Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Thais Alves Fagundes TRANSTORNO DO HUMOR: DEPRESSÃO TRANSTORNOS DO HUMOR (TRANSTORNOS AFETIVOS MAIORES) HARRISON: Transtornos do humor caracterizam-se por um distúrbio na regulação do humor, comportamento e afeto, sendo subdivididos em: (1) transtornos depressivos, (2) transtornos bipolares (episódios de depressão e mania ou hipomania) e (3) depressão associada à doença clínica ou a abuso de álcool e substâncias. EPISÓDIO DEPRESSIVO MAIOR COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Episódio depressivo maior deve durar pelo menos duas semanas, e normalmente uma pessoa com esse diagnóstico também experimenta pelo menos quatro sintomas de uma lista que inclui alterações no apetite e peso, alterações no sono e na atividade, falta de energia, sentimentos de culpa, problemas para pensar e tomar decisões e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio. OBS.: transtorno depressivo maior ocorre sem uma história de um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco (período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável - autoestima inflada, necessidade de sono diminuída, distratibilidade, grande atividade física e mental e envolvimento excessivo em comportamento prazeroso). DISTIMIA COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Distimia é caracterizada por pelo menos dois anos de humor deprimido não grave o suficiente para receber o diagnóstico de episódio depressivo maior. Presença de um humor deprimido que dura a maior parte do dia e está presente quase continuamente. Existem sentimentos associados de inadequação, culpa, irritabilidade e raiva; afastamento da sociedade; perda de interesse; e inatividade e falta de produtividade. Distimia distingue-se do transtorno depressivo maior pelo fato de os pacientes se queixarem de que sempre estiveram deprimidos. Portanto, a maioria dos casos é de início precoce, começando na infância ou na adolescência e, sem dúvida, ocorrendo na época em que os pacientes atingem a faixa dos 20 anos. Conceito central se refere a um transtorno depressivo subafetivo ou subclínico com o (1) cronicidade de baixo grau por pelo menos dois anos. o (2) início insidioso, com origem muitas vezes na infância ou na adolescência. o (3) curso persistente ou intermitente. DIAGNÓSTICO TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno depressivo maior: A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. Thais Alves Fagundes 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.) 4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecrimina-ção ou culpa por estar doente). 7. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 8. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. D. Ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco. HARRISON: Presença de cinco (ou mais) sintomas durante 2 semanas (um dos sintomas deve ser o item 1 ou o item 2): 1. Humor deprimido 2. Perda do interesse ou do prazer 3. Mudança no apetite ou no peso 4. Insônia ou hipersonia 5. Agitação ou retardo psicomotor 6. Fadiga ou perda de energia 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa inapropriada 8. Diminuição da capacidade de concentração e de tomar decisões 9. Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio 10. Sintomas psicóticos: pequeno número de pacientes com depressão maior tem sintomas psicóticos (alucinações e delírios) junto com o humor deprimido. REVISÃO DAS DIRETRIZES DA AMB PARA O TRANSTORNO DA DEPRESSÃO: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DE EPISÓDIO DEPRESSIVO (CID-10): Episódio leve: 2 sintomas fundamentais + 2 sintomas acessórios Episódio moderado: 2 sintomas fundamentais + 3 a 4 sintomas acessórios Episódio grave: 3 sintomas fundamentais + > 4 sintomas acessórios Thais Alves Fagundes Perguntas que podem melhorar a detecção dos casos de depressão pelo médico não-psiquiatra: DEPRESSÃO SUBSINDRÔMICA REVISÃO DAS DIRETRIZES DA AMB PARA O TRANSTORNO DA DEPRESSÃO: Pacientes deprimidos leves que não preenchem critérios diagnósticos, mas que possuem alto risco de apresentarem futuros episódios depressivos. TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR: EPISÓDIO ÚNICO COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Depressão pode ocorrer como um episódio único ou ser recorrente. Diferenciação entre esses pacientes e os que têm dois ou mais episódios de transtorno depressivo maior é justificada pelo curso incerto do transtorno dos primeiros. TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR RECORRENTE COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Indivíduos que estão vivenciando pelo menos um segundo episódio de depressão são classificados com transtorno depressivo maior, recorrente. Principal problema ao diagnosticar episódios recorrentes de transtorno depressivo maior é escolher o critério para designar a resolução de cada período. As duas variáveis são o grau de resolução dos sintomas e a duração da resolução. DSM-5 exige que episódios distintos de depressão sejam separados por pelo menos dois meses, durante os quais o paciente não tenha sintomas significativos de depressão. Thais Alves Fagundes DIAGNÓSTICO DISTIMIA COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Critérios diagnósticos do DSM-5 para distimia: A. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou por observação feita por outras pessoas, pelo período mínimo de dois anos (em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, com duração mínima de um ano). B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características: 1. Apetite diminuído ou alimentação em excesso. 2. Insônia ou hipersonia. 3. Baixa energia ou fadiga. 4. Baixa autoestima. 5. Concentração pobre ou dificuldade em tomar decisões. 