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Tut P2 - Imunodeficiências

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Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria
-------- Imu����ficiên�i�� --------
Os distúrbios causados pela imunidade
defeituosa são chamados doenças de
imunodeficiência.
Algumas destas doenças podem resultar
de anormalidades genéticas em
componentes do sistema imune, sendo
então chamadas imunodeficiências
congênitas (ou primárias).
Outros defeitos na imunidade podem
resultar de infecções, anormalidades
nutricionais ou tratamentos médicos que
causam perda de função ou
funcionamento inadequado de vários
componentes do sistema imune; estas
doenças são conhecidas como
imunodeficiências adquiridas (ou
secundárias).
> Imunodeficiências congênitas
(primárias)
São causadas por defeitos genéticos que
levam ao comprometimento da maturação
ou da função de diferentes componentes
do sistema imune.
As doenças de imunodeficiência congênita
podem diferir consideravelmente quanto
às manifestações clínicas e patológicas.
Alguns destes distúrbios resultam em
uma incidência enormemente aumentada
de infecções que podem se manifestar
logo após o nascimento e serem fatais.
Outras imunodeficiências congênitas
levam a infecções brandas e podem ser
detectadas pela primeira vez durante a
vida adulta.
Mutações em mais de 300 genes
diferentes foram identificadas como
causadoras de imunodeficiências
primárias. É provável que a maioria destes
genes seja expressa em células imunes.
A imunodeficiência é causada mais
frequentemente por mutações em genes
ligados ao X, do que em genes
autossômicos. Por terem apenas um
cromossomo X, as mutações em um único
gene causarão a doença em meninos
(enquanto as meninas com a mutação
serão portadoras, mas não serão afetadas,
porque têm dois cromossomos X).
Embora uma mutação gênica de perda
funcional total possa levar a um estado
patológico, uma mutação hipomórfica no
mesmo gene, que leva ao
comprometimento apenas parcial da
função da proteína codificada, pode levar
a uma doença muito diferente.
As mutações envolvendo certos conjuntos
de genes contribuem para a
suscetibilidade a subpopulações
específicas de patógenos. Por exemplo,
mutações afetando o receptor do tipo Toll
3 (TLR3) e as proteínas que atuam na via
de sinalização de TLR3 contribuem para a
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infecção cerebral pelo herpes-vírus
simples (encefalite).
Os defeitos em uma via podem ser
compensados por outras vias, de modo
que os pacientes não são suscetíveis a
uma ampla gama de infecções.
Defeitos na imunidade inata: As
anormalidades envolvendo dois
componentes da imunidade inata, os
fagócitos e o sistema complemento, são
causas importantes de imunodeficiência.
A doença granulomatosa crônica (DGC)
é causada por mutações nos genes
codificadores de uma enzima que catalisa
a produção de espécies reativas de
oxigênio microbicidas no interior dos
lisossomos. Os neutrófilos e macrófagos
afetados são incapazes de matar os
microrganismos que fagocitam.
A deficiência de adesão leucocitária é
causada por mutações em genes
codificadores de integrinas. Como
resultado destas mutações, os leucócitos
sanguíneos não se ligam com firmeza ao
endotélio vascular e não são recrutados
normalmente para os sítios de infecção.
Deficiências de quase qualquer proteína
do complemento, bem como de muitas
proteínas reguladoras do complemento
foram descritas e prejudicam a fagocitose
e morte de células infectadas.
A síndrome de Chediak-Higashi é uma
doença de imunodeficiência em que os
grânulos lisossomais dos leucócitos
exibem anormalidade funcional. O defeito
imunológico afeta fagócitos e células
natural killer (NK), manifestando-se como
suscetibilidade aumentada à infecção
bacteriana.
! São raros os pacientes descritos com
mutações afetando TLRs.
Defeitos na maturação do linfócito:
Muitas imunodeficiências congênitas
resultam de anormalidades genéticas que
causam bloqueio da maturação de
linfócitos B, linfócitos T ou ambos.
Os distúrbios que se manifestam como
defeitos em ambos os ramos (de célula B
e de célula T) do sistema imune são
classificados como imunodeficiência
combinada grave - SCID. A causa
subjacente de SCID é um defeito no
desenvolvimento ou na função das células
T. Várias anormalidades genéticas
diferentes podem causar SCID.
