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Matheus S. V. Ramalho – Teorias Contemporâneas II – 2011.1 The Self-Images of a Discipline – A Genealogy of International Relations Theory – Steve Smith Theories and Practices A primeira influência deste capítulo é o livro de Bauman, “Modernity and the Holocaust”, Bauman argumenta que a sociologia tem se calado para o holocausto, o vendo como uma excessão que só pode ser explicada pelo barbarismo pré-moderno, e Bauman diz que o holocausto era, na verdade, uma manifestação da vida política moderna e o domínio da “razão” e “racionalidade”. O holocausto se fixava em soluções racionais, uso da tecnologia e confiava numa máquina burocrática avançada, o que o tornou, em muito, produto da razão ocidental. E o autor diz que o ponto é que os silêncios das disciplinas podem significar os aspectos mais significativos, que os silêncios são as vozes mais altas. Ele também destaca que a teoria de relações internacionais tende a falar da prática em ri como sendo do campo de “razão” dentro da anarquia da sociedade internacional, em oposição e em separado da “irracionalidade”, a disciplina costuma se propor a avaliar, observar ou explicar o domínio empírico, sem constituí-lo. E com a proposição de divórcio entre a ética e a política, promove a separação entre a análise pela via racional e análise pela via ética. A segunda influência é Foucault. Foucault olhava para os discursos como incorporados ao poder social, e buscava, especificamente, criticar o que as ciências humanas observavam como dado. Assim, a história representava uma série de dominações, e os discursos, o mecanismo central desta dominação. Não havendo verdades essenciais ou universais, os choques entre discursos formam a área de confronto. Logo, as disciplinas acadêmicas devem ser vistas como resultados de múltiplas práticas e constituídas historicamente, e não completamente autônomas, naturais ou dadas. As perspectivas acadêmicas que se propõe a alcançar verdades universais, essências ocultas ou imperativos morais são vistas como práticas políticas ligadas a modos de dominação. O autor problematiza o que as auto-imagens da teoria das RI escondem, o que é silenciado ou marginalizado e como o poder das práticas políticas influencia nestas auto-imagens. Tem Self-Images of International Theory • International Theory versus Political Theory – O argumento é expresso por Martin Wight e consiste em definir a teoria internacional como “uma tradição de especulação sobre a sociedade de estados, ou a família de nações ou a comunidade internacional” em contraste com a teoria política que consistiria na especulação sobre o estado. O problema com esta visão é que ela apresenta uma falsa dicotomia, segundo Chris Brown o problema esta numa definição limitada de teoria política, dada por Wight, que mantém seu foco no estado sendo que há outras definições de teoria política que tem o foco distinto. A má conceituação de Wight está na teoria política e não na internacional. Uma definição de teoria política de Platão, por exemplo, teria seu foco em noções de justiça e uniria as duas teorias que poderiam lidar com aspectos distintos desta mesma noção. Diferentemente da visão de Wight, as duas teorias compartilham as mesmas preocupações e imperativos e são parte do mesmo Matheus S. V. Ramalho – Teorias Contemporâneas II – 2011.1 empreendimento teórico, apesar de lidar com diferentes construções do mundo político. • Communitarian versus cosmopolitan thought – A distinção básica é que teorias comunitárias argumentam que as comunidades políticas é que escoram os direitos e obrigações na comunidade internacional, enquanto as teorias cosmopolitas dizem que argumentos morais não devem ser baseados nas comunidades, mas sim na humanidade como um todo ou nos indivíduos. Os problemas com estas visões são que: está baseada em pressupostos implícitos de que uma teoria pode ser não- normativa; assume que político e internacional são categorias naturais, e não produtos do nosso pensamento do mundo social; não assume que o realismo, mesmo que implicitamente, adota princípios morais. Porém pela inexistência de um terreno independente para resolver as diferenças, comunitários e cosmopolitas dificilmente poderão entrar em acordo. • The three Rs – Wight dividiu o pensamento internacional em três tradições: Realistas (Maquiavelianos – anarquia, guerra potencial de todos contra todos), Revolucionistas (Kantianos – preocupação com a humanidade) e Racionalistas (Grotianos – domínio misto de conflito e cooperação, sociedade de estados, cumprimento de regras). Os problemas desta categorização: Existem outras maneiras de dividir as teorias internacionais; Vários pensadores se encaixam em mais de uma categoria, o que cria um falso senso de unidade e se perdem as nuances de cada pensamento; E, por fim, não sabemos se esta categorização representa um debate que pode ser resolvido ou se é relativista. Smith enfatiza a importância do debate, do diálogo entre estas tradições. • The three waves or the ‘great debates’ – Baseado numa visão cronológica, muitas vezes associado a uma visão de progresso. Esta perspectiva tende a dividir a historia da disciplina em fases onde uma posição teórica específica domina uma visão rival. Costuma ser grosseiramente dividida em três: A fase idealista, a tradição realista e a revolta behaviorista. Segundo Lijphart estas três teorias e estes dois grandes debates podem ser entendidos com exemplos do conceito de paradigma de Kuhn. O primeiro problema disso é que Kuhn é impreciso quanto ao significado de paradigma, outro problema é que o “paradigma” de kuhn só é aplicado a ciências maduras. Outros problemas dos pensadores que dividem as RI desta maneira são: Fazer o processo parecer bem mais clinicamente exato do que ele de fato foi; Forçar uma unidade entre as varias posições