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Queixa-crime

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI
 CURSO BACHARELADO EM DIREITO
 ESTÁGIO SUPERVISIONADO PENAL
 
 
 
 
 
 HERTZ ALEXANDRE NERY DE OLIVEIRA
 
 
 
 
 
 
 
 QUEIXA-CRIME
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 TERESINA
 2021
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA ................. [JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL] DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO 
ENRICO, Nacionalidade..., Estado Civil..., Profissão..., RG..., CPF..., Endereço Eletrônico..., Residente e Domiciliado..., por seu procurador infra-assinado, com procuração com poderes especiais, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, oferecer QUEIXA-CRIME, com base nos artigos 30, 41 e 44, todos do Código de Processo Penal, e artigo 100, §2º, do Código Penal, oferecer
QUEIXA-CRIME 
em desfavor de HELENA Nacionalidade..., Estado Civil..., Profissão..., RG..., CPF..., Endereço Eletrônico..., Residente e Domiciliado..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos
 
1 - Fatos 
 
 O Querelante é pessoa idônea, engenheiro de uma renomada empresa da construção civil, possui um perfil em uma das redes sociais existentes na internet e o utiliza diariamente para entrar em contatos com seus amigos, parentes e colegas de trabalho. 
 O Querelante no dia 19/04/2014, sábado, comemorou aniversário e planejava, para a ocasião, uma reunião á noite com parentes e amigos para festejar a data em uma famosa churrascaria da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Na manhã de seu aniversário resolveu, então enviar o convite por meio de rede social, publicando postagem alusiva á comemoração em seu perfil pessoal, para todos os seus contatos.
 No entanto Helena, vizinha e ex namorada do Querelante, que também possui perfil na referida rede social e está adicionada nos contatos de seu ex, soube, assim da festa e do motivo da comemoração. 
 
 A querelada, de seu computador pessoal, instalado em sua residência, um prédio na praia de Icaraí, em Niterói, publicou na rede social uma mensagem no perfil pessoal de Enrico. Naquele momento, Helena, com o intuito de ofender o ex-namorado, publicou o seguinte comentário: “não sei o motivo da comemoração, já que Enrico não passa de um idiota, bêbado, irresponsável e sem vergonha!” (XIGAMENTO), e, com o propósito de prejudicar o querelante perante seus colegas de trabalho e denegrir sua reputação acrescentou, ainda, “ele trabalha todo dia embriagado! No dia 10 do mês passado, ele cambaleava bêbado pelas ruas do Rio, inclusive, estava tão bêbado no horário do expediente que a empresa em que trabalha teve que chamar uma ambulância para socorrê-lo!”
 Imediatamente o querelante que estava em seu apartamento e conectado à rede social por meio de seu tablet, recebeu a mensagem e visualizou a publicação com os comentários ofensivos da querelada em seu perfil pessoal. O querelante, mortificado, não sabia o que dizer aos amigos, em especial a Carlos, Miguel e Ramirez, que estavam ao seu lado (testemunhas) naquele instante. Muito envergonhado, Enrico tentou disfarçar o constrangimento sofrido, mas perdeu todo o seu entusiasmo, e a festa comemorativa deixou de ser realizada. 
 
 O Querelado também fizera registro de ocorrência desses fatos na Delegacia de Polícia Especializada em Repressão aos Crimes de Informática e narrou os fatos à autoridade policial, entregando o conteúdo impresso da mensagem ofensiva e a página da rede social na Internet onde ela poderia ser visualizada.
 
 Com efeito, as injustas e dolosas agressões são inverídicas, ofensivas, injuriosas e ilegais, maiormente quando atenta para o sagrado direito da personalidade, previsto na Constituição Federal.
 
 Foram sérios os constrangimentos sofridos pelo Querelante em face dos aludidos acontecimentos, reclamando a condenação judicial pertinente. 
 HOC IPSUM EST.
 
2 - Competência 
 
 Verifica-se que as colocações fáticas feitas pelo Querelante tendem a atribuir ao Querelado a concorrência para o crime de difamação (CP, art. 139) e crime de injúria(CP, art. 140). As penas máximas cominadas a esses delitos correspondem, respectivamente, a 01(um) ano e (06) meses.
 
 Se as penas fossem somadas, o Querelado poderia ser condenado em até 01(um) ano e 06(seis) meses de detenção. Isso, por si só, por conta do concurso de crimes (CP, art. 69), já excluiria do rol das chamadas “infrações de menor potencial ofensivo”, acarretando, assim, na competência dos Juizados Especiais.
 
LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS(Lei 9.099/95)
 
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
 
 Nesse sentido:
 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE DANO QUALIFICADO CUJA PENA ULTRAPASSA O DETERMINADO NO ARTIGO 61 DA LEI Nº 9099/95. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA PARA VARA CRIMINAL.
Procedência do conflito. Querelada, ex-mulher do falecido marido da querelante, ora suscitante, que teria adentrado na empresa da qual a querelante é administradora e destruído uma fotografia desta com seu marido. Ministério público, com atuação no âmbito dos juizados especiais criminais, que reconhecendo a incidência da qualificadora relativa ao motivo egoístico, se manifestou favoravelmente ao declínio de competência em favor da justiça comum, sendo a promoção acolhida pela magistrada de piso. Juízo da 32ª Vara Criminal da capital que entendendo tratar-se de competência do juizado criminal, devolveu os autos. Questão acerca da pertinência ou não da qualificadora em testilha que é atribuição do juízo de piso, o qual analisará o mérito quando da colheita de provas feita durante a instrução criminal. Se a queixa-crime dá conta que a querelada responde pela prática do crime tipificado no artigo 163, parágrafo único, IV do Código Penal, cuja pena máxima cominada é de 3 anos, indubitável a competência da 32ª Vara Criminal da capital para julgar o feito. Conflito que se conhece e no mérito dá-se procedência ao pedido, declarando a competência da 32ªvara criminal da capital para julgar o feito [ ... ]
 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E JUSTIÇA COMUM. QUEIXA-CRIME. DELITOS TIPIFICADOS NOS ARTS. 139, 140 E 141, III DO CP. AFERIÇÃO DA PENA MÁXIMA EM ABSTRATO. ART. 61 DA LEI Nº 9.099/95. SOMATÓRIA QUE NÃO EXCEDE O PRAZO DE 2 ANOS. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL. CONFLITO JULGADO PROCEDENTE. DECLARADA A COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. 
1. Trata de queixa-crime ofertada por Claudinei Rocha Barbosa em face de Jane Pinto Pereira, com fundamento nos artigos 139, 140 e 141, III do Código Penal. 2. Para se aferir a competência do Juizado Especial nos casos de crimes, necessário verificar a pena máxima em abstrato cominada pela Lei, nos termos do art. 61 da Lei nº 9.099/95 3. No caso, a pena máxima cominada aos delitos capitulados na queixa-crime não ultrapassa o limite de dois anos, ainda que considerada a causa de aumento de pena de 1/3 do art. 141, III do Código Penal e o concurso de crimes.4. Conflito de Competência julgado procedente, reconhecendo a competência do Juízo Suscitado [ ... ] 
( ... )
 
 De outro bordo, levando-se em conta que os crimes foram perpetrados por intermédio da internet, propagado por rede social, ainda assim este juízo é o competente.
 
 O Querelado exerce suas atividades nesta Cidade e, mais, tem domicílio aqui firmado. (docs. 13/14)
 
 Por conta disso, não se sabe ao certo onde as infrações penais foram cometidas. Desse modo, prevalece a regra do domicílio ou residência do Querelado/Réu. (CPP, art. 72, caput).
 
 Convém ressaltar o magistério de Edilson Mougenot Bonfim:
 
Quando desconhecido o lugar da infração, a competência será determinada pelo locado do domicílio ou residência do réu (art. 72, caput, do Código de Processo Penal). Adotou, assim, o legislador o local do domicílio do réu como subsidiário ou supletivo, para as hipóteses em que houver impossibilidade de determinar o lugar da infração do crime.”...
 
 Em abono dessa disposição doutrinária: 
 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. QUEIXA-CRIME. CALÚNIA. INJÚRIA. DIFAMAÇÃO. REJEIÇÃO DA QUEIXA-CRIME. COMPETÊNCIA. INSURGÊNCIA DO QUERELANTE.
Caso concreto em que o querelante alega ser vítima de crimes de calúnia, injúria e difamação perpetrados pela querelada que, em ação reclamatória trabalhista interposta na cidade de pelotas, acusa o recorrente da suposta prática do delito de assédio sexual e moral ocorrido na cidade de piratini. Competência territorial que se dá pelo local da consumação do crime, ex vi artigo 70, inciso I, do código de processo penal. Ação trabalhista ajuizada na Comarca de pelotas, local onde terceiros tomaram conhecimento da falsa imputação e, portanto, consumado o delito de calúnia. Recurso provido [ ... ]
 
3 - Decadência 
 
 Segundo consta da narrativa, o primeiro episódio delitivo ocorrera em 19/04/2014, o que se constata da publicação na página da rede social, antes comentada. Nessa exata data, o Querelante tomou conhecimento da autoria dos crimes. 
 
