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Medicina 5° P Karollyne Santos Tutoria 1- O cuidado e o tempo 03/08/2021 Objetivos 1. Compreender a semiologia psiquiátrica 2. Conhecer os princípios de atenção à saúde do cuidador 3. Compreender os aspectos emocionais e a neuro química do estresse agudo e crônico ROTEIRO Porto- Na verdade, não se trata de uma especialidade que visa a uma determinada parte do corpo, um sistema ou um órgão, mas, sim, ao homem como um todo e às relações que o ligam a seu mundo. Além disto, a psiquiatria, com seu modo singular de encarar, compreender e atuar na doença mental, adota um modelo – o modelo compreensivo – com referenciais distintos daqueles do modelo médico tradicional. A importância da pessoa Freud resgata a importância da pessoa, de sua história e do seu contexto sociocultural. Ressalta a importância das vivências e dos traumas psicológicos, sobretudo nos primeiros anos de vida, na gênese das doenças mentais. O ser humano (corpo e alma unidos) é afetado por uma doença que muda seu destino e seu curso vital, e que esta não tem apenas causa, mas também um sentido, um significado, que influi em seu curso. psiquiatria, afastando-se das ciências naturais, aproxima-se das ciências do espírito, nas quais a causa é substituída pelo motivo e a explicação pela compreensão. muitos médicos procuram afastar-se, objetivando fazer uma medicina de doenças e não de doentes. Modelo compreensivo Ele introduz a moderna visão da multifatoriedade de causas e efeitos, mostrando a artificialidade da causa única, ainda predominante na cultura médica. Fornece um conceito mais amplo de doença, sem confiná-la apenas aos seus aspectos biológicos. A doença passa a ser vista em todos os níveis de organização (biológica, psicológica e social) que se apresentam em constante interação. Isto implica a valorização do paciente, em sua singularidade de indivíduo e globalidade biopsicossocial. O conhecimento biológico e o psicológico não precisam ser – e não são – contraditórios, e nenhum dos dois pode substituir o outro no pleno conhecimento do ser humano. O conhecimento e a cura das perturbações mentais exigem conhecimento da estrutura e funcionamento do cérebro, assim como de suas manifestações psicológicas. Durante a entrevista, o médico obtém dados que serão incorporados à anamnese e ao exame psíquico. Em princípio, a anamnese psiquiátrica tem os mesmos elementos de toda história clínica: identificação, queixa principal, história da doença atual, história pessoal, antecedentes pessoais e familiares, bem como hábitos de vida. No entanto, em virtude das características da doença mental, a coleta e a interpretação dos dados apresentam algumas peculiaridades. Em geral, os dados da anamnese são obtidos de duas fontes: do próprio paciente e de seus acompanhantes (geralmente familiares). Nem sempre, as duas fontes são totalmente concordantes. O paciente pode simular sintomas psiquiátricos, porém isso é um fato relativamente raro. Dificilmente uma pessoa pode sustentar sintomatologia coerente com determinado transtorno psiquiátrico por muito tempo. A omissão de sintomas (dissimulação), em contrapartida, ocorre com bastante frequência. Os dados fornecidos por outras pessoas também podem estar distorcidos, como, por exemplo, as dificuldades que os pais têm em ver distúrbios de conduta nos filhos, bem como as deformações por inveja e a competição entre irmãos. No caso de crianças e adolescentes, alguns psiquiatras preferem entrevistar primeiro os pais e, em um Medicina 5° P Karollyne Santos segundo encontro, o paciente. Outros acreditam que a entrevista com todos os familiares possibilita, desde o início, a observação de como interagem entre si, e que, junto à narração do sintoma e da história clínica, o médico deve valorizar as várias comunicações e trocas extraverbais entre os membros do grupo familiar. É fundamental permitir que o paciente conte sua história com as próprias palavras e na ordem que ele escolher. O erro mais comum na obtenção de uma história psiquiátrica é a interferência inoportuna do médico no relato do paciente, tentando organizar a entrevista com um número excessivo de indagações, ou para seguir o roteiro clássico de