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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 INTRODUÇÃO Existem, basicamente, 3 grandes causas de insuficiência respiratória, uma de causa pulmonar, uma de causa cardíaca e outra de causa vascular. Existem outras que serão pontuadas durante a aula. CASO CLÍNICO • Paciente, 56 anos, tabagista, HAS. • EME: dispneia progressiva há 36 horas, limitação de atividades diárias, sudoreico, fala interrompida, pouco sonolento e desorientado. Tosse crônica pouco produtiva e que piorou há 3 dias. • Dados vitais: FC 117 bpm, FR 46ipm, TA 150X96mmHg. • ACV: taquicárdicas. • AR: MV inspiratório reduzido difusamente, expiração silenciosa. Uso de musculatura acessória. • Extremidades: TEC, 5s, sem edemas. Dispneia progressiva → pode ser uma pneumonia, pode ser, inclusive TEP que esteja evoluindo. Atentar para alguns detalhes porque sabe-se que tem coisas em propedêutica como, por exemplo, dispneia súbita, que é classicamente TEP, mas nada impede que um paciente esteja cansado como, por exemplo, um paciente com ICC que gripou, ele pode chegar alegando que teve uma dispneia súbita. Então é sempre bom ficar atento para não seguir SOMENTE um parâmetro único. A fala interrompida talvez seja um sinal que o paciente não refere, por isso que é sinal, o médico acaba enxergando. Não interessa qual a origem, mas a fala interrompida é um sinal muito sensível de insuficiência respiratória. O fato dele estar sonolento e desorientado traduz sofrimento dos órgãos nobres e se eles tão sofrendo tudo para baixo está sofrendo, ou seja, em algum momento essa dispneia, essa sudorese, essa limitação de atividade diária, essa fala interrompida, está reduzindo o fluxo sanguíneo cerebral e se o cérebro está sofrendo tenham certeza de que o coração também pode estar sofrendo, agora todos os órgãos abaixo do cérebro e coração estão sofrendo. Pode não ter manifestado, por exemplo, ureia e creatinina, mas se ele se manter ele vai começar a se manifestar no exame laboratorial. A TA está um pouco alta, mas pode ser AINDA somente um mecanismo compensatório. Obviamente, se um paciente está taquicárdico, taquipneico, extremamente sudoreico, dispneia, fala interrompida, desorientado, esse paciente não vai aguentar muito tempo. Então, a pressão arterial desse paciente está alta na tentativa de manter uma debito cardíaco aumentado, porque se está sudoreico e com fala interrompida é porque o conteúdo arterial de oxigênio que está chegando é inadequado, é porque o volume sistólico tem alguma coisa, não está confortável, por isso que eleva a pós carga para compensar o restante do volume sistólico. Fisiologia respiratória: inspiração e expiração. Na inspiração, a gente puxa o ar de forma ativa e na expiração, libera o ar de forma passiva. Na inspiração é preciso contrair a nossa musculatura respiratória, diafragma e musculatura acessória, enquanto que na expiração a gente passa a relaxar o músculo. Como fazemos força para puxar o ar, para inspirar, o tempo inspiratório é menor do que o tempo expiratório, ou seja, para eu liberar o ar para fora do corpo ele demora mais tempo do que a inspiração. Nossa relação, em condições normais, saudáveis, de inspiratório/expiratório é de 1,0 para 2/2,5 ou 1 para 3,0 / 3,5, o que significa que para a cada 1 segundo de inspiração eu duro 3 segundos de expiração. Existe um modo de fazer uma inspiração mais rápida que é fazendo uma contração muscular maior. Normalmente estamos conscientes, como por exemplo, nos casos de atividade física. Para contrair o músculo respiratório, os bronquíolos aumentam de calibre, quando se faz expiração e relaxa os músculos, os bronquíolos reduzem o calibre. Isso é importante pelos sons que vai ocasionar, por exemplo, é mais fácil fazer um som em um tubo fino do que em um tubo grosso, por isso que o apito é um Insuficiência Respiratória 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 caminho fino e tortuoso que o ar passa e por isso ele gera aquele som típico do apito, ou seja, quando o murmúrio vesicular inspiratório estiver reduzido significa que eu estou fazendo mais força para a entrada do ar, é um sinal de sofrimento. Nossa inspiração já é menor que a expiração porque ela já é mais curta, mas assim, uma vez a gente auscultando a inspiração reduzida significa que eu estou puxando ou tentando