Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacologia da analgesia Paula Chirico Cancella · Dor · Pode ser classificada de quatro maneiras: · Fisiológica: percepção de um estímulo nocivo que tem como objetivo a proteção. É quando ela é proporcional ao estímulo gerado · Inflamatória: quando o estímulo deixa de ser físico (mecânico, térmico) e passa a ser químico também, devido a liberação de mediadores; não sendo proporcional ao estímulo · Neuropática: são dores que por mais que o estímulo não exista naquele momento a dor continua aparecendo. · Disfuncional: atrapalham as atividades diárias · Fisiologia da dor · Transdução: ponto de partida, lá no estímulo periférico que promove uma despolarização dessa célula e a liberação de neurotransmissores que vão atuar em seus receptores · Está diretamente ligada a despolarização da célula, ou seja, canais de sódio e de cálcio · Transmissão: condução desses sinal até o córtex cerebral, por meio dos neurotransmissores (glutamato, adrenalina) · Precisa de fibras para ocorrer. A fibra A é responsável pela condução rápida e a fibra C pela condução lenta (desmielinizadas) · Regulação inibitória e descendente: faz com que ele não se expanda, se amplifique. Ocorre a partir de neurotransmissores inibitórios (GABA, noradrenalina, peptídeos opioides, serotonina), que vão controlar o estímulo doloroso que está chegando · Ex: um politraumatizado, no momento inicial, não sente dor, por essa regulação inibitória está muito ativada · Transdução sensorial · Acontece a partir de um estímulo químico, mecânico ou térmico, que vão permitir um influxo de sódio e cálcio, fazendo com que haja um potencial de ação e a informação segue caminho · Transmissão · Um potencial de ação que se inicia na periferia ativa os canais de cálcio, resultando em influxo de cálcio e liberação subsequente das vesículas sinápticas · A estimulação dos receptores de glutamato inotrópicos leva a uma despolarização pós-sináptica rápida, enquanto a ativação de outros receptores moduladores medeia uma despolarização mais lenta · Regulação inibitória local e descendente · A norepinefrina, o GABA e os opioides, que são liberados por neurônios inibitórios descendentes e/ou de circuito local, atuam em nível tanto pré-sináptico quanto pós-sináptico, inibindo a neurotransmissão. A inibição pré-sináptica é mediada pela atividade reduzida dos canais de cálcio sensíveis à voltagem, enquanto a inibição pós-sináptica é mediada principalmente pelo aumento do influxo de cloreto e efluxo de potássio (limita o impulso que já começou) · Peptídeos opioides: toda vez que se tem ação dos opioides fisiológicos gera-se uma analgesia. · A ação analgésica acontece mais nos receptores M (mi) e os efeitos adversos quando atuam sobre delta e capa · Diminuem a condutância de cálcio pré-sináptico · Aumentam a condutância de potássio pós-sináptico (aumenta hiperpolarização e limita o potencial) · Reduzem a atividade da Adenilil ciclase · Tratamento da dor · O tratamento ideal da dor deve-se basear na identificação e na atuação específica sobre os mecanismos precisos da dor, bem como na normalização da sensibilidade anormal à dor, aquele que está sendo o agente etiológico · Não adianta somente usar analgésicos se o estímulo ainda continua, muitas vezes é fácil identificar outras não. Agonistas opioides · Introdução · Os opioides são analgésicos muito potentes, assim, por serem muito potentes, seus efeitos adversos também são. · Principal classe de fármacos empregada no controle agudo da dor moderada a intensa (lesão ou inflamação) e da dor maligna (crônica) · Morfina, codeína- agonistas naturais (opiaceos) · A codeína ao ser metabolizada se torna morfina · Agonistas sintéticos- fentanil (muito mais potente que a morfina), metadona (meia vida muito longa, pois fica depositada no tecido adiposo) · A metadona é utilizada no tratamento da dependência química, uma vez que possui, a meia vida muito longa, assim pode-se espaçar a dosagem · Os locais de ação analgésica incluem cérebro, tronco encefálico, medula espinal e terminações nervosas periféricas aferentes primarias · Desde que surgiu os cuidados paliativos, tem-se usado os opioides de maneira crônica · Farmacocinética · Podem ser administrados por diversas vias, pensando no uso crônico nos cuidados paliativos · Intenso metabolismo de primeira passagem · O uso oral não cessa a dor como por via parenteral · São altamente lipofílicos, fazendo com que tenham a meia vida muito longa · É metabolizado principalmente pelo metabolismo hepático (CYP 450) e pelas esterases plasmáticas. · Um dos mecanismos de tolerância é explicado pela performance dessas enzimas que se tornam cada vez mais fortes · São eliminados pelos rins, dessa forma, é preciso ter cuidado ao usar em pacientes com insuficiência renal · Mecanismo de ação · Ativação dos opioides M (mi): · Pré-sináptica fecham os canais de cálcio regulados por voltagem e, portanto, reduzem a liberação de neurotransmissores · Pós-sináptica: abrem os canais de potássio e hiperpolarizam e, portanto, inibem os neurônios pós-sinápticos (fazendo com que não ocorra a propagação do impulso nervoso) · Efeitos adversos e toxicidade · Hipotensão: redução tônus simpático, liberação de histamina (morfina) – hipotensão ortostática; bradicardia · Depressão respiratória: diminuem a atividade respiratória do tronco encefálico (aumento de PCO2) – um dos principais efeitos adversos · Faz uma inibição do centro respiratório, assim, altas concentrações de CO2 não são