anamnese. O médico precisa ter em mente um roteiro que o auxilie a cobrir todos os pontos úteis e necessários para diagnóstico e compreensão global do paciente. O exame psíquico consiste na avaliação do estado mental do paciente no momento da entrevista. É feita pela observação do seu comportamento, pela relação que estabelece com o examinador e pela pesquisa de sinais e sintomas psicopatológicos. Sua importância é comparável à do exame físico para os outros ramos da medicina, diferentemente das outras áreas nas quais se pode recorrer a aparelhos e testes laboratoriais para confirmar os achados clínicos, não se dispõe, na maioria das vezes, de recursos complementares que confirmem as impressões colhidas no exame psíquico. EXAME PSÍQUICO (EP) Até aqui, tivemos um relato feito pelo paciente e familiares ou pessoa que o acompanha à entrevista. Nosso trabalho foi o de registrar e organizar tais informações. Neste ponto da anamnese, cessa esse relato do paciente e passa-se a ter o registro da observação do entrevistador ou terapeuta, no momento da(s) entrevista(s). A sua organização deve obedecer a determinados quesitos que, obrigatoriamente, serão respondidos pelo entrevistador. A coleta desses dados, bem como a de todos os outros, poderá ser feita na ordem em que melhor parecer ao entrevistador. Porém, no texto final, será mantida uma ordem preestabelecida, com a finalidade de facilitar o acesso ao material. No exame psíquico, não se usam termos técnicos; o que se espera que seja registrado aqui são aspectos objetivos que justifiquem os termos técnicos que serão empregados posteriormente na súmula. Em seguida, apontamos os diversos aspectos que integram o exame psíquico. 1. Apresentação Refere-se à impressão geral que o paciente causa no entrevistador. Compreende: a. Aparência: tipo constitucional, condições de higiene pessoal, adequação do vestuário, cuidados pessoais. Não confundir com a classe social a que pertence o indivíduo. b. Atividade psicomotora e comportamento: mímica – atitudes e movimentos expressivos da fisionomia (triste, alegre, ansioso, temeroso, desconfiado, esquivo, dramático, medroso, etc.); gesticulação (ausência ou exagero); motilidade – toda a capacidade motora (inquieto, imóvel, incapacidade de manter-se em um determinado local); deambulação – modo de caminhar (tenso, elástico, largado, amaneirado, encurvado, etc.). c. Atitude para com o entrevistador: cooperativo, submisso, arrogante, desconfiado, apático, superior, irritado, indiferente, hostil, bem-humorado, etc. d. Atividade verbal: normalmente responsivo às deixas do entrevistador, não-espontâneo (tipo pergunta e resposta), fala muito, exaltado ou pouco e taciturno. 2. Consciência Não se trata de consciência como capacidade de ajuizar valores morais, é a capacidade do indivíduo de dar conta do que está ocorrendo dentro e fora de si mesmo. Consciência, aqui, será a indicação do processo psíquico complexo, que é capaz de integrar acontecimentos de um determinado momento numa atividade de coordenação e síntese. Na prática, a consciência se revela na sustentação, coerência e pertinência das respostas dadas ao entrevistador. A clareza dessa consciência é traduzida pela Medicina 5° P Karollyne Santos lucidez. Quando o paciente estádesperto, recebendo e devolvendo informações do meio ambiente, ele está lúcido, não importando, para esta classificação, o teor de sua integração com o meio. Os distúrbios da consciência geralmente indicam dano cerebral orgânico. As informações sensoriais chegam amortecidas ou nem chegam à consciência. Os estados de rebaixamento da consciência podem ser: rebaixamento ou embotamento, turvação ou obnubilação (que é um rebaixamento geral da capacidade de perceber o ambiente) e estreitamento (perda da percepção do todo com uma concentração em um único objetivo paralelo à realidade (ex. estados de hipnotismo e sonambulismo). Cabe ao entrevistador avaliar o grau de alteração da consciência, observando se o paciente faz esforço para manter o diálogo e levar a entrevista a termo, se a confusão mental interfere na exatidão das respostas, que se fazem com lentidão, ou se o paciente chega mesmo a cochilar, adormecer no curso da entrevista. 