puxar o ar de forma mais rápida, só que a grande variação dos pacientes com insuficiência respiratória não é inspiração e sim a expiração. Importante: Sibilo é um sinal auditivo, auscultatório. Broncoespasmo é um sinal visual, não precisa de esteto, basta olhar pro paciente. O broncoespasmo basicamente é o tempo expiratório prolongado, ele pode ter ou não sibilo. Na fase inicial do broncoespasmo, quando o paciente está com a relação inspiração/expiração de 1 para 4, não está com essa insuficiência respiratória toda, principalmente paciente que já tem broncoespasmo crônico, eles não sibilam. O que vamos ver é o tempo expiratório prolongado, necessitando de tratamento. A segunda fase tem-se o sibilo. Um problema na emergência é que muita gente espera o paciente ter sibilo para tratar, atrasando a vida do paciente e usando muito mais corticoide. A terceira fase não tem sibilo, porque a expiração a gente relaxa. Resumo: o paciente inspira, faz força pro ar entrar, aumenta o calibre do bronquíolo, ou seja, ele entra de forma ativa. Na hora que ele relaxa, o calibre reduz e o que acaba acontecendo é que o ar não sai. Na próxima inspiração o ar entra de novo e não sai, e o que acontece com esse paciente é a hiperinsuflação que quando em excesso trará duas saídas pro paciente, ou o paciente vai fazer uma parada respiratória porque ele não consegue fazer força na musculatura para jogar o ar para fora ou então o pulmão estoura – pneumotórax. Se o ar entra e não sai eu amento a pressão dentro do alvéolo, o alvéolo que era 2 mL vira 4mL, depois 6 mL, vira 10 mL, até que não aguenta e estoura ou então vira uma parada respiratória antes. O que nos faz ver que essa pressão está aumentando dentro do alvéolo do paciente é a turgência de jugular. Então, ao ver um paciente com expiração silenciosa, broncoespasmo e turgência de jugular, tem que agir rápido, porque o paciente vai parar e se ele não tiver cianótica vão bastar 5 segundos para ficar. Então, expiração silenciosa com expiração prolongada é a PIOR FASE DO BRONCOESPASMO. Quando tem o pneumotórax, temos que drenar o tórax. CONTINUAÇÃO DO CASO • Paciente monitorizado e colocado máscara de Venturi 50%. • SO2 81% → 90%. • Mantendo uso de musculatura acessória, porém em menor intensidade. • Desde admissão (10 min) paciente foi ficando mais sonolento. • Qual exame modificador de conduta? GASOMETRIA! Todas as grandes síndromes têm exame modificador de conduta. Exemplo: paciente saturando de 81 para 90%, mais sonolento, gaso já realizada, saturação começa a cair, paciente mais desconfortável. O exame que vai mudar a minha conduta agora é a gasometria. Se tiver que intubar o paciente, pede outra gasometria. INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA • Tipo I → Hipoxêmica. É quando o motivo primário da insuficiência respiratória é por oxigênio. Nesse momento, não se apega ao gás carbônico. • Tipo II → Hipercápnica. O motivo primário é a alteração do gás carbônico. A gasometria é o exame que vai definir a insuficiência respiratória aguda e diferenciar os tipos de insuficiência respiratória. Dependendo do tipo de literatura, existe a divisão em tipo I e tipo II ou tipo I, tipo II e tipo III (os dois ao mesmo tempo). A gasometria é arterial e pode ser colhida em qualquer artéria do corpo. Os parâmetros gasométricos são: • pH: 7,35 – 7,45; 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas– Aula 7 • PaCo2: 35 – 45 mmHg; • PaO2: 80 – 100 mmHg. O PO2 ideal depende a patologia de base e da idade. • Sat de O2: 95 – 97%; • HCO3 STANDARD: 21 – 27 mEq/L/. • Base excess: -3 - +3 mEq/L. Existe uma fórmula que, em algumas situações, se desconsidera a patologia de base e leva em consideração a idade. pO2 ideal = 109 – (idade X 0,43). Quando o paciente tem alguma doença intersticial pulmonar, por exemplo, fibrose cística, DPOC, doenças crônicas, asma não tratada durante a vida toda, algumas doenças pulmonares, eles têm um desconto que pode ser de 10 a 25% desse valor, cada doença tem uma perspectiva diferente. Saturação normal NUNCA foi 100%. Saturação normal de um paciente critico é 94%, pode ser um pouquinho mais ou um pouquinho menos. Todos aqui, saudáveis, quando estão dormindo, em algum momento, em alguns minutos, principalmente na fase REM do sono, a saturação bate 90-91% e é normal. Então assim, saturação normal é em torno