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XI CONGRESSO RECAJ-UFMG: DESAFIOS, TRAVESSIAS E POTENCIALIDADES PARA O DIREITO E O ACESSO A JUSTIÇA FACE AOS ALGORITMOS, AO BIG DATA E À INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CRIMINOLOGIA E CYBERCRIMES MARCO ANTÔNIO ALVES THIAGO DIAS DE MATOS DINIZ VIVIANE VIDIGAL DE CASTRO C929 Criminologia e cybercrimes [Recurso eletrônico on-line] organização XI Congresso RECAJ- UFMG: UFMG – Belo Horizonte; Coordenadores: Marco Antônio Alves, Thiago Dias de Matos Diniz e Viviane Vidigal de Castro – Belo Horizonte: UFMG, 2020. Inclui bibliografia ISBN: 978-65-5648-251-4 Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações Tema: Desafios, travessias e potencialidades para o direito e o acesso à justiça face aos algoritmos, ao big data e à inteligência artificial. 1. Criminologia. 2. Cybercrimes. 3. Tecnologia. I. XI Congresso RECAJ-UFMG (1:2020: Belo Horizonte, MG). CDU: 34 _____________________________________________________________________________ XI CONGRESSO RECAJ-UFMG CRIMINOLOGIA E CYBERCRIMES Apresentação É com imensa satisfação que o Programa RECAJ-UFMG – Acesso à Justiça pela Via dos Direitos e Solução de Conflitos da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais e o CONPEDI – Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito tornam público à comunidade científica o conjunto dos oito livros produzidos a partir dos Grupos de Trabalho do XI Congresso RECAJ-UFMG: Desafios, travessias e potencialidades para o Direito e o Acesso à Justiça face aos algoritmos, ao big data e à inteligência artificial. As discussões ocorreram em ambiente virtual ao longo dos dias 18, 19 e 20 de novembro de 2020, dentro da programação que contou com grandes nomes nacionais e internacionais da área, além de cento e sessenta e três pesquisadoras e pesquisadores inscritos no total, provenientes de quatorze Estados da federação (AC, AM, BA, CE, MG, PA, PE, PR, RJ, RO, RS, SC, SE e SP). Os livros compõem o produto deste congresso, que há mais de uma década tem lugar cativo no calendário científico nacional. Trata-se de coletânea composta pelos cento e oito trabalhos aprovados e que atingiram nota mínima de aprovação, sendo que também foram submetidos ao processo denominado double blind peer review (dupla avaliação cega por pares) dentro da plataforma PublicaDireito, que é mantida pelo CONPEDI. Os oito grupos de trabalho geraram cerca de seiscentas páginas de produção científica relacionadas ao que há de mais novo e relevante em termos de discussão acadêmica sobre diversos temas jurídicos e sua relação com a tecnologia: Acesso à Justiça e tecnologias do processo judicial; Direito do Trabalho no século XXI; Estado, governança, democracia e virtualidades; tecnologias do Direito Ambiental e da sustentabilidade; formas de solução de conflitos, educação e tecnologia; Direitos Humanos, gênero e tecnologias da contemporaneidade; inteligência artificial, startups, lawtechs e legaltechs; e Criminologia e cybercrimes. Os referidos Grupos de Trabalho contaram, ainda, com a contribuição de vinte e quatro proeminentes pesquisadores ligados a renomadas instituições de ensino superior do país, dentre eles alguns mestrandos e doutorandos do próprio Programa de Pós-graduação em Direito da UFMG, que indicaram os caminhos para o aperfeiçoamento dos trabalhos dos autores. Cada livro desta coletânea foi organizado, preparado e assinado pelos professores e pós-graduandos que coordenaram os trabalhos. Sem dúvida, houve uma troca intensa de saberes e a produção de conhecimento de alto nível foi, certamente, o grande legado do evento. Nesta esteira, a coletânea que ora se apresenta é de inegável valor científico. Pretende-se, com esta publicação, contribuir com a ciência jurídica e com o aprofundamento da relação entre a graduação e a pós-graduação, seguindo as diretrizes oficiais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Importante lembrar, ainda, da contribuição deste congresso com a formação de novos pesquisadores na seara interdisciplinar entre o Direito e a tecnologia, uma vez que o número de graduandos que apresentaram trabalhos de qualidade foi expressivo. O Programa RECAJ-UFMG existe desde 2007 e foi criado poucos meses após o Conselho Nacional de Justiça ter iniciado o Movimento pela Conciliação. Durante a I Semana Nacional de Conciliação, em 2006, a Faculdade de Direito da UFMG, por meio de seu então diretor, Professor Doutor Joaquim Carlos Salgado, firmou o compromisso, em 4 de dezembro de 2006, de envidar esforços para incluir disciplina sobre as formas de solução de conflitos na grade curricular da faculdade. De forma pioneira no país e observando a necessidade de estudo e aprofundamento dos temas do acesso à justiça e das formas de solução de conflitos complementares ao Poder Judiciário, a Professora Doutora Adriana Goulart de Sena Orsini passou a ofertar a disciplina “Formas de Resolução de Conflitos e Acesso à Justiça” no período de 2007-2017, em todos os seus semestres na Faculdade de Direito da UFMG. Nesse contexto, o Programa RECAJ-UFMG atua desde o início em atividades de ensino, pesquisa e extensão em acesso a justiça pela via dos direitos e soluções de conflitos. Reúne grupos de alunos e ex-alunos da graduação e da pós-graduação stricto sensu que, sob orientação da Prof. Adriana, passaram a estudar de forma aprofundada os temas nucleares do Programa e aqueles que lhes são correlatos. Desenvolvendo uma série de projetos, tais como grupo de estudos, disciplinas optativas, seminários, pesquisas, cursos de formação, atividades de extensão, dentre outras, o Programa RECAJ-UFMG honra a sua vocação para ações variadas em seus temas de forma responsável, séria, atualizada, científica e contemporânea. No RECAJ-UFMG, a indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e a extensão é uma marca distintiva. Agradecemos ainda a todas as pesquisadoras e pesquisadores pela inestimável contribuição e desejamos a todos uma ótima e proveitosa leitura! Belo Horizonte-MG, 26 de novembro de 2020. Profª. Drª. Adriana Goulart de Sena Orsini - Coordenadora do Programa RECAJ-UFMG Prof. Dr. Caio Augusto Souza Lara - SKEMA Business School/ESDHC/CONPEDI Prof. Dr. José Eduardo Resende Chaves Júnior - SKEMA Business School/PUC Minas ESTUPRO VIRTUAL: A FOMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA E PORNOGRAFIA PARA O NOVO EMPECILHO DO JUDICIÁRIO VIRTUAL RAPE: THE PROMOTION OF TECHNOLOGY AND PORNOGRAPHY FOR THE NEW OBSTACLE OF THE JUDICIARY Clara Aguiar de Freitas Alves Resumo A presente pesquisa tem o intuito de analisar acerca do estupro virtual, buscando evidenciar seu conceito e suas motivações. É investigado, também, os avanços tecnológicos, e a evolução da internet fizeram com que esse crime se dissipasse. Além disso, é importante salientar que a pornografia reflete as visões machistas, reforçando o ideal de que a mulher é objeto, que, por isso, poderia ser violentada. Para tanto, a pesquisa está inserida na vertente metodológica jurídico-sociológica, a técnica trata-se de pesquisa teórica, usando-se do raciocínio dialético. Quanto à investigação, pertence à classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. Palavras-chave: Pornografia, Internet, Estupro virtual, Machista Abstract/Resumen/Résumé This research aims to analyze about virtual rape, seeking to highlight its concept and motivations. It is also investigated, technological advances, and the evolution of the Internet caused this crime to dissipate. In addition, it is important to point out that pornography reflects the sexist views, reinforcing the ideal that the woman is an object, which, therefore, could be raped. Therefore, the research is inserted in the legal-sociologicalmethodological aspect, the technique is theoretical research, using dialectical reasoning. As for the investigation, it belongs to the classification of Witker (1985) and Gustin (2010), the legal- projective type. Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Porn, Internet, Virtual rape, Sexist 6 1 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A pesquisa em pauta aborda sobre um imbróglio surgido na contemporaneidade com o avanço cada vez mais rápido da tecnologia, a qual é o surgimento de uma nova modalidade de estupro: o virtual. Diante disso, é possível afirmar que a internet permitiu um maior alcance de informações e troca de dados para todos os indivíduos em uma velocidade extraordinária. Porém, deu a possibilidade também de ser um meio alternativo de reprodução do patriarcado enraizado na sociedade, o qual normaliza a violência contra a mulher. Nesse tocante, o surgimento desse novo tipo de violência vem se mostrando um desafio para o sistema Judiciário do Brasil, o qual, assim como toda a sociedade, tinha o entendimento de estupro como a necessidade de conjunção carnal. Assim, no ano de 2009, através da lei 12.015, o Código Penal passou por tranformações em seu artigo 213 para ampliar o conceito de estupro: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso” (BRASIL, 2015). A partir disso, tem-se a abertura do leque de violência contra o gênero feminino para o âmbito virtual, onde é o ambiente em que o agressor se sente protegido, uma vez que se esconde por trás de usuários falsos, o uso da identidade de outro indivíduo e das diversas senhas. Ademais, esses não estão no mesmo local físico que sua vítima, mas mesmo assim consegue fazer com que essas passem por uma sensação de constrangimento e medo, dando a eles o sentimento de impunibilidade. Além disso, é preciso salientar sobre a banalização da pornografia, a qual fornece para o seu público um conteúdo de extrema violência contra a mulher, a fazendo de submissa e evidenciando que a figura masculina tem total poder sobre essa. Levando isso em conta, é ensinado à esses últimos que a figura feminina é somente um objeto que pode ser usado exclusivamente para seu prazer sexual. Logo, tem-se que a internet foi um instrumento que possibilitou que esse homem perpetuasse as ações descritas contra a mulher, a obrigando a fazer o que esse queria. A pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será predominantemente dialético. Dessa maneira, a pesquisa busca investigar como o mundo da tecnologia, bem como o uso excessivo de pornografia foram crusciais para que o estupro virtual começasse a ocorrer, além de esclarecer o problema do sistema Judiciário em relação à essa problemática. 7 2 2. A PORNOGRAFIA, O INCENTIVO A AGRESSÃO E OS IMPACTOS NAS AÇÕES MASCULINAS A pornografia é uma indústria de entreterimento a qual não surgiu no mundo hodierno, entretanto teve seu uso incentivado pelo surgimento da tecnologia e das redes sociais. Segundo o texto “Consumo de pornografia midiática e masculinidade”, dos autores Melissa Toledo Borges e Rafael de Tilio, tem-se que: O avanço tecnológico ocorrido nas décadas finais do século XX promoveu uma explosão da exibição de corpos em fotografias, cinema, televisão e internet – em outras palavras, uma proliferação da produção, distribuição e consumo da sexualidade. A internet e a rede mundial de computadores facilitaram não somente o consumo de material pornográfico, mas igualmente sua produção (profissional ou amadora). (BORGES; TILIO, 2018, p.3) A partir desse trecho, é possível afirmar que a internet fomentou essa indústria de modo a maximizar seu uso pelos indivíduos. Entretanto, em decorrência de seu maior público ser homem, todo seu conteúdo demonstra uma visão masculina do ato sexual, o qual é mais objetiva, visual e sem nenhum envolvimento emocional entre as partes. Com isso, nota-se que todo esse mercado é controlado por esses indivíduos, inclusive no que tange aos bastidores do filme, como os câmeras. Nesse tocante, fica evidenciado uma perpetuação dos estigmas do patriarcado e machismo, o qual evidencia a mulher semelhante a um mero objeto de propriedade, sendo passível de submissão. Desse modo, elas são vendidas como mercadorias que servem para alimentar o desejo e o prazer sexual da figura masculina, estimulando a violência e a humilhação dessas perante a dominação. Segundo o texto “Feminismo e pornografia: distaciamento e aproximações e possíveis”, das autoras Léa Menezes de Santana e Lindinalva da Silva Rubim, afirma-se que: A pornografia é o veículo que apresenta a verdade do sexo, já que ali está representado como os homens veem o mundo, como eles acreditam que este deveria operar. Também no que diz respeito à relação entre homens e violência, MacKinnon concorda com Dworkin, quando coloca que os homens se excitam com imagens de mulheres degradas e ultrajadas. (SANTANA; RUBIM, s.d., p.7) É revelado para a figura masculina como que o ato sexual deve ser e como ele deve ser portar perante a situação, além de evidenciar sobre o que a mulher deve se submeter nesse momento. Isso faz com que as ações do homem sejam extremamente impactadas, se fazendo mais agressivas e de uma dominação maior, além de não demonstrar nenhum respeito perante a figura feminina, excluindo que essas não possuem desejos nem vontades próprias, tendo que se submeter a condições péssimas de tratamento. 8 3 Além disso, os filmes pornográficos, ao evidenciarem essa relação de dominação em que a figura femina serve de mercado para consumo, revela à figura masculina a necessidade de demonstração de sua força viril hora do ato sexual. Acerca disso, o filósofo Pierre Bourdieu, em seu livro “A dominação masculina” afima que: Mas, em cima ou embaixo, ativo ou passivo, essas alternativas paralelas descrevem o ato sexual como relação de dominação. De mogo geral, possuir sexualmente, como em françês baiser ou em ingles fuck, dominar é no sentido de submeter a seu poder, mas significa tambem enganar, abusar ou, como nós dizemos, ‘possuir’ (ao passo que resistir à redução é não se deixar enganar, nao ‘se deixar possuir’). As manifestações (legímitas ou ilegítimas) da virilidade se situam na lógica da proeza, da exploração, do que traz a honra. (BORDIEU, 2019,p. 39) Com isso, afirma-se que o homem deseja possuir a mulher como um forma de mostrar para os demais que possui virilidade e força, seja de qualquer modo pelo qual ela é representada, como através da violência. Nesse tocante, a ativista, poeta, e líder do movimento feminista mundial Robin Morgan, sintetiza que “a pornografia é a teoria, e o estupro é a prática” (MORGAN, 1980 apud RUBIM; SANTANA, s.d., p.7). A maneira pela qual foi aprasentado para seu público alvo a maneira como o ato sexual deveria acontecer, ensinou para os indivíduos que as mulheres podem ser usadas e abusadas do jeito que quiserem. O estupro é a prática desse ensinamento, sendo esse uma forma de humilhação do homem perante a figura feminina, na tentativa de mostrar sua grandiosa masculinidade. Esse crime citado, diferentemente do senso comum, para o agressor, o mais importante não é o ato em si, mas sim como que esse se percebe em uma situação de dominação sobre sua vítima, notando todo o medo e receio que está sendo ezalado por ela. Com isso, afirma-se que isso pode ocorrer tanto em um ambinete fiísico ou em um ambiente virtual, uma vez que nesse último, quem está praticando o crime citado também se vê em uma situação de superioridade, ao ameaçar a fugura femina com a exposição de suas fotos e vídeos íntimos na internet. 3.O ESTUPRO VIRTUAL, O MUNDO SECRETO DA INTERNET E OS EMPECILHOS NO SISTEMA JUDICIÁRIO O crime de estupro, previamente à mudança realizada pela lei de número 12.015 de 2009, era previsto no artigo 213 do Código Penal e era tipificado como: “Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça” (BRASIL,1940). Entretanto, com as alterações promovidas pela lei mencionada, a nova redação desse crime se tornou “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso” (BRASIL, 2015). 