3. Orientação A orientação pode ser inferida da avaliação do estado de consciência e encontra-se intimamente ligada às noções de tempo e de espaço. Em geral, o primeiro sentido de orientação que se perde é o do tempo, depois o do espaço, que envolve deslocamento e localização e, num estado mais grave, a desorientação do próprio eu (identidade e corpo). A orientação divide-se em: a. Autopsíquica: paciente reconhece dados de identificação pessoal e sabe quem é; b. Alopsíquica: paciente reconhece os dados fora do eu; no ambiente: - Temporal: dia, mês, ano em que está; em que parte do dia se localiza (manhã, tarde, noite); - Espacial: a espécie de lugar em que se encontra, para que serve; a cidade onde está; como chegou ao consultório; - Somatopsíquica: alterações do esquema corporal, como, por exemplo, os membros fantasmas dos amputados, negação de uma paralisia, a incapacidade de localizar o próprio nariz ou olhos... 4. Atenção A atenção é um processo psíquico que concentra a atividade mental sobre determinado ponto, traduzindo um esforço mental. É resultado de uma atividade deliberada e consciente do indivíduo – foco da consciência – a fim de inserir profundamente nossa atividade no real. Essa energia concentrada sobre esse foco está intimamente ligada ao aspecto da afetividade. Destaca-se aí a vigilância (consciência sem foco, difusa, com atenção em tudo ao redor) e a tenacidade (capacidade de se concentrar num foco). O paciente não pode ter essas duas funções concomitantemente exaltadas (o paciente maníaco, por exemplo, é hipervigil e hipotenaz), porém, pode tê-las rebaixadas, como no caso do sujeito autista, esclerosado ou esquizofrênico catatônico. 5. Memória Há cinco dimensões principais do seu funcionamento: percepção (maneira como o sujeito percebe os fatos e atitudes em seu cotidiano e os reconhece psiquicamente), fixação (capacidade de gravar imagens na memória), conservação (refere-se tudo que o sujeito guarda para o resto da vida; a memória aparece como um todo e é um processo tipicamente afetivo), evocação (atualização dos dados fixados – nem tudo pode ser evocado). Cabe ressaltar aqui que nada é fixado e evocado de maneira anárquica: há dependência das associações que estabelecem entre si (semelhança, contraste, oposição, contigüidade e causalidade), e reconhecimento (reconhecimento do anagrama (imagem recordada) como tal – é o momento em que fica mais difícil detectar onde e quando determinado fato aconteceu no tempo e no espaço). A função mnésica pode ser avaliada pela rapidez, precisão e cronologia das informações que o próprio paciente dá, assim como a observação da capacidade de fixação. O exame da memória passada (retrógrada) faz-se com perguntas sobre o passado do paciente, data de acontecimentos importantes. Contradições nas informações podem indicar dificuldades. Com relação à memória recente (anterógrada), podem ser feitas perguntas rápidas e objetivas, como “O que você fez hoje?” ou dizer um número de 4 ou 5 algarismos ou uma série de objetos e pedir para que o paciente repita após alguns minutos, se houver necessidade. Para o exame da memória de retenção pode-se pedir ao paciente que repita algarismos na ordem direta e depois inversa. A maior parte das alterações da memória é proveniente de síndromes orgânicas (amnésia, hiper ou hipomnésia). 6. Inteligência O que se faz nessa avaliação da inteligência não é o que chamamos “uma avaliação fina”, realizada por meio de testes. É mais para se constatar se o paciente está dentro do chamado padrão de normalidade. Medicina 5° P Karollyne Santos Interessa a autonomia que o paciente tenha, a sua capacidade laborativa. Quando houver suspeita de déficit ou perda intelectiva, as informações podem ser obtidas pedindo-se-lhe que explique um trabalho que realize, alguma situação do tipo: “Se tiver que lavar uma escada, começará por onde? A consciência, a inteligência e a memória estão alocadas entre as funções psíquicas de base. Um déficit intelectivo (oligofrenia) é diferente de uma perda intelectiva, onde após o desenvolvimento psíquico ter atingido a plenitude ocorre uma baixa, indicando síndromes organocerebrais crônicas. Uma alteração de consciência pode indicar um quadro organocerebral agudo. Uma alteração de inteligência e memória pode indicar uma síndrome organocerebral crônica. 