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Medicina 5° P Karollyne Santos 
 
Tutoria 1- O cuidado e o tempo 03/08/2021 
Objetivos 
1. Compreender a semiologia psiquiátrica 
2. Conhecer os princípios de atenção à saúde do cuidador 
3. Compreender os aspectos emocionais e a neuro química do estresse agudo e crônico ROTEIRO 
Porto- Na verdade, não se trata de uma especialidade 
que visa a uma determinada parte do corpo, um 
sistema ou um órgão, mas, sim, ao homem como um 
todo e às relações que o ligam a seu mundo. Além 
disto, a psiquiatria, com seu modo singular de encarar, 
compreender e atuar na doença mental, adota um 
modelo – o modelo compreensivo – com referenciais 
distintos daqueles do modelo médico tradicional. 
A importância da pessoa 
Freud resgata a importância da pessoa, de sua história 
e do seu contexto sociocultural. Ressalta a importância 
das vivências e dos traumas psicológicos, sobretudo 
nos primeiros anos de vida, na gênese das doenças 
mentais. 
O ser humano (corpo e alma unidos) é afetado por uma 
doença que muda seu destino e seu curso vital, e que 
esta não tem apenas causa, mas também um sentido, 
um significado, que influi em seu curso. psiquiatria, 
afastando-se das ciências naturais, aproxima-se das 
ciências do espírito, nas quais a causa é substituída 
pelo motivo e a explicação pela compreensão. muitos 
médicos procuram afastar-se, objetivando fazer uma 
medicina de doenças e não de doentes. 
Modelo compreensivo 
Ele introduz a moderna visão da multifatoriedade de 
causas e efeitos, mostrando a artificialidade da causa 
única, ainda predominante na cultura médica. Fornece 
um conceito mais amplo de doença, sem confiná-la 
apenas aos seus aspectos biológicos. A doença passa a 
ser vista em todos os níveis de organização (biológica, 
psicológica e social) que se apresentam em constante 
interação. Isto implica a valorização do paciente, em 
sua singularidade de indivíduo e globalidade 
biopsicossocial. 
O conhecimento biológico e o psicológico não precisam 
ser – e não são – contraditórios, e nenhum dos dois 
pode substituir o outro no pleno conhecimento do ser 
humano. O conhecimento e a cura das perturbações 
mentais exigem conhecimento da estrutura e 
funcionamento do cérebro, assim como de suas 
manifestações psicológicas. 
Durante a entrevista, o médico obtém dados que serão 
incorporados à anamnese e ao exame psíquico. 
Em princípio, a anamnese psiquiátrica tem os mesmos 
elementos de toda história 
clínica: identificação, queixa principal, história da 
doença atual, história pessoal, antecedentes pessoais 
e familiares, bem como hábitos de vida. No entanto, 
em virtude das características da doença mental, a 
coleta e a interpretação dos dados apresentam 
algumas peculiaridades. 
Em geral, os dados da anamnese são obtidos de duas 
fontes: do próprio paciente e de seus acompanhantes 
(geralmente familiares). Nem sempre, as duas fontes 
são totalmente concordantes. 
O paciente pode simular sintomas psiquiátricos, porém 
isso é um fato relativamente raro. Dificilmente uma 
pessoa pode sustentar sintomatologia coerente com 
determinado transtorno psiquiátrico por muito tempo. 
A omissão de sintomas (dissimulação), em 
contrapartida, ocorre com bastante frequência. 
Os dados fornecidos por outras pessoas também 
podem estar distorcidos, como, por exemplo, as 
dificuldades que os pais têm em ver distúrbios de 
conduta nos filhos, bem como as deformações por 
inveja e a competição entre irmãos. 
No caso de crianças e adolescentes, alguns psiquiatras 
preferem entrevistar primeiro os pais e, em um 
 
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segundo encontro, o paciente. Outros acreditam que a 
entrevista com todos os familiares possibilita, desde o 
início, a observação de como interagem entre si, e que, 
junto à narração do sintoma e da história clínica, o 
médico deve valorizar as várias comunicações e trocas 
extraverbais entre os membros do grupo familiar. 
É fundamental permitir que o paciente conte sua 
história com as próprias palavras e na ordem que ele 
escolher. O erro mais comum na obtenção de uma 
história psiquiátrica é a interferência inoportuna do 
médico no relato do paciente, tentando organizar a 
entrevista com um número excessivo de indagações, 
ou para seguir o roteiro clássico de anamnese. 
O médico precisa ter em mente um roteiro que o 
auxilie a cobrir todos os pontos úteis e necessários para 
diagnóstico e compreensão global do paciente. 
O exame psíquico consiste na avaliação do estado 
mental do paciente no momento da entrevista. É feita 
pela observação do seu comportamento, pela relação 
que estabelece com o examinador e pela pesquisa de 
sinais e sintomas psicopatológicos. 
Sua importância é comparável à do exame físico 
para os outros ramos da medicina, diferentemente 
das outras áreas nas quais se pode recorrer a aparelhos 
e testes laboratoriais para confirmar os achados 
clínicos, não se dispõe, na maioria das vezes, de 
recursos complementares que confirmem as 
impressões colhidas no exame psíquico. 
 
