Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO O assédio moral no ambiente de trabalho pode desencadear diversas consequências jurídicas, dentre elas: a) a rescisão contratual indireta, ou seja, o empregado extingue o contrato de trabalho com seu empregador, em razão de estar sofrendo alguma conduta típica de assédio moral; b) rescisão contratual direta (demissão por justa causa), vislumbrada na ocasião em que a vítima de assédio moral é o próprio superior hierárquico e o agressor é o seu subordinado; c) ocorrência de dano moral, pois a submissão da vítima aos atos assediadores, como vimos, causa danos físicos, psicológicos e morais, estes com suas reparações reivindicáveis junto ao judiciário; d) imputação de responsabilidade civil, haja vista que as condutas assediantes acabam sendo atos ilícitos que podem causar danos materiais, por exemplo, um tratamento médico decorrente do estado emocional abalado da vítima. Assim, gera-se a responsabilidade civil do agressor e, por conseguinte, o dever de indenizar; e) imputação de responsabilidade penal, pois como veremos, o assédio moral pode ser praticado através de atos tipificados na Lei Penal, portanto o agressor está passível de enquadramento dentro de algumas figuras típicas. Cada um dos pontos supramencionados representa importante acontecimento dentro do contrato de trabalho, haja vista que seus reflexos podem se projetar até mesmo a esferas estranhas às relações laborais, tais como: a esfera da responsabilidade civil e a esfera da responsabilidade penal. Por esta razão, o presente trabalho reclama, para a consecução do seu desiderato, que tais temas sejam mais bem explorados, de modo que possam aclarar o entendimento a cerca das consequências do assédio moral no ambiente de trabalho. A rescisão contratual indireta A ocorrência de assédio moral dirigida pelo empregador ao empregado dá a este o direito de rescindir o seu contrato de trabalho. O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) assevera as hipóteses em que o contrato de trabalho será rescindido indiretamente, in verbis: Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. § 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. § 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. § 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo (Incluído pela Lei nº 4.825, de 5.11.1965). Observe que em algumas das situações retratadas no dispositivo legal supramencionado correspondem a condutas que identificam o assédio moral no ambiente de trabalho. Nestas ocasiões, o empregado tem a faculdade de buscar no seio da justiça a rescisão do seu contrato de trabalho, bem como o pagamento de indenizações pelo empregador. Neste sentido, Paroski (2006, p. 8) acredita que, vítima do assédio moral, o empregado pode pedir rescisão indireta do contrato de trabalho, onde amparado pelas alíneas a, b e c, do art. 483 e art. 482, alínea b da CLT, pode permitir que o empregador demita por justa causa os colegas de trabalho, chefes, gerentes e diretores, que estiverem envolvidos no ato ilícito ou abusivo praticado contra ele. No entanto a única maneira de se verificar a justa causa cometida pelo empregador, no caso de assédio moral, é o empregado ajuizar ação na justiça do trabalho, postulando a rescisão indireta de seu contrato de trabalho (MARTINS, 2004, p. 393). Se a pretensão do empregado, pleiteando a rescisão indireta por meio de processo judicial, for julgada procedente, a empresa irá pagar-lhe aviso prévio, férias proporcionais, 13º salário proporcional, e levantará o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), acrescido da indenização de 40% (MARTINS, 2004, p. 394). O doutrinador supramencionado ainda chama atenção para uma peculiaridade no reconhecimento da rescisão indireta (p. 395), in verbis: A irregularidade cometida pelo empregador deve ser de tal monta que abale ou torne impossível a continuidade do contrato. Se o empregado tolera repetidamente pequenas infrações cometidas pelo empregador, não se poderá falar em rescisão indireta, devendo o juiz preservar a relação de emprego, pois, principalmente em épocas de crise, é difícil conseguir nova colocação no mercado de trabalho. Na rescisão indireta deve ser observada a imediação na postulação após a falta do empregador, sob pena de se entender que houve perdão por parte do empregado. Julgada improcedente a pretensão do empregado, não terá direito às reparações econômicas pertinentes, apenas ao saldo de salário e férias vencidas. Vê-se, portanto, o primeiro instrumento jurídico de assédio moral a que pode recorrer o empregado quando da ocorrência