9 4 Percebe-se que houve um aumento do alcance na lei acerca do ato de estuprar, afirmando que não é necessário a existência do contato físico da vítima com o agressor. Nesse casos, a presença da grave ameaça realizada pelo agente é essencial para a consumação do crime, a qual se apresenta através da possível exposição e divulgação de fotos e vídeos de cunho sexual onde a ofendida mostra-se nua. Essa ação detém o objetivo de a constranger e a impor medo afim de que se efetive o ato libidinoso. Posto isso a sofrente é coagida a exercer esse ato em si mesma, contribuindo para o desejo libidinoso do ofensor, para que seja preservado o sigilo de sua intimidade por meio do receio e da frustração. Baseado na mudança de entendimento da lei de violação sexual, abrangendo os crimes digitais, tem-se o trecho abordado pela autora Letícia Ferreira dos Santos, em sua monografia “Estupro virtual: uma abordagem jurídica”: Ao falar sobre violência contra a mulher no ambiente virtual, existe uma nova estrutura social, no qual se tange os avanços da inserção da internet nas relações sociais, pelo qual existe uma responsabilidade por mudanças em diversos âmbitos da sociedade. A denominada sociedade em rede que apresentada nos dias de hoje tem tantos desafios como também possibilidades á quais se destacam os riscos no ciberespaço que proporcionam para a ocorrência de crimes. (SANTOS, 2019, p. 32) Diante desse fragmento, é inegável que a internet foi um meio de extrema importância para o desenvolvimento e evolução da humanidade, permitindo a troca de informação de maneira mais rápida e eficaz, bem como a disseminação de conteúdos e opiniões. Entretanto, foi um dos intrumentos pelo qual o patriarcado, ideologia enraizada desde os primórdios na sociedade, se fez mais presente no cotidiano dos indivíduos. Esse forneceu aos seres humanos uma outra possibilidade, além das convencionais, de tratar a mulher como um objeto de dominação da figura masculina, normalizando as violências sofridas por elas, o que fez com que criasse novos desafios para seu combate. Outrossim, nesse ambiente virtual é viável que um indivíduo crie diversos usuários das mais distintas redes sociais existentes, contendo, cada um deles, diferentes tipos de senhas e proteções. Isso proporciona ao agressor formas de se camuflar perante o vasto mundo da internet, o qual se emprega uma mascára ao simular ser um indivíduo que ele não é. Desse modo, fica extramemente dificil rastreá-lo quando esse comete um dos inúmeros crimes, os quais, muitos não estão tipificados em lei. Nesse tocante, os autores Tamires Amanda Belani Vignoto e Ricardo Silveira e Silva revelam que: “Resumindo, com a internet é possível o pobre fingir ser rico e o culto ser totalmente ignorante, não há limitações e nem diferenciações no que tange à cor, raça, religião, idade, estética corporal, enfim, todos têm os mesmos direitos e podem se destacar por mérito e habilidades, sem nenhum preconceito aparente.”(SILVA; VIGNOTO, 10 5 2019, p. 7) Em vista disso, esse surgimento de novas modalidades de violência contra a mulher de modo mais rápido no ciberespaço exige do sistema Judiciário do Brasil uma maior velocidade de adaptação frente as novas realidades. Porém, esse poder, assim como o Executivo e Legislativo, reflete a visão machista persistente no país, comprovada a partir da maior quantidade de homens do que de mulheres em sua composição, o que faz com que, mesmo presente em menor número, essas sejam silenciadas, tendo suas falas e pensamentos rejeitados em todos os assuntos. Além disso, esse ponto de vista também é comprovado na medida em que os indivíduos que redigem as leis, no poder legislativo, sejam de maioria da figura masculina, e fazem com que se prevaleça uma ideologia do patriarcado, sendo essa prejudicial à vítima. Acerca desses dois fatos as autoras Karine Lopes Nunes e Larissa Aparecida da Costa, abordam em seu texto “O surgimento de um novo crime: o estupro virtual”: Não é justo que seja tomado como verdade absoluta e que essa seja imposta a todos, a experiência de quem apenas leva em consideração o texto de lei, não oferecendo o suporte e pacificação necessária para a vítima. (NUNES; COSTA, 2019, p.7). A partir desse fato, é inegável que o poder judicial brasileiro impõe para seus cidadãos uma visão doutrinária exclusivamente masculina, a qual exclui completamente o lado da vítima, a tratando como se ela fosse aquele indivíduo que agiu de modo errôneo no contexto do estupro virtual ao, por exemplo, fornecer as irmagens nuas à seu invasor. Assim, decorre a supressão do auxílio àquela mulher, uma vez que, por não demonstrar uma percepção do lado da pessoa ofendida, não é sabido o que é necessário para que a justiça seja feita e sua saúde mental seja reestabelecida. Junte à esse cenário a dificuldade de comprovação da palavra da vítima já que ,assim como no estupro ocorrido com contato físico entre as duas partes, unicamente a palavra da ofendida não é levada em consideração no jugamento. Entretanto as novas tecnologias concederam ao agressor a fácil eliminação de todas as provas de seu delito, a partir do ato de deletar todas os vídeos e provas de seu aparelho celular, além de alegar que tudo que a vítima está evidenciando está distorcindo e alterado por ela, fazendo com que, portanto, sejam fundamentais a coleta de outras evidências. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Frente ao exposto, é necessário ressaltar a urgência da feitura de legislações que tipificam os novos crimes que surgiram com a evolução da humanidade, a partir do 11 6 surgimento das milhares de inteligências artificiais. Com isso, é imprescindível que essas leis considerem o lado da vítima, tendo a finalidade de a proteger de seu agressor, mesmo que, evidentemente, o sistema judiciário brasileiro seja um grande exemplo de reflexo da visão machista enraizada no país. Além disso, é inquestionável que a conscientização dos usuários que se utilizam dessas plataformas digitais também se faz primordial para que o estupro virtual seja combatido não somente por um dos poderes do Estado, e sim por toda a população. Para isso, um dos meios de divulgação é a própria internet, a partir da disseminação dos perigos que existem ao se compartilhar uma foto ou vídeo sensual com qualquer um dos utilizadores dessa rede, bem como a demonstração de como o crime discutido repercute na vida de sua vítima. Tem-se igualmente o estímulo ao apoio acerca dos movimentos feministas, os quais lutam para a proteção dos direitos básicos para a figura feminina, bem como a desconstrução de ideologias as quais fazem com que a ofendida seja considerada errônea. Tendo tudo isso em vista, acrescente-se a desconhecida perspectiva de que a pornografia contribui com o estigma de que o homem exerce um domínio sobre a mulher, o que faz com que, supostamente, seja permitido à ele agredi-la e violentá-la, já que ela é meramente uma propriedade. Por conseguinte, houve a banalização do estupro na sociedade hodierna através da pornografia, o qual, juntamente com os riscos oferecidos pela internet, sustentaram o maior aparecimento desse crime no âmbito virtual. 5. REFERÊNCIAS BORGE, Melissa Toledo; TILIO, Rafael de. Consumo de pornografia midiática e masculinidade.Periódicus, Salvador, v.1, n. 10, p. 402-426, nov. 2018. Disponível em: https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/25851/171 62. Acesso em: 2 nov. 2020. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 16 ͣ. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019. BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940 BRASIL. Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5o da Constituição Federal e revoga a Lei no 2.252, de 1o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2009/lei/l12015.htm#:~:text=Constranger%20algu%C3%A9m%2C%20mediante%20vi ol%C3%AAncia%20ou,a%2010%20(dez)%20anos. Acesso em: 3 nov. 2020. 12 https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/25851/17162 https://cienciasmedicasbiologicas.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/25851/17162 7 COSTA, Larissa Aparecida; NUNES, Karine Lopes. O surgimento de um novo crime: estupro virtual. In: ENCONTRO TOLEDO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 15. 2019, Presidente Prudente. Artigo. Presidente Prudente: Toledo Prudente Centro Universitário, 2019. p. 1-18. 