EXAME PSÍQUICO (EP) 
 Até aqui, tivemos um relato feito pelo paciente e 
familiares ou pessoa que o acompanha à entrevista. 
Nosso trabalho foi o de registrar e organizar tais 
informações. 
 Neste ponto da anamnese, cessa esse relato do 
paciente e passa-se a ter o registro da observação do 
entrevistador ou terapeuta, no momento da(s) 
entrevista(s). 
 A sua organização deve obedecer a determinados 
quesitos que, obrigatoriamente, serão respondidos 
pelo entrevistador. 
 
A coleta desses dados, bem como a de todos os 
outros, poderá ser feita na ordem em que melhor 
parecer ao entrevistador. Porém, no texto final, será 
mantida uma ordem preestabelecida, com a finalidade 
de facilitar o acesso ao material. 
 
 No exame psíquico, não se usam termos técnicos; o 
que se espera que seja registrado aqui são aspectos 
objetivos que justifiquem os termos técnicos que serão 
empregados posteriormente na súmula. 
Em seguida, apontamos os diversos aspectos que 
integram o exame psíquico. 
1. Apresentação 
Refere-se à impressão geral que o paciente causa no 
entrevistador. Compreende: 
a. Aparência: tipo constitucional, condições de higiene 
pessoal, adequação do vestuário, cuidados pessoais. 
Não confundir com a classe social a que pertence o 
indivíduo. 
b. Atividade psicomotora e comportamento: mímica – 
atitudes e movimentos expressivos da fisionomia 
(triste, alegre, ansioso, temeroso, desconfiado, 
esquivo, dramático, medroso, etc.); gesticulação 
(ausência ou exagero); motilidade – toda a capacidade 
motora (inquieto, imóvel, incapacidade de manter-se 
em um determinado local); deambulação – modo de 
caminhar (tenso, elástico, largado, amaneirado, 
encurvado, etc.). 
 
c. Atitude para com o entrevistador: cooperativo, 
submisso, arrogante, desconfiado, apático, superior, 
irritado, indiferente, hostil, bem-humorado, etc. 
 
d. Atividade verbal: normalmente responsivo às deixas 
do entrevistador, não-espontâneo (tipo pergunta e 
resposta), fala muito, exaltado ou pouco e taciturno. 
 
2. Consciência 
 Não se trata de consciência como capacidade de 
ajuizar valores morais, é a capacidade do indivíduo de 
dar conta do que está ocorrendo dentro e fora de si 
mesmo. 
 Consciência, aqui, será a indicação do processo 
psíquico complexo, que é capaz de integrar 
acontecimentos de um determinado momento numa 
atividade de coordenação e síntese. Na prática, a 
consciência se revela na sustentação, coerência e 
pertinência das respostas dadas ao entrevistador. 
 A clareza dessa consciência é traduzida pela 
 