A síndrome clínica mais comum causada
por um bloqueio na maturação da célula B
é a agamaglobulinemia ligada ao X
(descrita pela primeira vez como
agamaglobulinemia de Bruton). Neste
distúrbio, as células pré-B na medula
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óssea falham em se expandir e isso
resulta em acentuada diminuição ou
mesmo na ausência de linfócitos B
maduros.
Defeitos na ativação e função dos
linfócitos: Numerosas doenças por
imunodeficiência são causadas por
mutações afetando moléculas envolvidas
na ativação linfocitária.
Defeitos nas respostas das células B -
anormalidades em células B ou em
células T auxiliares podem resultar na
produção defeituosa de anticorpos.
Ativação defeituosa de linfócitos T -
várias anormalidades hereditárias podem
interferir na ativação das células T.
Terapia de imunodeficiências
congênitas: O tratamento de
imunodeficiências primárias varia com a
doença. A SCID é fatal no início da vida, a
menos que o sistema imune do paciente
seja reconstituído. O tratamento de uso
mais amplo é o transplante de
células-tronco hematopoéticas,
tomando-se o cuidado de garantir a
compatibilidade entre doador e receptor,
para evitar uma doença do enxerto versus
hospedeiro potencialmente grave.
> Imunodeficiências adquiridas
(secundárias)
Muitas vezes, as deficiências do sistema
imune desenvolvem-se por causa de
anormalidades que não são genéticas e,
sim, adquiridas ao longo da vida. a mais
grave em âmbito mundial é a infecção
pelo HIV.
As causas mais frequentes de
imunodeficiências secundárias em países
desenvolvidos são os cânceres
envolvendo a medula óssea (leucemias) e
as terapias imunossupressoras. O
tratamento do câncer com fármacos
quimioterápicos e radiação pode lesar
células em proliferação, inclusive os
precursores leucocitários na medula óssea
e os linfócitos maduros, resultando em
imunodeficiência.
Os fármacos imunossupressores usados
para prevenir a rejeição do enxerto ou
tratar doenças inflamatórias, são
projetados para enfraquecer as respostas
imunes. Portanto, a imunodeficiência é
uma complicação destas terapias.
A desnutrição proteico-calórica resulta em
deficiências de quase todos os
componentes do sistema imune, além de
ser uma causa frequente de
imunodeficiência em países onde há
pobreza ou fome amplamente
disseminada.
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Em caso de suspeita de imunodeficiência
livre do setor que possa estar atacado, os
exames iniciais a serem requeridos são: o
hemograma, níveis séricos de
imunoglobulinas (IgG, IgA e IgM) e testes
cutâneos de hipersensibilidade tardia
(PPD).
> Hemograma
Os hemogramas são os principais exames
solicitados pelos médicos para verificar
alterações no organismo. Com o
hemograma pode-se avaliar, entre outros,
dois dos principais grupos celulares
sanguíneos: as Hemácias e os Leucócitos.
Por meio dos exames sanguíneos é
possível fazer a contagem desses
glóbulos e verificar infecções e
determinadas alergias.
> Níveis de Imunoglobulina
Defeitos nas imunoglobulinas podem ser
avaliados por estimativas quantitativas;
níveis de < 200 mg/dℓ sugerem uma
deficiência de anticorpos. A resposta
imune humoral pode ser examinada por
meio de triagem do soro de indivíduos
com > 6 meses de idade à procura de
anticorpos. Uma boa bateria de antígenos
deve incluir PPD, SK-SD (varidase), tétano
e candidina, por serem antígenos contra
os quais a maioria da população estásensibilizada. Desta forma, torna-se
altamente improvável que um indivíduo
normal seja negativo a todos estes
antígenos por falta de contato prévio.
Imunodetecção: A imunodetecção
(também denominada “imunoblotting”) é
uma técnica que possibilita reconhecer e
quantificar antígenos a partir de um gel
de eletroforese, geralmente SDS-PAGE.
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Imunocitoquímica: A imunocitoquímica
usa o mesmo princípio da imunodetecção,
isto é, a ligação específica do anticorpo
detectável ao antígeno. A única diferença
está na apresentação do antígeno, que em
vez de estar sobre uma membrana se
encontra no tecido fixado. Este método
tem uma precisão menor quando
comparado com a imunodetecção, mas
tem como principal vantagem mostrar a
localização cito e histológica do antígeno.