contra a sua pessoa. Embora topograficamente a rescisão indireta esteja disposta após a rescisão direta (caso de assédio moral vertical ascendente) na CLT, optamos por comentá-la primeira em razão de sua maior ocorrência no cotidiano nos meios laborais. Rescisão contratual direta A rescisão contratual direta também é efeito ocasionado pelo assédio moral no trabalho, seja por ocasião de ofensas dirigidas ao superior hierárquico pelos funcionários (assédio moral vertical ascendente) ou pela ofensa dirigida de um funcionário a um colega de trabalho (assédio moral horizontal). A Consolidação das Leis do Trabalho estabelece, em seu artigo 482, as causas da rescisão contratual direta, in verbis: Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: a) ato de improbidade; b) incontinência de conduta ou mau procedimento; c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço; d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena; e) desídia no desempenho das respectivas funções; f) embriaguez habitual ou em serviço; g) violação de segredo da empresa; h) ato de indisciplina ou de insubordinação; i) abandono de emprego; j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; l) prática constante de jogos de azar. Parágrafo único - Constitui igualmente justa causa para dispensa de empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional. (Incluído pelo Decreto-Lei nº 3, de 27.1.1966). (SAAD, 2006, p. 683) Observe que as alíneas “b”, “h”, “j” e “k” exprimem toda a repugnância do legislador por estas condutas reveladorasdo assédio moral no ambiente de trabalho. Há que se considerar também o fato de estar abarcada pelo dispositivo legal ora comentado, a hipótese de o superior hierárquico vir a ser alvo de condutas assediadoras, embora com pouca freqüência, pois, como afirmamos alhures, são poucas as pessoas que têm coragem de colocar seu posto de trabalho em risco, tomando qualquer atitude que venha a causar a resilição por justa causa de seu contrato de trabalho. Já os atos ofensivos praticados por alguns empregados contra os próprios colegas têm maior índice de ocorrência no ambiente de trabalho, pois neste tipo de assédio é frequente quando por causa da concorrência, principalmente quando há possíveis promoções ou cargos em jogo, além de ser uma característica inerente ao ser humano o fato de existir uma tendência pela equiparar dos indivíduos e a dificuldade de conviver com diferenças (MOLON, 2005, p. 11). Todos estes atos exprimem a justa causa que, segundo entendimento de Delgado (2005, p. 1180), é o motivo relevante, previsto legalmente (art. 482 da CLT), que autoriza a resolução do contrato de trabalho por culpa do sujeito comitente da infração – no caso, o empregado. Para o melhor entendimento das alíneas “b”, “h”, “j” e “k” do artigo 482 da CLT, comenta-se cada uma delas a seguir: Alínea “b” – “incontinência de conduta ou mau procedimento” – para Ribeiro (2006, p.60), é o desregramento de comportamento ligado à vida sexual. São desmandos do empregado voltados à sua vida sexual, tais como: libertinagens, obscenidades, falta de respeito ao sexo oposto, tal como o assédio sexual no ambiente de trabalho; Alínea “h” – “ato de indisciplina ou de insubordinação” – para Delgado (2005, p. 1196), indisciplina é o descumprimento de regras, diretrizes ou ordens gerais do empregador ou de seus prepostos e chefias, impessoalmente dirigidas aos integrantes do estabelecimento ou da empresa. Como exemplo cita-se o do empregado que escreve nas paredes do banheiro frases desabonadoras da moral do seu superior hierárquico ou de algum colega de trabalho. Já a insubordinação é o descumprimento de ordens específicas recebidas pelo empregado ou grupo delimitado de empregados, neste caso citamos o exemplo do empregado que agride verbalmente o superior hierárquico com o fim de não cumprir uma ordem a ele dirigida. Alínea “j” – “ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem” – neste caso, segundo Martins (2004, p. 389), a justa causa se dá quando é praticada, pelo empregado, ato que venha a ferir a honra e a boa fama do empregador ou superiores hierárquicos ou de qualquer outra pessoa. Observa-se nesta hipótese também, segundo entendimento do mesmo doutrinador, a ocorrência concomitante das figuras penais de calúnia, injúria e difamação (as quais trataremos em tópico posterior). Urge lembrar que, conforme a dicção da própria alínea “j” do artigo 482 da CLT, em caso de reação à agressão injusta para defesa própria ou de outrem (legítima defesa) não haverá a ocorrência da justa causa para a dispensa do empregado. Alínea “k” – “ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem” – aqui, segundo Delgado (2005, p. 1198), englobam-se todas as hipóteses da alínea anterior citada, seu diferencial se encontra no fato de que os atos infracionais são praticados contra o próprio empregador ou aos superiores hierárquicos da empresa, e, além disso, mostra-se independentemente em se tratar ou não do próprio local de trabalho. O assédio moral e o dano moral A proteção à moral de todo cidadão parte, primordialmente, da Constituição Federal, conforme asseverado no artigo 5º, inciso X, in verbis: Art. 5º [...]; [...]; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Todas as condutas caracterizadoras do assédio moral no trabalho acabam por causar na vítima um dano moral, pois o assédio moral, por ser considerado um ato ilícito leva ao dano moral, capaz de reparação pecuniária, porque, segundo Paroski (2006, p.79), “atinge diretamente a honra e a dignidade do trabalhador, podendo comprometer sua saúde física e mental, além de arranhar sua imagem no mercado de trabalho e na comunidade em que vive”, criando dificuldades e incômodos nos relacionamentos sociais e familiar, com grandes possibilidades de “dificultar ou impedir a obtenção de novo emprego, nos casos em que, pela gravidade da conduta do empregador ou dos seus prepostos, o trabalhador é levado a romper o contrato de trabalho”. Mesmo sentido indicam as palavras de Martins (2007, p. 79): A alínea e do artigo 483 da CLT prevê como hipótese de rescisão indireta do contrato de trabalho a prática pelo empregador ou seus prepostos, contra o empregado ou pessoa de sua família, de ato lesivo da honra e da boa fama. Tais circunstâncias poderão implicar o dano moral praticado pelo empregador contra o empregado. A alínea j do artigo 482 da CLT menciona que a hipótese de dispensa por justa causa em relação a ato lesivo da honra ou da boa fama praticado pelo empregado no serviço contra qualquer pessoa. A alínea k do mesmo artigo prevê ato lesivo da honra ou da boa fama praticado pelo empregado contra o empregador ou superiores. O empregador e seus prepostos poderiam pedir dano moral contra o empregado. O caso mais típico, no âmbito trabalhista, de dano moral é a dispensa por justa causa com alegação de que o empregado roubou, furtou, apropriou-se indevidamente de alguma coisa do empregador ou que cometeu qualquer outro ato de improbidade, quando, na verdade, isso não ficou provado ou não foi o empregado que praticou o ato, mas outra pessoa. Adviria daí o dano moral. Conforme se observa, o dano moral acaba por ser um efeito redundante no caso do assédio moral no ambiente de trabalho, há, contudo, uma discussão sobre o dever que tem ou não a parte reclamante de comprovar a ocorrência do dano. Segundo Martins (2007, p. 89), há quatro entendimentos a respeito da prova no dano moral. O primeiro afirma que o dano moral não precisa de prova, haja vista que é provado por si mesmo. O segundo entendimento admite que seja provado o dano moral por presunções, dispensando a prova em concreto por entender-se que se trata de presunção absoluta, já que a dor física e o sofrimento emocional são indemonstráveis. Já o terceiro entendimento admite a prova do dano moral por presunção simples, baseando-se este entendimento no inciso IV do artigo 212 do Código Civil e no artigo 335 do Código de Processo Civil, respectivamente in verbis: Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante: [...]; IV – presunção (CC) Art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial (CPC) O quarto e último entendimento assevera que a prova do dano moral é dever de quem alega, assim como se vê no caso de dano material. Entendemos que a questão de se estabelecer a obrigação de comprovação do dano moral depende de ponderação do magistrado, pois o artigo 818 da CLT preconiza que a prova das alegações incumbe à parte que as fizer. Da mesma forma, o artigo 333, I do CPC assevera que o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito. Por outro lado, o inciso II do artigo 333 do CPC sentencia que ao réu cabe a prova dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivosdo direito do autor. Assim, nas palavras de Martins (2007, p. 92), “em alguns casos é possível presumir a culpa do empregador em relação à dor moral do empregado”, como acontece no fato de uma revista em que o empregado tenha que ficar de trajes íntimos. “situação é vexatória, violando a intimidade do trabalhador”. Outro exemplo citado por Martins (2007, p. 92), diz respeito a uma situação em que "a uma mãe que perde o filho em razão de acidente. A dor moral da mãe é