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CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM MOTORA Patrick da Silveira Gonçalves Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Apontar as principais características das diferentes teorias do desen- volvimento humano. � Comparar o desenvolvimento humano a partir das teorias motora, cognitiva, afetiva e social. � Definir desenvolvimento afetivo e suas características. Introdução As transformações que ocorrem ao longo do período do ciclo vital e que aumentam ou diminuem as capacidades funcionais são denominadas desenvolvimento. Essas modificações ocorrem em diversas dimensões do ser humano, como os aspectos físicos, motores, sociais e afetivos, e se apresentam de diferentes formas, dependendo de fatores genéticos relacionados aos estímulos ambientais ou às histórias de vida e contexto que permeiam cada um dos indivíduos. Para evidenciar os processos de desenvolvimento humano, muitos teóricos buscaram compreender as modificações que os sujeitos apre- sentam em cada uma de suas dimensões. Neste capítulo, você estudará algumas das principais teorias do desenvolvimento motor, além de com- preender aspectos gerais do desenvolvimento humano de acordo com as teorias motoras, cognitivas, afetivas e sociais. Você compreenderá, também, algumas das características e conceitos acerca do desenvolvi- mento afetivo de seres humanos. Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Teorias do desenvolvimento humano O desenvolvimento pode ser definido como uma série de mudanças que ocorrem durante a vida de todos os seres vivos. Essas mudanças podem ser observadas a partir de diversas óticas, como na maturação fisiológica, nas mudanças comportamentais e por meio das habilidades cognitivas. Nos seres humanos, o interesse pelo desenvolvimento ganhou força a partir do início do século XIX, quando o debate científico sobre as experiências na infância e suas relações com as características inatas das crianças buscavam ser compreendidas por cientistas. Papalia, Olds e Feldman (2013) explicam que esse fenômeno surgiu após um menino com características selvagens aparecer nu e com feridas por todo o seu corpo em uma cidade no sul da França, em 1798. Após ser nomeado como Victor, o “Selvagem de Aveyron” (como foi apelidado em alusão à cidade e condições em que foi encontrado), a criança foi encaminhada para uma escola de surdos. Lá, despertou a curiosidade de um educador e estudante de medicina mental (o equivalente ao psiquiatria atualmente), Jean Marc Gaspard Itard, que o acolheu e o abrigou em sua casa, a fim de estudar os processos de domesticação de um menino que aparentava nunca ter vivido em uma sociedade civilizada. Após anos desenvolvendo seus métodos com Victor, Itard percebeu avan- ços em alguns aprendizados civilizatórios, como escrever poucas palavras e se vestir, por exemplo. No entanto, Victor jamais aprendeu a falar e sempre demonstrou maior motivação em correr em campos abertos e matas fechadas (como os animais selvagens), até morrer, por volta dos 40 anos. Outro fator observado foi a maior aceitação de tarefas estabelecidas e dirigidas, assim como o sentimento de orgulho e de necessidade de agradar quando em contato com a governanta Guérin, que o tratava com maior afetividade em relação a Itard. Em 1969, a história de Victor foi transformada em obra cinematográfica sob o título de “O Garoto Selvagem (L’enfant sauvage, no título original), dirigido por François Truffaut. Por um século, as teorias sobre a infância se desenvolveram e abriram espaço para as pesquisas e teorias ao longo da vida. Até o início do século XX, Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social2 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 a adolescência não era compreendida como uma fase separada da vida adulta, ou seja, a criança, tornava-se adulta à medida que seu corpo ganhava os vigores físicos característicos da nova fase e que a possibilitava exercer algum ofício. Os estudos promovidos pelo psicólogo Granville Stanley Hall, culminaram em um livro sobre a adolescência, no ano de 1904, que foi a primeira obra a retratar essa fase do desenvolvimento humano. Hall foi também o pioneiro nos estudos sobre o envelhecimento, produzindo uma obra voltada à senescência, em 1922. Contudo, a comunidade científica só voltou suas atenções ao envelhecimento na década de 1930, após a Uni- versidade de Stanford, nos Estados Unidos, dedicar uma unidade acadêmica voltada a esses processos (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Com o apoio das instituições científicas, muitos teóricos passaram a desenvolver seus estudos na tentativa de compreender como os seres humanos se desen- volviam, acompanhando os sujeitos desde o seu nascimento até a velhice, em estudos longitudinais. Você verá algumas das principais características das teorias que tiveram relevância nas pretensões de compreender e explicar o desenvolvimento humano a seguir. Os teóricos que buscaram estudar o desenvolvimento humano analisaram os aspectos físicos, cognitivos e psicossociais de forma indissociada. No entanto, seus estudos geralmente apontavam para uma dessas dimensões, ressaltando-a no processo de desenvolvimento. Teoria do desenvolvimento psicossexual — Freud Muitas das teorias atuais possuem influências da teoria psicanalítica desenvol- vida por Sigmund Freud (1856-1939) que, por sua vez, foi influenciado pelas teorias evolucionistas de Charles Darwin (COUTO, 2017). Ainda que suas teorias não tenham se centrado especificamente nos processos de desenvol- vimento, mas sim em aspectos relacionados à formação da personalidade e dos funcionamentos psíquicos anormais, Freud propôs que os seres humanos passam por estágios psicossexuais cujas bases são as atividades motoras e as sensações físicas. 3Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 A teoria freudiana apresenta a formação da personalidade a partir de três dimensões do aparelho psíquico: o id, uma fonte inconsciente de busca de prazer, de motivos, de desejos e paixões; o ego, que busca realizar uma ade- quação permanente entre o que os instintos almejam e aquilo que é eticamente correto; e o superego, uma forma contrária ao id, que produz a internalização dos pensamentos éticos e morais. A partir dessa tríade, Freud propõe que os estágios psicossexuais se apresentem a partir de conflitos e experiências que os sujeitos vão vivenciando, que os permitem seguir e fundamentam a fase seguinte. Com isso, Freud aborda que o desenvolvimento ocorre nos estágios oral, anal, fálico, latente e genital (COUTO, 2017). No estágio oral, que se estende até o primeiro ano de vida, a boca é a prin- cipal zona erógena, uma vez que as fontes de prazer estão no ato de mamar e de se alimentar. O principal conflito é o desmame, em que os indivíduos devem se afastar do contato contínuo de suas fontes de prazer. Já no estágio anal, de 1 a 3 anos, o foco da libido se encontra na bexiga e na evacuação. O principal desafio é o controle das necessidades corporais, formadoras das sensações de controle e independência. O estágio fálico, aproximadamente entre os 3 e 6 anos, tem o foco da libido nos órgãos genitais, é quando a criança começa a perceber a presença do “falo” (pênis). Freud expunha que o principal desafio nessa fase era lidar com o medo da castração para os meninos e o desejo de possuir um pênis e, para as meninas, o desejo em adquiri-lo (COUTO, 2017). No estágio latente, que dura até a puberdade, o ego e o superego mais desenvolvidos contribuem para uma inibição da libido. A energia sexual é transferida paras as atividades socializadoras e intelectuais. Trata-se, portanto, de uma pausa para a transição do desenvolvimento psicossexual. Por último, no estágio genital, as funções da libidoatendem a um caráter reprodutivo. Nesse momento, o grande desafio é a desvinculação dos pais e a busca por um objeto de amor do mundo externo. Teoria do desenvolvimento psicossocial — Erikson As teorias de Freud serviram de influências para os estudos de Erik Erikson (1902-1994), seu aluno. No entanto, Erikson se opôs a algumas características freudianas por não considerar aspectos relativos às contribuições que o meio em que cada indivíduo está inserido exercem no desenvolvimento. Com isso, Erikson se concentrou nas influências que a sociedade exerce, estabelecendo consequências a partir das influências sociais e afetivas ocorridas ao longo da Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social4 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 vida, em vez do sexo. A teoria psicossocial de Erikson envolve oito estágios, em que os fatores ambientais exercem maior influência do que a hereditariedade no ciclo da vida humana, se apresentando de forma sequencial, conforme o avanço dos estímulos sociais e dos aspectos referentes às experiências (GALLAHUE; OZMUN, 2013). O equilíbrio entre os sentimentos experimentados durante as fases da vida é fundamental para o desenvolvimento. No primeiro estágio, há a experimentação de confiança versus descon- fiança, em que o desenvolvimento se baseia na confiança que a criança adquire por seus cuidadores. O processo inverso, a desconfiança, pode comprometer a segurança do indivíduo em se posicionar frente ao mundo. A partir do primeiro ano de vida, toma forma o estágio de autonomia versus vergonha e dúvida, cujo desenvolvimento parte do orgulho em conseguir controlar o próprio corpo e fazer coisas básicas, como se alimentar. O sentimento contrário, quando em excesso, provoca sensações de inadequação e insegurança. Entre 3 e 5 anos, surge o estágio de iniciativa versus culpa, no qual as crianças desenvolvem o seu poder de iniciativa junto a outras crianças, liderando e propondo jogos. Caso esses objetivos não sejam atingidos, passam por sentimentos de dúvida de si e de falta de iniciativa (GALLAHUE; OZMUN, 2013). A segunda metade da infância é caracterizada pelo estágio de produtividade versus inferioridade, que se mostra a partir do orgulho em dominar certas habilidades e realizar sua exposição para os outros sujeitos. As crianças que recebem pouco estímulo social passam a se sentir inferiores às demais. A chegada da adolescência pode ser um tanto confusa, sendo caracterizada pelo estágio de identidade versus confusão de identidade, que se constitui a partir das descobertas sobre os próprios interesses e de sua valorização. As pessoas que recebem o estímulo necessário se tornam seguras de si mesmas e de suas escolhas, mas as que não, podem apresentar um sentimento de insegurança em relação ao futuro. O início da vida adulta se dá a partir do estágio de intimidade versus isolamento, no qual o êxito ocorre a partir do estabelecimento de relações estreitas com outras pessoas, favorecendo as relações íntimas. No decorrer da vida adulta, ocorre o estágio de generatividade versus estagnação, em que os sentimentos de contribuição e atividade social devem prevalecer; caso contrário, os indivíduos adultos são tomados por sentimentos de improduti- vidade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Por último, na velhice, há o estágio de integridade versus desespero, no qual o sentimento de que a vida valeu a pena e que muitos objetivos foram alcançados para o bem social devem prevalecer. Os indivíduos mal sucedidos nessa fase costumam experimentar diversos arrependimentos e medo de morrer. 5Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Teoria do marco desenvolvimentista — Piaget Uma das teorias mais populares atualmente é a postulada por Jean Piaget (1896-1980), que buscou caracterizar as fases de desenvolvimento a partir da cognição. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo ocorre em um processo cíclico envolvendo a acomodação, a assimilação e a adaptação (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Antes de descrever esse processo, no entanto, é necessário relembrar que a teoria de Piaget considera que toda criança já tem conhecimen- tos cognitivos intrínsecos a ela, mesmo que sejam básicos reconhecimentos de padrões, os quais são chamados de esquemas. Considerando a criança em um estágio inicial de aprendizagem, com o repertório de esquemas cognitivos que possui, podemos dizer que ela está equilibrada. Por exemplo, ela possui um esquema que, ao identificar um objeto esférico, grande e de textura de couro, classifica este objeto como uma bola. De repente, o professor de educação física apresenta à criança um novo objeto, uma bola de futebol americano. Diante desse novo estímulo, a criança busca uma associação com seus esquemas prévios e encontra similaridades deste esquema (características que definem uma bola) com o novo objeto (bola de futebol americano), processo denominado assimilação. Após esse processo de assimilação, ocorre uma percepção (muitas vezes ocorre com intermédio de um professor), em que a criança percebe que se trata de um objeto diferente do que ela conhecia até então, que tem formato, textura e peso diferentes; logo, o esquema prévio que ela possuía já não é suficiente para compreender esse novo objeto. A partir da identificação dessas diferenças, ela constrói um novo esquema cognitivo, que agora possibilita o reconhecimento e a diferen- ciação de uma bola de futebol e uma bola de futebol americano. A construção desse esquema é o processo chamado acomodação, que são os ajustes das respostas atuais a fim de atender demandas específicas de um objeto. Esses dois processos que atuam em conjunto (assimilação e acomodação) são as etapas que compõem a adaptação, termo que posteriormente foi modificado por Piaget para equilibração, e pode ser definido como os ajustes cognitivos à mudança do ambiente. Podemos pensar esse ciclo de aprendizagem não só através do reconheci- mento de um objeto, mas também baseado em uma ação. Imagine que um jovem pré-adolescente já costuma jogar futebol e futsal como goleiro, ou seja, possui esquemas cognitivos que o permitem racionalizar como uma bola se comporta no ar e reagir de forma a fazer contato com essa bola, agarrando-a. Ao possuir esquema de reconhecimento de trajetória, velocidade, oscilação, bem como os gestos motores que precisam ser feitos para agarrar uma bola de futebol, o Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social6 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 jovem está adaptado a aquela ação motora. De repente, em uma nova unidade didática da disciplina de educação física, seu professor apresenta o futebol americano. Considerando que o esporte envolve lançamentos do quarterback para os recebedores, o aluno imagina que terá sucesso com muita facilidade nesta nova modalidade por conta de seus esquemas prévios, ou seja, ele realiza inicialmente uma assimilação, pois nas duas ações existem similaridades, como a junção da coordenação espaço-temporal para calcular a trajetória da bola e a coordenação óculo-manual para perceber a bola se aproximando e agarrá-la. Porém, quando o aluno executa a ação de se deslocar e receber um lançamento, o aluno é exposto a um novo estímulo, afinal, a bola de futebol americano flutua no ar de uma maneira diferente, com velocidade e trajetória diferentes das observadas na bola de futebol, além de ter também um formato diferente, o que impactará no posicionamento de suas mãos para agarrar a bola no ar, portanto, logo ele percebe que seus esquemas previamente construídos não serão capazes de resolver esse problema. Há, então, a necessidade de construir um novo esquema para adequar-se às características diferentes da bola de futebol americano. Após diversas ações realizadas, o aluno percebe as particularidades dessa ação motora e ocorre o processo de acomodação, istoé, o estudante agora tem um esquema que o permite calcular a trajetória de uma bola de futebol americano e executar a ação motora de agarrá-la. Assim, há a construção e consolidação de um novo esquema cognitivo, que torna o aluno hábil em desempenhar a função de goleiro no futebol, bem como a função de recebedor no futebol americano, ou seja, houve uma adaptação. Para entender melhor os conceitos de acomodação e assimilação, imagine que você deu uma bola (ou qualquer outro objeto) para uma criança que nunca manipulou esse brinquedo. Em um primeiro momento, ela irá explorar o objeto, tentando retirar diversas informações a respeito da bola (tamanho, textura, peso, resistência, etc.). Este é o processo de acomodação. Após o primeiro contato com essas novas informações, ela poderá, de modo espontâneo, brincar de diversas formas, como quicar e agarrar a bola, já tendo consolidado o processo de assimilação. No mesmo estilo dos teóricos anteriores, Piaget elaborou fases de de- senvolvimento. No entanto, suas teorias apontaram para a importância das atividades físicas, em específico os jogos na construção do desenvolvimento 7Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 da cognição. Com