Radioimunoensaio: Este método usa o
antígeno marcado radioativamente e
anticorpos para determinar a
concentração de antígenos com uma
precisão bastante elevada, sendo
bastante usada para a determinação da
concentração de hormônios.
ELISA: Esta técnica usa um princípio
semelhante à imunodetecção, com a
diferença que na ELISA o antígeno é preso
a uma superfície (geralmente de
poliestireno) através de um anticorpo.
Uma vez o antígeno ligado ao anticorpo
imobilizado, este complexo pode ser
reconhecido por um outro anticorpo, desta
vez ligado a uma enzima que possa
produzir um composto facilmente
detectável.
Para avaliação da Imunidade Humoral, os
exames iniciais são: dosagem de IgG , IgA
, IgM séricas; dosagem de
iso-hemaglutininas; dosagem de
Anticorpos Vacinais, como Rubéola,
Poliovírus, Sarampo.
Seguindo-se com exames
complementares como: Subclasses de
IgG; níveis de anticorpos após vacinas
com antígenos polissacarídeos
(pneumococos) e quantificação de
linfócitos B (CD19).
> CD19
O CD19 é o antígeno definidor de
linhagem de linfócitos B. Este exame
fornece o percentual e número absolutos
desta população celular.
O CD19 está presente em linfócitos do
tipo B, participando do processo de
reconhecimento dos antígenos pelo
receptor BCR e desta forma agindo como
um co-receptor. O CD19 é expresso
exclusivamente nas células B imaturas,
sendo perdido no processo de
diferenciação para plasmócitos. A
presença de CD19 é um marcador de
diagnóstico em doenças de células B,
principalmente os linfomas e leucemias
linfoblásticas.
Este teste auxilia no diagnóstico e na
monitoração de imunodeficiência,
leucemias e linfomas, entre outros. Serve
ainda para acompanhar a recuperação
imunológica pós-transplante de
células-tronco hematopoéticas.
Para avaliação da Imunidade Celular,
inicia-se com hemograma – morfologia e
número de Linfócitos; Rx de Tórax –
Imagem Tímica; testes cutâneos de
hipersensibilidade tardia – PPD, candidina,
SK-SD, tétano.
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Seguindo com os exames
complementares que incluem
quantificação de Linfócitos T: CD3, CD4 e
CD8 e resposta linfoproliferativa a
fitohemaglutinina (PHA).
Os pacientes com deficiência de células T
são hiporeativos ou não reativos a testes
cutâneos com antígenos, como
tuberculina, Cândida e vírus da caxumba.
> Citometria de fluxo
É uma ferramenta diagnóstica para
avaliação de populações celulares
normais e neoplásicas, realizada por meio
da incubação das células com anticorpos
conjugados a fluorocromos, que permite
identificar e caracterizar diferentes
populações celulares.
Doenças oportunistas são infecções que
acometem organismo humano devido à
alguma falha no sistema imunológico.
Com a falha do sistema imunológico as
infecções são favorecidas, pelo fato de
não haver células capazes de destruir
antígenos das diferentes doenças
oportunistas.
> Tuberculose
A tuberculose é causada principalmente
pela bactéria Mycobacterium tuberculosis,
essa bactéria é inalada pelo indivíduo
através do ar, pelo fato de uma pessoa
infectada espirrar ou tossir eliminando-a
no ar podendo infectar diversas pessoas.
O indivíduo com HIV é mais vulnerável a
ser infectado pelo fato de não ter as
células de defesa que combatem os
antígenos.
De acordo com estimativas da OMS,
existem cerca de 33 milhões de pessoas
infectadas por HIV no mundo, das quais
25% estão coinfectadas por tuberculose.
Segunda causa de óbito entre
soropositivos, a tuberculose pode ocorrer
em qualquer estágio da infecção pelo HIV.
As manifestações da TB em pacientes
com HIV/AIDS dependem do status de
imunidade da pessoa. Para pacientes com
níveis de CD4 + acima de 350 céls/µL, as
manifestações da doença pulmonar não
são substancialmente diferentes do que
na população em geral, mas a infecção
extrapulmonar é mais comum. Em
pacientes com os níveis de CD4 +
menores, são comuns doença pulmonar
no lobo inferior, cavitação, adenopatia e
doença extrapulmonar.
