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� de �1 39 Abertura - PROBLEMA 5 - DEPRESSÃO LEITURA DO PROBLEMA 6º ETAPA - MÓD 1 - PSIQUIATRIA 26/08/2021 ALICE ROCCO BRAINSTORM Transtorno bipolar → mudança abrupta de humor, hiperreação e hiperreação; episódios de mania (manifesta perigo para si mesma, perigo para os outros, episódios compulsivos, episódios de grandeza; não tem cura; Depressão → hiporreação, insônia, perda de peso, baixa autoestima, tristeza profunda, falta de sentimentos de prazer, falta de perspectiva, perda de interesse, cansaço, fadiga Pensamento de morte: pode morrer a qualquer momento ideação suicida: tenta algo contra a própria vida, e planeja a própria morte Estágios da ideação suicida (sinais de alerta): desejo, ato…. Internação compulsória 1. Descrever os principais transtornos de humor (distimia, depressão maior e transtorno bipolar) —> epidemiologia, fisiopatologia, QC, diagnósticos e tratamento 2. Diferenciar o pensamento de morte e a ideação suicida 3. Descrever os fatores de risco e proteção para o suicídio (o que aumenta o risco da pessoa cometer suicídio) 4. Explicar o manejo do paciente com ideação suicida � de �2 39 Tristeza → essencial para se tornar forte, não é sinônimo de depressão. → melancolia X depressão → Sistema de recompensa → dopamina e serotonina muito baixa → irritação e tristeza epidemiologia: acomete mais homens do que mulheres, e aumenta a partir da meia idade REFERÊNCIAS RECOMENDADAS DSM V —-> 1º recurso Kaplam —-> depois do DSM pra ver cada doença específica Golan —-> para tratamento farmacológico Artigo —-> bem embasados Ministério da Saúde —-> sobre suicídio (atentar-se para red flags) OBJETIVOS DESCREVER OS PRINCIPAIS TRANSTORNOS DE HUMOR: DISTIMIA, DEPRESSÃO MAIOR E TRANSTORNO BIPOLAR ———> EPIDEMIO, FISIOPATO, QC, DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTO DISTIMIA DEFINIÇÃO Também conhecida como TRANSTORNO DEPRESSIVO PERSISTENTE, a distimia (literalmente significa mau humorado) apresenta humor deprimido na maior parte do dia em quase todos os dias, podendo estar associado a sentimentos de inadequação, culpa, irritabilidade, afastamento da sociedade, perda de interesse e falta de produtividade. Antigamente, grande parte dos pacientes distímicos eram classificados com NEUROSE DEPRESSIVA. A distinção do TDM ocorre pois os pacientes se queixam que SEMPRE ESTIVERAM DEPRIMIDOS, por isso diz-se que é uma doença de INÍCIO PRECOCE, geralmente na infância/ adolescência. Há um subtipo TARDIO em que é menos prevalente e menos conhecido clinicamente, geralmente de início nas POPULAÇÕES DE MEIA IDADE e GERIÁTRICA. Seu conceito central é marcado por um TRANSTORNO DEPRESSIVO SUBCLÍNICO com: ➔ Cronicidade de baixo grau por pelo menos 2 anos ➔ Início insidioso, com origem na infância ou adolescência ➔ Curso persistente ou intermitente Os pacientes com distimia apresentam considerável INCAPACITAÇÃO e PREJUÍZO no convívio social, procurando mais frequentemente o serviço de saúde e fazendo maior uso de PSICOTRÓPICOS – o caráter CUMULATIVO E PERSISTENTE dos sintomas confere aos distímicos um FUNCIONAMENTO INFERIOR AOS pacientes COM TDM. EPIDEMIOLOGIA Comum entre a população geral, afetando entre 5-6% das pessoas. Em clínicas psiquiátricas, afeta entre a METADE e UM TERÇO de todos eles. Na idade adulta, i.e., distimia tardia, as mulheres apresentam 2 a 3X mais chances de desenvolver. É mais comum em solteiros e naqueles em relacionamentos insatisfatórios. Apresenta ALTA COMORBIDADE, com mais de 75% dos pacientes sendo com outros transtornos do eixo 1, principalmente o depressivo maior, dentre as quais há menor probabilidade de remissão completa entre os episódios. ETIOLOGIA ➔ Fatores Biológicos – A base biológica dos SINTOMAS da distimia e do TDM é semelhante, mas a causa da FISIOPATOLOGIA é diferente! � de �3 39 6º ETAPA - MÓD 1 - PSIQUIATRIA 30/08/2021 ALICE ROCCO Fechamento - PROBLEMA 5 - DEPRESSÃO ➔ Estudos do sono – redução da latência dos movimentos oculares rápidos, i.e., redução do tempo entre o início do sono e o início do sono REM, e o aumento da densidade de REM (mais REM) ➔ Estudos Neuroendócrinos – Os principais eixos observados são o da SUPRARRENAL e o TIREOIDIANO, por meio da supressão com dexametasona e da estimulação com o hormônio liberador da tireotrofina, respectivamente. ➔ Fatores Psicossociais – as principais teorias psicodinâmicas postulam que a distimia é resultante do desenvolvimento da PERSONALIDADE e do EGO, o que culmina em dificuldades de adaptação à adolescência e à idade adulta jovem → por isso tem início precoce ➔ Teoria Cognitiva – a teoria cognitiva da depressão também se aplica à distimia → defende que a disparidade entre situações REAIS e FANTASIADAS leva a diminuição da AUTOESTIMA e a um SENSO DE IMPOTÊNCIA DIAGNÓSTICO E QUADRO CLÍNICO Presença de HUMOR DEPRIMIDO a maior parte do dia, por, pelo menos, 2 ANOS em adultos e 1 ANO em crianças e adolescentes. Para satisfazer os critérios, o paciente não deve ter sintomas que fechem diagnóstico para TDM e jamais pode ter episódios maníacos ou hipomaníacos. DSM V permite avaliar, também, se é uma DISTIMIA DE INÍCIO PRECOCE (antes dos 21 anos) ou DISTIMIA DE INÍCIO TARDIO (depois dos 21). Embora o quadro clínico da distimia muitas vezes se sobreponha ao da depressão, percebe -se que os SINTOMAS tendem a ser mais numerosos que os SINAIS, ou seja, é muito mais SUBJETIVA e dependente do relato do paciente! Aqueles sinais mais observados no TDM, como alteração no apetite, na libido e psicomotora, são menos observados, predominando manifestações endógenas sutis (inércia, anedonia matinal, letargia)!! Os principais aspectos da distimia primária incluem TRISTEZA HABITUAL, RUMINAÇÃO, FALTA DE ALEGRIA NA VIDA e PREOCUPAÇÃO COM A INADEQUAÇÃO, i.e., a distimia é melhor caracterizada como uma DEPRESSÃO DE LONGA DURAÇÃO, FLUTUANTE, DE BAIXO GRAU (KAPLAM) Os critérios diagnósticos do DSM-5 para distimia (Tab. 8.2-1) estipulam a presença de um humor deprimido a maior parte do tempo por pelo menos dois anos (ou um ano, para crianças e adolescentes). Para satisfazer os critérios diagnósticos, um paciente não deve ter sintomas que sejam mais bem explicados por um transtorno depressivo maior e jamais ter tido um episódio maníaco ou hipomaníaco. O DSM-5 possibilita aos clínicos especificar se o início foi precoce (antes dos 21 anos) ou tardio (21 anos ou mais velho). Além disso, permite a especificação de aspectos atípicos na distimia. O perfil da distimia sobrepõe-se ao do transtorno depressivo maior, mas difere dele pelo fato de os sintomas tenderem a ser mais numerosos do que os sinais (depressão mais subjetiva do que objetiva). Isso significa que as alterações no apetite e na libido não são características e que agitação ou retardo psicomotor não são observados. Tudo isso se traduz em uma depressão com sintomatologia atenuada. Entretanto, são vistas manifestações endógenas sutis, incluindo inércia, letargia e anedonia caracteristicamente piores pela manhã. Em razão de os pacientes por vezes alternarem entre episódios de depressão maior e períodos livres dela, os critérios essenciais do DSM-5 para distimia tendem a enfatizar a disfunção vegetativa; porém, sintomas cognitivos costumam estar presentes. � de �4 39 A distimia é bastante heterogênea. A ansiedade não é um componente necessário de seu quadro clínico; contudo, o transtorno é com frequência diagnosticado em pacientes com transtornos de ansiedade e fóbicos. Essa situação clínica é, às vezes, diagnosticada como transtorno misto de ansiedade e depressão. Para maior clareza operacional, é melhor restringir a distimia a uma condição primária, que não pode ser explicada por outro transtorno psiquiátrico. Os aspectos essenciais da distimia primária incluem tristeza habitual, ruminação, falta de alegria na vida e preocupação com inadequação. A distimia, então, é mais bem caracterizadacomo uma depressão de longa duração, flutuante, de baixo grau, vivenciada como uma parte intrínseca ao indivíduo e representando uma acentuação de traços observados no temperamento depressivo (Tab. 8.2-2). O quadro clínico da distimia é variado, com alguns pacientes progredindo para depressão maior enquanto outros manifestam sua patologia principalmente na personalidade. Variantes distímicas. A distimia é comum em indivíduos com transtornos físicos crônicos incapacitantes, em particular entre os idosos. Uma depressão subliminar, clinicamente significativa, semelhante a distimia, com duração de seis meses ou mais, também tem sido relatada em condições neurológicas, incluindo acidentes vasculares cerebrais. De acordo com uma recente conferência da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa condição agrava o prognóstico da doença neurológica subjacente e, portanto, merece tratamento farmacológico. Estudos prospectivos com crianças revelaram um curso episódico de distimia com remissões, exacerbações e complicações eventuais por episódios depressivos maiores, 15 a 20% dos quais podem até progredir para episódios hipomaníacos, maníacos ou mistos na pós-puberdade. Pessoas com distimia manifestada clinicamente na vida adulta tendem a seguir um curso unipolar crônico que pode ou não ser complicado por depressão maior. É pouco provável que desenvolvam hipomania ou mania espontânea. Contudo, quando tratadas com antidepressivos, algumas podem apresentar mudanças hipomaníacas breves, que tendem a desaparecer quando a dose do antidepressivo é diminuída. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL – essencialmente idêntico ao do TDM – Existem DOIS TRANSTORNOS de particular importância para DD de distimia ➔ Transtorno Depressivo Menor – caracterizado por episódios de sintomas depressivos menos graves que os do TDM, sendo a principal diferença entre a DISTIMIA e o TD Menor: o HUMOR EUTÍMICO que pode aparecer nesse último ➔ Transtorno Depressivo Breve Recorrente – caracterizado por períodos breves (menos de 2 semanas) de sintomas depressivos – diferem dos distímicos pois apresentam TRANSTORNO EPISÓDICO e de sintomas MAIS GRAVES ➔ Depressão Dupla – cerca de 40% dos pacientes com DM podem apresentar distimia – pior prognóstico ➔ Abuso de Álcool e Substâncias - Essa comorbidade pode ter lógica; esses pacientes tendem a desenvolver métodos para lidar com seu estado depressivo crônico que envolvem abuso de substâncias � de �5 39 CURSO E PROGNÓSTICO Cerca de 50% dos pacientes com distimia vivenciam um início insidioso de sintomas antes dos 25 anos de idade. Apesar do início precoce, eles costumam sofrer com os sintomas por uma década antes de procurar ajuda psiquiátrica e podem considerar o transtorno simplesmente parte da vida. Esses indivíduos estão em risco tanto para transtorno depressivo maior quanto para transtorno bipolar I. Estudos de indivíduos com diagnóstico de distimia indicam que cerca � de �6 39 de 20% progrediram para transtorno depressivo maior; 15%, para transtorno bipolar II; e, menos de 5%, para transtorno bipolar I. O prognóstico de pacientes com distimia varia. Agentes antidepressivos e tipos específicos de psicoterapias (p. ex., terapias cognitiva e comportamental) têm efeitos positivos no curso e no prognóstico do transtorno. Dados disponíveis sobre os tratamentos anteriormente disponíveis indicam que apenas 10 a 15% dos pacientes se encontram em remissão um ano após o diagnóstico inicial. Cerca de 25% de todos os pacientes com distimia nunca alcançam remissão completa. De modo geral, contudo, o prognóstico é bom com tratamento. TRATAMENTO Historicamente, indivíduos com distimia ou não recebiam tratamento, ou eram vistos como candidatos para psicoterapia de longo prazo orientada ao insight. Os dados atuais oferecem mais apoio objetivo para terapias cognitiva, comportamental e farmacológica. A combinação de terapia farmacológica e alguma forma de psicoterapia pode ser o tratamento mais eficaz para o transtorno. Terapia cognitiva. É a técnica na qual os pacientes aprendem novas formas de pensar e de se comportar para substituir atitudes negativas defeituosas em relação a si próprios, ao mundo e ao futuro. É um programa de terapia de curto prazo orientada aos problemas atuais e a sua resolução. Terapia comportamental. A terapia comportamental para os transtornos depressivos baseia-se na teoria de que a depressão é causada pela perda de reforços positivos como resultado de separação, morte ou mudanças súbitas no ambiente. Os vários métodos de tratamento focalizam objetivos específicos para aumentar a atividade, proporcionar experiências agradáveis e ensinar os pacientes a relaxar. Alterar o comportamento pessoal em indivíduos deprimidos parece ser a maneira mais eficiente de mudar os pensamentos e sentimentos depressivos associados. A terapia comportamental costuma ser utilizada para tratar o desamparo instruído de alguns pacientes que parecem enfrentar os desafios da vida diária com um sentimento de impotência. Psicoterapia (psicanalítica) orientada ao insight. A psicoterapia orientada ao insight individual é o método de tratamento mais comum para distimia, e muitos médicos o consideram a melhor escolha. A abordagem psicoterapêutica tenta relacionar o desenvolvimento e a manutenção de sintomas depressivos e aspectos da personalidade mal-adaptativos a conflitos não resolvidos da primeira infância. O insight quanto aos equivalentes depressivos (p. ex., abuso de substâncias) ou a desapontamentos da infância como antecedentes da depressão no adulto pode ser obtido por meio do tratamento. Relacionamentos ambivalentes atuais com pais, amigos ou outras pessoas na vida do paciente são examinados. A compreensão dos pacientes de como tentam satisfazer uma necessidade excessiva de aprovação externa como contrapartida para sua baixa autoestima e um superego severo é um objetivo importante dessa terapia. Terapia interpessoal. Na terapia interpessoal para os transtornos depressivos, as experiências interpessoais atuais do paciente e suas formas de lidar com o estresse são examinadas para reduzir os sintomas depressivos e melhorar sua autoestima. Essa terapia dura � de �7 39 aproximadamente 12 a 16 sessões semanais e pode ser combinada com medicamentos antidepressivos. Terapias familiar e de grupo. A terapia familiar pode ajudar tanto o paciente como sua família a lidar com os sintomas do transtorno, especialmente quando uma síndrome subafetiva de base biológica parece estar presente. A terapia de grupo pode ajudar pacientes reclusos a aprender novas formas de superar seus problemas interpessoais em situações sociais. Farmacoterapia. Devido às crenças teóricas de longa data e que costumam ser mantidas de que a distimia é primariamente uma condição determinada por fatores psicológicos, vários médicos evitam prescrever antidepressivos; entretanto, muitos estudos demonstraram sucesso terapêutico com esses agentes. Em geral, os dados indicam que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), a venlafaxina e a bupropiona são tratamentos eficazes para pacientes com distimia. Os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) são eficazes em um subgrupo de pacientes com o transtorno, o qual também pode responder ao uso criterioso de anfetaminas. Hospitalização. A hospitalização em geral não é indicada para pacientes com distimia, mas sintomas particularmente graves, incapacitação social ou profissional acentuada, a necessidade de procedimentos diagnósticos extensivos e ideação suicida são todos indicações para hospitalização. DEPRESSÃO UNIPOLAR / DEPRESSÃO MAIOR (TDM) DEFINIÇÃO É um transtorno depressivo maior que ocorre SEM HISTÓRIA DE EPISÓDIO MANÍACO OU HIPOMANÍACO e tem como traço principal o DESÂNIMO (disforia), que está presente na maior parte do dia e em vários dias, frequentemente acompanhado de ANGÚSTIA e INCAPACIDADE DE SENTIR PRAZER (anedonia), com consequente PERDA DE INTERESSE NOMUNDO. O transtorno depressivo maior se diferencia da tristeza normal ou do luto pela GRAVIDADE, ONIPRESENÇA, DURAÇÃO e ASSOCIAÇÃO COM OUTROS SINTOMAS FISIOLÓGICOS, COMPORTA MENTAIS E COGNITIVOS. EPIDEMIOLOGIA ➔ Incidência e Prevalência – o transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao longo da vida de todos os transtornos psiquiátricos (17%) e apresenta acentuada diferença na prevalência entre as FAIXAS ETÁRIAS, sendo em indivíduos entre 18 e 29 anos 3X MAIOR que os acima de 60 anos. Sua incidência tem probabilidade aumentada na PUBERDADE, sendo o pico aos 20 anos. ➔ Sexo – No transtorno depressivo maior, independente do país ou da cultura, há uma prevalência 1,5 a 3X MAIOR do transtorno depressivo em MULHERES do que em homens. As hipóteses para tal incluem as diferenças hormonais, efeitos do parto, estressores psicossociais diferentes para mulheres. A influência do sexo é maior na PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA, não alterando, entretanto, o CURSO OU A RESPOSTA AO TRATAMENTO. Há um RISCO MAIOR DE TENTATIVA DE SUICÍDIO nas mulheres e um RISCO MENOR DE SUICÍDIO COMPLETO! � de �8 39 ➔ Idade – Cerca de metade dos casos acomete jovens com menos de 25 anos, e, quanto mais cedo na vida aconteceu o episódio, maior a chance de RECORRÊNCIA (2º episódio). Quando ocorre o 2º episódio, um PADRÃO DE REMISSÕES se instala. A faixa etária de 35 a 49 anos esteve mais associada com risco aumentado, especialmente na Nova Zelândia, nos Estados Unidos e no Brasil. ➔ Estado Civil – mais frequente em pessoas SEM relacionamentos interpessoais íntimos e naquelas DIVORCIADAS. Transtornos mentais foram POSITIVAMENTE associados com casamentos precoces (antes dos 18 anos) e NEGATIVAMENTE com casamentos em idades superiores. ETIOLOGIA Fatores biológicos Muitos estudos relataram anormalidades biológicas em pacientes com transtornos do humor. Até recentemente, os neurotransmissores monoaminégicos –norepinefrina, dopamina, serotonina e histamina – eram o centro das teorias e da pesquisa sobre a etiologia desses transtornos. Tem ocorrido uma mudança progressiva do foco nos distúrbios de sistemas de um único neurotransmissor em favor do estudo de sistemas neurocomportamentais, circuitos neurais e mecanismos neurorreguladores mais complexos. Os sistemas monoaminérgicos, portanto, são agora considerados sistemas neuromodulares, mais amplos, e os distúrbios tendem a ser efeitos tanto secundários ou epifenomenais quanto relacionados direta ou casualmente com a etiologia e a patogenia. Aminas biogênicas. Das aminas biogênicas, a norepinefrina e a serotonina são os dois neurotransmissores mais implicados na fisiopatologia dos transtornos do humor. NOREPINEFRINA. A correlação sugerida por estudos de ciências básicas entre a down regulation dos receptores -adrenérgicos e as respostas clínicas aos antidepressivos é provavelmente a evidência isolada mais convincente indicando um papel direto do sistema noradrenérgico na depressão. Outras evidências implicaram também os receptores 2 pré- sinápticos na depressão, visto que sua ativação resulta em redução da quantidade de norepinefrina liberada. Esses receptores também estão localizados nos neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. A eficácia clínica dos antidepressivos com efeitos noradrenérgicos – por exemplo, a venlafaxina – apoia ainda mais um papel da norepinefrina na fisiopatologia de pelo menos alguns dos sintomas da depressão. SEROTONINA. Com o forte efeito que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) – por exemplo, a fluoxetina – têm tido sobre o tratamento da depressão, a serotonina se