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Indaial – 2020 Direito internacional Prof.ª Caroline Bresolin Maia Cadore 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Caroline Bresolin Maia Cadore Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C125d Cadore, Caroline Bresolin Maia Direito internacional. / Caroline Bresolin Maia Cadore. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 162 p.; il. ISBN 978-65-5663-205-6 ISBN Digital 978-65-5663-200-1 1. Direito internacional. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 341 apresentação Olá, acadêmico! Para auxiliar na construção do seu conhecimento vamos iniciar nossos estudos sobre Direito Internacional. O conteúdo deste Livro Didático, bem como as orientações apresentadas durante o curso, contribuirá positivamente no direcionamento adequado do processo de ensino e aprendizagem. A elaboração deste livro tem como finalidade direcionar você a organizar e facilitar a compreensão dos conteúdos que serão apresentados no decorrer da disciplina. Com certeza surgirão novos assuntos que não serão completamente esgotados aqui, e é exatamente nesse momento que será importante sua dedicação e esforço, ao buscar novas informações para acrescentar no seu conhecimento. Na Unidade 1 você compreenderá a evolução histórica do Direito Internacional, as principais diferenças entre Direito Internacional e Direito Interno, conhecerá também os princípios do Direito e do Direito Internacional Público e suas especificidades. Na Unidade 2 iremos falar sobre soberania e a responsabilidade internacional do Estado, bem como dos organismos internacionais (ONU – Organização das Nações Unidas, OIT – Organização Internacional do Trabalho e OMC – Organização Mundial do Comércio). Dessa evolução teórica, partiremos para a relação entre Direito Internacional e Direitos Humanos. Na Unidade 3 falaremos sobre o Direito Internacional Privado – conceito, seus conflitos e suas fontes, para finalmente conectarmos o Direito Internacional com o Direito Brasileiro. Assim, compilamos os temas mais relevantes para sua aprendizagem dentro do Direito Internacional e temos certeza que seu interesse será o fator decisivo para que esse livro seja muito bem utilizado! Bons estudos! Prof.ª Caroline Bresolin Maia Cadore Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL ...................................... 1 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL ............................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 QUESTÕES HISTÓRICAS DO DIREITO INTERNACIONAL ................................................. 4 2.1 DIREITO INTERNACIONAL X DIREITO INTERNO ............................................................ 10 3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ............................................................................................ 13 3.1 ÁREAS DE APLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ........................ 17 3.2 FUNÇÕES DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ............................................................ 18 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 — DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ............................................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 CONCEITO ......................................................................................................................................... 23 2.1 PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ................................................... 26 3 SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO .......................................................... 27 3.1 ESTADO ......................................................................................................................................... 28 3.2 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................................... 29 3.3 ORGANISMOS NÃO ESTATAIS OU OUTRAS COLETIVIDADES .................................... 30 3.4 INDIVÍDUOS ................................................................................................................................ 32 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 36 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 37 TÓPICO 3 — FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ...................................... 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 COSTUME INTERNACIONAL ...................................................................................................... 39 2.1 FUNDAMENTOS DOS COSTUMES .........................................................................................42 2.2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS COSTUMES ............................................................... 42 2.3 O PAPEL DOS COSTUMES ........................................................................................................ 43 3 DOCUMENTOS INTERNACIONAIS .......................................................................................... 44 3.1 TRATADOS .................................................................................................................................... 44 3.2 DECISÕES DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS ........................................................... 48 3.3 ATOS UNILATERAIS ................................................................................................................... 49 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 51 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 53 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 54 UNIDADE 2 —AGENTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ................................ 55 TÓPICO 1 — ESTADOS ...................................................................................................................... 57 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 57 2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE ESTADO ....................................... 57 3 SOBERANIA ....................................................................................................................................... 61 4 RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO ...................................................... 66 5 RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS ....................................................................................................... 68 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 70 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 71 TÓPICO 2 — ORGANISMOS INTERNACIONAIS ..................................................................... 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 COMPOSIÇÃO E FORMA DE FUNCIONAMENTO DAS ORGANIZAÇÕES .................. 73 3 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU ................................................................... 75 3.1 CONSELHO DE SEGURANÇA ................................................................................................ 79 3.2 ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES ...................................................................................... 81 3.3 SECRETARIADO .......................................................................................................................... 82 3.4 CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL .................................................................................... 83 3.5 CONSELHO DE TUTELA ........................................................................................................... 84 4 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO — OIT ............................................ 84 5 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO – OMC ........................................................... 86 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 88 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89 TÓPICO 3 — DIREITO INTERNACIONAL E DIREITOS HUMANOS .................................. 91 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91 2 DIREITOS HUMANOS NA PERSPECTIVA DA ONU ............................................................. 92 3 DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .................................................. 96 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 104 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 109 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 110 UNIDADE 3 — NOÇÕES DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ............................... 111 TÓPICO 1 — DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ............................................................ 113 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 113 2 CONCEITO E OBJETIVOS ............................................................................................................ 114 2.1 QUESTÕES HISTÓRICAS DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ......................... 