> Hepatite C
É um vírus da família Flaviviridae,
descoberto no ano de 1989, sendo
dividido em seis principais genótipos,
genótipo 1, 2 e 3 são mais encontrados na
Europa, Japão e Estados Unidos, genótipo
4 no Egito e Zaire e o genótipo 5 na África
do Sul e genótipo 6 é mais encontrado na
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Ásia. A Hepatite C se subdivide em aguda
e crônica.
> Sífilis
A Sífilis, doença venérea crônica, tem
como agente etiológico o Treponema
pallidum.
É dividida em três estágios que possuem
manifestações clínicas e patológicas
diferentes, sendo eles a sífilis primária,
secundária e terciária.
A Sífilis primária possui como
característica uma ferida única de onde se
adentrou o T. pallidum, lesão conhecida
como cancro duro, sendo indolor para o
indivíduo, contém uma secreção serosa
com treponemas, esse estágio ocorre
aproximadamente 3 semanas após ao
indivíduo ser infectado.
A Sífilis secundária é consequência da
primária que não foi tratada, ocorrendo a
disseminação e proliferação das
espiroquetas no pelo e mucosa dos
indivíduos infectados. As lesões ocorrem
principalmente nas regiões da boca,
faringe, e na genitália. Essas lesões são
infecciosas, pois nelas estão contidas as
espiroquetas.
A Sífilis terciária pode demorar anos para
se manifestar, podendo destruir tecidos e
ossos, onde se formam gomas sifilíticas e
tumorações amolecidas que são vistas na
pele e mucosa, e tecido ósseo, podendo
acarretar a sífilis cardiovascular, onde
causará insuficiência da válvula aórtica,
neurossífilis, que causará doença
meningovascular crônica.
> Neurotoxoplasmose:
É a principal causa de lesão com efeito de
massa no SNC, cerca de 50-70% dos
casos. O quadro clínico geralmente é
subagudo com duração de 2 a 3 semanas.
É uma infecção que ocorre geralmente em
pacientes com contagem de linfócitos T
CD4 baixa, sendo <100 células/mm3 em
cerca de 80% dos casos. Assim sendo, em
caso de lesões centrais com efeito de
massa em pacientes imunocompetentes
outras etiologias deverão ser investigadas
como, por exemplo, o glioblastoma e
metástases. O agente etiológico da
neurotoxoplasmose é o protozoário
Toxoplasma gondii.
Alteração do sensório – 50-90%;
Hemiparesia e outros sinais focais – 60%;
Cefaléia – 50%; Convulsões – 30%;
Acidentes vasculares cerebrais – 30%;
Sinais de irritação meníngea – <10%;
Febre, confusão mental e coma podem
estar presentes.
> Neurocriptococose:
O agente etiológico é a levedura
encapsulada Cryptococcus neoformans. É
o principal agente oportunista causador
de meningite no paciente com AIDS.
Acomete indivíduos com contagem de
linfócitos T CD4 <100 células/mm 3.
Febre e cefaléia* – 75%; Alterações de
sensório, pares cranianos, visuais –
15-20%; Convulsões – 15-20%;
Sintomas focais - <5%; Lesões extra
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neurais (pulmão, baço, fígado, medula
óssea, gânglios)– 20-60%; Náuseas,
vômitos*, mal estar geral; Rigidez de nuca
é vista em menos de 1/3 dos casos.
> Ascaridíase
Normalmente encontrada no intestino
delgado, mais precisamente no jejuno e
no íleo, o helminto Ascaris lumbricoides é
o agente responsável pela ascaridíase. O
Ascaris lumbricoides é o parasito mais
comum no Brasil e no mundo, afetando
30% da população mundial. A
contaminação ocorre por meio da ingestão
de água ou alimentos contaminados com
ovos larvados, também por meio das
mãos e objetos contaminados que são
levados à boca e pela inalação e
deglutição de ar em lugares de clima
quente e seco. A infecção ocorre devido a
falta de saneamento básico e más práticas
de higiene pessoal.
Em pacientes com imunodepressão, a
sintomatologia da ascaridíase é mais
intensa e esses sinais e sintomas podem
aparecer abruptamente. O aumento de
eosinófilos é um achado comum nessa
parasitose e foi observado que, em
pessoas HIV positivas, os helmintos
causam eosinofilia maior do que outros
parasitos.
> Candidíase esofágica e orofaríngea:
Ocasionada pelo fungo Candida albicans,
é a infecção mais comum em indivíduos
com imunodepressão pelo HIV. Os
principais sintomas são aparecimento de
placas esbranquiçadas na mucosa,
dificuldade para engolir, dor ao engolir e
dor na região do peito.