tornou a amina biogênica neurotransmissora mais comumente associada à depressão. A identificação de múltiplos subtipos de receptores serotonérgicos também aumentou a expectativa da comunidade de pesquisa sobre o desenvolvimento de tratamentos ainda mais específicos para depressão. Além do fato de os ISRSs e outros antidepressivos serotonérgicos serem eficazes no tratamento da depressão, outros dados indicam que a serotonina está envolvida na fisiopatologia desse transtorno. A depleção da serotonina pode precipitar depressão, e alguns pacientes com impulsos suicidas têm concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal (LCS) e concentrações baixas de zonas de captação de serotonina nas plaquetas. � de �9 39 DOPAMINA. Embora a norepinefrina e a serotonina sejam as aminas biogênicas associadas com mais frequência à fisiopatologia da depressão, há a teoria de que a dopamina também desempenhe um papel. Dados indicam que sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na mania. A descoberta de novos subtipos de receptores de dopamina e o aumento no entendimento da regulação pré e pós-sináptica de sua função enriqueceram ainda mais a pesquisa sobre a relação entre a dopamina e os transtornos do humor. Os medicamentos que reduzem as concentrações da dopamina – por exemplo, a reserpina – e as doenças que também têm esse efeito (p. ex., doença de Parkinson) estão associados com sintomas depressivos. Em contraste, medicamentos que aumentam suas concentrações, como a tirosina, a anfetamina e a bupropiona, reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias recentes sobre dopamina e depressão são que a via mesolímbica da dopamina pode ser disfuncional e que seu receptor D1 pode ser hipoativo na depressão. Outros distúrbios de neurotransmissores. A acetilcolina (ACh) é encontrada nos neurônios que se distribuem de forma difusa por todo o córtex cerebral. Os neurônios colinérgicos têm relações recíprocas ou interativas com todos os três sistemas de monoamina. Níveis anormais de colina, que é um precursor de ACh, foram encontrados na necropsia de cérebros de alguns pacientes deprimidos, talvez refletindo anormalidades na composição de fosfolipídeo das células. Agentes agonistas e antagonistas colinérgicos têm efeitos clínicos diferentes sobre depressão e mania. Os agonistas podem produzir letargia, falta de energia e retardo psicomotor em indivíduos saudáveis, exacerbar os sintomas na depressão e reduzir os sintomas na mania. Esses efeitos em geral não são suficientemente fortes para ter implicações clínicas, e os efeitos adversos são problemáticos. Em um modelo animal de depressão, linhagens de camundongos supersensíveis ou subsensíveis a agonistas colinérgicos revelaram-se suscetíveis ou mais resistentes a desenvolver impotência aprendida (discutida mais adiante). Os agonistas colinérgicos podem induzir alterações na atividade hipotalâmico- hipofisário-suprarrenal (HHS) e no sono que imitam aquelas associadas com depressão grave. Alguns pacientes com transtornos do humor em remissão, bem como seus parentes em primeiro grau que nunca tiveram a doença, têm aumento do traço de sensibilidade-tipo a agonistas colinérgicos. O ácido -aminobutírico (GABA) tem um efeito inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgico, particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. Reduções dos níveis plasmático, do LCS e cerebral de GABA foram observadas na depressão. Estudos com animais também revelaram que o estresse crônico pode reduzir e, por fim, esgotar os níveis de GABA. Por sua vez, os receptores de GABA sofrem regulação ascendente por antidepressivos, e alguns medicamentos GABAérgicos têm efeitos antidepressivos fracos. Os aminoácidos glutamato e glicina são os principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios no SNC. Esses aminoácidos ligam-se a sítios associados com o receptor de N- metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. Significativamente, existe alta concentração de receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato, portanto, pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão recorrente grave. Evidências recentes apontam que agentes que antagonizam os receptores NMDA têm efeitosantidepressivos. � de �10 39 Segundos mensageiros e cascatas intracelulares. A ligação de um neurotransmissor e um receptor pós-sináptico desencadeia uma cascata de processos ligados à membrana e intracelulares mediados por sistemas de segundo mensageiro. Os receptores nas membranas celulares interagem com o ambiente intracelular por meio de proteínas ligantes do nucleotídeo guanina (proteínas G). As proteínas G, por sua vez, se conectam a várias enzimas intracelulares (p. ex., adenilato ciclase, fosfolipase C e fosfodiesterase) que regulam a utilização de energia e a formação de segundos mensageiros, como o nucleotídeo cíclico (p. ex., adenosina monofosfato cíclico [cAMP] e monofosfato cíclico de guanosina [cGMP]), bem como os fosfatidilinositóis (p. ex., inositol trifosfato e diacilglicerol) e cálcio-calmodulina. Os segundos mensageiros regulam a função dos canais iônicos da membrana neuronal. Evidências crescentes também indicam que agentes estabilizadores do humor agem sobre as proteínas G ou outros segundos mensageiros. Alterações da regulação hormonal. Alterações duradouras nas respostas neuroendócrinas e comportamentais podem resultar de estresse precoce grave. Estudos com animais indicam que mesmo períodos transitórios de privação materna podem alterar as respostas subsequentes a estresse. A atividade do gene codificando para o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após estresse crônico, assim como o processo de neurogênese. Estresse prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado funcional dos neurônios e acabar levando a morte celular. Estudos recentes com humanos deprimidos revelam que uma história de trauma precoce está associada com atividade HHS aumentada acompanhada de alterações estruturais (i.e., atrofia ou diminuição de volume) no córtex cerebral. Atividade de HHS elevada é uma característica de respostas a estresse em mamíferos e uma das ligações mais claras entre depressão e a biologia do estresse crônico. Hipercortisolemia na depressão sugere um ou mais dos seguintes distúrbios centrais: tônus inibitório de serotonina diminuído; impulso aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio liberador de corticotrofina (CRH); ou diminuição da inibição do feedback do hipocampo. A evidência de aumento da atividade do eixo HHS é aparente em 20 a 40% dos pacientes ambulatoriais deprimidos e em 40 a 60% dos internados deprimidos. A atividade elevada de HHS na depressão foi documentada por meio de excreção de cortisol livre urinário (UFC), coletas de níveis de cortisol plasmático intravenoso (IV) de 24 horas (ou de segmentos de tempo mais curtos), níveis de cortisol salivar e testes da integridade da inibição de feedback. Um distúrbio desta última é testado pela administração de dexametasona (0,5 a 2,0 mg), um glicocorticoide sintético potente que costuma suprimir a atividade do eixo HHS por 24 horas. A não supressão da secreção de cortisol às 8h da manhã seguinte ou subsequente não supressão às 16h ou às 23h é indicativa de comprometimento da inibição do feedback. A hipersecreção de cortisol e a não supressão de dexametasona não estão perfeitamente correlacionadas (em torno de 60% de concordância). Um desenvolvimento mais recente para melhorar a sensibilidade do teste envolve infusão de uma dose de teste de CRH após a supressão de dexametasona. Esses testes de inibição de feedback não são utilizados como um teste diagnóstico porque hiperatividade adrenocortical (embora em geral menos prevalente) é observada na mania, na esquizofrenia, na demência e em outros transtornos psiquiátricos. � de �11 39 ATIVIDADE DO EIXO TIREOIDIANO. Aproximadamente 5 a 10% das pessoas avaliadas para depressão têm disfunção tireoidiana ainda não detectada, conforme refletido por nível basal do hormônio estimulante da tireoide (TSH) elevado ou resposta de TSH aumentada a uma infusão de 500 mg do neuropeptídeo hipotalâmico hormônio liberador de tireotrofina (TRH). Essas anormalidades muitas vezes estão associadas com níveis elevados de anticorpos antitireoidianos e, a menos que corrigido com terapia de reposição hormonal, podem comprometer a resposta ao tratamento. Um subgrupo ainda maior de pacientes deprimidos (p. ex., 20 a 30%) apresenta uma resposta de TSH embotada à administração de TRH. Até o momento, a principal implicação terapêutica de uma resposta de TSH embotada é a evidência de um risco aumentado de recaída apesar da terapia antidepressiva preventiva. Vale destacar que, ao contrário do teste de supressão com dexametasona (TSD), a resposta de TSH embotada a TRH geralmente não se normaliza com tratamento eficaz. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO. O hormônio do crescimento (GH) é secretado da hipófise anterior após estimulação por norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida por somatostatina, um neuropeptídeo hipotalâmico, e por CRH. Níveis de somatostatina do LCS diminuídos foram relatados na depressão e níveis aumentados foram observados na mania. PROLACTINA. A prolactina é liberada da hipófise pela estimulação da serotonina e é inibida por dopamina. A maioria dos estudos não encontrou anormalidades significativas da secreção de prolactina basal ou circadiana na depressão, embora uma resposta embotada a vários agonistas de serotonina tenha sido descrita. Essa resposta é incomum entre mulheres antes da menopausa, o que sugere que o estrogênio tenha um efeito moderador. Alterações da neurofisiologia do sono. A depressão está associada com perda prematura do sono profundo (de onda lenta) e aumento no despertar noturno. Este último é refletido por quatro tipos de distúrbio: (1) aumento nos despertares noturnos, (2) redução no tempo de sono total, (3) aumento do sono de movimentos oculares rápidos (REM) fásico e (4) aumento da temperatura corporal. A combinação de movimento REM aumentado e sono de onda lenta diminuído resulta em uma redução significativa no primeiro período de sono não REM (NREM), um fenômeno chamado de latência REM reduzida. Esta, junto com déficits do sono de onda lenta, normalmente persistem após a recuperação de um episódio depressivo. A secreção de GH embotada após o início do sono está relacionada com diminuição do sono de onda lenta e mostra comportamento independente de estado ou tipo traço semelhante. A combinação de latência REM reduzida, densidade REM aumentada e manutenção do sono diminuída identifica aproximadamente 40% dos pacientes ambulatoriais deprimidos e 80% dos internados deprimidos. Achados falso-negativos costumam ser observados em pacientes mais jovens, hipersonolentos, que, na verdade, podem experimentar aumento no sono de onda lenta durante episódios de depressão. Cerca de 10% dos indivíduos saudáveis têm perfis de sono anormais, e, como ocorre com a não supressão de dexametasona, casos de falso-positivos são vistos com frequência em outros transtornos psiquiátricos. Foi verificado que pacientes que manifestam um perfil de sono caracteristicamente anormal são menos responsivos a psicoterapia e apresentam um risco maior de recaída ou recidiva e podem se beneficiar, sobretudo, da farmacoterapia. Distúrbios imunológicos. Os transtornos depressivos estão associados com várias anormalidades imunológicas, incluindo diminuição da proliferação de linfócitos em resposta a � de �12 39 mitógenos e outras formas de imunidade celular comprometida. Esses linfócitos produzem neuromoduladores, como o fator liberador de corticotrofina (CRF), e citocinas, peptídeos conhecidos como interleucinas. Parece haver uma ligação com gravidade clínica, hipercortisolemia e disfunção imunológica, e a citocina interleucina-1 pode induzir atividade gênica para a síntese de glicocorticóide. Imagem cerebral estrutural e funcional. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) têm permitido métodos sensíveis e não invasivos para avaliar o cérebro vivo, incluindo os tratos cortical e subcortical, bem como lesões da substância branca.A anormalidade mais consistente observada nos transtornos depressivos é a maior frequência de hiperintensidades anormais nas regiões subcorticais, tais como as regiões periventriculares, os gânglios da base e o tálamo. Mais comuns no transtorno bipolar I e entre idosos, essas hiperintensidades parecem refletir os efeitos neurodegenerativos prejudiciais de episódios afetivos recorrentes. Aumento ventricular, atrofia cortical e alargamento sulcal também foram relatados em alguns estudos. Alguns pacientes deprimidos também podem ter volumes reduzidos do hipocampo ou do núcleo caudado, ou de ambos, sugerindo defeitos mais focais em sistemas neurocomportamentais relevantes. Áreas de atrofia difusas e focais foram associadas com maior gravidade da doença, bipolaridade e aumento dos níveis de cortisol. O achado de tomografia por emissão de pósitrons (PET) mais amplamente reproduzido na depressão é uma diminuição no metabolismo cerebral anterior, que é em geral mais pronunciada no lado esquerdo. De um ponto de vista diferente, a depressão pode estar relacionada com um aumento relativo na atividade do hemisfério não dominante. Além disso, uma inversão da hipofrontalidade ocorre após mudanças de depressão para hipomania, de modo que maiores reduções do hemisfério esquerdo são vistas na depressão, comparadas com maiores reduções do hemisfério direito na mania. Outros estudos observaram reduções mais específicas do fluxo sanguíneo ou do metabolismo cerebrais, ou de ambos, nos tratos dopaminergicamente inervados dos sistemas mesocortical e mesolímbico na depressão. Novamente, as evidências sugerem que os antidepressivos normalizam essas mudanças pelo menos em parte. Além de uma redução global do metabolismo cerebral anterior, foi observado aumento do metabolismo da glicose em diversas regiões límbicas, em particular entre pacientes com depressão recorrente relativamente grave e história familiar de transtorno do humor. Durante episódios de depressão, o aumento do metabolismo da glicose está correlacionado com ruminações importunas. Considerações neuroanatômicas. Tanto os sintomas de transtornos do humor como os achados das pesquisas biológicas apoiam a hipótese de que os transtornos do humor envolvem patologia do cérebro. A neurociência afetiva moderna focaliza-se na importância de quatro regiões cerebrais na regulação das emoções normais: o córtex pré-frontal (CPF), o cingulado anterior, o hipocampo e a amígdala. O CPF é considerado a estrutura que contém representações de objetivos e as respostas adequadas para alcançá-los. Essas atividades são particularmente importantes quando respostas comportamentais múltiplas e conflitantes são possíveis ou quando é necessário superar a excitação afetiva. As evidências indicam alguma especialização hemisférica na função do CPF. Por exemplo, enquanto a ativação do lado esquerdo de regiões do CPF é mais envolvida em comportamentos dirigidos a objetivos ou necessidades naturais, as regiões do CPF direito são implicadas em � de �13 39 comportamentos de esquiva e na inibição de atividades orientadas a necessidades naturais. Sub-regiões no CPF parecem localizar representações de comportamentos relacionados a recompensa e punição. Pensa-se que o córtex cingulado anterior (CCA) sirva como ponto de integração de estímulos atencionais e emocionais. Duas subdivisões foram identificadas: uma nas regiões rostral e ventral e uma subdivisão cognitiva envolvendo o CCA dorsal. A primeira compartilha conexões extensivas com outras regiões límbicas, e a última interage mais com o CPF e com outras regiões corticais. Foi proposto que a ativação do CCA facilita o controle da excitação emocional, sobretudo quando a realização do objetivo foi frustrada ou quando problemas novos foram encontrados. O hipocampo está mais claramente envolvido em várias formas de aprendizagem e memória, incluindo o condicionamento do medo, bem como na regulação inibitória da atividade do eixo HHS. A aprendizagem emocional ou contextual parece estar relacionada com uma conexão direta entre o hipocampo e a amígdala. A amígdala parece ser um local crucial para o processamento de estímulos novos de significado emocional e para a coordenação e organização de respostas corticais. Localizada logo acima dos hipocampos bilateralmente, a amígdala sempre foi considerada o coração do sistema límbico. Embora a maior parte das pesquisas tenha-se concentrado no papel da amígdala na resposta a estímulos assustadores ou dolorosos, pode ser a ambiguidade ou a novidade, e não a natureza aversiva do estímulo em si, que ative a amígdala (Fig. 8.1-2). Fatores genéticos Inúmeros estudos de famílias, de adoção e de gêmeos há muito têm documentado a hereditariedade dos transtornos do humor. Recentemente, entretanto, o foco primário dos estudos genéticos tem sido identificar genes específicos de suscetibilidade usando métodos genéticos moleculares. Estudos de famílias. Os estudos de famílias investigam se um transtorno é familiar. Mais especificamente, a taxa de doença nos membros da família de uma pessoa com o transtorno é maior do que a da população em geral? Dados familiares indicam que, se um dos genitores tem um transtorno do humor, um dos filhos tem um risco entre 10 e 25% de também apresentá-lo. Se ambos os genitores são afetados, o risco praticamente duplica. Quanto mais membros da família forem afetados, maior o risco para um filho. O risco é maior se os afetados forem parentes em primeiro grau do que mais distantes. Uma história familiar de transtorno bipolar confere um risco maior para transtornos do humor em geral e, em particular, um risco muito maior para transtorno bipolar. O transtorno unipolar costuma ser a forma mais comum de transtorno do humor em famílias de probandos bipolares. Essa sobreposição familiar sugere algum grau de bases genéticas comuns entre essas duas formas de transtorno do humor. A presença de doença mais grave na família também confere um risco maior (Fig. 8.1-3). Estudos de adoção. Esses estudos fornecem uma abordagem alternativa para separar fatores genéticos e ambientais na transmissão familiar. Apenas um número limitado desses estudos foi relatado, e seus resultados foram mistos. Um grande estudo encontrou uma taxa três vezes � de �14 39 maior de transtorno bipolar e duas vezes maior de transtorno unipolar nos parentes biológicos de probandos bipolares. De modo semelhante, em uma amostra dinamarquesa, uma taxa três vezes maior de transtorno bipolar e seis vezes maior de suicídio completado nos parentes biológicos de probandos com doenças afetivas foi relatada. Outros estudos, entretanto, foram menos convincentes e não encontraram diferença nas taxas de transtornos do humor. Estudos de gêmeos. Esses estudos fornecem a abordagem mais poderosa para separar fatores genéticos de ambientais, ou a “natureza” da “criação”. Dados de gêmeos fornecem evidências convincentes de que os genes explicam apenas 50 a 70% da etiologia dos transtornos do humor. O ambiente ou outros fatores não hereditários devem explicar o restante. Portanto, é uma predisposição ou suscetibilidade à doença que é herdada. Considerando os transtornos unipolar e bipolar juntos, esses estudos encontram uma taxa de concordância para transtorno do humor nos gêmeos monozigóticos (MZ) de 70 a 90%, comparada com a