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CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl, OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA PORNOGRAFICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Faculdade Mineira de Direito 
 
 
 
Heloiza Helena Moreira 
 
 
 
 
 
CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl: OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA 
PORNOGRÁFICA COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Serro 
2018
Heloiza Helena Moreira 
 
 
 
 
CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl: OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA 
PORNOGRÁFICA COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas 
Gerais, como requisito parcial para obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
 Orientador: Waldir Miguel dos Santos Júnior 
 
 
 
 
 
 
 
 
Serro 
2018
Heloiza Helena Moreira 
 
 
 
 
CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl: OS CRIMES VIRTUAIS E A VINGANÇA 
PORNOGRÁFICA COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas 
Gerais, como requisito parcial para obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
 
Prof. Waldir Miguel dos Santos Júnior- PUC Minas-Serro (Orientador) 
 
 
Professor(a) (Banca Examinadora) 
 
___________________________________________________________________ 
Professor(a) (Banca Examinadora) 
 
 
Serro, 20 de novembro de 2018
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha família e a todos os que 
durante todo esse tempo contribuíram de 
alguma forma para a realização de uma 
etapa tão importante em minha vida. 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar agradeço ao meu bom Deus que me guia e me ilumina em 
todos os caminhos e decisões a serem tomadas em minha vida. 
Agradeço aos meus pais que são minha base, meu exemplo e meu norte. Em 
especial a minha mãezinha, minha professora e amiga que durante todo esse 
período da minha graduação chorou e se alegrou literalmente junto comigo. 
Agradeço aos meus irmãos Ju, Celine e Michelle por todo apoio que me deram... o 
meu amor por vocês é imenso! 
Não poderia deixar de agradecer o apoio e carinho dos amigos que a 
faculdade me deu, cada um contribuiu de forma grandiosa para o meu processo de 
crescimento durante todo esse período. Agradeço também por escutarem a minha 
angustia e preocupação quanto ao tema aqui tratado e, que durante todo esse 
tempo de construção e desenvolvimento da minha monografia se envolveram junto 
comigo me dando sugestões, me enviando notícias e dando suas opiniões. Obrigada 
por fazerem as dificuldades serem mais leves. 
Agradeço a todos os meus professores que de forma brilhante e humana 
contribuíram para minha formação acadêmica. Em especial ao meu orientador o 
professor Waldir Miguel que teve paciência e disponibilidade para ajudar na 
construção do meu trabalho. Agradeço ainda carinhosamente a professora Alana 
que também contribuiu de forma generosa para a construção do meu trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este estudo trata do crime virtual vingança pornográfica a partir de uma análise da 
evolução da criminalidade no século XXI, bem como a expansão do direito penal 
diante de tal evolução, uma vez que, a criminalidade se desenvolve e se aprimora 
hoje através da internet, um ambiente novo e totalmente adverso da realidade a qual 
foi escrita o Código Penal Brasileiro de 1940. Posteriormente é tratada a violação 
dos direitos a intimidade e privacidade na era das redes sociais e em decorrência 
dessa exposição e acesso a informações instantâneas analisamos os possíveis 
enquadramentos penais pertinentes as condutas de stalking, ciberstalking e por 
consequência o crime da vingança pornográfica, demonstrado quais tipos penais 
eram usados para penalizar o crime antes da lei 13.718/18 que tornou a pornografia 
de vingança um tipo penal. A análise da vingança pornográfica aqui é vista 
sobretudo como uma forma de violência de gênero contra mulher e não como um fim 
em si mesmo. Analisamos ainda a possibilidade do direito ao esquecimento como 
uma forma de alivio e ajuda as vítimas deste crime. 
 
Palavras-chave: Vingança Pornográfica. Cyberstalking. Sexting. Violência de 
Gênero. Direito ao Esquecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This study deals with virtual crime pornographic revenge based on an analysis of the 
evolution of crime in the 21st century, as well as the expansion of criminal law in the 
face of such evolution, as crime develops and improves today through the internet, a 
new and totally adverse environment of reality which was written in the Brazilian 
Penal Code of 1940. Later, the violation of privacy and privacy rights in the era of 
social networks is dealt with and as a result of this exposure and access to instant 
information we analyze the possible pertinent criminal frameworks the stalking, 
ciberstalking and consequently the crime of pornographic revenge, demonstrated 
which criminal types were used to penalize pre-law crime 13.718/18 that made 
revenge pornography a criminal type. The analysis of pornographic revenge here is 
seen primarily as a form of gender violence against women and not as an end in 
itself. We also analyze the possibility of the right to oblivion as a form of relief and 
help the victims of this crime. 
 
Keywords: Pornographic Revenge. Cyberstalking. Sexting. Gender Violence. Right to 
Forgetfulness. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 
 
2 A CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl .................................................................. 21 
2.1 Globalização e expansão do Direito Penal ...................................................... 22 
2.2 Novos sujeitos, novos crimes e a teoria da sociedade de risco ................... 24 
2.3 Breves considerações sobre crimes virtuais ................................................. 26 
 
3. DIREITO A INTIMIDADE NO SÉCULO XXl ......................................................... 29 
3.1 Pornográfia de vingança, stalking e ciberstalking ......................................... 31 
3.3 Vingança pornográfica como violência de gênero ......................................... 38 
 
4. VINGANÇA PORNOGRÁFICA E O DIREITO PENAL ......................................... 41 
4.2 Vingança pornográfica e o direito ao esquecimento ..................................... 47 
 
5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 53 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ..................................................................... 57 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O advento da internet cada dia mais vem modificando a nossa vida em 
sociedade. Vivemos hoje a era virtual, o que há anos atrás nos parecia impossível e 
distante, como por exemplo a comunicação instantânea, a quebra de barreiras 
através de smartphones, computadores e outros aparelhos eletrônicos, que hoje, 
são utensílios essenciais e que nos auxiliam nos vários setores de nossas vidas. 
Entretanto o ambiente virtual traz consigo grandes perigos, por ser a internet um 
ambiente muito desconhecido e o nosso ordenamento jurídico na maioria das vezes 
mostra-se inapto a tutela-lo, seja por falta de legislações especificas, ou mesmo 
tendo, não se mostram efetivas o suficiente diante de casos concretos. 
As transformações que vivemos no século XXl, eram anunciadas por Urich 
Beck, que nos alertava sobre a “sociedade de risco”. A internet é um divisor de 
águas no mundo inteiro, os crimes que se aprimoram através dela ou até mesmo os 
novos crimes, são consequências de todo esse processo de transformação e da 
exploração de um ambiente abstrato e pouco palpável. E, é dentro desse novo 
contexto de mundo que surge ocrime chamado de “Revenge porn”, em português, 
vingança pornográfica, que é o objeto de estudo do presente trabalho. 
A vingança pornográfica consiste no ato de divulgar fotos, vídeos, áudios, 
montagens, entre outros materiais de cunho sexual e íntimo na internet, sem o 
consentimento da vítima, sempre com o objetivo de humilhar, prejudicar e ameaçar 
alguém ou ainda obter um retorno financeiro. Este crime acontece na maioria das 
vezes dentro de uma relação de confiança e afeto, que após o rompimento é usado 
como forma de vingança, confrontando direitos invioláveis como o direito a 
privacidade e a intimidade que nos são garantidos pela Constituição Federal de 
1988. 
Ocorre que a questão aqui tratada, vai muito além do ato da divulgação ou 
compartilhamento de material pornográfico, uma vez que, a vingança pornográfica 
vem se mostrando cada vez mais como uma forma de perpetuar a violência de 
gênero praticada contra mulheres. Como o Direito Penal pode então atuar de modo 
efetivo, a fim de proteger as mulheres de mais essa forma de violência? 
Durante a elaboração do presente trabalho foi aprovada a Lei nº 13.718/2018, 
que criminalizou a vingança pornográfica, criando o tipo penal do art.218-C do 
Código Penal Brasileiro. O artigo traz diversas condutas que caracterizam o crime e 
18 
 