> Doença citomegálica:
Ocasionada pelo Citomegalovírus (CMV),
a doença citomegálica ataca retina (visão)
e sistema digestivo, podendo acometer
também pulmões, fígado e o cérebro. Os
sintomas que podem ocorrer são
comprometimento da visão, dores
abdominais, náusea e vômitos.
> Histoplasmose:
A infecção, causada pelo fungo
Histoplasma capsulatum, ocorre quando
os esporos, pequenas estruturas dos
fungos, presentes no solo ou em fezes de
aves ou morcegos, são respirados. Os
sintomas mais comuns são febre, perda
de peso, aumento do fígado e baço,
alterações pulmonares e lesões nas
mucosas e pele.
> Pneumocistose:
É a infecção pulmonar oportunista mais
comum em pacientes com AIDS, causada
pelo fungo Pneumocystis jirovecii. Os
sintomas mais frequentes são febre, tosse
seca, falta de ar progressiva, cansaço e
perda de peso.
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> Mecanismos de agressão do
parasita
A presença de helmintos também gera,
com frequência, sintomas de doença no
hospedeiro. Alguns desses organismos
utilizam os tecidos do hospedeiro para
seu próprio crescimento ou produzem
grandes massas de parasitos. Em ambos
os casos, o dano celular resultante
provoca os sintomas.
Produtos residuais oriundos do
metabolismo desses parasitos também
podem contribuir para a geração dos
sintomas da doença.
Para fugir das respostas imunes corporais,
os parasitos se utilizam de dois modos de
evasão: passiva e ativa.
Evasão passiva: eles se utilizam de
variação antigênica em suas proteínas de
superfície e também fogem para locais
imunoprivilegiados, ou seja, lugares com
ausência de linfócitos e leucócitos.
Evasão ativa: nesse caso eles se utilizam
de um processo de dissimulação
antigênica, em que eles captam moléculas
do hospedeiro buscando passar
despercebidos. Além de promoverem
imunossupressão, através da produção de
proteases, que vão atrapalhar a resposta
imune, da evasão à fagocitose, e
controlando o processo de apoptose
(induzindo e inibindo).
> Mecanismos de defesa do
organismo contra os parasitas
O mecanismo mais importante no caso de
invasão parasitária é a resposta imune
adaptativa, já que os parasitos contam
com muitos mecanismos de evasão.
A principal resposta imunológica inata aos
protozoários é a fagocitose, porém a
maioria desses são resistentes à
morte fagocítica, replicando-se
dentro de macrófagos.
Os helmintos são muito grandes
para serem fagocitados e, além disso,
possuem tegumentos espessos que
os tornam resistentes às substâncias
microbicidas secretadas pelos
fagócitos (neutrófilos e macrófagos).
O principal mecanismo de defesa contra
protozoários intracelulares é semelhante
à defesa contra bactérias intracelulares,
ou seja, imunidade mediada por células,
particularmente a ativação de macrófagos
por citocinas derivadas de linfócitos Th1.
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Protozoários que se replicam no interior
de células do hospedeiro e causam lise
dessas células, como por exemplo o
Plasmodium sp., estimulam a produção de
anticorpos específicos e ativação dos
linfócitos T CD8 + (similar à resposta
contra os vírus citopáticos).
A principal defesa contra os helmintos é
mediada por linfócitos Th2, resultando na
produção de IgE e ativação de eosinófilos.
A interleucina 4 (IL-4) estimula a
produção de anticorpos IgE e a IL-5 a
ativação e desenvolvimento de eosinófilos
e mastócitos. Os eosinófilos produzem
enzimas oxidativas e hidrolíticas que são
tóxicas para os parasitos.
> Nutrição
“Que teu alimento seja teu remédio e que
teu remédio seja teu alimento”. Essa frase
foi dita por Hipócrates (460 - 377 a. C.).
A desnutrição pode ter efeitos adversos
no organismo de um indivíduo, incluindo
consequências negativas aos mecanismos
gerais de defesa. O organismo desnutrido
se torna mais suscetível a enfermidades,
ocorrendo uma inter-relação entre
desnutrição, sistema imune e doenças
infecciosas.