isso, os estágios do desenvolvimento são separados nas fases sensório-motora, do pensamento pré-operacional, das operações concretas e das operações formais. Na fase sensório-motora, que se estende até os 2 anos, a criança cons- trói os significados do seu mundo a partir das experimentações motoras e sensoriais, que são possíveis com os movimentos. Na fase do pensamento pré-operacional, que ocorre entre 2 e 7 anos, há uma ligação simbólica do seu mundo com as palavras e com as imagens. A atividade física é utilizada para realizar os processos cognitivos. Na fase das operações concretas, entre 7 e 11 anos, as crianças conseguem raciocinar sobre eventos e objetos concretos, realizando a classificação e o pareamento com outros eventos, objetos e seres que já conhece. Por último, a fase das operações formais, que se dá a partir dos 11 anos, o adolescente consegue deduzir e formular hipóteses abstratas a partir de processos de raciocínio mais complexos (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Com isso, você pode perceber que muitos teóricos apresentaram diversas formulações acerca do desenvolvimento humano. Contudo, não existe uma teoria completamente correta ou equivocada, mas diferentes perspectivas de descrever e interpretar o fenômeno do desenvolvimento. Embora alguns teóricos tenham ganhado destaque ao longo da história, não podemos esquecer que muitas outras teorias apresentam considerações relevantes sobre este tema. A psicologia da Gestalt, por exemplo, propôs que o desenvolvimento está baseado nas estruturas biológicas que vamos conseguindo utilizar ao longo da vida. Já o Behaviorismo traduzia os aprendizados como as percepções que ocorriam por meio dos estímulos e das respostas. A psicologia da Gestalt, na qual seus pesquisadores expunham que o desenvolvimento está baseado nas estruturas biológicas que vamos conseguindo utilizar ao longo da vida; o Behaviorismo, que traduzia os aprendizados como as percepções que ocorriam por meio dos estímulos e das respostas; e o sociointeracionismo de Vygotsky, que buscava compreender o desenvolvimento baseado nas relações sociais e culturais que os indivíduos construíam, entre tantas outras perspectivas, são fundamentais para compreender o desenvolvimento humano (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013). Sem dúvida, as teorias que surgem atualmente sofrem influências de um ou mais teóricos no intuito de explicar o desenvol- vimento nas mais diversas dimensões humanas. Na seção a seguir, você verá uma breve análise do desenvolvimento humano a partir dos aspectos físicos e motores, cognitivos e psicossociais. Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social8 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Desenvolvimento humano nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social As contribuições que os estudos tiveram para a ciência do desenvolvimento humano permitiram a elaboração das ideias acerca das diversas influências que podem estar relacionadas a fatores como os períodos histórico-sociais em que a criança se desenvolveu. De modo geral, essas investigações evidenciaram que o processo de desenvolvimento se dá ao longo da existência dos indiví- duos, gerando a ideia de desenvolvimento do ciclo vital. Nesse conceito, o desenvolvimento é vitalício e cumulativo, ou seja, todos os fenômenos que cada um dos sujeitos experimenta em seu desenvolvimento são fruto de eventos passados e constituem marcas para os eventos futuros. Com isso, Papalia, Olds e Feldman (2013) apresentam algumas características relevantes sobre o desenvolvimento humano. Veja a seguir. � Desenvolvimento depende da história e do contexto: indivíduos com histórias de vida e localizados em contextos diferentes tendem a apresentar desenvolvimento desigual. Por exemplo, crianças que nascem e vivem em condições de vulnerabilidade social, com condi- ções de alimentação inadequadas, possivelmente irão apresentar um desenvolvimento físico e cognitivo menor do que aquelas que possuem condições adequadas. � Desenvolvimento é multidimensional e multidirecional: o desenvol- vimento ocorre o tempo todo e em todas as dimensões humanas e de forma conjunta, ou seja, uma dimensão afeta a outra. Apresenta mo- mentos de grande aumento, de estabilização e de declínio. Por exemplo, crianças desenvolvem-se adquirindo capacidades cognitivas, motoras, afetivas e sociais nos seus primeiros anos de vida.; já no início da fase adulta, algumas capacidades tendem a se estabelecer; e, quando idosos, há um declínio, sobretudo, dos aspectos físicos, como declínios no desenvolvimento cognitivo por meio da evolução das demências, como o Alzheimer, ainda que o vocabulário possa continuar evoluindo. � Desenvolvimento é flexível e plástico: muitas das capacidades funcio- nais são passíveis de modificações e aperfeiçoamento ao longo da vida dos indivíduos. Em idades avançadas, por exemplo, é possível melhorar as capacidades de força, memória e atenção. No entanto, quanto mais se avança na evolução de capacidades, menor é a amplitude de suas possíveis modificações, ou seja, a evolução das capacidades tem limites, mesmo em crianças pequenas. 9Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Assim, você pode perceber que a transformação ocorre o tempo todo em todas as dimensões do ser humano. No entanto, embora muitos teóricos tenham analisado o desenvolvimento humano a partir da totalidade humana, eles geralmente se dedicaram a apontar características que ressaltam os as- pectos do desenvolvimento motor, cognitivo, social ou afetivo. O Quadro 1 apresenta as principais características do desenvolvimento humano em suas diversas dimensões. Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social10 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Fa ix a et ár ia M ot or Co gn it iv o So ci al e a fe ti vo Pe río do p ré -n at al (d a co nc ep çã o ao n as ci m en to ) A do ta çã o ge né tic a in te ra ge c om a s in flu ên ci as a m bi en ta is de sd e o in íc io . Fo rm am -s e as e st ru tu ra s e o s ór gã os c or po ra is bá sic os . In ic ia -s e o cr es ci m en to c er eb ra l. O c re sc im en to fí sic o é o m ai s rá pi do d e to do o c ic lo v ita l. O fe to o uv e e re sp on de a es tím ul os s en só rio s. A vu ln er ab ili da de a in flu ên ci as am bi en ta is é gr an de . A s c ap ac id ad es d e ap re nd er e le m br ar e st ão p re se nt es du ra nt e a et ap a fe tal. O fe to re sp on de à v oz d a m ãe e d es en vo lv e um a pr ef er ên ci a po r e la . Pr im ei ra in fâ nc ia (d o na sc im en to ao s 3 a no s) To do s o s s en tid os fu nc io na m n o na sc im en to e m g ra us v ar ia do s. O c ér eb ro p as sa p or u m a um en to de c om pl ex id ad e e é al ta m en te se ns ív el à in flu ên ci a am bi en ta l. O c re sc im en to e o d es en vo lv im en to fí sic o da s h ab ili da de s m ot or as s ão rá pi do s. A s c ap ac id ad es d e ap re nd er e le m br ar e st ão p re se nt es , i nc lu siv e na s p rim ei ra s s em an as . O u so d e sím bo lo s e a c ap ac id ad e de re so lv er p ro bl em as d es en vo lv em -s e ao fi na l d o se gu nd o an o de v id a. A co m pr ee ns ão e o u so d a lin gu ag em d es en vo lv em -s e ra pi da m en te . D es en vo lv e- se u m a pe go ao s p ai s e a o ut ra s p es so as . D es en vo lv e- se a au to co ns ci ên ci a. O co rr e um a m ud an ça d a de pe nd ên ci a pa ra a a ut on om ia . Au m en ta o in te re ss e po r o ut ra s c ria nç as . Q ua dr o 1. D es en vo lv im en to h um an o na s d im en sõ es fí sic a e m ot or a, c og ni tiv a, s oc ia l e a fe tiv a (C on tin ua ) 11Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Q ua dr o 1. D es en vo lv im en to h um an o na s d im en sõ es fí sic a e m ot or a, c og ni tiv a, s oc ia l e a fe tiv a Fa ix a et ár ia M ot or Co gn it iv o So ci al e a fe ti vo Se gu nd a in fâ nc ia (d os 3 a os 6 a no s) O c re sc im en to é c on st an te ; o c or po fic a m ai s d el ga do e a s p ro po rç õe s m ai s s em el ha nt es a s d o um a du lto . O a pe tit e di m in ui e o s p ro bl em as de s on o sã o co m un s. A pr ef er ên ci a pe lo u so d e um a da s m ão s a pa re ce ; a s h ab ili da de s m ot or as fin as e g er ai s e a fo rç a au m en ta m . O p en sa m en to é u m p ou co eg oc ên tr ic o, m as a c om pr ee ns ão do p on to d e vi st a da s o ut ra s pe ss oa s a um en ta . A im at ur id ad e co gn iti va le va a a lg um as id ei as iló gi ca s s ob re o m un do . A m em ór ia e a li ng ua ge m se a pe rf ei ço am . A in te lig ên ci a to rn a- se m ai s p re vi sív el . O a ut oc on ce ito e a co m pr ee ns ão d as e m oç õe s to rn am -s e m ai s c om pl ex os ; a au to es tim a é gl ob al . Au m en ta m a in de pe nd ên ci a, a in ic ia tiv a, o a ut oc on tro le e os c ui da do s c on sig o m es m o. D es en vo lv e- se a id en tid ad e de g ên er o. O b rin ca r t or na -s e m ai s im ag in at iv o, c om pl ex o e so ci al . Al tr uí sm o, a gr es sã o e te m or es sã o co m un s. A fa m íli a ai nd a é o fo co d a vi da so ci al , m as a s o ut ra s c ria nç as to rn am -s e m ai s i m po rt an te s. Fr eq ue nt ar a p ré - -e sc ol a é co m um . (C on tin ua ) (C on tin ua çã o) Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social12 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Q ua dr o 1. D es en vo lv im en to h um an o na s d im en sõ es fí sic a e m ot or a, c og ni tiv a, s oc ia l e a fe tiv a Fa ix a et ár ia M ot or Co gn it iv o So ci al e a fe ti vo Te rc ei ra in fâ nc ia (d os 6 a os 11 a no s) A ta xa d e cr es ci m en to d im in ui . Fo rç a e ha bi lid ad es a tlé tic as a um en ta m . D oe nç as re sp ira tó ria s s ão c om un s, m as a sa úd e ge ra lm en te é m el ho r d o qu e em qu al qu er o ut ro p er ío do d o ci cl o vi ta l. O e go ce nt ris m o di m in ui . A s cr ia nç as c om eç am a p en sa r c om ló gi ca , m as d e m an ei ra c on cr et a. A s h ab ili da de s d e m em ór ia e lin gu ag em a um en ta m . O s d es en vo lv im en to s c og ni tiv os pe rm ite m q ue a s c ria nç as s e be ne fic ie m c om a e du ca çã o es co la r. Al gu m as c ria nç as a pr es en ta m ne ce ss id ad es e ta le nt os ed uc ac io na is es pe ci ai s. O a ut oc on ce ito to rn a- se m ai s co m pl ex o, in flu en ci an do a au to es tim a. A co rr eg ul aç ão re fle te a tr an sf er ên ci a gr ad ua l d e co nt ro le d os p ai s p ar a a cr ia nç a. O s a m ig os a ss um em im po rt ân ci a ce nt ra l. Ad ol es cê nc ia (d os 11 a os 2 0 an os , ap ro xi m ad am en te ) O c re sc im en to fí sic o e ou tr as m ud an ça s s ão rá pi da s e p ro fu nd as . O co rr e m at ur id ad e re pr od ut iv a. Q ue st õe s c om po rt am en ta is, c om o tr an st or no s a lim en ta re s e a bu so d e dr og as , tr az em im po rt an te s r isc os à s aú de . D es en vo lv e- se a c ap ac id ad e de pe ns ar e m te rm os a bs tr at os e ut ili za r o ra ci oc ín io c ie nt ífi co . O p en sa m en to im at ur o pe rs ist e em a lg um as a tit ud es e e m al gu ns c om po rt am en to s. A ed uc aç ão s e co nc en tr a na pr ep ar aç ão p ar a a fa cu ld ad e ou p ar a a vi da p ro fis sio na l. A bu sc a de id en tid ad e, in cl ui nd o a id en tid ad e se xu al , t or na -s e ce