116 2.1.1 O direito internacional privado e sua conexão com os direitos humanos ................ 122 3 CONFLITOS ..................................................................................................................................... 125 3.1 CONFLITOS INTERESPACIAIS ............................................................................................... 126 3.2 CONFLITOS INTERPESSOAIS ................................................................................................ 126 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 128 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 129 TÓPICO 2 — FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 COSTUMES ...................................................................................................................................... 132 3 LEIS ..................................................................................................................................................... 133 3.1 JURISPRUDÊNCIA..................................................................................................................... 133 3.2 TRATADO INTERNACIONAL ................................................................................................ 134 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 140 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 141 TÓPICO 3 — DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO BRASILEIRO ................................ 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 LEI DE INTRODUÇÃO AO DIREITO BRASILEIRO .............................................................. 143 2.1 RECEPÇÃO NO BRASIL ........................................................................................................... 145 2.1.1 Estatuto do estrangeiro ..................................................................................................... 146 3 HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA............................................................. 148 4 ARBITRAGEM INTERNACIONAL ............................................................................................149 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 155 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 156 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 157 1 UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • analisar historicamente a evolução do Direito Internacional até os dias atuais; • diferenciar Direito Internacional de Direito Interno; • elencar os princípios gerais do Direito; • realizar uma leitura crítica sobre a aplicabilidade interna e externa desses princípios; • determinar as funções de tais princípios; • Relacionar os princípios do Direito Internacional Público; • Identificar os sujeitos do Direito Internacional Público; • Especificar as fontes do DIP. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL TÓPICO 2 – DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO TÓPICO 3 – FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 1 INTRODUÇÃO Para definir o Direito Internacional Público é necessário compreender o que é a sociedade internacional. Podemos afirmar que Direito Internacional é um conjunto de regras que regula a sociedade internacional e suas peculiaridades, tal sociedade é formada pelos Estados, pelas organizações internacionais e pelos indivíduos (HUSEK, 2006). A sociedade internacional funciona de maneira bem diferente da sociedade interna, por isso iniciaremos nosso estudo traçando uma linha histórica da evolução do Direito Internacional (HUSEK, 2006). Para facilitar sua compreensão, inserimos quadros exemplificativos, que trarão resumos sobre essa evolução, estruturados a fim de delimitar características específicas de cada momento. O tópico abordará as noções gerais de Direito Internacional, passando pelas questões históricas, pelo comparativo entre Direito Internacional e Direito Interno e os princípios gerais do Direito. FIGURA 1 – UM MUNDO, VÁRIOS DIREITOS FONTE: <https://www.direitoprofissional.com/direito-internacional/>. Acesso em: 16 out. 2019. UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 4 2 QUESTÕES HISTÓRICAS DO DIREITO INTERNACIONAL Existem muitas discussões sobre a concepção e definição do direito internacional, uma delas é de que ele seria derivado da cultura ocidental cristã, originando-se no século XVI, no início da era moderna. O seu objetivo seria o de regular as relações entre Estados através de normas escritas e não escritas. Dessa forma, se estabeleceu a divisão entre direito internacional e direito interno (CARREAU; BICHARA, 2015). Essa configuração é denominada como clássica, teve início no século XVI e seu enceramento culminando com o pós Segunda Guerra, sem uma data definida (CARREAU; BICHARA, 2015). O período clássico retratou a organização das comunidades internacionais da época. Mas antes disso, é importante que voltemos no tempo para que você, acadêmico, possa visualizar as maiores influências do direito internacional que surgiram mesmo antes da era moderna. Influências cristãs e bíblicas Em razão da influência cristã ocidental, é possível encontrar seguimentos da Bíblia no direito internacional, a ideia de que todo ser humano é igual perante Deus, e o pluralismo das nações, sendo iguais entre si (CANEZIN; TROMBETTI, 2013). Trazendo isso para a contemporaneidade, e também para a prática, esses pontos podem ser visualizados na Carta das Nações Unidas em seu preâmbulo e também em seu Capítulo I. NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla (ONU, 1945, p. 3). É possível verificar, também nas passagens bíblicas, questões que impõem regras morais e jurídicas a toda humanidade, mais uma vez é possível fazer analogia, ou seja, comparação com um conceito do direito internacional. O jus conges (direito cogente), instituído pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados em 1969. Esse conceito diz respeito à norma de direito internacional geral peremptória, imperativa e irrevogável que não pode ser derrogada e que só pode ser alterada por norma da mesma natureza. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 5 Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (CVDT) é um tratado do direito internacional que estabelece as regras comuns para a assinatura de tratados entre Estados-nações. Elaborada em 1969 pela Comissão de Direito Internacional (CDI), uma instituição das Nações Unidas, após quase duas décadas de planejamento, a Convenção foi efetivada em 1980. A necessidade de um conjunto comum de normas para tratados internacionais foi primeiro discutida pela CDI logo em sua sessão inaugural, em 1949, quando o mundo ainda se recuperava do caos da Segunda Guerra Mundial. FONTE: <https://www.infoescola.com/direito/convencao-de-viena-sobre-o-direito-dos- tratados/>. Acesso em: 21 fev. 2020. NOTA Influências Gregas Além das influências cristãs, também há de se mencionar que o direito internacional herdou muitas características das sociedades gregas. Os gregos foram os primeiros a criarem a noção de “nós” e os “outros”, no início a aplicabilidade do direito e justiça só correria com aqueles considerados civilizados, ou seja, as próprias comunidades gregas que possuíam pontos em comum como a cultura, religião e civilização (CARREAU; BICHARA, 2015). Depois, em razão de interesses entre comunidades gregas e Estados, houve a criação e a aplicabilidade de técnicas utilizadas pelo direito internacional, como a arbitragem. Nesse sentido, a arbitragem surge como meio de resolução de conflitos que ainda hoje é utilizado em diversas áreas do direito internacional, por exemplo, casos de conflitos econômicos entre Estados. As sociedades gregas também contribuíram com a criação preceitos de humanização com prisioneiros de guerra e com a inviolabilidade de determinados espaços como templos religiosos. Na prática, essa influência pode ser observada na perspectiva dos Direitos Humanos no direito internacional (TEXEIRA, 2013). A Grécia Antiga corresponde ao momento histórico considerado entre os anos 1.000 a 776 a.C. até a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., seguido do helenismo, que marcou a transição para o domínio e apogeu de Roma. Em regra, os historiadores citam como o primeiro legislador grego Drácon (660 a 600 a.C.) de Atenas, cujo Código, que recebeu o seu nome, foi escrito provavelmente do ano 621 a.C. em diante. A insatisfação com as leis de Drácon era generalizada, porque fazia demarcação profunda das classes superior e inferior e se mostrava extremamente dura em relação à classe IMPORTANT E UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 6 menos favorecida. Tanto assim que depois de trintaanos de sua existência a classe inferior veio a reclamar nova legislação. Surge assim, o Código de Sólon, totalmente diferente do anterior, correspondendo uma verdadeira revolução social porque se aplica igualmente a todas as pessoas, independentemente da classe que ocupe. O destaque para o Código e Sólon está na façanha de ter conseguido limitar a autoridade do pai de família, dentro de sua casa. O direito antigo de Atenas permitia até a venda ou a morte do filho pelo pai. Sólon limitou significativamente esta regra, embora ainda admitisse venda ou morte em caso de falta muito grave. FONTE:<https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/34507/a-evolucao-dos- direitos-humanos>. Acesso em: 21 fev. 2020. FIGURA 2 - PANTEÃO GREGO FONTE: <https://jus.com.br/artigos/53321/um-estudo-sobre-a-obra-historia-da-cultura-juridica- -o-direito-na-grecia>. Acesso em: 15 out. 2019. Influências romanas O direito romano possivelmente foi o que mais influenciou diretamente no direito internacional, pois foram os romanos que criaram os tratados de amizade, hospitalidade e aliança com outros Estados. Os romanos também iniciaram a prática de enviar e receber embaixadores de outros Estados, prática importantíssima dentro do direito internacional ainda nos dias de hoje. Além disso, o direito romano instituiu e regulamentou o jus gentium (direito das gentes), o qual tratava a relação de cidadãos romanos com cidadãos estrangeiros. Na época o jus gentium era utilizado como sinônimo de direito internacional. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 7 Ius civile: direito romano aplicado aos cidadãos, ou seja, homens livres residentes na república, o que exclui escravos e estrangeiros. É elaborado; vai tornando- se cada vez mais complexo e incluía o processo, que foi gradualmente adotado depois da concilia plebis e da criação da Lei das XII Tábuas, com as cinco revoltas plebeias durante o período republicano. O cidadão romano era considerado cidadão em todo território, seja ele na própria república, na península itálica, nos territórios aliados, nos protetorados e províncias. Qualquer delito cometido pelo cidadão, onde quer que fosse, acarretaria um processo a ser julgado pelo Direito do cidadão. Ius gentium: o conquistador romano não impunha a Lei das XII Tábuas nem o ius civile aos povos conquistados, isso seria desgastante demais, inclusive em tempo. Para eles, valeria o Direito costumeiro, aplicado a todos os não cidadãos e estrangeiros. Não possuía o processo completo. Isso também interessava a Roma na questão da organização do governo, ou seja, na verdade o que decidia qual dos dois direitos a ser aplicado seriam a conveniência e o momento. Ius gentium: Direito “das gentes”, Direito comum, de todos (os outros). FONTE: <http://notasdeaula.org/dir1/ied_31-03-08.html>. Acesso em: 21 fev. 2020. NOTA Estado moderno O direito internacional teve uma nova concepção já no início do século XVI, a partir do desenvolvimento do conceito de soberania do Estado. A soberania consistiria na essência do Estado, que era definida como poder supremo de criar leis que regeriam pessoas e posses. Uma das reformas ocorridas nessa época, foi o rompimento do Estado com a Igreja em boa parte da Europa. Dessa forma, reafirmando a soberania do Estado sobre os territórios, tornando-o mais forte no que diz respeito a sua autoridade civil. A soberania se constitui na supremacia do poder dentro da ordem interna e no fato de, perante a ordem externa, só encontrar Estados de igual poder. Esta situação é a consagração, na ordem interna, do princípio da subordinação, com o Estado no ápice da pirâmide, e, na ordem internacional, do princípio da coordenação. Ter, portanto, a soberania como fundamento do Estado brasileiro significa que dentro do nosso território não se admitirá força outra que não a dos poderes juridicamente constituídos, não podendo qualquer agente estranho à Nação intervir nos seus negócios. FONTE: BASTOS, C. R. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994. Disponível em:https://www.academia.edu/28121681/Celso_Ribeiro_Bastos_-_Curso_de_Direito_ Constitucional. Acesso em: 14 out. 2019. p. 136. ATENCAO UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 8 Outros elementos importantes para o direito internacional também foram desenvolvidos nessa época (CARREAU; BICHARA, 2015): • Percepção do território do Estado: o território e seus limites passam a ser bem demarcados nessa época, essas demarcações se tornaram importantes para que fossem estabelecidos os limites dos exercícios das jurisdições de cada Estado. • Nação: a ideia de nação e nacionalidade surgem nessa época como forma de proteção e pertencimento de seus indivíduos e em contrapartida esses indivíduos devem lealdade a está nação. • Administração: ocorre a partir na instituição dos exércitos e das administrações privadas. • Tratados: em 1648, por meio dos Tratados de Vestfália, se instituíram as primeiras relações entre Estados soberanos sendo intituladas como direito internacional. A partir dos tratados diversas relações entre Estados se consolidaram, as relações, nessa época, só ocorriam quando havia homogeneidade política. As configurações do direito internacional clássico eram mais simples. É importante ressaltar para você, acadêmico, que o período entre a primeira e segunda guerra modificou bastante o cenário da sociedade internacional, e as regulamentações de direito aplicadas por eles. O pós-1945 tornou ultrapassado muitos fundamentos do direito internacional clássico. Sociedade Internacional é o conjunto de sujeitos internacionais em continua convivência global, relacionando-se e compartilhando interesses comuns e recíprocos através da cooperação, o que demanda certa regulamentação. É baseada na vontade legítima de seus integrantes (Sujeitos de Direito Internacional Público), que se associaram diplomaticamente para atingir certos interesses em comum, é um conjunto de vínculos estabelecidos por motivos políticos, econômicos, sociais e culturais. É formada por Estados, pelos Organismos Internacionais e, Pelas Organizações não Governamentais (ONGs), e até mesmo empresas num rol exemplificativo, pois atualmente existem vários atores no Direito Internacional Público que são significativamente atuantes, e sobretudo pelos homens, como membros atuantes dentro de cada organização. FONTE:<https://felipebast0s.jusbrasil.com.br/artigos/336916824/direito-internacional- publico-e-a-sociedade-internacional>. Acesso em: 21 fev. 2020. IMPORTANT E TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 9 FIGURA 3 - CAPTAINS OF INDUSTRY, DE ROBBER BARONS FONTE: <https://sites.google.com/site/educationforumofnalanieh/industrial-age/rise-of-industry>. Acesso em: 16 out. 2019. Foi na Antiguidade que surgiram as primeiras instituições do direito internacional, já no século XV algumas normas e princípios sobrepõem-se às normas da monarquia da época. A sociedade internacional começa a instituir de forma expressa tratados e convenções internacionais nos séculos XVI, XVII e XVIII, ao passo que no século XIX os Estados delegaram poderes aos organismos internacionais. Finalmente, no século XX, os Estados se firmaram perante a sociedade internacional, para culminar no século XXI com o estabelecimento do Direito Internacional. Vejamos o quadro ilustrativo com o resumo de cada período histórico e sua influência no direito internacional para sua melhor compreensão: QUADRO 1 - FASES DO DIREITO INTERNACIONAL Fase histórica Acontecimentos históricos de cada fase Antiguidade É nessa fase que se podem encontrar as primeiras instituições do direito internacional. Arbitragem como forma de solução de conflitos; inviolabilidade de alguns ambientes; direito asilo e a humanização de prisioneiros. Século XV Algumas normas e princípios se tornam superiores hierarquicamente em relação a normas instruídas por monarcas da época. Séculos XVI, XVII e XVIII A sociedade internacional começaa instituir de forma expressa tratados e convenções internacionais também denominados de forma implícita de costumes internacionais. Século XIX É delegado pelos Estados aos organismos internacionais a função de analisar o reconhecimento dos direitos fundamentais dos indivíduos. UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 10 Século XX Os Estados são reconhecidos como membros de sociedade internacional, formando assim uma ordem jurídica internacional. Dessa forma, surgiram os organismos internacionais, com personalidade jurídica e independentes dos Estados. Século XXI Firma-se perante a doutrina a definição de direito internacional público, como um conjunto de normas e princípios que abarca o coletivo internacional: Estados, organismos internacionais e indivíduos. FONTE: A autora Também conhecida como Paz de Vestfália ou Tratados de Vestfália. Consistiu num conjunto de 11 tratados assinados ao longo de 1648, que colocaram fim na chamada Guerra dos Trinta Anos, uma das séries de conflitos mais destrutivas e sangrentas da história europeia. FONTE: <https://www.infoescola.com/historia/paz-de-vestfalia/>. Acesso em: 15 out. 2019). NOTA 2.1 DIREITO INTERNACIONAL X DIREITO INTERNO A relação entre direito interno e direito internacional é considerado um dos temas mais controvertidos pela doutrina (VEDOVATO 2015), pois os fundamentos e regras instituídos pelo direito internacional implicam diretamente o direito interno dos Estados. Um dos maiores impasses nesse sentido é sobre a subordinação do direito interno em relação ao direito internacional. Dessa forma, vamos colocar aqui algumas correntes doutrinárias importantes para que possamos visualizar melhor essa questão: Teoria dualista: essa teoria defende que o direito internacional e o direito interno são independentes e distintos e que não se confundem. Nesse caso, a validade jurídica das normas internas não é vinculada a ordem internacional. O direito internacional trataria apenas das relações entre os Estados, enquanto que o direito interno regulamentaria as relações entre os indivíduos (CARREAU; BICHARA, 2015). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 11 Os dualistas enfatizam a diversidade das fontes de produção de normas jurídicas, lembrando sempre os limites de validade de todos o direito nacional, e observando que a norma do direito das gentes não opera no interior de qualquer Estado senão quando este, havendo-a aceito, promove-lhe a introdução no plano doméstico (TEXEIRA, 2013, p. 42-43). Em conclusão, nesse caso, o direito internacional não criaria nenhum tipo de obrigação em relação aos indivíduos, com exceção em casos em que as normas de direito internacional são transformadas e ou incorporadas no direito interno. Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre os países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto histórico. FONTE:<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm>. Acesso em: 21 fev. 2020. ATENCAO Teoria monista com supremacia internacional: um dos grandes formuladores dessa teoria é Hans Kelsen, que se contrapunha à ideia de existência de independência dos ordenamentos jurídicos interno e internacional. Nesse caso, só existiria um único ordenamento jurídico, no qual o direito internacional é superior ao direito interno. Essa teoria teve bastante relevância na França e na Alemanha durante a década de 1980. Hans Kelsen defendia essa teoria com argumento de que ela traria uma maior praticidade (TEXEIRA, 2013). Teoria monista com supremacia do direito interno: essa doutrina defende uma única ordem jurídica, a do direito nacional de cada Estado soberano. Dessa forma, as normas do direito internacional devem se adaptar ao direito interno, sendo uma continuação deste. Os monistas da linha nacionalista dão relevo especial para à soberania de cada Estado e à soberania de cada Estado e à descentralização da sociedade internacional. Propendem, destarte, ao culto da constituição, estimando que no seu texto, no qual nenhum outro pode sobrepor-se na hora presente, há de encontrar-se notícia do exato grau de prestigio a ser atribuído às normas internacionais escritas e costumeiras (TEXEIRA, 2013, p. 43). Em conclusão, o fundamento das três teorias é a de desautorizar as demais. Mas cada uma delas deve ser valorizada, uma vez que a partir delas podemos visualizar o mesmo impasse jurídico de três pontos diferentes. UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 12 FIGURA 4 - ORDEM JURÍDICA FONTE: <https://luanmesan.jusbrasil.com.br/artigos/483592281/sujeitos-e-atores-internacionais>. Acesso em: 15 out. 2019). Ordem jurídica: são as normas impostas pelos Estados com o objetivo de harmonizar o convívio em sociedade. Dessa organização harmônica, advém o Estado de Direito. Como forma de compreendermos mais sobre as relações entre o direito internacional e o direito interno apresentamos um quadro comparativo sobre dinâmicas de ordem jurídica de cada um. QUADRO 2 - DIFERENÇAS ENTRE O DIREITO INTERNO E O DIREITO INTERNACIONAL Direito Interno Direito Internacional Existe uma autoridade suprema do Estado que atribui validade a todos os atos jurídicos. Aqui não existe autoridade superior, e também não há sobreposição entre os Estados. Todos os Estados se organizam de forma igual perante a norma jurídica internacional. Aqui há hierarquia entre as normas. Podemos citar a pirâmide de Kelsen onde a lei fundamental se estabelece no topo. Nesse caso, não há hierarquia entre as normas. O que prevalece é uma análise política e a aplicação dos princípios que ordenam as relações entre os Estados soberanos. Existe um arcabouço de sanções de forma estruturada. Não há um sistema de sanções em que os Estados incorram devido à falta de uma autoridade central que possa exercer fiscalização. FONTE: A autora TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 13 FIGURA 5 - PIRÂMIDE DE KELSEN FONTE: <https://equilibrecursos.com.br/2015/09/relembrando-a-piramide-de-kelsen-parte-01/>. Acesso em: 21 fev. 2020. Hans Kelsen é o pai da Teoria Pura do Direito, que busca analisar de forma estrutural e hierárquica o Direito. Assim, é fácil de entender o motivo de defender a Teoria Monista com supremacia internacional. A Pirâmide de Kelsen é um sistema de escalonamento de normas jurídicas, elaborado pelo jurista Europe, há cerca de um século. A teoria promove um esquema de hierarquia entre as diversas espécies de normas jurídicas, escalonando-as de maneira a retratá-las como superiores/ inferiores entre si. FONTE:<https://equilibrecursos.com.br/2015/09/relembrando-a-piramide-de-kelsen- parte-01/>. Acesso em: 21 fev. 3030. IMPORTANT E 3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Em 1920 através do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, em seu artigo 38, foi instituído os princípios gerais do direito, que se tornaram fontes do direito internacional. Podemos entendê-los como regras que norteiam as relações internacionais. Na contemporaneidade também podemos visualizar esses princípios incorporados no Estatuto da Corte Penal Internacional em seu artigo 21. UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 14 A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia (Holanda), é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte – que é parte da Carta das Nações Unidas – podem recorrer a ela. Somente países, nunca indivíduos, podem pedir pareceres à Corte Internacional de Justiça. Além disso, a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros órgãos das Nações Unidas. A Corte Internacional de Justiça se compõe de quinze juízes chamados “membros” da Corte. São eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança em escrutíniosseparados. FONTE: <https://nacoesunidas.org/conheca/como-funciona/cij/>. Acesso em: 21 fev. 2020. ATENCAO Com a assinatura do Tratado de Roma, em 17/07/1998, criou-se o Tribunal Penal Internacional (TPI), o qual entrou em vigor em 01/07/2002, com a 60ª ratificação, e veio para complementar as jurisdições penais nacionais. O Brasil assinou o Tratado em 07/02/2000, ratificado pelo Decreto nº 4.388, de 25/09/2002. Os principais princípios que regem o TPI são: responsabilidade criminal individual (artigo 25, do Estatuto de Roma), imunidade de chefes de Estado e Ministros não os beneficiará se envolvidos em crimes internacionais e ne bis in idem (artigo 20, do Estatuto de Roma). Uma das características do TPI é que somente pode legislar com posterioridade a sua criação, sua competência não é retroativa. Ademais, o objetivo do TPI é promover a justiça, julgando e condenando indivíduos suspeitos de cometer crimes contra os Direitos Humanos. FONTE:<https://jus.com.br/artigos/72929/o-tribunal-penal-internacional-e-os-crimes- tipificados-no-estatuto-de-roma>. Acesso em: 21 fev. 2020. IMPORTANT E Qualificação dos princípios gerais do direito: existem alguns preceitos para que uma regra seja considerada um princípio geral do direito. • Inicialmente é necessário que esta regra tenha sido incorporada pelos sistemas jurídicos de diversos Estados (TEXEIRA, 2013). • É necessário que essas regras sejam transferidas a ordem internacional em virtude da sua generalidade, e também devem receber força obrigatória (TEXEIRA, 2013). Controvérsia dos princípios gerais do direito: TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 15 • A primeira controvérsia diz respeito à própria existência de princípios gerais do direito. Parte da doutrina defende que não existem princípios gerais do direito com autonomia, mas o que existiria seriam costumes gerais (TEXEIRA, 2013). • Já outra corrente doutrinaria reafirma a existência dos princípios gerais do direito afirmando que eles derivam no direito interno dos Estados e a posteriormente são transferidos a ordem internacional (TEXEIRA, 2013). Principais princípios gerais do direito reconhecidos pela ordem internacional (ONU, 1970): a) proibição do uso ou ameaça de força: os Estados devem se abster da ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou de qualquer outra maneira inconsistente com os propósitos das Nações Unidas; b) solução pacífica das controvérsias: o princípio de que os Estados resolverão suas disputas internacionais por meios pacíficos, de maneira que a paz, a segurança e a justiça internacionais não sejam ameaçadas; c) não intervenção nos assuntos internos dos Estados: nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, por qualquer motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro Estado. Consequentemente, a intervenção armada e todas as outras formas de interferência ou tentativa de ameaça contra a personalidade do Estado ou contra seus elementos políticos, econômicos e culturais estão violando o direito internacional; d) dever de cooperação internacional: os Estados têm o dever de cooperar