também a relação desses impactos econômicos neo- liberais no campo dos direitos sociais, os quais foram desmantelados através da precarização de políticas sociais como saúde e educação a favor de incenti- vos para a política econômica e de abertura do setor privado e terceiro setor na oferta desses serviços pela via do mercado e do voluntariado. Esperamos que essa discussão contribua para ampliar a compreensão sobre o desenvolvimento do Serviço Social dos últimos vinte anos. Bons estudos a você! 41 Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO E O AGRAVAMENTO DA QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO As origens que definem e distinguem o neoliberalismo do simples liberalismo clássico do século XIX tiveram início após a II Guerra Mundial, especificamente na Europa e na América do Norte, países onde imperava a vertente capitalista. Tal movimento se caracterizou por ser uma reação teórica e política contrá- ria ao posicionamento do Estado como agente intervencionista e de bem-estar (ANDERSON, 1995). Os principais representantes do neoliberalismo em seu primeiro estágio foram: Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwing Von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polanyi, Salvador de Madariaga, entre outros. Estes se caracterizavam não somente por serem adversários do Estado de Bem-Estar europeu, mas também inimigos do New Deal norte-americano (ANDERSON, 1995). Os defensores do neoliberalismo se fundamentavam na ideia de combater a qualquer preço o keynesianismo e o solidarismo e preparar um novo modelo para o capitalismo, que se caracterizaria como livre de regras. Argumentavam que a desigualdade era um valor positivo para o mercado, pois através desta as possibilidades de crescimento e as vantagens competitivas eram reforçadas, sendo úteis às sociedades ocidentais (ANDERSON, 1995). A chegada da grande crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973, quando todo o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de cres- cimento com altas taxas de inflação, mudou tudo. A partir daí as idéias neoliberais passaram a ganhar terreno. As raízes da crise, afirmavam Hayek e seus companheiros, estavam localizadas no poder excessivo e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento ope- rário, que havia corroído as bases de acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais. Esses dois processos destruíram os níveis necessários de lucros das empresas e desencadearam processos inflacionários que não podiam deixar de terminar numa crise generalizada das economias de mercado. O remé- dio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabili- dade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos 43 O Surgimento do Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en ale L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . gastos com bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos. Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis, para in- centivar os agentes econômicos. Em outras palavras, isso significava re- duções de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Desta forma, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas, então às voltas com uma estagflação, resulta- do direto dos legados combinados de Keynes e de Beveridge, ou seja, a intervenção anticíclica e a redistribuição social, as quais haviam tão desastrosamente deformado o curso normal da acumulação e do livre mercado. O crescimento retornaria quando a estabilidade monetária e os incentivos essenciais houvessem sido restituídos (ANDERSON, 1995, s/p.). O texto que fundamentou a tese neoliberal foi escrito por Friedrich Hayek em 1944 e intitulado “O Caminho da Servidão”. Tal texto trata-se de um ataque apai- xonado contra a limitação exercida pelo Estado contra a liberdade de mercado. Caracterizava o Estado de Bem-estar como uma ameaça letal para a liberdade econômica e política, igualando-o ao nazismo alemão. Embora a crítica se fun- damentasse contra o modelo de bem-estar, na verdade, o alvo de Hayek era o Partido Trabalhista inglês que estava disputando as eleições em 1945, o qual, mesmo com a ofensiva por parte dos neoliberais, chegou ao poder com a maio- ria dos votos dos ingleses (ANDERSON, 1995). O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO E O AGRAVAMENTO DA QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II ANO ACONTECIMENTO Início de 1970 Iniciou no Chile sob a ditadura de Pinochet. Aquele regime tem a honra de ter sido o verdadeiro pioneiro do ciclo neoliberal da história contemporânea. O Chile de Pinochet começou seus programas de maneira dura: desregulação, desemprego massivo, repressão sindi- cal, redistribuição de renda em favor dos ricos, privatização de bens públicos. Tudo isso foi começado no Chile, quase um decênio antes de Teatcher, na Inglaterra. No Chile, naturalmente, a inspiração teóri- ca da experiência pinochetista era mais norte-americana do que aus- tríaca. Friedman, e não Hayek, como era de se esperar nas Américas... 1979 Na Inglaterra foi eleito o governo Teatcher, o primeiro regime de um país capitalista avançado publicamente empenhado em por em prá- tica o programa neoliberal. 1980 Reagan chegou à presidência dos Estados Unidos... 