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DIREITO PROCESSUAL PENAL II ANA MARIA SOUZA ONDE ESTÃO AS QUESTÕES PREJUDICIAIS? QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES 1. Base Legal: Artigos 92 a 94 do CPP; 2. Conceito: Etimologicamente: aquilo que incide; acontecimento imprevisível; • Jurídico: Questões e procedimentos secundários que surgem no processo, interferindo no processo principal. Assim, devem ser resolvidos antes de decidir a questão principal. 3. Processo Incidente em sentido estrito: São relacionados ao processo e podem ser resolvidos pelo próprio juízo criminal. P. ex: medidas assecuratórias (Art. 125 a 144). 3.1. Tipicamente preliminares: Antes do exame do mérito; 3.2. Natureza acautelatória de cunho patrimonial: Ex: hipoteca legal; 3.3. Tipicamente probatória: Ex: incidente de insanidade mental EXEMPLIFICANDO: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA: • Prejudicial é uma questão que precisa ser valorada de forma penal ou extrapenal, antes do julgamento do mérito principal. • Natureza jurídica: Parte minoritária entende que se trata de elementar da infração penal. Outros sustentam que seria condição de procedibilidade (Alfredo de Marcico); outros, a definem como condição da ação. A maioria refere-se à questão prejudicial como espécie de conexão. CARACTERÍSTICAS: a) Anterioridade: a questão prejudicial deve ser julgada antes da prejudicada, já que é subordinada a esta, que, logicamente, depende da solução daquela. b) Essencialidade, Interdependência ou Necessariedade: trata-se de uma dependência que não é apenas lógica, mas essencial, pois a própria existência da infração penal imputada ao acusado depende da resolução da questão prejudicial, influindo na existência (ou inexistência) do crime objeto do processo principal. c) Autonomia: a questão prejudicial pode ser objeto de um ação autônoma, distinta daquela em que figura como questão prejudicada. CLASSIFICAÇÃO: 1.Quanto à Natureza: A classificação quanto à natureza leva em consideração a natureza da matéria da questão prejudicial: a) questão prejudicial homogênea, comum ou imperfeita: a questão prejudicial pertence ao mesmo ramo do Direito da questão prejudicada. Logo, no âmbito processual penal, tanto a questão prejudicial quanto a prejudicada dizem respeito ao Direito Penal. Ex: Exceção da verdade nos crimes de calúnia b) Questão prejudicial heterogênea, jurisdicional ou perfeita: a questão prejudicial heterogênea é aquela que versa sobre outro ramo do direito (v.g., direito civil, empresarial, tributário, etc.). Como tais questões dizem respeito a ramo distinto do Direito Penal, podem ser apreciadas por um juízo extrapenal, sendo que a elas não são aplicáveis as regras pertinentes à conexão. 2.Quanto à competência: a) questões prejudiciais não devolutivas: como o próprio nome já sugere, as questões prejudiciais não devolutivas têm sua solução no próprio juízo criminal em que está sendo julgada a questão prejudicada, sem que haja necessidade de intervenção de um juízo extrapenal. Correspondem às questões prejudiciais homogêneas; b) questões prejudiciais devolutivas: dizem respeito às questões prejudiciais que podem ser solucionadas por um juízo extrapenal. Subdividem-se em: b.1) questões prejudiciais devolutivas absolutas (ou obrigatórias) b.2) questões prejudiciais devolutivas relativas (ou facultativas) 3. Quanto aos efeitos: Questões prejudiciais obrigatórias, necessárias ou em sentido estrito: são aquelas que sempre acarretam a suspensão do processo, já que o juízo criminal não tem competência para apreciá-las, razão pela qual se vê compelido a remeter a solução da controvérsia ao juízo extrapenal. Correspondem às questões prejudiciais devolutivas absolutas, ou seja, às questões prejudiciais heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas; b) Questões prejudiciais facultativas ou em sentido amplo: o juízo penal pode (ou não) remeter as partes ao juízo extrapenal para a solução da controvérsia. Correspondem às questões prejudiciais devolutivas relativas, ou seja, às questões prejudiciais heterogêneas não relativas ao estado civil das pessoas. SISTEMAS DE SOLUÇÃO: Adotado pelo CPP: Misto ou eclético: Prejudicialidade Obrigatória (Estado civil das pessoas) e facultativo nas demais questões. Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. (Obrigatória) QUESTÕES PREJUDICIAIS DEVOLUTIVAS ABSOLUTAS: • 1. Pressupostos: • 1.a) Existência da infração: para que seja possível o reconhecimento da prejudicialidade, a questão prejudicial deve guardar relação com a própria existência da infração penal, funcionando como verdadeira elementar do delito. É o que ocorre no crime de bigamia, em que a validade do primeiro casamento afeta a própria tipicidade da conduta delituosa, já que o crime somente estará caracterizado se alguém contrair, sendo casado, novo casamento (CP, art. 235). Da mesma forma, se não há relação de filiação, não há falar em abandono material (CP, art. 244). • 1.b) Controvérsia séria e fundada: o reconhecimento da questão prejudicial obrigatória acarreta a suspensão do processo criminal até que, no juízo cível, seja a controvérsia dirimida por sentença transitada em julgado. Destarte, se o juízo penal vislumbrar que a parte suscitou a questão prejudicial apenas como meio para procrastinar o processo, ou para provocar dilação indevida, não deve reconhecer a prejudicialidade. 1.c) questão prejudicial relativa ao estado civil das pessoas: para que seja reconhecida a questão prejudicial obrigatória, deve ela versar sobre o estado civil das pessoas. O “estado da pessoa”, explica Clóvis Bevilaqua, “é o seu modo particular de existir. Pode ser físico, de família e político. O estado físico é o modo de ser da pessoa em relação à integridade mental (sãos de espírito e alienados), à idade (menores e maiores), ao sexo (homem e mulher). O estado de família distingue as pessoas em: casadas, solteiras, parentes e afins. O estado político transcende a ordem privada. É o direito constitucional que determina quem é cidadão quem é estrangeiro”. 2. Consequências: Uma vez verificada a presença dos pressupostos acima delimitados, o reconhecimento da prejudicialidade obrigatória acarretará as seguintes consequências: 2.a) inquirição das testemunhas e produção de outras provas de natureza urgente: o reconhecimento da prejudicialidade obrigatória acarretará a suspensão do processo e da prescrição até o trânsito em julgado da decisão cível. 2.b) Suspensão do processo e da prescrição: de acordo com os arts. 92 e 94 do CPP, essa suspensão será decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes, e deve perdurar até o trânsito em julgado da decisão cível que dirimir a controvérsia. • OBS: A suspensão do processo virá acompanhada da suspensão da prescrição. • De fato, de acordo com o art. 116, I, do Código Penal, antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime. 2.c) intervenção do Ministério Público no processo cível: diante do dever de persecução penal que recai sobre o Ministério Público em virtude do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, uma vez determinada a suspensão do processo e da prescrição em face da prejudicial obrigatória, incumbe ao Parquet, quando necessário, promover a ação civil ou prosseguir na que tiver sido iniciada. • É nesse sentido, aliás, o teor do art. 92, parágrafo único, do CPP. QUESTÕES PREJUDICIAIS DEVOLUTIVAS RELATIVAS: Pressupostos: Para que seja possível o reconhecimento de uma questão prejudicial devolutiva relativa (ou facultativa), é necessária a presença dos seguintes pressupostos:• 1.a) Existência da infração: para que seja possível o reconhecimento da prejudicialidade, a questão prejudicial deve guardar relação com a própria existência da infração penal, funcionando como verdadeira elementar do delito. • 1.b) Questão prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas: o art. 93 do CPP • refere-se à decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível. • EXEMPLO: crime de exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345), pelo fato de o acusado ter retomado a posse de bem imóvel valendo-se da força, concluiu o Supremo que a definição de quem detinha a posse no momento do fato figuraria como questão prejudicial heterogênea da existência do referido delito. Isso porque, na visão do STF, constitui elemento normativo do tipo do exercício arbitrário das próprias razões • 1.c) ação cível em andamento: ao contrário da prejudicial obrigatória, em que não há necessidade de que a ação cível já esteja em andamento (CPP, art. 92, parágrafo único), o reconhecimento da questão prejudicial facultativa somente será possível se já tiver sido proposta ação para resolvê-la no juízo cível, pelo menos em momento anterior a sua arguição no âmbito processual