divergentes existentes dentro do grupo dos idealistas, ou dos realistas, o que impõe a lógica do observador dos debates e não dos participantes; Ainda temos o problema do que esta caracterização pode omitir, onde encaixaríamos as questões étnicas ou de gênero, por exemplo, neste debate?; E, por fim, os debates não são de fato debates, fatores políticos e/ou sociológicos que determinam qual voz será ouvida e qual será calada. • The inter-paradigm debate – O argumento central é que enquanto as Ri foram dominadas tradicionalmente por paradigmas (realismo, idealismo, behaviorismo), a partis da década de 80, não há um único paradigma dominante, mas três paradigmas alternativos que ofereciam visões coerentes e lógicas da política internacional, estes três paradigmas principais eram o realismo/neo-realismo, o liberalismo/globalismo/pluralismo e o neo-marxismo/estruturalismo. O primeiro Matheus S. V. Ramalho – Teorias Contemporâneas II – 2011.1 problema é que as divisões entre os paradigmas são questionáveis. O segundo problema é que este modo de divisão e a conceituação de paradigma já reflete uma auto-conceituação da disciplina (Holsti: paradigma de RI = causas da guerra + atores essenciais + imagens do SI). Um terceiro problema é que debate inter-paradigma, implicaria na possibilidade de confronto de um sobre o outro para explicar as RI. O que gera um quarto problema, cada paradigma lida com sua própria agenda de pesquisa, e deixa a dos outros de lado. Um quinto problema é que a aceitação de pluralidade teórica na disciplina, já pressupõe um caráter liberal para a mesma e abre espaço para vozes radicais. Finalmente, a idéia de três paradigmas gera uma complicação por não se estabelecer se eles mostram três aspectos diferentes do mesmo mundo ou três visões de mundos diferentes. • State-centrism versus transnationalism – Simplificadamente, a disputa consiste entre estado-centristas e globalistas ou transnacionalistas. Esta é uma visão geográfica e temporalmente específica, EUA/Detente(anos 70).A fraqueza desta categorização é levar a um foco de mensuração quantitativa da atividade dos atores. • Neo-realism and neo-liberalism – Esta categorização também refleteum debate em específico. Existem vários pontos de disputa entre as visões: A natureza e as conseqüências da anarquia, a cooperação internacional, ganhos relativos e absolutos, questões de segurança nacional, economia política, capacidades e intenções, intenções e percepções e instituições. A principal limitação é que os tópicos de discussão mostram uma visão extremante estreita da política internacional, e é uma visão etnocêntrica. • The post-positivist debate – Nos últimos anos, as críticas ao realismo tem vindo de um grupo difuso com posições. Existem quatro grupos principais: A teoria critica, que diz que o conhecimento do mundo deve ser entendido sempre dentro de um contexto de interesses, que não é neutro, como defendem os positivistas, para eles, o positivismo “problem-solving”deve ser substituído pela teoria crítica; Outra posição é a da sociologia histórica, o ponto em foco é que o estado é produto, tanto da interação entre as forças internas quanto do cenário externo, eles localizam os acontecimentos no tempo e espaço, o que mina os pressupostos a anarquia [neo]realista; O terceiro grupo consiste nas escritoras feministas, uma categoria ampla e dificilmente generalizável, comumente mostram que a teoria de RI não é “genderless” e as conseqüências desta falsa neutralidade; Por fim temos as leituras pós-modernas das RI, eles atacam as noções de realidade, identidade, verdade e estrutura presentes nas ciências humanas. O que estas posições têm em comum é o desafio ao positivismo. O problema desta categorização é que ela junta posições muito distintas, além do que o que as liga, não é em que elas concordariam, mas ao que elas se opõem. • Constitutive versus Explanatory Theory – A principal questão meta-teórica da área atualmente, segundo o autor. Representa a divisão entre os teóricos que buscam oferecer considerações explanatórias às RI, e aqueles que vêem a teoria como constitutiva da realidade. Apesar de ainda haver uma disputa interna entre os constitutivos sobre qual tipo de teoria constitutiva seria mais adequada. Keohane chama este debate de racionalistas versus reflexivistas. “However, one effect of thinking about international theory in terms of a divide between constitutive and Matheus S. V. Ramalho – Teorias Contemporâneas II – 2011.1 explanatory theory is that it makes it possible to be more sophisticated in thinking about realism”. • Foundationalist and anti-foundationalist international theory – Este é um debate epistemológico. M. Hoffmann e N. Rengger propuseram existir dois tipos de teorias internacionais pós-positivistas, eles distiguiram entre a teoria critica interpretativa e o interpretativismo radical. As fundacionalistas tentam melhorar as condições humanas (teoria emancipatória) e a anti-fundacionalista fala do mundo como ele é, concentrando seu trabalho nisto sem assim pretender mudá-lo. Ambas negam o positivismo, e a teoria interpretativa radical ainda envolve uma ‘incredulidade nas metanarrativas’. Esta divisão mina a teoria de RI como autônoma e distinta, e exige que ela seja menos paroquial e excludente. Para o autor é o debate mais importante para o futuro das RI Conclusion Como visto, a afirmação central deste capítulo é de que todas as imagens refletem preocupações normativas. Não há teoria mais normativa que a que se diz lidar apenas com os fatos, o problema com isso é de quais serão os fatos selecionados para a análise. E a grande questão é se a prática da política internacional diz mais sobre a teoria internacional ou os debates dominantes na teoria internacional é que pode dizer mais sobre a política internacional.
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