 
 
em seu parágrafo 1º, traz o aumento da pena caso o crime seja cometido com fins 
de vingança ou humilhação pelo sujeito ativo que tenha mantido ou mantém uma 
relação intima de afeto com a vítima; fugindo ao âmbito da violência doméstica 
tutelada pela Lei Maria da Penha, na qual a depender das circunstâncias concretas, 
pode ser enquadrado o crime aplicando apenas medida protetiva, fazendo com que 
a situação não se torne atípica diante do caso concreto. 
O estudo da vingança pornográfica se faz necessário nos tempos atuais na 
medida em que a ocorrência do crime vem aumentando drasticamente, garantindo a 
perpetuação da violência de gênero, sendo utilizada como uma forma de repressão 
à mulher, principalmente porque se trata da tentativa de afirmação da suposta 
autoridade masculina sobre o corpo feminino. De modo que a culpabilização das 
vítimas da vingança pornográfica, nos remete a ideia de que a mulher não possui 
liberdade sexual e que o sexo é usado apenas para satisfazer ao homem. Qualquer 
uma que se encontre nesse tipo de situação é considerada amoral, merecendo ser 
exposta e sofrer com todas as consequências advindas da publicização da sua 
intimidade. 
O método utilizado para a construção do presente trabalho foi o dedutivo, 
iniciando pela análise da evolução da criminalidade, bem como a expansão do 
direito penal sob a ótica da teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck. Após 
fazemos uma breve introdução sobre os crimes virtuais, para então chegarmos a 
discursão sobre o crime de vingança pornográfica e, posteriormente no objetivo de 
qualifica-lo como uma violência de gênero. Por sua vez o método de pesquisa usado 
foi a pesquisa bibliográfica, bem como a documental, utilizando-se de notícias 
veiculadas na internet, artigos, monografias, dissertações de mestrado, etc. 
O capítulo dois traz a discursão sobre o direito a intimidade no século XXl. 
Direito este que é totalmente violado nessa época de megaexposição do nosso dia a 
dia nas redes sociais. Exposição que esconde vários perigos, chegando a dar 
munição para a pratica de determinados crimes virtuais. Logo após então é feita 
uma análise de três crimes que dentro deste contexto da era das redes sociais, 
sendo o stalking, que não é um crime virtual, tão pouco tipificado em nosso 
ordenamento jurídico; mas que se faz necessário o seu estudo, para que possamos 
analisar o cyberstalking. O aprimoramento da pratica de stalking, porém praticado na 
internet e em seguida a análise da pornografia de vingança, em quais tipos penais 
19 
 
 
antes da sua tipificação no nosso Código penal era enquadrada, estatísticas de 
ocorrência do crime nos mostrando que tem maior incidência com mulheres. A partir 
desse dado se fez a analise do crime como uma forma de violência de gênero contra 
mulheres. 
Por fim no terceiro capítulo fazemos uma análise do direito ao esquecimento, 
que também não é consagrado em nosso ordenamento jurídico. Mas acreditamos 
que ele possa ser um aliado para as vítimas da vingança pornográfica, como uma 
forma de “apagar” da internet a sua intimidade que foi exposta e recomeçar a sua 
vida em sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
 
2 A CRIMINALIDADE NO SÉCULO XXl 
 
O século XXl é marcado por grandes mudanças. A sociedade tem se 
desenvolvido em larga escala, nossas necessidades e formas de convivência que 
tão pouco se assemelham com o cenário em que vivíamos no século passado. A 
ciência em todas as suas vertentes contribui para o desenvolvimento do século e na 
criação de novas formas das relações sociais. 
O aumento e o desenvolvimento da criminalidade no século XXl possui 
ligação com toda essa transformação social. São inúmeras as novas modalidades 
de condutas criminosas, indo desde o aprimoramento dos crimes de colarinho 
branco, tráfico internacional de drogas, tráfico de armas, tráfico de órgãos até os 
cybercrimes, praticados através da internet, um ambiente que ultrapassa quaisquer 
fronteiras tendo como álibi o anonimato do criminoso, apesar de ser regulado em 
nosso ordenamento jurídico pelo Marco Civil da Internet, a lei nº 12.965/2014. 
Apresenta diariamente, em especial ao direito penal, extensas dificuldades em 
acompanhar de forma efetiva ao surgimento de novas condutas criminais com 
característica técnicas e especificas que tão pouco se assemelham com a 
criminalidade do século passado. 
 Se faz então necessário distinguir a criminalidade tradicional e a nova 
criminalidade. Átilo Antônio Cerqueira (2003) denomina a primeira como 
“criminalidade de massa”, sendo caracterizada pela facilidade em identificar o autor 
e vítima, considerando um vínculo prévio existente; possibilitando que se descubra a 
autoria do delito praticado na maior parte das transgressões penais. Já a nova 
criminalidade conforme Calves e Flores (2016) tem sua origem ligada as inovações 
tecnológicas e econômicas advindas com a globalização, como por exemplo, os 
crimes digitais, nos quais uma das suas principais características é o distanciamento 
entre o autor e suas vítimas, que fogem a regra do tempo e espaço, entre a ação e o 
resultado do ato ilícito praticado, como no caso de ataques de hackers e crackers 
que com apenas um clique invadem os dados pessoais de suas vítimas em seus 
aparelhos eletrônicos de comunicação ( computadores, notebooks, smartfones, etc.) 
conectados ou não à rede mundial de computadores, a internet. 
22 
 
 
 
Dado o exposto é certo de que vivemos a era da insegurança e incerteza 
diante da nova criminalidade do século XXl. Em especial com a crescente 
criminalidade desenvolvida no ambiente virtual, seus efeitos fogem as esferas físicas 
e econômicas, atingindo o equilíbrio psíquico da população, uma vez que os perigos 
por ela trazidos, na maioria de suas formas são desconhecidos e de forma precária 
tipificados pela legislação penal vigente. 
 
2.1 Globalização e expansão do Direito Penal 
 
 O Direito Penal é o ramo do direito através do qual se protege os bens 
jurídicos que possuem relevância social, atuando como um órgão controlador e 
fiscalizador das relações sociais. Nesse sentido conceitua Bitencourt (2012): 
 
Uma das principais características do moderno Direito Penal é o seu caráter 
fragmentário, no sentido de que representa a última ratio do sistema para a 
proteção daqueles bens e interesses de maior importância para o indivíduo 
e a sociedade à qual pertence. Além disso, o Direito Penal se caracterizapela forma e finalidade com que exercita dita proteção. Quanto à forma, o 
Direito Penal se caracteriza pela imposição de sanções específicas — 
penas e medidas de segurança — como resposta aos conflitos que é 
chamado a resolver. (BITENCOURT, 2012, p. 19) 
 
 Por se apresentar como um órgão controlador das relações sociais, possui 
também um caráter mutável, uma vez que de acordo com o desenvolvimento da 
sociedade, deve o Direito Penal aprimorar-se para que possa amparar de maneira 
eficiente os interesses dos indivíduos na sua coletividade, não obstante, sabendo 
que sua função é ser a última ratio. 
 No entanto o Direito Penal se encontra em fase de expansão, onde os tipos 
penais existentes se aprimoram e surgem novas formas de ataque aos bens 
jurídicos tutelados pelo ramo, como tratado anteriormente. Devido as grandes 
mudanças ocorridas na estrutura social da sociedade, advindas com a globalização 
e inovações tecnológicas e, em consequência de toda essa transformação a sua 
função de ser a última ratio, vem sendo mitigada. A mídia como um todo possui 
grande influência para sua expansão, uma vez que diante do aumento da 
criminalidade e insegurança social, a mesma faz com que se infle por um clamor 
para um Direito Penal mais efetivo e punitivo, satisfazendo o ideal de vingança da 
23 
 
 
sociedade, afastando a sua função de ultima ratio para um Direito Penal simbólico 
de prima ratio. Acerca do tema, explana Bitencourt (2008) que: 
 
[...] todo esse estardalhaço na mídia e nos meios políticos serve apenas 
como ‘discurso legitimador’ do abandono progressivo das garantias 
fundamentais do direito penal da culpabilidade, com a desproteção de bens 
jurídicos individuais determinados, a renúncia dos princípios da 
proporcionalidade, da presunção da inocência, do devido processo legal 
etc., e a adoção da responsabilidade objetiva, de crimes de perigo abstrato, 
[...]. Na linha de ‘lei e ordem’, sustentando-se a validade de um Direito Penal 
Funcional, adota-se um moderno utilitarismo penal, isto é, um utilitarismo 
dividido, parcial, que visa somente à ‘máxima utilidade da minoria’, 
expondo-se, consequentemente, às tentações de autolegitimação e a 
retrocessos autoritários, bem ao gosto de um Direito Penal máximo, cujos 
fins justificam os meios e a sanção, como afirma Ferrajoli, deixa de ser 
‘pena’ e passa a ser ‘taxa’. (BITENCOURT, 2008, p. 241) 
 
 
É possível perceber que diante das novas situações delituosas, antes não 
tuteladas pelo Direito Penal, como no caso dos crimes virtuais que fomentam a 
incerteza e a insegurança por se tratar de um ambiente abstrato e pouco palpável, 
gradativamente o Direito Penal tem sido ampliado para alcançar essas novas formas 
de criminalidade, pois se constrói a certeza de que o sistema penal é o único meio 
eficaz para o combate a criminalidade. Nesse sentido afirma Bitencourt (2008): 
 
Tradicionalmente as autoridades governamentais adotam uma política 
de exacerbação e ampliação dos meios de combate à criminalidade, como 
solução de todos os problemas sociais, políticos e econômicos que afligem 
a sociedade. Nossos governos utilizam o Direito Penal como panaceia de 
todos os males (direito penal simbólico); defendem graves transgressões de 
direitos fundamentais e ameaçam bens jurídicos constitucionalmente 
protegidos, infundem medo, revoltam e ao mesmo tempo fascinam uma 
desavisada massa carente e desinformada. Enfim, usam arbitrária e 
simbolicamente o direito penal para dar satisfação à população e, 
aparentemente, apresentar soluções imediatas e eficazes ao problema da 
segurança e da criminalidade. (BITENCOURT,2008, p.) 
 