7. Sensopercepção É o atributo psíquico, no qual o indivíduo reflete subjetivamente a realidade objetiva. Fundamenta-se na capacidade de perceber e sentir. Neste ponto, investigam-se os transtornos do eu sensorialmente projetados, simultâneos à percepção verdadeira, ou seja, experiências ilusórias ou alucinatórias que são acompanhadas de profundas alterações do pensamento. Ilusão é a percepção deformada da realidade, de um objeto real e presente, uma interpretação errônea do que existe. Alucinação é uma falsa percepção, que consiste no que se poderia dizer uma “percepção sem objeto”, aceita por quem faz a experiência como uma imagem de uma percepção normal, dadas as suas características de corporeidade, vivacidade, nitidez sensorial, objetividade e projeção no espaço externo. São significativas as alucinações verdadeiras (aquelas que tendem a todas as características da percepção em estado de lucidez), as pseudo- alucinações (mais representação do que realmente percepção; os relatos são vagos), as alucinações com diálogo em terceira pessoa, fenômenos de repetição e eco do pensamento, sonorização, ouvir vozes. As alucinações podem ser auditivas, auditivo- verbais (mais comuns), visuais, olfativas, gustativas, cenestésicas (corpórea, sensibilidade visceral), cinestésicas (movimento). As perguntas que esclareçam essa análise poderão ser feitas à medida que a oportunidade apareça. Porém, não se pode deixar de investigar completamente esse item. Algumas perguntas são sugeridas: “Acontece de você olhar para uma pessoa e achar que é outra?”; “Já teve a impressão de ver pessoas onde apenas existam sombras ou uma disposição especial de objetos?; “Você se engana quanto ao tamanho dos objetos ou pessoas?”; “Sente zumbidos nos ouvidos?”; “Ouve vozes?”; “O que dizem?”; “Dirigem-se diretamente a você ou se referem a você como ele ou ela?”; “Falam mal de você?”; “Xingam?”; “De quê?”; “Tem tido visões?”; “Como são?”; “Vê pequenos animais correndo na parede ou fios”; “Sente pequenos animais correndo pelo corpo?”; “Tem sentido cheiros estranhos?”. Ex: Relata sentir um vazio na cabeça, mas que “é bom, pois não ligo pros problemas da vida” e “ouvir uma voz que lhe diz ser um deus...”. Caso o paciente não apresente nenhuma situação digna de nota neste item, pode-se registrar: “Não apresenta experiências ilusóriasou alucinatórias”. 8. Pensamento Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por ele que se elaboram conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara- se, solucionam-se problemas, elaboram-se conhecimentos adquiridos, idéias, transforma-se e cria-se. Este item da anamnese é destinado à investigação do curso, forma e conteúdo do pensamento. Aqui se faz uma análise do discurso do paciente. a. Curso: Trata-se da velocidade com que o pensamento é expresso e pode ir do acelerado ao retardado, passando por variações. · Fuga de idéias: paciente muda de assunto a todo instante, sem concluí-los ou dar continuidade, numa aceleração patológica do fluxo do pensamento; é a forma extrema do taquipsiquismo (comum na mania). · Interceptação ou bloqueio: há uma interrupção brusca do que vinha falando e o paciente pode retomar o assunto como se não o tivesse interrompido (comum no esquizofrenia). · Prolixidade: é um discurso detalhista, cheio de rodeios e repetições, com uma certa circunstancialidade; há introdução de temas e comentários não-pertinentes ao que se está falando. · Descarrilamento: há uma mudança súbita do que se está falando. · Perseveração: há uma repetição dos mesmos conteúdos de pensamento (comum nas demências). b. Forma: Na verdade, é um conceito difícil de se explicar. Porém, pode-se dizer que a forma é a maneira Medicina 5° P Karollyne Santos como o conteúdo do pensamento é expresso. O pensamento abriga um encadeamento coerente de idéias ligadas a uma carga afetiva, que é transmitida pela comunicação. Há um caráter conceitual. É importante lembrar que a velocidade do pensamento (curso) pode ser normal, porém a forma pode estar alterada por conter idéias frouxas com o fluxo quebrado. c. Conteúdo: As perturbações no conteúdo do pensamento estão associadas