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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade Mineira de Direito Heloiza Helena Moreira CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl: OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA PORNOGRÁFICA COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO Serro 2018 Heloiza Helena Moreira CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl: OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA PORNOGRÁFICA COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO Monografia apresentada ao Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Waldir Miguel dos Santos Júnior Serro 2018 Heloiza Helena Moreira CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl: OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA PORNOGRÁFICA COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO Monografia apresentada ao Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Prof. Waldir Miguel dos Santos Júnior- PUC Minas-Serro (Orientador) Professor(a) (Banca Examinadora) ___________________________________________________________________ Professor(a) (Banca Examinadora) Serro, 20 de novembro de 2018 A minha família e a todos os que durante todo esse tempo contribuíram de alguma forma para a realização de uma etapa tão importante em minha vida. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço ao meu bom Deus que me guia e me ilumina em todos os caminhos e decisões a serem tomadas em minha vida. Agradeço aos meus pais que são minha base, meu exemplo e meu norte. Em especial a minha mãezinha, minha professora e amiga que durante todo esse período da minha graduação chorou e se alegrou literalmente junto comigo. Agradeço aos meus irmãos Ju, Celine e Michelle por todo apoio que me deram... o meu amor por vocês é imenso! Não poderia deixar de agradecer o apoio e carinho dos amigos que a faculdade me deu, cada um contribuiu de forma grandiosa para o meu processo de crescimento durante todo esse período. Agradeço também por escutarem a minha angustia e preocupação quanto ao tema aqui tratado e, que durante todo esse tempo de construção e desenvolvimento da minha monografia se envolveram junto comigo me dando sugestões, me enviando notícias e dando suas opiniões. Obrigada por fazerem as dificuldades serem mais leves. Agradeço a todos os meus professores que de forma brilhante e humana contribuíram para minha formação acadêmica. Em especial ao meu orientador o professor Waldir Miguel que teve paciência e disponibilidade para ajudar na construção do meu trabalho. Agradeço ainda carinhosamente a professora Alana que também contribuiu de forma generosa para a construção do meu trabalho. RESUMO Este estudo trata do crime virtual vingança pornográfica a partir de uma análise da evolução da criminalidade no século XXI, bem como a expansão do direito penal diante de tal evolução, uma vez que, a criminalidade se desenvolve e se aprimora hoje através da internet, um ambiente novo e totalmente adverso da realidade a qual foi escrita o Código Penal Brasileiro de 1940. Posteriormente é tratada a violação dos direitos a intimidade e privacidade na era das redes sociais e em decorrência dessa exposição e acesso a informações instantâneas analisamos os possíveis enquadramentos penais pertinentes as condutas de stalking, ciberstalking e por consequência o crime da vingança pornográfica, demonstrado quais tipos penais eram usados para penalizar o crime antes da lei 13.718/18 que tornou a pornografia de vingança um tipo penal. A análise da vingança pornográfica aqui é vista sobretudo como uma forma de violência de gênero contra mulher e não como um fim em si mesmo. Analisamos ainda a possibilidade do direito ao esquecimento como uma forma de alivio e ajuda as vítimas deste crime. Palavras-chave: Vingança Pornográfica. Cyberstalking. Sexting. Violência de Gênero. Direito ao Esquecimento. ABSTRACT This study deals with virtual crime pornographic revenge based on an analysis of the evolution of crime in the 21st century, as well as the expansion of criminal law in the face of such evolution, as crime develops and improves today through the internet, a new and totally adverse environment of reality which was written in the Brazilian Penal Code of 1940. Later, the violation of privacy and privacy rights in the era of social networks is dealt with and as a result of this exposure and access to instant information we analyze the possible pertinent criminal frameworks the stalking, ciberstalking and consequently the crime of pornographic revenge, demonstrated which criminal types were used to penalize pre-law crime 13.718/18 that made revenge pornography a criminal type. The analysis of pornographic revenge here is seen primarily as a form of gender violence against women and not as an end in itself. We also analyze the possibility of the right to oblivion as a form of relief and help the victims of this crime. Keywords: Pornographic Revenge. Cyberstalking. Sexting. Gender Violence. Right to Forgetfulness. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 2 A CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl .................................................................. 21 2.1 Globalização e expansão do Direito Penal ...................................................... 22 2.2 Novos sujeitos, novos crimes e a teoria da sociedade de risco ................... 24 2.3 Breves considerações sobre crimes virtuais ................................................. 26 3. DIREITO A INTIMIDADE NO SÉCULO XXl ......................................................... 29 3.1 Pornográfia de vingança, stalking e ciberstalking ......................................... 31 3.3 Vingança pornográfica como violência de gênero ......................................... 38 4. VINGANÇA PORNOGRÁFICA E O DIREITO PENAL ......................................... 41 4.2 Vingança pornográfica e o direito ao esquecimento ..................................... 47 5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ..................................................................... 57 17 1 INTRODUÇÃO O advento da internet cada dia mais vem modificando a nossa vida em sociedade. Vivemos hoje a era virtual, o que há anos atrás nos parecia impossível e distante, como por exemplo a comunicação instantânea, a quebra de barreiras através de smartphones, computadores e outros aparelhos eletrônicos, que hoje, são utensílios essenciais e que nos auxiliam nos vários setores de nossas vidas. Entretanto o ambiente virtual traz consigo grandes perigos, por ser a internet um ambiente muito desconhecido e o nosso ordenamento jurídico na maioria das vezes mostra-se inapto a tutela-lo, seja por falta de legislações especificas, ou mesmo tendo, não se mostram efetivas o suficiente diante de casos concretos. As transformações que vivemos no século XXl, eram anunciadas por Urich Beck, que nos alertava sobre a “sociedade de risco”. A internet é um divisor de águas no mundo inteiro, os crimes que se aprimoram através dela ou até mesmo os novos crimes, são consequências de todo esse processo de transformação e da exploração de um ambiente abstrato e pouco palpável. E, é dentro desse novo contexto de mundo que surge ocrime chamado de “Revenge porn”, em português, vingança pornográfica, que é o objeto de estudo do presente trabalho. A vingança pornográfica consiste no ato de divulgar fotos, vídeos, áudios, montagens, entre outros materiais de cunho sexual e íntimo na internet, sem o consentimento da vítima, sempre com o objetivo de humilhar, prejudicar e ameaçar alguém ou ainda obter um retorno financeiro. Este crime acontece na maioria das vezes dentro de uma relação de confiança e afeto, que após o rompimento é usado como forma de vingança, confrontando direitos invioláveis como o direito a privacidade e a intimidade que nos são garantidos pela Constituição Federal de 1988. Ocorre que a questão aqui tratada, vai muito além do ato da divulgação ou compartilhamento de material pornográfico, uma vez que, a vingança pornográfica vem se mostrando cada vez mais como uma forma de perpetuar a violência de gênero praticada contra mulheres. Como o Direito Penal pode então atuar de modo efetivo, a fim de proteger as mulheres de mais essa forma de violência? Durante a elaboração do presente trabalho foi aprovada a Lei nº 13.718/2018, que criminalizou a vingança pornográfica, criando o tipo penal do art.218-C do Código Penal Brasileiro. O artigo traz diversas condutas que caracterizam o crime e 18 em seu parágrafo 1º, traz o aumento da pena caso o crime seja cometido com fins de vingança ou humilhação pelo sujeito ativo que tenha mantido ou mantém uma relação intima de afeto com a vítima; fugindo ao âmbito da violência doméstica tutelada pela Lei