1982 Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha... 1983 A Dinamarca, Estado modelo do bem-estar Escandinavo, caiu sob o controle de uma coalizão clara de direita, o governo de Schluter. Em seguida, quase todos os países do norte da Europa Ocidental, com exceção da Suécia e da Áustria, também viraram de direita... O governo socialista na França se viu forçado pelos mercados finan- ceiros internacionais a mudar seu curso dramaticamente e reorien- tar-se para fazer uma política muito próxima à ortodoxia neoliberal, com prioridade para a estabilidade monetária, a contenção do orça- mento, concessões fiscais aos detentores de capital e abandono do pleno emprego... Na Espanha, o governo de Gonzáles jamais tratou de realizar uma política keynesiana ou redistributiva. Ao contrário, desde o início, o regime do partido no poder se mostrou firmemente monetarista em sua política econômica: grande amigo de capital financeiro, favorá- vel ao princípio de privatização e sereno quando o desemprego na Espanha rapidamente alcançou o recorde europeu de 20% da popu- lação ativa... Na Austrália e Nova Zelândia, o mesmo padrão assumiu proporções verdadeiramente dramáticas. Sucessivos governos trabalhistas ul- trapassaram os conservadores locais de direita com programas de neoliberalismo radical - na Nova Zelândia, provavelmente o exemplo mais extremo de todo o mundo capitalista avançado, desmontou-se o Estado de bem-estar muito mais completa e ferozmente do que Theacher na Inglaterra... 45 O Surgimento do Neoliberalismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 1985 Na América Latina também proveu-se a experiência piloto para o ne- oliberalismo do oriente pós-soviético. Nesse caso, com relação à Bo- lívia, onde, em1985, Jeffrey Sachs já aperfeiçoou seu tratamento de choque, mais tarde aplicado na Polônia e na Rússia, mas preparado originariamente para o governo do general Banzer, depois aplicado imperturbavelmente por Victor Paz Estenssoro, quando surpreen- dentemente este último foi eleito presidente, em vez de Banzer. Na Bolívia, no fundo da experiência, não havia necessidade de quebrar um movimento operário poderoso, como no Chile, mas parar a hipe- rinflação. O regime que adotou o plano de Sachs não era nenhuma ditadura, mas o herdeiro do partido populista que havia feito a revo- lução social de 1952. Em outras palavras, a América Latina também iniciou a variante neoliberal “progressista”, mais tarde difundida no sul da Europa, nos anos de euro-socialismo... 1990 Peru. 1991 a 1993 Suécia, a social-democracia, que havia resistido ao avanço neoliberal nos anos 80, foi derrotada por uma frente unida de direita em 1991. Na Itália, Berlusconi – uma espécie de Reagan italiano - chegou ao poder à frente de uma coalizão na qual um dos integrantes era um partido oficialmente fascista até recentemente... (ANDERSON, 1995, p. 17) 1994 No Brasil tem início a aplicação de um projeto neoliberal que vem avançando com dificuldades, mas sempre dando passos avançados para uma clara política de abertura da economia para o capital inter- nacional, desnacionalização via privatizações de grandes empresas estatais, tentativas ainda frágeis de desregulamentação das normas trabalhistas, dentre outras não menos significantes. Trata-se na reali- dade de uma constatação do predomínio de forma hegemônica do neoliberalismo. 1998 México e Argentina. 1999 Venezuela. Quadro 2: Cronologia do Processo de Neoliberalização Política Fonte: Sitientibus (2008, p. 169-189). A hegemonia desse programa não aconteceu do dia para a noite, levou mais de uma década, segundo Cerqueria (2008, p. 180-183): O SURGIMENTO DO NEOLIBERALISMO E O AGRAVAMENTO DA QUESTÃO SOCIAL Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II Nessa perspectiva, as principais ideias neoliberais colocadas em prática, com variação em um ou outro país, a depender da especificidade de cada um, podem ser resumidas da seguinte forma: • Aproveitar o momento de recessão econômica, com uma das suas consequências mais dramáticas e socialmente injustas que é o de- semprego, para enfraquecer o movimento sindical organizado, le- vando no todo dessa proposição à perda de vantagens adquiridas e acumuladas ao longo dos anos por parte dos trabalhadores, prin- cipalmente, nas décadas 50 e 60 quando da pujança crescente do capitalismo. Estas medidas são consideradas de suma importância, pois contribuirão para a acumulação de capital das empresas, que assim obterão poupança para novos investimentos; • O equilíbrio da balança de pagamentos é essencial e, melhor ain- da, se houver superávit nas transações comerciais e de serviços, que redundará em mais recursos para as empresas e tranquilidade para o país, consequentemente gerando divisas e disponibilidade financeira para propiciar investimentos básicos em infraestruturas próprias e expansão da iniciativa privada; • Retirada da participação do Estado na economia como agente pro- dutivo e em determinadas situações saindo também de funções de regulamentação ou de setores produtivos da economia através de uma política de desestatização. Como exemplo desta prática têm-se os governos Teatcher: ...se lançaram num amplo programa de privatização,
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