a determinadas alterações, como as obsessões, hipocondrias, fobias e especialmente os delírios. Para se classificar uma idéia de delirante tem-se que levar em conta alguns aspectos: a incorrigibilidade (não há como modificar a idéia delirante por meio de correções). A ininfluenciabilidade (a vivência é muito intensa no sujeito, chegando a ser mais fácil o delirante influenciar a pessoa dita normal). A incompreensibilidade (não pode ser explicada logicamente). O delírio é uma convicção íntima e inemovível, contra a qual não há argumento. Os delírios podem ser primários (núcleo da patologia) ou secundários (são conseqüentes a uma situação social, a uma manifestação afetiva ou a uma disfunção cerebral). Uma distinção faz-se importante: a. delirium: rebaixamento da consciência (delirium tremens; delirium febril); b. delírio: alteração do pensamento (alteração do juízo); - b.1 idéia delirante: também chamada de delírio verdadeiro; é primário e ocorre com lucidez de consciência; não é conseqüência de qualquer outro fenômeno. É um conjunto de juízos falsos, que não se sabe como eclodiu. b.2 idéia deliróide: é secundária a uma perturbação do humor ou a uma situação afetiva traumática, existencial grave ou uso de droga. Há uma compreensão dos mecanismos que a originaram. As idéias delirantes podem ser agrupadas em temas típicos de: - expansão do eu: (grandeza, ciúme, reivindicação, genealógico, místico, de missão salvadora, deificação, erótico, de ciúmes, invenção ou reforma, idéias fantásticas, excessiva saúde, capacidade física, beleza...). - retração do eu: (prejuízo, auto-referência, perseguição, influência, possessão, humildades, experiências apocalípticas). - negação do eu: (hipocondríaco, negação e transformação corporal, auto-acusação, culpa, ruína, niilismo, tendência ao suicídio). O exame do conteúdo do pensamento poderá ser feito por meio da conversa, com a inclusão hábil por parte do entrevistador de algumas questões que conduzam à avaliação. 9. Linguagem A linguagem é considerada como um processo mental predominantemente consciente, significativo, além de ser orientada para o social. É um processo dinâmico que se inicia na percepção e termina na palavra falada ou escrita e, por isso, se modifica constantemente. Sua normalidade e alterações estão intimamente relacionadas ao estudo do pensamento, pois é pela linguagem que ele passa ao exterior. disartrias (má articulação de palavras) afasias (perturbações por danos cerebrais que implicam na dificuldade ou incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais) verbigeração (repetição incessante de palavras ou frases) parafasia (emprego inapropriado de palavras com sentidos parecidos) neologismo (criação de palavras novas) jargonofasia (“salada de palavras”) logorréia (fluxo incessante e incoercível de palavras), para-respostas (responde a uma indagação com algo que não tem nada a ver com o que foi perguntado), etc. 10. Consciência do Eu Este item refere-se ao fato de o indivíduo ter a consciência dos próprios atos psíquicos, a percepção do seu eu, como o sujeito apreende a sua personalidade. As características formais do eu são: - sentimento de unidade: eu sou uno no momento; - sentimento de atividade: consciência da própria ação; - consciência da identidade: sempre sou o mesmo ao longo do tempo; - cisão sujeito-objeto: consciência do eu em oposição ao exterior e aos outros. O terapeuta orientará sua entrevista no sentido de saber se o paciente acha que seus pensamentos ou atos são controlados por alguém ou forças exteriores, Medicina 5° P Karollyne Santos se se sente hipnotizado ou enfeitiçado, se alguém lhe rouba os pensamentos, se existe eletricidade ou outra força que o influencie, se pode transformar-se em pedra ou algo estático, se sente que não existe ou se é capaz de adivinhar e influenciar os pensamentos dos outros. 11. Afetividade A afetividade revela a sensibilidade intensa da pessoa frente à satisfação ou frustração das suas necessidades. Interessa-nos a tonalidade afetiva com que alguém se relaciona, as ligações afetivas que o paciente estabelece com a família e com o mundo, perguntando-se sobre: filhos, pai, mãe, irmãos, marido ou esposa, amigos, interesse por fatos atuais. Pesquisa-se estados de euforia, tristeza, irritabilidade, angústia, ambivalência e labilidade afetivas, incontinência emocional, etc. Observa-se, ainda, de maneira geral, o comportamento do paciente. 