6. Sentimentos de desesperança. C. Durante o período de dois anos (um ano para crianças ou adolescentes) de perturbação, o indivíduo jamais esteve sem os sintomas dos CritériosA e B por mais de dois meses. D. Os critérios para um transtorno depressivo maior podem estar continuamente presentes por dois anos. E. Jamais houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os critérios para transtorno ciclotímico. F. A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno esquizoafetivo persistente, esquizofrenia, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. G. Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipotireoidismo). H. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. REVISÃO DAS DIRETRIZES DA AMB PARA O TRANSTORNO DA DEPRESSÃO: Transtorno depressivo crônico com menor intensidade de sintomas, presente por pelo menos dois anos com períodos ocasionais e curtos de bem-estar. Humor depressivo, com a presença de até três dos seguintes sintomas: o Redução de energia insônia o Diminuição da autoconfiança o Dificuldade de concentração o Choro o Diminuição do interesse sexual e em outras atividades prazerosas o Sentimento de desesperança e desamparo o Inabilidade de lidar com responsabilidades do dia-a-dia o Pessimismo em relação ao futuro o Retraimento social o Diminuição do discurso. Comprometimento do funcionamento social e ocupacional da distimia é maior do que o dos episódios depressivos, sugerindo que a extensão do comprometimento social e ocupacional seja mais relacionada com o tempo de permanência de sintomas do que com sua intensidade. Thais Alves Fagundes ESPECIFICADORES (CARACTERÍSTICAS DOS SINTOMAS) COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Especificadores do DSM-5 para transtornos depressivos: Thais Alves Fagundes CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS EPISÓDIOS DEPRESSIVOS COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Humor deprimido e perda de interesses ou prazer são os sintomas fundamentais da depressão. Para um paciente, o humor deprimido muitas vezes adquire uma qualidade distinta que o diferencia da emoção normal de tristeza ou luto. Com frequência, os pacientes descrevem os sintomas de depressão como uma dor emocional angustiante e, às vezes, se queixam de serem incapazes de chorar. Quase todos os deprimidos (97%) se queixam de redução da energia, têm dificuldade de terminar tarefas, têm mau desempenho na escola e no trabalho e menos motivação para desenvolver novos projetos. Cerca de 80% se queixam de dificuldades para dormir, especialmente de despertar matinal precoce, e de despertares múltiplos ao longo da noite, durante os quais ruminam sobre seus problemas. Muitos têm diminuição do apetite e perda de peso, mas outros experimentam aumento do apetite e de peso e dormem por mais tempo do que o habitual. Esses pacientes são classificados com aspectos atípicos. Ansiedade é sintoma comum da depressão e afeta até 90% de todas as pessoas deprimidas. Várias mudanças na ingestão de alimentos e no repouso podem agravar condições clínicas coexistentes, como diabetes, hipertensão, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças cardíacas. Outros sintomas vegetativos incluem anormalidade na menstruação e diminuição do interesse e do desempenho nas atividades sexuais. Sintomas cognitivos incluem relatos subjetivos de incapacidade de se concentrar (84% dos pacientes em um estudo) e dificuldades para pensar (67% em outro estudo). Suicídio: cerca de dois terços de todos os pacientes deprimidos cogitam o suicídio, e 10 a 15% cometem-no. HARRISON: Suicídio: cerca de 4 a 5% dos pacientes deprimidos cometem suicídio, e a maioria procura ajuda de um médico 1 mês antes de sua morte. Os médicos devem sempre perguntar sobre suicídio quando avaliam um paciente com depressão. INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao longo da vida (quase 17%) de todos os transtornos psiquiátricos. A taxa de prevalência ao longo da vida para depressão maior é de 5 a 17%. Sexo: prevalência duas vezes maior de transtorno depressivo maior em mulheres do que em homens. As hipóteses das razões para essa disparidade envolvem diferenças hormonais, os efeitos do parto, estressores psicossociais diferentes para mulheres e para homens e modelos comportamentais de impotência aprendida. Idade: idade média de início para transtorno depressivo maior é em torno dos 40 anos, com 50% de todos os pacientes tendo início entre os 20 e os 50 anos. Esse transtorno também pode iniciar na infância ou na velhice. Sendo que a incidência de transtorno depressivo maior está aumentando entre pessoas com menos de 20 anos, relacionado ao aumento do uso de álcool e do abuso de drogas nessa faixa etária. Estado civil: transtorno depressivo maior ocorre mais frequentemente em pessoas sem relacionamentos interpessoais íntimos e naquelas que são divorciadas ou separadas. Thais Alves Fagundes Fatores socioeconômicos e culturais: não foi encontrada correlação entre condição socioeconômica e transtorno depressivo maior. A depressão é mais comum em áreas rurais do que em áreas urbanas. HARRISON: Idade: início do primeiro episódio depressivo acontece, em geral, no princípio da idade adulta, embora a depressão maior possa ocorrer em qualquer idade. História familiar: história familiar de transtornos do humor é comum, tendendo a predizer um curso recorrente. REVISÃO DAS DIRETRIZES DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA PARA O TRATAMENTO DA DEPRESSÃO: Prevalência anual na população em geral varia de 3 a 11%. Em populações específicas, como a de pacientes com infarto recente, a prevalência é de 33%, chegando a 47% nos pacientes com câncer. Em pacientes internados por qualquer doença física a prevalência de