de gêmeos dizigóticos (DZ) do mesmo sexo de 16 a 35%. Estes são os dados mais convincentes do papel dos fatores genéticos nos transtornos do humor. Estudos de ligação. Marcadores do DNA são segmentos de DNA de localização conhecida no cromossomo, muito variáveis entre os indivíduos. Eles são usados para rastrear a segregação de regiões cromossômicas específicas em famílias afetadas com o transtorno. Quando um marcador é identificado com doença em famílias, diz-se que a doença é geneticamente ligada (Tab. 8.1-3). Os cromossomos 18q e 22q são as duas regiões com evidência mais forte de ligação a transtorno bipolar. Váriosestudos de ligação encontraram evidências do envolvimento de genes específicos em subtipos clínicos. Por exemplo, foi demonstrado que a evidência de ligação em 18q é derivada, em grande parte, de pares de irmãos bipolar II-bipolar II e de famílias nas quais os probandos tinham sintomas de pânico. Estudos de mapeamento genético da depressão unipolar encontraram evidência muito forte de ligação ao locus para a proteína ligadora do elemento de resposta a cAMP (CREB1) no cromossomo 2. Outras 18 regiões genômicas também eram ligadas; algumas delas exibiam interações com o locus de CREB1. Outro estudo relatou evidência de uma interação gene- ambiente no desenvolvimento de depressão maior. Foi demonstrado que indivíduos com eventos de vida adversos em geral tinham risco aumentado para depressão. Destes, entretanto, aqueles com uma variante no gene transportador de serotonina apresentavam o maior aumento no risco. Esse é um dos primeiros relatos de uma interação gene-ambiente específica em um transtorno psiquiátrico. Fatores psicossociais Acontecimentos de vida e estresse ambiental. Uma observação clínica de longa data é a de que eventos de vida estressantes mais frequentemente precedem os primeiros episódios de transtornos do humor, e não os subsequentes. Essa associação tem sido relatada tanto em pacientes com transtorno depressivo maior como naqueles com transtorno bipolar I. Uma teoria proposta para explicar essa observação é a de que o estresse que acompanha o primeiro episódio resulta em mudanças duradouras na biologia do cérebro. Essas mudanças podem alterar os estados funcionais de vários neurotransmissores e sistemas sinalizadores intraneuronais, mudanças que podem incluir mesmo a perda de neurônios e uma redução excessiva de contatos sinápticos. Como resultado, uma pessoa tem alto risco de desenvolver episódios subsequentes de um transtorno do humor, mesmo sem um estressor externo. � de �15 39 Alguns médicos acreditam que os eventos de vida tenham um papel primário ou principal na depressão; outros sugerem que seu papel seja apenas limitado no início e no momento da depressão. Os dados mais convincentes indicam que o evento de vida associado com mais frequência ao desenvolvimento da depressão é a perda de um dos genitores antes dos 11 anos de idade. O estressor ambiental mais associado ao início de um episódio de depressão é a perda do cônjuge. Outro fator de risco é o desemprego; indivíduos desempregados têm três vezes mais probabilidade de relatar sintomas de um episódio de depressão maior do que os que estão empregados. A culpa também pode ter um papel. Fatores de personalidade. Nenhum traço ou tipo de personalidade isolado predispõe de forma única uma pessoa a depressão; todos os seres humanos, com qualquer padrão de personalidade, podem e ficam deprimidos sob determinadas circunstâncias. Aqueles com certos transtornos da personalidade – obsessivo-compulsiva, histriônica e borderline – podem ter um risco maior de depressão do que pessoas com personalidade antissocial ou paranóide. Estas últimas podem usar projeção e outros mecanismos de defesa externalizantes para se protegerem de sua raiva interior. Nenhuma evidência indica que qualquer transtorno da personalidade em particular esteja associado com o desenvolvimento posterior de transtorno bipolar I; porém, pacientes com distimia e transtorno ciclotímico têm o risco de mais tarde desenvolver depressão maior ou transtorno bipolar I. Acontecimentos estressantes recentes são os preditores mais poderosos do início de um episódio depressivo. De um ponto de vista psicodinâmico, o médico sempre está interessado no significado do estressor. Pesquisas demonstraram que estressores que se refletem de forma mais negativa na autoestima têm mais probabilidade de produzir depressão. Além disso, o que parece ser um estressor relativamente leve para alguns pode ser devastador para o paciente devido aos significados idiossincrásicos particulares ligados ao acontecimento. Fatores psicodinâmicos na depressão. O entendimento psicodinâmico da depressão definido por Sigmund Freud e expandido por Karl Abraham é conhecido como a visão clássica da depressão. A teoria envolve quatro pontos fundamentais: (1) distúrbios na relação bebê-mãe durante a fase oral (os primeiros 10 a 18 meses de vida) predispõem a vulnerabilidade subsequente a depressão; (2) a depressão pode estar ligada a perda real ou imaginada do objeto; (3) a introjeção de objetos que partiram é um mecanismo de defesa invocado para lidar com o sofrimento associado com a perda do objeto; e (4) visto que o objeto perdido é percebido com uma mistura de amor e ódio, sentimentos de raiva são dirigidos contra o self. Melanie Klein, assim como Freud, entendia a depressão como envolvendo a expressão de agressão contra entes queridos. Edward Bibring a considerava um fenômeno que se instala quando uma pessoa se torna consciente da discrepância entre ideais extraordinariamente elevados e a incapacidade de alcançar esses objetivos. Edith Jacobson via o estado de depressão como semelhante ao de uma criança impotente e desamparada, vítima de um pai atormentador. Silvano Arieti observou que muitos pacientes deprimidos viviam suas vidas mais para os outros do que para si mesmos. Ele se referia à pessoa para quem o paciente deprimido vive como o outro dominante, que pode ser um princípio, um ideal ou uma instituição, bem como um indivíduo. A depressão se instala quando o indivíduo percebe que a pessoa ou o ideal pelo qual estava vivendo nunca vai responder de forma a satisfazer suas expectativas. O conceito de depressão de Heinz Kohut, derivado de sua teoria psicológica do self, baseia-se na suposição de que o self em desenvolvimento tem necessidades específicas que precisam ser � de �16 39 satisfeitas pelos pais, para dar à criança um sentimento positivo de autoestima e autocoesão. Quando os outros não satisfazem essas necessidades, há perda massiva de autoestima, que se apresenta como depressão. John Bowlby acreditava que apegos iniciais danificados e a separação traumática na infância predispõem a depressão. Diz-se que as perdas do adulto revivem a perda traumática na infância e, dessa forma, precipitam episódios depressivos no adulto. Fatores psicodinâmicos na mania. A maioria das teorias acerca da mania considera os episódios maníacos uma defesa contra a depressão subjacente. Abraham, por exemplo, acreditava que esses episódios pudessem refletir uma incapacidade de tolerar uma tragédia do desenvolvimento, como a perda de um dos genitores. O estado maníaco também pode resultar de um superego tirânico, que produz autocrítica intolerável, que é, então, substituída pela autossatisfação eufórica. Bertram Lewin considerava o ego do paciente maníaco sobrecarregado por impulsos prazerosos, como o sexo, ou por impulsos temidos, como a agressão. Klein também via a mania como uma reação defensiva contra a depressão, pelo uso de mecanismos de defesa, como a onipotência, em que o indivíduo desenvolve delírios de grandeza. Outras formulações de depressão Teoria cognitiva. De acordo com a teoria cognitiva, a depressão resulta de distorções cognitivas específicas presentes nas pessoas predispostas a desenvolvê-la. Essas distorções, referidas como esquemas depressogênicos, são modelos cognitivos que percebem tanto os dados internos quanto os externos de formas alteradas por experiências precoces. Aaron Beck postulou a tríade cognitiva da depressão, que consiste em (1) visão sobre si próprio – uma autopercepção negativa, (2) sobre o mundo – uma tendência a experimentar o mundo como hostil e exigente e (3) sobre o futuro – a expectativa de sofrimento e fracasso. A terapia tem por objetivo modificar essas distorções. Os elementos da teoria cognitiva são resumidos na Tabela 8.1-4. Impotência aprendida. A teoria da impotência aprendida da depressão associa fenômenos depressivos à experiência de acontecimentos incontroláveis.Por exemplo, quando cães, em laboratório, foram expostos a choques elétricos dos quais não podiam escapar, exibiram comportamentos que os diferenciavam de cães que não foram expostos a tais eventos incontroláveis. Os cães expostos ao choque não cruzaram uma barreira para interromper o fluxo de choque elétrico quando colocados em nova situação de aprendizagem. Eles permaneceram passivos e não se moveram. De acordo com a teoria da impotência aprendida, os cães submetidos a choques aprenderam que os desfechos eram independentes das respostas, de modo que tinham tanto déficit cognitivo motivacional (i.e., não tentavam escapar ao choque) quanto emocional (indicando reatividade diminuída do choque). Na visão reformulada da impotência aprendida aplicada à depressão humana, pensa-se que explicações causais internas produzem perda de autoestima após eventos externos adversos. Os behavioristas que apoiam a teoria enfatizam que a melhora da depressão depende de o paciente desenvolver um senso de controle e domínio do ambiente. FATORES DE RISCO ➔ Temperamentais – a AFETIVIDADE NEGATIVA (neuroticismo) é um fator de risco para o INÍCIO DE TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR, principalmente