capazes de aumentar a frequência respiratória, fazendo com que ocorra a deficiência respiratória · Náuseas, vômitos e constipação intestinal – atuação sobre receptores na zona quimiorreceptora bulbar e no trato gastrintestinal · Urgência (aumento do tônus da musculatura lisa) e retenção urinária (ativação ADH) · Sedação, confusão, tontura, euforia e mioclonia (ação dos opioides sobre os receptores GABA). Rigidez do tronco (supraspinal) – é um agente inibitório central · Tolerância medicamentosa; hiperalgesia, dependência química, uso abusivo · A toxicidade vem a partir da tolerância · Relacionada com o metabolismo hepático · Após a ativação dos receptores opioides ocorre a endocitose para que ocorra a produção de novos receptores. Ao utilizar mais vezes é como se não conseguisse recuperar aqueles receptores que sofreram endocitose a tempo, fazendo com que tenha menos receptores disponíveis, levando a diminuição do efeito e a busca por doses maiores · Usos clínicos · Analgesia · Dor aguda e intensa · Dor relacionada a doenças terminais (cuidados paliativos) · Tosse e diarreia · Uso substituído por agentes mais específicos · Diminui a motilidade do TGI · Edema agudo de pulmão · Associado a ICVE – alternativa de tratamento · Redução da ansiedade, do tônus venoso e da resistência periférica · Anestesia · Situações pré anestésicas · Adjuvantes anestésicos · Analgésicos regionais · Contraindicações e precauções · TCE · A retenção de CO2 causada pela depressão respiratória resulta em vasodilatação cerebral (pressão intracraniana) · Gestação · O feto pode se tornar fisicamente dependente in útero e manifestar sintomas de abstinência no início do período pós-parto · Comprometimento pulmonar · As propriedades depressoras podem levar a insuficiência respiratória aguda · Comprometimento hepático e renal · A meia-vida desses fármacos encontra-se prolongada – toxicidade · Representantes · Fenantrenos · Morfina · Heroína · Oximorfona · Codeína · Fenilptilaminas · Metadona · Fenilpiperidinas · Fentanilas · Petidina · Morfina · Agonista opioide · Considerada o opioide de referência, com o qual os demais são comparados · Metabolização hepática – M3G – inativo M6G – ativo – efeito analgésico (seu metabolito) · Eliminação renal – cautela em pacientes com IR – toxicidade · Administrada por diversas vias e por várias formas farmacêuticas · Codeína · Agonista dos receptores opioides de ocorrência natural · Menos potente que a morfina, utilizadas também para outros fins:antitussígeno e antidiarreico · Ação analgésica: desmetilação hepática em morfina, que apresenta atividade agonista M (mi) maior · Oxicodona e hidrocodona: composto semissintético análogo da codeína considerado mais efetivo · Associado muitas vezes com paracetamol para obter uma ação sinérgica · Metadona (fenilptilamina) · Agonista sintético · Analgésico potente: agonista opioide + antagonista NMDA – receptor de glutamato- (10 a 20% superior a morfina) · Meia-vida longa + lipofílica que a morfina · Administração repetida prolonga ainda mais o tempo de meia vida · Por isso é usada para tratar dependência química · Como o seu efeito é prolongado é possível fazer um desmame do uso · Tolerância e dependência mais lenta, sintomas de abstinência mais leves · Efeitos adversos: depressão respiratória e prolongamento intervalo QT · Dor crônica em pacientes oncológicos terminais (refratários a morfina) · Fentanil · Agonista sintético · Ação curta (modulada): 75 a 100x mais potente que a morfina · Muito utilizado para induzir o coma · Além de potente analgésico é também adjuvante anestésico · É biodisponível em diversas formas farmacêuticas · Considerado o opioide que mais mata por overdose nos EUA · Sufetanil: mais potente · Remifentanil: possibilita uma equivalência precisa de sua dose com a resposta clínica · Meperidina, petidina, dolantina · Eficácia semelhante à da morfina, porém menos potente · Associado a quadros de disforia (metabólito tóxico – norpetidina) · Relacionado a dependência química entre profissionais da saúde (máfia do jaleco branco) · Efeitos antimuscarínicos: taquicardia · Muito utilizado no tratamento da dor crônica no paciente oncológico · Tramadol · Mecanismo de ação exclusivo e triplo: IRSN e considerado um pró fármaco com ação opioide · Eficácia maior com acúmulos de meia vida · Reduz o limiar convulsivo em pacientes tanto com, quanto sem um transtorno convulsivo pré-existente (serotonina) · Associação contraindicada: bupropiona · Libera muita serotonina que pode gerar uma síndrome com convulsão, taquicardia, PCR. Então toda vez que tem uma descarga muito alta de serotonina isso pode acontecer. Assim, o tramadol age inibindo a recaptação de serotonina, e a bupropiona também, vai aumentar muito a serotonina · Buprenorfina, nalbufina · Buprenorfina: produz analgesia inferior à da morfina, porém com sintomas de euforia mais discretos (agonista parcial + antagonista d e k) – intoxicação de opioides potentes · Nalbufina: analgésicos efetivos, todavia, também estão associados a disforia psicológica indesejável (agonista k + antagonista parcial M-mi-) · Nalaxona: utilizados para reverter os efeitos adversos potencialmente fatais da administração de opioides, especificamente a depressão respiratória (via parenteral)· Antagonistas opioides (antídotos) · Naltrexona: administrado por via oral, é principalmente usado em condições ambulatoriais, geralmente para a desintoxicação de indivíduos dependentes de opioides, alcoolismo e compulsão alimentar
Compartilhar