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lucidez. Quando o paciente estádesperto, recebendo e 
devolvendo informações do meio ambiente, ele está 
lúcido, não importando, para esta classificação, o teor 
de sua integração com o meio. 
 Os distúrbios da consciência geralmente indicam 
dano cerebral orgânico. As informações sensoriais 
chegam amortecidas ou nem chegam à consciência. 
 Os estados de rebaixamento da consciência 
podem ser: rebaixamento ou embotamento, turvação 
ou obnubilação (que é um rebaixamento geral da 
capacidade de perceber o ambiente) e estreitamento 
(perda da percepção do todo com uma concentração 
em um único objetivo paralelo à realidade (ex. estados 
de hipnotismo e sonambulismo). 
Cabe ao entrevistador avaliar o grau de alteração da 
consciência, observando se o paciente faz esforço 
para manter o diálogo e levar a entrevista a termo, se 
a confusão mental interfere na exatidão das 
respostas, que se fazem com lentidão, ou se o 
paciente chega mesmo a cochilar, adormecer no curso 
da entrevista. 
3. Orientação 
A orientação pode ser inferida da avaliação do estado 
de consciência e encontra-se intimamente ligada às 
noções de tempo e de espaço. 
 Em geral, o primeiro sentido de orientação que se 
perde é o do tempo, depois o do espaço, que envolve 
deslocamento e localização e, num estado mais grave, 
a desorientação do próprio eu (identidade e corpo). 
A orientação divide-se em: 
a. Autopsíquica: paciente reconhece dados de 
identificação pessoal e sabe quem é; 
b. Alopsíquica: paciente reconhece os dados fora do 
eu; no ambiente: 
- Temporal: dia, mês, ano em que está; em que parte 
do dia se localiza (manhã, tarde, noite); 
- Espacial: a espécie de lugar em que se encontra, para 
que serve; a cidade onde está; como chegou ao 
consultório; 
- Somatopsíquica: alterações do esquema corporal, 
como, por exemplo, os membros fantasmas dos 
amputados, negação de uma paralisia, a incapacidade 
de localizar o próprio nariz ou olhos... 
4. Atenção 
 A atenção é um processo psíquico que concentra a 
atividade mental sobre determinado ponto, traduzindo 
um esforço mental. É resultado de uma atividade 
deliberada e consciente do indivíduo – foco da 
consciência – a fim de inserir profundamente nossa 
atividade no real. 
 Essa energia concentrada sobre esse foco está 
intimamente ligada ao aspecto da afetividade. 
Destaca-se aí a vigilância (consciência sem foco, difusa, 
com atenção em tudo ao redor) e a tenacidade 
(capacidade de se concentrar num foco). O paciente 
não pode ter essas duas funções concomitantemente 
exaltadas (o paciente maníaco, por exemplo, é 
hipervigil e hipotenaz), porém, pode tê-las rebaixadas, 
como no caso do sujeito autista, esclerosado ou 
esquizofrênico catatônico. 
5. Memória 
Há cinco dimensões principais do seu 
funcionamento: percepção (maneira como o sujeito 
percebe os fatos e atitudes em seu cotidiano e os 
reconhece psiquicamente), fixação (capacidade de 
gravar imagens na memória), conservação (refere-se 
tudo que o sujeito guarda para o resto da vida; a 
memória aparece como um todo e é um processo 
tipicamente afetivo), evocação (atualização dos dados 
fixados – nem tudo pode ser evocado). Cabe ressaltar 
aqui que nada é fixado e evocado de maneira 
anárquica: há dependência das associações que 
estabelecem entre si (semelhança, contraste, 
oposição, contigüidade e causalidade), 
e reconhecimento (reconhecimento do anagrama 
(imagem recordada) como tal – é o momento em que 
fica mais difícil detectar onde e quando determinado 
fato aconteceu no tempo e no espaço). 
A função mnésica pode ser avaliada pela rapidez, 
precisão e cronologia das informações que o próprio 
paciente dá, assim como a observação da capacidade 
de fixação. 
 O exame da memória passada (retrógrada) faz-se com 
perguntas sobre o passado do paciente, data de 
acontecimentos importantes. Contradições nas 
informações podem indicar dificuldades. 
 Com relação à memória recente (anterógrada), 
podem ser feitas perguntas rápidas e objetivas, como 
“O que você fez hoje?” ou dizer um número de 4 ou 5 
algarismos ou uma série de objetos e pedir para que o 
paciente repita após alguns minutos, se houver 
necessidade. 
 Para o exame da memória de retenção pode-se 
pedir ao paciente que repita algarismos na ordem 
direta e depois inversa. 
 A maior parte das alterações da memória é 
proveniente de síndromes orgânicas (amnésia, hiper 
ou hipomnésia). 
6. Inteligência 
 O que se faz nessa avaliação da inteligência não é 
o que chamamos “uma avaliação fina”, realizada por 
meio de testes. É mais para se constatar se o paciente 
está dentro do chamado padrão de normalidade. 
 
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Interessa a autonomia que o paciente tenha, a sua 
capacidade laborativa. 
Quando houver suspeita de déficit ou perda 
intelectiva, as informações podem ser obtidas 
pedindo-se-lhe que explique um trabalho que realize, 
alguma situação do tipo: “Se tiver que lavar uma 
escada, começará por onde? 
 A consciência, a inteligência e a memória estão 
alocadas entre as funções psíquicas de base. 
 