penal; • 1.d) questão de difícil solução: nos mesmos moldes que a prejudicial obrigatória, o reconhecimento da prejudicial facultativa também apresenta como pressuposto a arguição de questão que seja de difícil solução 1.e) ausência de limitações quanto à prova fixadas pela lei civil: em sede processual penal, como está em jogo a liberdade de locomoção do acusado, bem de natureza indisponível, é sabido que vigoram os princípios da busca da verdade e da liberdade quanto aos meios de prova. • Por força disso, todo e qualquer meio de prova pode ser utilizado no processo criminal, seja ele nominado ou inominado, típico ou atípico, ressalvadas, logicamente, as provas ilícitas e imorais. • Em sentido diverso, a lei civil estabelece certas limitações quanto à prova. 2. Consequências: Constatada a presença dos pressupostos acima especificados, o reconhecimento da prejudicialidade facultativa acarretará as seguintes consequências: • 2.a) inquirição das testemunhas e produção de outras provas de natureza urgente: uma vez firmada a existência de questão prejudicial facultativa, deve o juiz determinar a inquirição das testemunhas e produção de outras provas de natureza urgente, o que deve ser feito, logicamente, antes da suspensão do processo e da prescrição; • 2.b) suspensão do processo e da prescrição: o reconhecimento da prejudicialidade facultativa também acarreta a suspensão do processo e da prescrição. Porém, se, na prejudicial obrigatória, esta suspensão perdura até que, no juízo cível, seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado (CPP, art. 92, caput), na prejudicial facultativa o juiz marcará um prazo de suspensão (v.g., 1 ano, 2 anos), que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for imputável à parte. • Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa (CPP, art. 93, § 1º). • OBS: Perceba-se que o dispositivo refere-se ao fato de o juízo cível ter proferido decisão, porém nada diz quanto à necessidade de tal decisão ter transitado em julgado (ou não). Diferencia-se, pois, do disposto no art. 92 do CPP, que faz clara menção à sentença do juízo cível passada em julgado. • 2. c) intervenção do Ministério Público no âmbito cível: suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbe ao Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento (CPP, art. 93, § 3º). RECURSOS: • Determinada a suspensão do processo p/ questão prejudicial heterogênea, seja ela pertinente (ou não) ao estado civil das pessoas, o recurso cabível será: o RESE, nos termos do art. 581, XVI, do CPP. • E se a SUSPENSÃO tiver sido equivocada? • Se o juiz, julgando equivocadamente estar diante de questão prejudicial, suspender o processo penal, a prescrição não ficará suspensa, podendo, mais tarde, ser declarada em grau de recurso a extinção da punibilidade. • Por isso, a lei faculta o manejo do RESE tanto em relação às questões prejudiciais de suspensão obrigatória (CPP, art. 92), como no tocante aos casos de suspensão facultativa (CPP, art. 93). • OBS: NÃO cabe recurso contra a decisão que indeferir a suspensão do processo (CPP, art. 93, § 2º), por ausência de previsão legal! • OBS: A despeito de não haver previsão legal de recurso adequado contra o indeferimento da suspensão do processo em virtude de questão prejudicial, a matéria poderá ser questionada em preliminar de futura e eventual apelação, sem prejuízo da utilização dos writs constitucionais – mandado de segurança e habeas corpus. QUESTÕES DE FIXAÇÃO: • 1. Consoante o Código de Processo Penal, se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. • 2. Caso o julgamento de ação penal dependa da solução de controvérsia séria e fundada acerca do estado civil das pessoas, caberá ao próprio juízo penal o julgamento da questão prejudicial. • 3. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso pelo prazo de 90 (noventa) dias, que poderá ser prorrogado uma única vez, se a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver toda a matéria da acusação ou da defesa. • 4. Se, no curso de uma investigação criminal, a autoridade policial tomar conhecimento de questão prejudicial controversa da qual dependa a existência do crime investigado, a autoridade deverá ordenar a suspensão do procedimento e comunicar o fato ao MP, para que este tome as medidas cabíveis para a solução de controvérsia prejudicial obrigatória.
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