depressão varia entre 22% e 33%. Cronicidade: 80% dos indivíduos que receberam tratamento para um episódio depressivo terão um segundo episódio ao longo de suas vidas. A duração média de um episódio é entre 16 e 20 semanas e 12% dos pacientes têm um curso crônico sem remissão de sintomas Gênero: prevalência de depressão é duas a três vezes mais frequente em mulheres do que em homens. Transtorno incapacitante: depressão foi estimada como a quarta causa específica nos anos 90 de incapacitação através de uma escala global para comparação de várias doenças. A previsão para o ano 2020 é a de que será a segunda causa em países desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento. Quando comparada com as principais condições médicas crônicas, a depressão só tem equivalência em incapacitação às doenças isquêmicas cardíacas graves, causando mais prejuízo no status de saúde do que angina, artrite, asma e diabetes. COMORBIDADES ASSOCIADAS À DEPRESSÃO COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Indivíduos com transtornos depressivos maiores têm maior risco de apresentar transtornos comórbidos. Transtornos comórbidos mais frequentes são abuso ou dependência de álcool, transtornos de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de ansiedade social. ETIOLOGIA FATORES BIOLÓGICOS COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: AMINAS BIOGÊNICAS Das aminas biogênicas, a norepinefrina e a serotonina são os dois neurotransmissores mais implicados na fisiopatologia dos transtornos do humor. NOREPINEFRINA Correlação sugerida por estudos entre a down regulation dos receptores beta-adrenérgicos e as respostas clínicas aos antidepressivos é provavelmente a evidência isolada mais convincente indicando um papel direto do sistema noradrenérgico na depressão. Thais Alves Fagundes Outras evidências implicaram também os receptores pré-sinápticos na depressão, visto que sua ativaçãoresulta em redução da quantidade de norepinefrina liberada. o Esses receptores também estão localizados nos neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. Eficácia clínica dos antidepressivos com efeitos noradrenérgicos – por exemplo, a venla-faxina – apoia ainda mais um papel da norepinefrina na fisiopatologia de pelo menos alguns dos sintomas da depressão. SEROTONINA Com o forte efeito que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) – por exemplo, a fluoxetina – têm tido sobre o tratamento da depressão, a serotonina se tornou a amina biogênica neurotransmissora mais comumente associada à depressão. o Serotonina envolvida na fisiopatologia da depressão: ISRSs e outros antidepressivos serotonérgicos são eficazes no tratamento da depressão Depleção da serotonina pode precipitar depressão. Alguns pacientes com impulsos suicidas têm concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal (LCS) e concentrações baixas de zonas de captação de serotonina nas plaquetas. DOPAMINA Embora a norepinefrina e a serotonina sejam as aminas biogênicas associadas com mais frequência à fisiopatologia da depressão, há a teoria de que a dopamina também desempenhe um papel. Dados indicam que sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na mania. Medicamentos que reduzem as concentrações da dopamina (ex: reserpina) e as doenças que também têm esse efeito (ex: doença de Parkinson) estão associados com sintomas depressivos. Medicamentos que aumentam suas concentrações (ex: tirosina, anfetamina e bupropiona) reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias recentes sobre dopamina e depressão são: o Via mesolímbica da dopamina pode ser disfuncional na depressão. o Receptor D1 da dopamina pode ser hipoativo na depressão. OUTROS DISTÚRBIOS DE NEUROTRANSMISSORES ACETILCOLINA (ACh): Acetilcoli-na (ACh) é encontrada nos neurônios que se distribuem por todo o córtex cerebral. Neurônios colinérgicos têm relações recíprocas ou interativas com todos os três sistemas de monoamina. Níveis anormais de colina, que é um precursor de ACh, foram encontrados na necropsia de cérebros de alguns pacientes deprimidos, talvez refletindo anormalidades na composição de fosfolipídeo das células. Agentes agonistas e antagonistas colinérgicos têm efeitos clínicos diferentes sobre depressão. o Agonistas podem produzir letargia, falta de energia e retardo psicomotor em indivíduos saudáveis, exacerbar os sintomas na depressão e reduzir os sintomas na mania. o Agonistas colinérgicos podem induzir alterações na atividade hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (HHS) e no sono que imitam aquelas associadas com depressão grave. o Alguns pacientes com transtornos do humor em remissão, bem como seus parentes em primeiro grau que nunca tiveram a doença, têm aumento do traço de sensibilidade-tipo a agonistas colinérgicos. GABA: Ácido -aminobutírico (GABA) tem um efeito inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgico, particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. Thais Alves Fagundes Reduções dos níveis plasmático de GABA no líquido cérebro espinal (LCS) e cerebral foram observadas na depressão. Receptores de GABA sofrem regulação ascendente por antidepressivos, e alguns medicamentos GABAérgicos têm efeitos antidepressivos fracos. GLUTAMATO E GLICINA: Aminoácidos glutamato e glicina são os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios no SNC. o Esses aminoácidos ligam-se a sítios associados com o receptor de N-metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. o Existe alta concentração de receptores de NMDA no hipocampo. Glutamato, portanto, pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão recorrente grave. Evidências apontam que agentes que antagonizam os receptores NMDA têm efeitos antidepressivos. ALTERAÇÕES DA