de 94%, pode ser para mais ou para menos. No ACLS fala para colocar O2 para todos os pacientes que estão enfartando, mas faremos isso se o paciente chegar insuficiente para fazer morfina, insuficiente para fazer um ECG e colher o sangue com o marcador de necrose miocárdica, que deve chegar pro médico em 15 minutos e em 15 minutos o médico deve decidir se vai deixar esse paciente saturando 100% ou não. Paciente crítico é deixado em ventilação mecânica somente no início, para tirar/excluir a hipoxemia como causa de ansiedade do paciente naquele momento, mas depois, será avaliado o que é melhor. Pacientes com saturação mantida em 97% morrem mais do que pacientes mantidos em 94% por aumento de radical livre. O paciente está inflamado, libera vários radicais livres e aumenta a inflamação, lembrando que já tem uma doença que faz isso que é sepse, resposta inflamatória sistêmica. HIPOXEMIA • Inadequação da ventilação/perfusão (V/Q) (efeito shunt – pneumonia/SDRA). ❖ Alteração da capacidade difusional do O2 pela membrana alveolocapilar (queimadura, afogamento, pneumonia, SDRA, fibroses). Ou seja, é um problema na membrana azul da parte esquerda que impede o oxigênio ir de dentro para onde está a seta do computador (retângulo vermelho), por exemplo, se tiver fuligem dentro, fumaça, corpo estranho, afogamento, pneumonia (principalmente por gram positivo), fibrose cística, esse espaço (seta do computador e em vermelho) vai ficar gigantesco e o caminho do oxigênio de sair de dentro para o espaço azul vai ficar maior. • Elevadas altitudes – baixo PAO2 → pacientes que moram em elevadas altitudes e tem um nível de hipoxemia, por conta da quantidade de O2 no ar ambiente. De forma compensatória, o corpo desses pacientes (acontece de forma semelhante nos pacientes que absorvem de forma crônica menor quantidade de oxigênio – DPOC) apresentam policitemia; a hemoglobina desses pacientes, normalmente, é bem maior. O normal é em torno de 13 até 15; mulheres começam a partir de 12; já os pacientes com DPOC estão em 18, 19, às vezes até 20. Pode ser considerado uma forma de dopping. Observação: Pacientes com DPOC, uma outra forma compensatória para entregar mais na periferia é o aumento da frequência cardíaca; por isso que esses 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 pacientes, principalmente os enfisematosos, são mais caquéticos, pois como a frequência cardíaca é cronicamente alta, existe um aumento de demanda metabólica, necessitando de uma demanda energética maior. • Hipoventilação alveolar – laringoespasmo, trauma → Ocorre quando existe alguma lesão alta, como por exemplo, paralisia de corda vocal ou edema da via aérea. • Efeito shunt – desvio do ar, ou seja, o ar não chega dentro do alvéolo para fazer a troca. O sangue chega, mas o ar não. SHUNT = desvio. Refratário ao aumento de O2, ou seja, é aquele paciente foi ofertado oxigênio, colocado no cateter, máscara de venturi, máscara reinalante e não melhorou. Sangue venoso passa por áreas não ventiladas, por exemplo, atelectasia, pneumonia, paciente com SARA. Exemplo: paciente com congestão pulmonar → aumentar a pressão dentro do alvéolo - VNI. Exemplo 2: paciente com atelectasia → abrir o alvéolo - VNI. Então aqueles pacientes que tem efeito shunt, ou seja, que não melhoram com o oxigênio, me traz um quadro típico de congestão, atelectasia → VNI. HIPERCAPNIA É a retenção de gás carbônico. Supondo que seja um paciente que esteja com um gás carbônico muito alto e é necessário baixar esse valor. Logo de cara, o que se pensa é em aumentar a frequência respiratória. Entretanto, para se conseguir tal feito só é possível quando o paciente está em ventilação mecânica, intubado. Supondo que vocês têm uma casa que está imunda e seus pais te dão um copo de 1 litro para lavar a casa. Em outra situação eles te dão um balde de 20 litros, ou seja, os volume dos dois recipientes são diferentes. Seguindo essa história, a pia está do lado de fora a 30 metros de distância. É mais rápido limpar a casa com um balde de 20 litros. Por isso que se dando MAIOR VOLUME (volume de ar) PARA LIMPAR O GÁS CARBÔNICO VAI SER MAIS RÁPIDO. Esse volume é chamado de volume corrente, ou seja, é a quantidade de ar que sai e entra e que estamos respirando normal por minuto. Enquanto a frequência respiratória se controla a frequência, o volume corrente é a