Um déficit intelectivo (oligofrenia) é diferente de uma 
perda intelectiva, onde após o desenvolvimento 
psíquico ter atingido a plenitude ocorre uma baixa, 
indicando síndromes organocerebrais crônicas. 
 Uma alteração de consciência pode indicar um 
quadro organocerebral agudo. Uma alteração de 
inteligência e memória pode indicar uma síndrome 
organocerebral crônica. 
7. Sensopercepção 
 É o atributo psíquico, no qual o indivíduo reflete 
subjetivamente a realidade objetiva. Fundamenta-se 
na capacidade de perceber e sentir. 
 Neste ponto, investigam-se os transtornos do eu 
sensorialmente projetados, simultâneos à percepção 
verdadeira, ou seja, experiências ilusórias ou 
alucinatórias que são acompanhadas de profundas 
alterações do pensamento. 
 Ilusão é a percepção deformada da realidade, de 
um objeto real e presente, uma interpretação errônea 
do que existe. 
 Alucinação é uma falsa percepção, que consiste no 
que se poderia dizer uma “percepção sem objeto”, 
aceita por quem faz a experiência como uma imagem 
de uma percepção normal, dadas as suas 
características de corporeidade, vivacidade, nitidez 
sensorial, objetividade e projeção no espaço externo. 
 São significativas as alucinações verdadeiras 
(aquelas que tendem a todas as características da 
percepção em estado de lucidez), as pseudo-
alucinações (mais representação do que realmente 
percepção; os relatos são vagos), as alucinações com 
diálogo em terceira pessoa, fenômenos de repetição e 
eco do pensamento, sonorização, ouvir vozes. 
 As alucinações podem ser auditivas, auditivo-
verbais (mais comuns), visuais, olfativas, gustativas, 
cenestésicas (corpórea, sensibilidade visceral), 
cinestésicas (movimento). 
As perguntas que esclareçam essa análise poderão ser 
feitas à medida que a oportunidade apareça. Porém, 
não se pode deixar de investigar completamente esse 
item. 
 Algumas perguntas são sugeridas: “Acontece de 
você olhar para uma pessoa e achar que é outra?”; “Já 
teve a impressão de ver pessoas onde apenas existam 
sombras ou uma disposição especial de objetos?; 
“Você se engana quanto ao tamanho dos objetos ou 
pessoas?”; “Sente zumbidos nos ouvidos?”; “Ouve 
vozes?”; “O que dizem?”; “Dirigem-se diretamente a 
você ou se referem a você como ele ou ela?”; “Falam 
mal de você?”; “Xingam?”; “De quê?”; “Tem tido 
visões?”; “Como são?”; “Vê pequenos animais 
correndo na parede ou fios”; “Sente pequenos animais 
correndo pelo corpo?”; “Tem sentido cheiros 
estranhos?”. 
Ex: Relata sentir um vazio na cabeça, mas que “é bom, 
pois não ligo pros problemas da vida” e “ouvir uma voz 
que lhe diz ser um deus...”. 
Caso o paciente não apresente nenhuma situação 
digna de nota neste item, pode-se registrar: “Não 
apresenta experiências ilusóriasou alucinatórias”. 
8. Pensamento 
 Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser 
humano é capaz de manifestar suas possibilidades de 
adaptar-se ao meio. É por ele que se elaboram 
conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara-
se, solucionam-se problemas, elaboram-se 
conhecimentos adquiridos, idéias, transforma-se e 
cria-se. 
 Este item da anamnese é destinado à 
investigação do curso, forma e conteúdo do 
pensamento. Aqui se faz uma análise do discurso do 
paciente. 
a. Curso: Trata-se da velocidade com que o 
pensamento é expresso e pode ir do acelerado ao 
retardado, passando por variações. 
· Fuga de idéias: paciente muda de assunto a todo 
instante, sem concluí-los ou dar continuidade, numa 
aceleração patológica do fluxo do pensamento; é a 
forma extrema do taquipsiquismo (comum na mania). 
· Interceptação ou bloqueio: há uma interrupção 
brusca do que vinha falando e o paciente pode retomar 
o assunto como se não o tivesse interrompido (comum 
no esquizofrenia). 
· Prolixidade: é um discurso detalhista, cheio de 
rodeios e repetições, com uma certa 
circunstancialidade; há introdução de temas e 
comentários não-pertinentes ao que se está falando. 
· Descarrilamento: há uma mudança súbita do que se 
está falando. 
· Perseveração: há uma repetição dos mesmos 
conteúdos de pensamento (comum nas demências). 
b. Forma: Na verdade, é um conceito difícil de se 
explicar. Porém, pode-se dizer que a forma é a maneira 
 
