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Farmacologia Natália Furlaneto DEFINIÇÃO DE DOR Dor sensação/experiência emocional desagradável + dano tecidual real ou potencial. Percepção de uma experiência sensorial nociceptiva (noceo= nocivo) com conotação afetiva aversiva e desagradável, oposta ao prazer. A transmissão da dor da periferia para o SNC depende da ativação dos nociceceptores, que são terminações nervosas livres sensitivas. O alívio depende do tipo específico da dor. CLASSIFICAÇÃO DA DOR Tempo: aguda ou crônica. Características fisiológicas: - Predomínio nociceptivo: ativação fisiológica de receptores de dor. Ex: lesão de tecidos ósseos, musculares ou ligamentares analgésicos ou AINEs. - Predomínio neuropático: iniciada por lesão ou disfunção do SN, resultado da ativação anormal da via da dor ou nociceptiva não responde bem a analgésicos ou AINEs. - Mista. ALGUNS TIPOS DE DOR: Dor miofascial: pontos-gatilho distribuídos ao longo de músculos vulneráveis. Dor fibromiálgica: crônica disseminada e sintomas múltiplos, tais como fadiga, distúrbio do sono, disfunção cognitiva e episódios depressivos. Dor artrítica leve à moderada (dor nociceptiva): os AINEs são eficazes em muitos casos. Dor neurogênica responde melhor aos anticonvulsivantes (pregabalina), aos ADT (amitriptilina) ou aos inibidores da captação de 5HT/NA (duloxetina). Dor maligna ou não maligna, intensa ou crônica, geralmente os opioides são os fármacos de escolha. PERSONALIZAR O CUIDADO: Avaliar intensidade da dor: escala analgésica. Preferir VO, ter intervalos fixos, personalizar a dose (idade, condições clínicas). Prescrições devidamente registradas (doses, horários regulares, orientações sobre efeitos colaterais). Investigar e tratar a causa da dor e não apenas esse sintoma! TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Psicoterapia, acupuntura, musicoterapia, arteterapia, yoga, exercícios físicos, tai chi, hidroterapia, atividades sociais e de lazer, fisioterapia. ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS NO TRATAMENTO DA DOR Escada Analgésica da OMS: sugere a organização e padronização do tratamento analgésico da dor baseado em uma escada de três degraus de acordo com a intensidade de dor que o paciente apresenta. DEGRAU 1 (DOR FRACA) : analgésico (dipirona, paracetamol) + AINE + adjuvante. DEGRAU 2 (DOR MODERADA): analgésico (dipirona, paracetamol) + AINE + adjuvante + opioides fracos (tramadol, codeína). DEGRAU 3 (DOR FORTE) : analgésico (dipirona, paracetamol) + AINE + adjuvante + opioides fortes (morfina, fentanil, metadona, oxicodona). OBS: medicamentos adjuvantes devem ser associados em todos os degraus, de acordo com a indicação (antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, relaxantes musculares). ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINES ) MECANISMO DE AÇÃO Atua inibindo o mecanismo causador da dor (facilitador da nocicepção), mas não age nos receptores nociceptivos (não inibe ativação do sistema nociceptivo). Assim, estímulos lesivos de maior intensidade ainda seriam capazes de estimular os nociceptores diretamente A atividade anti- inflamatória também é limitada, sendo muito inferior à dos corticoides, pois não interferem com a produção ou ação de outros mediadores inflamatórios como a Bradicinina, Leucotrienos, PAF, TNFa, IL-1. Eles são mais eficientes naqueles casos onde a mediação é principalmente PG-dependente, como os processos ósteo- articulares, espasmo das vias urinárias, contração uterina, traumatismos. RESPOSTA ANALGÉSICA DOS AINES Moderada e caracterizada por efeito teto. Efeito teto: ↑ da dose não traz alívio/benefício adicional (precisa trocar a classe de medicamento). INDICAÇÕES Podem ser utilizados isoladamente, no primeiro degrau da escada da analgesia, ou em associação com os opioides. Não produzem dependência física ou psíquica. Metabolizados: no fígado e excretados pelos rins e nas fezes. Indicados no tratamento das dores de etiologia inflamatória: - Dores musculoesqueléticas; - Dores por lesões ósseas, como fraturas e metástases, e osteoartrites; - Dores de origem oncológicas; - Cólica nefrética; - Dor pós-operatória. Todos os AINES são igualmente eficazes no alívio da dor lombar crônica, sendo em geral superiores ao paracetamol no tratamento da dor na osteoartrose. GERAÇÕES DE AINES 1ª geração: bloqueiam COX-1 e COX-2. 