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CRIMES SEXUAIS E A VULNERABILIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS MEIOS DIGITAIS SEXUAL CRIMES AND THE VULNERABILITY OF CHILDREN AND ADOLESCENTS IN THE DIGITAL MEDIA Clara de Freitas Barbosa Marina Apolônio Martins Resumo A internet é responsável por avanços na sociedade, possibilitando o amplo acesso às informações e o exercício da cidadania. A partir de uma análise contemporânea, o meio digital, diante do anonimato e da sensação de impunidade, proporciona um aumento de indivíduos que praticam atos de cunho violentos. Assim, a presente pesquisa porta como finalidade analisar a vulnerabilidade de crianças e adolescentes frente aos crimes sexuais nos meios virtuais. Procurar-se-á compreender, por uma perspectiva jurídica, os impactos causados pelos cometimentos desses crimes, perpassando por uma análise de medidas capazes de evitá-los. Palavras-chave: Crimes sexuais, Meios digitais, Adolescentes Abstract/Resumen/Résumé The internet is responsible for advances in society, enabling broad access to information and the exercise of citizenship. From a contemporary analysis, the digital medium, in the face of anonymity and the feeling of impunity, provides an increase in individuals who practice acts of a violent nature. Thus, the present research aims to analyze the vulnerability of children and adolescents to sexual crimes in virtual environments. We will try to understand, from a legal perspective, the impacts caused by the committing of these crimes, going through an analysis of measures capable of avoiding them. Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Sexual crimes, Digital media, Adolescents 14 INTRODUÇÃO A priori, a vulnerabilidade é uma condição inerente pela qual o indivíduo se enquadra em uma posição suscetível a um maior de risco. Nesse sentido, crianças e adolescente são seres mais vulneráveis, de modo que, diante da facilitação de acesso aos meios digitais, são constantes alvos de crimes cibernéticos. O artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 afirma que é dever da família, sociedade, bem como do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem direitos, dentre eles, colocá-los a salvo de negligência, discriminação, exploração, crueldade, opressão, como também violência (BRASIL, 1988). Diante dessa proteção constitucional e de outros meios legais, como os presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei da Carolina Dieckmann, nota-se a necessidade de um maior amparo a esses indivíduos. Por meio desta perspectiva, será abordado, em um viés histórico, o desenvolvimento tecnológico e sua evolução na realidade brasileira. Ainda, será exposto números relativos às denúncias feitas quanto aos crimes cibernéticos, uma análise direcionada ao direito brasileiro e tratamento oferecido por esse diante da prática desses crimes, além da sua aplicação no ordenamento jurídico atual. Por fim, será disposto acerca das novidades legislativas, inclusive da Lei Carolina Dieckmann e inovações no Código Penal quanto à aplicação de penas mais severas nos casos de crimes cibernéticos. A presente pesquisa tem seu nascedouro na análise dos crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes, com ênfase no sexo feminino, perpassando por uma análise da influência dos meios digitais como meios para a sua ocorrência, a fim de fundamentar juridicamente a necessidade de inovações no âmbito da segurança digital e assegurar maior proteção constitucional a esses indivíduos. Ademais, o viés metodológico utilizado é o hipotético-dedutivo, através da análise de bibliografia especializada, pelo método qualitativo e quantitativo. Em relação ao modelo de investigação, adota-se a classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), bem como o tipo jurídico-projetivo e a técnica estudo de caso. O raciocínio a ser desenvolvido caracteriza-se por ser preponderantemente hipotético-dialético, através da análise de bibliografia especializada, pelo método qualitativo e quantitativo. 1. DA GLOBALIZAÇÃO E OS CRIMES CIBERNÉTICOS Com o advento do desenvolvimento tecnológico, principalmente proporcionado pela Guerra Fria, houve um grande avanço no tocante ao acesso a internet. Diante disso, em 1996, 15 o Brasil teve um notável aprimoramento de tecnologias em relação a utilização da internet, de modo que, com a globalização, bem como com o crescente desenvolvimento tecnológico, foi possível uma maior conexão de pessoas e, por conseguinte, uma maior transmissão de informação. Cabe salientar que, de acordo com uma pesquisa feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) em 2019, 74% dos brasileiros, entre dez anos ou mais, são usuários da internet. Ainda, segundo a Cetic, em 2017, 85% das crianças e adolescentes, entre nove a dezessete anos, são usuários da internet. Logo, a partir dos dados supracitados, nota-se que a maior parte dos brasileiros possuem acesso aos meios digitais. Nesse sentido, a Lei 12.965 de 2014, popularmente conhecida como Marco Civil da Internet, afirma, no artigo sétimo, que o acesso à internet é essencial para o exercício da cidadania, de maneira que, aos usuários, são assegurados: I a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização; V - manutenção da qualidade contratada da conexão à internet; (BRASIL, 2014). Logo, ainda que o acesso à internet seja uma condição de cidadania, não são todos que possuem acesso a esse meio, bem como não são assegurados de modo efetivo as garantias supracitadas. Dessa forma, embora haja inúmeros benefícios advindos dos meios digitais, existem determinados indivíduos que usam das prerrogativas que esses meios oferecem, como a dificuldade de punição e o anonimato para empregarem meios ilícitos, como para o cometimento de crimes digitais contra crianças e adolescentes. As inovações advindas dos meios digitais permitiram uma maior liberdade, bem como uma máxima igualdade individual. Todavia, de acordo com Renato Nunes Bittencourt, “ela lhes retira a habilidade de distinguir as pessoas com as quais se relacionavam virtualmente, além de lhes restringir a capacidade de diferenciar a sensação de segurança da ideia de segurança como realidade” (2016, p. 3). Dessa forma, partindo de premissas, principalmente a presente no artigo 227 da Constituição Federal, os direitos das crianças e adolescentes são de absoluta prioridade e, como são mais suscetíveis a riscos em razão da 16 vulnerabilidade, nota-se uma criminalização de atitudes aparentemente consensuais, mas essas não podem ser consideradas livres, tendo em vista a ausência de capacidade da vítima (DA CUNHA, 2017). 2. DOS CRIMES CIBERNÉTICOS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Inicialmente, não há um consenso doutrinário quanto a terminologia adequada para conceituar crime cibernético. Nesse sentido, Patrícia Santos da Silva afirma que: (...) não há uma nomenclatura sedimentadapelos doutrinadores acerca do conceito de crime cibernético. De uma forma ou de outra o que muda é só o nome atribuído a esses crimes, posto que devem ser observados o uso de dispositivos informáticos, a rede de transmissão de dados para delinquir, o bem jurídico lesado, e ainda deve a conduta ser típica, antijurídica e culpável. (DA SILVA, 2015, p. 39). Assim, adotamos o conceito de que o crime cibernético é definido como uma ação ou omissão, através de um computador, celular ou qualquer outro meio virtual, tanto público quanto privado, que viole a lei ou algum direito fundamental do indivíduo. Aludindo à temática dos crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes, de acordo International Centre for Missing and Exploited Children (ICMEC), as tipologias mais comuns referentes aos crimes virtuais contra esses são: sexting (trocas de mensagens de cunho sexual), sextortion (chantagem diante posse de imagens de cunho sexual) e grooming (relação entre adulto e uma criança com objetos sexuais). (BRASIL, 2015) Dessa maneira, tendo em vista os dados supracitados quanto ao uso da internet, com ênfase nas crianças e adolescentes entre nove a dezessete anos, nota-se que esses configuram um grupo vulnerável em relação aos crimes cometidos no meio digital. Nesse viés, segundo dados disponibilizados pela associação civil SaferNet, em 14 anos, o número de denúncias anônimas de crimes cibernéticos passou de 20 mil (SAFERNET, 2018). Ainda, segundo TIC Kids 2013/CGI, de 100 crianças, 52 de nove a dez anos possuem perfil próprio na rede de maior uso (BRASIL, 2015). Portanto, com o decorrente avanço e a publicização dos meios digitais, o acesso é crescente ao longo do tempo, de maneira que as crianças que já eram consideradas vulneráveis, configuram-se ainda mais suscetíveis a serem vítimas de crimes nos meios virtuais. Os crimes digitais contra as crianças e adolescentes, principalmente do sexo feminino, precisam ser analisados de maneira cautelosa e com mais veemência, pois há um constante crescimento de dados relativos aos crimes cibernéticos contra esses. Diante disso, é indispensável medidas mais eficazes para conter crimes virtuais e proteger crianças e 17 adolescentes em qualquer âmbito, a fim de exercerem o direito de acesso à informação, à tecnologia e sua liberdade sem ter seus direitos violados. 