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como o conteúdo do pensamento é expresso. O 
pensamento abriga um encadeamento coerente de 
idéias ligadas a uma carga afetiva, que é transmitida 
pela comunicação. Há um caráter conceitual. 
É importante lembrar que a velocidade do pensamento 
(curso) pode ser normal, porém a forma pode estar 
alterada por conter idéias frouxas com o fluxo 
quebrado. 
c. Conteúdo: As perturbações no conteúdo do 
pensamento estão associadas a determinadas 
alterações, como as obsessões, hipocondrias, fobias e 
especialmente os delírios. 
 Para se classificar uma idéia de delirante tem-se 
que levar em conta alguns aspectos: a incorrigibilidade 
(não há como modificar a idéia delirante por meio de 
correções). A ininfluenciabilidade (a vivência é muito 
intensa no sujeito, chegando a ser mais fácil o delirante 
influenciar a pessoa dita normal). A 
incompreensibilidade (não pode ser explicada 
logicamente). O delírio é uma convicção íntima e 
inemovível, contra a qual não há argumento. 
 Os delírios podem ser primários (núcleo da 
patologia) ou secundários (são conseqüentes a uma 
situação social, a uma manifestação afetiva ou a uma 
disfunção cerebral). Uma distinção faz-se importante: 
a. delirium: rebaixamento da consciência (delirium 
tremens; delirium febril); 
b. delírio: alteração do pensamento (alteração do 
juízo); 
- b.1 idéia delirante: também chamada de delírio 
verdadeiro; é primário e ocorre com lucidez de 
consciência; não é conseqüência de qualquer outro 
fenômeno. É um conjunto de juízos falsos, que não se 
sabe como eclodiu. 
b.2 idéia deliróide: é secundária a uma perturbação do 
humor ou a uma situação afetiva traumática, 
existencial grave ou uso de droga. Há uma 
compreensão dos mecanismos que a originaram. 
 
As idéias delirantes podem ser agrupadas em temas 
típicos de: 
- expansão do eu: (grandeza, ciúme, reivindicação, 
genealógico, místico, de missão salvadora, deificação, 
erótico, de ciúmes, invenção ou reforma, idéias 
fantásticas, excessiva saúde, capacidade física, 
beleza...). 
- retração do eu: (prejuízo, auto-referência, 
perseguição, influência, possessão, humildades, 
experiências apocalípticas). 
- negação do eu: (hipocondríaco, negação e 
transformação corporal, auto-acusação, culpa, ruína, 
niilismo, tendência ao suicídio). 
O exame do conteúdo do pensamento poderá ser 
feito por meio da conversa, com a inclusão hábil por 
parte do entrevistador de algumas questões que 
conduzam à avaliação. 
9. Linguagem 
A linguagem é considerada como um processo mental 
predominantemente consciente, significativo, além 
de ser orientada para o social. É um processo 
dinâmico que se inicia na percepção e termina na 
palavra falada ou escrita e, por isso, se modifica 
constantemente. 
Sua normalidade e alterações estão intimamente 
relacionadas ao estudo do pensamento, pois é pela 
linguagem que ele passa ao exterior. 
 
disartrias (má articulação de palavras) 
afasias (perturbações por danos cerebrais que 
implicam na dificuldade ou incapacidade de 
compreender e utilizar os símbolos verbais) 
 verbigeração (repetição incessante de palavras ou 
frases) 
 parafasia (emprego inapropriado de palavras com 
sentidos parecidos) 
neologismo (criação de palavras novas) 
jargonofasia (“salada de palavras”) 
logorréia (fluxo incessante e incoercível de 
palavras), para-respostas (responde a uma indagação 
com algo que não tem nada a ver com o que foi 
perguntado), etc. 
10. Consciência do Eu 
Este item refere-se ao fato de o indivíduo ter a 
consciência dos próprios atos psíquicos, a percepção 
do seu eu, como o sujeito apreende a sua 
personalidade. 
 As características formais do eu são: 
- sentimento de unidade: eu sou uno no momento; 
- sentimento de atividade: consciência da própria 
ação; 
- consciência da identidade: sempre sou o mesmo ao 
longo do tempo; 
- cisão sujeito-objeto: consciência do eu em oposição 
ao exterior e aos outros. 
O terapeuta orientará sua entrevista no sentido de 
saber se o paciente acha que seus pensamentos ou 
atos são controlados por alguém ou forças exteriores, 
 