Maria da Penha, na qual a depender das circunstâncias concretas, pode ser enquadrado o crime aplicando apenas medida protetiva, fazendo com que a situação não se torne atípica diante do caso concreto. O estudo da vingança pornográfica se faz necessário nos tempos atuais na medida em que a ocorrência do crime vem aumentando drasticamente, garantindo a perpetuação da violência de gênero, sendo utilizada como uma forma de repressão à mulher, principalmente porque se trata da tentativa de afirmação da suposta autoridade masculina sobre o corpo feminino. De modo que a culpabilização das vítimas da vingança pornográfica, nos remete a ideia de que a mulher não possui liberdade sexual e que o sexo é usado apenas para satisfazer ao homem. Qualquer uma que se encontre nesse tipo de situação é considerada amoral, merecendo ser exposta e sofrer com todas as consequências advindas da publicização da sua intimidade. O método utilizado para a construção do presente trabalho foi o dedutivo, iniciando pela análise da evolução da criminalidade, bem como a expansão do direito penal sob a ótica da teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck. Após fazemos uma breve introdução sobre os crimes virtuais, para então chegarmos a discursão sobre o crime de vingança pornográfica e, posteriormente no objetivo de qualifica-lo como uma violência de gênero. Por sua vez o método de pesquisa usado foi a pesquisa bibliográfica, bem como a documental, utilizando-se de notícias veiculadas na internet, artigos, monografias, dissertações de mestrado, etc. O capítulo dois traz a discursão sobre o direito a intimidade no século XXl. Direito este que é totalmente violado nessa época de megaexposição do nosso dia a dia nas redes sociais. Exposição que esconde vários perigos, chegando a dar munição para a pratica de determinados crimes virtuais. Logo após então é feita uma análise de três crimes que dentro deste contexto da era das redes sociais, sendo o stalking, que não é um crime virtual, tão pouco tipificado em nosso ordenamento jurídico; mas que se faz necessário o seu estudo, para que possamos analisar o cyberstalking. O aprimoramento da pratica de stalking, porém praticado na internet e em seguida a análise da pornografia de vingança, em quais tipos penais 19 antes da sua tipificação no nosso Código penal era enquadrada, estatísticas de ocorrência do crime nos mostrando que tem maior incidência com mulheres. A partir desse dado se fez a analise do crime como uma forma de violência de gênero contra mulheres. Por fim no terceiro capítulo fazemos uma análise do direito ao esquecimento, que também não é consagrado em nosso ordenamento jurídico. Mas acreditamos que ele possa ser um aliado para as vítimas da vingança pornográfica, como uma forma de “apagar” da internet a sua intimidade que foi exposta e recomeçar a sua vida em sociedade. 20 21 2 A CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl O século XXl é marcado por grandes mudanças. A sociedade tem se desenvolvido em larga escala, nossas necessidades e formas de convivência que tão pouco se assemelham com o cenário em que vivíamos no século passado. A ciência em todas as suas vertentes contribui para o desenvolvimento do século e na criação de novas formas das relações sociais. O aumento e o desenvolvimento da criminalidade no século XXl possui ligação com toda essa transformação social. São inúmeras as novas modalidades de condutas criminosas, indo desde o aprimoramento dos crimes de colarinho branco, tráfico internacional de drogas, tráfico de armas, tráfico de órgãos até os cybercrimes, praticados através da internet, um ambiente que ultrapassa quaisquer fronteiras tendo como álibi o anonimato do criminoso, apesar de ser regulado em nosso ordenamento jurídico pelo Marco Civil da Internet, a lei nº 12.965/2014. Apresenta diariamente, em especial ao direito penal, extensas dificuldades em acompanhar de forma efetiva ao surgimento de novas condutas criminais com característica técnicas e especificas que tão pouco se assemelham com a criminalidade do século passado. Se faz então necessário distinguir a criminalidade tradicional e a nova criminalidade. Átilo Antônio Cerqueira (2003) denomina a primeira como “criminalidade de massa”, sendo caracterizada pela facilidade em identificar o autor e vítima, considerando um vínculo prévio existente; possibilitando que se descubra a autoria do delito praticado na maior parte das transgressões penais. Já a nova criminalidade conforme Calves e Flores (2016) tem sua origem ligada as inovações tecnológicas e econômicas advindas com a globalização, como por exemplo, os crimes digitais, nos quais uma das suas principais características é o distanciamento entre o autor e suas vítimas, que fogem a regra do tempo e espaço, entre a ação e o resultado do ato ilícito praticado, como no caso de ataques de hackers e crackers que com apenas um clique invadem os dados pessoais de suas vítimas em seus aparelhos eletrônicos de comunicação ( computadores, notebooks, smartfones, etc.) conectados ou não à rede mundial de computadores, a internet. 22 Dado o exposto é certo de que vivemos a era da insegurança e incerteza diante da nova criminalidade do século XXl. Em especial com a crescente criminalidade desenvolvida no ambiente virtual, seus efeitos fogem as esferas físicas e econômicas, atingindo o equilíbrio psíquico da população, uma vez que os perigos por ela trazidos, na maioria de suas formas são desconhecidos e de forma precária tipificados pela legislação penal vigente. 2.1 Globalização e expansão do Direito Penal O Direito Penal é o ramo do direito através do qual se protege os bens jurídicos que possuem relevância social, atuando como um órgão controlador e fiscalizador das relações sociais. Nesse sentido conceitua Bitencourt (2012): Uma das principais características do moderno Direito Penal é o seu caráter fragmentário, no sentido de que representa a última ratio do sistema para a proteção daqueles bens e interesses de maior importância para o indivíduo e a sociedade à qual pertence. Além disso, o Direito Penal se caracterizapela forma e finalidade com que exercita dita proteção. Quanto à forma, o Direito Penal se caracteriza pela imposição de sanções específicas — penas e medidas de segurança — como resposta aos conflitos que é chamado a resolver. (BITENCOURT, 2012, p. 19) Por se apresentar como um órgão controlador das relações sociais, possui também um caráter mutável, uma vez que de acordo com o desenvolvimento da sociedade, deve o Direito Penal aprimorar-se para que possa amparar de maneira eficiente os interesses dos indivíduos na sua coletividade, não obstante, sabendo que sua função é ser a última ratio. No entanto o Direito Penal se encontra em fase de expansão, onde os tipos penais existentes se aprimoram e surgem novas formas de ataque aos bens jurídicos tutelados pelo ramo, como tratado anteriormente. Devido as grandes mudanças ocorridas na estrutura social da sociedade, advindas com a globalização e inovações tecnológicas e, em consequência de toda essa transformação a sua função de ser a última ratio, vem sendo mitigada. A mídia como um todo possui grande influência para sua expansão, uma vez que diante do aumento da criminalidade e insegurança social, a mesma faz com que se infle por um clamor para um Direito Penal mais efetivo e punitivo, satisfazendo o ideal de vingança da 23 sociedade, afastando a sua função de ultima ratio para um Direito Penal simbólico de prima ratio. Acerca do tema, explana Bitencourt (2008) que: [...] todo esse estardalhaço na mídia e nos meios políticos serve apenas como ‘discurso legitimador’ do abandono progressivo das garantias fundamentais do direito penal da culpabilidade, com a desproteção de bens jurídicos individuais determinados, a renúncia dos princípios da proporcionalidade, da presunção da inocência, do devido processo legal etc., e a adoção da responsabilidade objetiva, de crimes de perigo abstrato, [...]