3. DO TRATAMENTO DO DIREITO BRASILEIRO E CRIMES CIBERNÉTICOS Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos meios digitais, principalmente da internet, é indispensável que o Ordenamento Jurídico brasileiro tente acompanhar, de modo mais efetivo, as mudanças sofridas na sociedade. O meio digital é caracterizado pelo anonimato e acesso amplo dos indivíduos, de maneira que pode acarretar ao usuário uma sensação de impunidade em relação aos seus atos no cyber espaço, frente a ausência de legislação específica e pela ausência estatal no controle social nesse meio. Conforme expõe: Percebe-se de forma indutiva que muitos indivíduos que não seriam capazes de cometer delitos nas relações concretas (indivíduo x indivíduo), encontram no meio virtual segurança para o cometimento de delitos, seja tendo o virtual como meio (tráfico de drogas), seja como forma direta de prática de crime (estelionato). (SILVA, 2012, p. 10). Nesse sentido, direito penal visa proteger os bens mais essenciais, assim como a vida e dignidade humana. Dessa maneira, em razão da hodierna realidade tecnológica, ocorreram mudanças no tocante a modalidade de crimes, uma vez que se deu abertura para o advento de crimes nos ambientes virtuais. Assim, diante da premissa constitucional de que as crianças e adolescentes possuem absoluta prioridade, o respeito à dignidade desses deve ser veementemente assegurado. A partir disso, entende-se os Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente como: [...] direitos de inafastável interdependência entre os chamados “direitos civis”, “direitos da personalidade”, “direitos sociais”, dentre outros. Da situação de interdependência, decorre a circunstância de que apenas se alcançará a efetividade plena de qualquer dessas classes de direitos, quando todos estiverem efetivamente atendidos. (RICHTER; VERONESE, 2013, p. 228) Sob essa perspectiva, como crianças e adolescentes são mais vulneráveis aos crimes nos ambientes virtuais, tem-se a necessidade de frisar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma vez que, como estabelecido no artigo primeiro desta Lei, visa a proteção integral a esses indivíduos. O ECA, ao se referir aos crimes de cunho sexual, entende-se que a violência sexual contra menores é um gênero, cujas espécies são a prostituição infantil e a exploração sexual. Assim, segundo o artigo quarto do ECA, é dever da família, comunidade sociedade e do poder público assegurar dignidade, respeito e, dentre outros elementos, a proteção e o socorro às crianças e adolescentes. (BRASIL, 1990). 18 Ademais, em relação ao Marco Civil da Internet, (Lei 12.965 de 2014), o parágrafo único do artigo 29 estabelece que cabe ao poder público, em consonância com provedores de conexão e aplicações de internet e a sociedade civil, promover a educação, fornecer informações sobre uso de programas e a definição de boas práticas para a inclusão digital de crianças e adolescentes. E, ainda, a Lei 12.737 de 2012, popularmente nomeada como Lei Carolina Dickman, promoveu alterações no código penal para definir crimes cibernéticos no Brasil, regulamentando-os. Destarte, é evidente a presença de legislações para a proteção de crianças e adolescentes, assim como a legislação tipificando crimes nos meios digitais, apesar de serem recentes. Todavia, necessita-se de garantias mais efetivas capazes de garantir a devida proteção as crianças e adolescentes nos meios digitais. CONCLUSÃO Portanto, a partir do resultado da pesquisa, pode-se concluir que o desenvolvimento tecnológico propiciou um aumento em relação aos crimes sexuais nos meios digitais, principalmente relacionados a crianças e adolescentes do gênero feminino, e dentro das tipologias mais comuns de sexting, sextortion e grooming (BRASIL, 2015). Logo, se faz necessário alternativas para tamanho problema, haja vista a devida falta de proteção aos usuários das redes digitais, amparo efetivo legal e meios adequados e eficientes para conter os autores dos crimes sexuais. Assim, as novas tecnologias móveis representam um maior desafio para a tentativa de amenizar esta problemática diante dos crimes sexuais no meios digitais serem cometidos principalmente por homens adultos, de modo que urge o fortalecimento das legislações, acompanhamento das crianças e adolescentes, além do desenvolvimento de tecnologias adequadas para que esses crimes em ambientes cibernéticos possam ser amenizados e, por conseguinte, garantir uma maior amparo às crianças e adolescentes vulneráveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 out. 2020. BRASIL. Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes na Internet. 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Acesso em: 24 out. 2020. 20 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm https://rodolfoppb.jusbrasil.com.br/ https://rodolfoppb.jusbrasil.com.br/artigos/371604693/o-anonimato-a-liberdade-a-publicidade-e-o-direito-eletronico https://rodolfoppb.jusbrasil.com.br/artigos/371604693/o-anonimato-a-liberdade-a-publicidade-e-o-direito-eletronico https://www.cetic.br/noticia/cresce-numero-de-criancas-e-adolescentes-que-buscam-noticias-na-internet-aponta-cetic-br/#:~:text=Conectividade%20e%20din%C3%A2micas%20de%20uso,%2C%20essa%20propor%C3%A7%C3%A3o%20era%2082%25 https://www.cetic.br/noticia/cresce-numero-de-criancas-e-adolescentes-que-buscam-noticias-na-internet-aponta-cetic-br/#:~:text=Conectividade%20e%20din%C3%A2micas%20de%20uso,%2C%20essa%20propor%C3%A7%C3%A3o%20era%2082%25 https://www.cetic.br/noticia/cresce-numero-de-criancas-e-adolescentes-que-buscam-noticias-na-internet-aponta-cetic-br/#:~:text=Conectividade%20e%20din%C3%A2micas%20de%20uso,%2C%20essa%20propor%C3%A7%C3%A3o%20era%2082%25 https://www.cetic.br/noticia/cresce-numero-de-criancas-e-adolescentes-que-buscam-noticias-na-internet-aponta-cetic-br/#:~:text=Conectividade%20e%20din%C3%A2micas%20de%20uso,%2C%20essa%20propor%C3%A7%C3%A3o%20era%2082%25 https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/25239/1/Crimes%20sexuais%20contra%20crian%c3%a7as%20e%20adolescentes.pdf https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/25239/1/Crimes%20sexuais%20contra%20crian%c3%a7as%20e%20adolescentes.pdf TRÊS em cada quatro brasileiros já utilizam a Internet, aponta pesquisa TIC Domicílios 2019. Cetic, 26 maio 2019. Disponível em: https://cetic.br/pt/noticia/tres-em-cada-quatro- brasileiros-ja-utilizam-a-internet-aponta-pesquisa-tic-domicilios- 2019/#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20TIC,percentuais%20em%20rela%C3%A7%C 3%A3o%20a%202018.&text=A%20pesquisa%20constatou%20um%20aumento,2015%20par a%2050%25%20em%202019. Acesso em: 02 nov. 2020. WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para el estudiante o investigador del derecho. 