entre si, independentemente das diferenças em seus sistemas político, econômico e social, nas diversas esferas das relações internacionais, a fim de manter a paz e a segurança internacionais e promover a estabilidade e o progresso econômico internacional, o bem-estar geral das nações e a cooperação internacional livre de discriminação com base nessas diferenças. e) igualdade de direitos e autodeterminação dos povos: todos os povos têm o direito de determinar livremente, sem interferência externa, seu status político e buscar seu desenvolvimento econômico, social e cultural, e todo Estado tem o dever de respeitar esse direito; f) igualdade soberana do Estado: todos os Estados gozam de igualdade soberana. Eles têm direitos e deveres iguais e são membros iguais da comunidade internacional, apesar das diferenças de natureza econômica, social, política ou outra; g) boa fé no cumprimento das obrigações internacionais: todo Estado tem o dever de cumprir de boa-fé suas obrigações sob os princípios e regras geralmente reconhecidos do direito internacional. Princípios gerais do direito no Brasil: no Brasil, os princípios fundamentais relativos à ordem internacional estão presentes no artigo 4º da Constituição Federal de 1988: UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 16 a) independência nacional: “ligado à ideia de soberania. A palavra soberania é oriunda do latim super omnia ou de superanus ou supremitas (caráter dos domínios que não dependem senão de Deus), e significa, grosso modo, o poder supremo” (LOPES, 2009, p. 3); b) prevalência dos direitos humanos: “a ordem internacional consagra a tutela dos direitos dos indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, atingindo inclusive os apátridas” (LOPES, 2009, p. 5); c) autodeterminação dos povos: “liberdade de um determinado grupo de definir a forma de se organizar politicamente. Vincula-se à soberania, uma vez que também se refere ao poder de se autogovernar. Busca estabelecer uma posição anticolonialista e antirracista” (LOPES, 2009, p. 6); d) não intervenção: “em assuntos exclusivamente domésticos dos demais Estados, respeitando-se a sua soberania. Depois, o de rechaçar qualquer ameaça à ingerência interna, que ponha em risco o desenvolvimento político, econômico, social e cultural do Estado (LOPES, 2009, p. 7); e) igualdade entre os Estados: “reafirma os ideais de soberania e autodeterminação dos povos, reiterando que a comunidade de Estados deve se respeitar mutuamente e levar em conta que todos são igualmente soberanos nas relações internacionais” (LOPES, 2009, p. 9); f) defesa da paz: “elevação desse princípio à ordem constitucional pauta o Brasil pela paz universal e perpétua” (LOPES, 2009, p. 10); g) solução pacífica dos conflitos: “estabelece que a política externa brasileira deve resolver seus conflitos por meios pacíficos, banindo o uso da força nas relações internacionais” (LOPES, 2009, p. 11); h) repúdio ao terrorismo e ao racismo: “diz respeito a promover a eliminação de todas as formas de discriminação racial nas relações internacionais” (LOPES, 2009, p. 11); i) cooperação entre os povos para o progresso da humanidade: “não se trata de qualquer cooperação, mas a que tenha por escopo o progresso da humanidade, o que exigirá dos que tomam decisões em nome da comunidade nacional” (MAGALHÃES, 2000 apud LOPES, 2009, p. 13); j) concessão de asilo político: “É um instrumento de proteção da pessoa na qual o indivíduo solicita ao Estado o seu acolhimento por motivos de perseguições políticas, religiosas e decorrentes do exercício da livre manifestação do pensamento” (LOPES, 2009, p. 14). Segue um exemplo de ementa de decisão do Tribunal Penal Internacional, para você compreender melhor a aplicação dos princípios gerias do Direito no Brasil, em uma lide internacional: Estatuto de Roma - Tribunal Penal Internacional – prisão de chefe de estado estrangeiro (transcrições) pet 4625/república do Sudão*. Ementa: estatuto de Roma. Incorporação dessa convenção multilateral ao ordenamento jurídico interno brasileiro (Decreto nº 4.388/2002). Instituição do Tribunal Penal Internacional. Caráter supraestatal desse organismo judiciário. Incidência do princípio da complementaridade (ou da subsidiariedade) sobre o exercício, pelo Tribunal Penal Internacional, de sua jurisdição. Cooperação internacional e auxílio judiciário: obrigação geral que se impõe aos estados partes do TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 17 estatuto de Roma (artigo 86). Pedido de detenção de chefe de estado estrangeiro e de sua ulterior entrega ao tribunal penal internacional, para ser julgado pela suposta prática de crimes contra a humanidade e de guerra. Solicitação formalmente dirigida, pelo tribunal penal internacional,ao governo brasileiro. Distinção entre os institutos da entrega (“surrender”) e da extradição. Questão prejudicial pertinente ao reconhecimento, ou não, da competência originária do supremo tribunal federal para examinar este pedido de cooperação internacional. Controvérsias jurídicas em torno da compatibilidade de determinadas cláusulas do estatuto de Roma em face da constituição do Brasil. O § 4º do art. 5º da constituição, introduzido pela Ec nº 45/2004: cláusula constitucional aberta destinada a legitimar, integralmente, o estatuto de Roma? A experiência do direito comparado na busca da superação dos conflitos entre o estatuto de Roma e as constituições nacionais. A questão da imunidade de jurisdição do chefe de estado em face do tribunal penal internacional: irrelevância da qualidade oficial, segundo o estatuto de Roma (artigo 27). Magistério da doutrina. Alta relevância jurídico-constitucional de diversas questões suscitadas pela aplicação doméstica do estatuto de Roma. Necessidade de prévia audiência da douta procuradoria-geral da república. Despacho do senhor Ministro Celso de Mello (STF, 2009, s.p.) 3.1 ÁREAS DE APLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Quando se fala da aplicabilidade dos princípios gerais do direito temos três campos considerados clássicos que são: interpretação dos atos jurídicos; responsabilidade internacional e administração da justiça. E o campo considerado novo dividido em: relações de Organizações internacionais e Estados e relações de Organizações Internacionais e Estados e pessoas privadas e estrangeiras. Campos clássicos: 1) Interpretação dos atos jurídicos: trata da aplicabilidade dos princípios gerais do direito por meio dos tratados internacionais e suas interpretações. Acabam se estendendo a todos os atos internacionais em razão da natureza de obrigatoriedade desses princípios. 2) Responsabilidade internacional: esse caso trata das responsabilidades e da obrigatoriedade de reparo pelos danos causados pelos seus agentes. E essa responsabilidade se dá tanto na ordem interna quanto na ordem internacional, “o prejuízo sofrido deve ser indenizado em suas duas componentes: a perda sofrida (dannum energens) e ganho futuro frustrado (lacrum cessans)” (CARREAU; BICHARA, 2015, p. 88). 3) Administração da justiça: trata dos casos de sentenças e julgamentos proferidas por juízes e ou árbitros internacionais. Os juízes e árbitros podem decidir o que é ou não de sua competência, e também podem julgar em causa própria. Porém, não podem julgar ultra petita, ou seja, conceder algo que vai além do pedido. A sentença internacional forma coisa julgada em relação as partes. Em relação às provas, essas cabem ser comprovadas pelos litigantes. Os juízes e árbitros devem ser autônomos em relação as partes. UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 18 Campos novos: 1) Relações de organizações internacionais e Estados: nesses casos todas organizações internacionais que prejudicarem algum Estado membro ou os seus indivíduos acaba por gerar responsabilidade internacional sobre a causa. 2) Relações de organizações internacionais e Estados e pessoas privadas e estrangeiras: essas relações tratam de direito transnacional e geralmente ocorrem por meio de contratos de concessão. Na maioria das vezes, os árbitros responsáveis por esses contratos sempre fazem relação a vários dos princípios gerais do direito como, por exemplo, a boa fé no cumprimento das obrigações internacionais. 3.2 FUNÇÕES DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO Os princípios gerais do direito juntamente com os costumes possuem papel primordial dentro da sociedade internacional. Os princípios acabam suprindo diversas complexidades não atendidas pelos tratados. O costume internacional é uma prática geral aceita como sendo o direito. Possui elemento material e subjetivo. O elemento material é a própria prática, ou seja, a repetição, ao longo do tempo, de um determinado modo de proceder, atuar, diante de um determinado fato. Traduz-se pela repetição de atos, comportamentos e opiniões, na administração de suas relações externas ou da organização interna, pelos sujeitos de Direito Internacional. FONTE: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/o-que-e-costume- internacional/32999>. Acesso em: 21 fev. 2020. IMPORTANT E • Função de objeto central na sociedade internacional e suas relações: os princípios gerais do direito como forma central da sociedade internacional acabam exercendo uma função de reserva ou até mesmo de “coringa”. Geralmente, se recorre a eles quando existe algum empasse ou controvérsia em que tratados não dão conta. Também são utilizados quando um novo campo do direito internacional surge, e em casos de impasses de estatutos jurídicos diferentes. Um grande exemplo de função central dos princípios gerais do direito é em matérias de Direitos Humanos, animais, meio ambiente e o planeta Terra de modo geral. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL 19 • Função subjetiva: esse caso trata subjetividade dos princípios gerais do direito quanto a sua interpretação e avaliação pelos juízes e árbitros. • Função de desenvolvimento: essa função ocorre porque a partir dos princípios gerais do direito se desenvolvem as novas regras convencionais que são bem estabelecidas. Dessa forma, permite que a partir deles se possa adaptar novas situações e lacunas. 20 Neste tópico, você aprendeu que: • O Direito Internacional foi influenciado de diversas formas, tanto através da religião, quanto das sociedades gregas, das sociedades romanas e finalmente da concepção de Estado Moderno. É o período pós Revolução Industrial o de maior incidência. • A dicotomia existente entre o Direito Internacional e o Direito Interno, enfrentando o debate entre as teorias Dualista – que defendem que o direito internacional e o direito interno são independentes e distintos e que não se confundem, a Monista com supremacia do Direito Internacional – segundo a qual, só existiria um único ordenamento jurídico em que o direito internacional é superior ao direito interno e Monista com supremacia do Direito Interno – defende uma única ordem jurídica, sendo a do direito nacional de cada Estado soberano. • As questões que envolvem os princípios gerais do direito são reconhecidas pela ordem internacional, bem como os princípios que regem o Brasil nas suas relações internacionais. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 Em relação à evolução histórica do Direito Internacional no período do Estado moderno, pode-se afirmar que: a) ( ) O território e seus limites passam a ser bem demarcados nessa época, essas demarcações se tornaram importantes para que fossem estabelecidos os limites dos exercícios das jurisdições de cada Estado. b) ( ) A ideia de nação e nacionalidade surgem, nessa época, como forma de proteção e pertencimento de seus indivíduos. c) ( ) Os Estados da Europa continuavam muito próximos da igreja católica, permanecendo sob forte influência religiosa. d) ( ) Os Estados iniciaram a prática de enviar e receber embaixadores de outros Estados, prática que é importantíssima dentro do direito internacional ainda nos dias de hoje. 2 A relação entre direito interno e direito internacional é considerado um dos temas mais controvertidos pela doutrina (VEDOVATO 2015), pois os fundamentos e regras instituídos pelo direito internacional implicam diretamente o direito interno dos Estados. Sobre esse tema, quais são as principais correntes doutrinárias: a) ( ) Teoria Dualista, Teoria Monista e Teoria Pura do Direito. b) ( ) Teoria Monista com supremacia Internacional, Teoria Pura do Direito e Teoria Dualista. c) ( ) Teoria Dualista, Teoria Monista com supremacia do Direito Internacional, Teoria Monista com supremacia do Direito interno. d) ( ) Teoria Pura do Direito, Teoria das Normas hierárquicas e Teoria Dualista. 3 Ao analisar os Princípios Gerais do Direito, surgem duas controvérsias. Quaissão elas e como se constituem? AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 1 INTRODUÇÃO As relações internacionais estão muito presentes no nosso cotidiano. Os encontros de líderes mundiais, por exemplo, que antes eram tratados somente pela mídia especializada e aconteciam em portas fechadas, passaram a ser assunto entre diferentes públicos na internet e nas mídias alternativas. A informação está mais acessível, o que aumenta também o interesse das pessoas por temas relacionados às relações internacionais. Conforme já mencionado no tópico anterior, distinguem-se direito interno e direito internacional, no qual o primeiro orienta as relações jurídicas no âmbito nacional e o segundo trata das relações jurídicas de diferentes sistemas de Estados. Nesse seguimento, temos as seguintes subdivisões: direito internacional público e direito internacional privado. Para organizar melhor nossos estudos, trataremos primeiramente do direito internacional público. Vamos aos estudos? 2 CONCEITO Não existe um consenso na doutrina jurídica sobre o conceito do direito internacional público, em razão de suas diversas influências históricas, conforme estudamos no Tópico 1. Contemporaneamente podemos conceituar o direito internacional público como uma área do direito que busca regulamentar e tutelar as relações internacionais e os temas de interesse da sociedade internacional e consecutivamente seus membros. Sociedade internacional Muitos foram as sequelas deixadas pela Segunda Guerra Mundial, a utilização de bombas atômicas, armas de grande alcance, genocídios, massacres, armas biológicas e químicas. A sociedade internacional daquele contexto teve a inciativa de providenciar algumas alterações na ordem jurídica internacional como forma de prevenção: 1) Fortalecimento dos organismos internacionais providos de personalidade jurídica. 2) Propagação dos princípios de direito internacional entre todos países do globo. 24 UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL Incorporação na sociedade internacional dos Estados que legitimaram os princípios de direito internacional em suas comunidades nacionais (CARREAU; BICHARA, 2015). Essas iniciativas foram as formas de chegar a um bem comum de paz internacional, abarcando países capitalistas e socialistas e suas diferenças culturais. Além disso, era necessário que todos tomassem consciência do valor humano e da primordialidade da luta para manter esses valores. Depois das mudanças pós-1945, outros elementos foram responsáveis pela evolução da sociedade internacional, como, por exemplo, o desenvolvimento de novos meios de comunicação e tecnologias que possibilitaram ainda mais a aproximação entre os Estados e o fenômeno da globalização. • Estado: é a pessoa jurídica formada por uma sociedade que vive num determinado território e subordinada a uma autoridade soberana. Trata-se do conjunto de poderes políticos e administrativos de uma nação. • Nação: agrupamento humano, cujos membros, fixados em um território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos e linguísticos. • País: “é um conceito muito amplo, que abrange tudo o que se encontra em um determinado território administrado por um Estado. Assim, enquanto o Estado relaciona população, território e governo, um País abrange características físicas, sociais, culturais, econômicas, ou seja, todas as características presentes no território. Seguindo o nosso exemplo, o Brasil é o nosso País, enquanto a República Federativa do Brasil é o nosso Estado. FONTE:<https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/196302/qual-a-diferenca-entre-estado-e- nacao-michele-melo>;<https://www.infoenem.com.br/entenda-a-diferenca-entre- territorio-estado-nacao-e-pais/>. Acesso em: 21 fev. 2020. NOTA Ainda, nesse sentido, outros elementos da sociedade internacional contemporânea começaram a aparecer: a) Maior troca de informações entre os Estados. b) Instantaneidade na troca das informações. c) Velocidade e um maior volume das comunicações e também na locomoção dos indivíduos. d) A criação de uma grande rede de organizações de internacionais e uma participação em massa pelos Estados, tanto de forma universal quanto regional. TÓPICO 2 — DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 25 Especificamente, no Direito Internacional Público, o foco é o relacionamento entre os sujeitos do Direito Internacional. Estes, por sua vez, podem ser os Estados, as Organizações Internacionais e, em certa medida, os indivíduos, sobretudo, em matéria penal e humanitária. Disso decorrem questões ligadas à manutenção da paz, à proteção dos Direitos Humanos, à constituição de um regime criminal internacional etc. ATENCAO É importante saber que essas novas estruturas da sociedade internacional de modo geral formam o conceito do direito internacional contemporâneo, pois visa garantir que esse direito esteja sempre apto para manutenção dos preceitos internacionais. Atributos do direito internacional público É importante que estudemos algumas características do direito internacional para que você possa compreender melhor o seu funcionamento (CARRAPOZ, 2012): QUADRO 3 - CARACTERÍSTICAS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO Inexistência de órgãos centrais No direito internacional público não existe um poder legislativo capaz de criar normas supranacionais e aplicáveis a todos os Estados. Além disso, não há tribunais de jurisdição absoluta e obrigatória. Baixo nível de codificação Há menos tratados do que leis internas, e o direito internacional tem regras abertas à interpretação, como