 
 Toda essa evolução político-criminal advém dos fenômenos: o simbolismo e 
o punitivíssimo jurídico, fazendo com que o Direito Penal se transforme em 
simbólico, satisfazendo o clamor público com a falsa sensação de segurança, 
através do punitivíssimo jurídico, com a aplicação de penas severas a determinados 
indivíduos classificados como inimigos da sociedade, se criando um Direito Penal 
mais rígido, ocorrendo então a teoria do Direito Penal do Inimigo, denominada por 
Gunter Jakobs (2007) como “o Direito Penal do cidadão do mantém a vigência da 
norma, o Direito Penal do inimigo (em sentido amplo: incluindo o direito das medidas 
24 
 
 
 
de segurança) combate perigos; com toda certeza existem múltiplas formas 
intermediárias. (JAKOBS, Günter, MELIÁ, Manuel Cancio, 2007, p.30) 
Ocorrendo também o que se caracteriza como o Movimento da Lei e Ordem, 
que ficou conhecido após a sua implementação nos Estados Unidos da América, no 
qual é defendido com uma maior severidade das penas e o alargamento de leis 
incriminadoras, é essencial para o bom funcionamento da sociedade e, para que as 
práticas criminosas sejam reprimidas de forma eficaz. O Movimento de Lei e Ordem 
possui como um de seus princípios a divisão da sociedade em dois grupos: o 
primeiro, composto de pessoas de bem, merecedoras de proteção legal; o segundo, 
de homens maus, os delinquentes, aos quais se endereça toda a rudeza e 
severidade da lei penal. Sendo assim legitimado com o apoio da sociedade, uma vez 
que a mesma se encontra encoberta pelo medo e insegurança. 
 Portanto temos então a exarcebação, ou melhor dizendo uma 
administralização do Direito Penal, que faz com que este perca a sua principal 
função, de protetor dos bens jurídicos indispensáveis para o desenvolvimento dos 
indivíduos e a da sociedade e, passe a ser um instrumento de vingança privada. 
 
2.2 Novos sujeitos, novos crimes e a teoria da sociedade de risco 
 
Junto com a globalização vieram o progresso, a quebra de barreiras, e como 
efeito colateral a incerteza, a insegurança e a busca pela (re)adaptação da 
sociedade ao novo cenário social. Em especial no Direito Penal, podemos observar 
tais acontecimentos na expansão da criminalidade. Vivemos hoje a era do novo, 
novos conflitos, que possuem novas formas, que geram novas consequências e, que 
são realizados por meios inexplorados, desconhecidos e pouco palpáveis. 
A partir deste cinerário através da teoria de Ulrich Beck (2011), percebemos 
que vivemos o que ele chama de “Sociedade de Risco” exemplificada pelo autor 
como: "A categoria da sociedade de risco tematiza o processo de questionamento 
das ideias centrais para o contrato de risco, a possibilidade de controle e a 
possibilidade de compensação de incertezas e perigos fabricados industrialmente." 
(BECK,2011, p.27) 
Na sociedade de risco contemplamos as consequências do êxito da 
globalização, ante a distribuição e incremento dos riscos ( BECK, 2011,p.27) em que 
como denomina o autor são situações sociais de ameaças, na qual nem os que 
25 
 
 
obtiveram lucro com o desenvolvimento, estão livres dos riscos causados por ele, 
uma vez que possuem o efeito bumerangue que implode o esquema de classes, 
trazendo novas formas de ameaças como cita o autor: 
 
Tampouco os ricos e poderosos estão seguros diante deles. Isto não 
apenas sob a forma de ameaças à saúde, mas também como ameaças à 
legitimidade, à propriedade e ao lucro: com o reconhecimento social de 
riscos da modernização estão associadas desvalorizações e 
desapropriações ecológicas, que incidem múltipla e sistematicamente a 
contrapelo dos interesses de lucro e propriedade que impulsionam o 
processo de industrialização. (BECK,2011, p.27) 
 
 
 Os riscos são frutos de ações produzidas em busca de lucro, e com o 
desenvolvimento tecnológico, que muita das vezes são ignoradas as suas 
consequências negativas, como por exemplo o crescimento da sensação de medo e 
insegurança, diante das novas formas de risco, uma vez que uma das suas 
principais características é o temor pelo desconhecido, pois não sabemos quem e o 
que temer, como afirma Beck (2011,pag. 32) muitos dos novos riscos 
(contaminações nucleares ou químicas, substancias tóxicas os alimentos, 
enfermidades civilizacionais) escapam inteiramente àcapacidade perceptiva 
humana imediata. Afirmando ainda que: “A sociedade de risco é uma sociedade 
catastrófica. Nela, o estado de exceção ameaça converter-se em normalidade.” 
(BECK,2011, p.28) 
 Confirmando a incerteza e insegurança BECK (2011, p. 364-365) afirma que, 
os riscos globais não se constituem de sujeitos ou atores, mas sim efeitos colaterais, 
não desejados, não intencionais, por vezes imperceptíveis insurgidos ao longo do 
desenvolvimento da sociedade contemporânea. 
É, diante desse cenário de transformações e incertezas em que o Direito 
Penal se encontra, tentando se adaptar e enfrentar paradigmas que influenciam 
cada vez mais sua estrutura que vem se tornando atípica diante das relações entre o 
indivíduo e a coletividade. 
A preocupação é de que o Direito Penal, na busca para proteger os seus bens 
tutelados, seja guiado por riscos que o conduz a um ambiente de tutelas cada vez 
mais antecipadas, criando tipos penais em abstratos que apenas deem respostas 
simbólicas para os medos sociais enfrentados atualmente e não se mostrem efetivos 
à realidade fática. 
26 
 
 
 
2.3 Breves considerações sobre crimes virtuais 
 
Com as mudanças trazidas pela globalização, a tecnologia é cada dia mais 
presente em nosso cotidiano. Não se tem mais controle sobre o tempo em que as 
informações são acessadas, estando os smartphones, computadores e demais 
aparelhos tecnológicos conectados à internet 24 horas por dia. 
Não pode se negar que são inúmeros os benefícios tragos por esse avanço 
tecnológico, como por exemplo, o desenvolvimento em grande escala nos setores 
de produção e demais setores da vida civil, colocando-nos em tempo real, a par de 
todos os acontecimentos no mundo inteiro. 
 É notório que a internet foi uma das melhores invenções tecnológicas do 
século, mas como todo bônus possui seu ônus e, em razão da sua grandiosidade e 
do nosso total desconhecimento sobre o potencial do mundo virtual, foram surgindo 
ao longo dos anos práticas delituosas cometidas via internet que não eram 
amparadas legalmente. Tais crimes são chamados comumente de crimes virtuais, 
crimes digitais, informáticos, de alta tecnologia, crimes por computador, fraude 
informática, delitos cibernéticos, crimes transacionais, dentre outras nomenclaturas. 
 Existem várias definições do que seja o crime virtual de estudiosos da área, 
veremos algumas. 
 Para Ramalho Terceiro (2002): 
 
[...] os crimes perpetrados neste ambiente se caracterizam pela ausência 
física do agente ativo; por isso, ficaram usualmente definidos como sendo 
crimes virtuais. Ou seja, os delitos praticados por meio da Internet são 
denominados de crimes virtuais, devido à ausência física de seus autores e 
seus asseclas. (RAMALHO, 2002, p.58) 
 
 
 No mesmo sentido Guilherme Guimarães Feliciano (2000) conceitua de 
forma ampla o que ele entende por “criminalidade informática”: 
 
Conheço por criminalidade informática o recente fenômeno histórico-
sociocultural caracterizado pela elevada incidência de ilícitos penais (delitos, 
crimes e contravenções) que têm por objeto material ou meio de execução o 
objeto tecnológico informático (hardware, software, redes, etc.). 
(FELICIANO, 2000. p. 42) 
 
 
Já segundo Tulio Vianna (2013): 
 
27 
 
 
Assim, está claro que a denominação mais precisa para os delitos ora em 
estudo é “crimes informáticos” ou “delitos informáticos”, por se basear no 
bem jurídico penalmente tutelado que é a inviolabilidade das informações 
automatizadas (dados). (VIANNA, 2004, p.30 2013.) 
 
Numa análise de definições, Spencer Toth Sydow (2013) aduz que: 
 
 Contudo, por mais ampla que seja, tal definição permite que se obtenha 
uma classificação, que aponta haver duas maneiras de se cometer um 
crime informático: a) atacando o processamento automático de dados ou 
sua transmissão, qualquer que seja o intuito do agente; ou b) pela utilização 
de processamento automático de dados ou sua transmissão como 
ferramenta. 
A partir deste entendimento, conclui-se que na criminalidade informática os 
bens jurídicos atacados serão: (a) um sistema de processamento de dados 
ou a transmissão de dados; ou (b) qualquer outro bem jurídico, desde que 
especificamente violado pelo intermédio do recurso do processamento 
automático de dados ou de sua transmissão. (SYDOW, 2013, p.63) 
 
 
No mesmo sentido em que Sydow aponta quais são os bens jurídicos 
atacados pelos crimes virtuais, Tulio Vianna (2001) os classifica em delitos 
informáticos impróprios, próprios, mistos e mediante: 
 
Aos delitos em que o computador foi o instrumento para a execução do 
crime, mas não houve ofensa ao bem jurídico inviolabilidade da informação 
automatizada (dados) denominaremos Delitos Informáticos Impróprios e 
àqueles em que o bem jurídico afetado foi a inviolabilidade dos dados, 
chamaremos de Delitos Informáticos Próprios. Aos delitos complexos em 
que, além da proteção da inviolabilidade dos dados, a norma visar a tutela 
de bem jurídico diverso, denominaremos Delitos Informáticos Mistos. Por 
fim, nos casos em que um Delito Informático Próprio é praticado como 
crime-meio para a realização de um crime-fim não informático, este acaba 
por receber daquele a característica de informático, razão pela qual o 
denominaremos de Delito Informático Mediante ou Indireto. (VIANNA, 
2001, p.36-37, grifo nosso) 
 
