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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PROCESSUAL PENAL Questões Prejudiciais e Processos Incidentes Livro Eletrônico 2 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Apresentação .................................................................................................................4 Questões Prejudiciais e Processos Incidentes .................................................................5 1. Introdução às Questões Prejudiciais ............................................................................5 1.1. Conceito e Natureza Jurídica .....................................................................................6 1.2. Características ......................................................................................................... 7 1.3. Diferença entre Questão Prejudicial e Questão Preliminar .......................................8 1.4. Sistemas de Solução das Questões Prejudiciais .......................................................9 1.5. Classificação das Questões Prejudiciais ................................................................. 10 1.6. Recursos Cabíveis .................................................................................................. 18 1.7. Vinculação entre os Juízos Cível e Criminal ............................................................ 18 1.8. Princípio da Suficiência da Ação Penal .................................................................... 19 2. Introdução aos Procedimentos Incidentais .............................................................. 20 2.1. Das Exceções – Conceito ........................................................................................ 21 2.2. Suspeição, Impedimento e Incompatibilidade do Órgão do Ministério Público ........27 2.3. Exceções de Incompetência, Ilegitimidade, Litispendência e Coisa Julgada .............29 2.4. Restituição de Coisas Apreendidas ........................................................................34 2.5. Medidas Assecuratórias ........................................................................................38 2.6. Incidente de Falsidade ...........................................................................................55 2.7. Incidente de Insanidade Mental ..............................................................................57 Resumo ........................................................................................................................65 Questões de Concurso ..................................................................................................67 Gabarito ...................................................................................................................... 88 Gabarito Comentado .................................................................................................... 89 3 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL ApresentAção Olá, aluno(a)! Aula nova é sempre motivadora, não é mesmo? E aqui vamos tratar de al- guns temas que muitos candidatos “deixam para lá”, ou porque consideram chatos ou porque entendem que são de menor importância. Mas aqui já fica o meu alerta! Chato é tudo aquilo que a gente não conhece bem – a consequência já é o desestímulo para estudar. E avançando na nossa aula, você vai perceber que é um tema que tem alguns “detalhes” a serem desta- cados e, após fazermos isso, tudo fica bem mais claro e até legal! E eu te garanto: o domínio desse conteúdo te permite trabalhar com o processo penal com uma desenvoltura singular! E isso vai se refletir na sua prova objetiva, mas também em provas dissertativas em que você tenha que enfrentar questões práticas, vai por mim! E ainda que fosse um tema, digamos assim, desinteressante, não poderíamos fugir dele. Sabe por quê? Aquela justificativa de que se cuida de um tema de menor importância esbarra facilmente na quantidade de vezes em que ele é cobrado em provas de concurso! Mas, afinal de contas, de que assunto estou falando? Estou me referindo às questões pre- judiciais, aos processos incidentes, às medidas assecuratórias e aos incidentes de falsidade e de insanidade mental! Nossa, professora, já fiquei cansado(a) só de “ouvir” tudo isso. Não se assuste! Vamos desenvolver um por um, com cuidado, para que você passe a ser o(a) fã número 1 desses nossos amigos aí. E tem mais: você vai perceber, principalmente quando for resolver as questões, que os examinadores não têm muita criatividade quando vão perguntar sobre essas matérias. O resultado disso: a repetição de questões. Por isso, nosso material vai direto ao que importa: vamos destacar os aspectos que são mais comumente questionados pelo examinador. Ao trabalho? 4 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES 1. Introdução às Questões prejudIcIAIs Vamos começar nossa aula falando sobre questões prejudiciais. E temos que ter bastan- te atenção aqui, porque cai muito em prova de concurso! Também temos que estar atentos, diante da necessidade de memorizar algumas classificações e expressões que são comu- mente questionados pelo examinador. Para iniciarmos o estudo das questões prejudiciais e facilitar o entendimento, vou me valer de um exemplo não muito usual. Você quer muito fazer uma viagem incrível ao redor do mundo. Um grande amigo seu, sabendo disso e tendo vontade semelhante, aparece com algumas promoções de pacotes viagem, afirmando não ter conseguido ainda definir qual a melhor das opções. Ele quer sua ajuda para definir qual a melhor opção, para que vocês dois façam essa viagem juntos. Mas aí você diz para ele: “sim, essa é a viagem dos meus sonhos (inclusive, qualquer um desses pacotes aí cairia bem!). Mas tem um problema: como ainda não fui aprovado no concurso, não tenho dinheiro suficiente para fazer essa viagem. Além disso, tenho que me preparar para a prova que está se aproximando, o que me impede de fazer qualquer tipo de viagem por agora”. Pronto! Encontramos a questão prejudicial. Primeiro, você precisa resolver o problema da falta de dinheiro, que vai ocorrer com a aprovação no concurso (questão prejudicial), para depois poder decidir a questão prejudicada: qual a melhor proposta entre aquelas apresentadas pelo seu amigo? Isso nos ajuda a entrar nesse tema com tranquilidade. Como isso se aplica no processo penal? Vamos lá. O exemplo mais tradicional de questão prejudicial (agora juridicamente falando) é aquele que se extrai do tipo penal descrito no art. 235 do Código Penal, que trata do crime de bigamia. Art. 235. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena: reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Qual o ponto importante aqui? Só é possível processar criminalmente alguém pelo crime de bigamia se o imputado for casado e contrair casamento novamente. Então, uma das linhas da defesa do réu, nesse caso, pode ser justamente afirmar que o seu primeiro casamento é nulo e que há ação cível justamente visando à anulação daquele casamento! Perceba: sendo 5 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL nulo o casamento anterior, não há que se falar em bigamia. A questão referente à validade ou não do casamento anterior é prejudicial – deve necessariamente ser enfrentada, tendo em vista que repercute diretamente no julgamento da causa. Sendo nulo o casamento, não há que se falar em bigamia. Sendo válido, agora sim posso me ocupar do mérito da minha ação principal. Dito isso, vamos avançar no estudo das questões prejudiciais, conhecedores que já somos do que elas representam. 1.1. conceIto e nAturezA jurídIcA Denominam-se questões prejudiciais aquelas que devem ser enfrentadas pelo juiz,com valoração penal ou extrapenal, antes de decidir quanto ao mérito da ação principal. Portanto, aquelas questões que me impedem de avançar no mérito da causa principal, po- dendo ser de natureza penal – a prática de outro crime, por exemplo, ou extrapenal, a exemplo do que ocorre com o crime de bigamia, em que a análise da validade do primeiro casamento está no campo do direito civil, mas repercute na tipicidade penal. Dito isso, qual a natureza jurídica da questão prejudicial? Parte da doutrina defende que as questões prejudiciais consistem em elementar da infra- ção penal. Em que sentido? Antes de mais nada: o que são elementares da infração penal? Doutrinariamente, são dados essenciais da figura típica. Dados que, se ausentes, conduzem à atipicidade absoluta ou rela- tiva. E por que a questão prejudicial teria a natureza jurídica de elementar da infração penal? Vamos nos valer novamente do art. 235 do Código Penal para explicar. Quando aquele dispositivo diz “con- trair alguém, sendo casado, novo casamento”, a questão prejudicial está inserida dentro do tipo penal. O “ser casado” é a questão prejudicial e também está inserida dentro do tipo penal. Portanto, o que teríamos aqui? Uma elementar da infração penal. O Código de Processo Penal, inclusive, se- gue linha que reforça essa corrente, ao tratar nos artigos 92 e 93 das questões prejudiciais como condicionantes quanto à decisão sobre a existência da infração a ser julgada. 6 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Outra parte da doutrina, hoje majoritária, defende que a questão prejudicial é uma espécie de conexão. Em que sentido? Há entre a questão prejudicial e a questão prejudicada uma de- pendência tal que cria entre elas um nexo necessário. Esse vínculo entre as duas questões é apresentada como forma de conexão. 1.2. cArActerístIcAs Três são as características das questões prejudiciais: • Anterioridade: a questão prejudicial tem de ser decidida antes da questão prejudicada. Há uma subordinação lógica que conduz à necessidade de resolução prévia da questão prejudicial. Sem a solução dela, não se avança no deslinde da questão prejudicada; • Essencialidade, interdependência ou necessariedade: a subordinação que há entre questão prejudicial e prejudicada não é apenas de ordem lógica. Há uma essencialidade, tendo em vista que o enfrentamento da questão prejudicial pode conduzir à aferição da existência ou inexistência da infração penal que se analisa, consistente na questão prejudicada. Valho-me dessa vez do exemplo que se extrai do art. 244 do Código Penal, que diz: Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (de- zoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Imagine você que determinada pessoa esteja sendo processada em relação a esse crime do abandono material e esteja tramitando no cível uma ação negatória de paternidade. Como é que ele poderá ser condenado pelo crime de abandono material se não for o pai da pessoa que, em tese, teria abandonado materialmente? Esse é o raciocínio: há uma relação de essen- cialidade: só posso julgar a demanda penal após resolver essa questão prejudicial. Autonomia: a questão prejudicial pode ser resolvida em uma ação autônoma. É o que se dá no crime de bigamia, em que a validade ou não do primeiro casamento pode ser discutida e resolvida de forma definitiva no juízo cível. Ainda que o processo penal, tratando daquele cri- me de bigamia, venha a ser extinto por causas outras, o processo cível que discute a validade do casamento tem vida própria, e irá prosseguir normalmente. 