nt ra l. Re la ci on am en to s c om o s pa is sã o, e m g er al , b on s. O s g ru po s d e am ig os aj ud am a d es en vo lv er e te st ar o a ut oc on ce ito , m as ta m bé m p od em e xe rc er um a in flu ên ci a an tis so ci al . (C on tin ua ) (C on tin ua çã o) 13Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Q ua dr o 1. D es en vo lv im en to h um an o na s d im en sõ es fí sic a e m ot or a, c og ni tiv a, s oc ia l e a fe tiv a Fa ix a et ár ia M ot or Co gn it iv o So ci al e a fe ti vo Jo ve m a du lto (d os 20 a os 4 0 an os ) A co nd iç ão fí sic a at in ge o m áx im o, de po is di m in ui li ge ira m en te . A s e sc ol ha s d e es til o de v id a in flu en ci am a s aú de . A s c ap ac id ad es c og ni tiv as e o s ju lg am en to s m or ai s a ss um em m ai or c om pl ex id ad e. Es co lh as e du ca ci on ai s e pr of iss io na is sã o fe ita s. O s t ra ço s e o s e st ilo s d e pe rs on al id ad e to rn am -s e re la tiv am en te e st áv ei s, m as a s m ud an ça s n a pe rs on al id ad e po de m s er in flu en ci ad as p el as et ap as e p el os e ve nt os d e vi da . To m am -s e de ci sõ es s ob re o s re la ci on am en to s í nt im os e os e st ilo s d e vi da p es so ai s. A m ai or ia d as p es so as ca sa -s e e te m fi lh os . M ei a id ad e (d os 40 a os 6 0 an os ) Po de o co rr er a lg um a de te rio ra çã o da s c ap acid ad es s en só ria s, da sa úd e, d o vi go r e d a de st re za . Pa ra a s m ul he re s, ch eg a a m en op au sa . A m ai or ia d as c ap ac id ad es m en ta is at in ge o m áx im o; a p er íc ia e a s ca pa ci da de s d e re so lu çã o de pr ob le m as p rá tic os s ão a ce nt ua da s. O re nd im en to c ria tiv o po de d im in ui r, m as m el ho ra e m q ua lid ad e. Pa ra a lg un s, o êx ito n a ca rr ei ra e o su ce ss o fin an ce iro a lc an ça m o m áx im o; p ar a ou tr os , p od em oc or re r e sg ot am en to to ta l ou m ud an ça p ro fis sio na l. O s en so d e id en tid ad e co nt in ua s e de se nv ol ve nd o; po de o co rr er u m a tr an siç ão de m ei a- id ad e es tr es sa nt e. A du pl a re sp on sa bi lid ad e de cu id ar d os fi lh os e d os p ai s id os os p od e ca us ar e st re ss e. A sa íd a do s f ilh os d ei xa o ni nh o va zi o. (C on tin ua ) (C on tin ua çã o) Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social14 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Fi gu ra 8 .1 R ep re se nt aç ão e sq ue m át ic a do c ic lo c el ul ar . Fa ix a et ár ia M ot or Co gn it iv o So ci al e a fe ti vo Te rc ei ra id ad e (d os 6 0 an os em d ia nt e) A m ai or ia d as p es so as é s au dá ve l e at iv a, e m bo ra a s aú de e a s c ap ac id ad es fís ic as d im in ua m u m p ou co . O te m po d e re aç ão m ai s l en to a fe ta a lg un s as pe ct os d o fu nc io na m en to m ot or . A m ai or ia d as p es so as é m en ta lm en te a le rt a. Em bo ra a in te lig ên ci a e a m em ór ia po ss am s e de te rio ra r e m a lg um as ár ea s, a m ai or ia d as p es so as en co nt ra fo rm as d e co m pe ns aç ão . A ap os en ta do ria p od e of er ec er no va s o pç õe s p ar a a ut ili za çã o do te m po , m as ta m bé m p od e ca us ar a se ns aç ão d e in ut ili da de e de p er da d e fu nç ão so ci al . P or ex em pl o, a p es so a qu e an te s er a co nh ec id a co m o “Jo ão , o pr of es so r d e ed uc aç ão fí sic a” e as su m ia to do s o s r ót ul os q ue es se “t ítu lo ” c ar re ga , p as sa a se r ap en as “J oã o, o a po se na do ”. A s p es so as p re ci sa m en fre nt ar a s p er da s p es so ai s e a m or te im in en te . O s r el ac io na m en to s c om a fa m íli a e co m o s a m ig os ín tim os po de o fe re ce r a po io im po rt an te . A bu sc a de si gn ifi ca do n a vi da as su m e im po rt ân ci a ce nt ra l.(C on tin ua çã o) Fo nt e: A da pt ad o de P ap al ia , O ld s e F el dm an (2 01 3, p , 4 0- 41 ). 15Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Assim, para cada fase da vida, algumas características se tornam mais evidentes, frutos das transformações contínuas e graduais que ocorrem ao longo do ciclo da vida. É importante ressaltar que essas características são bastante subjetivas, isto é, ainda que haja uma aproximação nas oito fases etárias geralmente encontradas na literatura, nem sempre indivíduos da mesma idade apresentarão as mesmas características, pois sofrem influências dos estímulos aos quais são exposto ao longo da vida. Nesse sentido, os processos de desenvolvimento sofrem influências de aspectos afetivos, os quais serão discutidos na próxima seção. Conceitos e características do desenvolvimento afetivo Como discutido até aqui, o desenvolvimento motor foi estudado por diversos teóricos que buscaram compreender como o ser humano se desenvolve, dando ênfases para algumas dimensões específicas. Portanto, é bastante difícil eleger teorias que possam abordar de forma integral a complexidade do desenvol- vimento humano. No entanto, algumas parecem ganhar mais evidência, à medida que são incorporadas aos processos de compreensão dos ambientes sociais comumente frequentados. O link e o código a seguir mostram o papel da afetividade e da conduta humana na perspectiva de Jean Piaget. https://goo.gl/hoVURV Além da de Piaget, uma das principais teorias que enfatiza o desenvol- vimento afetivo ao longo do ciclo da vida foi proposta por Henri Wallon (1879-1962), que indicou que a primeira forma de interação dos seres humanos com o meio ambiente se dá a partir da afetividade. Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social16 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 O enfoque teórico em determinadas dimensões não exclui os outros pro- cessos na construção dos sujeitos. Nesse sentido, Wallon (1985, p. 135) explica que “os domínios funcionais entre os quais se dividirão o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhe- cimento e da pessoa”. O conjunto dos domínios afetivos ocorre por meio das emoções, dos sentimentos e da paixão; o conjunto de domínio motor oferece as possibilidades de deslocamento biológicas, possibilitando movimentos que permitem a expressão da afetividade; o conjunto do domínio do conhecimento, que expressa a cognição, representa o domínio de símbolos e linguagens que possibilitam a compreensão e a expressão de eventos passados e presentes, fornecendo subsídios para os eventos futuros; e o domínio da pessoa indica a integração dos sujeitos em todas as suas possibilidades. Assim, a afetividade se propõe a dar início a todos os domínios que são necessários para o desenvolvimento humano. O conceito de afetividade tra- balhado por Wallon se refere à capacidade que qualquer ser humano tem de ser afetado pelo mundo interno ou externo por meio de sensações agradáveis ou desagradáveis (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). A afetividade evolui em três momentos distintos, sendo eles a emoção, o sentimento e a paixão. � Emoção: é a representação corporal e motora da afetividade. Surge no início da vida, por meio dos espasmos dos bebês recém-nascidos, que causam sensações de bem-estar ou mal-estar, constituindo a primeira ligação entre o ser orgânico e ser social. As emoções como medo, alegria, riso, choro sugerem padrões corporais específicos nos sujeitos ao longo de suas vidas, podendo ser contagiosos, por exemplo, os risos coletivos. A emoção é importante para o desenvolvimento mental, uma vez que processos cognitivos são desencadeados para regular as alterações musculares e viscerais que são exercidas. � Sentimento: ao contrário da emoção, o sentimento não se dá de forma instantânea e corporal, mas como expressões dotadas de motivos e circunstâncias. Portanto, sua base é psicológica. É introspectivo e re- presentacional, ou seja, os sentimentos são liberados após a reflexão do sujeito, que o guia de forma a identificar onde, quando e como deve se expressar. Surge junto com o simbolismo na primeira infância. � Paixão: é caracterizada por formas de expressões individuais, como o ciúmes, a exclusividade e as exigências, surgindo entre 3 e 6 anos (está- gio do personalismo), quando a criança já adquire algum autocontrole. 17Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Para Wallon, a afetividade se constitui e se expressa por meio da integração psicomotora das sensibilidades interoceptiva, proprioceptiva e exteroceptiva (Figura 1). Figura 1. Sistemas de integração psicomotora. Fonte: Fonseca (2008, p. 21). SISTEMAS DEINTEGRAÇÃO PSICOMOTORA Exteroceptivos estabilidade emocional, consciência corporal e desenvolvimento práxico-simbólico Proprioceptivos Integração vestibular e tátil- cinestésica função postural, segurança gravitacional e emergência do EU Interoceptivos Re�exos neonatais perfeição da motilidade visceral diálogo tônico mãe-�lho insu�ciência motora A partir da presença de um ou mais desses momentos, o ser humano se desenvolve em seu ciclo vital, expressando a afetividade de maneiras diversas. Wallon classifica os estágios do desenvolvimento como sistemas completos, ou seja, todos eles apresentam todos os componentes constitutivos da pessoa (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Sua teoria está baseada nos papéis que a afetividade exerce em seis estágios da vida: impulsivo-emocional, sensório- -motor, projetivo, personalismo, categorial e puberdade e adolescência. Ainda que Wallon não tenha especificado uma idade para cada estágio, cada fase da vida será apresentada a seguir, tentando estabelecer idades próximas que estão presentes na literatura atual. Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social18 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 Estágio impulsivo-emocional Surge no nascimento e se estende até aproximadamente o primeiro ano de vida. Nessa fase, a criança apresenta movimentos descoordenados e, em sua maioria, desprovidos de intencionalidade racional. Assim, suas respostas afetivas dizem respeito às expressões emocionais que ocorrem por meio da sensibilidade muscular (sensibilidade proprioceptiva) e visceral (sensibilidade interoceptiva). É um movimento afetivo, portanto, de direção centrípeta, que vai para o conhecimento de si. A fusão com o outro, que geralmente ocorre com a mãe, indica ao bebê a sua principal aprendizagem, que vai na direção de entender o que é. Quando as primeiras palavras começam a ser dotadas de significados e a capacidade de locomoção aparece, a criança passa a participar ativamente do ambiente social ao qual pertence, permitindo que, aos poucos, o controle e a consciência corporal possibilitem a expressão de suas emoções. Estágio sensório-motor e projetivo A fase sensório-motora ocorre entre, aproximadamente, 12 e 18 meses de vida; já a fase projetiva, entre os 18 meses e os 3 anos. Nesse período, a marcha começa a se definir, permitindo que a criança possa se voltar à sensibilidade do mundo externo (sensibilidade exteroceptiva), explorando os diversos objetos e formando símbolos que representam o que são, para que servem e como se chamam (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Trata-se de um momento marcado por muitas indagações, ainda que não sejam exteriorizadas na capacidade da fala. Assim, o segundo estágio tem uma predominância dos domínios do co- nhecimento, em que a afetividade