2ª geração: bloqueiam seletivamente a COX-2. - Celecoxib, o rofecoxib, o etoricoxib, valdecoxib. OBS: a COX-1 atua na proteção gástrica. EFEITOS COLATERAIS Em virtude de um mecanismo de ação comum, os AINE têm perfil farmacodinâmico, terapêutico e toxicológico semelhantes. Analgésicos Farmacologia Natália Furlaneto Todos, exceto o paracetamol, podem levar à erosão da mucosa gastroduodenal e sangramento digestivo (com menor frequência os seletivos de COX-2), a reações anafilactoides e à lesão renal com nefrite. Inibidores da COX-2: morbidade gastrointestinal significativamente menor, apresentando baixa incidência de erosão e sangramento digestivo, mas podem acarretar lesão renal e problemas troboembólicos. DIPIRONA Ação anti-inflamatória muito fraca (alguns autores nem consideram). Analgésico eficaz no tratamento de: dores miofasciais e viscerais agudas. Ex: dor pós-operatória, cólica renal, dor de cabeça. PARACETAMOL Ação anti-inflamatória muito fraca (alguns autores nem consideram). Pode ser utilizado para a analgesia da maior parte das síndromes dolorosas: dor na osteoartrite, pós-operatórias, especialmente quando associado a AINES. OPIOIDES Medicamentos que atuam nos receptores de opioides. O termo opiáceo descreve especificamente os alcaloides de ocorrência natural: a morfina, a codeína, a tebaina e a papaverina. Ex: morfina, codeína, tebaína, hidromorfina, levorfanol, tramadol, propoxifeno, buprenorfina, pentazocina. Os opioides incluem: - Agonistas integrais: Ex: Morfina (agonista integral no receptor de opioides μ (mu), o principal receptor de opioides analgésicos). - Agonistas parciais: ação limitada. - Antagonistas: capacidade de retirar o agonista do receptor. Importantes em situações de intoxicações por opioides. RESPOSTA ANALGÉSICA DOS OPIOIDES Propriedade analgésica potente, efeito tranquilizante (sedativo) e hipnótico. Terapia prolongada: tendência a produzir tolerância, dependência psíquica e física. Uso não justificado em dores de baixa intensidade e sem complicações (mesmo se fibromialgia, cefaleia, dor de garganta, lombalgia, musculoesquelética). Se indicação, priorizar aqueles de menor potencial de abuso/dependência. SUBTIPOS DE RECEPTORES E AFINIDADE DOS OPIOIDES Receptor μ (um): morfina tem maior afinidade que a codeína. Receptor δ (delta). Receptor κ (capa). MECANISMO Os receptores opiodes estão acoplados a proteína G e agem inibindo adenilato ciclase. Eles promovem a ativação de canais de potássio e inibem a abertura de canais de cálcio resultando na inibição da liberação de NT. A simples substituição de um grupo alila no nitrogênio do agonista integral, a morfina, com a adição de um único grupo hidroxila resulta em naloxona, um forte antagonista dos receptores μ. AGONISTAS OPIOIDES: Produzem analgesia por meio de sua ligação a receptores específicos acoplados a proteina G, que se localizam no cérebro e em regiões da medula espinal envolvidas na transmissão e na modulação da dor. Alguns efeitos são mediados por receptores opioides presentes nas terminações nervosas sensitivas periféricas. INDICAÇÕES Estado terminal, pós-operatório, parto e cefaleias. ANTAGONISTAS DE OPIOIDES Os fármacos como nalbufina, pentazocina e butorfanol são antagonistas competitivos de receptor μ, mas exercem sua ação analgésica sendo agonistas de receptor к. Buprenorfina é agonista parcial de receptor μ (busca pela analgesia e menor depressão respiratório e dependência). Naloxona: é utilizada para reverter o coma e a depressão respiratória da dose excessiva de opioides. - Ela rapidamente desloca todas as moléculas opioides ligadas ao receptor e, assim, é capaz de reverter o efeito da dose excessiva de morfina. Naltrexona: ações similares às da naloxona. - Apresenta duração de ação mais longa do que a naloxona, e uma única dose oral de naltrexona bloqueia o efeito da heroína injetada por até 48 horas. EFEITOS COLATERAIS Hipotálamo: alteram o controle da temperatura (uso prolongado pode ocorrer aumento da Tº corporal. Miose: por ativação do parassimpático. Convulsão: inibe liberação de GABA. Respiração: deprimem. Tosse: deprimem o reflexo da tosse – efeito direto sobre o centro bulbar da tosse. Náusea e êmese: estimula zona de disparo dos quimiorreceptores dos vômitos. Sistema cardiovascular: induzem vasodilatação e reduzem a resistência periférica e inibem os reflexos dos barorreceptores (hipotensão ortostática). TGI: ↓ secreção de ácido, ↓ motilidade gástrica. Retarda a digestão. Ressecamento. Pesquisas buscam desenvolver agonistas opioides com ação periférica, uma vez que a maioria dos efeitos adversos dos opioides é decorrente da ação no SNC. INTENSIDADE OPIOIDES FRACOS Indicação: dores moderadas, agudas e crônicas. TRAMADOL: analgésico de ação central que se liga ao receptor opioide μ. O fármaco sofre extensa biotransformação via CIP450 206, resultando em um metabólito ativo com afinidade muito maior pelo receptor μ. do que o composto original. Além disso, ele inibe fracamente a captação de NA e 5HT. CODEÍNA: pró-fármaco