7 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL 1.3. dIferençA entre Questão prejudIcIAl e Questão prelImInAr As questões prejudiciais não se confundem com as questões preliminares. Há diferenças entre elas, que passo a analisar. As questões prejudiciais dizem respeito a questões que devem ser valoradas pelo juiz antes de decidir o mérito da causa posta a sua apreciação. Isso porque, as questões prejudi- ciais interferem diretamente no direito material, pois se relacionam à existência da infração penal. Ademais, são autônomas, existem independentemente do processo penal. Portanto, a depender de sua natureza (como veremos adiante), podem ser decididas tanto pelo juízo penal quanto pelo extrapenal. Por outro lado, as questões preliminares dizem respeito ao direito processual. Relacio- nam-se não com a existência do crime, mas sim, com os pressupostos processuais e com as condições da ação. Justamente por serem questões processuais, não gozam de autonomia, vale dizer, inexistindo o processo penal, não há que se falar em questões preliminares. Por consequência, apenas serão analisadas pelo juízo penal, precisamente aquele que irá deci- dir a lide principal. Por fim, as questões preliminares, se reconhecidas, impedem a decisão quanto às questões principais. Vamos a um exemplo para facilitar a compreensão. Uma im- portante preliminar, comumente utilizada no processo penal, é a referente à incompetência do juízo. Perceba. Cuida-se de questão relacionada ao direito processual, que em nada interfere na existência do crime, mas sim diz respeito a qual será o órgão julgador. Reconhecida pelo juiz a incompetência, impedido estará de avançar na análise do mérito, devendo encaminhar o feito para julgamento pelo juízo competente. QUESTÃO PREJUDICIAL QUESTÃO PRELIMINAR Penal ou extrapenal Processual ou de mérito Ligada ao direito material Ligada ao direito processual Ligadas ao mérito da infração penal Ligadas à existência de pressupostos processuais Autônomas Sempre vinculadas ao processo criminal Decidida por um juízo penal ou extrapenal (a depender da natureza) Sempre decidida pelo juízo penal 8 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Questão 1 (CESPE/2010/MPE-ES/PROMOTOR DE JUSTIÇA) A questão prejudicial diz res- peito ao processo e seu regular desenvolvimento, merecendo solução antes de a decisão ser proferida. Como se percebe, a alternativa está incorreta, pois se refere, em verdade, a uma questão pre- liminar. 1.4. sIstemAs de solução dAs Questões prejudIcIAIs Como faço para resolver uma questão prejudicial? São quatro os sistemas trabalhados pela doutrina para solução das questões prejudiciais, que veremos a seguir. Sistema da Cognição Incidental ou do Predomínio da Jurisdição Penal. Segundo esse sis- tema, o juiz penal será sempre competente para conhecer a questão prejudicial, mesmo que ela pertença a outro ramo do direito, por exemplo, ainda que diga respeito ao estado civil das pessoas. Sistema da Prejudicialidade Obrigatória ou da Separação Jurisdicional Absoluta. De acor- do com esse sistema, a questão prejudicial não será decidida pelo juiz penal, sequer de ma- neira incidental, caso ela seja de natureza extrapenal. Assim, caso o juiz penal se depare com questão prejudicial de outro ramo do direito, ele para tudo e manda para o juízo extrapenal. Ele não pode decidir. Sistema da Prejudicialidade Facultativa. Aqui, o juiz penal tem a faculdade de enfrentar ou não as questões prejudiciais que digam respeito a outro ramo do direito. Está no campo de decisão do juiz verificar se deve ou não enfrentar as prejudiciais heterogêneas. Sistema Eclético ou Misto. Cuida-se da fusão dos sistemas de prejudicialidade obrigató- ria com o de prejudicialidade facultativa. É o sistema adotado pelo nosso Código de Processo 9 de 129www.grancursosonline.com.brDanielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Penal: cuidando-se de questão prejudicial heterogênea relativa ao estado civil das pessoas, conforme o art. 92 do CPP, o juízo penal tem de remeter as partes ao juízo cível (prejudiciali- dade obrigatória). Por outro lado, se a questão prejudicial heterogênea não disser respeito ao estado civil das pessoas, o juízo penal poderá decidir ou não a questão, conforme o disposto no art. 93 do CPP, em uma aplicação do sistema da prejudicialidade facultativa. Mais adiante trataremos com mais cuidado dessas regras extraídas dos arts. 92 e 93 do CPP. 1.5. clAssIfIcAção dAs Questões prejudIcIAIs 1.5.1. Quanto à Natureza Questão prejudicial homogênea, comum ou imperfeita. É aquela que pertence ao mesmo ramo do direito da questão prejudicada. Assim, as duas questões, prejudicial e prejudicada, pertencem ao mesmo ramo, ou seja, ao direito penal. O melhor exemplo aqui se extrai do crime de receptação, descrito no art. 180 do Código Penal, que considera criminosa a condu- ta de quem adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influi para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba. Para que alguém seja condenado pelo crime de receptação, uma questão prejudicial que se coloca é que a coisa seja produto de crime. Ser o bem produto de crime está dentro do tipo penal. Ademais, é homogênea porque saber se aquele bem é produto de crime é uma análise que também pertence ao direito penal. Não é questão patrimonial, não é questão relativa ao estado civil, nada disso. É questão de direito penal. Na mesma linha o crime de lavagem de capitais: a questão prejudicial homogênea diz respeito à verificação de que está sendo ocultado valor proveniente de crime antecedente. Logo, a existência do crime antecedente é prejudicial. Tanto em uma quanto em outra hipótese (receptação e lavagem de capitais), o juiz irá, na fundamentação da sentença, falar sobre a questão prejudicial, ou seja, irá verificar se há um 10 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL crime antecedente, o qual é pressuposto para a existência do crime prejudicado. No entanto, essa análise não faz coisa julgada quanto ao crime antecedente, pois não se trata do objeto principal daquela ação penal. Aí eu te pergunto: quando o Código de Processo Penal trata “das questões prejudiciais”, a quais questões prejudiciais o Código se refere, às homogêneas ou às heterogêneas? Vamos analisar os dispositivos. Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada (até aí podia ser receptação, mas aí vem:), sobre o estado civil das pessoas (...). Se está falando sobre o estado civil das pessoas, obviamente está tratando de questão prejudicial heterogênea, que não é abarcada pelo direito penal. Não é diferente com o art. 93. Vejamos: Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior (...). Aqui também está se referindo a lei a questões de competência do juízo cível, muito em- bora não seja relativa ao estado civil. Portanto, também estamos diante de uma questão pre- judicial heterogênea. Essa análise nos faz concluir que o Código de Processo Penal não trata das questões prejudiciais homogêneas em seus artigos 92 e 93. Diante da inexistência de regramento, como resolver a questão prejudicial homogênea no processo penal? As questões prejudiciais homogêneas são resolvidas por meio da conexão probatória ou instrumental. Caso os dois crimes sejam objetos do mesmo processo, o juiz vai julgar ambos, na mesma sentença. No entanto, se não houver o reconhecimento da conexão probatória ou instrumental, o primeiro crime (questão prejudicial homogênea), deverá ser apreciado apenas de maneira incidental para que o juiz possa julgar a imputação (tal qual exemplifiquei anteriormente, quanto ao cri- me de receptação, caso não tenha se dado a reunião dos feitos em decorrência da conexão). Neste caso, repito por importante, a decisão incidental sobre o primeiro crime não faz coisa julgada formal e material. 11 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Questão Prejudicial Heterogênea, Incomum, Perfeita ou Jurisdicional. Aqui, as questões prejudiciais pertencem a outro ramo, que não o direito penal. Essa questão pode dizer respeito ao estado civil das pessoas, ou a questão diversa. Exemplo de questão prejudicial heterogê- nea referente ao estado civil das pessoas já foi por nós explorado: aquele que diz respeito à validade do casamento, diante de uma ação penal que imputa ao réu a prática do crime de bi- gamia. Por outro lado, exemplo de questão prejudicial heterogênea que diz respeito a questão diversa do estado civil das pessoas é aquele em que, em um crime patrimonial, há discussão sobre a propriedade do bem. Vamos lá. Determinada pessoa é acusada da subtração de um veículo. No entanto, o réu daquela ação penal afirma peremptoriamente que ele, em verdade, adquiriu o bem da suposta vítima, e que tem testemunhas dessa transação. Ora, não há furto de coisa própria. Então, para concluir quanto à existência ou não desse fato criminoso atri- buído ao réu, precisa o juiz de solucionar anteriormente uma questão prejudicial, justamente aquela que diz respeito à propriedade do bem. É uma questão extrapenal, que impede a aná- lise quanto ao fato criminoso imputado ao réu. 1.5.2. Quanto à Competência para Apreciação Questão Prejudicial Não Devolutiva é aquela que será sempre analisada pelo juízo penal. Aqui, o juízo penal não vai devolver o conhecimento da matéria a qualquer outro órgão jurisdi- cional. Quais são as questões prejudiciais que sempre são decididas pelo juízo penal? As ho- mogêneas, pois pertencem ao mesmo ramo. Então, as questões prejudiciais não devolutivas coincidem exatamente com as questões prejudiciais homogêneas. Questão Prejudicial Devolutiva: aqui, o juiz penal devolve o conhecimento da questão pre- judicial ao juiz natural. É o juiz natural quem vai decidir a questão prejudicial, restando ao juízo criminal a análise da questão prejudicada. Atenção! A questão prejudicial devolutiva subdivide-se em: • Questão prejudicial devolutiva ABSOLUTA: é aquela que em hipótese alguma poderá ser analisada pelo juízo penal. Quais são elas? São as questões heterogêneas relacio- nadas ao estado civil das pessoas. Sempre que o juiz penal se deparar com uma ques- tão dessa, terá que remeter as partes para o juízo cível, visando à resolução da questão; 12 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL O que acontece se o juiz penal decidir uma prejudicial heterogênea relativa ao estado civil das pessoas? Estaremos diante de uma nulidade absoluta, pois o juiz é incompe- tente absolutamente para decidir quanto aquela matéria. E isso pode ser questionado a qualquer tempo, mesmo após a formação da coisa julgada. • Questão prejudicial devolutiva RELATIVA: é a questão que pode, eventualmente, ser analisada pelo juízo penal. E quais são essas questões? As heterogêneas que não di- zem respeito ao estado civil das pessoas. Assim, caso você esteja diante de uma ques- tão prejudicial heterogênea que não diga respeito ao estado civil das pessoas, essa questão tanto pode ser resolvida pelo juízo cível quanto pelo juízo penal. Sabe aquele exemplo da propriedade do carro? É justamente aqui que ele entra. Se aquele veículo foi comprado ou não pelo suposto autor do crime, é uma questão prejudicial devolutiva relativa. Por essa razão, o juiz penal vai decidir se ele analisa essa questão ou se vai aguardar adecisão do cível sobre essa questão patrimonial. Mais adiante vamos tratar com mais minúcia sobre como isso funciona. 1.5.3. Quanto aos Efeitos Questão Prejudicial Obrigatória ou Necessária ou Em Sentido Estrito: é aquela que SEM- PRE conduz à suspensão do processo. Caso o juiz penal se depare com uma prejudicial obri- gatória, DEVE suspender o processo penal. E qual questão prejudicial causa essa obriga- toriedade? A heterogênea relacionada ao estado civil das pessoas: como ela não pode, em hipótese alguma, ser enfrentada pelo juiz penal, ele se vê obrigado a suspender o processo. Questão Prejudicial Facultativa ou em Sentido Amplo:: é aquela que apenas eventualmen- te irá acarretar a suspensão do processo. O juiz penal tem, de acordo com a lei, a faculdade de determinar ou não a suspensão do processo. Corresponde justamente à questão prejudicial devolutiva relativa, pois ela pode ser decidida pelo juízo penal ou pelo juízo extrapenal. Vamos agora tratar com mais cuidado de cada uma dessas espécies de questões preju- diciais. Questão Prejudicial Devolutiva Absoluta (Heterogêneas Relativas ao Esta- do Civil das Pessoas) O que é necessário para que eu tenha configurada uma questão prejudicial devolutiva absoluta? 