Deste modo o crime da vingança pornográfica, objeto de estudo do presente 
trabalho, que será analisado em capitulo posterior, é classificado como um delito 
informático impróprio, no qual o computador ou outro aparelho eletrônico de 
comunicação é usado para a execução do crime. 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
3. DIREITO A INTIMIDADE NO SÉCULO XXl 
 
O direito a intimidade e a vida privada foi uma das garantias fundamentais 
instituídas pela constituição de 1988, assim também como, os direitos da 
personalidade, ambos elencados no art.5º da Carta Magna (BRASIL, 1988): 
 
Art.5º-Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral 
decorrente de sua violação; (BRASIL, 1988) 
 
 
Por sua vez, o Código Civil Brasileiro de 2002 (BRASIL, 2002) também 
protege o direito à vida privada, classificando-o como direito da personalidade, ao 
dispor que a vida privada da pessoa natural é inviolável conforme o “Art. 21. A vida 
privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, 
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a 
esta norma.” (BRASIL, 2002) 
Embora os conceitos de vida privada e intimidade se apresentem como 
sinônimo, em muitos casos é nítida a diferença entre ambos, principalmente por se 
tratar a intimidade de uma questão mais intima do cidadão do que a vida privada. 
Neste sentido, Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2007) “esclarece que a 
dificuldade de diferenciação entre vida privada e intimidade, ocorre por esta ser 
elemento daquela, no seu núcleo mais interno, mas com ela não se confunde.” 
(FERREIRA FILHO, 2007, P.296) 
Alexandre de Moraes (2014) faz distinção da intimidade e da vida privada 
fazendo uma analise sobre as relações subjetivas e objetivas de cunho pessoal: 
 
Assim, intimidade relaciona-se às relações subjetivas e de trato intimo da 
pessoa, suas relações familiares e de amizade, enquanto vida privada 
envolve todos os demais relacionamentos humanos, inclusive os objetivos, 
tais como relações comerciais, de trabalho, de estudo, etc. (MORAES,2014, 
p.54) 
 
 
Quanto ao conceito de privacidade José Afonso da Silva (2008)aduz que a 
privacidade é “o conjunto de informação acerca do indivíduo que ele pode decidir 
30 
 
 
 
manter sob seu exclusivo controle, ou comunicar, decidindo quem, quando, onde e 
em que condições, sem isso poder ser legalmente sujeito” (SILVA apud GODOY, 
2008, p. 39). 
Diante das concepções doutrinarias percebe-se então que ocorre a violação 
da intimidade quando há um ferimento no desenvolvimento da personalidade, já a 
privacidade nos remete ao direito de não ser importunado através dos seus bens, ou 
melhor através da propriedade e sob questões que só a si dizem respeito. 
A proteção a intimidade e a privacidade se torna cada vez mais necessária, 
uma vez que, diversas escolhas que dizem respeito somente ao indivíduo e o seu 
ideal de felicidade são abrangidos por tais direitos, como por exemplo a opção 
sexual, a auto identificação do indivíduo com o gênero sexual que o realiza como 
pessoa, devendo então serem ampliados e apenas protegidos pelo ordenamento 
jurídico, sobe tudo como forma de assegurar a dignidade da pessoa humana. 
A proteção aos direitos a intimidade e a privacidade vêm a cada dia ganhando 
uma maior relevância diante do desenvolvimento das técnicas de comunicação 
advindas com a tecnologia, como por exemplo, a internet, transformou em 
instantâneo o acesso e a divulgação as mais diversas informações da vida intima, 
que não mais ficam restritas ao individuo e aqueles com quem ele compartilha da 
mesma, ou mesmo guarda em seu intimo, não dando ciência a quem quer que seja. 
Vivemos hoje o que Michel Foucault (1975), nos apresenta como o modelo 
Panóptico, formulado por Jeremy Bentham, caracterizado em sua teoria com um 
espaço geométrico fechado e vigiado em todos os seus pontos. O que se assemelha 
com a realidade do século XXl, com a megaexposição do individuo no mundo virtual 
e o desenvolvimento de politicas de vigilância, fazendo com que a privacidade e a 
intimidade sejam alvos fáceis. 
Portanto o direito à privacidade e intimidade são indisponíveis e devem ser 
garantidos, como destaca Pontes de Miranda (1993) “todos têm direito de manter-se 
em reserva, de velar a sua intimidade, de não deixar que lhes devassem a vida 
privada, de fechar o seu lar a curiosidade pública”. (MIRANDA, 1983, p.125.) 
Tendo em vista os aspectos observados concluímos que a era da internet, a 
velocidade de informações, a exposição exacerbada do dia a dia traz perigos 
constantes ao direito de privacidade e intimidade do indivíduo; principalmente no 
âmbito virtual que possui um grande poder e afeta diretamente a vida pessoal de 
31 
 
 
cada individuo que se expõe nesse ambiente, mesmo que dentro de relações de 
confiança. 
 
3.1 Pornográfia de vingança, stalking e ciberstalking 
 
O livre acesso aos conteúdos disponibilizados na internet traz inúmeros 
benefícios aos seus usuários, uma vez que, hoje temos a vantagem de usufruir de 
conteúdos que contribuem de forma efetiva para o nosso crescimento intelectual, 
fazendo também com que não se percam, por exemplo, acervos históricos, 
informações culturais, entre outros. Além de podermos acompanhar eventos, 
manter contato tanto por mensagem ou vídeo, em qualquer lugar do mundo em 
tempo real, transgredindo barreiras físicas. 
Entretanto a facilidade ao livre acesso a conteúdo publicados na internet, em 
especial nas inúmeras redes sociais existentes, possui um lado perigoso, pois, não 
há um controle confiável do conteúdo encontrado na rede. Na maioria das vezes não 
se sabe se o que está ali é algo que confronte com o direito de intimidade do 
indivíduo e o direito de informação de alguém, aumentando ainda mais o risco de 
que sejam publicados conteúdos de cunho estritamente pessoal, que ferem 
diretamente a honra subjetiva de algum indivíduo. 
A troca de mensagens, a divulgação e invasão de dados pessoais, ameaças, 
são os alvos para o desencadeamento de algumas condutas criminosas que são 
propícias do ambiente virtual, como por exemplo, o cyberstalking e a vingança 
pornográfica, faz se então necessário conceituar cada uma destas práticas 
criminosas. 
O stalking, que significa “perseguição”, do inglês “to stalk”, não é uma pratica 
criminal tão nova, a expressão se originou no fim da década de 1980, com o intuito 
de identificar o comportamento obsessivo de alguns fãs para com seus ídolos ou 
mesmo apenas personalidades famosas, faz se necessário a sua análise para que 
possamos entender a “inovação” da conduta, realizada agora através da internet. 
Jesus Damásio (2009) conceitua a conduta como: 
 
O stalking é uma forma de violência na qual o sujeito ativo invade a esfera 
de privacidade do sujeito passivo, repetindo incessantemente a mesma 
ação por maneiras e atos variados, empregando táticas e meios diversos: 
telefonemas em seu aparelho celular, residencial ou de ocupação, 
mensagens amorosas, telegramas, ramalhetes de flores, presentes não 
32 
 
 
 
solicitados, assinaturas de revistas indesejáveis, mensagens em faixas 
amarradas, pregadas ou fixadas nas proximidades da residência da vítima, 
permanência na saída de sua escola ou trabalho, espera da sua passagem 
em determinado lugar, frequência constante no mesmo local de lazer, 
supermercados, lojas, etc. [...] Com isso, vai ganhando poder psicológico 
sobre o sujeito passivo, como se fosse o controlador geral dos seus 
movimentos. (DAMÁSIO, 2009, p.66-70) 
 
 
O sujeito ativo desta infração penal possui características comuns, assim 
como o sujeito passivo. Entretanto, em Portugal, segundo estatísticas do site APAV-
Apoio à Vítima (2017), verificou-se que na maioria das situações de stalking o autor 
é conhecido da vítima (parceiro, ex-parceiro, colega de trabalho), destaca-se ainda 
que a violência psicológica foi o comportamento do stalking mais referenciada pelas 
vítimas, apontando ainda a mulher como a maior vítima desta modalidade. 
No Brasil não há a criminalização direta ao stalking, a pratica é definida como 
uma contravenção penal, denominada como perseguição insidiosa, tipificada no art. 
65 do Decreto-Lei no nº 3.688/41 (BRASIL, 1941): 
 
Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por 
motivo reprovável: 
Pena – prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos 
mil réis a dois contos de réis. (BRASIL, 1941) 
 