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se se sente hipnotizado ou enfeitiçado, se alguém lhe 
rouba os pensamentos, se existe eletricidade ou outra 
força que o influencie, se pode transformar-se em 
pedra ou algo estático, se sente que não existe ou se é 
capaz de adivinhar e influenciar os pensamentos dos 
outros. 
11. Afetividade 
 A afetividade revela a sensibilidade intensa da 
pessoa frente à satisfação ou frustração das suas 
necessidades. 
 Interessa-nos a tonalidade afetiva com que 
alguém se relaciona, as ligações afetivas que o paciente 
estabelece com a família e com o mundo, 
perguntando-se sobre: filhos, pai, mãe, irmãos, marido 
ou esposa, amigos, interesse por fatos atuais. 
 Pesquisa-se estados de euforia, tristeza, 
irritabilidade, angústia, ambivalência e labilidade 
afetivas, incontinência emocional, etc. Observa-se, 
ainda, de maneira geral, o comportamento do 
paciente. 
12. Humor 
O humor é mais superficial e variável do que a 
afetividade. É o que se pode observar com mais 
facilidade numa entrevista; é uma emoção difusa e 
prolongada que matiza a percepção que a pessoa tem 
do mundo. É como o paciente diz sentir-se: deprimido, 
angustiado, irritável, ansioso, apavorado, zangado, 
expansivo, eufórico, culpado, atônito, fútil, 
autodepreciativo. 
 Os tipos de humor dividem-se em: 
- normotímico: normal; 
- hipertímico: exaltado; 
- hipotímico: baixa de humor; 
- distímico: quebra súbita da tonalidade do humor 
durante a entrevista; 
13. Psicomotricidade 
 Todo movimento humano objetiva satisfação de 
uma necessidade consciente ou inconsciente. 
 A psicomotricidade é observada no decorrer da 
entrevista e se evidencia geralmente de forma 
espontânea. Averigua-se se está normal, diminuída, 
inibida, agitada ou exaltada, se o paciente apresenta 
maneirismos, estereotipias posturais, automatismos, 
flexibilidade cérea, ecopraxia ou qualquer outra 
alteração. 
14. Vontade 
Está relacionada aos atos voluntários. É uma 
disposição (energia) interior que tem por princípio 
alcançar um objetivo consciente e determinado. 
 O indivíduo pode se apresentar normobúlico 
(vontade normal)ter a vontade rebaixada (hipobúlico), 
uma exaltação patológica (hiperbúlico), pode 
responder a solicitações repetidas e exageradas 
(obediência automática), pode concordar com tudo o 
que é dito, mesmo que sejam juízos contraditórios 
(sugestionabilidade patológica), realizar atos contra a 
sua vontade (compulsão), duvidar exageradamente do 
que quer (dúvida patológica), opor-se de forma passiva 
ou ativa, às solicitações (negativismo), etc. 
 
15. Pragmatismo 
Analisa-se se o paciente exerce atividades práticas 
como comer, cuidar de sua aparência, dormir, ter 
autopreservação, trabalhar, conseguir realizar o que se 
propõe e adequar-se à vida. 
 
16. Consciência da doença atual 
 Verifica-se o grau de consciência e compreensão 
que o paciente tem de estar enfermo, assim como a 
sua percepção de que precisa ou não de um 
tratamento. 
 Observa-se que considerações os pacientes fazem 
a respeito do seu próprio estado; se há perda do juízo 
ou um embotamento.
 
Estresse: revisão sobre seus efeitos no sistema 
imunológico 
O que é: 
O estresse é comumente definido como uma condição 
ou estado em que a homeostase do organismo é 
perturbada, como resultado de estímulos estressores. 
É uma constelação de eventos, envolvendo a 
participação de diferentes sistemas do organismo em 
resposta a agentes estressores, como fatores 
climáticos, hiperpopulação, infecções, exercício físico 
intenso, desnutrição, ruído, odor, entre muitos outros. 
Fases 
Selye denominou como “Síndrome Geral de 
Adaptação” os eventos de resposta ao estresse que 
ocorrem em três importantes fases: 
 1) a reação de alarme, na qual o organismo percebe o 
estímulo estressante; 
 