13 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL A prejudicial deve dizer respeito à EXISTÊNCIA da infração penal. Com efeito, para que eu possa falar em questão prejudicial que gera a suspensão do processo, tenho que estar diante de uma questão prejudicial a que a existência da infração penal esteja condicionada. Ou seja, tenho que estar diante de uma elementar do crime. Se a questão disser respeito a uma cir- cunstância (e não a uma elementar), não vai se operar a necessária suspensão do processo, pois não estou diante de uma prejudicial devolutiva absoluta. Quer ver um exemplo? Filho que pratica roubo contra o próprio pai. Incide sobre o caso a agravante descrita no art. 61, II, e: São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II – ter o agente cometido o crime: e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge. Perceba: se o acusado, no curso do feito, nega ser filho da vítima e afirma que, inclusive, há ação negatória de paternidade no juízo cível, questiono a você: preciso suspender obriga- toriamente o meu processo penal? Veja, muito embora a questão referente à paternidade diga respeito ao estado civil das pessoas, no caso em análise ela repercute tão somente quanto a uma circunstancia agravante e não quanto à própria existência do crime. Seja o acusado filho ou não da vítima, o crime de roubo estará configurado (claro, se provadas as elementares do tipo, a materialidade e a autoria delitivas). Assim, não se trata de uma questão prejudicial de- volutiva absoluta. O juiz vai sem qualquer tipo de problema. Havendo condenação, e fazendo o juiz incidir a agravante, em caso de posterior resultado da ação cível que reconheça a ine- xistência da paternidade, a solução que restará vai ser uma revisão criminal visando a afastar a agravante. A prejudicial deve ser séria e fundada. Para que o juiz suspenda o processo, não basta uma mera alegação da prejudicialidade. A parte tem de demonstrar plausibilidade da prejudi- cial que está sendo invocada. Se o juiz perceber que a atitude da parte é apenas para retardar o curso do feito, pois carente de qualquer embasamento, deve negar a existência de prejudi- cialidade e avançar na análise do feito. A prejudicial deve dizer respeito ao estado civil das pessoas. A questão deve recair sobre a existência, séria e fundada, que verse sobre o estado civil das pessoas, tais como casamento, filiação etc. 14 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Deparando-se o juiz com uma questão prejudicial devolutiva absoluta, deve OBRIGATORIA- MENTE suspender o processo, assim como o prazo prescricional. E aqui eu te pergunto: essa suspensão do processo e da prescrição vai ocorrer até quan- do? Naquele nosso exemplo da bigamia: suspendo o processo penal para aguardar o resul- tado da decisão cível quanto à validade do casamento. Até quando dura essa suspensão? O art. 92 do Código de Processo Penal responde a essa questão, dizendo que a ação penal ficará suspensa até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado. A suspensão da prescrição está prevista também no Código Penal, em seu art. 116, I: antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime. A suspensão é do processo! Não há que se falar em suspensão do inquérito policial em de- corrência de uma possível prejudicial. O inquérito pode seguir normalmente e ser encerrado, sem qualquer influência de eventual questão que será tida como prejudicial ao avanço do processo penal. A despeito disso, abre-se aqui a possibilidade de produção de provas consideradas ur- gentes, bem como de inquirição de testemunhas, o que se depreende, também, da leitura do art. 92 do Código de Processo Penal. Outro ponto interessante aqui é a regra que decorre do parágrafo único do art. 92: Em razão do princípio da obrigatoriedade, nos crimes de ação penal pública, o Ministério Público pode promover a ação civil referente à questão prejudicial, ou dar prosseguimento àquela já inicia- da, ainda que originariamente não tivesse legitimação para isso. 15 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Veja bem. O Ministério Público é obrigado a oferecer denúncia, caso haja elementos de convicção suficientes. Se, diante de uma prejudicial heterogênea, relativa ao estado civil das pessoas, ficasse o Ministério Público impossibilitado de atuar, certo é que o acusado não iria ingressar com a ação civil para discutir o estado civil das pessoas. Ele não teria o menor interesse em assim agir, pois ele sabe que enquanto a ação civil não for proposta, o proces- so penal não terá seguimento contra ele. Por isso, a lei prevê a possibilidade de o Ministério Público ingressar com essa ação civil, mesmo que não tivesse legitimidade originariamente. Questão Prejudicial Devolutiva Relativa Para que eu possa falar em questão prejudicial devolutiva relativa, que conduza à possi- bilidade de suspensão do feito, preciso me deparar com alguns elementos: • a prejudicial deve dizer respeito à EXISTÊNCIA da infração penal. Nesse ponto, a questão se assemelha ao que já conversamos sobre a questão prejudicial devolutiva absoluta; • deve ser de difícil solução; • não pode ser uma questão prejudicial heterogênea relativa ao estado civil das pessoas. Caso seja, será era devolutiva absoluta, conforme já estudamos; • não deve o direito civil limitar a prova quanto à questão prejudicial. Esse pressuposto se depreende da leitura do art. 93 do Código de Processo Penal que diz: se o reconhe- cimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente. Então veja você: um dos pressupostos para o reconhecimento desta prejudicial é que a lei civil não limite a produção da prova quanto a ela. Qual a justificativa para a existência desse pressuposto? Presta atenção: aqui a lei civil não pode limitar a prova. Raciocine comigo: no processo penal, em sede de provas, vige um princípio muito importante, o chamado princípio da liberdade das provas. No processopenal, devido à importância do bem jurídico em disputa, qual seja, a liber- dade de locomoção, há liberdade para produção de provas. Essa mesma liberdade se repete 16 