Aplica-se também as medidas protetivas da Lei Maria da Penha, quando a 
pratica de stalking envolva violência doméstica contra as mulheres. Nesse ponto é 
necessário fazer a ressalva de que o presente trabalho não entra em questões de 
gêneros, as quais envolve a tutela da Lei Maria Da Penha, embora entendemos que 
seria possível a aplicação da medida protetiva ao público LGBTQ+. É cabível 
também a sanção do tipo penal do art. 147 do Código Penal Brasileiro 
caracterizando como ameaça, porém as condutas do stalker se forem consideradas 
isoladamente não se enquadram em nenhum dos tipos penais acima mencionados. 
Contudo está em fase de tramitação o Projeto de Lei do Senado nº 236, de 
2012, o Novo Código Penal, no qual tipifica a pratica do stalking no art. 147 com a 
nova redação (SARNEY, 2012): 
 
Perseguição Obsessiva ou Insidiosa 
Art.147. Perseguir alguém, de forma reiterada ou continuada, ameaçando-
lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de 
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de 
liberdade ou privacidade. 
Pena — Prisão, de dois a seis anos, e multa. 
33 
 
 
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação. (SARNEY, 
2012) 
 
O cyberstalking se diferencia da pratica de stalking por utilizar como meio de 
execução a internet, conforme conceitua Crespo (2015): 
O cyberstalking é, portanto, o uso da tecnologia para perseguir alguém 
e se diferencia da perseguição “offline” (ou mero stalking) justamente 
no que tange o modus operandi, que engloba o uso de equipamentos 
tecnológicos e o ambiente digital. Além disso,o stalking e o cyberstalking 
podem se mesclar, havendo as duas formas concomitantemente. O stalker 
–indivíduo que pratica a perseguição – mostra-se onipresente na vida da 
sua vítima, dando demonstrações de que exerce controle sobre ela, muitas 
vezes não se limitando a persegui-la, mas também proferindo ameaças e 
buscando ofendê-la ou humilhá-la perante outras pessoas. Curiosamente o 
m é cometido, muitas vezes, não por absolutos desconhecidos, mas por 
pessoas conhecidas, não raro por ex-parceiros como namorados, ex-
cônjuge, etc. (MOMBACH apud MACHADO; 2016, p. 219, grifo nosso) 
 
Entende-se então que o Cyberstalking se utiliza da tecnologia para os atos de 
perseguição e perturbação de alguém, porém, cabe ressaltar que a pratica virtual 
não exclui a perseguição física, uma conduta não afasta a outra, longe disso, ambas 
podem ser praticadas simultaneamente. 
Nesse mesmo sentido afirma Brito (2013): 
 
[...] o stalking ganhou uma ferramenta que facilitou o serviço do perseguidor 
(stalker), e potencializou os danos causados às vítimas. E-mails, tweets, 
visitas de perfil e até as famosas “cutucadas” podem servir de exemplos de 
novos meios de execução proporcionados pelo uso da internet, passando 
com isso a denominar-se Cyberstalking. (BRITO,2013, P. 146) 
 
 
Em consequência do exposto percebe-se que o cyberstalking, se apresenta 
como um stalking virtual. São vários os meios para a execução da perseguição, 
dentre eles o stalker cria perfis falsos em redes sociais, com a finalidade de 
acompanhar a rotina da vítima, coletando o máximo de informações possíveis, para 
que o impacto da perseguição surta um grande efeito. É comum casos em que o 
stalker envolva pessoas do ambiente de trabalho, amigos próximos e até mesmo a 
família da vítima, para que a mesma se sinta pressionada em todas as esferas de 
sua vida. 
O cyberstalking se caracteriza também, pelo anonimato e distanciamento 
proporcionado pelo ambiente virtual, que serve como uma garantia para a pratica 
delituosa. Além desta principal característica de acordo com Amiky (2014, p. 35) o 
cyberstalker possui certas vantagens em relação ao stalker do meio físico, como por 
exemplo o poder de entrar em contato com outras pessoas do convívio da vítima. 
34 
 
 
 
Entre as vantagens mencionadas a autora (2014) destaca ainda, que a maior a 
munição é oferecida pela própria vítima ao cyberstalking, que por meio de postagens 
em redes sociais relata dados da sua vida, formando um arsenal de possibilidades, 
das quais ele precisa para efetivar a sua perseguição. 
Assim como o Stalking o Cyberstalking também não é tipificado como crime 
em nosso ordenamento jurídico, configurando-se assim como uma contravenção 
penal, ou como crime, quando enquadrado como ameaça, no art.147 do Código 
Penal Brasileiro e, também com a possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha, 
no que tange as medidas protetivas expostas, caso a perseguição esteja ligada a 
mulher. A modalidade existe regulamentação em países como Portugal, Reino Unido 
e nos Estados Unidos. 
Em decorrência desse vácuo legislativo a maioria das vitimas de cyberstalking 
não denunciam o ocorrido no órgão policial competente, acreditando que não há 
uma solução eficiente. Entretanto a pratica cresce cada dia mais e ultrapassa as 
barreiras da esfera virtual, a vitima tem sua vida devastada também no meio físico 
(AMIKY, 2014, p. 36). Para suprir o desamparo legislativo no Brasil, foi criado o 
Canal de Informações sobre Ciberameaças no Brasil-CICbr (2017), de forma 
independente, que tem o objetivo de reunir referências que ajudem todos a 
identificar e se proteger contra o assédio online, ataques virtuais e outras ameaças 
nas redes sociais. 
A troca de mensagens com o compartilhamento de fotos e vídeos de si ou de 
situações do dia a dia são atos extremamente comuns atualmente, principalmente 
com o uso das redes sociais. O “sexting” é a modalidade de troca de mensagens 
com o compartilhamento de fotos e/ou vídeos eróticos, a expressão deriva das 
palavras sex (sexo) e texting (envio de mensagens), conceituada por Auriney Brito 
(2013) como: 
 
O sexting é a denominação atribuída à prática de transferir arquivos de 
conteúdo pornográficos, através das tecnologias dos telefones celulares. O 
envio de mensagens de texto (SMS) é conhecido como texting, mas, 
juntando esta expressão com o conteúdo pornográfico (Sex), resultou na 
expressão sexting. (BRITO, 2013, p. 148). 
 
 
O envio de mensagens, fotos e vídeos de conteúdo erótico não constitui 
nenhum ilícito civil ou penal, ao contrario é uma escolha de total critério pessoal de 
quem a faz. Ocorre que o remetente ao envia-la não possui o controle sobre a 
35 
 
 
utilização do material enviado, que fica a mercê da discricionariedade de quem 
recebeu, compartilha-lo ou não, tendo em vista que, muitas das vezes o que motiva 
o envio de tais mensagens que normalmente ocorrem dentro de um relacionamento 
afetivo, segundo o site Internet segura, são por exemplo, fornecer uma prova de 
amor pelo envio de fotos eróticas, o desejo de afirmar audácia e autoconfiança 
exibindo o corpo de forma sedutora, a solicitação do parceiro para fazê-lo sob 
chantagem emocional ou, ser convencido por alguém a fazê-lo durante uma 
conversa online. Sendo estes motivos efêmeros e perigosos, pois uma vez, 
compartilhado por quem recebe o material, ele se dissemina rapidamente na 
internet, e é nesse contexto que cada vez mais é praticada a vingança pornográfica. 
A vingança pornográfica também intitulada pelos temos termos, “pornô de 
vingança ou ainda “vingança pornô”, advém da expressão de língua inglesa 
“revenge porn”, originária dos Estados Unidos da América, que em sua tradução 
literal significa pornografia de vingança. Cabe destacar que a pornografia de 
vingança por se tratar de um tema ainda muito recente, não há livros de autores de 
renome que conceituem e discorram sobre o tema, sendo assim, a maioria das 
informações aqui trazidas são baseadas em sua maior parte em artigos científicos e 
até mesmo matérias jornalísticas, de fontes confiáveis e bem elaboradas, de forma 
que não comprometem a seriedade do estudo feito. 
Segundo Amiky (2015) trata-se da conduta de divulgar através da internet 
fotos e/ou vídeos privados, que foram produzidos em situações intimas, 
compreendendo cenas de nudez, exposição de partes intimas, envolvimento em 
atos sexualmente explícitos ou com conotação sexual, tais como masturbação, sexo 
genital, anal ou oral, penetração sexual com objetos ou transferência de sêmen 
sobre quaisquer partes do corpo (FRANKS, 2015). 
Para Marcelo Crespo (2015) a vingança pornografia é: 
 
Exatamente nesse contexto que temos verificado cada vez mais em nossa 
sociedade a prática do chamado revenge porn, ou pornografia da vingança, 
que é uma forma de violência moral (com cunho sexual) que envolve a 
publicação na internet (principalmente nas redes sociais) e distribuição com 
o auxilio da tecnologia (especialmente com smartphones), sem 
consentimento, de fotos e/ou vídeos de conteúdo sexual explícito ou com 
nudez. As vítimas quase sempre são mulheres e os agressores, quase 
sempre são ex-amantes, ex-namorados, ex-maridos ou pessoas que, de 
qualquer forma, tiveram algum relacionamento afetivo com a vítima, ainda 
que por curto espaço de tempo. (CRESPO, 2015) 
 
36 
 
 
 
