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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE INTERDISCIPLINAR DE HUMANIDADES DANIELE MIRANDA DA SILVA ISADORA HONÓRIO ALMEIDA JÉSSICA FERNANDES MOURÃO CONSIDERAÇÕES A CERCA DA TEORIA DA HISTÓRIA DIAMANTINA 2021 O presente trabalho se dedica a responder algumas das questões propostas dentro e fora das aulas da disciplina de Teoria da História, visando os debates que tivemos e com base nos textos: “O que é Teoria da História?” de Ricardo Marques de Mello, graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina, Mestre e Doutor em História pela Universidade de Brasília com foco de pesquisa nas áreas de Teoria e Metodologia da História, História da Historiografia Brasileira contemporânea e Ensino de História. Atualmente Mello é professor Adjunto na Universidade Estadual do Paraná - campus de Campo Mourão; “História de Verdade” do filósofo marxista polonês Adam Schaff, graduado na Universidade de Lviv e ganhador do prêmio Ordem da Polônia Restituta; e "Notas introdutórias para o estudo da Teoria da História", de Augusto da Silva, graduado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestre em História pela mesma instituição e Doutor em História pela Universidade de São Paulo, atualmente é professor da Universidade Federal de Sergipe e atua nas áreas de Teoria e Metodologia da História e Brasil Colonial. Todos os textos anteriormente mencionados foram indicados pela professora no primeiro módulo da disciplina Teoria da História e utilizados para debates dentro da disciplina. Começando com a análise do texto de Mello, “O que é Teoria da História?” o autor indica que é possível compreender três significados dentro do tema. O primeiro deles é que existem teorias do conhecimento histórico, essa perspectiva se preocupa com o “que” e o “como” o historiador irá transformar documentos em conhecimento histórico. Dentre os autores que estudam essa vertente temos Jörn Rüsen, Hayden White e Michel de Certeau. Rüsen diz que o que fundamenta o pensamento histórico é a necessidade humana de se situar no tempo, esta perspectiva se altera quando se entende por história as ações do homem no tempo e desta visão surgem outras possíveis interpretações acerca da história. White por sua vez aponta que a narrativa histórica apresentada pelos historiadores é dotada de uma moralidade verbal que tem a intenção de transformar o passado em um evento que seja possível de se compreender no presente. Certeau define três dimensões para a historiografia, sendo a primeira o lugar social diz respeito à relação do historiador com o meio social no qual ele está inserido; a segunda dimensão é a prática que são os procedimentos técnicos, ou seja, são as ações que transformam objetos comuns em fontes históricas; a terceira dimensão, a escrita, é a materialização deste conhecimento histórico produzido. O segundo significado é conhecido como as filosofias da história que compreende o processo histórico como um todo para entender os cursos de acontecimentos dentro de uma sociedade e por isso em geral as filosofias da história em geral compartilham de alguns pressupostos. Alguns dos estudiosos dessa vertente são Karl Marx, Friedrich Hegel e Marquês de Condorcet. Marx defendia o materialismo histórico e fundamentou esta sua visão a partir de uma interpretação de como os seres se relacionam com a natureza e os dois conjuntamente se relacionam com a história. Para Hegel, a história diz respeito à vida do espírito. Ele se desenvolve dialeticamente ao longo do tempo. Condorcet traz a perspectiva de que a história da humanidade é um evento linear, progressivo e ininterrupto e que está sempre em direção ao aperfeiçoamento da espécie. O terceiro e último significado é conhecido por teorias pontuais da história, nesta vertente não há preocupação em explicar o fluxo da história ou reivindicar padrões pois ela se preocupa com aspectos específicos da história em um certo tempo e espaço. Autores dessa vertente são Michel Foucault, Carlo Ginzburg e Reinhart Koselleck. Foucault trabalha a visão de que o poder não está em uma instituição judiciária ou comercial e ele também diz que existem teorias pontuais da história que se referem a aspectos particulares ao mesmo tempo que oferecem fontes aos historiadores. Ginzburg traz uma perspectiva cultural, na qual a partir da análise ele percebeu que não há uma separação real entre o que é entendido como cultura popular e a cultura erudita, para Ginzburg uma é permeada pela outra. Koselleck fala sobre a interdisciplinaridade entre a história e filosofia. A história é trabalhada em conceitos e cada situação deve ser vista de acordo com suas próprias circunstâncias. Ele também aponta que existe o espaço de experiência e o horizonte de expectativas. O primeiro sendo o passado selecionado, aquele recorte escolhido para ser estudado. O segundo é o futuro projetado a partir do estudo do passado que foi realizado no presente. Cada significado tem seu valor dentro da Teoria da História a partir do método de análise que o historiador pretende usar para formular seu trabalho e por mais que possam ser analisadas separadamente elas estão interligadas, segundo Mello. Ele ainda aponta para a importância destas teorias supramencionadas na pesquisa e, consequentemente, na materialização verbal do conhecimento histórico pois têm um caráter do que Mello o chama de “precauções metodológicas” (pp. 34) pois alertam o historiador do que deve ou