Desequilíbrios nutricionais afetam a
capacidade do hospedeiro produzir
resposta inflamatória protetora,
acarretando prejuízos às defesas
imunológicas do mesmo, inclusive à
função fagocitária, imunidade mediada
por células, sistema complemento,
secreção de anticorpos, produção e função
de citocinas.
O esgotamento de nutrientes
antioxidantes promove imunossupressão
celular, podendo a desnutrição intensificar
a gravidade de infecções e acentuar a sua
evolução.
A resposta imune é dependente de
replicação celular e da síntese de
compostos protéicos ativos. Assim, é
acentuadamente afetada pelo estado
nutricional do indivíduo.
Em situações de desnutrição, o sistema
imune é o primeiro a sofrer alterações. A
desnutrição protéico-energética é
consequência de baixa ingestão de
alimentos e resulta em deficiência de
calorias e aminoácidos.
Longos períodos de privação alimentar
culminam em grande mobilização de
aminoácidos que são utilizados na síntese
de DNA, RNA, na produção de proteínas
de fase aguda e de energia
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(gliconeogênese), agravando ainda mais o
estado de desnutrição.
A imunidade inata e a adquirida são
reguladas por uma grande rede de
comunicação química, que inclui a síntese
de células apresentadoras de antígenos,
imunoglobulinas e citocinas.
O sistema imunológico é dependente de
uma adequada oferta de aminoácidos
para a síntese de proteínas e
polipeptídeos, bem como outras
moléculas com grande importância
biológica.
Algumas consequências de deficiências
nutricionais são a redução de anticorpos
humorais e da superfície de mucosas, da
imunidade celular, da capacidade
bactericida de fagócitos, da produção de
complemento, do número total de
linfócitos, do equilíbrio dos subtipos de
linfócitos T e dos mecanismos
inespecíficos de defesa.
Alterações metabólicas e clínicas da
imunidade podem estar relacionadas à
deficiência de um único ou múltiplos
nutrientes.
! Os aspectos da imunidade também podem
ser negativamente influenciados pela privação
de vitaminas e minerais, por isso a desnutrição
não deve ser considerada como sendo apenas
de origem protéico-calórica.
> Proteínas e aminoácidos
A expansão clonal do sistema imune é
dependente da síntese protéica e
considerando que as citocinas são
constituídas por aminoácidos, fica fácil
compreender por que a ingestão
inadequada de proteínas resulta em
grande comprometimento desse sistema.
Desnutrição protéica reduz as
concentrações da maioria dos
aminoácidos no plasma e resultados de
estudos indicamum papel importante dos
aminoácidos na regulação de respostas
imunes por meio da ativação dos linfócitos
T, linfócitos B, células natural killer e
macrófagos, na proliferação de linfócitos e
na produção de anticorpos, citocinas e
outras substâncias citotóxicas.
> Carboidratos
Os polissacarídeos possuem propriedades
imunomoduladoras, o que pode ser
observado pela incorporação de
lipopolissacarídeos como um agente
estimulante em vários modelos de
imunidade.
> Lipídeos
Além de ser uma fonte de energia útil, o
metabolismo lipídico pode também
influenciar parâmetros metabólicos e
imunológicos.
A diminuição da fagocitose de bactérias
posteriormente à depuração de lipídios
aumenta o risco de bacteremia e sepse e
isso tem sido relatado em pacientes
humanos e animais que recebem excesso
de lipídios.
> Minerais
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Estão recebendo muita atenção na
comunidade científica como moduladores
dos componentes imunológicos.
O ferro é necessário tanto aos animais
quanto aos microrganismos, de modo que
o organismo secreta três proteínas
(transferrina, conalbumina e lactoferrina)
que possuem elevada capacidade de se
ligar ao ferro, tornando-o indisponível
para as bactérias. Esta reduzida
disponibilidade de ferro livre apresenta
efeito protetor para o hospedeiro.
A deficiência de magnésio promove
alteração no funcionamento de linfócitos
T e B, menor produção de
imunoglobulinas, redução da capacidade
bactericida de fagócitos e menor produção
de citocinas.
O cobre tem um significativo efeito sobre
muitos aspectos do sistema imunológico.
Modelos animais de deficiência de cobre
indicaram que ele é importante para a
geração de anticorpos (IgG), para a
imunidade mediada por células e para a
geração da resposta inflamatória.