Entende-se então que o objetivo do agressor é punir a vitima com a 
divulgação dos vídeos, fotos ou até mesmo áudios íntimos, o motivo da vingança 
muitas das vezes se dá em decorrência do termino de uma relação amorosa, ou 
mesmo por qualquer outro motivo, porém sempre com o objetivo de colocar a vitima 
em uma situação vexatória. A conduta que antecede a divulgação do material intimo 
na vítima é chamada de “sextorsão” conforme o site SaferNet (2018) que consiste na 
pratica das ameaças, seja por vingança, humilhação ou até mesmo para extorsão 
financeira, como o casoda atriz Carolina Dieckmann que será analisado 
posteriormente. O agressor pretende demonstrar um poder sobre a vítima, e, então 
tornando exposta uma situação tão intima, fazendo com que sofra agressões morais, 
violando a sua honra, reputação e principalmente o seu direito de escolha dentro da 
sua liberdade sexual. 
A vingança pornográfica se caracteriza por ser uma pornografia não 
consensual, ainda que a vitima tenha consentido com a realização da mesma, uma 
vez que no momento da sua realização foi baseada em uma relação de confiança. A 
vítima mesmo após ter sua intimidade exposta ainda é apontada como culpada, 
principalmente quando a vítima é do sexo feminino. Segundo estatísticas da ONG 
SaferNet (2015), as mulheres são as maiores vitimas dos crimes virtuais, 
correspondendo a 65% dos casos de cyberbullying e ofensa (intimidação na internet) 
e 67% dos casos de sexting (mensagens de conteúdo íntimo e sexual) e exposição 
íntima. 
O ordenamento jurídico brasileiro vinha entendendo que a pratica da vingança 
pornográfica seria apenas uma ofensa a honra, tipificando a conduta nos crimes de 
injuria, art. 140 e Difamação, art. 139 ambos do Código Penal (BRASIL,1941), a 
depender do caso concreto. Caso a vítima seja menor de idade é aplicado o art. 
241-A da lei nº 8.069 de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(BRASIL,1990). Porém nenhum dos enquadramentos penais utilizados compreende 
a magnitude do estrago feito pela divulgação de fotos e/ou vídeos de cunho tão 
íntimo, afetando consideravelmente o psíquico-emocional e material, cumprindo o 
agressor tão somente a pena de três anos de detenção ou podendo ser substituída 
por uma pena restritiva de direitos. 
Toda via, para que aconteça a criminalização do agressor é necessário que 
haja inciativa da vitima para propor a queixa, uma vez que nos crimes contra a honra 
37 
 
 
a ação penal é publica condicionada. O que se torna mais um obstáculo para que a 
vítima procure a justiça, pois, já se encontra em uma situação emocional e social 
conturbada e será exigido da mesma uma postura firme e corajosa para encarar as 
burocracias e morosidades processuais. 
Ocorre que, durante o desenvolvimento do presente trabalho foi publicada a 
Lei nº 13.718, no dia 25 de setembro de 2018, que alterou os dispositivos que dizem 
respeito aos crimes contra a liberdade sexual e contra vulneráveis, criando dois 
novos tipos penais, os artigos 215 e 128-C. O primeiro cuida da figura que no projeto 
do novo Código Penal (PLS n. 236/2012), em trâmite no Congresso Nacional, 
receberia o nome de molestamento sexual (art. 182 do PLS), mas que, no art. 215-
A, passou a se chamar importunação sexual. O segundo tipo penal criado pela nova 
lei foi inculcado no recém-criado art. 218-C do Código Penal (BRASIL, 1941) com a 
seguinte redação: 
 
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de 
cena de sexo ou de pornografia (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) 
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à 
venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio 
de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, 
fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro 
ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, 
ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou 
pornografia: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018). 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime 
mais grave. 
Aumento de pena (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) 
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o 
crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação 
íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. 
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018) (BRASIL, 1941, grifo nosso) 
 
 
A atual previsão legal amplifica a conduta de forma mais taxativa suprindo a 
lacuna normativa, não mais a conduta sendo atrelada a circunstâncias que poderiam 
levar a pratica um fato atípico. Cabe salientar que o dispositivo legal, não tipificou o 
sexting como uma conduta criminosa, sendo a mesma permitida por se tratar de 
uma situação de plena escolha dentro da liberdade sexual, apenas cuidou de 
proteger as vitimas da pornografia de vingança que tem sua intimidade exposta 
como forma de vingança. Não se sabe ainda como será a sua eficácia diante dos 
casos futuros e aos já existentes, mas é louvável o avanço na legislação penal. 
 
38 
 
 
 
3.3 Vingança pornográfica como violência de gênero 
 
A violência de gênero se desenvolveu na determinação social dadas ao 
homem e a mulher na história da humanidade, que sempre insistiu em atribuir 
papeis diferentes a ambos de forma discriminatória. Dando ao homem um papel 
supervalorizado em comparação aos papeis impostos as mulheres, fazendo com 
que o homem se sinta superior e suponha ter direitos sobre a mulher. Assim 
defendido por Maria Amélia Teles e Mônica de Melo (2002) “os papéis impostos às 
mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo 
patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos.” (TELES, 
MELO,2003, p.18) 
A diferença no tratamento entre questões relacionadas ao sexo feminino e ao 
masculino são nítidas, a mulher é sempre vista como inferior e vulnerável. Hermann 
(2007) preleciona que: 
 
[...] o dogma da superioridade masculina foi consolidado por diversos fatos 
culturais que ressaltavam a inferioridade biológica e intelectual da mulher. A 
partir daí, criou-se uma regra de obediência irrestrita da mulher para com o 
homem, que seria relativizada apenas pelo pouco prestígio que a fertilidade 
proporcionava ao gênero feminino. (HERMANN apud LELIS, 
CAVALCANTE, 2016, p.6) 
 
 
Com relação ao mito da superioridade masculina Simone de Beauvoir (1970, 
p.179) aduz que “[...] a história mostrou-nos que os homens sempre detiveram todos 
os poderes concretos, desde os primórdios tempos do patriarcado, julgaram útil 
manter a mulher em estado de dependência, seus códigos estabeleceram-se contra 
elas”. E quanto a construção histórica da superioridade masculina a autora continua 
explanando: 
 
A mulher é mais fraca do que o homem; ela possui menos força muscular, 
menos glóbulos vermelhos, menor capacidade respiratória; corre menos 
depressa, ergue pesos menos pesados, não há quase nenhum esporte em 
que possa competir com ele; não pode enfrentar o macho na luta. 
(BEAUVOIR, 1970, p. 174). 
 
 
O sexo feminino é nitidamente tratado como um objeto, um ser de 
sensualidade, sentimentalismo exagerado e de submissão, enquanto o sexo 
masculino é visto como um ser dominador. Nesse contexto é nítida como a vingança 
pornográfica se mostra como uma nova forma de violência de gênero, pois, a 
39 
 
 
exposição da intimidade da mulher é uma forma de punição, ameaça e 
amedrontamento caso a mulher não respeite as vontades e limites impostos pelo 
patriarcalismo. 
A vitima da vingança pornográfica é atingida de uma forma devastadora, uma 
vez que é afetada a sua intimidade, o seu psicológico e causa danos à sua honra 
subjetiva e objetiva, uma vez que o olhar da sociedade é cruel, de forma que sempre 
rotula a vítima como uma pessoa imoral e protege o agressor, que na maioria dos 
casos, tão pouco é citado como o verdadeiro culpado. Por essa acepção, diz Frank 
(2015, p. 16), “entre outras coisas, ser a “Pornografia de Vingança” mais uma 
modalidade substancial da violência doméstica, visto que o grande número de casos 
ocorre por ser o agressor o companheiro da vítima”. 
Para Franks (2015), o parceiro que utiliza o artifício da “Pornografia de 
Revanche”, busca muito mais que a simples exposição da vítima. Pretende 
promover humilhações e obrigá-la ao relacionamento, já que o material é usado, 
sobretudo, para favorecer chantagens e ameaças. 
Nesse sentido ao julgar o RecursoEspecial 1679465/SP (BRASIL,2018), a 
ministra Nancy Andrighi, da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça classificou 
como violência de gênero a exposição pornográfica não consentida. Ela manifestou 
seu ponto de vista durante julgamento de recurso do Google num caso envolvendo 
uma adolescente que teve fotos íntimas vazadas, depois que o cartão de memória 
do seu celular foi furtado. Segundo a ministra: 
 
[...] A divulgação não autorizada desse tipo de material íntimo ou sexual 
recebeu a alcunha de 'exposição pornográfica não consentida' ou 
'pornografia de vingança', em razão de ser particularmente comum nas 
situações de fins de relacionamento, quando uma das partes divulga o 
material produzido durante a relação como forma de punição à outra pelo 
encerramento do laço afetivo. (BRASIL,2018) 
 
 
Apesar da pornografia de vingança não ser uma forma de violência usada 
somente contra as mulheres, é uma modalidade de crime praticada especialmente 
contra as mulheres, e se mostra efetivamente como uma forma de punição, 
principalmente em fins de relacionamento, nesse sentido afirma a ministra Nancy 
Andrighi em seu voto no Recurso Especial 1679465/SP (BRASIL,2018): 
[...] A "exposição pornográfica não consentida", da qual a "pornografia de 
vingança" é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de 
personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma 
40 
 
 
 
grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma 
contundente pelos meios jurídicos disponíveis. (BRASIL,2018) 
 