REGULAÇÃO HORMONAL Alterações duradouras nas respostas neuroendócrinas e comportamentais podem resultar de estresse precoce grave. A atividade do gene codificando para o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após estresse crônico, assim como o processo de neurogênese. Estresse prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado funcional dos neurônios e acabar levando a morte celular. Hipotalâmico-Hipofisário-Suprarrenal (HHS): história de trauma precoce está associada com atividade HHS aumentada acompanhada de alterações estruturais (i.e., atrofia ou diminuição de volume) no córtex cerebral. Atividade de HHS elevada é uma característica de respostas a estresse em mamíferos e uma das ligações mais claras entre depressão e a biologia do estresse crônico. Hipercortisolemia na depressão sugere um ou mais distúrbios centrais: tônus inibitório de serotonina diminuído; impulso aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio liberador de corticotrofina (CRH); ou diminuição da inibição do feedback do hipocampo. Atividade do eixo tireoidiano: aproximadamente 5 a 10% das pessoas avaliadas para depressão têm disfunção tireoidiana ainda não detectada. Essas anormalidades muitas vezes estão associadas com níveis elevados de anticorpos antitireoidianos e, a menos que corrigido com terapia de reposição hormonal, podem comprometer a resposta ao tratamento. Hormônio do crescimento (GH): hormônio do crescimento (GH) é secretado da hipófise anterior após estimulação por norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida por somatostatina, um neuropeptídeo hipotalâmico, e por CRH. Níveis diminuídos de somatostatina do líquido cérebro espinal (LCS) foram relatados na depressão ( de GH). Prolactina: liberada da hipófise pela estimulação da serotonina e é inibida por dopamina. Mas a maioria dos estudos não encontrou anormalidades significativas da secreção de prolactina na depressão. ALTERAÇÕES DA NEUROFISIOLOGIA DO SONO Depressão está associada com perda prematura do sono profundo (de onda lenta) e aumento no despertar noturno. Este último é refletido por quatro tipos de distúrbio: o (1) Aumento nos despertares noturnos o (2) Redução no tempo de sono total o (3) aumento do sono de movimentos oculares rápidos (REM) fásico. o (4) aumento da temperatura corporal. Thais Alves Fagundes Combinação de movimento REM aumentado e sono de onda lenta diminuído resulta em uma redução significativa no primeiro período de sono não REM (NREM), um fenômeno chamado de latência REM reduzida. Pacientes com perfil de sono anormal são menos responsivos a psicoterapia e apresentam um risco maior de recaída ou recidiva e podem se beneficiar, sobretudo, da farmacoterapia. DISTÚRBIOS IMUNOLÓGICOS Transtornos depressivos estão associados com várias anormalidades imunológicas, incluindo diminuição da proliferação de linfócitos em resposta a mitógenos e outras formas de imunidade celular comprometida. Esses linfócitos produzem neuromoduladores, como o fator liberador de corticotrofina (CRF), e citocinas, peptídeos conhecidos como interleucinas. Parece haver uma ligação com gravidade clínica, hipercortisolemia e disfunção imunológica, e a citocina interleucina-1 pode induzir atividade gênica para a síntese de glicocorticoide. FATORES GENÉTICOS COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Estudos de famílias investigam se um a taxa de doença nos membros da família de uma pessoa com o transtorno é maior do que a da população em geral. o Dados familiares indicam que, se um dos genitores tem um transtorno do humor, um dos filhos tem um risco entre 10 e 25% de também apresentá-lo. o Se ambos os genitores são afetados, o risco praticamente duplica. o Quanto mais membros da família forem afetados, maior o risco para um filho. o Risco é maior se os afetados forem parentes em primeiro grau doque mais distantes. Dados de gêmeos fornecem evidências de que os genes explicam apenas 50 a 70% da etiologia dos transtornos do humor. O ambiente ou outros fatores não hereditários devem explicar o restante. Portanto, é uma predisposição ou suscetibilidade à doença que é herdada. FATORES PSICOSSOCIAIS COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: ACONTECIMENTOS DE VIDA E ESTRESSE AMBIENTAL Eventos de vida estressantes mais frequentemente precedem os primeiros episódios de transtornos do humor, e não os subsequentes. Teoria proposta para explicar essa observação: o Estresse que acompanha o primeiro episódio resulta em mudanças na biologia do cérebro. o Essas mudanças podem alterar os estados funcionais de vários neurotransmissores e sistemas sinalizadores intraneuronais, mudanças que podem incluir mesmo a perda de neurônios e uma redução excessiva de contatos sinápticos. o Como resultado, uma pessoa tem alto risco de desenvolver episódios subsequentes de um transtorno do humor, mesmo sem um estressor externo. Alguns médicos acreditam que os eventos de vida tenham um papel primário ou principal na depressão; outros sugerem que seu papel seja apenas limitado no início e no momento da depressão. Fatores de risco: Evento de vida associado com mais frequência ao desenvolvimento da depressão é a perda de um dos genitores antes dos 11 anos de idade. Thais Alves Fagundes Estressor ambiental mais associado ao início de um episódio de depressão é a perda do cônjuge. Desemprego: indivíduos desempregados têm três vezes mais probabilidade de relatar sintomas de um episódio de depressão maior do que os que estão empregados. Culpa também pode ter um papel. Estressores: Acontecimentos estressantes recentes são os preditores mais poderosos do início de um episódio depressivo. Pesquisas demonstraram que estressores que se refletem de forma mais negativa na autoestima têm mais