evidente. O juiz pode, portanto, presumir a dor moral da mãe é evidente. O juiz pode, portanto, presumir a dor moral”. Observa-se que em outras ocorrências não há possibilidade de aplicar a presunção de dor moral do empregado, a não ser que o empregado prove demonstrando que a “ofensa se espalhou para outras pessoas, inclusive dentro da própria empresa. Isso pode ser feito por laudo pericial, por laudo psiquiátrico, pela prova de tratamento psiquiátrico ou por testemunhas”. Com a devida vênia, entendemos que as presunções, embora ajudem, não são suficientemente satisfatórias para imputar obrigação de indenizar pela ocorrência de dano moral contra a parte que se diz ofendida. Por isso dissemos anteriormente que cabe ao juiz buscar todos os meios de prova em Direito admitidos para imputar a responsabilização pelos atos assediadores, a fim de se evitar injustiça. O assédio moral e o dano material Assim como o dano moral, o dano material é quase uma consequência inevitável de todas as condutas a que é submetido o empregado ou superior hierárquico, quando são vítimas de assédio moral no ambiente de trabalho. Na lição de Paroski (2006, p. 8): O assédio moral pode também acarretar dano material, a exemplo da perda do emprego e gastos com tratamento médico e psicológico, além, é claro, de atingir profundamente os direitos da personalidade do empregado, ferindo com violência o seu amor próprio, a sua autoestima, a sua boa-fama, a sua imagem, e principalmente, a sua dignidade e a sua honra. A proteção constitucional dantes mencionada (artigo 5º, inciso X) aqui também se enquadra, pois os danos materiais, segundo entendimento de Molon (2004, p. 20) atingem o patrimônio em prejuízos que podem refletir em valor monetário, que se expresse em bens corpóreos, incorpóreos e direitos propriamente ditos que constituem o patrimônio em si. O Código Civil assegura nos artigos 186 e 927 o dever de indenização, quando atos ilícitos forem praticados, e deles resultarem danos, in verbis: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. As situações retratadas nos artigos supramencionados se enquadram perfeitamente nas características do assédio moral já tratadas nos capítulos anteriores. Pois as condutas assediadoras sempre possuem um cunho ilícito, vindo a causar diversos prejuízos materiais na vítima, tais como o abalo moral e psíquico e os tratamentos médicos, às vezes até mesmo ambulatorial a que a vítima venha a se submeter. No caso do dano material, também há necessidade de prova do alegado, no entanto, obviamente tal comprovação é mais facilmente aferida. O próprio Supremo Tribunal Federal já editou a Súmula n.º 341 que assevera ser presumida a culpa do patrão pelo ato culposo do empregado ou preposto. Lembremos que pode haver a figura assédio moral horizontal, ocasião em que, segundo a referida súmula, não somente o assediado pode ser responsabilizado, mas também o superior hierárquico. O assédio moral e a responsabilidade penal As condutas assediadoras, conforme mencionado alhures, podem também ter conotação penal, ou seja, podem ser classificadas como figuras penais tipificadas no código penal. Entre essas condutas cita-se: A ocorrência de agressões físicas, onde as agressões físicas são formas do assédio moral no ambiente de trabalho. O Código Penal tipifica a conduta de agressão como crime de lesão corporal, conforme dicção do artigo 129, in verbis: Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Lesão corporal seguida de morte § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Neste caso, lembremos que as agressões sofridas pelo assediado não são somente aquelas vocacionadas a atingir a moral, podem também atingir fisicamente, até mesmo com gravidade, o que dá ensejo a uma condenação penal. Ocorrência de crimes contra a honra, onde, tendo em vista que os atos assediadores, primordialmente, atacam a honra, a boa fama e a dignidade do trabalhador ou superior hierárquico, pode haver a tipificação das referidas condutas como crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria). Vejamos a letra dos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal: Calúnia Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Difamação Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Injúria Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Observa-se que o assediado pode ser chamado de ladrão, pode ser chamado de homossexual sem o ser, ou alguém pode afirmar que o viu usando drogas dentro do ambiente de trabalho. Ou seja, são condutas que, quando falsas, acabam por gerar uma condenação penal ao ofensor, seja por calúnia, difamação