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Logo, demonstrando a evolução pandêmica do cibercrime as autoridades estão encarando a luta contra esses crimes cibernéticos com leis como a Lei de Geral de Proteção de Dados Pessoais para que a sociedade continue contando com o bom funcionamento dos sistemas de informação e com novas tecnologias que são alvo de ataques de criminosos cibernéticos, a segurança desses sistemas é de importância estratégica particular. Palavras-chave: Direito, Cibercrime, Tecnologia Abstract/Resumen/Résumé Technical advances in the field of information technology increase the risk of abuse, as it is now possible to attack from afar and with the relative possibility of anonymity offered by the computer network. Therefore, demonstrating the pandemic evolution of cybercrime, the authorities are facing the fight against these cyber crimes with laws such as the General Law for the Protection of Personal Data so that society continues to rely on the smooth functioning of information systems and new technologies that are the target of attacks by cyber criminals, the security of these systems is of particular strategic importance. Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Law, Cybercrime, Technology 22 INTRODUÇÃO Apresente pesquisa aborda os crimes cibernéticos e tem como elemento principal analisar o crescimento do acesso à internet nos últimos anos junto a um rápido desenvolvimento devido a conectividade computacional e os smartphones. O advento da globalização tomando conta das comunicações através da rede mundial de computadores, assim como o crescimento exponencial da tecnologia digital, trouxeram enormes benefícios, mas juntamente com eles vieram os maiores riscos internos e externos ultrapassandoas fronteiras, por este motivo o estudo sobre crimes cibernéticos torna-se imprescindível. As novas oportunidades criadas no "ciberespaço" aumentaram a capacidade dos delinquentes individuais e das redes criminosas que surgiram para encontrar brechas nas vulnerabilidades na "nova" economia. Assim é essencial discutir: qual o papel das tecnologias digitais? Isto significa que os novos riscos associados a essas mudanças exigem atenção em todas as frentes: nacional, regional e internacional. Logo, deve-se analisar o processo de globalização que continua crescendo sobremaneira, sendo que uma resposta universal aos problemas da segurança na era digital ainda tem que sugerir novos esforços para garantir a segurança e isto tem sido reativo, em vez de proativo. O objetivo principal é fomentar a discussão acerca do direito frente as novas tecnologias, perpassando por temas artificiais, de modo a colaborar na disseminação e nos debates sobre os referidos temas de forma atualizada, como o acesso à justiça, a Lei Geral de Proteção de Dados, os algoritmos, o big data e a inteligência, seguido por objetivos específicos buscando demonstrar os crimes cibernéticos e a cooperação jurídica sobre o sistema de justiça brasileiro e a perspectiva do acesso à justiça na atualidade. O estudo se dará com pesquisas bibliográficas em livros acadêmicos, revistas científicas e sites confiáveis que mencionam crimes cibernéticos. Como critério de inclusão serão observados sites em português que busquem sobre o tema, como critério de exclusão quaisquer materiais que não envolvam o assunto. Sob esse estudo de crimes cibernéticos pode-se analisar como países desenvolvidos lidam com o tema e com o crescente número de pessoas que se tornam alvos pelo simples motivo de compartilhar informações tais quais: fotos, filmagens, ou mesmo Fake News, ocorrendo assim o crime virtual. Contudo pode se observar a precariedade de leis envolvendo o assunto no Brasil, tendo como consequência por vezes a banalização de muitos crimes cibernéticos. 23 1 CRIMES CIBERNÉTICOS E O SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO E A PERSPECTIVA DO ACESSO À JUSTIÇA NA ATUALIDADE Crimes cibernéticos possuem uma noção ampla que inclui todas as ofensas criminais cometidas através de redes de computadores e, mais especificamente, através da Internet. Com o governo, indústrias, mercados e consumidores cada vez mais dependentes de conectividade, eles são propensos a uma série de ameaças (CABETTE, 2013). O âmbito das atividades criminosas e as suas consequências sociais podem ser resumidas por uma tipologia de crimes virtuais como pornografia infantil, furto de propriedade intelectual, ataques a redes de computadores e criminosos convencionais como nos casos em que existem evidências em formato digital. De acordo com Rocha (2013) alguns tipos de criminalidade abrangem a seguinte lista: • Interferência no uso legal de um computador: cibervandalismo e terrorismo; negação de serviço; inserção de vírus, worms e outros códigos maliciosos; • Divulgação de materiais ofensivos: pornografia/pornografia infantil; conectados a jogos apostas; conteúdo racista; conteúdo traiçoeiro ou de ódio; • Ameaçar Comunicações: extorsão; cyber-stalking; • Falsificação: roubo de identidade; Ofensas de IP; software, pirataria de CDs e DVDs; violações de direitos autorais etc; • Fraude: fraude de cartão de pagamento e fraude de transferência de e-fundos; roubo de Internet e serviços telefônicos; fraude em leilões; fraude contra o consumidor e vendas diretas; fraude de valores mobiliários online; • Outros: interceptação ilegal de comunicações; comercial/corporativo espionagem; comunicações em promoção de conspirações criminosas; lavagem de dinheiro. Muitos desses riscos parecem imitar a exploração criminosa tradicional, embora executado com facilidade, velocidade e impacto sem precedentes em todas as jurisdições e, portanto, a resposta apropriada é guiada por novas disciplinas tecnológicas. As tarefas de identificar os cibercriminosos e levá-los à justiça representam desafios formidáveis para agências de aplicação da lei em todo o mundo, e exigem um grau e oportunidade de cooperação que até há pouco tempo era considerada difícil, se não impossível, alcançar. No entanto, a intrusão de computadores é agora mais provável um predicado para ofensas mais graves. Computação forense e protocolos de preservação de evidências são essenciais para investigação e acusação eficazes, especialmente tendo em conta a natureza transfronteiriça. 24 Consequentemente, como em outros tipos de crime, a ênfase está seguindo as regras tradicionais da cadeia de provas e assegurando que o comando e controle atribui prontamente os especialistas relevantes à tarefa em questão. Os principais estudiosos de prevenção ao crime fornecem uma revisão de prevenção do crime no contexto do comércio eletrônico. Na "situação" online, o furto de informação e manipulação de identidade e confiança são os personagens principais e as armas mais utilizadas (NARTINS et al., 2007, p.79). Um fator crucial para o sucesso do cometimento dos crimes é como a confiança é adquirida e mantida quando os comerciantes devem ser mais intrusivos sobre suas identidades e o risco de crédito dos clientes, além da aparente facilidade em que a confiança é manipulada por fraudadores e outros que operam na situação online. Há de se ter grande atenção aos riscos colocados na fase pós-transação (ou seja, entrega de bens ou serviços encomendados), um assunto muitas vezes negligenciado nas discussões de cibercrime. 