quantidade de volume que se coloca para dentro ou para fora do paciente. No paciente em ventilação mecânica invasiva é possível alterar, mas no paciente com ventilação espontânea não é possível alterar a frequência; desse modo, o controle é feito com a VNI. Por isso que se usa VNI em um paciente com DPOC para lavar o gás carbônico, alterando o volume corrente desse paciente, jogando mais ar. Na hora que o paciente tem a intenção de respirar, que é o chamado trigger, naquele primeiro 0,1 segundo que o paciente deu uma “puxadinha” de ar, o ventilador joga ar para dentro do pulmão de forma turbilhonada, lavando melhor o gás carbônico. Lembrando que o que se quer é jogar volume no paciente com DPOC e não pressão. No paciente com edema agudo de pulmão acontece porque a pressão dentro do vaso é maior que dentro do alvéolo, ou seja, o líquido vai de dentro do vaso para dentro do alvéolo; com a VNI se faz o oposto, se aumenta a pressão dentro do alvéolo para jogar aquele líquido do edema agudo de pulmão para dentro do vaso, ou seja, é um outro tipo de VNI. Na VNI do edema agudo de pulmão se joga pressão; já em um paciente em uso de VNI com DPOC, não se quer jogar nada de dentro do alvéolo para dentro do vaso, o que é dado não é pressão, e sim ar, volume. O “balãozinho” se torna “balãozão”; a pressão não é tão alterada por conta da complacência desses pacientes, por isso que não necessariamente vai aumentar a pressão 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 também (obviamente que aumenta um pouco a pressão, mas por conta da complacência de um paciente com DPOC tanto faz jogar 10 mL ou 20 mL para dentro desse pulmão). Toda vez que é necessário alterar o gás carbônico do paciente, é preciso alterar o volume corrente e a frequência respiratória. Sendo que o volume corrente multiplicado pela frequência respiratória é o volume minuto. É o volume que corre nos pulmões em 1 minuto, pois a frequência respiratória é calculada em 1 minuto. • FORMAS DE AUMENTAR O CO2: • Prejuízo do centro respiratório → Lesões cerebrais de tronco ou distúrbios tóxico- metabólicos; O AVE isquêmico de tronco é um grande exemplo, mas existem as drogas opioides que alteram justamente no bulbo e no tronco cerebral, resultando em bradipneia. Isso é tão certo que quando tem escrito “essa droga pode causar parada respiratória”, pode ver que essa drogaage no bulbo ou no tronco cerebral. • Disfunção/Fadiga do diafragma e/ou mm acessórios → Neuromusculares (miastenia, Guillain-Barré, distrofias...); Imaginem quando o diafragma tem uma amplitude maior de subir e descer, o volume corrente (volume que entra e sai) vai ser maior. Porém, um diafragma que está com alguma falência, com alguma disfunção, o diafragma não vai subir muito, ou seja, a variação do volume pulmonar vai ser menor; o volume corrente vai ser menor, logo, o paciente vai reter mais gás carbônico. Tanto que os pacientes com miastenia grave (supondo que o gás carbônico desse paciente normalmente seja PCO2 de 55) se chegar com uma PCO2 de 65, mesmo sem grandes sintomas, significa que esse paciente evoluiu com alguma piora da miastenia grave. • Inadequação da Ventilação/Perfusão (V/Q) → Efeito espaço morto – TEP; Nesse caso o ar chega no alvéolo, porém não tem sangue para poder absorver, é o famoso espaço morto. Ou então o paciente está com o ventilador mecânico ajustado de forma inadequada com uma pressão muito alta. Isso faz com que o alvéolo fique tão grande que acaba colabando o vaso, ou seja, não passa sangue naquele local. O oxigênio chega, mas não passa sangue. • Queda do músculo hipoglosso sobre a faringe - → Apneia do sono, obeso, RNC; Segundo o ACLS, é a maior causa de hipóxia pós-trauma. • Obstrução da via aérea inferior → broncoespasmo. Enquanto obstrução de via aérea superior (laringoespasmo ou obstrução por corpo estranho) causa hipoxemia, obstrução de via aérea inferior causa hipercapnia, que é o broncoespasmo, que nada mais é que os pacientes com asma e DPOC. A asma nada mais é do que o aumento do espaço em que o ar percorre (diminuição do lúmen). Já a DPOC deixa o ar tortuoso; se for enfisematoso existe destruição alveolar; se for bronquite é secreção; se for congestão pulmonar ele tem líquido. A imagem retrata a diminuição do lúmen. Embora esteja falando de asma, o desenho serve para anafilaxia também. 