se demonstra em uma direção centrífuga (para a compreensão e expressão do mundo exterior). Há, nessa fase, o início da representatividade, por meio das imitações, dos mimetismos e dos simula- cros, que possibilitam o reconhecimento de si como algo diferente de outras pessoas e objetos. Estágio do personalismo O estágio do personalismo se estende dos 3 aos 6 anos, e é marcado pelo reconhecimento de outras pessoas, produzindo a análise e a diferenciação 19Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 dos sujeitos e a constituição de um sentimento de pertencimento aos grupos compostos por outras crianças. Com isso, a afetividade se expressa pelo re- conhecimento das diferenças entre os sujeitos. A direção da afetividade volta a ser centrípeta. Os desejos subjetivos são constituintes dessa fase, em que a própria vontade nem sempre prevalecerá, como geralmente ocorria nas fases anteriores. O sentimento de frustração pelas respostas negativas que parte dos desejos de outras crianças e de adultos são importantes para a formação afetiva. As rela- ções interpessoais são expressadas a partir de três características marcantes: a oposição aos outros sujeitos, a sedução de outros sujeitos para satisfazer suas vontades e a imitação de outros sujeitos, ampliando suas competências afetivas. Estágio categorial Esta fase está presente entre 6 e 11 anos. Como a linguagem já está bem-definida e o domínio dos símbolos já é bastante considerável, há a possibilidade de um maior conhecimento do mundo externo, evidenciando as abstrações do pensamento. Um dos principais desafios que as crianças conseguem atingir nesta fase é a inibição das ações motoras por meio da disciplina mental. O início da fase categorial é marcado por certo sincretismo, ou seja, uma dificuldade em categorizar as pessoas, os conceitos e os objetos (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Por volta dos 9 anos, a categorização é mais evidente e eficiente, permitindo que os pensamentos concretos organizem o mundo em que vive, no qual a criança passa a perceber o seu papel na sociedade, na relação com os outros sujeitos e com o seu meio. Portanto, as correlações permitem compreender os fenômenos sociais através por meio da racionalidade, e não apenas de um viés afetivo. Estágio da puberdade e adolescência A puberdade começa a acontecer por volta dos 11 anos. Por ser a última fase antes da vida adulta, a personalidade se solidifica. As mudanças corporais, potencializadas pelo amadurecimento biológico e sexual, produzem um de- sequilíbrio emocional e social, caracterizado na crise da adolescência. A adolescência é marcada pelo autoconhecimento, em que os sujeitos buscam responder, novamente, quem são e a que grupos pertencem, além das indagações a respeito do próprio futuro. Essa ruptura no desenvolvimento é Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social20 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 permeada por diversas emoções e sensações, fazendo a afetividade tomar novamente um papel importante na construção dos sujeitos. Na busca da autoafirmação, tenta-se ditar as próprias regras, conduzidas pelos próprios desejos e pela busca de autovalorização. Estágio adulto A fase adulta é marcada pelo ápice do desenvolvimento afetivo. Os domínios, motores, cognitivos e afetivos tendem a se equilibrar, permitindo que os sujeitos identifiquem com clareza quem são e quais os seus papéis frente ao mundo e aos outros. O significado de ser adulto é a plena consciência moral e basear seus atos a partir dos seus valores (GALLAHUE; OZMUN, 2013). A perspectiva centrípeta da adolescência deixa de existir, fazendo o adulto voltar sua visão aos outros, permitindo a solidariedade e a adaptação em ambientes sociais diversos. Com isso, as compreensões do desenvolvimento do ciclo vital tem sido objetos de diferentes teorias. De fato, em alguns aspectos, muitos teóricos se aproximam ao identificar características nos diversos momentos da vida humana, ao passo que outros tendem a se distanciar. De modo geral, o que podemos perceber é que as diferentes perspectivas, que versam sobre o desen- volvimento, nos proporcionam subsídios para a compreensão dos diferentes aspectos que nele estão implicados. Não podemos deixar de tornar evidente que o desenvolvimento sempre ocorre, havendo progressões e/ou regressões em cada uma das dimensões humanas e que, se bem compreendidos, tornam o trabalho com os diferentes sujeitos mais fácil de ser realizado, potencializando e auxiliando a constituição dos sujeitos. 21Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1 COUTO, D. Freud, Klein, Lacan e a constituição do sujeito. Psicologia em Pesquisa, v. 11, n. 1, p. 1-10, 2017. FONSECA, V. Desenvolvimento motor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. 577 p. GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 484 p. MAHONEY, A.; ALMEIDA, L. Afetividade e processo ensino-aprendizagem:contri- buições de Henri Wallon. Revista da Psicologia da Educação, v. 1, n. 20, p. 11-30, 2005. PAPALIA, D.; OLDS, S.; FELDMAN, R. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1985. Leituras recomendadas BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. MARTORELL, G. O desenvolvimento da criança: da infância à adolescência. Porto Alegre: AMGH, 2014. SALLES, J.; HAASE, V.; MALLOY-DINIZ, L. Neuropsicologia do desenvolvimento: infância e adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2016. Fases do desenvolvimento nas teorias motora, cognitiva, afetiva e social22 Identificação interna do documento 03OVCADS0F-86AUGO1
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