. Na linha de ‘lei e ordem’, sustentando-se a validade de um Direito Penal Funcional, adota-se um moderno utilitarismo penal, isto é, um utilitarismo dividido, parcial, que visa somente à ‘máxima utilidade da minoria’, expondo-se, consequentemente, às tentações de autolegitimação e a retrocessos autoritários, bem ao gosto de um Direito Penal máximo, cujos fins justificam os meios e a sanção, como afirma Ferrajoli, deixa de ser ‘pena’ e passa a ser ‘taxa’. (BITENCOURT, 2008, p. 241) É possível perceber que diante das novas situações delituosas, antes não tuteladas pelo Direito Penal, como no caso dos crimes virtuais que fomentam a incerteza e a insegurança por se tratar de um ambiente abstrato e pouco palpável, gradativamente o Direito Penal tem sido ampliado para alcançar essas novas formas de criminalidade, pois se constrói a certeza de que o sistema penal é o único meio eficaz para o combate a criminalidade. Nesse sentido afirma Bitencourt (2008): Tradicionalmente as autoridades governamentais adotam uma política de exacerbação e ampliação dos meios de combate à criminalidade, como solução de todos os problemas sociais, políticos e econômicos que afligem a sociedade. Nossos governos utilizam o Direito Penal como panaceia de todos os males (direito penal simbólico); defendem graves transgressões de direitos fundamentais e ameaçam bens jurídicos constitucionalmente protegidos, infundem medo, revoltam e ao mesmo tempo fascinam uma desavisada massa carente e desinformada. Enfim, usam arbitrária e simbolicamente o direito penal para dar satisfação à população e, aparentemente, apresentar soluções imediatas e eficazes ao problema da segurança e da criminalidade. (BITENCOURT,2008, p.) Toda essa evolução político-criminal advém dos fenômenos: o simbolismo e o punitivíssimo jurídico, fazendo com que o Direito Penal se transforme em simbólico, satisfazendo o clamor público com a falsa sensação de segurança, através do punitivíssimo jurídico, com a aplicação de penas severas a determinados indivíduos classificados como inimigos da sociedade, se criando um Direito Penal mais rígido, ocorrendo então a teoria do Direito Penal do Inimigo, denominada por Gunter Jakobs (2007) como “o Direito Penal do cidadão do mantém a vigência da norma, o Direito Penal do inimigo (em sentido amplo: incluindo o direito das medidas 24 de segurança) combate perigos; com toda certeza existem múltiplas formas intermediárias. (JAKOBS, Günter, MELIÁ, Manuel Cancio, 2007, p.30) Ocorrendo também o que se caracteriza como o Movimento da Lei e Ordem, que ficou conhecido após a sua implementação nos Estados Unidos da América, no qual é defendido com uma maior severidade das penas e o alargamento de leis incriminadoras, é essencial para o bom funcionamento da sociedade e, para que as práticas criminosas sejam reprimidas de forma eficaz. O Movimento de Lei e Ordem possui como um de seus princípios a divisão da sociedade em dois grupos: o primeiro, composto de pessoas de bem, merecedoras de proteção legal; o segundo, de homens maus, os delinquentes, aos quais se endereça toda a rudeza e severidade da lei penal. Sendo assim legitimado com o apoio da sociedade, uma vez que a mesma se encontra encoberta pelo medo e insegurança. Portanto temos então a exarcebação, ou melhor dizendo uma administralização do Direito Penal, que faz com que este perca a sua principal função, de protetor dos bens jurídicos indispensáveis para o desenvolvimento dos indivíduos e a da sociedade e, passe a ser um instrumento de vingança privada. 2.2 Novos sujeitos, novos crimes e a teoria da sociedade de risco Junto com a globalização vieram o progresso, a quebra de barreiras, e como efeito colateral a incerteza, a insegurança e a busca pela (re)adaptação da sociedade ao novo cenário social. Em especial no Direito Penal, podemos observar tais acontecimentos na expansão da criminalidade. Vivemos hoje a era do novo, novos conflitos, que possuem novas formas, que geram novas consequências e, que são realizados por meios inexplorados, desconhecidos e pouco palpáveis. A partir deste cinerário através da teoria de Ulrich Beck (2011), percebemos que vivemos o que ele chama de “Sociedade de Risco” exemplificada pelo autor como: "A categoria da sociedade de risco tematiza o processo de questionamento das ideias centrais para o contrato de risco, a possibilidade de controle e a possibilidade de compensação de incertezas e perigos fabricados industrialmente." (BECK,2011, p.27) Na sociedade de risco contemplamos as consequências do êxito da globalização, ante a distribuição e incremento dos riscos ( BECK, 2011,p.27) em que como denomina o autor são situações sociais de ameaças, na qual nem os que 25 obtiveram lucro com o desenvolvimento, estão livres dos riscos causados por ele, uma vez que possuem o efeito bumerangue que implode o esquema de classes, trazendo novas formas de ameaças como cita o autor: Tampouco os ricos e poderosos estão seguros diante deles. Isto não apenas sob a forma de ameaças à saúde, mas também como ameaças à legitimidade, à propriedade e ao lucro: com o reconhecimento social de riscos da modernização estão associadas desvalorizações e desapropriações ecológicas, que incidem múltipla e sistematicamente a contrapelo dos interesses de lucro e propriedade que impulsionam o processo de industrialização. (BECK,2011, p.27) Os riscos são frutos de ações produzidas em busca de lucro, e com o desenvolvimento tecnológico, que muita das vezes são ignoradas as suas consequências negativas, como por exemplo o crescimento da sensação de medo e insegurança, diante das novas formas de risco, uma vez que uma das suas principais características é o temor pelo desconhecido, pois não sabemos quem e o que temer, como afirma Beck (2011,pag. 32) muitos dos novos riscos (contaminações nucleares ou químicas, substancias tóxicas os alimentos, enfermidades civilizacionais) escapam inteiramente àcapacidade perceptiva humana imediata. Afirmando ainda que: “A sociedade de risco é uma sociedade catastrófica. Nela, o estado de exceção ameaça converter-se em normalidade.” (BECK,2011, p.28) Confirmando a incerteza e insegurança BECK (2011, p. 364-365) afirma que, os riscos globais não se constituem de sujeitos ou atores, mas sim efeitos colaterais, não desejados, não intencionais, por vezes imperceptíveis insurgidos ao longo do desenvolvimento da sociedade contemporânea. É, diante desse cenário de transformações e incertezas em que o Direito Penal se encontra, tentando se adaptar e enfrentar paradigmas que influenciam cada vez mais sua estrutura que vem se tornando atípica diante das relações entre o indivíduo e a coletividade. A preocupação é de que o Direito Penal, na busca para proteger os seus bens tutelados, seja guiado por riscos que o conduz a um ambiente de tutelas cada vez mais antecipadas, criando tipos penais em abstratos que apenas deem respostas simbólicas para os medos sociais enfrentados atualmente e não se mostrem efetivos à realidade fática. 26 2.3 Breves considerações sobre crimes virtuais Com as mudanças trazidas pela globalização, a tecnologia é cada dia mais presente em nosso cotidiano. Não se tem mais controle sobre o tempo em que as informações são acessadas, estando os smartphones, computadores e demais aparelhos tecnológicos conectados à internet 24 horas por dia. Não pode se negar que são inúmeros os benefícios tragos por esse avanço tecnológico, como por exemplo, o desenvolvimento em grande escala nos setores de produção e demais setores da vida civil, colocando-nos em tempo real, a par de todos os acontecimentos no mundo inteiro. É notório que a internet foi uma das melhores invenções tecnológicas do século, mas como todo bônus possui seu ônus e, em razão da sua grandiosidade e do nosso total desconhecimento sobre o potencial do mundo virtual, foram surgindo ao longo dos anos práticas delituosas cometidas via internet que não eram amparadas legalmente. Tais crimes são chamados comumente de crimes virtuais, crimes digitais, informáticos, de alta tecnologia, crimes por computador, fraude informática, delitos cibernéticos, crimes transacionais, dentre outras nomenclaturas. Existem várias definições do que seja o crime virtual de estudiosos da área, veremos algumas. Para Ramalho Terceiro (2002): [...] os crimes perpetrados neste ambiente se caracterizam pela ausência física do agente ativo; por isso, ficaram usualmente definidos como sendo crimes virtuais. Ou seja, os delitos praticados por meio da Internet são denominados de crimes virtuais, devido à ausência física de seus autores e seus asseclas. (RAMALHO, 2002, p.58) No mesmo sentido Guilherme Guimarães Feliciano (2000) conceitua de forma ampla o que ele entende por “criminalidade informática”: Conheço por criminalidade informática o recente fenômeno histórico- sociocultural caracterizado pela elevada incidência de ilícitos penais (delitos, crimes e contravenções) que têm por objeto material ou meio de execução o objeto tecnológico informático (hardware, software, redes, etc.). (FELICIANO, 2000. p. 42) Já segundo Tulio Vianna (2013): 27 Assim, está claro que a denominação mais precisa para os delitos ora em estudo é “crimes informáticos” ou “delitos informáticos”, por se basear no bem jurídico penalmente tutelado que é a inviolabilidade das informações automatizadas (dados). (VIANNA, 2004, p.30 2013.) Numa análise de definições, Spencer Toth Sydow (2013) aduz que: Contudo, por mais ampla que seja, tal definição permite que se obtenha uma classificação, que aponta haver duas maneiras de se cometer um crime informático: a) atacando o processamento automático de dados ou