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 EVOLUÇÃO DO CASO CLÍNICO Gasometria arterial: FiO2 50%, PH 7,334, PCO2 84, pO2 64, SO2 90% e Bic 36. Como a máscara de Venturi estava a 50%, a FiO2 ficou 50%. FiO2 significa a fração inspirada de oxigênio; se a máscara de Venturi estivesse a 35%, a FiO2 estaria de 35%. O pH indica acidose. Esse paciente está com uma leve acidemia e com um BIC de 36; o bicarbonato normal é de 24. Para um paciente sair de 24 para 10 é muito rápido. Porém, para o bicarbonato subir (a não ser que o médico tenha dado bicarbonato para ele), ele precisa de – no mínimo – 48 horas para subir 4 pontos de bicarbonato de forma fisiológica. Ou seja, paciente com bicarbonato alto é um paciente crônico. Para saber se um paciente está compensado ou não, olha-se o pH do paciente. Quanto mais distante estiver do normal, mais grave e mais descompensado vai estar o paciente. Esse paciente está caminhando para gravidade, está começando a reter gás carbônico ou então está começando a perder bicarbonato (supondo que o normal dele seja de 39, por exemplo). CONTINUAÇÃO DO CASO • Após 10 minutos na MV 50%, o paciente apresenta melhora do sensório, apesar de se manter sonolenta e em uso de musculatura acessória. • Quais exames pedir? Hemograma, função renal, eletrólitos, glicemia, ECG, Rx tórax. A gasometria é o exame modificador de conduta. Hemograma → em um paciente com uma doença aguda, o que se espera da hemoglobina desse indivíduo em comparação com um paciente crônico? Em um paciente crônico, a hemoglobina está mais alta. Ou seja, se esse paciente estivesse com uma hemoglobina de 18, por exemplo, é de se esperar que esse paciente seja crônico. Porém, se fosse uma hemoglobina de 10, o paciente é mais agudo, o sistema hematológico do paciente está sofrendo. Leucograma → serve para identificar infecção. As formas jovens (bastão, mielócito, metamielócito) indicam mais infecção bacteriana, enquanto os linfócitos indicam mais infecção viral. Lembrando que a taxa linfocitária está diretamente proporcional a composição nutricional do paciente; quanto mais desnutrido o paciente tiver, menor a taxa linfocitária dele. Plaquetas → pacientes com plaquetas mais altas significam pacientes mais crônicos, enquanto mais baixas são pacientes mais agudos. Tanto que plaqueta faz parte do SOFA. Lembrando que pacientes com plaquetose tem mais inferência a infecção fúngica. Função renal → como o rim não está funcionando, ele retém mais líquido, logo esse líquido acaba parando no pulmão. Eletrólitos → o sódio não tem tanta interferência na parte respiratória. O potássio não tem interferência de forma direta, mas pode ser indutor de arritmia cardíaca, o que pode causar insuficiência respiratória. Cálcio está mais relacionado a disfunção muscular respiratória, assim como magnésio, tanto que os pacientes com broncoespasmo refratário podem fazer uso de sulfato de magnésio. Glicemia → todo e qualquer paciente. Pacientes com alta demanda metabólica, a glicose acaba sendo consumida. Lembrando que no ciclo de Krebs não é só oxigênio que é consumido; pacientes que estão sofrendo de forma crônica, a glicemia também é consumida, necessitando fazer HGT. ECG → para saber se arritmia não é uma das causas de insuficiência respiratória. RX de Tórax → é feito muito mais no sentido de etiologia. Por exemplo: pneumonia, atelectasia, um derrame pleural ... • Qual mecanismo da expiração silenciosa? Mecanismo do broncoespasmo. • Se a resistência da VA fosse muito elevada, que achado eu poderia esperar além da piora ventilatória? Turgência de jugular: Às vezes a pressão intratorácica está tão elevada que tudo que o vaso está tentando devolver de sangue para dentro do tórax simplesmente não chega, podendo variar com a respiração. 