12. Humor O humor é mais superficial e variável do que a afetividade. É o que se pode observar com mais facilidade numa entrevista; é uma emoção difusa e prolongada que matiza a percepção que a pessoa tem do mundo. É como o paciente diz sentir-se: deprimido, angustiado, irritável, ansioso, apavorado, zangado, expansivo, eufórico, culpado, atônito, fútil, autodepreciativo. Os tipos de humor dividem-se em: - normotímico: normal; - hipertímico: exaltado; - hipotímico: baixa de humor; - distímico: quebra súbita da tonalidade do humor durante a entrevista; 13. Psicomotricidade Todo movimento humano objetiva satisfação de uma necessidade consciente ou inconsciente. A psicomotricidade é observada no decorrer da entrevista e se evidencia geralmente de forma espontânea. Averigua-se se está normal, diminuída, inibida, agitada ou exaltada, se o paciente apresenta maneirismos, estereotipias posturais, automatismos, flexibilidade cérea, ecopraxia ou qualquer outra alteração. 14. Vontade Está relacionada aos atos voluntários. É uma disposição (energia) interior que tem por princípio alcançar um objetivo consciente e determinado. O indivíduo pode se apresentar normobúlico (vontade normal)ter a vontade rebaixada (hipobúlico), uma exaltação patológica (hiperbúlico), pode responder a solicitações repetidas e exageradas (obediência automática), pode concordar com tudo o que é dito, mesmo que sejam juízos contraditórios (sugestionabilidade patológica), realizar atos contra a sua vontade (compulsão), duvidar exageradamente do que quer (dúvida patológica), opor-se de forma passiva ou ativa, às solicitações (negativismo), etc. 15. Pragmatismo Analisa-se se o paciente exerce atividades práticas como comer, cuidar de sua aparência, dormir, ter autopreservação, trabalhar, conseguir realizar o que se propõe e adequar-se à vida. 16. Consciência da doença atual Verifica-se o grau de consciência e compreensão que o paciente tem de estar enfermo, assim como a sua percepção de que precisa ou não de um tratamento. Observa-se que considerações os pacientes fazem a respeito do seu próprio estado; se há perda do juízo ou um embotamento. Estresse: revisão sobre seus efeitos no sistema imunológico O que é: O estresse é comumente definido como uma condição ou estado em que a homeostase do organismo é perturbada, como resultado de estímulos estressores. É uma constelação de eventos, envolvendo a participação de diferentes sistemas do organismo em resposta a agentes estressores, como fatores climáticos, hiperpopulação, infecções, exercício físico intenso, desnutrição, ruído, odor, entre muitos outros. Fases Selye denominou como “Síndrome Geral de Adaptação” os eventos de resposta ao estresse que ocorrem em três importantes fases: 1) a reação de alarme, na qual o organismo percebe o estímulo estressante; Medicina 5° P Karollyne Santos 2) a fase de resistência, que consiste na tentativa de adaptação do organismo frente ao estímulo, 3) a fase de exaustão, quando o organismo perde a capacidade de adaptação Variações hormonais Durante o estresse as quais preparam o organismo para reagir frente à condição de estresse. Estas variações incluem: 1) aumento da secreção das catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) pelo sistema nervoso autônomo; 2) liberação hipotalâmica do hormônio liberador de corticotropina (CRH) na circulação e, após poucos segundos, o aumento da secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela pituitária; 3) diminuição da liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) do hipotálamo e das gonadotrofinas da pituitária; e 4) aumento da secreção de prolactina, de hormônio do crescimento (GH) e de glucagon. Em caso de hemorragia, ocorre alta produção de arginina vasopressina (AVP) da pituitária e de renina do fígado. O aumento dos glicocorticóides e a diminuição dos hormônios gonadais ocorrem de maneira mais tardia. Tipos de estresse Dependendo da sua intensidade e tempo, o estresse pode ser considerado agudo ou crônico. O estresse agudo