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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - CCSO DISCIPLINA: Fundamentos Historicos e Teoricos Metodologicos do Servico Social II ALUNA: Sarah Taynah da Conceição Ferreira SEMINÁRIO DE FUNDAMENTOS II (15/07/2021): O III CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS (CBAS) E O III ENCONTRO NACIONAL SINDICAL DE 1979 1. RESUMO: O Congresso da Virada de 1979 possui esse nome porque expressa o momento público coletivo que os assistentes sociais viviam, neste III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, foi estabelecido a categoria e a direção da profissão, fornecendo a atual base do Projeto Ético-Político Profissional. Naquele contexto, é debatido a crise do capital dos anos de 1970 e 1980, os desafios contemporâneos dos profissionais e os ataques do governo à classe trabalhadora (ABRAMIDES; CABRAL, p. 728, 2009). 2. CONTEXTO HISTÓRICO: O século XX foi marcado por Revoluções Comunistas, Golpes Militares, e entre outros acontecimentos, vários presidentes brasileiros trouxeram formas distintas em tratar as políticas sociais, o incentivo a industrialização, na organização do mercado de trabalho. estratégias de inserção dos movimentos sociais na sociedade, e planos para a economia, seja de privatização ou de combate à miséria (SILVA, p. 24, 2007). Antes do congresso, no período de 1950, o Serviço Social não refletia sobre a fonte da dominação de classe, nem apresentava polêmicas na sua problematização, apenas servindo para manutenção do status quo (BRAVO, p. 681, 2009), o questionamento começou quando o termo ‘’desenvolvimento’’ ficou popular, sendo muito frequente os governos utilizarem dele em prol de sua propaganda, mostrando a necessidade de ‘’desenvolver’’ a sociedade brasileira na perspectiva estrutural-funcionalismo norte-americano (BRAVO, p. 682, 2009). Porém, esse contexto fez o Serviço Social refletir diversas vezes sobre muitas questões, como: Quais áreas são seu campo de atuação? O Serviço Social é contraditório ou não? Qual classe social o Serviço Social atende os interesses? Qual vertente ideológica seguir? Entre outras questões que não foram debatidas somente no Brasil, como em toda a América Latina 1 influenciada pelo Movimento de Reconceituação, a partir do ano de 1965, principalmente o Uruguai, Argentina e Chile. Mas até mesmo esse Movimento de Reconceituação se aproximava das ideias desenvolvimentista, passando a se transformar na tradição marxista no ano de 1971 (BRAVO, p. 682, 2009), esse processo de reflexão depois foi interrompido pela Ditadura Militar de 1964, sendo retomado anos depois com a redemocratização do país. Nesse contexto, havia também muitas mobilizações sociais, pois a todo momento e em todo governo, era reorganizado a forma de tratar as políticas sociais, às vezes oscilando para garantir os direitos trabalhistas, e em momentos liberais ou neoliberais, esses direitos eram atacados, com diminuição dos salários, privatizações de empresas estatais, fazendo com que serviços públicos essenciais se tornassem mercadoria em tempos de crise do capital. Alguns momentos marcantes da época foram o sindicalismo classista, o movimento contra a carestia e o custo de vida, eclesiais de base, a anistia, a luta pela terra, lutas contra a ditadura militar, movimentos das mulheres, pela saúde, estudantil, etc (ABRAMIDES; CABRAL, p. 729, 2009). Quando se trata exemplo de movimentos envolvidos em instituições sociais educacionais para debater na articulação latino-americana, temos a criação da Associação Latino Americana de Escolas de Serviço Social (Alaets) em 1965, o Centro Latino-Americano de Trabalho Social (Celats) em 1975 como órgão acadêmico do Alaets (BRAVO, p. 682, 2009), e a fundação da Escola de Servico Social da Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG) no início dos anos de 1970, possuindo um grupo de professores comprometidos no Movimento de Reconceituação (BRAVO, p. 682, 2009), a proposta da escola UCMG era de romper com o Serviço Social tradicional, enriquecer com novos campos de trabalho profissional, mudar os elementos teóricos da formação profissional, entre outros. Esse projeto de escola da UCMG movimentou a criação de outras ao redor do país, como ocorreu com a criação da Convenção da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (Abess) em 1973 em São Luís, e em seguida uma outra Abess em Piracicaba (BRAVO, p. 683, 2009). Desde esse momento histórico, a visão dos profissionais da área já estavam polarizados, enquanto uns defendiam a neutralidade científica e o estruturalismo, outros