sua transmissão, qualquer que seja o intuito do agente; ou b) pela utilização de processamento automático de dados ou sua transmissão como ferramenta. A partir deste entendimento, conclui-se que na criminalidade informática os bens jurídicos atacados serão: (a) um sistema de processamento de dados ou a transmissão de dados; ou (b) qualquer outro bem jurídico, desde que especificamente violado pelo intermédio do recurso do processamento automático de dados ou de sua transmissão. (SYDOW, 2013, p.63) No mesmo sentido em que Sydow aponta quais são os bens jurídicos atacados pelos crimes virtuais, Tulio Vianna (2001) os classifica em delitos informáticos impróprios, próprios, mistos e mediante: Aos delitos em que o computador foi o instrumento para a execução do crime, mas não houve ofensa ao bem jurídico inviolabilidade da informação automatizada (dados) denominaremos Delitos Informáticos Impróprios e àqueles em que o bem jurídico afetado foi a inviolabilidade dos dados, chamaremos de Delitos Informáticos Próprios. Aos delitos complexos em que, além da proteção da inviolabilidade dos dados, a norma visar a tutela de bem jurídico diverso, denominaremos Delitos Informáticos Mistos. Por fim, nos casos em que um Delito Informático Próprio é praticado como crime-meio para a realização de um crime-fim não informático, este acaba por receber daquele a característica de informático, razão pela qual o denominaremos de Delito Informático Mediante ou Indireto. (VIANNA, 2001, p.36-37, grifo nosso) Deste modo o crime da vingança pornográfica, objeto de estudo do presente trabalho, que será analisado em capitulo posterior, é classificado como um delito informático impróprio, no qual o computador ou outro aparelho eletrônico de comunicação é usado para a execução do crime. 28 29 3. DIREITO A INTIMIDADE NO SÉCULO XXl O direito a intimidade e a vida privada foi uma das garantias fundamentais instituídas pela constituição de 1988, assim também como, os direitos da personalidade, ambos elencados no art.5º da Carta Magna (BRASIL, 1988): Art.5º-Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (BRASIL, 1988) Por sua vez, o Código Civil Brasileiro de 2002 (BRASIL, 2002) também protege o direito à vida privada, classificando-o como direito da personalidade, ao dispor que a vida privada da pessoa natural é inviolável conforme o “Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.” (BRASIL, 2002) Embora os conceitos de vida privada e intimidade se apresentem como sinônimo, em muitos casos é nítida a diferença entre ambos, principalmente por se tratar a intimidade de uma questão mais intima do cidadão do que a vida privada. Neste sentido, Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2007) “esclarece que a dificuldade de diferenciação entre vida privada e intimidade, ocorre por esta ser elemento daquela, no seu núcleo mais interno, mas com ela não se confunde.” (FERREIRA FILHO, 2007, P.296) Alexandre de Moraes (2014) faz distinção da intimidade e da vida privada fazendo uma analise sobre as relações subjetivas e objetivas de cunho pessoal: Assim, intimidade relaciona-se às relações subjetivas e de trato intimo da pessoa, suas relações familiares e de amizade, enquanto vida privada envolve todos os demais relacionamentos humanos, inclusive os objetivos, tais como relações comerciais, de trabalho, de estudo, etc. (MORAES,2014, p.54) Quanto ao conceito de privacidade José Afonso da Silva (2008)aduz que a privacidade é “o conjunto de informação acerca do indivíduo que ele pode decidir 30 manter sob seu exclusivo controle, ou comunicar, decidindo quem, quando, onde e em que condições, sem isso poder ser legalmente sujeito” (SILVA apud GODOY, 2008, p. 39). Diante das concepções doutrinarias percebe-se então que ocorre a violação da intimidade quando há um ferimento no desenvolvimento da personalidade, já a privacidade nos remete ao direito de não ser importunado através dos seus bens, ou melhor através da propriedade e sob questões que só a si dizem respeito. A proteção a intimidade e a privacidade se torna cada vez mais necessária, uma vez que, diversas escolhas que dizem respeito somente ao indivíduo e o seu ideal de felicidade são abrangidos por tais direitos, como por exemplo a opção sexual, a auto identificação do indivíduo com o gênero sexual que o realiza como pessoa, devendo então serem ampliados e apenas protegidos pelo ordenamento jurídico, sobe tudo como forma de assegurar a dignidade da pessoa humana. A proteção aos direitos a intimidade e a privacidade vêm a cada dia ganhando uma maior relevância diante do desenvolvimento das técnicas de comunicação advindas com a tecnologia, como por exemplo, a internet, transformou em instantâneo o acesso e a divulgação as mais diversas informações da vida intima, que não mais ficam restritas ao individuo e aqueles com quem ele compartilha da mesma, ou mesmo guarda em seu intimo, não dando ciência a quem quer que seja. Vivemos hoje o que Michel Foucault (1975), nos apresenta como o modelo Panóptico, formulado por Jeremy Bentham, caracterizado em sua teoria com um espaço geométrico fechado e vigiado em todos os seus pontos. O que se assemelha com a realidade do século XXl, com a megaexposição do individuo no mundo virtual e o desenvolvimento de politicas de vigilância, fazendo com que a privacidade e a intimidade sejam alvos fáceis. Portanto o direito à privacidade e intimidade são indisponíveis e devem ser garantidos, como destaca Pontes de Miranda (1993) “todos têm direito de manter-se em reserva, de velar a sua intimidade, de não deixar que lhes devassem a vida privada, de fechar o seu lar a curiosidade pública”. (MIRANDA, 1983, p.125.) Tendo em vista os aspectos observados concluímos que a era da internet, a velocidade de informações, a exposição exacerbada do dia a dia traz perigos constantes ao direito de privacidade e intimidade do indivíduo; principalmente no âmbito virtual que possui um grande poder e afeta diretamente a vida pessoal de 31 cada individuo que se expõe nesse ambiente, mesmo que dentro de relações de confiança. 3.1 Pornográfia de vingança, stalking e ciberstalking O livre acesso aos conteúdos disponibilizados na internet traz inúmeros benefícios aos seus usuários, uma vez que, hoje temos a vantagem de usufruir de conteúdos que contribuem de forma efetiva para o nosso crescimento intelectual, fazendo também com que não se percam, por exemplo, acervos históricos, informações culturais, entre outros. Além de podermos acompanhar eventos, manter contato tanto por mensagem ou vídeo, em qualquer lugar do mundo em tempo real, transgredindo barreiras físicas. Entretanto a facilidade ao livre acesso a conteúdo publicados na internet, em especial nas inúmeras redes sociais existentes, possui um lado perigoso, pois, não há um controle confiável do conteúdo encontrado na rede. Na maioria das vezes não se sabe se o que está ali é algo que confronte com o direito de intimidade do indivíduo e o direito de informação de alguém, aumentando ainda mais o risco de que sejam publicados conteúdos de cunho estritamente pessoal, que ferem diretamente a honra subjetiva de algum indivíduo. A troca de mensagens, a divulgação e invasão de dados pessoais, ameaças, são os alvos para o desencadeamento de algumas condutas criminosas que são propícias do ambiente virtual, como por exemplo, o cyberstalking e a vingança pornográfica, faz se então necessário conceituar cada uma destas práticas criminosas. O stalking, que significa “perseguição”, do inglês “to stalk”, não é uma pratica criminal tão nova, a expressão se originou no fim da década de 1980, com o intuito de identificar o comportamento obsessivo de alguns fãs para com seus ídolos ou mesmo apenas personalidades famosas, faz se necessário a sua análise para que possamos entender a “inovação” da conduta, realizada agora através da internet. Jesus Damásio (2009) conceitua a conduta como: O stalking é uma forma de violência na qual o sujeito ativo invade a esfera de privacidade do sujeito passivo, repetindo incessantemente a mesma ação por maneiras e atos variados, empregando táticas e meios diversos: telefonemas em seu aparelho celular, residencial ou de ocupação, mensagens amorosas, telegramas, ramalhetes de flores, presentes não 32 solicitados, assinaturas de revistas indesejáveis, mensagens em faixas amarradas, pregadas ou fixadas nas proximidades da residência da vítima, permanência na saída de sua escola ou trabalho, espera da sua passagem em determinado lugar, frequência constante no mesmo local de lazer, supermercados, lojas, etc. [...] Com isso, vai ganhando poder psicológico sobre o sujeito passivo, como se fosse o controlador geral dos seus movimentos. (DAMÁSIO, 2009, p.66-70) O sujeito ativo desta infração penal possui características comuns, assim como o