pode ser entendido como uma ameaça imediata, a curto prazo, comumente conhecida como resposta à luta ou fuga. A “ameaça” pode ser qualquer situação considerada como perigosa e, após o evento (que dura de minutos a horas), há uma resposta de relaxamento. Em geral, como conseqüências fisiológicas imediatas devido a alterações hormonais na resposta ao estresse, ocorre aumento do ritmo cardíaco e freqüência respiratória, ativação da resposta imune, mobilização de energia, aumento do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose, perda de apetite, do interesse sexual e maior retenção de água e vasoconstrição (para o caso de perda de fluidos). Estes fenômenos ocorrem em períodos que vão de segundos a poucos minutos. Por outro lado, o estresse é denominado crônico quando persiste por vários dias, semanas ou meses Dois componentes que estão bem distinguidos e envolvidos na ativação da resposta ao estresse são o eixo HPA e o SNA. Assim, a resposta do organismo ao estresse está associada à sua ativação, acarretando mudanças nas concentrações de vários mediadores relacionados ao estresse. A ativação do eixo HPA inicia-se através dos impulsos nervosos originários do estresse que são transmitidos para o hipotálamo. O hipotálamo, por sua vez, secreta o CRH, o qual passa pelo sistema porta hipotálamo- hipofisário, chegando até a hipófise anterior. Neste local, o CRH induz a secreção do ACTH, que flui pela corrente sanguínea até o córtex da adrenal, induzindo a secreção de glicocorticoides como o cortisol e aldosterona. Nem sempre os níveis de ACTH e de glicocorticoides encontram se elevados durante o estresse. Embora a produção de glicocorticóides seja estimulada através da liberação de ACTH, estudos sugerem que sua produção também pode ser modulada por mecanismos ACTH-independentes Já o SNA ativado resulta na secreção de acetilcolina, que induz a medula da adrenal a liberar epinefrina e norepinefrina na corrente sanguínea. Uma vez liberadas, as catecolaminas induzem aumento da freqüência cardíaca, do fluxo sanguíneo para os músculos, da glicemia e do metabolismo celular, na tentativa de favorecer um melhor desempenho físico e mental durante o estresse. A ativação do SNA, que ocorre em segundos, permite a resposta adaptativa ao estressor, enquanto que o eixo HPA, por sua vez, apresenta uma resposta mais lenta, envolvendo a liberação dos glicocorticóides, os quais, dependendo da quantidade em que são secretados, podem levar à imunossupressão. A ativação sustentada ou frequentemente repetitiva dos dois eixos, sem a presença de recuperação (relaxamento), resulta em desenvolvimento de doenças. Essa ativação sustentada é o resultado da prolongada exposição ao estressor, ao qual o indivíduo não consegue se adaptar. Elevada pressão sanguínea pode ser considerada sinal de desregulação do SNA, enquanto que a hiper- ou hiposecreção de cortisol é um indicativo da desregulação do eixo HPA. Por outro lado, as respostas desencadeadas pelo estímulo estressor podem ser reguladas por complexos Medicina 5° P Karollyne Santos mecanismos de feedback frente aos mediadores neuroendócrinos. O eixo HPA e o SNA são vias neuroendócrinas ativadas em resposta ao estresse e controlam o sistema imune através da liberação de hormônios resultantes de sua ativação, como os glicocorticóides e as catecolaminas, respectivamente. No entanto, há outros fatores neuroendócrinos envolvidos durante o estresse, também capazes de regular o sistema imune. A prolactina é um hormônio secretado a partir da glândula pituitária anterior, e, embora tenha como funções principais o desenvolvimento das glândulas mamárias e a iniciação e manutenção da lactação, receptores para prolactina (PRLR) encontram-se amplamente distribuídos em diferentes sítios extrapituitários, como as células imunes. Há evidências de que a produção e a liberação de prolactina podem ser reguladas por receptores para dopamina presentes em linfócitos Considerações finais A resposta ao estresse é um mecanismo evolutivo de extrema importância para a sobrevivência do indivíduo. Esta resposta não consiste de um só fenômeno e sim de diversos efeitos fisiológicos, os quais envolvem a participação de diferentes sistemas: nervoso, endócrino