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2) a fase de resistência, que consiste na tentativa de 
adaptação do organismo frente ao estímulo, 
3) a fase de exaustão, quando o organismo perde a 
capacidade de adaptação 
Variações hormonais 
Durante o estresse as quais preparam o organismo 
para reagir frente à condição de estresse. Estas 
variações incluem: 
1) aumento da secreção das catecolaminas (epinefrina 
e norepinefrina) pelo sistema nervoso autônomo; 
 2) liberação hipotalâmica do hormônio liberador de 
corticotropina (CRH) na circulação e, após poucos 
segundos, o aumento da secreção do hormônio 
adrenocorticotrófico (ACTH) pela pituitária; 
3) diminuição da liberação do hormônio liberador de 
gonadotrofinas (GnRH) do hipotálamo e das 
gonadotrofinas da pituitária; e 
4) aumento da secreção de prolactina, de hormônio 
do crescimento (GH) e de glucagon. Em caso de 
hemorragia, ocorre alta produção de arginina 
vasopressina (AVP) da pituitária e de renina do fígado. 
O aumento dos glicocorticóides e a diminuição dos 
hormônios gonadais ocorrem de maneira mais tardia. 
Tipos de estresse 
Dependendo da sua intensidade e tempo, o estresse 
pode ser considerado agudo ou crônico. 
O estresse agudo pode ser entendido como uma 
ameaça imediata, a curto prazo, comumente 
conhecida como resposta à luta ou fuga. A “ameaça” 
pode ser qualquer situação considerada como perigosa 
e, após o evento (que dura de minutos a horas), há uma 
resposta de relaxamento. Em geral, como 
conseqüências fisiológicas imediatas devido a 
alterações hormonais na resposta ao estresse, ocorre 
aumento do ritmo cardíaco e freqüência respiratória, 
ativação da resposta imune, mobilização de energia, 
aumento do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da 
glicose, perda de apetite, do interesse sexual e maior 
retenção de água e vasoconstrição (para o caso de 
perda de fluidos). Estes fenômenos ocorrem em 
períodos que vão de segundos a poucos minutos. Por 
outro lado, o estresse é denominado crônico quando 
persiste por vários dias, semanas ou meses 
Dois componentes que estão bem distinguidos e 
envolvidos na ativação da resposta ao estresse são o 
eixo HPA e o SNA. Assim, a resposta do organismo ao 
estresse está associada à sua ativação, acarretando 
mudanças nas concentrações de vários mediadores 
relacionados ao estresse. 
A ativação do eixo HPA inicia-se através dos impulsos 
nervosos originários do estresse que são transmitidos 
para o hipotálamo. O hipotálamo, por sua vez, secreta 
o CRH, o qual passa pelo sistema porta hipotálamo-
hipofisário, chegando até a hipófise anterior. Neste 
local, o CRH induz a secreção do ACTH, que flui pela 
corrente sanguínea até o córtex da adrenal, induzindo 
a secreção de glicocorticoides como o cortisol e 
aldosterona. 
Nem sempre os níveis de ACTH e de glicocorticoides 
encontram se elevados durante o estresse. Embora a 
produção de glicocorticóides seja estimulada através 
da liberação de ACTH, estudos sugerem que sua 
produção também pode ser modulada por 
mecanismos ACTH-independentes 
Já o SNA ativado resulta na secreção de acetilcolina, 
que induz a medula da adrenal a liberar epinefrina e 
norepinefrina na corrente sanguínea. Uma vez 
liberadas, as catecolaminas induzem aumento da 
freqüência cardíaca, do fluxo sanguíneo para os 
músculos, da glicemia e do metabolismo celular, na 
tentativa de favorecer um melhor desempenho físico e 
mental durante o estresse. 
 A ativação do SNA, que ocorre em segundos, permite 
a resposta adaptativa ao estressor, enquanto que o 
eixo HPA, por sua vez, apresenta uma resposta mais 
lenta, envolvendo a liberação dos glicocorticóides, os 
quais, dependendo da quantidade em que são 
secretados, podem levar à imunossupressão. 
A ativação sustentada ou frequentemente repetitiva 
dos dois eixos, sem a presença de recuperação 
(relaxamento), resulta em desenvolvimento de 
doenças. Essa ativação sustentada é o resultado da 
prolongada exposição ao estressor, ao qual o indivíduo 
não consegue se adaptar. Elevada pressão sanguínea 
pode ser considerada sinal de desregulação do SNA, 
enquanto que a hiper- ou hiposecreção de cortisol é 
um indicativo da desregulação do eixo HPA. Por outro 
lado, as respostas desencadeadas pelo estímulo 
estressor podem ser reguladas por complexos 
 