em resposta a eventos estressantes na vida. � de �17 39 ➔ Ambientais – Principalmente experiências na INFÂNCIA. Eventos estressantes na vida podem ser precipitantes de episódios. ➔ Genéticos e Fisiológicos – Familiares de 1° grau de indivíduos com transtorno depressivo maior tem risco 2 A 4X MAIOR de desenvolver a doença do que a população geral – A herdabilidade é de aproximadamente 40%, sendo o neuroticismo importante para a propensão genética. ➔ Comorbidades – mais frequentemente os indivíduos com TDM apresentam ABUSO OU DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL, TRANSTORNO DE PÂNICO, TOC e TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL. ➔ Modificadores do Curso – indivíduos com outros TRANSTORNOS MAIORES que não estejam relacionados ao humor apresentam RISCO AUMENTADO de desenvolver depressão – os fatores mais frequentemente associados ao início do TDM é USO DE SUBSTÂNCIAS, ANSIEDADE E TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE. ➔ Psicossociais – Eventos de vida estressantes precedem os PRIMEIROS EPISÓDIOS de transtornos do humor (e não os subsequentes), isso porque o estresse que acompanha o primeiro episódio causa mudanças duradouras na biologia cerebral, que alteram sinalizadores e neurotransmissores a longo prazo!! Por isso, a pessoa pode desenvolver episódios subsequentes de um transtorno de humor sem que haja um ESTRESSOR EXTERNO. Existem correntes de pensamento que postulam que os eventos de vida tenham papel primário na depressão, enquanto outros postulam que o papel é LIMITADO AO INÍCIO DA DEPRESSÃO . • O evento de vida mais frequentemente associado ao desenvolvimento da depressão é a PERDA DE UM DOS GENITORES ANTES DOS 11 ANOS DE IDADE. • O estressor ambiental mais associado ao início de um episódio é a PERDA DE UM CÔNJUGE + DESEMPREGO. ➔ Fatores de Personalidade – nenhum traço isolado de personalidade predispõe ao episódio depressivo maior, uma vez que todo e qualquer traço pode e deve ficar deprimido sob uma determinada circunstância (normal, né). Certos TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE (borderline, obsessivo-compulsivo) apresentam maior risco de depressão que as com ANTISSOCIAL ou PARANÓIDE. ➔ Fatores Psicodinâmicos – Explicado por Freud, essa é conhecida como a VISÃO CLÁSSICA da depressão: I. Distúrbios na relação mãe-bebê na fase oral (10-18 meses) II. Perda real ou imaginada do objeto III. Introjeção de objetos que partiram para lidar com a perda do objeto IV. A perda do objeto é percebida como uma mistura de amor-ódio, sendo a raiva dirigida para o self Silvano Arieti observou que pacientes depressivos viviam as suas vidas muito mais para os outros do que para si mesmo, sendo a depressão resultante da percepção de que a pessoa pelo o qual está vivendo nunca irá satisfazer as expectativas QUADRO CLÍNICO ➔ Sintomas fisiológicos: distúrbios do sono (despertar precocemente, insônia, sonolência), alterações no apetite (perda ou aumento do apetite), perda de peso e falta de energia ➔ Sintomas comportamentais: lentidão no movimento (retardo psicomotor) ou agitação � de �18 39 ➔ Sintomas cognitivos: são evidentes no conteúdo dos pensamentos (desesperança, inutilidade, culpa, ideação suicida) e nos processos cognitivos (dificuldade de concentração, prejuízo de memória) ➔ Sintomas psicóticos: nas formas mais GRAVES, pode apresentar delírios (falsas crenças inabaláveis que não podem ser explicadas). Esses sintomas são um REFLEXO DO SENTIMENTO, i.e., se uma pessoa se sente podre por dentro, pode acreditar que exala um forte odor A depressão unipolar, episódica, primária, com PELO MENOS 2 SEMANAS DE DURAÇÃO é considerada DEPRESSÃO MAIOR. Cerca de metade dos casos acomete jovens com menos de 25 anos, e, quanto mais cedo na vida aconteceu o episódio, maior a chance de RECORRÊNCIA (2º episódio). Quando ocorre o 2º episódio, um PADRÃO DE REMISSÕES se instala, sendo que algumas pessoas não se recuperam completamente de um episódio agudo, apresentando uma DEPRESSÃO CRÔNICA e constante mais amena que pode ser pontilhada por episódios mais graves. As depressões CRÔNICAS LEVES por mais de 2 anos são chamadas de DISTIMIAS, que, embora possua sintomas mais leves, são, a longo prazo, muito incapacitantes. DIAGNÓSTICO Apresentar 5 OU MAIS dos seguintes sintomas na maior parte dos dias, quase todos os dias, em um período de 2 SEMANAS, representando uma mudança em relação ao funcionamento anterior. PELO MENOS um dos 5 ou mais sintomas deve ser HUMOR DEPRIMIDO e/ou ANEDONIA. • Não incluir sintomas nitidamente associados a outra condição médica. • Esses sintomas causam sofrimento clinicamente significativos ou prejuízo no funcionamento social. • O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância e/ou condição médica. • Nas crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ao invés de triste. É importante distinguir entre único e recorrente, uma vez que o CRITÉRIO DE RESOLUÇÃO (i.e., a duração do tratamento e a resolução para os sintomas) para cada episódio é diferente . ➔ Episódio único – a depressão pode ocorrer como um EPISÓDIO ÚNICO ou ser RECORRENTE, sendo o primeiro diferenciado do segundo pelo CURSO INCERTO dos transtornos únicos!! ➔ Recorrente – Aqueles indivíduos que estão vivenciando pelo menos um SEGUNDO episódio de depressão são classificados com TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR RECORRENTE. Para que sejam classificados como dois episódios distintos, é importante que haja uma separação entre os dois de, pelo menos, DOIS MESES, dos quais o paciente não pode ter sintomas significativos. **Diferencia da tristeza normal ou do luto pela GRAVIDADE, ONIPRESENÇA, DURAÇÃO e ASSOCIAÇÃO COM OUTROS SINTOMAS FISIOLÓGICOS, COMPORTA MENTAIS E COGNITIVOS.** � de �19 39 N o registro, seguir a ordem: transtorno depressivo maior —> episódio único ou recorrente —> especificadores de gravidade/psicótico/remissão —> especificadores sem código que se aplicam ao episódio atual (sintomas ansiosos, características mistas, melancólicas, atípicas, psicóticas congruentes ou incongruentes com o humor, catatonia). TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Importante que o diagnóstico tenha sido estabelecido corretamente, uma vez que os transtornos do espectro unipolar e bipolar requerem TRATAMENTOS DIFERENTES. O tratamento farmacológico tem como objetivo a REMISSÃO DOS SINTOMAS, não apenas a redução, uma vez que sintomas residuais podem desencadear uma RECIDIVA. � de �20 39 A utilização de farmacoterapia específica para o TDM quase DUPLICA as chances de recuperação de um paciente em UM MÊS, uma vez que os antidepressivos do mercado podem levar de 3-4 semanas para exercer efeito terapêutico. A escolha do antidepressivo é feita pelo: ➔ Efeito colateral menos prejudiciala condição física ➔ Temperamento ➔ Estilo de vida ❖ Diretrizes Clínicas Gerais – o erro clínico mais comum que leva a uma tentativa malsucedida de tratamento farmacológico é USO DE DOSES BAIXAS POR UM CURTO PERÍODO, uma vez que o recomendado é ELEVAR A DOSAGEM AO MÁXIMO POSSÍVEL e MANTER POR 4 ou 5 SEMANAS antes de considerar uma tentativa malsucedida. ➢ Se um paciente com dose baixa estiver com MELHORA CLÍNICA perceptível, ess a dose NÃO DEVE SER AUMENTADA! ❖ Duração e Profilaxia – a duração do tratamento para o PRIMEIRO EPISÓDIO DEPRESSIVO deve ser de OU 6 MESES OU O T EMPO DO ÚLTIMO EPISÓDIO DEPRESSIVO (escolher o que for maior). Aqueles pacientes que já apresentaram TRÊS OU MAIS episódios ao longo da vida indica- se um tratamento de 5- 10 anos. Quando o tratamento antidepressivo é interrompido, a dose d o medicamento deve ser DIMINUÍDA gradualmente ao longo de 1 a 2 semanas, dependendo da meia-vida do fármaco. ❖ Seleção do Medicamento Inicial – de uma forma geral, os antidepressivos não se diferenciam entre si na EFICÁCIA GLOBAL, VELOCIDADE DE RESPOSTA, porém diferem na FARMACOLOGIA, INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA, EFEITOS COLATERAIS, AJUSTE DE DOSE. Dessa forma, a falha com o tratamento com um medicamento não significa que os outros também irão falhar. ➢ Para a escolha do fármaco inicial, deve-se atentar para CRONICIDADE, HISTÓRIA FAMILIAR DE RESPOSTA AO TRATAMENTO, GRAVIDADE DOS SINTOMAS, COMORBIDADES, PREFER ÊNCIA DO PACIENTE. ❖ Divisão do Tratamento – se dá em: AGUDA, DE CONTINUAÇÃO E DE MANUTENÇÃO – a o Fase Aguda é aquela com duração de 6-12 semanas, compreendida entre o início do tratamento e a remissão dos sintomas . o Fase de Continuação dura, em média, 4-9 meses, tendo como principal objetivo a manutenção da fase de remissão, prevenindo recaídas. o Fase de Manutenção consiste naquela em que se evita a recorrência do episódio e busca-s e manter o retorno do paciente ao estado pré-mórbido. Uso terapêutico dos efeitos colaterais – Escolher antidepressivos mais SEDATIVOS para pacientes mais ANSIOSOS e deprimidos (exemplo: amitriptilina) ou o uso de agentes mais ativadores para pacientes com retardo psicomotor NÃO É UMA OPÇÃO TERAPÊUTICA MUITO INTELIGENTE , uma vez que, a longo prazo, pode causar DEPENDÊNCIA!!! O uso de medicamentos adjuvantes (ansiolíticos) combinados com os antidepressivos é frequente para ENCOBRIR os do medicamento. � de �21 39 ❖ Regras para os ANTIDEPRESSIVOS: • Começar com 50% da dose e aumentar com 7 a 14 dias. • EFEITOS COLATERAIS - até 2 semanas. • INÍCIO DO EFEITO TERAPÊUTICO – 14 a 28 dias. • PICO DO EFEITO TERAPÊUTICO – 8 a 12 semanas. • USO MÉDIO – 9 a 12 meses. • APÓS 60 DIAS – diminui, teoricamente, 50% dos sintomas . • APÓS 120 DIAS – teoricamente, 100% de resolução dos sintomas. FARMACOLOGIA O tratamento p ara depressão mais utilizado é aquele que tem como alvo o SISTEMA MONOAMINÉRGICO DO SNC – as monoaminas são sintetizadas em pequenos núcleos do Tronco Encefálico (TE). ➔ TE CAUDAL: serotonina e noradrenalina; ➔ TE ROSTRAL: dopamina (substância negra e área tegmentar ventral); Desses núcleos partem projeções para TODO O C ÉREBRO, além de os serotoninérgicos e noradrenérgicos partirem via descendente para a medula espinhal, sendo essa distribuição a responsável pelas diversas respostas coordenadas entre sistema nervoso central e respostas somáticas. Síntese e Liberação: Essas monoaminas são sintetizadas a partir de um aminoácido precursor, podendo ser armazenada em vesícula para liberação ou ser metabolizada pela monoaminoxidase (MAO) na membrana da mitocôndria. Quando liberados na fenda sináptica, esses neurotransmissores ligam-se a receptores na membrana pós-sináptica ou são recaptados por transportes específicos. A SEROTONINA e a NORADRENALINA possuem uma variedade de receptores pré- sinápticos e pós-sinápticos – para a serotonina, existem cerca d e 14 TIPOS de receptores que se dividem em 7 classes principais (5-HT1 → 5-HT7) – para a noradrenalina, os receptores são divididos em ADRENÉRGICOS α e β com diversos subtipos. Todos estes (serotonina, noradrenalina e dopamina), em sua maioria, são receptores acoplados a PROTEÍNA G, que iniciam CASCATAS DE SINALIZAÇÃO promovendo as alterações nos neurônios. São nesses receptores acoplados a proteína G em que os ANTIDEPRESSIVOS irão atuar!! 1. INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE (IMAO) Foram os primeiros antidepressivos com eficácia clínica comprovada contra ansiedade e depressão, como a fenelzina e a tranilcipromina, porém são pouco utilizados p ela grande quantidade de EF EITOS ADVERSOS. Sua base neurofarmacológica está relacionada com o impedimento da degradação de NORADRENALINA, SEROTONINA e DOPAMINA nos terminais pré-sinápticos, permitindo que haja mais neurotransmissor p ara ser ARMAZENADO em vesícula e posteriormente LIBERADO. ➔ MAO A e B – a monoaminoxidase (MAO) está presente em duas formas no SNC: A e B. A MAO A, entretanto, pode ser encontrada no fígado, participando da DEGRADAÇÃO DE AMINAS ALIMENTARES, que, ao serem degradadas, são captadas por neurônios do sistema simpático, podendo ser liberadas abundantemente, o que causa uma GRAVE ELEVAÇÃO NA PRESSÃO ARTERIAL. D essa forma, os inibidores seletivos de MAO A ou � de �22 39 inibidores não seletivos de uma forma geral exigem que os pacientes evitem alimentos com alta concentração de monoaminas, sendo esta a principal limitação para o uso desses fármacos. ➔ Podem ser classificados quanto à REVERSIBILIDADE e SELETIVIDADE para MAO-A ou MAO-B: a. Inibidores não seletivos para MAO – Fenelzina, Isocarboxiazida e Tranilcipromina. b. Inibidores Seletivos para MAO – Selegilina (MAO-B) e Clorgilina (MAO-A). c. Inibidor Reversível da MAO – Moclobemida. 2. TRICÍCLICOS Inibem os TRANSPORTADORES DA NORADRENALINA E SEROTONINA OU AMBOS, o que permite a permanência delas na fenda sináptica, sendo efetivos no tratamento de depressão, embora possuam diversos efeitos COLATERAIS decorrentes da inibição de outros receptores, como receptores muscarínicos, H-1 (histamina) e noradrenérgicos. Podem ser utilizados para tratar Depressão, Insônia, Dor neuropática, Enxaqueca, Enurese noturna, TOC, TDAH. Tem efeitos ANTICOLINÉRGICOS – então, em demência, por exemplo, diminui o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) e piora a cognição; em idoso com insônia, por exemplo, fez o uso de amitriptilina e desenvolveu ALTERAÇÃO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA AGUDA + DESORIENTAÇÃO + OBNUBILAÇÃO → delirium secundário à anticolinérgicos!! ➔ Efeitos Colaterais o Risco de ciclagem bipolar*. o Arritmia. o Sedação (!) e Ganho de peso pelo efeito anti-histamínico. o Idosos podem desenvolver DELIRIUM ANTICOLINÉRGICO. o Anticolinérgico – hipotensão, xeroftalmia, xerodermia, xerostomia, constipação intestinal, retenção urinária. o Seguros na gravidez, embora deve-se evitar o 1 trimestre. o CONTRA INDICADO NA LACTAÇÃO. o CUIDADO COM SUICIDA – o índice terapêutico é muito pequeno, então a superdosagem pode ser extremamente tóxica. o Clomipramina – ótimo antidepressivo, sendo o único para o uso do tratamento d o TOC – 75- 250 mg ÚNICO COM EFEITO SEROTONINÉRGICO dos tricíclicos! o Nortriptilina – 50-150mg – menos efeitos colaterais, menor risco cardíaco, menor sedação, menos efeitos anticolinérgicos – indicado p ara IDOSOS, CRIANÇAS, FIBROMIALGIA, DOR CRÔNICA e NEUROPATIA. o Amitriptilina – 75-300mg - atua sobre H1, COLINÉRGICOS, SEROTONINA e NORADRENALINA,ou seja, apresenta muitos efeitos colaterais, principalmente ANTICOLINÉRGICOS!! Ex: criança com transtorno de humor, enurese noturna – massa us ar amitriptilina! o Bupropiona – Dentre os antidepressivos, é o MA ISN SEGURO para bipolares, pois age na DOPAMINA e na NORADRENALINA, mas não nas vias serotoninérgicas, que são as principais responsáveis pela virada maníaca! � de �23 39 o Maprotilina – Todos os antidepressivos estão associados à uma diminuição do limiar para crises convulsivas, sendo importante avaliar o histórico do paciente antes do seu uso. A maprotilina em específico tem MAIOR RISCO CONVULSIVO! 3. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISR S) São fármacos muito utilizados, uma vez que a sua seletividade permite uma menor taxa de efeitos secundários. Farmacologicamente, s eus alvos são os TRANSPORTADORES DE SEROTONINA que não permitem a permanência do neurotransmissor na fenda sináptica, levando-a para ser ou degradada ou realocada em vesículas (inibição ALOSTÉRICA) pela ligação a um sítio diferente da serotonina). Além disso, age nos AUTORRECEPTORES 5HT1 pré-sinápticos, aumentando a liberação dela na sinapse . São medicamentos utilizados no tratamento de DEPRESSÃO MAIOR, TRANSTORNO ANSIEDADE e do TOC. ➔ Atenção – apesar de apresentar o mesmo mecanismo de ação, existem algumas DIFERENÇAS FARMACODINÂMICAS entre os ISRS o Fluoxetina – também atua na recaptação de NORADRENALINA o Sertralina – pode inibir a recaptação de DOPAMINA o Paroxetina - atividade anticolinérgica e, em doses elevadas, inibe a recaptação de noradrenalina o Citalopram e Escitalopram – mais seletivos ISRS • Fluoxetina – É um fármaco de meia vida longa, por isso, depois da descontinuação, esperar 14 dias para iniciar outro medicamento. Além disso, esta meia vida permite que não seja necessário DESMAMAR o medicamento e nem mesmo causa síndrome da descontinuação serotoninérgica. Por apresentar um EFEITO ATIVADOR, deve ser administrado no CAFÉ DA MANHÃ ou no ALMOÇO, pois pode causa insônia durante a noite. Em adolescentes, pode causar o SUICÍDIO PARADOXAL, que é quando, pelo efeito ativador, o paciente ganha energia para tentar o suicídio. o Curiosidade: Muitos indivíduos enxergam a fluoxetina como um fármaco “emagrecedor”, pois, no início do tratamento, pode haver esse efeito. O que se observa, entretanto, é que, na fase de MANUTENÇÃO, há uma tendência para o GANHO DE PESO (maior do que a perda de peso inicial). 4. INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA DE NORADRENALINA São fármacos utilizados em transtorno depressivo maior e no tratamento da DOR (neuropatias e fibromialgias). Ao contrário dos tricíclicos, POSSUEM MENOR INTERAÇÃO COM OUTROS RECEPTORES, diminuindo os efeitos colaterais – sua afinidade com os SERT (receptores de serotonina) é maior do que com os NET (receptores de noradrenalina). ➔ Efeitos Colaterais – são semelhantes aos dos ISRS, porém acrescidos de um POTENCIAL AUMENTO PRESSÓRICO ➔ Venlafaxina X Desvenlafaxina – a desvenlafaxina (metabólito ativo da venlafaxina) NÃO É METABOLIZADA POR CYP2D6 e apresenta BIODISPONIBILIDADE 2X maior que a venlafaxina. 5. ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS � de �24 39 MIRTAZAPINA 30-45 mg Menos disfunção sexual Efeito sedativo importante + ganho de peso ÓTIMA PARA IDOSOS! Talvez melhor até mesmo que o escitalopram para tratar TDM. É antagonista dos autorreceptores ALFA 2 NORADRENÉRGICOS PRÉ-SINÁPTICOS e dos alfa-2 HETERORRECEPTORES SEROTONINÉRGICOS responsáveis pela liberação de NORA e 5HT na fenda!! Baixo risco cardíaco e baixa interação medicamentosa EFEITOS COLATERAIS CONTRAINDICAÇÕES Cautela ao operar máquinas → SEDATIVO Hipersensibilidade ao fármaco Observar se função renal e hepática comprometi da Em combinação ou antes de 14 dias após suspensão de IMAO Pode conter aspartame, cuidado com FENILCETONÚRICOS Efeitos colaterais: • Sonolência/Sedação • Boca Seca • Sudorese Notur na • Aumento de Apetite (percepção do sabor aumentada) • Tontura BUPROPIONA 150-450mg Indicado para TABAGISMO Afeta a recaptação de DOPAMINA e NORADRENALINA Crises convulsivas em dose >450mg EFEITOS COLATERAIS CONTRAINDICAÇÕES Cautela ao operar máquinas → SEDATIVO Em combinação ou antes de 14 dias após suspensão de IMAO Observar se função renal e hepática comprometida Bulimia e anorexia – RISCO DE CONVULSÕES Pode conter aspartame, cuidado com FENILCETONÚRICOS Epilepsia Efeitos colaterais: • Sedação • Boca Seca • Cefaleia • Fadiga • Insônia • Inquietação • Perda de peso • Tontura • Taquicardia Epilepsia � de �25 39 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO COLOCAR TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO _______________________________________________________________________________________ LUTO X EPISÓDIO DEPRESSIVO Respostas a uma PERDA SIGNIFICATIVA (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os 9 sentimentos citados do DSM-5, tornando-se parecido com um episódio depressivo. Essa resposta à perda é FISIOLÓGICA, porém não exclui a possibilidade de um TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR, sendo importante avaliar a HISTÓRIA DO INDIVÍDUO e as NORMAS CULTURAIS para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda. Pacientes