não ser feito. De acordo com o autor o esforço para conhecer as teorias da história é justificado porque é a partir dos métodos desenvolvidos por elas que a História, enquanto ciência, pode ser reconhecida já que ser historiador não seria apenas a detenção de um saber técnico, mas um ofício em si e que por isso este conhecimento é indispensável. Ao analisar o texto “História em Verdade” de Adam Schaff, é possível perceber que ele aborda a epistemologia, campo fundamental da teoria da história que se preocupa com a natureza, objeto e dos limites de um determinado conhecimento humano. A epistemologia se preocupa com os postulados, métodos e conclusões, no caso da História isso se reflete na constante reflexão acerca dos saberes clássicos bem como na questão da objetivação destes conhecimentos. Schaff declara que há uma relação entre sujeito, objeto e a forma como o conhecimento é produzido. A teoria modificada do reflexo se ocupa justamente de explicar que esta mencionada relação cognitiva é real e objetiva, pois segundo ela existe uma interação que acontece no que podemos chamar de enquadramento da prática social onde o sujeito passa a tentar compreender o objeto. Essa corrente prioriza a visão, sustentada por Schaff em “História em Verdade”, prioriza o que podemos chamar de fator subjetivo como limite de uma verdade que é tanto parcial quanto relativa porque o sujeito não consegue ser imparcial ao objeto o que nos leva ao problema filosófico que pode ser visto como a objetividade do conhecimento histórico já que dependendo do modelo adotado pode- se ter diferentes perspectivas, é também onde entra o papel fundamental da epistemologia em sempre o questionar o conhecimento, métodos e conclusões. Segundo Augusto da Silva, é durante o século XVIII que ocorre uma mudança de perspectiva dos filósofos em relação a história, por causa das transformações vividas pela sociedade nesse período, como a revolução científica dos humanistas e dos renascentistas. Surge a necessidade de elaborar uma consciência histórica,desse modo, apresenta-se uma nova concepção de tempo na qual, a história da humanidade é longa, feita de avanços e recuos, ou seja, a história não é linear, ela ocorre com momentos de ascensão e queda Impérios, sociedades que surgem e desaparecem. É também no século XVIII que se formula a chamada "dimensão tripartite da história" que divide a história da humanidade em três períodos: Antiguidade, Idade Média e Época Moderna. A filosofia precisava então, ser compreendida dentro do tempo, assim emergem as filosofias da história, que se tornam um gênero específico da Filosofia. As filosofias da história são reflexões sobre a história, distintas das produzidas pelos historiadores, segundo os filósofos, as histórias particulares de fatos e eventos específicos, só vão ter validade se forem analisados dentro de uma universidade. Os iluministas do século XVIII, interpretavam a História de uma maneira universal, os acontecimentos históricos se unificam e caminham para um sentido final, as filosofias da história possuem um cunho especulativo elas buscam um significado metafísico na história da humanidade. Segundo Voltaire, deve-se buscar a história do homem como um ser universal. De acordo, com o texto "Notas introdutórias para o estudo da teoria da história" do historiador Augusto da Silva expõe, que o discurso abordado pelos filósofos iluministas do século XIX, buscava procurar "o sentido", a "ideia", a "razão" e o "fio condutor" da história, ou seja para os filósofos iluministas o pensamento histórico só poderia ser considerado de fato relevante para a filosofia, se a historiografia for entendida dentro de um conjunto que caminha para chegar a um sentido. Surgindo assim, um atrito entre dois campos de saberes: Filosofia e a História, pois, é importante dizer que os historiadores rejeitaram essa ideia. Para os historiadores não havia uma razão valida universalmente, para eles seria necessário analisar determinada época e nação, segundo seus próprios critérios e valores de acordo, com sua historicidade. É importante ressaltar também, que esse pensamento filosófico iluminista estava entrelaçado ao projeto de futuro das sociedades burguesas. A partir da exposição de todos esses argumentos é possível perceber que não existe uma única e absoluta definição para a Teoria da História, não há que se falar de uma verdade histórica, pois ela pode variar a partir de um modelo epistemológico que se modifica através do tempo, um exemplo disso é a transformação da historiografia do século XVIII onde passou-se a valorizar o caráter útil da história. Ainda no tocante ao contexto de transformação do modelo historiográfico, podemos apontar o embate entre filósofos e historiadores onde o primeiro tinha uma visão mais especulativa enquanto os historiadores se voltavam mais para questões concretas, esses embates foram extremamente importantes para a construção do campo que hoje conhecemos como Teoria da História. Bibliografia MELLO, Ricardo Marques de. O que é Teoria da História? Três significados possíveis. História & Perspectivas (UFU), v. 46, p. 365-400, 2012. SCHAFF, Adam. Relação cognitiva, o processo de conhecimento, a verdade. In: História e verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. SILVA, augusto da. Notas introdutórias para o estudo da Teoria da História. Ofício do Historiador, Porto Alegre, EDIPUCRS, v. 11, n. 1, jan./jun. 2018.
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