acontece no caso de costumes, que necessitam ser reconhecidas pelos Estados Escassez de sujeitos Os únicos que possuem personalidade jurídica são os Estados soberanos e as Organizações internacionais. Responsabilidade coletiva Quando preciso as sanções podem ser aplicadas de forma coletiva, um exemplo são as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas Boa-fé Aqui temos a influência do princípio do pacta sunt servanda e boa fé em relação a transparência das relações internacionais. Igualdade soberana Existe igualdade entre todos os Estados que possuem o mesmo nível nas responsabilidades e compromissos de direito internacional Proteção aos direitos humanos Além de regular as relações entre os sujeitos de direito internacional como os Estados e Organizações, o maior fundamento do Direito internacional público é tutelar os direitos fundamentais dos indivíduos FONTE: Adaptado de Carrapoz (2012) 26 UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL Os atributos do Direito Internacional Público servem de pressupostos para compreendermos quais são os princípios que irão reger essa área. O Conselho de Segurança é o órgão da ONU responsável pela paz e segurança internacionais. Ele é formado por 15 membros: cinco permanentes, que possuem o direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China – e dez membros não permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por dois anos. Este é o único órgão da ONU que tem poder decisório, isto é, todos os membros das Nações Unidas devem aceitar e cumprir as decisões do Conselho. FONTE:<https://nacoesunidas.org/conheca/como-funciona/conselho-de-seguranca/>. Acesso em: 26 fev. 2020. NOTA 2.1 PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO Os princípios do Direito Internacional Público têm como papel a instituição de uma norma jurídica internacional, que atinja a soberania dos Estados, os indivíduos e as suas especificidades. Em razão disso, várias convenções e tratados são feitos, tais princípios servem como fundamento das relações entre os sujeitos de direito internacional público: • Princípio do consentimento: em regra, todos os Estados não se submetem a regras que não tenham sido criadas e reconhecidas pelo seu legislativo. Dessa forma, é preciso que os Estados tenham reconhecido determinada regra de direito internacional para que se submetam a ela e que se necessário sofram futura sanção pordesobedecê-la (CASELLA; ACCIOLY; SILVA, 2012). • Princípio pacta sunt servanda: esse princípio quer dizer que o que foi estabelecido e pactuado deve ser cumprido (CASELLA; ACCIOLY; SILVA, 2012). Esse princípio foi estabelecido na Convenção de Viena em 1969 em seu artigo 26: “Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa fé”. • Princípio jus cogens internacional: o conceito deste princípio diz respeito à norma de direito internacional geral peremptória, imperativa e irrevogável que não pode ser derrogada e que só pode ser alterada por norma da mesma natureza (CASELLA; ACCIOLY; SILVA, 2012). Esse princípio também foi instituído pela Convenção de Viena em 1969 em seu artigo 53. • Princípio da boa-fé: princípio também instituído pela instituído pela Convenção de Viena em 1969 no artigo18: TÓPICO 2 — DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 27 Obrigação de não frustrar o objeto e finalidade de um tratado antes de sua entrada em vigor um Estado é obrigado a abster-se da prática de atos que frustrariam o objeto e a finalidade de um tratado, quando: a)tiver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver manifestado sua intenção de não se tornar parte no tratado; ou b)tiver expressado seu consentimento em obrigar-se pelo tratado no período que precede a entrada em vigor do tratado e com a condição de esta não ser indevidamente retardada (CONVENÇÃO DE VIENA, 1969, p. 6). • Princípio da responsabilização por atos ilícitos: todo Estado que cometer ato considerado ilícito de acordo com as regras de direito internacional e causar dano algum outro Estado, terá o dever de reparação proporcional. Atualmente esse princípio tem se estendido também as organizações internacionais (CASELLA; ACCIOLY; SILVA, 2012). O fato de o "jus cogens" ser constituído exclusivamente por normas de direito internacional geral realça seu caráter universal. O "jus cogens" exprime valores éticos, que só se podem impor com força imperativa se forem absolutos e universais. Um a norma de "jus cogens" pode ser modificada por outra de mesma natureza, pois ele evolui e m função das transformações da situação sócio-histórica da sociedade internacional e das modificações das concepções políticas, éticas, filosóficas e ideológicas. FONTE:<file:///Users/caroline/Downloads/66736-Texto%20do%20artigo-88124-1-10-201311 25%20(1).pdf>. Acesso em: 8 nov. 2019. IMPORTANT E 3 SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO Quando falamos sobre os sujeitos do direito internacional público, estamos tratando dos destinatários das regras jurídicas internacionais, as quais regem e delimitam as competências desses sujeitos. Os sujeitos são a comprovação da existência de uma sociedade internacional e das regras que a regem (HUSEK, 2006). Depois dessa pequena introdução sobre os sujeitos iniciaremos um Estudo de direito internacional em específico, vamos lá? 28 UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL FIGURA 6 - BANDEIRAS FONTE: <https://alunosonline.uol.com.br/geografia/estado-nacao-governo.html>. Acesso em: 26 fev. 2020. 3.1 ESTADO Os Estados também são nomeados de coletividades estatais e constituem o rol de sujeitos internacionais, sendo eles sujeitos primários constituídos de soberania: Os Estados, à unanimidade das opiniões, são sujeitos de Direito Internacional, inexistindo dúvida quanto ao seu papel no mundo, com a comprovação fática e histórica de sua participação em vários eventos, proporcionando-lhes os diversos autores quase que exclusividade de existência como ser jurídico internacional (HUSEK, 2006, p. 38). As coletividades estatais se iniciaram em 1919 quando foi criada a Liga das Nações a partir do Tratado de Versalhes, que culminou com o término da Primeira Guerra Mundial e foi anterior à criação da ONU — Organização das Nações Unidas. Esse tratado foi uma grande inovação da diplomacia da época, porém o término dessa liga das nações ocorreu por falta de cumprimento das suas próprias determinações (FERNANDES; SILVEIRA, 2018). De forma bem conceitual, os Estados também podem ser denominados como sujeitos compostos de territórios e comunidades de indivíduos humanos, que são administrados pelo Estado soberano. Além disso, o surgimento e a manutenção da sociedade internacional dependem de cada Estado soberano e sua consolidação. As coletividades estatais são responsáveis pela criação de boa parte das normas internacionais, geralmente, a criação dessas normas ocorre por meio dos tratados internacionais (PORTELA, 2017). As coletividades estatais também são responsáveis pela criação das organizações internacionais, as quais dependem das decisões dos Estados para o seu funcionamento. Dessa forma, os Estados soberanos compõem uma parte muito importante do direito internacional e seus desdobramentos (HUSEK, 2006). TÓPICO 2 — DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 29 A organização que podemos chamar de predecessora da ONU é a Liga das Nações, uma instituição criada após o fim da I Guerra Mundial, em 1919, sob o Tratado de Versalhes. Em 1946, a Liga das Nações deixou de existir, devido à impossibilidade de cumprir seu papel de evitar a II Guerra Mundial. FONTE: <https://nacoesunidas.org/conheca/historia/>. Acesso em: 26 fev. 2020. ATENCAO O Tratado de Versalhes foi um documento assinado pelos governantes das nações neoimperialistas no dia 28 de junho de 1919. O contexto histórico em que ocorreu o Tratado de Versalhes foi logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e o objetivo em registrar o momento em um ato oficial foi para deixar registrado o acordo de paz entre as nações envolvidas no conflito. Entretanto, a ideia de “paz” ficou bem longe do tratado. Isso porque a Alemanha, que foi duramente vencida na guerra, foi considerada culpada pelos danos causados. FONTE:<https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/tratado-de-versalhes>. Acesso em: 26 fev. 2020. NOTA 3.2 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS As organizações internacionais também podem ser chamadas de organismos internacionais ou de organizações interestatais. Em razão de existirem diversos interessem em comum entre os Estados soberanos, foram criados projetos e estruturas de colaboração. Nesse sentido, os Estados optaram pela criação de entidades que pudessem auxiliar nos esforços para alcançar os objetivos estatais. No século XX esses sujeitos se consolidaram na sociedade internacional, se tornado característico do direito internacional. As organizações internacionais são entidades criadas e compostas por Estados por meio de tratado, com arcabouço institucional permanente e personalidade jurídica própria, com vistas a alcançar propósitos comuns. Contam com ampla capacidade de ação no cenário internacional e, por isso, são reconhecidas como sujeitos de Direito Internacional, podendo, por exemplo, celebrar tratados e recorrer a mecanismos internacionais de solução de controvérsias. Como são estabelecidas pelos Estados, sujeitos que têm personalidade internacional originária, a doutrina entende que sua personalidade internacional é derivada (PORTELA, 2017, p. 172). 