> Vitaminas
A deficiência de vitamina A está
associada ao aumento da suscetibilidade
a infecções. Na hipovitaminose A,
verifica-se redução do tamanho do timo e
do baço, menor atividade de células
natural killer, redução da produção de
interferon e da resposta de
hipersensibilidade cutânea tardia, menor
atividade de macrófagos e redução da
proliferação linfocitária.
A diminuição da vitamina C (ácido
ascórbico) é conhecida por estar associada
com depressão da imunidade mediada por
células, queda de atividade bactericida e
mobilização de macrófagos prejudicada.
> Psicológico
A disciplina designada por
psiconeuroimunologia é o campo
científico que investiga as ligações entre o
cérebro, o comportamento e o sistema
imunológico, bem como as implicações
que estas ligações têm para a saúde física
e a doença.
A hipótese base deste modelo é que os
estresses psicossociais diminuem a
eficiência do sistema imunológico, o que
leva ao aumento de sintomas médicos
(risco de uma doença).
Entre estes fatores psicossociais,
contam-se os estados emocionais; o tipo e
a intensidade de stress que a pessoa está
a enfrentar, as características de
personalidade e a qualidade das relações
sociais.
A relação entre stress e doença começou
por ser estabelecida por Selye (1976)
sugerindo que os estressores crônicos
contribuem para um estado de exaustão
do organismo pondo em causa o seu
equilíbrio.
A mudança imunológica é mediada por
fatores como a ativação do SNC, a
resposta hormonal e a mudança
comportamental, em função das
características e estados psicológicos.
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As ligações entre o SNC e o sistema
imunológico foram identificadas
nomeadamente pela observação de que
linfócitos como as NK têm receptores para
os neurotransmissores.
Vários autores encontraram igualmente
ligações entre o sistema imunológico e o
endócrino através do efeito de diferentes
mediadores hormonais como
catecolaminas (epinefrina e norepinefrina),
cortisol, prolactina, ACTH, TSH, hormona
do crescimento ou opiáceos endógenos,
hormônios que estão relacionadas com a
resposta ao stress.
Além disso existe uma enervação
simpática e parassimpática dos órgãos
linfóides.
Podemos dividir as investigações que
analisaram a relação entre os factores
psicológicos e a saúde e/ou a eficiência
imunológica em quatro grupos:
● os que estudaram o efeito das
situações de stress;
● os que estudaram o efeito do
humor triste e a depressão;
● os que estudaram o efeito das
características de personalidade;
● os que estudaram a importância
das relações interpessoais.
Situações de estresse: Os resultados
sugerem que em épocas de maior
estresse, em comparação com épocas
após férias, existe uma diminuição da
atividade dos linfócitos NK, na
proliferação de linfócitos, e na
citotoxicidade dos linfócitos.
Paralelamente foi verificado que durante
estas fases de stress há um aumento na
circulação de anticorpos anti herpesvírus;
bem como uma cura mais lenta de feridas
após biópsias.
Efeito do humor triste e depressão: os
deprimidos exibem uma menor resposta
de proliferação dos linfócitos; menor
atividade dos linfócitos NK; e um menor
número de células NK, B, T, T auxiliadoras
e T Supressoras / Citotóxicas.
Os estudos têm verificado que quando as
pessoas recuperam da depressão a
atividade dos linfócitos NK aumenta de
novo.
Num estudo realizado sobre a relação
entre acontecimentos do dia a dia e a
quantidade de imunoglobulina A (IgA) em
resposta a um antígeno, foi verificado que
esta era maior quando o humor do sujeito
era positivo e menor quando o humor do
sujeito era negativo.
Efeito das características de
personalidade: A tendência para o
desânimo e o estilo pessimista foi
relacionado com um pior funcionamento
do sistema imunológico, mas a
característica de personalidade mais
estudada tem sido a repressão/negação.
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Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria
Em suma, algumas características da
personalidade, especialmente
relacionados com a utilização de
estratégias repressivas para lidar com os
problemas e emoções parecem estar
relacionadas com mais problemas
imunológicos.
Efeito das relações interpessoais:
estudos prospectivos mostraram mesmo
que a longevidade está relacionada com a
pertença a grupos sociais fortes, sendo a
percepção de suporte social um fator
protetor face a estressores.
Verificaram que os estudantes com mais
auto-relato de solidão têm uma menor
actividade de NK e um nível mais elevado
de anticorpo anti-virus herpes;
Verificaram igualmente que as pessoas
com menos competências sociais e/ou
pouco suporte social têm mais episódios
de herpes genital e oral.
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