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL no processo civil? Não, lá há certas limitações. Assim, caso a lei civil limite a prova quanto à questão prejudicial, o acusado estaria sendo prejudicado. Então, o raciocínio é esse: Eu não posso mandar alguém para o cível se no lá a produção probatória vai sofrer algum cerceamento. Estaria sendo violado o princípio da ampla defesa. Portanto, a razão de ser desse pressuposto é exatamente o princípio da liberdade das provas. Então, se a lei civil estabelecer limitações à prova (ex. art. 227 CC), o acusado estaria sen- do prejudicado caso fosse remetido ao civil, porquanto no processo penal vigora o princípio da busca da verdade e da liberdade das provas. Já deve ter sido proposta a ação civil – a ação civil, aqui, já deve ter sido proposta para não provocar uma lentidão ainda maior no processo. Diferente é o que ocorre na prejudicial obrigatória, em que não é preciso que a ação civil já tenha sido proposta. Diante de uma questão prejudicial devolutiva relativa, quais as consequências para o pro- cesso penal? Em primeiro lugar, aqui o juiz tem a faculdade de reconhecer a existência ou não da ques- tão prejudicial. A lei diz que “o juiz criminal poderá”. Então, é o juiz quem verifica se é caso ou não de reconhecer a prejudicialidade. Se ele reconhecer, qual é a consequência? Suspensão do processo e também a suspensão da pres- crição. Mas, cuidado! Por quanto tempo esse processo fica suspenso? Na prejudicial devolutiva absoluta, a suspensão se dá até o trânsito em julgado. Aqui, é o juiz quem estabelece um prazo para a suspensão do processo! O prazo pode até ser posteriormente prorrogado, se a demora não for imputável à parte, mas de todo modo ele é fixado pelo juiz. Caso exaurido o prazo, sem decisão do juízo extrapenal, a prescrição volta a correr e o juízo penal reassume a competência para decidir a prejudicial e o faz de maneira incidental. É o que se depreende do § 1º do art. 93 do CPP, que diz: O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa. 17 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Desse modo, proferida decisão pelo juízo cível quanto à questão prejudicial, volta a correr o curso do prazo prescricional, bem como o juízo criminal retoma a possibilidade de decidir a questão prejudicada (não mais a prejudicial, pois já decidida). Perceba que não há exigência expressa aqui de trânsito em julgado da decisão proferida pelo juízo cível para que possa o juízo criminal decidir o mérito da causa. Durante a suspensão, pode ser realizada a produção de provas de natureza urgente, assim como a oitiva de testemunhas. Cuidando-se de crime de ação penal pública, o Ministério Público deve intervir na ação civil já proposta. Atenção! Aqui o Ministério Público não tem legitimidade para iniciar a ação extrapenal. Ele apenas poderá intervir na ação civil já proposta, visando a que ela transcorra o mais rapidamente possível. 1.6. recursos cAbíveIs O § 2º, do art. 93 do Código de Processo Penal é categórico ao dispor que do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso A doutrina afirma ser possível a impetração de habeas corpus ou de mandado de segurança. Por outro lado, caso o juiz ordene a suspensão do processo em razão de questão prejudi- cial, diga ela ou não respeito ao estado civil das pessoas, contra essa decisão cabe o Recurso em Sentido Estrito, nos termos do art. 581, XVI do CPP. 1.7. vInculAção entre os juízos cível e crImInAl Diante de uma questão prejudicial heterogênea, fica o juízo criminal vinculado à decisão tomada pelo juízo cível? De outro modo, decidindo o juízo criminal a questão heterogênea (quando isso for possível), fica o juízo cível vinculado a essa decisão? Vamos pensar a partir de exemplos. Exemplo: determinada pessoa está sendo processado pelo crime de bigamia, previsto no art. 235 do Código Penal. O acusado afirma que o primeiro casamento dele é nulo. Pronto, 18 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL estamos diante de uma prejudicial heterogênea relativa ao estado civil. O juiz penal não pode decidir sobre a validade desse casamento e, por isso, remete para o cível apreciar essa ques- tão. A decisão do juízo cível vincula o juízo penal? O juízo penal está obrigado a acatar o que o juiz cível decidir? Sem dúvida alguma que sim. Essa decisão do juiz cível repercute no juízo penal. E cuidado! Mesmo que não fosse sobre estado civil das pessoas. Só para ficar bem claro! Caso o juízo criminal entenda por remeter para o cível determinada questão, ainda que diversa do estado civil das pessoas, havendo decisão no cível, também haverá vinculação do juízo penal! E o contrário? Imagine o exemplo do furto do veículo, em que o réu afirmou que não pode ser processado pelo crime de furto, pois, em verdade, ele adquiriu aquele bem, sendo impossível a prática de crime patrimonial, cuidando-se de bem de sua propriedade. Imagine que o juiz penal, nesse exemplo, entenda que a questão não é de difícil solução e, portanto, que ele quem deve decidir sobre a questão patrimonial. Quando o juiz penal aprecia essa prejudicial hete- rogênea, essa decisão dele vincula o juízo cível? Não! Quando o juiz penal aprecia a questão patrimonial, ele faz isso de maneira incidental porque, em verdade, o que interessa e vai estar protegido pela coisa julgada é o crime. O juiz cível não vai ficar preso ao juízo penal. Em resumo: tem força de coisa julgada na esfera penal a decisão cível quando a ques- tão prejudicial for heterogênea, pouco importando se houve ou não a suspensão do pro- cesso criminal e independente se verse ou não sobre o estado civil da pessoa. Por outro lado, a decisão do juiz criminal sobre questão prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas, não faz coisa julgada na esfera civil, na medida em que sua apreciação se dá de maneira incidental. 