30 UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL No século XIX foram criadas as primeiras organizações, porém, o reconhecimento como sujeitos de direito ocorreu apenas no século XX. O marco desse reconhecimento foi o parecer da Corte Internacional de Justiça. Também é importante mencionar que as organizações internacionais não possuem soberania, pois a soberania só é característica constitutiva dos Estados, pois como vimos anteriormente a soberania está relacionada à manifestação do poder de um país, quando este consegue preservar a paz nas fronteiras e o território interno longe de conflitos. 3.3 ORGANISMOS NÃO ESTATAIS OU OUTRAS COLETIVIDADES Esses sujeitos se caracterizam como entes, não são organismos internacionais. Alguns exemplos mais conhecidos de organismos não estatais são (PORTELA,2017): 1) Santa Sé: este é um ente que possui fundamentos e vínculos ligados à igreja católica, mas se distingue do Vaticano. Além disso, existem divergências em relação a sua personalidade jurídica. Este ente é responsável por gerenciar a igreja católica apostólica romana, sendo o seu líder maior o Papa. O objetivo desse ente é o de administrar os fiéis da igreja católica em suas demandas espirituais. Santa Fé é constituída com órgãos de acessória (Cúria Romana) do Sumo Pontífice. A sua sede se encontra na Cidade do Vaticano, e seu poder não pode ser restringido pelos Estados. Santa Sé um sujeito do direito internacional muito bem consolidado em razão de sua história e influência, pois durante muito tempo o Papado possuiu amplo poder inclusive para poder resolver problemas de cunho internacional. Na contemporaneidade ainda possui certas prerrogativas e importância no cenário internacional tendo em vista as várias influências em assuntos internacionais. É importante salientar que a Santa Sé tem voz na Assembleia das Nações Unidas, contudo não é um membro votante. 2) Cidade do Vaticano: este ente possui a característica de Estado, portanto, possui personalidade jurídica de direito internacional reconhecida. É possuidor de um vasto território, sendo o papa a sua autoridade maior. O maior objetivo desse ente é dar amparo de cunho material à Santa Sé, para que possa cumprir com as suas funções. É importante mencionar que parte da doutrina não considera a Cidade do Vaticano como Estado, a justificativa dessa corrente é de que os objetivos do ente são incompatíveis para com os requisitos básicos de um ente estatal. Porém, a doutrina que defende o ente como Estado soberano considera que os requisitos básicos são preenchidos, que são: território, povo e governo. De qualquer forma a cidade do Vaticano possui a capacidade necessária para atuar nas relações internacionais, participando de tratados e também das organizações internacionais. TÓPICO 2 — DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 31 3) Soberana Ordem da Cruz de Malta: é importante iniciar mencionando que a Soberana Ordem da Cruz de Malta é um ente que está ligado à assistência médica e humanitária sediada em Roma na Itália. Por isso, é considerada como uma organização humanitária internacional, possui diversos profissionais da saúde incluindo voluntários, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e paramédicos. O público alvo deste ente são pessoas vulneráveis, como refugiadas, idosas, crianças e de rua. Este ente possui personalidade jurídica de direito internacional e cumpre missões diplomáticas em diversos lugares do mundo. Parte da doutrina defende que a Soberana Ordem da Cruz de Malta não possui personalidade jurídica internacional em razão de possuir ligação com a Santa Sé. É importante mencionar que outros organismos e coletividade podem se originar no cenário internacional e se estabelecer como sujeitos de direito internacional. As necessidades da sociedade podem mudar e os entes podem variar através do tempo. Além disso, vale ressaltar que na contemporaneidade parte da doutrina tem considerado que empresas transnacionais e multinacionais como entes de personalidade jurídica internacional. “As empresas, também referidas frequentemente como “pessoas jurídicas”, beneficiam-se diretamente de normas internacionais, a exemplo daquelas que facilitam o comércio internacional e os fluxos de investimentos” (PORTELA, 2017, p. 161). Essa parte da doutrina leva em consideração o direito internacional de comércio como justificativa para atribuir personalidade a esses entes, contudo ainda é um tema controverso. A ONU — Organização das Nações Unidas, há algum tempo, tem tentado instituir um regramento internacional para empresas transnacionais. Por meio da Resolução nº 1.721, procura criar e aplicar um código de conduta internacional, porém muitos são os obstáculos. De qualquer forma é inegável a contribuição das empresas para o direito internacional (TEXEIRA, 2013). Com relação às ONGs, apesar do reconhecimento de sua importância como órgãos de organização e representação das sociedades civis, podem apenas ser admitidas como órgãos consultivos da ONU pelo ECOSOC (Conselho Econômico e Social), sem direito a voto (Carta). FONTE: <https://ortegagiovanna.jusbrasil.com.br/artigos/375831429/os-sujeitos-do-direito- internacional-publico>. Acesso em: 8 nov. 2019). ATENCAO 32 UNIDADE 1 — NOÇÕES GERAIS DE DIREITO INTERNACIONAL 3.4 INDIVÍDUOS Por muitos anos a doutrina não considerou os indivíduos como sujeitos de direito internacional, pois partiam da justificativa de que o direito internacional era constituído apenas por sujeitos interestatais. Nesse caso, apenas, os Estados soberanos poderiam instituir normas de direito internacional, ficando a pessoa natural, ou seja, os indivíduos em um segundo plano, no qual apenas receberiam normas internacionais (PORTELA, 2017). Porém, contemporaneamente com as evidências de atuações dos indivíduos na sociedade internacional, a doutrina tem reconhecido o caráter de sujeito de direito internacional dos indivíduos. Em muitos casos esse reconhecimento tem ocorrido até mesmo de forma independente e de algum Estado. Apesar da personalidade jurídica da pessoa natural ainda ser contestada, não se pode mais negar as diversas regras de direito internacional que instituem deveres e obrigações aos indivíduos. Um grande exemplo de regras que abarcam indivíduos são os tratados de direitos humanos que têm por objetivo efetivar a dignidade da pessoa humana (TEXEIRA, 2013). Outro grande exemplo é quando os indivíduos têm a possibilidade de recorrer internacionalmente a direitos que lhe foram concedidos pela ordem jurídica internacional, e que são, independentes do aval dos Estados onde esse indivíduo se encontra, ou de sua nação de origem. Os indivíduos podem fazer reclamações na Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre qualquer desrespeito a direitos previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, nesse caso o país pode ser responsabilizado internacionalmente pelo dano causado (TEXEIRA, 2013). Importa destacar aqui que as Organizações Não Governamentais são entidades (associações civis), sem fins lucrativos, de direito privado e interesse público, que atuam em áreas variadas, por exemplo: saúde, educação e meio ambiente. Sua atuação pode ser em nível local, estadual, nacional e internacional. São caracterizadas pela reunião de indivíduos ao redor de objetivos em comum, que atuam através de práticas solidárias e filantrópicas, tendo como pressuposto a autonomia, a livre adesão e a participação voluntária de seus membros. Apesar de fazerem parte da iniciativa privada não visam ao lucro e suas ações são voltadas para a esfera pública em que o Estado falha no provimento de serviços e assistência. Alguns exemplos de ONGs são: • Médicos Sem Fronteiras (MSF): é uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por graves crises humanitárias. Também é missão da MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos. Disponível em: https://www.msf.org.br/quem-somos. DICAS TÓPICO 2 — DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 33 • WWF-Brasil é uma organização da sociedade civil brasileira, apartidária e sem fins lucrativos que trabalha em defesa da vida, e para isso nosso propósito é mudar a atual trajetória de degradação socioambiental. Criada em 1996, atua em todo Brasil e integra a Rede WWF (Fundo Mundial para a Natureza), presente em mais de 100 países. Disponível em: https://www.wwf.org.br/wwf_brasil/. • Projeto Saúde e Alegria (PSA) atua na Amazônia com o objetivo de promover e apoiar processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável, que contribuam de maneira demonstrativa no aprimoramento das políticas públicas, na qualidade de vida e no exercício da cidadania. Disponível em: http://www.saudeealegria. org.br/?page_id=48.
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