queriam comprometimento político na luta da classe trabalhadora e emancipação do Serviço Social. É lógico que a repressão da ditadura militar impediu a perpetuação das ideias que questionavam os governantes políticos enquanto incentivavam as organizações conservadoras. Ou seja, isso significa que a cada ano até ocorrer o Congresso da Virada, o número de movimentos sociais ia aumentando seus campos de luta, suas demandas, durante esse processo, é criado em 1978 a Articulação Nacional do Movimento Sindical e Popular 2 (Anampros), uma entidade coletiva com as seguintes características: a solidariedade de classe internacionalista, realização de greves gerais como a de 1980, a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983, a fundação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em 1984 e a Central de Movimentos Populares (CMP) em 1994 (ABRAMIDES; CABRAL, p. 729-730, 2009). A modernização conservadora trouxe novas demandas para a profissão por conta das reformas do Estado a serviço do capital estrangeiro, e assim o impulso de reflexão foi retomado com a ajuda da instituição extra universitária do Centro Braileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS). Os assistentes sociais sempre estiveram envolvidos nessas organizações, essa vinculação do Serviço Social com os Movimentos trouxe enriquecedoras contribuições, ajudando a decidir a direção social da profissão nos anos 1980 nesse panorama caótico de luta e retirada de direitos ou extinção de instituições sociais, essa parceria também contribuiu com o rompimento da linha de pensamento conservadora, que fazia os profissionais culparem o indivíduo por não se adequarem ao sistema capitalista, ao invés de enxergarem as contradições desse sistema, ou seja, a visão funcionalista e positivista deixou de ser predominante para refletir sobre a luta de classes que esses indivíduos passavam nas suas vidas, inclusive que estaria inserido as próprias assistentes sociais, pois também são trabalhadoras. 3. INTRODUÇÃO: Após a Ditadura Militar seguido da redemocratização do país, essa série de debates, publicações e seminários continua fervorosa, muitos eventos semelhantes ao III CBAS ocorreram organizados pelas mais variadas organizações, algumas conservadoras e outras mais alinhadas ao marxismo, assim como foi mostrado anteriormente, vários movimentos sociais se mobilizaram antes desse Congresso. O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, ou também nomeado como Congresso da Virada, ocorreu de 23 a 28 de setembro de 1979 em São Paulo, no Centro de Convenções do Anhembi, ele foi organizado sob a coordenação e direção da Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais e Pré-Sindicais (CENEAS). O Congresso da Virada demarca uma ruptura com o conservadorismo profissional e o reconhecimento das assistentes sociais enquanto categoria a defesa dos interesses históricos da classe trabalhadora, e como profissionais assalariados assim como qualquer outra profissão, seu marco histórico é tão grande que trouxe muitas conquistas aos profissionais do Serviço Social. 3 Em 1978, houve o I Encontro de Entidades Sindicais, nesse ano havia apenas quatro unidades sindicais no país (ABRAMIDES; CABRAL, p. 730, 2009).: A. Sindicato de Minas Gerais; B. Associação Profissional de Assistentes Sociais em São Paulo (Apas); C. Associação Profissional de Assistentes Sociais na Bahia (Apas); D. Associação Profissionalde Assistentes Sociais em Goiás (Apas). No ano de 1979, expandiu a articulação de entidades no país, passando de quatro para dezoito, tornando-se na seguinte organização: cinco sindicatos, oito Apas, dois grupos pro-Apas e uma seção da Abas, a Associação Brasileira de Assistentes Sociais, uma oposição sindical e três associações culturais. 4. III ENCONTRO NACIONAL SINDICAL: No dia 21 a 23 de setembro de 1979 ocorreu o III Encontro Nacional Sindical, com objetivo de articular a luta sindical, criar a Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais e Pré-Sindicais (CENEAS), impulsionar a luta por condições melhores de trabalho, carga horária e salário dos assistentes sociais. O convênio entre o Sindicato de Minas Gerais e o Centro Latino-Americano de Trabalho Sindical (Celats) e a Associação Latino-Americana de Trabalho Social (Aleats), contribuiu viabilizando os primeiros encontros nacionais sindicais, esse convênio se renova com o Cênicas e impulsiona a fundação da Associação Nacional de Assistentes Sociais (Anas) em 1983-1992. Essas entidades elaboram o documento do III Encontro para a intervenção do III CBAS com o teor de: a limitação dos estudantes na sua participação, a definição do tema, a limitação da participação por condições financeiras como passagem e hospedagem, a realidade salarial de assistentes sociais, e o repúdio dos convites feitos pelo governo que tinham atitudes repressivas e puniam sindicais ao redor do Brasil. 