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 • Diagnóstico diferencial: derrame pleural, TEP. EVOLUÇÃO DO CASO Hb 19,8, leucograma 12.900, Bt 1%, linfócitos 34%, plaquetas 870.000, glicose 134, função renal sem alterações, eletrólitos sem alterações, ECG com taquicardia sinusal. Hemoglobina extremamente alta, ou seja, corrobora que seja um paciente mais crônico. Leucograma discretamente elevado, com bastão de 1%, porém a taxa linfocitária está extremamente elevada, sugerindo infecção viral. Plaquetose corroborando com a hemoglobina alta. Glicemia, função renal, eletrólitos normais. ECG com uma taquicardia sinusal. A partir da contagem de costelas, percebe-se que essa paciente está com o pulmão hiperinsuflado. O arco aórtico está mais retificado, coração em gota (conhecido em pacientes caquéticos com redução de massa muscular). Nota-se um pouco de derrame pleural, pulmão hiperinsuflado, um pouco de infiltrado perihilares, retificação diafragmática. • Retificação de arcos costais; • Hiperinsuflação pulmonar; • Sem infiltrados (comum em pneumonias virais, principalmente no início. Nada impede que apareça depois de dois dias algum infiltrado, surgindo a dúvida: será que o paciente fez alguma lesão isquêmica pulmonar? Será que a infecção pulmonar piorou a lesão intersticial pulmonar? Ou será que o paciente tem agora uma infecção bacteriana associada a infecção viral?); • Arco pulmonar sem alterações. • Qual a provável suspeita? → insuficiência Respiratória Aguda, secundária a DPOC descompensada. CONTINUAÇÃO DO CASO ❖ Estabilidade hemodinâmica → o pulmão está sofrendo junto com o coração? Se for o caso, quanto maior o sofrimento cardíaco, mais próximo da intubação esse paciente está; ❖ Sensório → disfunção neurológica, ou seja, o cérebro do paciente está sofrendo tanto quanto o pulmão? Ou seja, quanto pior estiver, mais próximoda intubação o paciente está; ❖ Uso de musculatura acessória importante com piora; ❖ Não responsivo às medidas iniciais. TRATAMENTO • Tratamento inicial: ❖ Oxigenioterapia; ❖ Vigilância respiratória e neurológica/monitorização. • Tratamento específico: depende da etiologia. CATETER DE O2 É o dispositivo mais simples que existe. Existe o cateter nasal tipo óculos e o cateter nasofaríngeo. O tipo óculos é colocado tipo óculos mesmo, atrás da orelha. A cada 1 litro por minuto que se coloque para esse cateter de O2, aumenta-se em torno de 3%, por exemplo, se colocar 2 L/min de fluxo de O2 nesse cateter, pega- se 21% do ar ambiente e multiplica 2x3 = 6, ou seja, vai dar em torno de 27% de FiO2. Depois disso vai depender se o paciente tem trauma nasal, se tem desvio de septo, se tem congestão, se o paciente é respirador bucal, depende de uma série de coisas, por isso que não é fidedigno. O máximo que se coloca é 5 L/min, mais do que isso acaba provocando um ferimento no nariz. MÁSCARA DE VENTURI Existem diversas cores, existem dois buracos laterais, o paciente consegue reinalar o ar expirado. 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 MÁSCARA NÃO REINALANTE Oferece quase 100% de oxigênio, enche a máscara de oxigênio, tem uma válvula inferior e duas válvulas laterais. Na hora que o paciente expira, o ar sai pela válvula lateral e a válvula debaixo fica fechada. Na hora que o paciente inspira, com esse ar rico em O2, a válvula inferior abre e a válvula lateral é fechada. Não é 100% de O2, mesmo sendo fechada, porque depende do tamanho do nariz e dos lábios, que também ocuparão um volume. VNI A VNI, que é um ventilador mecânico, altera o volume corrente do paciente e não a frequência respiratória, se alterar a FR, tem algo errado. A FR depende do drive do paciente, se ele tem drive e a FR está anormal, pode ser a ventilação mecânica. CATETER NASAL DE ALTO FLUXO O cateter nasal de alto fluxo é o cateter nasal de oxigênio que é vedado no nariz, consegue controlar até 100% de FiO2 para o paciente, consegue também turbilhonar melhor o ar, pode colocar até 15L. TRATAMENTO DO BRONCOESPASMO Consiste em aerossolizar as medicações colocadas, que é o Berotec e o Atrovent. Deve ser feita 3 sessões a cada 20min (1h e meia para completar o ciclo). Um paciente com insuficiência respiratória não aguenta 1h30min, com broncoespasmo e sibilo (fase 2). Mas um paciente na fase 1 com broncoespasmo, mas sem sibilo, consegue ouvir a inspiração dele, que é a 1ª fase, só com a nebulização o paciente aguenta, deixa ele em casa nebulizando. Paciente com sibilo, precisa de corticoide. A hidrocortisona (ampola de 100mg e 500mg, feita normalmente de 8/8h), com 15min começa a ter a ação, a metilprednisolona (normalmente 1mg/kg, feita 1x ao dia. É mais cara), com 8min começa a fazer efeito, sendo muito mais rápido. Quanto a via, temos o inalatório e o venoso, o puff não chega no alvéolo, distal, a nebulização chega, por isso elas são complementares. Caso não tenha liberado com nebulização e corticoide, tem-se outras opções a se fazer (não existe