Portanto entende-se então que, a pornografia de vingança se apresenta como 
uma violência de gênero, ao ser usada para causar dor e sofrimento a mulher, que 
está inserida em um contexto social que a julga simplesmente por assim ser, 
negando o seu direito de dispor sobre o seu corpo dentro do seu direito de liberdade, 
usando de sordidez ao expor vídeos e fotos íntimas para julgá-las diante da ótica de 
uma falsa moral social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
4. VINGANÇA PORNOGRÁFICA E O DIREITO PENAL 
 
Como conceituado no capitulo anterior a vingança pornográfica consiste no 
ato de compartilhar fotos e vídeos com conteúdo sexual sem o consentimento da 
vitima com o intuito de humilhar e denegrir a imagem da mesma. 
A relação do Direito Penal com a vingança pornográfica tipificada como crime 
é notoriamente nova, uma vez que a lei nº 13.718 de 2018 que alterou o Decreto-Lei 
nº2.848, de 7 de dezembro de 1940, criando o tipo penal do art.218-C do Código 
Penal Brasileiro (BRASIL,1941) intitulado como Importunação sexual, foi publicada 
em 25 de setembro do presente ano, portanto, não sabemos ainda como será a 
efetividade da aplicação da lei em casos concretos. 
Entretanto fazendo uma análise da atuação do Direito Penal na punição da 
pratica da vingança pornográfica, percebemos que o ato era maioria dos casos 
enquadrado nos crimes contra a honra, como visto no capítulo anterior. 
A vingança pornográfica também pode ser enquadrada na Lei 12.737 de 
2012, conhecida popularmente como Lei Carolina Dickman, que prevê tipificação no 
texto dos artigos 154-A, 266 e 298 do Código Penal, que versam sobre os delitos 
cibernéticos, possibilitando a responsabilidade penal dos infratores. A lei carrega o 
nome Carolina Dieckmann, em razão da repercussão do caso no qual segundo 
reportagem do site VEJA (2012), no dia 04 de maio de 2012, vazaram mais de 36 
imagens intimas da atriz, na internet. Os criminosos invadiram a caixa de e-mail de 
Carolina Dieckmann e exigiram o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e a atriz 
ao recusar ceder à chantagem, os criminosos espalharam as suas fotos na internet. 
A referida lei trata da invasão de dispositivo informático, o art. 154-A Código 
Penal (BRASIL, 1941), incluído por ela possui a seguinte redação: 
 
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede 
de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança 
e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem 
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar 
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, 
de 2012) Vigência 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e 
multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou 
difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a 
prática da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei nº 
12.737, de 2012) Vigência 
42 
 
 
 
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta 
prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações 
eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações 
sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do 
dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta 
não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se 
houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer 
título, dos dados ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 
12.737, de 2012) Vigência [...] (BRASIL, 1941) 
 
 
A conduta criminosa acima descrita embora seja configurada como um delito 
informático próprio, conforme a classificação dos crimes de informática de Tulio 
Vianna (2003) no qual diz que o bem jurídico tutelado pela norma penal nesses 
casos é a inviolabilidade dos dados ou informações, porém, a proteção se estende 
também a intimidade, um direito já garantido pela Constituição Federal de 1988. 
Entretanto Sydow (2015) intitula o delito como “intrusão informática”: 
 
[...] Refere-se ao ingresso não autorizado de um usuário no sistema alheio, 
seja ou não para obter alguma vantagem, seja ou não por meios ardilosos, 
violentos ou até mesmo por conta de um subterfúgio que venha a enganar o 
legitimo detentor dos direitos relativos ao sistema, levando-o a permitir o 
ingresso, sob erro. (SYDOW, P.114,2015) 
 
 
A denominação dada por Sydow (2015) salienta que o usuário não precisa 
necessariamente atacar sistemas informáticos fechados, pode apenas se valer de 
brechas, sem o uso da violência, apenas aproveitando da vulnerabilidade de um 
sistema, conforme tipifica o art. 154-A do Código Penal Brasileiro (1941). 
O Estatuto da criança e do Adolescente, a Lei nº 8.069 de 1990, também 
discorre sobre a incriminação semelhante a vingança pornográfica do artigo 218-C 
do Código Penal, porém se restringe a divulgação de imagens, vídeos ou qualquer 
registro de crianças e adolescentes em cenas de sexo explícito ou pornográficas, 
conforme aduz os artigos 241, 241-A, 241-B e 241-C do ECA. Ocorre que cada 
artigo tipifica uma conduta sendo o caráter criminoso atrelado às circunstancias do 
caso concreto, como por exemplo o artigo 241 do ECA (BRASIL, 1990): 
 
43 
 
 
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro 
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo 
criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela 
Lei nº 11.829, de 2008) (BRASIL, 1990, grifo nosso) 
 
Já o artigo 241-A do referido diploma legal, trata das condutas de (BRASIL, 
1990): 
 
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, 
publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema 
de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que 
contenha cena de sexo explícito ou pornográficaenvolvendo criança 
ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 
11.829, de 2008) [...] (BRASIL, 1990, grifo nosso) 
 
Por sua vez o artigo 241-B cuida de quem possa (BRASIL, 1990): 
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, 
fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo 
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: 
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) (grifo nosso) 
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (BRASIL, 1990, 
grifo nosso) 
 
Por fim o artigo 241-C tipifica a conduta de quem (BRASIL, 1990): 
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena 
de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem 
ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de 
representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) (grifo 
nosso) 
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (BRASIL, 1990, grifo 
nosso) 
 
 
A Lei Maria da Penha, Lei 11.340/2006, por sua vez pune a divulgação de 
imagens intimas sem o consentimento das pessoas que foram filmadas ou 
fotografadas, a vingança pornográfica, quando configurada a violência domestica e 
familiar contra a mulher, independente da orientação sexual, conforme o art. 5º da lei 
(BRASIL,2006): 
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero 
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e 
dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, 
de 2015) 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de 
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas; 
44 
 
 
 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por 
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços 
naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou 
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo 
independem de orientação sexual. (BRASIL, 2006, grifo nosso) 
 
 
Estipulando ainda o artigo 7º da lei (BRASIL,2006) a forma de violência 
doméstica psicológica: 
 
 Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: 
 [...] 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe 
cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe 
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar 
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, 
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, 
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, 
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir 
ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; (BRASIL,2006, grifo nosso) 
 
 
Portanto se entre a vitima da pornografia de vingança e o criminoso que 
divulgou houver um relacionamento íntimo, pode ser usada a Lei Maria da Penha 
para proteger a integridade física e psicológica da mulher. Podendo ainda o juiz, 
aplicar as medidas protetivas previstas no art. 22 da referida lei. 
Existem ainda projetos de lei em tramite no Congresso Nacional que versam 
sobre a criminalização da vingança pornográfica, dentre eles está o Projeto Lei 
5555/2013, que visa alterar o Decreto Lei nº 2.848/1940 e a Lei Maria da Penha, 
incluindo a comunicação no rol de direitos assegurados à mulher pela Lei Maria da 
Penha, bem como reconhecendo que a violação da sua intimidade consiste em uma 
das formas de violência doméstica e familiar, tipificando ainda a exposição pública 
da intimidade sexual. O projeto inclui o inciso VI no artigo 7º, com a seguinte 
redação (ARRUDA,2013): 
 
“Art. 7º........................................................................ 
 VI – violação da sua intimidade, entendida como a divulgação por meio da 
Internet, ou em qualquer outro 2 meio de propagação da informação, sem o 
seu expresso consentimento, de imagens, informações, dados pessoais, 
vídeos, áudios, montagens ou fotocomposições da mulher, obtidos no 
âmbito de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.”(NR) 
(ARRUDA,2013) 
 
45 
 
 
 
 O inciso VI passa a tipificar como forma de violência domestica a violação da 
intimidade por meio da divulgação de qualquer informação, que foram obtidas dentro 
de relacionamento baseado na confiança mutua, sem o consentimento da vítima, 
abarcando assim a pornografia de vingança. O Projeto Lei 5555/2013 acresce 
também o paragrafo 5º no artigo 22, que trata das medidas protetivas, com a 
seguinte redação (ARRUDA,2013): 
 
“Art.22.................................................................................. 
............................................................................................. 
§5º Na hipótese de aplicação do inciso VI do artigo 7º desta Lei, o juiz 
ordenará ao provedor de serviço de e-mail, perfil de rede social, de 
hospedagem de site, de hospedagem de blog, de telefonia móvel ou 
qualquer outro prestador do serviço de propagação de informação, que 
remova, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, o conteúdo que viola a 
intimidade da mulher.(NR)” (ARRUDA,2013) 
 