probabilidade de produzir depressão. Um estressor relativamente leve para alguns pode ser devastador para o paciente devido aos significados idiossincrásicos (característica comportamental particular) ligados ao acontecimento. FATORES DE PERSONALIDADE Nenhum traço ou tipo de personalidade isolado predispõe de forma única uma pessoa a depressão; todos os seres humanos, com qualquer padrão de personalidade, podem e ficam deprimidos sob determinadas circunstâncias. Pacientes com distimia têm o risco de mais tarde desenvolver depressão maior. DEPRESSÃO COM DOENÇA CLÍNICA HARRISON: Quase todas as classes de medicamentos podem potencialmente induzir ou agravar depressão. Fármacos anti-hipertensivos, agentes anticolesterolêmicos e antiarrítmicos são desencadeadores comuns de sintomas depressivos. Anti-hipertensivos: bloqueadores β-adrenérgicos e, em menor medida, os bloqueadores dos canais de cálcio são os mais propensos a causar depressão do humor. Depressão iatrogênica: deve ser considerada em pacientes que recebem glicocorticoides, antimicrobianos, analgésicos sistêmicos, medicamentos antiparkinsonianos e anticonvulsivantes. Cardiopatias: entre 20 e 30% dos pacientes cardíacos manifestam um transtorno depressivo. Os antidepressivos tricíclicos (ADTs) são contraindicados para pacientes com bloqueio de ramo, e a taquicardia induzida por ADTs é uma preocupação adicional em pacientes com ICC. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) parecem não induzir alterações no ECG ou eventos cardíacos adversos, sendo, por isso, fármacos de primeira linha para os pacientes com risco de complicações relacionadas com os ADTs. Contudo, os ISRSs podem interferir no metabolismo hepático da varfarina, causando aumento da anticoagulação. Câncer: prevalência da depressão é de 25%, mas ocorre em 40 a 50% dos pacientes com cânceres de pâncreas ou orofaringe. Caquexia extrema decorrente do câncer pode ser interpretada erroneamente como depressão. Os medicamentos antidepressivos em pacientes com câncer melhoram a qualidade de vida e o humor. Diabetes melito: gravidade do estado de humor correlaciona-se com o nível de hiperglicemia e complicações diabéticas. Os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) podem induzir hipoglicemia e ganho de peso. Os ADTs podem produzir hiperglicemia e compulsão por carboidratos. Os ISRSs, assim como os IMAOs, podem reduzir a glicemia de jejum, porém são mais fáceis de serem usados e podem melhorar a adesão à dieta e ao tratamento. Depressão também pode ocorrer no hipotireoidismo ou hipertireoidismo, distúrbios neurológicos, em indivíduos HIV-positivos e na hepatite C crônica. Thais Alves Fagundes Alguns distúrbios crônicos de etiologia incerta, como a síndrome da fadiga crônica e a fibromialgia, são fortemente associados à depressão. TRATAMENTO HOSPITALIZAÇÃO COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Indicações claras para hospitalização são o risco de suicídio ou homicídio, a capacidade acentuadamente reduzida do indivíduo de obter alimento e abrigo e a necessidade de procedimentos diagnósticos. História de sintomas de rápida progressão e a ruptura do sistema de apoio habitual também são indicações para a hospitalização. Qualquer mudança adversa nos sintomas ou no comportamento do paciente ou na atitude do sistema de apoio pode ser suficiente para justificar a hospitalização. HARRISON: Pacientes com ideação suicida exigem tratamento por um psiquiatra e podem precisar de internação. TERAPIA PSICOSSOCIAL COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Embora a maioria dos estudos indique – e a maioria dos médicos e pesquisadores acredite – que uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia é o tratamento mais eficaz para transtorno depressivo maior, alguns dados sugerem outra visão: tanto uma quanto a outra isoladas são eficientes, pelo menos em episódios depressivos maiores leves, e o uso regular da terapia combinada aumenta o custo do tratamento e expõe o paciente a efeitos adversos desnecessários. Psicoterapia de curto prazo – terapias cognitiva, interpessoal e do comportamento estudadas para a depressão. Psicoterapia psicanalítica há muito tem sido utilizada para transtornos depressivos, e muitos médicos a utilizam como método principal. Programa de Pesquisa Colaborativa para o Tratamento da Depressão do National Institute of Mental Health (NIMH) encontrou os seguintes preditores de resposta aos vários tratamentos: o Baixa disfunção social sugeriu boa resposta a terapia interpessoal; o Baixa disfunção cognitiva sugeriu boa resposta a terapia cognitivo-comportamental e a farmacoterapia; o Alta disfunção no trabalho sugeriu boa resposta a farmacoterapia; o Alta gravidade da depressão sugeriu boa resposta a terapia interpessoal e a farmacoterapia. FARMACOTERAPIA NO TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Objetivo do tratamento farmacológico é a remissão dos sintomas, não apenas sua redução. Pacientes com sintomas residuais, em oposição à remissão total, têm mais probabilidade de vivenciar uma recidiva ou reincidência de episódios de humor e um comprometimento contínuo do funcionamento diário. Utilização da farmacoterapia específica quase duplica a chance de que um paciente deprimido se recupere em um mês. Todos os antidepressivos atualmente disponíveis podem levar até 3 a 4 semanas para exercer efeitos terapêuticos significativos, embora possam começar a apresentar seus efeitos mais cedo. Thais Alves Fagundes Escolha dos antidepressivos é determinada pelo perfil de efeito colateral menos prejudicial a condição física, temperamento e estilo de vida de um determinado paciente. DIRETRIZES CLÍNICAS GERAIS: Erro clínico mais comum que leva a uma tentativa malsucedida de um medicamento