1.8. prIncípIo dA sufIcIêncIA dA Ação penAl O que é princípio da suficiência da ação penal? Por que esse ponto está ligado às ques- tões prejudiciais? Em algumas espécies de questões prejudiciais, a ação penal já é suficiente, ou seja, ela basta para que a prejudicial seja resolvida. É o que se dá nas questões prejudiciais 19 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL homogêneas e nas heterogêneas que não digam respeito ao estado civil das pessoas. É essa a ideia do princípio da suficiência da ação penal. Já em outras questões prejudiciais, que é o caso das prejudiciais heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas, ou mesmo nas prejudiciais heterogêneas não relativas ao estado civil das pessoas, mas que sejam de difícil solução, a ação penal não é suficiente. Por isso que é preciso remeter para o cível. Quanto a estas últimas, portanto, não se aplica o princípio da suficiência da ação penal. É isso! Com essa abordagem, nós encerramos o estudo das questões prejudiciais, pas- sando por todos os temas mais relevantes, especialmente sob o ponto de vista dos examina- dores de concursos. Mas eu não quero parar por aqui. Sabe por quê? 2. Introdução Aos procedImentos IncIdentAIs Saímos das questões prejudiciais e vamos avançar mais um pouco, tratando dos proces- sos incidentais em sentido estrito,aqueles relacionados ao processo, e que devem ser decidi- dos pelo próprio juiz criminal. Aqui temos as exceções, o conflito de competência, a restitui- ção de coisas apreendidas, as medidas assecuratórias, o incidente de falsidade e o incidente de insanidade mental do acusado. A doutrina costuma classificar esses incidentes em: • Questões tipicamente preliminares: são aquelas que devem ser decididas antes da análise do mérito da causa. Compreendem as exceções de suspeição, de incompatibi- lidade e de impedimento; as exceções de incompetência de juízo, de litispendência, de ilegitimidade de parte e de coisa julgada, assim como o conflito de competência; • Questões de natureza acautelatória de cunha patrimonial: aqui está a restituição de coisas apreendidas, assim como as medidas assecuratórias – sequestro, especializa- ção e registro de hipoteca legal e arresto; • Questões probatórias: nesse grupo estão compreendidos os incidentes de insanidade mental, que interfere na constatação da culpabilidade do réu, e de falsidade documen- tal, que repercute na materialidade do crime. 20 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL 2.1. dAs exceções – conceIto As exceções são conceituadas como procedimentos incidentais em que são alegados fatos processuais que dizem respeito a pressupostos processuais ou a condições da ação, buscando a extinção ou dilação do processo. Nos termos do art. 95 do Código de Processo Penal, podem ser opostas exceções de sus- peição, incompetência de juízo; litispendência; ilegitimidade de parte; coisa julgada. Todas essas exceções podem ser também conhecidas de ofício pelo juiz, o que leva a doutrina a criticar o termo exceção, afirmando que tecnicamente se cuidam de verdadeiras objeções – estas sim não demandam provocação para que sejam apreciadas pelo juiz. A des- peito disso, o Código utiliza o termo exceção, e é dele que vamos nos valer em nossa aula. 2.1.1. Modalidades de Exceções 2.3.1. Quanto aos Efeitos Exceções dilatórias – buscam apenas procrastinar o processo. O reconhecimento delas não gera a extinção do feito, mas tão somente o retardamento do andamento processual. São duas: exceção de suspeição (aqui incluído o impedimento e a incompatibilidade) e exceção de incompetência do juízo Exceções Peremptórias – são aquelas que tem por objetivo a extinção do processo. São elas: • exceção de litispendência – uma vez reconhecida a litispendência, o processo instau- rado em segundo lugar será extinto; • exceção de coisa julgada – reconhecida a coisa julgada, o processo será extinto; • exceção de ilegitimidade de parte – causa divergência na doutrina. Alguns doutrinado- res entendem que a exceção de ilegitimidade é dilatória, enquanto outros defendem que é peremptória. Mas devemos distinguir: aqui deve ser feita uma análise que passa pelo tipo de ilegitimidade que está sendo arguida. Isso porque, cuidando-se de ilegitimidade ad causam, a consequência será a extinção do processo: se o Ministério Público inicia ação penal em crime que se processa mediante ação penal privada, a consequência será a extinção do processo, em razão da ilegitimidade ativa. Por outro lado, caso a 21 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL hipótese seja de ilegitimidade ad processum, a exemplo de queixa-crime oferecida por menor de 18 anos, por meio de advogado por ele constituído, abre-se a possibilidade de intimação do representante legal do menor para regularização, tendo em vista que ele poderá ratificar os atos processuais já praticados. 2.1.2. Quanto à Natureza Exceções processuais – trazem alegação de fato processual. São elas: de suspeição, in- competência de juízo; litispendência; ilegitimidade de parte; coisa julgada. Exceções substanciais ou materiais. Subdividem-se em: • direta (ou defesa direta de mérito) – aqui é atacada a própria imputação contida na inicial acusatória: o acusado nega a autoria delitiva, ou afirma que agiu em legítima defesa, por exemplo; • indireta ou preliminar de mérito – é alegado fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor. É exemplo a alegação de prescrição. 