5. CONQUISTAS DO PROGRESSISTA III CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS: As organizações trouxeram as seguintes conquistas: A. A luta pelo salário mínimo culminou no Projeto de Lei n. 4.645/1984, esse projeto trata das condições de trabalho, salário, carga horária de assistentes sociais, o plano de carreira de servidor público federal; B. A construção de uma articulação sindical nacional (1979-1983); 4 C. A fundação do Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais e Pré-Sindicais (CENEAS); D. A fundação da Associação Nacional de Assistentes Sociais (Anas) em 1983-1992; E. Permissão na Constituição de 1988 em organizar sindicatos; F. E a legitimação federal, autônoma e independente do Estado das assistentes sociais. Depois que a Constituição de 1988 declarou que: “É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.”, foi possível impulsionar essas organizações, pois grande parte dos assistentes sociais eram servidores públicos, de acordo com a pesquisa do CENEAS em 1978, 62% eram servidores públicos,, então não podiam participar dos sindicatos, houve campanhas salariais, mobilização por greves, organização por local de trabalho, porque assistentes sociais atuam em diversos campos (hospitalar, meio ambiente, educacional), concursos públicos por carreiras, serviços públicos de qualidade, defesa de trabalho profissional, etc. Antes do III CBAS, os congressos eram organizados pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS), que agora é o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), em conjunto com o Cras. A CFAS era composta por um setor conservador que apoiava a ditadura militar, porém, o Congresso da Virada foi organizado pelo Ceneas, mostrando a resposta das assistentes sociais negando o conservadorismo como viés político. O Movimento de Reconceituação Latino-Americano influenciou também nessa resposta, contribuindo para o rompimento dessas práticas tradicionais, refletindo sobre as insatisfações dos profissionais sobre a teoria, a ideologia e suas limitações. O Serviço Social e suas organizações ficam mais próximas a Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais e Pré-Sindicais (CENEAS) por lutarem pelos mesmos fins, e se vinculam também a formação profissional e com estudantes, as entidades criaram estratégias para incidir nas eleições do conjunto CFAS/Cras, trazendo a conquista de fazer com que maioria das entidades renovassem sua linha de pensamento, exercício profissional e rompem com o conservadorismo. 6. A ORGANIZAÇÃO CONSERVADORA DO OUTRO III CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS: No polo oposto desse momento, ocorre a organização do III CBAS de forma conservadora, realizando muitas ações contrárias ao CBAS progressista, como por exemplo: a Comissão de 5 Honra por participantes do governo da ditadura militar, analise das politicas sem enxergar a estrutura do sistema capitalista, e a falta de movimentos coletivos de debates. Após a convocação da Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais e Pré-Sindicais (CENEAS) para uma assembleia com grande adesão aos congressistas, é alterado a dinâmica desse congresso, revertendo suas orientações que antes não tinham debates, e agora passam a ter, além de começar a enxergar a totalidade das relações sociais, recursos financeiros para as greves dos trabalhadores, entre outros. Esse Congresso Conservador acaba sendo considerado antidemocrático, que não representa as assistentes sociais, é considerado que a política social é o reflexo do modo de produção capitalista, além de ser incorreto separar estudantes e profissionais na luta pela classe trabalhadora, pois os dois possuem muito a contribuir, lutando pelos mesmos objetivos e muitas outras considerações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABRAMIDES, Maria. B. Costa; CABRAL, Maria do S. Reis. O significado do papel político do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais - CBAS - 1979. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 100, p. 728-739. São Paulo: Cortez, 2009. BRAVO, M. Inês. O significado político e profissional do Congresso da Virada para o Serviço Social brasileiro. In: Serviço Social e Sociedade nº 100, p. 679-708, São Paulo: Cortez, 2009. 6
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