antidepressivo é o uso de uma dosagem muito baixa por um tempo muito curto. A menos que eventos adversos impeçam, a dosagem de um antidepressivo deve ser elevadaao nível máximo recomendado e mantida nesse nível por pelo menos 4 ou 5 semanas antes que a tentativa seja considerada infrutífera. De modo alternativo, se um paciente estiver melhorando clinicamente com uma dosagem baixa do medicamento, essa dosagem não deve ser aumentada a menos que a melhora clínica pare antes de o benefício máximo ser obtido. Quando um paciente começa a não responder a dosagens adequadas de um medicamento após 2 ou 3 DURAÇÃO E PROFILAXIA: Tratamento antidepressivo deve ser mantido por pelo menos seis meses ou pelo número de meses da duração de um episódio depressivo anterior, o que for maior. Tratamento profilático com antidepressivos: o Eficaz para reduzir o número e a gravidade de reincidências. o Quando os episódios têm um intervalo de menos de dois anos e meio, o tratamento profilático por cinco anos provavelmente seja o indicado. o Sugere tratamento profilático de acordo com a gravidade dos episódios depressivos anteriores: episódios que envolveram ideação suicida significativa ou comprometimento do funcionamento psicossocial podem indicar a necessidade desse tratamento. Suspensão: o Quando o tratamento antidepressivo é interrompido, a dose do medicamento deve ser diminuída gradualmente ao longo de 1 a 2 semanas, dependendo da meia-vida do composto em particular. Manutenção: o Manutenção da medicação antidepressiva parece ser segura e eficaz para o tratamento da depressão crônica. o Prevenção de novos episódios de humor (recidiva) é o objetivo da fase de manutenção do tratamento. o Apenas indivíduos com depressões recorrentes ou crônicas são candidatos para tratamento de manutenção. USO TERAPÊUTICO DOS EFEITOS COLATERAIS: escolher antidepressivos mais sedativos (p. ex., amitriptilina) para pacientes mais ansiosos e deprimidos ou agentes mais ativadores (p. ex., de-sipramina) para pacientes com retardo psicomotor geralmente não é útil. Quaisquer benefícios de curto prazo com agentes mais sedativos aos sintomas de ansiedade ou insônia podem se transformar em dependência ao longo do tempo. Alguns médicos usam medicamentos adjuvantes (p. ex., soníferos ou ansiolíticos) combinados com antidepressivos para proporcionar alívio mais imediato dos sintomas ou para encobrir aqueles efeitos colaterais aos quais a maioria dos pacientes acaba se adaptando. FRACASSOS DO TRATAMENTO AGUDO: pacientes podem não responder a um medicamento, porque (1) não conseguem tolerar os efeitos colaterais, mesmo diante de uma boa resposta clínica; (2) um evento adverso idiossincrásico ocorre; (3) a resposta clínica não é adequada; ou (4) um diagnóstico errado foi feito. Ausência de uma resposta parcial (pelo menos uma redução de 20 a 25% na gravidade do sintoma depressivo pré-tratamento) em 4 a 6 semanas indica que uma mudança no tratamento é necessária. Thais Alves Fagundes HARRISON: Medicamentos antidepressivos são a base do tratamento, embora o tratamento combinado com psicoterapia melhore o desfecho. Há melhora dos sintomas após 6 a 8 semanas com uma dose terapêutica em 60 a 70% dos pacientes. ENCAMINHAMENTO AO PSIQUIATRA: maioria dos outros pacientes com depressão maior unipolar não complicada (uma depressão maior que não é parte de um transtorno de humor cíclico, como o transtorno bipolar) pode ser tratada com sucesso por um médico não psiquiatra. Pacientes que não respondem completamente ao tratamento- padrão devem ser encaminhados a um psiquiatra. *ADT = antidepressivo tricíclico; ISRS = inibidores seletivos da recaptação da serotonina. DURAÇÃO: Quando se atinge a remissão, os antidepressivos devem ser continuados por 6 a 9 meses. Pacientes devem ser monitorados após o término do tratamento, já que a recidiva é comum. Manutenção: o Pacientes com dois ou mais episódios de depressão devem ser considerados para o tratamento de manutenção por tempo indeterminado. REVISÃO DAS DIRETRIZES DA AMB PARA O TRANSTORNO DA DEPRESSÃO: CONSIDERAÇÕES GERAIS Antidepressivos são efetivos no tratamento agudo das depressões moderadas e graves, porém não diferentes de placebo em depressões leves: existe uma evidência contundente na literatura de que os antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão aguda de moderada a grave, quer melhorando os sintomas (resposta), quer Thais Alves Fagundes eliminando-os (remissão completa). Os antidepressivos não mostraram vantagens em relação ao placebo em depressões leves, pois uma boa resposta é observada em ambos. Remissão completa de sintomas deve ser a meta de qualquer tratamento antidepressivo: existe uma consistente evidência na literatura de que a permanência de sintomas residuais de depressão estão associados a pior qualidade de vida, pior funcionalidade, maior risco de suicídio, maior risco de recaída e aumento de consumo de serviços de saúde Antidepressivos são efetivos no tratamento agudo da distimia: 55% dos pacientes respondem a antidepressivos, comparado com 30% com placebo. Tratamentos psicológicos específicos para episódio depressivo são efetivos com maiores evidências para depressões leves a moderadas: eficácia no tratamento agudo das depressões para as seguintes formas de tratamentos psicológicos: psicoterapia cognitivo-comportamental, psicoterapia comportamental, psicoterapia interpessoal e psicoterapia de resolução de problemas. As evidências sugerem 1) uma eficácia semelhante para antidepressivos, psicoterapia ou tratamentos combinados em depressões leves a moderadas; 2) uma maior eficácia de tratamentos combinados (antidepressivos + psicoterapia) em depressões moderadas a graves; e 3) uma ausência de evidência para depressões muito graves. Diferentes antidepressivos têm eficácia semelhante para a maioria dos pacientes deprimidos, variando em relação ao perfil de efeitos colaterais e potencial de interação com outros medicamentos: antidepressivos comumente disponíveis têm eficácia comparável para a maioria dos pacientes vistos em cuidados primários ou em ambulatório. As metanálises sobre efeitos colaterais no uso agudo de antidepressivos têm se concentrado na comparação entre os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) e os tricíclicos. O uso de ISRS está associado com menor índice de abandono de tratamento comparado com os tricíclicos, mas a diferença absoluta é de apenas 3 a 5%. Esta diferença, no entanto, pode aumentar com a duração do tratamento e pode ser maior na prática clínica diária. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS Consultas com frequência semanal no início do tratamento estão associadas a maior adesão e melhores resultados em curto prazo: necessidade da monitorização de resposta, efeitos colaterais, adesão a tratamento e risco de suicídio reforçam a frequência semanal como a recomendável na fase inicial do tratamento. Resposta ao tratamento agudo com antidepressivo é observada entre duas e quatro semanas após o início do uso; contudo o início da resposta costuma ocorrer na primeira semana: resposta clinicamente significativa ao antidepressivo não é imediata e costuma ocorrer entre a segunda e a quarta semana de uso. No entanto, o início de ação parece já ocorrer na primeira semana. Ausência de resposta em quatro semanas diminui a chance de haver resposta posterior com o mesmo tratamento, embora alguns pacientes possam vir a responder em seis semanas. Quando um paciente não responde ao tratamento a recomendação é revisar os fatores relacionados à não resposta: o (1) Diagnóstico correto, avaliando a possibilidade de doença médica ou psiquiátrica concorrente. o (2) Adesão a tratamento: adesão ao tratamento antidepressivo é relativamente baixa (65%) o (3) Longa duração da doença. o (4) Dificuldades sociais crônicas e eventos de vida persistentes. o (5) Episódio grave ou com sintomas psicóticos. o (6) Distimia e transtorno de personalidade grave. Estratégias utilizadas quando um paciente nãoresponde ao tratamento com medicamento antidepressivo consiste em: (1) aumento de dose; Thais Alves Fagundes (2) potencialização com lítio ou tri-iodotironina (T3); (3) associação de antidepressivos; (4) troca de antidepressivo; (5) eletroconvulsoterapia (ECT); (6) associação com psicoterapia. Planejamento de um tratamento antidepressivo envolve a fase aguda, de continuação e de manutenção, cada uma com objetivos específicos: 1. FASE AGUDA: fase aguda inclui dois a três primeiros meses e tem como objetivo a diminuição dos sintomas depressivos (resposta) ou idealmente ao esbatimento completo com o retorno do nível de funcionamento pré-mórbido (remissão). 2. FASE DE CONTINUAÇÃO: corresponde aos quatro a seis meses que seguem ao tratamento agudo e tem como objetivo manter a melhoria obtida, evitando as recaídas dentro de um mesmo episódio depressivo. Ao final da fase de continuação, o paciente que permanece com a melhora inicial é considerado recuperado do episódio índex. Dose efetiva do tratamento de continuação é a mesma do tratamento agudo: benefício de continuar com a mesma dose do tratamento agudo quando comparado com reduzir a dose. 3. FASE DE MANUTENÇÃO: objetivo da fase de manutenção é o de evitar que novos episódios ocorram (recorrência). Recomendada naqueles pacientes com probabilidade de recorrência. Tratamento de manutenção reduz a taxa de recorrência em pacientes com três ou mais episódios nos últimos cinco anos. Existem fatores que parecem estar associados a um maior risco de recaídas/recorrências: (1) número de episódios prévios; (2) sintomas residuais; (3) gravidade de sintomas depressivos; (4) duração mais longa do episódio; (5) psicose; (6) nível de resistência a tratamento; (7) sexo feminino; (8) estresse social/pouco ajustamento social; e (9) eventos de vida. Suspensão abrupta de medicações antidepressivas está associada ao aparecimento de sintomas de descontinuação: suspensão abrupta do tratamento antidepressivo pode levar a sintomas de descontinuação que ocorrem entre os primeiros dias até três semanas. RECOMENDAÇÕES ENCAMINHAMENTO/CONSULTORIA AO PSIQUIATRA PELO MÉDICO NÃO ESPECIALISTA: Indicado quando: 1. Risco de suicídio; 2. Sintomas psicóticos; 3. História de transtorno afetivo bipolar. Thais Alves Fagundes Apropriado quando: 1. Médico sente-se incapaz de lidar com o caso; 2. Duas ou mais tentativas de tratamento antidepressivo mal-sucedidas ou com resposta parcial. INDICAÇÕES DE TRATAMENTO ANTIDEPRESSIVO: medicamentos antidepressivos primeira linha de tratamento. Episódios depressivos leves (primeiro episódio): 1. Antidepressivos não estão indicados; 2. Educação, suporte e simples solução de problemas são recomendados; 3. Monitoração para a persistência ou para o desenvolvimento de episódio depressivo moderado a grave. Episódios depressivos leves persistentes: teste terapêutico com medicamento antidepressivo. Episódio depressivo leve em paciente com história prévia de episódio depressivo moderado a grave: considerar tratamento com antidepressivo. Episódios depressivos leves a moderados: psicoterapias específicas para depressão (cognitiva e interpessoal) são alternativas efetivas aos medicamentos, dependendo da disponibilidade de profissionais e preferência do paciente. ESCOLHA DO MEDICAMENTO ANTIDEPRESSIVO: 1. Individualize o tratamento considerando os aspectos específicos do paciente 2. Na ausência de fatores especiais, escolha antidepressivos bem tolerados, seguros quando tomados em excesso e mais prováveis de serem tomados nas doses prescritas. Há mais evidências em relação a estes critérios para os ISRS. No entanto, mirtazapina, reboxetina e venlafaxina são também seguros e bem tolerados. 