2 A RESPEITO DA LGPD - LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS A relativa novidade do crime informático significou que a maioria das agências de policiamento apenas recentemente desenvolvessem medidas específicas para registrá-las. O advento de legislação relacionada com computadores e processos conexos e o estabelecimento de resposta a emergências informáticas e unidades dedicadas ao crime tecnológico dentro das delegacias, juntamente com o desenvolvimento da conscientização das vítimas de crimes e defesa do consumidor, levaram as jurisdições à frente do mercado digital revolução para começar a registrar a incidência da ilegalidade no ciberespaço (CASTRO, 2003, p.36). No entanto, no Brasil o marco da internet também denominada Lei N° 12.965/14, que regula princípios e garantias que quem utiliza a internet podem servir como base para a elaboração de estatísticas policiais sobre crimes denunciados e que frequentemente dizem mais sobre as atividades e prioridades da polícia do que sobre a extensão do crime. Isso porque em muitos crimes tradicionais, as vítimas não as reportam às autoridades. A natureza transnacional do crime cibernético reflete o processo de globalização, que se intensificou nas últimas duas décadas (BRASIL, 2014). O surgimento do comércio eletrônico, bem como a dimensão social da Internet e os crimes cibernéticos associados chegam juntamente com os desafios à capacidade independente dos Estados para regular a ordem social e econômica dentro de seus territórios. Versões radicais da globalização vão mais adiante e sugerem que o sistema de relações internacionais do Estado não fornece uma metodologia eficaz para regulamentar os mercados domésticos ou 25 transnacionais, em especial o comércio internacional. Com o advento da Lei Geral, o Brasil se insere na lista das centenas dos países que atualmente são considerados adequados na proteção da privacidade dos usuários, bem como a utilização de dados. Da mesma forma a GPDR (General Data Protection Regulation) um regulamento de dados pessoais europeu, que abrange toda a União e Espaço Econômico Europeu, a LGPD produzirá uma mudança de paradigmas na gestão de informação de dados, corroborando a indispensabilidade de adequação interna e da edificação da cultura de amparo de dados no Brasil. Em qualquerversão da globalização, tais como grandes instituições comerciais, desempenham um papel crucial no surgimento de um sistema de estado transnacional (BRASIL, 2018). As perspectivas de segurança dos brasileiros aumentaram com as normas gerais contidas na Lei Geral de Proteção de dados a qual é uma disciplina que abarca a proteção de dados pessoais tem como fundamento lidar com ameaças complexas colocadas pelo cibercrime argumentam o que o garante uma confiança no Estado e um desenvolvimento eficaz ao que diz respeito os meios tecnológicos, a polícia vem cada vez mais se especializando, para resolver questões de segurança cibernética que sem leis de proteção poderia expor diversos dados originando conflitos sociais na Internet. Embora agora existam convenções e tratados internacionais expressamente destinadas a inibir redes criminosas sérias ou infratores que operam através das fronteiras, o alcance desses instrumentos é limitado pela velocidade e escala da ratificação interna e o advento de leis habilitadoras. Ao lidar com crimes de TI, a aplicação da lei está em desvantagem por causa da notável velocidade em que os crimes cibernéticos se desdobram para a típica cooperação de baixa velocidade oferecida pelas formas tradicionais de assistência. O papel das agências multinacionais, como a Interpol e as Nações Unidas nunca foram tão essenciais. Em diversos países os resultados ficam muito aquém de criar uma teia sem emenda de acordos bilaterais ou multilaterais e de fiscalização, isso garantiria um ambiente hostil para os criminosos cibernéticos. A compatibilidade de atividade criminosa com essas mudanças globais é ilustrada pela expansão e convergência dos negócios rentáveis do contrabando de seres humanos, da pornografia, narcóticos ou outras mercadorias ilícitas com o desenvolvimento da comunicação, infraestrutura e comércio. 3 ASPECTOS ATUAIS DO DIREITO FACE AOS ALGORITMOS, AO BIG DATA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 26 A circulação de informação na Web está sujeita ao que é conhecido como uma bolha de filtros cuja própria existência contradiz a visão de uma democracia digital baseada no acesso igual para todos ao conhecimento e uma habilidade compartilhada para discutir publicamente e racionalmente tópicos de interesse geral. Embora aparentemente a massa de informação nunca tenha sido tão vasta e rapidamente disponível, a informação não filtrada por algoritmos torna-se uma mercadoria mais rara do que as escolhas pessoais anteriores na Web isolam as pessoas por causa de uma lógica cumulativa característica do círculo vicioso característica da inteligência artificial. Se às vezes eles recebem muito poder, mecanismos de seleção algorítmica operam diariamente, anonimamente, durante e fora dos períodos eleitorais. Um usuário do Google que deseja saber mais sobre a situação da Turquia em julho de 2016, com base em seu histórico de pesquisas e, portanto, em seu perfil, será exibido nos sites turísticos da primeira página, enquanto outro será direcionado para últimas notícias da repressão neste país (BARROSO, 2010, p.56). Mas os algoritmos também têm uma ligação direta com as notícias falsas, na medida em que estes últimos não são de interesse para o remetente se não forem capazes de compartilhá- los em grande escala por meio de programas capazes de automatizar a transmissão de notícias e de conteúdo, criando artificialmente uma onda de popularidade, uma tendência que lhes permitirá entrar no fluxo de atualizações do Facebook. Para chegar o público alvo, é suficiente que apenas um dos amigos o tenha validado, integrando-o em seu segmento de notícias, enquanto a viralidade dessa informação se baseia em uma máquina de venda automática baseada nos trabalhadores pagos pelo clique. Além disso, o efeito de bolha dos filtros pode ser combinado com o efeito de câmara de eco que acentua o viés de confirmação: Os amigos pensam iguais. A informação compartilhada em determinado perfil fortalece as predisposições, expondo o usuário à propaganda inequívoca. Não obstante, não basta estar satisfeito com uma explicação do suporte técnico, neste caso a Internet, mas de colocar essa ferramenta no contexto de uma economia de atenção em si dependente do “tecnocapitalismo” neoliberal. 27 REFERÊNCIAS BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.78- 82. BRASIL. Lei nº. 12.965, de 24 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm Acesso em 4 de nov. de 2020. CABETTE, Eduardo Luiz Santos. O novo crime de invasão de dispositivo informático. Conjur, 2013, p.26- 30. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2013-fev- 04/eduardo-cabette-crime-invasao-dispositivo-informatico>Acesso em:05 nov. 2020. BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019. Brasília, DF: Senado Federal, 2018. Diponivel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm Acesso em: 4 de nov. de 2020. NARTINS, Adalberto et al. O Direito na sociedade da informação. 1. São Paulo: Atlas, 2007, p.79- 83. ROCHA, Carolina Borges. Evolução dos crimes cibernéticos. Revista Jus Navigandi, Teresina,ano 18,n. 3706, 23 ago 2013, p.56- 60. 28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm http://www.conjur.com.br/2013-fev-04/eduardo-cabette-crime-invasao-dispositivo-informatico%3eAcesso http://www.conjur.com.br/2013-fev-04/eduardo-cabette-crime-invasao-dispositivo-informatico%3eAcesso http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm 1 Graduanda em Direito, modalidade Integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara.1 SEXTORSÃO: A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER NA ERA VIRTUAL À LUZ DO DIREITO PENAL SEXTORSION: SEXUAL VIOLENCE AGAINST WOMEN IN THE VIRTUAL AGE IN THE LIGHT OF CRIMINAL LAW Edwiges Carvalho Gomes 1 Resumo A presente pesquisa tem como finalidade abordar um dos efeitos do avanço tecnológico: a sextorsão, sob o prisma do Direito Penal. Pois, essa conduta tem aumentado as possibilidades de transgressão à intimidade do indivíduo, sobretudo da mulher. Conclui-se que esse fenômeno é extremamente recente o que dificulta sua normatização no ordenamento jurídico brasileiro, por não haver uma tipificação própria que o regule. A pesquisa pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. Quanto à averiguação das informações, foi selecionado na classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. Predominará o raciocínio dialético. Palavras-chave: Sextorsão, Tecnologia, Sexual, Direito penal Abstract/Resumen/Résumé This research aims to address one of the effects of technological advancement: sextortion, under the prism of Criminal Law. This conduct has increased the possibilities of transgressing the individual's intimacy, especially of the woman. It is concluded that this phenomenon is extremely recent, which makes it difficult to standardize it in the Brazilian legal system, as there is no specific classification that regulates it. The research belongs to the juridical-sociological methodological aspect. As for the investigation of the information, the legal-projective type was selected in the classification of Witker (1985) and Gustin (2010). Dialectical reasoning will predominate. Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Sextorsion, Technology, Sexual, Criminal law 1 29 1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa expõe seu primórdio na temática do crime cibernético, com maior especificidade na questão da sextorsão, que por ser um vocábulo recente, assim como sua prática, não possui uma definição pacífica. Sob esse viés, a sextorsão é um reflexo do crescente aperfeiçoamentotecnológico que tem possibilitado às pessoas maior facilidade de conhecer e se relacionar com aquelas que estão distantes, novas formas de entretenimento e serviços digitais, por exemplo, o que contribui para relações mais fluidas, menos duradouras, como é possível dialogar com a referência baumaniana. À vista disso, a comodidade concedida pela tecnologia tem acarretado surgimento de novos crimes virtuais, como a sextorsão. A princípio, por se tratar de uma conduta nova e até mesmo impensável há poucos anos atrás, a sextorsão pode apresentar diversos sentidos. Todavia, o conceito examinado nesta pesquisa, sobretudo, foi apresentado pela promotora de justiça Ana Lara Camargo de Castro e pelo professor Spencer Toth Sydow e exteriorizado em trabalho científico recentemente. Assim, os objetivos desta pesquisa estão centrados, especificamente, em qual contexto essa temática se insere e como é tratada pelo ordenamento jurídico brasileiro, principalmente pelo Direito Penal. Segundo Castro e Sydow (2016, p. 23), “a sextorsão encontra na era tecnológica um imenso propulsor da coerção psicológica, que beneficia os autores e apavora as vítimas, uma vez que o potencial de difusão e de danos à intimidade é incalculável”. Nessa perspectiva, é compreensível que a sextorsão é marcada pela tecnologia e expande, infelizmente, o espaço de violência contra a mulher, o que simboliza uma circunstância complexa que pode trazer sérios problemas para a vítima. Portanto, por ser um tema que os profissionais do direito não possuem expressa familiaridade, majoritariamente, sua regulação jurídica ainda é divergente. Dessa forma, a pesquisa que se apresenta pertence à vertente metodológica jurídico- sociológica. No que se refere à averiguação das informações, foi selecionado na classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será predominantemente dialético. Logo, a presente pesquisa propõe a analisar a temática da sextorsão e como o direito brasileiro regula essa conduta, tendo como base o Direito Penal. 2. SEXTORSÃO: NOVA FORMA DE TRANSGRESSÃO À INTIMIDADE FEMININA NO ESPAÇO VIRTUAL 30 O avanço das tecnologias de informação, processamento e comunicação, sobretudo a internet, possibilitou expressiva mudança nas relações humanas em todo o mundo. Entretanto, esse fenômeno acarretou o surgimento de novos crimes, principalmente na seara eletrônica, tendo em vista que a facilidade de “comunicação entre indivíduos não fisicamente próximos, rompe barreiras, extrapola os limites e os territórios do mundo moderno, fazendo com que as relações, em nossa sociedade imersa em cultura digital, assumam aspecto “fluido”” (MOLON et al., 2020, p. 223). Em virtude disso, é importante destacar a manifestação de um novo crime cibernético, a sextorsão. A princípio, não há um consenso doutrinário e jurisprudencial sobre o conceito de sextorsão, porque se constitui uma temática nova e ainda pouco conhecida no Brasil. Por esse ângulo, a expressão em seu caráter primário trata da união dos termos sex e corruption, na língua inglesa, que modificada para o contexto brasileiro contempla a junção das palavras “sexo” e “extorsão”, que retrata uma circunstância de exploração sexual por meio de pressão psicológica, tendo em vista vantagens sexuais, principalmente, como garantia da não divulgação de imagens e vídeos íntimos da vítima. Dessa forma, a prática da sextorsão é uma conduta abrangente, sendo exercida “por homens contra homens, mulheres contra mulheres, mulheres contra homens, e, o mais comum, homens contra mulheres” (CASTRO; SYDOW, 2016, p. 14). Em diálogo com D’ Urso (2017), portal de notícias jurídicas Migalhas, a expressão consiste em “uma chantagem online pelo constrangimento de uma pessoa à prática sexual ou pornográfica registrada em foto ou vídeo para envio, em troca da manutenção do sigilo de seus nudes, previamente armazenados por aquele que faz a ameaça”. Nesse sentido, a popularização do nudes – palavra de origem inglesa que quando traduzida para o português possui o sentido de estar sem roupa – pode trazer inúmeras complicações inclusive contribuir para que a pessoa se torne vítima da sextorsão (SANTOS, 2018). À vista disso, o medo da exposição pessoal, invasão à intimidade e a chantagem são aspectos centrais que o indivíduo que pratica esse crime exerce sobre a vítima, sendo esta preponderantemente mulheres. O vocábulo adveio dos Estados Unidos, em 2010, quando foi aplicado inicialmente pelo FBI (Federal Bureau Investigation) “em um caso no qual um hacker chantageou mulheres, ameaçando expor sua intimidade, caso não atendessem suas exigências, que consistiam no envio de novas fotos nuas” (D’ URSO, 2017). De acordo com Castro e Sydow (2016), existem várias situações em que uma pessoa tem posse de conteúdo pornográfico ou sexual alheio, seja porque adquiriu exclusivamente da vítima seja por terceiros através de mídias digitais. Assim, a sextorsão possui distintas formas de ser construída no meio virtual. 31 Em conformidade com Safernet (2020), organização não governamental, as principais maneiras de ocorrer a sextorsão, são: Alguém finge ter posse de conteúdos íntimos como forma de iniciar as conversas e as ameaças; como desdobramento de conversas sexuais, experimentações e exposição voluntária em um suposto relacionamento online; cobrança de valores após conversa sexual com mútua exposição; ameaças por ciúmes ou chantagem em relacionamentos abusivos; invasão de contas e dispositivos para roubar conteúdos íntimos; falsas ofertas de emprego e agências de modelos com pedido de fotos e vídeos íntimos; falsos grupos de autoajuda ou falsos grupos de vítimas que pedem conteúdos íntimos (SAFERNET, 2020). Neste diapasão, há casos de obtenção desses conteúdos por invasão em equipamento informático alheio ou pela elaboração de material de cunho erótico mediante fotografia ou vídeo empregando dispositivos eletrônicos. Em virtude disso, a sextorsão encontra no campo digital espaço para repressão psicológica que privilegia os violadores de privacidade e amedronta vítimas pelo receio de terem suas intimidades divulgadas e compartilhadas na internet. Portanto, “a posse de material restrito (...) coloca o possuidor da mídia numa situação de poder. Permite que alguém mal intencionado ameace a divulgação do material e faça chantagem em troca de dinheiro ou favores sexuais” (CASTRO; SYDOW, 2016, p. 20). Nesse contexto, a ideia de fluidez acerca da modernidade líquida cunhada por Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, se relaciona com a problemática em análise. Pois, a perspectiva baumaniana “definiu o conceito de modernidade líquida, em que a solidez do mundo seria substituída por relações fluidas, imprevisíveis e em movimento para desestabilizar várias esferas da vida social” (LARA, 2019, p. 100). A partir disso, em 2016 Bauman concedeu uma entrevista em Burgos, na Espanha, cuja circunstância abordou para o risco das redes sociais, como é possível observar a seguir: As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha (BAUMAN, 2016). Nesse ponto de vista, é possível concluir que Bauman já discutia sobre o perigo das redes e explanava, especialmente, o artifício ilusório e enganador que essas exercem sobre as pessoas. Pois, é na era tecnológica que os crimes cibernéticos encontram campo fértil para se propagarem devido a dinamicidade e velocidade que as informações e conteúdos chegam às pessoas, bem como a sensação de
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