com transtorno depressivo maior e luto associados apresentam um PROGNÓSTICO PIOR, porém esse fenômeno tende a ocorrer em pessoas com outras VULNERABILIDADES para o transtorno. CARACTERÍSTICAS PARA DIFERENCIAR LUTO DE TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR (TDM) Pode conter aspartame, cuidado com FENILCETONÚRICOS Pacientes em fase de descontinuação de ÁLCOOL ou SEDATIVOS TRAZODONA 50-150mg Depressões LEVE - MODERADA Poderoso ANTAGONISTA 2-HT2A com efeitos secundários de inibição da RECAPTAÇÃO NÃO USAR EM HOMENS – risco de PRIAPRISMO!!! Indicado para INSÔNIA – EFEITO SEDATIVO Dose antidepressiva > 150mg EFEITOS COLATERAIS CONTRAINDICAÇÕES Virada maníaca Hipersensibilidade ao fármaco Risco de síndrome serotoninérgica s e associada a ISRS Em combinação ou antes de 14 dias após suspensão de IMAO Recomendar a ingestão DURANTE OU IMEDIATAMENTE após as refeições Recuperação pós-IAM Efeitos colaterais: • Sedação • Boca Seca • Cefaleia • Fadiga • Sonolência • Inquietação • Ganho de peso • Tontura • Taquicardia Cuidado em idosos Evitar em pacientes com problemas cardíacos � de �26 39 Flutuação - A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em ondas, conhecidas como “dores do luto” , e tendem a estar associadas a pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de um transtorno depressivo maior é mais PERSISTENTE e não está ligado a pensamentos ou preocupações específicos. Conteúdo dos pensamentos - Os pensamentos no luto geralmente apresentam preocupação com LEMBRANÇAS DO FALECIDO, em vez das ruminações autocríticas ou pessimistas encontradas no TDM. Autoestima - No luto, a autoestima costuma estar p reservada, ao passo que no TDM os sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa costuma envolver a percepção de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não dizer ao falecido o quanto o amava). SUICÍDIO Se um indivíduo enlutado pensa em MORTE E EM MORRER, tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele, enquanto no TSM esses pensamentos têm o foco em acabar com a própria vida por causa dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da incapacidade de enfrentar a dor da depressão _______________________________________________________________________________________TRANSTORNO BIPOLAR DEFINIÇÃO É caracterizada pela presença de episódios de hipomania ou mania, intercalados por períodos de normalidade de humor (eutimia), geralmente acompanhados por episódios de depressão. Sintomas psicóticos estão presentes durante as alterações de humor em torno de 30% dos pacientes com transtorno bipolar TIPOS DE TRANSTORNO BIPOLAR TBH tipo I: Clássico, presença de ao menos um episódio maníaco! Em geral, são casos em que ocorre mania, hipomanias e/ou depressões. TBH tipo II: Casos em que ocorre apenas hipomanias e depressões. Transtorno ciclotímico: Ao menos dois anos de sintomas hipomaníacos e depressivos, sem episódios! (uma coisa contínua). TBH sem outra especificação: Encontramos alterações de humor, mas que não satisfazem os critérios de DSM-5. EPIDEMIOLOGIA Prevalência ao longo da vida: TBH tipo I é de 1% e TBH tipo II é de, aproximadamente 1,6%. Prevalência do espectro bipolar: 2,5% aproximadamente. Início dos sintomas: 50-60% iniciam aos 19-20 anos! Mas pode iniciar na infância, adolescência e idade avançada. Alta herdabilidade: Risco 10x maior em familiares de 1º grau (6ª causa de deficiência no mundo!) Maior risco de suicídio: 20-55% dos pacientes já tentaram suicídio pelo menos uma vez. Mortalidade prematura: Pessoas com TB morrem em média 9 anos mais cedo que a população geral. � de �27 39 FISIOPATOLOGIA Hipótese de episódios de mania relacionados e excesso de NTs e disfunção na transdução de sinais. QUADRO CLÍNICO Episódio Maníaco. Período distinto de humor anormalmente e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento de energia ou na atividade, durando pelo menos 1 semana, ao longo da maior parte dos dias ou de qualquer duração caso seja necessária a internação. Devem estar presentes 3 ou mais dos seguintes sintomas (ou 4 se o humor for apenas irritável) que apresentem alguma mudança notável de um padrão habitual de comportamento e com prejuízo significativo: • Aumento da autoestima ou grandiosidade. • Diminuição da necessidade de sono. • Muito falante ou até com pressão de discurso. • Fuga de ideias ou a impressão dos pensamentos estarem acontecendo muito rapidamente. • Distração. • Aumento de atividade direcionada a um objetivo (social, academia, trabalho, sexualmente). • Agitação psicomotora (atividade sem um objetivo claro). • Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas (ex. negócios • arriscados, compras irresponsáveis, indiscrições sexuais). Podem estar presentes sintomas psicóticos – os delírios (falsas crenças), em geral, têm natureza expansiva e grandiosa, com conteúdo religioso, de poder e, às vezes, persecutório; e as alucinações, geralmente auditivas, são breves, flutuantes e inconstantes. Episódio Hipomaníaco Difere do episódio maníaco pela duração de pelo menos 4 dias e os sintomas menos intensos. Não estão presentes sintomas psicóticos e o quadro traz menos prejuízos diretos. No entanto, esta não é uma forma mais atenuada da doença, uma vez que estes indivíduos que passam muito tempo em depressão e têm repercussões importantes com a constante instabilidade de humor. Episódio Depressivo Maior 5 ou mais dos seguintes sintomas (pelo menos 1 dos dois primeiros presentes) durante o mesmo período de 2 semanas, quase todos os dias: • Humor deprimido na maior parte do dia. • Diminuição de interesse ou prazer na maior parte das atividades. • Diminuição ou aumento importante de apetite ou peso (não causado por dieta). • Diminuição ou aumento do sono. • Agitação ou retardo psicomotor. • Perda de energia ou fadiga. • Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva. � de �28 39 • Dificuldade de concentração ou indecisão. • Pensamentos de morte. • Ideação suicida (com ou sem planos estruturados) - Humor pode apresentar-se triste, melancólico, irritável, disfórico, com baixa tolerância às frustrações do dia a dia. Pessimismo, desesperança, angustia e ansiedade são frequentes. - O pensamento pode estar lentificado, com medos irracionais, menos-valia e ruminações de atos passados, que podem adquirir caráter obsessivo. - Memória e atenção podem estar prejudicadas - Sintomas físicos de ansiedade e diminuição da libido também são queixas frequentes. - Sintomas psicóticos (delírios ou alucinações) congruentes ou não com o humor podem estar presentes. Obs – até o momento não foram identificados sintomas específicos que diferenciem as depressões bipolares das unipolares. No entanto, observa-se com maior frequência retardo psicomotor, sintomas atípicos e psicóticos em pacientes com TB, assim como a idade de início mais precoce e episódios mais frequentes, com início abrupto e história familiar positiva para TB. Estado Misto • Trata-se de um estado complexo, heterogêneo, de difícil diagnóstico mas frequente no curso do TB. • Presença simultânea de sintomas maníacos e depressivos SIMULTANEAMENTE. Ciclagem Rápida • Caracteriza-se pela ocorrência de 4 ou mais episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos em um período de 12 meses, com intervalo de 2 meses entre eles (remissão parcial) ou com mudança de polo. • Mais frequente em mulheres, em uso de antidepressivos e uso abusivo de álcool e outras substâncias. • Nessa manifestação clínica há maior dificuldade de estabilização de humor e maior risco de piora do quadro com medicações antidepressivas. DIAGNÓSTICO TBI: Foram atendidos os critérios para pelo menos 1 episódio maníaco. TBII: Foram atendidos os critérios para pelo menos 1 episódio hipomaníaco e jamais houve um episódio maníaco. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Esquizofrenia: remissão dos sintomas psicóticos em até 2 semanas com a normalização do humor e antecedentes de episódios depressivos sem sintomas psicóticos é sugestivo de TB. • Depressão ansiosa: recorrência e melhora mais rápida com antidepressivos (poucos dias) é sugestivo de TB. • Transtorno de personalidade borderline: presença de mania/hipomania, curso episódico e períodos de remissão é sugestivo de TB. • Doenças neurológicas: ex. AVE, trauma, epilepsia, demências. � de �29 39 • Doenças sistêmicas: ex. alterações do cortisol, hipertireoidismo, LES, infecções generalizadas, uremia. • Medicamentos: ex. corticosteróides, levotiroxina, agonistas dopaminérgicos. • Abuso ou abstinência: ex. álcool, cocaína, metanfetamina, opioides. EXAMES COMPLEMENTARES Exames de imagem (TC, RNM), EEG, LCR são usados para descartar patologias de outra natureza principalmente em casos de apresentação ou idade de início incomum. Exames para descartar patologias de outra natureza e para monitoramento de segurança no uso dos medicamentos: • T4L, TSH. • Hg completo. • Glicemia de jejum. • TGO, TGP, gama-GT. • Sódio, potássio, creatinina, ureia, cálcio. • Colesterol total, HDL, TG. • Em alguns casos, prolactina, FTABs, anti-HIV, etc. TRATAMENTO - Objetiva alcançar a eutimia, prevenir o aparecimento de novos episódios além de obter a recuperação do funcionamento social e ocupacional. - Como normalmente é um tratamento para toda a vida, deve-se atentar aos seus efeitos colaterais de longo prazo. Estabilizadores de humor – Tratamento do episódio agudo ou mesmo no tratamento profilático. LÍTIO: tem eficácia em torno de 70% no tratamento da mania e é o melhor estabilizador de humor a longo prazo. Deve ser feita a litemia para avaliar se a dosagem sérica do lítio atingiu o alvo terapêutico e monitorar toxicidade. Cerca de 20% dos pacientes desenvolvem
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