 
O Projeto Lei de nº 5.555/2013 na Câmara dos Deputados foi substituído no 
Senado pelo Projeto de Câmara nº 18 de 2017, apresentado pela senadora Gleisi 
Hoffman, e aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania-CCJ, no 
dia 22 de novembro de 2017, no qual foi ampliado a pena de reclusão para o 
período de dois a quatro anos mais multa, que originalmente estabelecia a pena de 
reclusão de três meses a um ano, para quem registre ou divulgue de forma não 
autorizada a intimidade sexual de uma pessoa, a chamada pornografia de vingança, 
o projeto foi remetido a câmara dos deputados para votação. 
O Projeto Lei º 18/2017 foi batizado como Projeto Lei Rose Leonel, porque a 
jornalista em 2006, foi vítima de vingança pornográfica, o seu ex namorado divulgou 
fotos intimas em mais de 15 mil e-mails, gravou as fotos em CDs e distribuiu nos 
principais condomínios residenciais e no comercio da cidade, junto com as fotos ele 
colocava o número de telefone residencial, o celular, o e-mail da vítima e, o então 
programa de troca de mensagens usado a época o msn, chegando até a colocar o 
telefone do filho de Rose. O ex namorado de Rose Leonel a divulgava como se 
fosse uma garota de programa. Em decorrência de toda essa exposição Rose 
perdeu o emprego, foi excluída socialmente e segundo ela em entrevista ao site 
EPOCA, disse que quase foi linchada em sua cidade. 
O motivo de toda essa exposição foi a não aceitação do termino do 
relacionamento. Segundo Rose foi protegida pelas medidas protetivas da Lei Maria 
da Penha, por conta da perseguição constante e, após ingressar com ação na 
46 
 
 
 
justiça o ex-namorado foi condenado na esfera cível e criminal, entretanto a 
divulgação das fotos nunca cessou, pois como relata a mesma a não há amparo 
legal para quem comete esse tipo de crime. Rose após todo esse acontecimento em 
sua vida criou a ONG Marias da Internet, com intuito de ajudar as mulheres vitimas 
de crimes na internet a se orientarem para buscarem ajuda. 
O Marco Civil da Internet, a lei 12.965/14, por sua vez estabelece direitos e 
deveres para o uso da internet, regulando as relações em rede e por consequência a 
relação da responsabilidade sobre o conteúdo propagado na mesma, nesse sentido 
Sydow (2015) afirma que o Marco Civil é “ a criação de margens seguras para 
deveres e responsabilidades- no caso concreto aos usuários e aos prestadores de 
serviço na internet.”(SYDOW, 2015,p.170)Cabe ressaltar que no dia 15 de agosto de 2018, foi publicada a Lei nº 
13.709/18, a Lei Geral de Proteção de Dados, que altera o Marco Civil da Internet, e 
entrará em vigor em 2020, após um período de 18 meses. A lei versa sobre a 
proteção dos dados pessoais e o seu tratamento, sobretudo nos meios digitais para 
promover a proteção dos direitos fundamentais de liberdade, privacidade e o livre 
desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. 
O Marco Civil da Internet, lei nº 12.965 de 2014, traz direitos e garantias aos 
seus usuários, afirmando a importância do direito a intimidade e privacidade, mesmo 
no ambiente virtual, reafirmando o direito garantido pela constituição federal de 1988 
e o caráter reparatório resguardado pelo código civil brasileiro de 2002 nos artigos 
12 e 21, nesse sentindo aduz o artigo 7º, I da lei (BRASIL, 2014): 
 
Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao 
usuário são assegurados os seguintes direitos: 
I - Inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e 
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
(grifo nosso) 
[..] 
X - Exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a 
determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da 
relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de 
registros previstas nesta Lei; (BRASIL, 2014, grifo nosso) 
 
 
A vitima da pornografia de vingança pode se valer do caráter extrajudicial, 
tipificado no artigo 21 do Marco Civil da Internet, para fazer o pedido da remoção de 
conteúdos com material de nudez que foram divulgados sem a sua autorização, para 
que sejam retirados da rede, buscando a solução junto ao provedor de aplicações de 
47 
 
 
internet, desde que a mesma demonstre elementos que permitam a identificação 
especifica do conteúdo, mediante simples notificação. Assim tipifica o artigo 21 da lei 
12.93/2014 (BRASIL, 2014): 
 
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo 
gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação 
da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus 
participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas 
de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o 
recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, 
deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do 
seu serviço, a disponibilização desse conteúdo. 
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena 
de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material 
apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da 
legitimidade para apresentação do pedido. (BRASIL, 2014) 
 
 
Entretanto, são várias as discursões acerca da efetividade das garantias e da 
demonstração de provas exigidas a vítima, das quais trata o artigo citado 
anteriormente, pois, existem dúvidas quanto a remoção do conteúdo uma vez que 
implica em limites que podem ou não os provedores terem controle sobre 
determinados dados, sendo assim necessário o apontamento de uma URL que 
indique expressamente onde o conteúdo se encontra. 
O artigo 7º, X do Marco Civil da Internet, mencionado acima trata justamente 
dessa possibilidade da retirada do conteúdo pessoais, que ferem o direito de 
personalidade, o direito a intimidade e privacidade de alguém, o também chamado 
de direito ao esquecimento ou direito a desindexação, do qual trataremos melhor no 
próximo tópico. 
 
4.2 Vingança pornográfica e o direito ao esquecimento 
 
O direito a desindexação, teve sua origem na Europa e ficou conhecido 
através do famoso caso Gonzales vs Goolge Espanha, julgado pelo Tribunal de 
Justiça da União Europeia-TJUE. Costeja González, ao ver seu nome ligado em 
matéria sobre dividas de execução fiscal de débitos de seguridade social, no jornal 
La Vanguardia, ingressou com uma ação pedindo para que fossem excluídas todas 
as publicações que ligassem o seu nome a noticias sobre a referida dívida, uma vez 
que já havia quitado a mesma e as publicações afetavam o seu direito à privacidade, 
48 
 
 
 
pois conforme MENEZES (2017,p.25) o conteúdo influenciava na construção de sua 
imagem a terceiros que visualizassem o conteúdo. 
O Tribunal de Justiça da União Europeia-TJUE, proferiu a sua decisão 
embasados na Diretiva Europeia de Proteção de Dados, conhecida como a Diretiva 
95/46/CE, que reconhece o direito fundamental à proteção de dados pessoais, e 
qual responsabiliza os provedores de busca a fazerem o controle do processamento 
dos dados pessoais dos indivíduos que tenham informações compartilhadas na 
internet, mesmo que (MENEZES, 2017) os provedores não analisem e nem façam 
distinções acerca dos dados pessoais contidos na internet, uma vez que devem 
assegurar que suas atividades estejam de acordo com a Diretiva 95/46/CE. O 
tribunal então ordenou ao Google que desindexasse os resultados de busca 
relacionados ao nome de Gonzales e ao débito que já não existia. 
A decisão foi baseada nos seguintes artigos da Diretiva : art.2º, alíneas b) e 
d); art. 4º, nº 1, alíneas a) e c); art. 12º, alínea b) e art. 14º, primeiro parágrafo, 
alínea a), considerando o tribunal que a aplicação dos referidos artigos 
conjuntamente conforme (MENEZES,p.28,2017) garantem aos indivíduos, a 
possibilidade de solicitar previamente junto ao provedor sem buscar as vias judiciais 
a retirada de conteúdos que mesmo que lícitos firam o direito de personalidade de 
alguém. 
A desindexação consiste segundo Machado, Wachowicz (2018) em: 
 
Assim, a desindexação apresenta-se como um engenhoso e promissor 
mecanismo de proteção à personalidade na internet, sendo inclusive meio 
menos restritivo em comparação com, por exemplo, a remoção de uma 
página, pois, ao simplesmente desindexar, não ocorrerá a supressão 
material do dado, mas apenas será colocada uma barreira artificial ao seu 
acesso. Tomando uma analogia bastante elucidativa, seria o mesmo que 
colocar um livro no fundo de uma prateleira de uma biblioteca; a obra 
continuaria ali, para todos que quisessem acessá-la, mas haveria uma 
dificuldade maior em sua busca. (MACHADO, WACHOWICZ, p.588,2018) 
 
 
 No ordenamento jurídico brasileiro, ainda não temos uma pacificação quanto 
ao direito à desindexação, pois são várias as críticas nesse sentindo, principalmente 
nas analises da Lei 12.965 de 2014, o Marco Civil da Internet, pois segundo 
MACHADO, WACHOWICZ (2018): 
 
Entende-se que o Marco Civil da Internet (Lei n. 12.956/14)17 é uma 
legislação insuficiente para tratar de questões complexas como o direito à 
49 
 
 
desindexação, visto que, no tocante ao tratamento de dados pessoais, a 
legislação é bastante vaga e, por conseguinte, insuficiente. Apesar de a 
proteção de dados constar nitidamente como um princípio, alocado no artigo 
3º, inexiste qualquer disciplina sobre a responsabilidade dos mecanismos 
de busca, nem sobre como eles deveriam proceder para efetuarem a 
desindexação de dados de pesquisa. (MACHADO, WACHOWICZ, 
p.589,2018) 
 
 
Entretanto temos casos em que são pleiteados na justiça em que se 
assemelham bastante com o objeto do direito a desindexação, a exemplo temos o 
caso Xuxa vs. Google no qual a apresentadora de televisão Xuxa Meneguel pleiteou 
na 1ª Vara Cível da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, que o Google retirasse dos 
resultados de busca, informações que ligassem o seu nome ao crime de pedofilia, 
independente do termo usado na pesquisa. O juízo de primeira instância concedeu 
tutela em caráter preliminar pedindo que o Google retirasse em 48 horas qualquer 
resultado das buscas com as expressões “Xuxa”, “Meneguel” e “pedófilia”, porém 
isso implicaria na remoção de conteúdos que não estão dentro do pedido da mesma. 
Entretanto, em decisão a um recurso de agravo feito pela Google Brasil, a 19ª 
Câmara Cível do Tribunal de

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