ordem): • Sulfato de magnésio: pacientes com broncoespasmo refratário (crise asmática refratária), fazendo o relaxamento da musculatura respiratória, na contração bronquiolar especificamente. • Adrenalina - NBZ X SC (IV): Um paciente muito grave, faz adrenalina SC. Usa a via venosa se o paciente já for parar. O prof usa muito adrenalina, jogando-a na nebulização. Existem algumas drogas que em caso de não conseguir pegar acesso venoso ou intraósseo, pode-se fazer algumas medicações via tubo orotraqueal (não é o mais adequado). Na adrenalina SC, a proporção é de 1:10000, a venosa é de 1:1000. A dose da adrenalina venosa é 1mg, a SC a dose também é de 1mg, porém, são ampolas com proporções diferentes de adrenalina. A dose da adrenalina via nebulização, que é a mesma dose via orotraqueal, é 3x o valor da via subcutânea, ou seja, em vez de 1mg, são 3mg em 5mL de SF, basta nebulizar 1x apenas. • Aminofilina? Felizmente, está proscrita da medicina, é considerada apenas droga, não mais medicamento. (O paciente que usava para broncoespasmo, melhorava, ia para casa, 8-12h depois da alta, o paciente apresenta parada cardíaca - TV monomórfica - e volta para o hospital. É uma droga muito relacionada com doença cardíaca, sendo considerada tóxica) • Cetamina: se precisar intubar o paciente, porque é uma droga broncodilatadora. • E causa cardíaca? Se fosse broncoespasmo por causa cardíaca - congestão - seria utilizado diurético. 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 As drogas que podem ser feitas por via de nebulização num paciente de parada cardíaca (está sendo proscrito): Vasopressina, Atropina, Naloxone, Epinefrina, Lidocaína Mnemônico: VANEL (a dose é 3x a dose venosa) Em crise asmática são utilizadas as mesmas drogas, mesmo pensamento. EVOLUÇÃO – CASO CLÍNICO Paciente após 4h apresenta rebaixamento de sensório, piora da dispneia, já usando MNR com SO2 86%. Qual a conduta? IOT, sendo solicitada nova gasometria e RX de tórax (modificador de conduta). Gasometria: FiO2 100%, PCV 20, PEEP 8, PH 7,166, pCO2 106, pO2 98, SO2 91%, Bic 28,6. O PCO2 subiu mais do que o BIC conseguiu compensar, portanto, olhamos para o pH. É uma insuficiência respiratória exclusivamente tipo 2. O nível de pO2 dele está adequado, o problema é o gás carbônico. Esse paciente intuba e aumenta o volume-minuto dele (seja alterando a frequência respiratória, seja alterando o volume corrente). Foi solicitado um RX em AP, por ele estar intubado, não pode ser em perfil, nem PA, porque o paciente não consegue ser mobilizado. Vê-se um infiltrado peri-hilar (lobo médio com condensação), no pulmão direito, que também se encontra mais hiperinsuflado, derrame pleural. CONTINUAÇÃO DO CASO: Paciente foi intubado e mantido em VM. Iniciou-se tratamento para ITR com Moxifloxacino após coleta de hemocultura (2 amostras). Aguardando vaga na UTI. DPOC DPOC = Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. • Desenvolvimento progressivo de limitação ao fluxo aéreo, que não é totalmente reversível (ou seja, já possui fibrose, lesão documentada, é o contrário da asma, que é reversível). • Redução do VEF1 < 80% do predito após o broncodilatador. • VEF1/CVF < 70%. Ambos DPOCíticos: na esquerda, um enfisematoso, mais caquético, maior metabolismo, FC mais alta. Na direita vemos um paciente bronquítico, que é mais secretivo, mais obeso, aquele que não consegue fazer tanta atividade diária. CARACTERÍSTICAS FISIOPATOLÓGICAS ❖ Enfisema: Permanente e anormal aumento dos espaços aéreos, acompanha destruição das paredes, sem fibrose importante. ❖ Bronquite crônica: tosse produtiva por mais de 3 meses, durante 2 anos consecutivos, ocorre por hipersecreção. Não necessariamente com obstrução (móvel) ao fluxo aéreo. • Diminuição do VEF1. • Aumento do volume residual. ❖ Progressiva disfunção do diafragma (retificação da cúpula). ❖ Vasoconstricção arterial pulmonar por hipoxemia. Aumento na pressão da artéria pulmonar. Deficiência da NO sintetase: endotélio doente. ❖ Hipóxia + hipercapnia: Aumento das catecolaminas (renina e aldosterona) → retenção de sal e água. ❖ Hipóxia + aumento do trabalho respiratório e TNF-alfa: Perda de peso (caquexia). 