sujeito passivo. Entretanto, em Portugal, segundo estatísticas do site APAV- Apoio à Vítima (2017), verificou-se que na maioria das situações de stalking o autor é conhecido da vítima (parceiro, ex-parceiro, colega de trabalho), destaca-se ainda que a violência psicológica foi o comportamento do stalking mais referenciada pelas vítimas, apontando ainda a mulher como a maior vítima desta modalidade. No Brasil não há a criminalização direta ao stalking, a pratica é definida como uma contravenção penal, denominada como perseguição insidiosa, tipificada no art. 65 do Decreto-Lei no nº 3.688/41 (BRASIL, 1941): Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. (BRASIL, 1941) Aplica-se também as medidas protetivas da Lei Maria da Penha, quando a pratica de stalking envolva violência doméstica contra as mulheres. Nesse ponto é necessário fazer a ressalva de que o presente trabalho não entra em questões de gêneros, as quais envolve a tutela da Lei Maria Da Penha, embora entendemos que seria possível a aplicação da medida protetiva ao público LGBTQ+. É cabível também a sanção do tipo penal do art. 147 do Código Penal Brasileiro caracterizando como ameaça, porém as condutas do stalker se forem consideradas isoladamente não se enquadram em nenhum dos tipos penais acima mencionados. Contudo está em fase de tramitação o Projeto de Lei do Senado nº 236, de 2012, o Novo Código Penal, no qual tipifica a pratica do stalking no art. 147 com a nova redação (SARNEY, 2012): Perseguição Obsessiva ou Insidiosa Art.147. Perseguir alguém, de forma reiterada ou continuada, ameaçando- lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. Pena — Prisão, de dois a seis anos, e multa. 33 Parágrafo único. Somente se procede mediante representação. (SARNEY, 2012) O cyberstalking se diferencia da pratica de stalking por utilizar como meio de execução a internet, conforme conceitua Crespo (2015): O cyberstalking é, portanto, o uso da tecnologia para perseguir alguém e se diferencia da perseguição “offline” (ou mero stalking) justamente no que tange o modus operandi, que engloba o uso de equipamentos tecnológicos e o ambiente digital. Além disso,o stalking e o cyberstalking podem se mesclar, havendo as duas formas concomitantemente. O stalker –indivíduo que pratica a perseguição – mostra-se onipresente na vida da sua vítima, dando demonstrações de que exerce controle sobre ela, muitas vezes não se limitando a persegui-la, mas também proferindo ameaças e buscando ofendê-la ou humilhá-la perante outras pessoas. Curiosamente o m é cometido, muitas vezes, não por absolutos desconhecidos, mas por pessoas conhecidas, não raro por ex-parceiros como namorados, ex- cônjuge, etc. (MOMBACH apud MACHADO; 2016, p. 219, grifo nosso) Entende-se então que o Cyberstalking se utiliza da tecnologia para os atos de perseguição e perturbação de alguém, porém, cabe ressaltar que a pratica virtual não exclui a perseguição física, uma conduta não afasta a outra, longe disso, ambas podem ser praticadas simultaneamente. Nesse mesmo sentido afirma Brito (2013): [...] o stalking ganhou uma ferramenta que facilitou o serviço do perseguidor (stalker), e potencializou os danos causados às vítimas. E-mails, tweets, visitas de perfil e até as famosas “cutucadas” podem servir de exemplos de novos meios de execução proporcionados pelo uso da internet, passando com isso a denominar-se Cyberstalking. (BRITO,2013, P. 146) Em consequência do exposto percebe-se que o cyberstalking, se apresenta como um stalking virtual. São vários os meios para a execução da perseguição, dentre eles o stalker cria perfis falsos em redes sociais, com a finalidade de acompanhar a rotina da vítima, coletando o máximo de informações possíveis, para que o impacto da perseguição surta um grande efeito. É comum casos em que o stalker envolva pessoas do ambiente de trabalho, amigos próximos e até mesmo a família da vítima, para que a mesma se sinta pressionada em todas as esferas de sua vida. O cyberstalking se caracteriza também, pelo anonimato e distanciamento proporcionado pelo ambiente virtual, que serve como uma garantia para a pratica delituosa. Além desta principal característica de acordo com Amiky (2014, p. 35) o cyberstalker possui certas vantagens em relação ao stalker do meio físico, como por exemplo o poder de entrar em contato com outras pessoas do convívio da vítima. 34 Entre as vantagens mencionadas a autora (2014) destaca ainda, que a maior a munição é oferecida pela própria vítima ao cyberstalking, que por meio de postagens em redes sociais relata dados da sua vida, formando um arsenal de possibilidades, das quais ele precisa para efetivar a sua perseguição. Assim como o Stalking o Cyberstalking também não é tipificado como crime em nosso ordenamento jurídico, configurando-se assim como uma contravenção penal, ou como crime, quando enquadrado como ameaça, no art.147 do Código Penal Brasileiro e, também com a possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha, no que tange as medidas protetivas expostas, caso a perseguição esteja ligada a mulher. A modalidade existe regulamentação em países como Portugal, Reino Unido e nos Estados Unidos. Em decorrência desse vácuo legislativo a maioria das vitimas de cyberstalking não denunciam o ocorrido no órgão policial competente, acreditando que não há uma solução eficiente. Entretanto a pratica cresce cada dia mais e ultrapassa as barreiras da esfera virtual, a vitima tem sua vida devastada também no meio físico (AMIKY, 2014, p. 36). Para suprir o desamparo legislativo no Brasil, foi criado o Canal de Informações sobre Ciberameaças no Brasil-CICbr (2017), de forma independente, que tem o objetivo de reunir referências que ajudem todos a identificar e se proteger contra o assédio online, ataques virtuais e outras ameaças nas redes sociais. A troca de mensagens com o compartilhamento de fotos e vídeos de si ou de situações do dia a dia são atos extremamente comuns atualmente, principalmente com o uso das redes sociais. O “sexting” é a modalidade de troca de mensagens com o compartilhamento de fotos e/ou vídeos eróticos, a expressão deriva das palavras sex (sexo) e texting (envio de mensagens), conceituada por Auriney Brito (2013) como: O sexting é a denominação atribuída à prática de transferir arquivos de conteúdo pornográficos, através das tecnologias dos telefones celulares. O envio de mensagens de texto (SMS) é conhecido como texting, mas, juntando esta expressão com o conteúdo pornográfico (Sex), resultou na expressão sexting. (BRITO, 2013, p. 148). O envio de mensagens, fotos e vídeos de conteúdo erótico não constitui nenhum ilícito civil ou penal, ao contrario é uma escolha de total critério pessoal de quem a faz. Ocorre que o remetente ao envia-la não possui o controle sobre a 35 utilização do material enviado, que fica a mercê da discricionariedade de quem recebeu, compartilha-lo ou não, tendo em vista que, muitas das vezes o que motiva o envio de tais mensagens que normalmente ocorrem dentro de um relacionamento afetivo, segundo o site Internet segura, são por exemplo, fornecer uma prova de amor pelo envio de fotos eróticas, o desejo de afirmar audácia e autoconfiança exibindo o corpo de forma sedutora, a solicitação do parceiro para fazê-lo sob chantagem emocional ou, ser convencido por alguém a fazê-lo durante uma conversa online. Sendo estes motivos efêmeros e perigosos, pois uma vez, compartilhado por quem recebe o material, ele se dissemina rapidamente na internet, e é nesse contexto que cada vez mais é praticada a vingança pornográfica. A vingança pornográfica também intitulada pelos temos termos, “pornô de vingança ou ainda “vingança pornô”, advém da expressão de língua inglesa “revenge porn”, originária dos Estados Unidos da América, que em sua tradução literal significa pornografia de vingança. Cabe destacar que a pornografia de vingança por se tratar de um tema ainda muito recente, não há livros de autores de renome que conceituem e discorram sobre o tema, sendo assim, a maioria das informações aqui trazidas são baseadas em sua maior parte em artigos científicos e até mesmo matérias jornalísticas, de fontes confiáveis e bem elaboradas, de forma que não comprometem a seriedade do estudo feito. Segundo Amiky (2015) trata-se da conduta de divulgar através da internet fotos e/ou vídeos privados, que foram produzidos em situações intimas, compreendendo cenas de nudez, exposição de partes intimas, envolvimento em atos sexualmente explícitos ou com conotação sexual, tais como masturbação, sexo genital, anal ou oral, penetração sexual com objetos ou transferência de sêmen sobre quaisquer partes do corpo (FRANKS, 2015). Para Marcelo Crespo (2015) a vingança pornografia é: Exatamente nesse contexto que temos verificado cada vez mais em nossa sociedade a