Medicina 5° P Karollyne Santos 
 
mecanismos de feedback frente aos mediadores 
neuroendócrinos. 
O eixo HPA e o SNA são vias neuroendócrinas ativadas 
em resposta ao estresse e controlam o sistema imune 
através da liberação de hormônios resultantes de sua 
ativação, como os glicocorticóides e as catecolaminas, 
respectivamente. No entanto, há outros fatores 
neuroendócrinos envolvidos durante o estresse, 
também capazes de regular o sistema imune. 
 A prolactina é um hormônio secretado a partir da 
glândula pituitária anterior, e, embora tenha como 
funções principais o desenvolvimento das glândulas 
mamárias e a iniciação e manutenção da lactação, 
receptores para prolactina (PRLR) encontram-se 
amplamente distribuídos em diferentes sítios 
extrapituitários, como as células imunes. Há evidências 
de que a produção e a liberação de prolactina podem 
ser reguladas por receptores para dopamina presentes 
em linfócitos 
Considerações finais 
 A resposta ao estresse é um mecanismo evolutivo de 
extrema importância para a sobrevivência do 
indivíduo. Esta resposta não consiste de um só 
fenômeno e sim de diversos efeitos fisiológicos, os 
quais envolvem a participação de diferentes sistemas: 
nervoso, endócrino e o imunológico, na tentativa de 
manter a homeostase do organismo perturbada pelo 
estímulo estressor. 
A manutenção da homeostase é importante, uma vez 
que é necessária para o bom e normal funcionamento 
do organismo, já que, em desequilíbrio, pode resultar 
em doenças. As doenças são desencadeadas pelo 
desequilíbrio causado pela ativação imprópria (tanto 
exacerbada quanto de intensidade abaixo do normal) 
do sistema neuroendócrino,refletindo no 
funcionamento e atividade do sistema imune. Esta 
disfunção é principalmente caracterizada pelo 
desequilíbrio do padrão de produção das citocinas 
produzidas, e os glicocorticoides e as catecolaminas 
liberados durante o estresse têm sido considerados os 
principais indutores deste desequilíbrio imune, uma 
vez que, quando liberados em altas concentrações, 
podem inibir a resposta Th1, levando à ocorrência de 
doenças autoimunes, depressão e câncer. 
 Por outro lado, quando produzidos em níveis abaixo 
do basal, ocorre prevalência da produção de citocinas 
Th2, favorecendo, deste modo, doenças alérgicas e 
infecciosas. Ademais, administração de citocinas (anti- 
ou pró-inflamatórias) e a utilização de produtos 
naturais têm sido investigadas, por exercerem 
atividades imunomodulatórias. 
Isso se deve a inegável importância do fator psicológico 
em relação ao comportamento do organismo frente à 
situação de estresse. 
Não se pode esquecer quão importante é o estresse 
para a garantia da nossa sobrevivência, somente 
passando a ser um fator de risco quando o organismo 
não consegue adaptar-se frente ao estímulo 
estressor. Muitas terapias relaxantes, como 
massagens, prática de esportes, dentre outras, estão 
sendo cada vez mais empregadas e procuradas pelas 
pessoas nos dias atuais como medidas preventivas 
contra os males do estresse. 
 
Escutando quem cuida: quando o cuidado afeta a 
saúde do cuidador em saúde mental- Revista de 
psicologia e saúde 
Nas últimas décadas, o grande aumento na incidência 
do envelhecimento, associado a doenças crônicas e 
degenerativas, tem despertado a atenção de 
pesquisadores para evidenciar o contexto familiar e 
o novo lócus do cuidado. 
No Brasil, a transição demográfica e a transição 
epidemiológica apresentam, cada vez mais, quadro 
de sobrevivência de idosos na dependência de uma ou 
mais pessoas que supram as suas incapacidades para a 
realização das atividades de vida diária. 
Sentimentos de desespero, cansaço, ansiedade, 
angústia, desamparo são frequentes em famílias de 
cuidadores de doentes crônicos e graves 
Impacto ou sobrecarga é definido como o estado 
psicológico que resulta da combinação de trabalho 
físico, tensão emocional, restrição social e dificuldades 
financeiras, provenientes da atividade de cuidar, 
 
Medicina 5° P Karollyne Santos 
 
consequências essas provenientes de práticas 
variadas e de demandas emocionais do cuidado 
O cuidado é uma representação de atitudes, de 
preocupação, de responsabilidade e de 
envolvimento. No caso de idosos, espera-se que haja 
alguém capaz de desenvolver ações de ajuda naquilo 
que esses não podem realizar por si só, assumindo 
responsabilidades de dar apoio e ajuda para satisfazer 
suas necessidades, visando a melhoria da condição de 
vida. 
Desempenhar a tarefa de cuidar do idoso no 
domicílio, no entanto, deflagra diferentes 
sentimentos que são vivenciados pelos cuidadores 
diariamente. O cotidiano do cuidado favorece o 
surgimento de sentimentos de insatisfação por parte 
do cuidador e a manifestação do seu 
descontentamento, entre outros motivos, podendo 
produzir situações de conflito entre ele e o familiar. 
Cuidando de cuidadores: uma necessidade de 
compromisso e preocupação política de proteção 
social. A literatura revela que muitos cuidadores não 
se veem como tal, isto é, não se reconhecem como 
ocupantes de um papel social. Ao contrário, veem 
suas ações como extensão das relações pessoais e 
familiares. 
Se pode afirmar que a atividade de cuidar tende a 
erodir a vida do cuidador, acarretando agravos 
significativos em sua saúde física e mental, e se 
considerando que essa atividade, além do cuidado, 
deva proporcionar bem-estar ao paciente, quais têm 
sido os investimentos em proteção e 
instrumentalização desse cuidador?

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