 Dessarte, a contar da data do ocorrido (momento em que o querelante tomou conhecimento da autoria dos crimes) (CP, art. 10), vê-se que a pretensão punitiva fora apresentada dentro do interregno legal. Não ocorrendo, por isso, a figura jurídica da decadência. 
 
CÓDIGO PENAL
Art. 38 – Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá do direito de queixa ou representação, se não o exercer dentro do prazo de 6(seis) meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.
 
Art. 107 – Extingue-se a punibilidade:
( . . )
IV – pela prescrição, decadência ou perempção; 
 
 Nesse contexto, este é o pensamento de Norberto Avena:
 
“Como regra geral, o direito de queixa deverá ser exercido no prazo de seis meses, contados do dia em que o ofendido, seu representante legal ou cada uma das pessoas do art. 31 do CPP (no caso de morte da vítima ou de sua ausência) vierem a saber quem foi o autor do crime, conforme reza o art. 38 do CPP...
4 - Dos crimes
 
4.1. Difamação 
 
 Encontramos, dentre o ataque, as seguintes expressões: 
 
“não sei o motivo da comemoração, já que Enrico não passa de um idiota, bêbado, irresponsável e sem vergonha!” (XIGAMENTO)” 
 Na verdade, o Querelante é homem de bem, honesto, respeitado na cidade onde ocorreu o episódio. e, mais, exerce cargo profissional de destaque na sua região. 
 
 Diante disso, é inescusável que o Querelado incorreu no crime de difamação. 
 
CÓDIGO PENAL
 
Art. 139 – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
 
 Válidas as colocações de Cleber Rogério Masson, quando, no tocante ao crime de difamação, leciona que: 
 
“Constitui-se a difamação em crime que ofende a honra objetiva e, da mesma forma que a calúnia, depende da imputação de algum fato a alguém. Esse fato, todavia, não precisa ser criminoso. Basta que tenha a capacidade de macular a reputação da vítima, isto é, o bom conceito que ela desfruta na coletividade, pouco importando se verdadeiro ou falso...
 
4.2. Injúria
 
 e, com o propósito de prejudicar o querelante perante seus colegas de trabalho e denegrir sua reputação acrescentou, ainda 
 “ele trabalha todo dia embriagado! No dia 10 do mês passado, ele cambaleava bêbado pelas ruas do Rio, inclusive, estava tão bêbado no horário do expediente que a empresa em que trabalha teve que chamar uma ambulância para socorrê-lo!”
 Nesse diapasão, dessa feita se concretizou o crime de injúria. Cometera esse delito quando, assacando sua fúria contra o aquele, chamou-o de “bêbado”. Há, destarte, uma qualidade negativa asseverada contra o Querelante. Assim, sem dúvida, ofender à dignidade e o decoro do mesmo.
 
 Há previsão legal nesse prisma (crime de injúria): 
 
CÓDIGO PENAL 
Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade e o decoro: 
 
 Acerca do crime de injúria, ensina Luiz Regis Prado que:
 
“ A nota característica da injúria é a exteriorização do desprezo e desrespeito, ou seja, consiste em um juízo de valor negativo, apto a ofender o sentimento e dignidade da vítima. Pode fazer referências às condições pessoais do ofendido (v. g., corpo, bagagem cultural, moral) ou à sua qualificação social ou capacidade profissional. Distingue-se a injúria da calúnia e da difamação por não significar a imputação de fato determinado – criminoso ou desonroso --, mas sim a atribuição de vícios ou defeitos morais, intelectuais ou físicos...
 Requer a condenação da Querelada na forma do artigo 141, § 2°, em razão da prática de crime de difamação, com causa de aumento de pena de 1/3, devido à mensagem publicada com intenção de ofender a honra do Querelado através rede social meio de fácil propagação da ofensa
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
III) DOS PEDIDOS
 Ante o exposto, requer o querelante 
• Designação de Audiência Preliminar (Se Juizado OU Crimes contra Honra cuja pena máxima seja superior a dois anos o Juiz da Vara Criminal designará audiência de reconciliação – art. 520, CPP).
 a) Recebimento da Queixa-Crime;
 b) Citação do Querelado; 
c) Produção de todas as provas; 
d) Condenação do réu como incurso no artigo 139, 140, CP e artigo 141 CP
 e) Valor indenizatório mínimo, conforme art. 387, IV, do CPP.
 ROL DE TESTEMUNHAS
 • Carlos
• Miguel 
• Ramirez
 Nesses termos, pede deferimento. 
19 de agosto de 2014- RJ 
Advogado OAB

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