prática do chamado revenge porn, ou pornografia da vingança, que é uma forma de violência moral (com cunho sexual) que envolve a publicação na internet (principalmente nas redes sociais) e distribuição com o auxilio da tecnologia (especialmente com smartphones), sem consentimento, de fotos e/ou vídeos de conteúdo sexual explícito ou com nudez. As vítimas quase sempre são mulheres e os agressores, quase sempre são ex-amantes, ex-namorados, ex-maridos ou pessoas que, de qualquer forma, tiveram algum relacionamento afetivo com a vítima, ainda que por curto espaço de tempo. (CRESPO, 2015) 36 Entende-se então que o objetivo do agressor é punir a vitima com a divulgação dos vídeos, fotos ou até mesmo áudios íntimos, o motivo da vingança muitas das vezes se dá em decorrência do termino de uma relação amorosa, ou mesmo por qualquer outro motivo, porém sempre com o objetivo de colocar a vitima em uma situação vexatória. A conduta que antecede a divulgação do material intimo na vítima é chamada de “sextorsão” conforme o site SaferNet (2018) que consiste na pratica das ameaças, seja por vingança, humilhação ou até mesmo para extorsão financeira, como o casoda atriz Carolina Dieckmann que será analisado posteriormente. O agressor pretende demonstrar um poder sobre a vítima, e, então tornando exposta uma situação tão intima, fazendo com que sofra agressões morais, violando a sua honra, reputação e principalmente o seu direito de escolha dentro da sua liberdade sexual. A vingança pornográfica se caracteriza por ser uma pornografia não consensual, ainda que a vitima tenha consentido com a realização da mesma, uma vez que no momento da sua realização foi baseada em uma relação de confiança. A vítima mesmo após ter sua intimidade exposta ainda é apontada como culpada, principalmente quando a vítima é do sexo feminino. Segundo estatísticas da ONG SaferNet (2015), as mulheres são as maiores vitimas dos crimes virtuais, correspondendo a 65% dos casos de cyberbullying e ofensa (intimidação na internet) e 67% dos casos de sexting (mensagens de conteúdo íntimo e sexual) e exposição íntima. O ordenamento jurídico brasileiro vinha entendendo que a pratica da vingança pornográfica seria apenas uma ofensa a honra, tipificando a conduta nos crimes de injuria, art. 140 e Difamação, art. 139 ambos do Código Penal (BRASIL,1941), a depender do caso concreto. Caso a vítima seja menor de idade é aplicado o art. 241-A da lei nº 8.069 de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL,1990). Porém nenhum dos enquadramentos penais utilizados compreende a magnitude do estrago feito pela divulgação de fotos e/ou vídeos de cunho tão íntimo, afetando consideravelmente o psíquico-emocional e material, cumprindo o agressor tão somente a pena de três anos de detenção ou podendo ser substituída por uma pena restritiva de direitos. Toda via, para que aconteça a criminalização do agressor é necessário que haja inciativa da vitima para propor a queixa, uma vez que nos crimes contra a honra 37 a ação penal é publica condicionada. O que se torna mais um obstáculo para que a vítima procure a justiça, pois, já se encontra em uma situação emocional e social conturbada e será exigido da mesma uma postura firme e corajosa para encarar as burocracias e morosidades processuais. Ocorre que, durante o desenvolvimento do presente trabalho foi publicada a Lei nº 13.718, no dia 25 de setembro de 2018, que alterou os dispositivos que dizem respeito aos crimes contra a liberdade sexual e contra vulneráveis, criando dois novos tipos penais, os artigos 215 e 128-C. O primeiro cuida da figura que no projeto do novo Código Penal (PLS n. 236/2012), em trâmite no Congresso Nacional, receberia o nome de molestamento sexual (art. 182 do PLS), mas que, no art. 215- A, passou a se chamar importunação sexual. O segundo tipo penal criado pela nova lei foi inculcado no recém-criado art. 218-C do Código Penal (BRASIL, 1941) com a seguinte redação: Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) § 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) (BRASIL, 1941, grifo nosso) A atual previsão legal amplifica a conduta de forma mais taxativa suprindo a lacuna normativa, não mais a conduta sendo atrelada a circunstâncias que poderiam levar a pratica um fato atípico. Cabe salientar que o dispositivo legal, não tipificou o sexting como uma conduta criminosa, sendo a mesma permitida por se tratar de uma situação de plena escolha dentro da liberdade sexual, apenas cuidou de proteger as vitimas da pornografia de vingança que tem sua intimidade exposta como forma de vingança. Não se sabe ainda como será a sua eficácia diante dos casos futuros e aos já existentes, mas é louvável o avanço na legislação penal. 38 3.3 Vingança pornográfica como violência de gênero A violência de gênero se desenvolveu na determinação social dadas ao homem e a mulher na história da humanidade, que sempre insistiu em atribuir papeis diferentes a ambos de forma discriminatória. Dando ao homem um papel supervalorizado em comparação aos papeis impostos as mulheres, fazendo com que o homem se sinta superior e suponha ter direitos sobre a mulher. Assim defendido por Maria Amélia Teles e Mônica de Melo (2002) “os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos.” (TELES, MELO,2003, p.18) A diferença no tratamento entre questões relacionadas ao sexo feminino e ao masculino são nítidas, a mulher é sempre vista como inferior e vulnerável. Hermann (2007) preleciona que: [...] o dogma da superioridade masculina foi consolidado por diversos fatos culturais que ressaltavam a inferioridade biológica e intelectual da mulher. A partir daí, criou-se uma regra de obediência irrestrita da mulher para com o homem, que seria relativizada apenas pelo pouco prestígio que a fertilidade proporcionava ao gênero feminino. (HERMANN apud LELIS, CAVALCANTE, 2016, p.6) Com relação ao mito da superioridade masculina Simone de Beauvoir (1970, p.179) aduz que “[...] a história mostrou-nos que os homens sempre detiveram todos os poderes concretos, desde os primórdios tempos do patriarcado, julgaram útil manter a mulher em estado de dependência, seus códigos estabeleceram-se contra elas”. E quanto a construção histórica da superioridade masculina a autora continua explanando: A mulher é mais fraca do que o homem; ela possui menos força muscular, menos glóbulos vermelhos, menor capacidade respiratória; corre menos depressa, ergue pesos menos pesados, não há quase nenhum esporte em que possa competir com ele; não pode enfrentar o macho na luta. (BEAUVOIR, 1970, p. 174). O sexo feminino é nitidamente tratado como um objeto, um ser de sensualidade, sentimentalismo exagerado e de submissão, enquanto o sexo masculino é visto como um ser dominador. Nesse contexto é nítida como a vingança pornográfica se mostra como uma nova forma de violência de gênero, pois, a 39 exposição da intimidade da mulher é uma forma de punição, ameaça e amedrontamento caso a mulher não respeite as vontades e limites impostos pelo patriarcalismo. A vitima da vingança pornográfica é atingida de uma forma devastadora, uma vez que é afetada a sua intimidade, o seu psicológico e causa danos à sua honra subjetiva e objetiva, uma vez que o olhar da sociedade é cruel, de forma que sempre rotula a vítima como uma pessoa imoral e protege o agressor, que na maioria dos casos, tão pouco é citado como o verdadeiro culpado. Por essa acepção, diz Frank (2015, p. 16), “entre outras coisas, ser a “Pornografia de Vingança” mais uma modalidade substancial da violência doméstica, visto que o grande número de casos ocorre por ser o agressor o companheiro da vítima”. Para Franks (2015), o parceiro que utiliza o artifício da “Pornografia de Revanche”, busca muito mais que a simples exposição da vítima. Pretende promover humilhações e obrigá-la ao relacionamento, já que o material é usado, sobretudo, para favorecer chantagens e ameaças. Nesse sentido ao julgar o RecursoEspecial 1679465/SP (BRASIL,2018), a ministra Nancy Andrighi, da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça classificou como violência de gênero a exposição pornográfica não consentida. Ela manifestou seu ponto de vista durante julgamento de recurso do Google num caso envolvendo uma adolescente que teve fotos íntimas vazadas, depois que o cartão de memória do seu celular foi furtado. Segundo a ministra: [...] A divulgação não autorizada desse tipo de material íntimo ou sexual recebeu a alcunha de 'exposição pornográfica não consentida' ou 'pornografia de vingança', em razão de ser particularmente comum nas situações de fins de relacionamento, quando uma das partes divulga o material produzido durante a relação como forma de punição à outra pelo encerramento do laço afetivo. (BRASIL,2018) Apesar da pornografia de vingança não ser uma forma de violência usada somente contra as mulheres, é uma modalidade de crime praticada especialmente contra as mulheres, e se mostra efetivamente como uma forma de punição, principalmente em fins de relacionamento, nesse sentido afirma a ministra Nancy Andrighi em seu voto no Recurso Especial 1679465/SP (BRASIL,2018): [...] A "exposição pornográfica não consentida", da qual a "pornografia de vingança" é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma 40 grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis. (BRASIL,2018) Portanto entende-se então que, a pornografia de vingança se apresenta como uma violência de gênero, ao ser usada para causar dor e sofrimento a mulher, que está inserida em um contexto social que a julga simplesmente por assim ser, negando o seu direito de dispor sobre o seu corpo dentro do seu direito de liberdade, usando de sordidez ao expor vídeos e fotos íntimas para julgá-las diante da ótica de uma falsa moral social. 