da morfina. Pacientes com deficiência da enzima CyP2D6 ou em uso de seus inibidores (cimetidina, fluoxetina, paroxetina) perdem a ação analgésica da codeína. - Cuidado no uso em pacientes com redução da função renal ou idosos. - Efeitos colaterais: intenso efeito obstipante, tontura, náuseas, vômitos, euforia, disforia, prurido. OPIOIDES FORTES MORFINA: por causa da significativa biotransformação de primeira passagem da morfina no fígado, as injeções IM, SC ou IV produzem respostas mais confiáveis. - Absorção no TGI é lenta e errática. - Indicação: dores intensas, agudas ou crônicas. - Pouco ou nenhum benefício em dores neuropáticas. Farmacologia Natália Furlaneto - O efeito analgésico depende da dose utilizada, não apresentando efeito teto e a dose pode ser elevada gradualmente, até que se atinja um equilíbrio entre a eficácia analgésica e os efeitos colaterais toleráveis. - Metabolização: hepática em morfina-6-glucuronídeo (60%) e morfina-3-glucuronídeo (10%). - Excreção renal: Morfina-6-glucuronídeo acumula-se em nefropatas, levando a analgesia prolongada, sedação e depressão respiratória. OXICODONA: é ativa por VO. - Potente efeito analgésico e, sem efeito teto, é 2x mais potente que a morfina. - Início de ação é rápido e a duração prolongada. - Indicações: dores oncológicas, ortopedia e traumatologia, pós-operatório e reumatologia. - Tem potência analgésica dez vezes maior que a meperidina e o tramadol, e sete vezes maior que a codeína. - O abuso das preparações de liberação lenta (ingestão dos comprimidos pulverizados) é associado a muitos óbitos. MEDICAÇÃO COADJUVANTE Ansiolíticos, ADT, antipsicóticos, os relaxantes musculares de ação central, corticoides, anticonvulsivantes, agonistas alfa-2. Objetivo da medicação coadjuvante: melhorar a qualidade e/ou a intensidade da analgesia, sem aumentar a morbidade do tratamento. Nem sempre, no entanto, esse objetivo é plenamente alcançado, em virtude de efeitos adversos novos, como sedação excessiva, hipotensão postural, confusão mental. IDOSOS: os AINESs induzem mais frequentemente doença hepática e insuficiência renal. As doses dos fármacos devem ser reduzidas, uma vez que pode haver acúmulo de metabólitos devido à redução da filtração renal. PEDIATRIA: os analgésicos devem ser prescritos de acordo com a massa ou área de superfície corpórea. Após procedimentos de pequeno porte, a dor pode ser controlada com dipirona, AINES, codeína ou tramadol por via oral. Em caso de cirurgias de grande porte, na cavidade abdominal ou torácica, ou procedimentos ortopédicos, é recomendado o uso de opioides IV em crianças com mais de seis meses de idade. INSTABILIDADE CV: a morfina pode causar hipotensão arterial. O fentanil é o opioide preferível em casos de instabilidade cardiocirculatória ou em paciente em ventilação mecânica. DOENÇAS PULMONARES: pacientes com fibrose cística e afecções neuromusculares afetando a musculatura ventilatória (miastenia gravis, distrofia muscular) são muito vulneráveis aos efeitos depressores dos opioides. Nestes casos, os AINESs devem ser a primeira opção. Quando necessários, os opioides por via peridural e os bloqueios anestésicos devem ser empregados, pois poucos comprometem a função pulmonar e contribuem para a redução da necessidade de opioides sistêmicos. ATIVIDADES 1- A escala analgésica é constituída por três degraus, no primeiro degrau os analgésicos são não opioides, que inclui: a) Morfina. b) Buprenorfina. c) Paracetamol. d) Fentanila. 2- Qual das seguintes afirmações sobre a morfina está correta? a) É utilizada terapeuticamente no alívio da dor causada por lesões graves na cabeça. b) Os sintomas de sua retirada podem ser aliviados pelo uso da naloxona. c) Causa diarreia. d) É mais eficaz quando administrada por via oral. e) Penetra rapidamente nos tecidos do organismo, inclusive no feto e em mulheres grávidas. 3- Um jovem foi trazido para a emergência inconsciente e apresentando constrição respiratória. Observam-se marcas de picadas de agulhas nas pernas. Você administra naltrexona, e o rapaz acorda. O fármaco foi eficaz porque: a) O paciente estava sofrendo de dose excessiva de um benzodiazepínico. b) A naltrexona antagoniza os opioides no receptor. c) A naltrexona é um estimulante do SNC. d) A naltrexona é um antagonista do receptor opioide, inativando-o. 4- Quando se trata de dores de maior intensidade os opioides compreendem fármacos de grande importância clínica. Qual dos fármacos abaixo pertence ao grupo dos opioides e é amplamente utilizado para controle das dores de moderada intensidade. a) Dipirona. b) Paracetamol. c) Flumazenil. d) Ibuprofeno. e) Tramadol.
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