3. Para episódios depressivos graves em pacientes hospitalizados, considerar o uso dos tricíclicos ou venlafaxina preferencialmente; 4. Leve em conta também os seguintes fatores: a) Resposta prévia a uma droga particular; b) Tolerabilidade e efeitos adversos em relação a uma droga prévia; c) Perfil de efeitos colaterias (p.ex. ganho de peso, sedação, alterações na sexualidade); d) Baixa letalidade se risco de suicídio atual ou passado; e) Doença física concomitante que pode dificultar o uso de um antidepressivo específico; f) Uso de medicamentos concomitantes que possa interagir com o medicamento antidepressivo; g) Doença psiquiátrica concomitante que possa responder a um antidepressivo específico (p.ex. transtorno obsessivocompulsivo e ISRS); h) Preferência do paciente; i) Custo. MANEJO DA AUSÊNCIA DE RESPOSTA AO TRATAMENTO PROPOSTO INICIALMENTE: 1. Trate um episódio depressivo por pelo menos quatro semanas antes de considerar modificação da estratégia. 2. Se ausência de resposta em quatro semanas: a. Verificar dose e adesão ao tratamento; b. Revisar diagnóstico, incluindo possibilidade da presença de comorbidade psiquiátrica ou de doença física, que deve então receber tratamento; c. Considerar presença de fatores sociais que devem ser abordados caso presentes. 3. Se resposta parcial em quatro semanas: a. Continuar o tratamento por mais duas semanas. Thais Alves Fagundes 4. Se ausência de resposta em quatro semanas (após verificação do item 2) ou resposta parcial após seis semanas: a. Aumentar a dose; b. Substituir por outra classe de antidepressivos; c. Considerar a troca para IMAO em pacientes com sintomas atípicos (ganho de peso, hipersonia, hipersensibilidade a críticas, humor reativo a eventos externos). 5. Ausência de resposta a um segundo antidepressivo: a. Adicionar um agente potencializador; b. Adicionar psicoterapia; c. Eletroconvulsoterapia. TRATAMENTO DE CONTINUAÇÃO: 1. Continue o tratamento antidepressivo por pelo menos seis meses após a remissão dos sintomas do episódio depressivo. 2. Nos pacientes que persistem com sintomas residuais, mantenha o tratamento por tempo mais prolongado. 3. Mantenha a mesma dose utilizada na fase aguda. 4. Caso haja uma recaída durante a fase de continuação, use os mesmo princípios de não resposta a tratamento. TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO: 1. Tratamento de manutenção está indicado nas seguintes situações: a. Três ou mais episódios depressivos nos últimos cinco anos; b. Mais que cinco episódios ao todo ao longo da vida; c c. Risco persistente de recaída. 2. Mantenha a mesma dose utilizada na fase aguda. 3. Tratamento de manutenção deve ser feito por pelo menos cinco anos e, provavelmente, indefinidamente. 4. Recorrência de um episódio depressivo deve ser tratada utilizando os mesmos princípios de não resposta ao tratamento. PRECAUÇÕES A SEREM TOMADAS QUANDO DA RETIRADA DE UM ANTIDEPRESSIVO: 1. Para retirar um antidepressivo, baixe gradualmente a dose durante, pelo menos, quatro semanas. 2. Em pacientes em tratamento de manutenção de longa duração, baixe gradualmente a dose ao longo de seis meses. 3. Se a reação de descontinuação ocorrer, explique e tranquilize o paciente. No caso de reação de descontinuação mais intensa, o antidepressivo deve ser reintroduzido e retirado mais lentamente TRATAMENTO PARA A DEPRESSÃO RESISTENTE COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA: Estimulação do nervo vago: estimulação do nervo vago (ENV) por meio de um dispositivo eletrônico implantado na pele, semelhante a um marca-passo cardíaco, fizeram com que muitos pacientes com transtorno depressivo maior recorrente, crônico, entravam em remissão. Mecanismo de ação da ENV para explicar a melhora é desconhecido. O nervo vago conecta-se ao sistema nervoso entérico e, quando estimulado, pode provocar a liberação de peptídeos que agem como neurotransmissores. Estimulação magnética transcraniana (EMT): envolve o uso de pulsos muito curtos de energia magnética para estimular células nervosas no cérebro. É indicada especificamente para o tratamento de depressão em adultos que não conseguiramobter uma melhora satisfatória com um medicamento antidepressivo anterior na dose e duração efetivas mínimas ou acima delas no episódio atual. A estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) produz Thais Alves Fagundes estimulação elétrica secundária focal de regiões corticais de interesse. Ela não é convulsivante, não requer anestesia, tem um perfil de efeito colateral seguro e não está associada com efeitos colaterais cognitivos. É um procedimento ambulatorial de 40 minutos prescrito por um psiquiatra, realizado no consultório, e costuma ser administrado diariamente por 4 a 6 semanas. O evento adverso mais comum relacionado ao tratamento foi dor ou desconforto no couro cabeludo. HARRISON: Eletroconvulsoterapia costuma ser reservada para a depressão resistente ao tratamento não responsiva à medicação ou para os pacientes nos quais o uso de antidepressivos é clinicamente contraindicado. Estimulação magnética transcraniana (EMT) está aprovada para a depressão resistente ao tratamento. Estimulação do nervo vago (ENV) foi aprovada para a depressão resistente ao tratamento, mas o seu grau de eficácia é controverso. Outras abordagens para a depressão refratária incluem a estimulação transcraniana por corrente (ETc) de baixa intensidade, as formas intravenosas e intranasais da cetamina e a estimulação cerebral profunda da cápsula interna e da região cingulada. FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS
Compartilhar