41 4. VINGANÇA PORNOGRÁFICA E O DIREITO PENAL Como conceituado no capitulo anterior a vingança pornográfica consiste no ato de compartilhar fotos e vídeos com conteúdo sexual sem o consentimento da vitima com o intuito de humilhar e denegrir a imagem da mesma. A relação do Direito Penal com a vingança pornográfica tipificada como crime é notoriamente nova, uma vez que a lei nº 13.718 de 2018 que alterou o Decreto-Lei nº2.848, de 7 de dezembro de 1940, criando o tipo penal do art.218-C do Código Penal Brasileiro (BRASIL,1941) intitulado como Importunação sexual, foi publicada em 25 de setembro do presente ano, portanto, não sabemos ainda como será a efetividade da aplicação da lei em casos concretos. Entretanto fazendo uma análise da atuação do Direito Penal na punição da pratica da vingança pornográfica, percebemos que o ato era maioria dos casos enquadrado nos crimes contra a honra, como visto no capítulo anterior. A vingança pornográfica também pode ser enquadrada na Lei 12.737 de 2012, conhecida popularmente como Lei Carolina Dickman, que prevê tipificação no texto dos artigos 154-A, 266 e 298 do Código Penal, que versam sobre os delitos cibernéticos, possibilitando a responsabilidade penal dos infratores. A lei carrega o nome Carolina Dieckmann, em razão da repercussão do caso no qual segundo reportagem do site VEJA (2012), no dia 04 de maio de 2012, vazaram mais de 36 imagens intimas da atriz, na internet. Os criminosos invadiram a caixa de e-mail de Carolina Dieckmann e exigiram o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e a atriz ao recusar ceder à chantagem, os criminosos espalharam as suas fotos na internet. A referida lei trata da invasão de dispositivo informático, o art. 154-A Código Penal (BRASIL, 1941), incluído por ela possui a seguinte redação: Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 42 § 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência [...] (BRASIL, 1941) A conduta criminosa acima descrita embora seja configurada como um delito informático próprio, conforme a classificação dos crimes de informática de Tulio Vianna (2003) no qual diz que o bem jurídico tutelado pela norma penal nesses casos é a inviolabilidade dos dados ou informações, porém, a proteção se estende também a intimidade, um direito já garantido pela Constituição Federal de 1988. Entretanto Sydow (2015) intitula o delito como “intrusão informática”: [...] Refere-se ao ingresso não autorizado de um usuário no sistema alheio, seja ou não para obter alguma vantagem, seja ou não por meios ardilosos, violentos ou até mesmo por conta de um subterfúgio que venha a enganar o legitimo detentor dos direitos relativos ao sistema, levando-o a permitir o ingresso, sob erro. (SYDOW, P.114,2015) A denominação dada por Sydow (2015) salienta que o usuário não precisa necessariamente atacar sistemas informáticos fechados, pode apenas se valer de brechas, sem o uso da violência, apenas aproveitando da vulnerabilidade de um sistema, conforme tipifica o art. 154-A do Código Penal Brasileiro (1941). O Estatuto da criança e do Adolescente, a Lei nº 8.069 de 1990, também discorre sobre a incriminação semelhante a vingança pornográfica do artigo 218-C do Código Penal, porém se restringe a divulgação de imagens, vídeos ou qualquer registro de crianças e adolescentes em cenas de sexo explícito ou pornográficas, conforme aduz os artigos 241, 241-A, 241-B e 241-C do ECA. Ocorre que cada artigo tipifica uma conduta sendo o caráter criminoso atrelado às circunstancias do caso concreto, como por exemplo o artigo 241 do ECA (BRASIL, 1990): 43 Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) (BRASIL, 1990, grifo nosso) Já o artigo 241-A do referido diploma legal, trata das condutas de (BRASIL, 1990): Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográficaenvolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) [...] (BRASIL, 1990, grifo nosso) Por sua vez o artigo 241-B cuida de quem possa (BRASIL, 1990): Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) (grifo nosso) Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (BRASIL, 1990, grifo nosso) Por fim o artigo 241-C tipifica a conduta de quem (BRASIL, 1990): Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) (grifo nosso) Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (BRASIL, 1990, grifo nosso) A Lei Maria da Penha, Lei 11.340/2006, por sua vez pune a divulgação de imagens intimas sem o consentimento das pessoas que foram filmadas ou fotografadas, a vingança pornográfica, quando configurada a violência domestica e familiar contra a mulher, independente da orientação sexual, conforme o art. 5º da lei (BRASIL,2006): Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; 44 II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. (BRASIL, 2006, grifo nosso) Estipulando ainda o artigo 7º da lei (BRASIL,2006) a forma de violência doméstica psicológica: Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: [...] II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (BRASIL,2006, grifo nosso) Portanto se entre a vitima da pornografia de vingança e o criminoso que divulgou houver um relacionamento íntimo, pode ser usada a Lei Maria da Penha para proteger a integridade física e psicológica da mulher. Podendo ainda o juiz, aplicar as medidas protetivas previstas no art. 22 da referida lei. Existem ainda projetos de lei em tramite no Congresso Nacional que versam sobre a criminalização da vingança pornográfica, dentre eles está o Projeto Lei 5555/2013, que visa alterar o Decreto Lei nº 2.848/1940 e a Lei Maria da Penha, incluindo a comunicação no rol de direitos assegurados à mulher pela Lei Maria da Penha, bem como reconhecendo que a violação da sua intimidade consiste em uma das formas de violência doméstica e familiar, tipificando ainda a exposição pública da intimidade sexual. O projeto inclui o inciso VI no artigo 7º, com a seguinte redação (ARRUDA,2013): “Art. 7º........................................................................ VI – violação da sua intimidade, entendida como a divulgação por meio da Internet, ou em qualquer outro 2 meio de propagação da informação, sem o seu expresso consentimento, de imagens, informações, dados pessoais, vídeos, áudios, montagens ou fotocomposições da mulher, obtidos no âmbito de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.”(NR) (ARRUDA,2013) 45 O inciso VI passa a tipificar como forma de violência domestica a violação da intimidade por meio da divulgação de qualquer informação, que foram obtidas dentro de relacionamento baseado na confiança mutua, sem o consentimento da vítima, abarcando assim a pornografia de vingança. O Projeto Lei 5555/2013 acresce também o paragrafo 5º no artigo 22, que trata das medidas protetivas, com a seguinte redação (ARRUDA,2013): “Art.22.................................................................................. ............................................................................................. §5º Na hipótese de aplicação do inciso VI do artigo 7º desta Lei, o juiz ordenará ao provedor de serviço de e-mail, perfil de rede social, de hospedagem de site, de hospedagem de blog, de telefonia móvel ou qualquer outro prestador do serviço de propagação de informação, que remova, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, o conteúdo que viola a intimidade da mulher.