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 • Causas: tabagismo (maior causa - a relação inversa é procedente?), deficiência de alfa 1 antitripsina (aquela criança que já nasce com DPOC), hiper responsividade de vias aéreas (asma mal tratada). TRATAMENTO ❖ Corrigir hipoxemia: Atentar para SO2 (faixas alvo: 88-90% e 90- 92%). Por que SO2 em faixanormal pode levar a hipercapnia? ❖ Broncodilatadores; ❖ Corticóides (pode ser usado o inalatório se o paciente tiver condições, para só depois usar o oral). ❖ Antibióticos: Descompensação. Casos leves: ATB VO e alta hospitalar. ❖ Corrigir distúrbios associados; Volemia, eletrólitos, glicemia. ❖ Tratar outras comorbidades. ❖ Suporte ventilatório. O2//VNI//VM. PERGUNTA referente ao caso: Porque esse paciente aumentou gás carbônico (106) e porque se der O2 em excesso para o paciente que é retentor crônico de CO2 (pode ser fibrose cística), o paciente rebaixa o nível de consciência? RESPOSTA: o centro respiratório é regulado pelo CO2, o paciente perde a sensibilidade. Em uma situação de normalidade, o gás ativo mais abundante no nosso organismo é o oxigênio, o segundo é o gás carbônico, ambos são responsáveis pelas trocas gasosas, função pulmonar e respiratória. A variação do PO2 é de 60 a 100, a variação de PCO2 por outro lado é de 35-45. O centro respiratório é automático, logo, ele precisa de um controle, para saber quando aumentar ou diminuir a respiração. Diante disso, um gás que varia de 60-100 não é a melhor opção para regular isso, toda hora que fosse fazer atividade física iria desmaiar, portanto, a escolha do gás é o de que tem a menor faixa, no caso do CO2 que tem uma variação de 10, podendo ter variações ainda menores em alguns indivíduos, em situações normais, variando em 3, 2, quem é atleta varia ainda menos. O CO2 é um gás vasodilatador, quando ele chega no bulbo (carotídeo e cerebral), quando PCO2 bate 46, 47 (qualquer valor acima de 45), o cérebro informa ao pulmão que está chegando muito sangue, sendo necessário aumentar a respiração para baixar o gás carbônico. Quando o PCO2 chega abaixo de 35, vasoconstringe o bulbo e o cérebro informa ao pulmão que está chegando pouco sangue e que pode levar a um desmaio, informando que é necessário aumentar o CO2 para chegar mais sangue. No paciente com DPOC, chega pouco O2, muda alguns parâmetros do corpo, como o de controle de débito cardíaco e oferta de oxigênio, aumentando a quantidade de hemoglobina. Quanto mais grave o DPOC, mais grosseria é essa variação, o gás com maior variação nesse paciente é o PCO2 (varia não só de 35-45, podendo chegar a 80, 100). Esse paciente com PCO2 acima de 100, devemos ver o pH, se está compensado ou não. Obviamente que esses pacientes mais graves, mais terminais provavelmente estão na fila de transplante de coração-pulmão. O PO2 tem menos variação, porque o paciente está acostumado a receber menos O2 (variação 10-30). O cérebro muda a percepção, O2 demais é vasodilatador, ou seja, se ele muda o parâmetro o que acaba acontecendo: paciente com DPOC → oferta de O2 em excesso para um paciente que não está acostumado a receber → O2 absorvido vai para o bulbo e o cérebro informa ao pulmão que está recebendo sangue demais → diminuição da frequência respiratória, do volume corrente → aumento do CO2 → rebaixamento do nível de consciência. Obs: sangue em excesso faz edema cerebral. Paciente com DPOC que tem CO2 de 120-130 e reduz esse PCO2 para 60, o paciente faz crise convulsiva, deve-se atentar ao pH do paciente. Os gases são dilatadores ou constrictores, dependendo da quantidade, logo, DPOC é uma doença respiratória que causa uma repercussão neurológica (alteração do nível de consciência, crise convulsiva). Ex: um vaso recebe 10mL/min de sangue e passa a receber 5mL/min de sangue, funciona como um AVC 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 7 isquêmico, um ataque isquêmico transitório, o vaso fecha na hora, não chegando sangue no cérebro e o paciente tem uma crise convulsiva. Nesse momento alguns médicos acreditam que tenha sido AVC e leva para TC, sendo que o mais importante era ter feito profilaxia disso tudo, olhar o pH do paciente. Gasometria: FiO2 100%, PCV 20, PEEP 8, pH 7,166, pCO2 106, pO2 98, SO2 91%, Bic 28,6. Esse paciente é tratado com Fi02: 50%-60%, o PO2 vai ficar em 50-60, a saturação em 87%. De forma paralela corrigimos o PCO2 dele, utiliza o mesmo ventilador mecânico, parâmetros diferentes para reduzir o PO2 do paciente e reduzir o PCO2.
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