ou injúria. A ocorrência de crime de constrangimento ilegal, onde, durante a repugnante conduta assediadora, pode se configurar, também, a ocorrência do crime de constrangimento ilegal, descrito nas linhas do artigo 146 do Código Penal, in verbis: Constrangimento ilegal Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio.A pretexto de demitir o funcionário que já vinha sendo assediado, o patrão ordena que ele pratique um ato ilícito, afirmando que se o subordinado não o fizer estará “no olho da rua”. Neste caso haverá o constrangimento ilegal, combatido pelo dispositivo penal supramencionado. Ocorrência do crime de ameaça, onde, tanto quanto os demais, o crime de ameaça é facilmente identificável quando determinado funcionário ou superior hierárquico está sendo assediado moralmente, pois o mesmo normalmente é coagido por meio de ameaças a não buscar ajuda frente às agressões sofridas. Neste sentido, vejamos a dicção do artigo 147 do código penal: Ameaça Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. As ameaças à integridade física do assediado também são enquadráveis na figura do dispositivo legal supramencionado e podem viabilizar a imposição de pena ao agressor. Ocorrência do crime de redução a condição análoga à de escravo, onde, no caso da figura assédio moral vertical descendente, vimos que o superior hierárquico, ao iniciar perseguição a determinado empregado ou grupo de empregados, “mina” todo o ambiente de trabalho. Tal fato se dá pela redução das condições de salubridade, segurança e demais itens que garantem o desempenho laboral com dignidade. O funcionário ou grupo de funcionários, no entanto, não denuncia(m) e nem procura(m) a tutela de seu(s) direito(s) em razão até mesmo do medo de perder o seu emprego, pois como também vimos, o mercado de trabalho, disputado como é, não tem vaga para todos. Assim, vejamos a redação do artigo 149 do Código Penal, in verbis: Redução a condição análoga à de escravo Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). § 1°. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). § 2°. A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003). Conforme se observou, embora não exista a tipificação especificamente com o nome de “crime de assédio moral”, todas as condutas que o permeiam podem ser enquadradas nos demais artigos supramencionados. A título de informação, encontra-se em tramitação na Câmara Federal o Projeto de Lei n.º 4.742/01, de autoria do Deputado Federal Marcos de Jesus, tendente a tipificar a conduta do assédio moral, por meio da inclusão do artigo 146-A no Código Penal, com a seguinte redação: Art. 146-A. Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a auto-estima, a segurança ou a imagem do servidor público ou empregado em razão de vínculo hierárquico funcional ou laboral. Pena - detenção de três meses a um ano, além da multa. No entanto, o Relator do referido projeto, Deputado Federal Aldir Cabral, entendendo que a matéria deveria ser tratada no Capítulo Relativo à Periclitação da Vida e da Saúde, logo após o crime de maus-tratos, modificou o texto original, indicando a inclusão do artigo 136-A e não 146-A no Código Penal, com a seguinte redação: Art. 136-A. Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente a imagem ou desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica. Pena - detenção de três meses a um ano, além da multa. Vê-se, portanto, que a conduta do assédio moral além dos reflexos na responsabilização do agressor a ressarcir os danos morais e patrimoniais, também pode desencadear a responsabilização penal. REFERÊNCIAS CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. ataual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005. GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. São Paulo: LTr, 2003. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2004. ______. Dano moral decorrente do contrato de trabalho. São Paulo: Atlas, 2007. MOLON, Rodrigo Cristiano. Assédio moral no ambiente do trabalho e a responsabilidade civil: empregado e empregador. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 568, 26 jan., 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br>. Acesso em. PAROSKI, Mauro Vasni. Assédio moral no trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1196, 10 out., 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br.> Acesso em RIBEIRO, Eraldo Teixeira. Direito e processo do trabalho. 5. ed. São Paulo: Premier Máxima, 2006. SAAD, Eduardo Gabriel, SAAD, José Eduardo Duarte, SAAD Ana Maria C. Branco. CLT Comentada. 39ª Edição Rio de Janeiro: LTr., 2006. 1184 páginas
Compartilhar