e o imunológico, na tentativa de manter a homeostase do organismo perturbada pelo estímulo estressor. A manutenção da homeostase é importante, uma vez que é necessária para o bom e normal funcionamento do organismo, já que, em desequilíbrio, pode resultar em doenças. As doenças são desencadeadas pelo desequilíbrio causado pela ativação imprópria (tanto exacerbada quanto de intensidade abaixo do normal) do sistema neuroendócrino,refletindo no funcionamento e atividade do sistema imune. Esta disfunção é principalmente caracterizada pelo desequilíbrio do padrão de produção das citocinas produzidas, e os glicocorticoides e as catecolaminas liberados durante o estresse têm sido considerados os principais indutores deste desequilíbrio imune, uma vez que, quando liberados em altas concentrações, podem inibir a resposta Th1, levando à ocorrência de doenças autoimunes, depressão e câncer. Por outro lado, quando produzidos em níveis abaixo do basal, ocorre prevalência da produção de citocinas Th2, favorecendo, deste modo, doenças alérgicas e infecciosas. Ademais, administração de citocinas (anti- ou pró-inflamatórias) e a utilização de produtos naturais têm sido investigadas, por exercerem atividades imunomodulatórias. Isso se deve a inegável importância do fator psicológico em relação ao comportamento do organismo frente à situação de estresse. Não se pode esquecer quão importante é o estresse para a garantia da nossa sobrevivência, somente passando a ser um fator de risco quando o organismo não consegue adaptar-se frente ao estímulo estressor. Muitas terapias relaxantes, como massagens, prática de esportes, dentre outras, estão sendo cada vez mais empregadas e procuradas pelas pessoas nos dias atuais como medidas preventivas contra os males do estresse. Escutando quem cuida: quando o cuidado afeta a saúde do cuidador em saúde mental- Revista de psicologia e saúde Nas últimas décadas, o grande aumento na incidência do envelhecimento, associado a doenças crônicas e degenerativas, tem despertado a atenção de pesquisadores para evidenciar o contexto familiar e o novo lócus do cuidado. No Brasil, a transição demográfica e a transição epidemiológica apresentam, cada vez mais, quadro de sobrevivência de idosos na dependência de uma ou mais pessoas que supram as suas incapacidades para a realização das atividades de vida diária. Sentimentos de desespero, cansaço, ansiedade, angústia, desamparo são frequentes em famílias de cuidadores de doentes crônicos e graves Impacto ou sobrecarga é definido como o estado psicológico que resulta da combinação de trabalho físico, tensão emocional, restrição social e dificuldades financeiras, provenientes da atividade de cuidar, Medicina 5° P Karollyne Santos consequências essas provenientes de práticas variadas e de demandas emocionais do cuidado O cuidado é uma representação de atitudes, de preocupação, de responsabilidade e de envolvimento. No caso de idosos, espera-se que haja alguém capaz de desenvolver ações de ajuda naquilo que esses não podem realizar por si só, assumindo responsabilidades de dar apoio e ajuda para satisfazer suas necessidades, visando a melhoria da condição de vida. Desempenhar a tarefa de cuidar do idoso no domicílio, no entanto, deflagra diferentes sentimentos que são vivenciados pelos cuidadores diariamente. O cotidiano do cuidado favorece o surgimento de sentimentos de insatisfação por parte do cuidador e a manifestação do seu descontentamento, entre outros motivos, podendo produzir situações de conflito entre ele e o familiar. Cuidando de cuidadores: uma necessidade de compromisso e preocupação política de proteção social. A literatura revela que muitos cuidadores não se veem como tal, isto é, não se reconhecem como ocupantes de um papel social. Ao contrário, veem suas ações como extensão das relações pessoais e familiares. Se pode afirmar que a atividade de cuidar tende a erodir a vida do cuidador, acarretando agravos significativos em sua saúde física e mental, e se considerando que essa atividade, além do cuidado, deva proporcionar bem-estar ao paciente, quais têm sido os investimentos em proteção e instrumentalização desse cuidador?
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