(NR)” (ARRUDA,2013) O Projeto Lei de nº 5.555/2013 na Câmara dos Deputados foi substituído no Senado pelo Projeto de Câmara nº 18 de 2017, apresentado pela senadora Gleisi Hoffman, e aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania-CCJ, no dia 22 de novembro de 2017, no qual foi ampliado a pena de reclusão para o período de dois a quatro anos mais multa, que originalmente estabelecia a pena de reclusão de três meses a um ano, para quem registre ou divulgue de forma não autorizada a intimidade sexual de uma pessoa, a chamada pornografia de vingança, o projeto foi remetido a câmara dos deputados para votação. O Projeto Lei º 18/2017 foi batizado como Projeto Lei Rose Leonel, porque a jornalista em 2006, foi vítima de vingança pornográfica, o seu ex namorado divulgou fotos intimas em mais de 15 mil e-mails, gravou as fotos em CDs e distribuiu nos principais condomínios residenciais e no comercio da cidade, junto com as fotos ele colocava o número de telefone residencial, o celular, o e-mail da vítima e, o então programa de troca de mensagens usado a época o msn, chegando até a colocar o telefone do filho de Rose. O ex namorado de Rose Leonel a divulgava como se fosse uma garota de programa. Em decorrência de toda essa exposição Rose perdeu o emprego, foi excluída socialmente e segundo ela em entrevista ao site EPOCA, disse que quase foi linchada em sua cidade. O motivo de toda essa exposição foi a não aceitação do termino do relacionamento. Segundo Rose foi protegida pelas medidas protetivas da Lei Maria da Penha, por conta da perseguição constante e, após ingressar com ação na 46 justiça o ex-namorado foi condenado na esfera cível e criminal, entretanto a divulgação das fotos nunca cessou, pois como relata a mesma a não há amparo legal para quem comete esse tipo de crime. Rose após todo esse acontecimento em sua vida criou a ONG Marias da Internet, com intuito de ajudar as mulheres vitimas de crimes na internet a se orientarem para buscarem ajuda. O Marco Civil da Internet, a lei 12.965/14, por sua vez estabelece direitos e deveres para o uso da internet, regulando as relações em rede e por consequência a relação da responsabilidade sobre o conteúdo propagado na mesma, nesse sentido Sydow (2015) afirma que o Marco Civil é “ a criação de margens seguras para deveres e responsabilidades- no caso concreto aos usuários e aos prestadores de serviço na internet.”(SYDOW, 2015,p.170)Cabe ressaltar que no dia 15 de agosto de 2018, foi publicada a Lei nº 13.709/18, a Lei Geral de Proteção de Dados, que altera o Marco Civil da Internet, e entrará em vigor em 2020, após um período de 18 meses. A lei versa sobre a proteção dos dados pessoais e o seu tratamento, sobretudo nos meios digitais para promover a proteção dos direitos fundamentais de liberdade, privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. O Marco Civil da Internet, lei nº 12.965 de 2014, traz direitos e garantias aos seus usuários, afirmando a importância do direito a intimidade e privacidade, mesmo no ambiente virtual, reafirmando o direito garantido pela constituição federal de 1988 e o caráter reparatório resguardado pelo código civil brasileiro de 2002 nos artigos 12 e 21, nesse sentindo aduz o artigo 7º, I da lei (BRASIL, 2014): Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - Inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (grifo nosso) [..] X - Exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei; (BRASIL, 2014, grifo nosso) A vitima da pornografia de vingança pode se valer do caráter extrajudicial, tipificado no artigo 21 do Marco Civil da Internet, para fazer o pedido da remoção de conteúdos com material de nudez que foram divulgados sem a sua autorização, para que sejam retirados da rede, buscando a solução junto ao provedor de aplicações de 47 internet, desde que a mesma demonstre elementos que permitam a identificação especifica do conteúdo, mediante simples notificação. Assim tipifica o artigo 21 da lei 12.93/2014 (BRASIL, 2014): Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a disponibilização desse conteúdo. Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido. (BRASIL, 2014) Entretanto, são várias as discursões acerca da efetividade das garantias e da demonstração de provas exigidas a vítima, das quais trata o artigo citado anteriormente, pois, existem dúvidas quanto a remoção do conteúdo uma vez que implica em limites que podem ou não os provedores terem controle sobre determinados dados, sendo assim necessário o apontamento de uma URL que indique expressamente onde o conteúdo se encontra. O artigo 7º, X do Marco Civil da Internet, mencionado acima trata justamente dessa possibilidade da retirada do conteúdo pessoais, que ferem o direito de personalidade, o direito a intimidade e privacidade de alguém, o também chamado de direito ao esquecimento ou direito a desindexação, do qual trataremos melhor no próximo tópico. 4.2 Vingança pornográfica e o direito ao esquecimento O direito a desindexação, teve sua origem na Europa e ficou conhecido através do famoso caso Gonzales vs Goolge Espanha, julgado pelo Tribunal de Justiça da União Europeia-TJUE. Costeja González, ao ver seu nome ligado em matéria sobre dividas de execução fiscal de débitos de seguridade social, no jornal La Vanguardia, ingressou com uma ação pedindo para que fossem excluídas todas as publicações que ligassem o seu nome a noticias sobre a referida dívida, uma vez que já havia quitado a mesma e as publicações afetavam o seu direito à privacidade, 48 pois conforme MENEZES (2017,p.25) o conteúdo influenciava na construção de sua imagem a terceiros que visualizassem o conteúdo. O Tribunal de Justiça da União Europeia-TJUE, proferiu a sua decisão embasados na Diretiva Europeia de Proteção de Dados, conhecida como a Diretiva 95/46/CE, que reconhece o direito fundamental à proteção de dados pessoais, e qual responsabiliza os provedores de busca a fazerem o controle do processamento dos dados pessoais dos indivíduos que tenham informações compartilhadas na internet, mesmo que (MENEZES, 2017) os provedores não analisem e nem façam distinções acerca dos dados pessoais contidos na internet, uma vez que devem assegurar que suas atividades estejam de acordo com a Diretiva 95/46/CE. O tribunal então ordenou ao Google que desindexasse os resultados de busca relacionados ao nome de Gonzales e ao débito que já não existia. A decisão foi baseada nos seguintes artigos da Diretiva : art.2º, alíneas b) e d); art. 4º, nº 1, alíneas a) e c); art. 12º, alínea b) e art. 14º, primeiro parágrafo, alínea a), considerando o tribunal que a aplicação dos referidos artigos conjuntamente conforme (MENEZES,p.28,2017) garantem aos indivíduos, a possibilidade de solicitar previamente junto ao provedor sem buscar as vias judiciais a retirada de conteúdos que mesmo que lícitos firam o direito de personalidade de alguém. A desindexação consiste segundo Machado, Wachowicz (2018) em: Assim, a desindexação apresenta-se como um engenhoso e promissor mecanismo de proteção à personalidade na internet, sendo inclusive meio menos restritivo em comparação com, por exemplo, a remoção de uma página, pois, ao simplesmente desindexar, não ocorrerá a supressão material do dado, mas apenas será colocada uma barreira artificial ao seu acesso. Tomando uma analogia bastante elucidativa, seria o mesmo que colocar um livro no fundo de uma prateleira de uma biblioteca; a obra continuaria ali, para todos que quisessem acessá-la, mas haveria uma dificuldade maior em sua busca. (MACHADO, WACHOWICZ, p.588,2018) No ordenamento jurídico brasileiro, ainda não temos uma pacificação quanto ao direito à desindexação, pois são várias as críticas nesse sentindo, principalmente nas analises da Lei 12.965 de 2014, o Marco Civil da Internet, pois segundo MACHADO, WACHOWICZ (2018): Entende-se que o Marco Civil da Internet (Lei n. 12.956/14)17 é uma legislação insuficiente para tratar de questões complexas como o direito à 49 desindexação, visto que, no tocante ao tratamento de dados pessoais, a legislação é bastante vaga e, por conseguinte, insuficiente. Apesar de a proteção de dados constar nitidamente como um princípio, alocado no artigo 3º, inexiste qualquer disciplina sobre a responsabilidade dos mecanismos de busca, nem sobre como eles deveriam proceder para efetuarem a desindexação de dados de pesquisa. (MACHADO, WACHOWICZ, p.589,2018) Entretanto temos casos em que são pleiteados na justiça em que se assemelham bastante com o objeto do direito a desindexação, a exemplo temos o caso Xuxa vs. Google no qual a apresentadora de televisão Xuxa Meneguel pleiteou na 1ª Vara Cível da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, que o Google retirasse dos resultados de busca, informações que ligassem o seu nome ao crime de pedofilia, independente do termo usado na pesquisa. O juízo de primeira instância concedeu tutela em caráter preliminar pedindo que o Google retirasse em 48 horas qualquer resultado das buscas com as expressões “Xuxa”, “Meneguel” e “pedófilia”, porém isso implicaria na remoção de conteúdos que não estão dentro do pedido da mesma. Entretanto, em decisão a um recurso de agravo feito pela Google Brasil, a 19ª Câmara Cível do Tribunal de
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