2.1.3. Procedimento das Exceções – Notas Introdutórias Quanto ao procedimento das exceções, importa saber que são processadas em autos apartados e, em regra, não suspendem o curso do processo, tudo isso nos termos do art. 111 do CPP. Excepcionalmente, pode ser determinada a suspensão do feito, mediante decisão fundamentada. Quanto a essa regra do artigo 111, duas considerações merecem ser feitas. Primeira delas: a despeito da previsão de que a exceção se processa em autos apartados, caso a matéria venha veiculada em outra peça (como resposta à acusação, alegações finais), não se cuida de óbice para que o juiz dela conheça. Questão formal não pode impedir o juiz de apreciar a matéria. Até porque, temos que lembrar: se as exceções veiculam matérias que po- dem ser, inclusive, conhecidas de ofício pelo juiz, não haveria qualquer razão para o julgador deixar de apreciar questão de que tomou conhecimento no curso do feito, apenas por não ter sido seguida formalidade prevista em lei. Por isso, em razão do princípio da instrumentalidade das formas, caso a matéria venha arguida em peça formulada no curso do processo, deve ser examinada pelo juiz. No entanto, fique atento(a), apesar disso ocorrer na prática, a questão de 22 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL prova vai mencionar a literalidade da lei, que fala sobre a necessidade de formação de autos apartados. O outro ponto que quero destacar quanto ao art. 111 é o seguinte. Cuidando-se de ex- ceção de suspeição, se a parte contrária reconhecer a alegação de parcialidade, poderá ser atribuído efeito suspensivo. Como assim? Diz o art. 102 do CPP, ao trazer o procedimento da exceção de suspeição (que estudaremos em seguida, inclusive destacando que ele se aplica também ao impedimento e à incompatibilidade) que quando a parte contrária reconhecer a procedência da arguição, poderá ser sustado, a seu requerimento, o processo principal, até que se julgue o incidente da suspeição. Logo, apesar de, em regra, as exceções não terem efeito suspensivo, no caso da suspeição, caso a parte contrária concorde com a afirmação de parcialidade, o processo poderá ser suspenso. Procedimento da Exceção de Suspeição (e de Impedimento e de Incompati- bilidade) Vamos agora analisar o procedimento das exceções. Lembrando: na aula sobre sujeitos processuais, já tratamos e estudamos sobre as hipóteses de suspeição, impedimento e in- compatibilidades. Aqui, vamos nos ater a analisar o procedimento para instrumentalizar o reconhecimento daquelas hipóteses, tá certo? Vamos lá. Diz o Código de Processo Penal, em seu art. 112, que o procedimento do impedimento e incompatibilidade é aquele utilizado para a arguição da suspeição. Por conta disso, vamos nos balizar pelos arts. 96 a 103 do CPP, que disciplinam a exceção de suspeição dos juízes, tendo em vista que esse regramento será o utilizado também para as exceções de impedi- mento e de incompatibilidade. Outros dispositivos importantes serão analisados, tratando da suspeição dos serventuários e funcionários da Justiça, assim como do órgão ministerial. Vamos em frente. As hipóteses de suspeição do juiz estão dispostas do art. 254 do CPP. Estão diretamente ligadas à imparcialidade do juiz que irá aplicar o direito naquele caso concreto. Apenas para lembrar: são hipóteses exemplificativas e que se referem a uma relação externa ao processo. Já no que diz respeito ao impedimento, referem-se a uma relação interna com o processo e o 23 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUALPENAL código traz, em seu art. 252, hipóteses taxativas. Incompatibilidades, por fim, são causas que prejudicam a imparcialidade do juiz, mas não estão elencadas pelo legislador como provoca- doras do impedimento ou da suspeição. Dito isso, questiono: como deve ser provocado o juiz para que diga sobre essas hipóteses? Primeiro ponto que temos que observar: diante da constatação da suspeição o juiz DEVE reconhecê-la de ofício, em decisão irrecorrível. Nesse caso, os autos serão remetidos ao subs- tituto legal, conforme as leis de organização judiciárias locais ou provimentos dos tribunais. No entanto, se a suspeição não for reconhecida de ofício pelo juiz, as partes poderão opor a exceção, por meio de petição escrita. Quanto a isso, há que se destacar: as exceções de suspeição, impedimento ou incompatibilidade devem ser feitas por escrito. A petição deve ser assinada pela própria parte, ou por procurador com poderes especiais. A ausência de poderes especiais na procuração pode ser suprida se a parte assinar a petição juntamente com o ad- vogado. E por que isso? Por causa das consequências, pois em algumas hipóteses se imputa ao juiz uma conduta grave, podendo configurar crime contra a honra (cometido por aquele que alega a causa que entende gerar a parcialidade do juiz). Ademais, da exceção já devem constar as razões, acompanhadas de prova documental ou rol de testemunhas. Importante: o Código de Processo Penal autoriza, em seu art. 108, que a exceção de incom- petência seja oposta verbalmente ou por escrito. As exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada seguem o mesmo procedimento da exceção de incompetência (con- forme veremos adiante). Por conta disso, pode-se afirmar que a única exceção que deve ser feita por escrito é a de suspeição (e por consequência, a de impedimento e incompatibilidade, pois seguem o mesmo procedimento). Por outro lado, cuidando-se de exceção de suspeição no Plenário do Júri, o procedimento é distinto. A arguição de suspeição do juiz presidente é feita oralmente. Sendo aceita, o julga- mento é suspenso, devendo a sessão ser presidida pelo substituto legal. Caso não seja pos- sível fazer a substituição de imediato, ou naquele mesmo dia, o julgamento será adiado. Caso 24 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL o juiz não concorde com a arguição, o julgamento é realizado normalmente, devendo o inci- dente ser registrado em ata. Em caso de apelação, pode ser arguida a nulidade do processo. No que diz respeito aos jurados, diz o Código de Processo Penal que a suspeição dos ju- rados deverá ser arguida oralmente, decidindo de plano o presidente do Tribunal do Júri. No caso, se a suspeição for negada pelo jurado recusado, o Juiz Presidente recusará a exceção se a causa indicada pela parte que a opôs não for comprovada imediatamente, fazendo cons- tar tudo da ata. Na nossa aula sobre procedimento do Tribunal do Júri, trataremos com mais cuidados dessas questões. A exceção de suspeição deve preceder a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente. Há várias questões de prova justamente indagando qual exceção deve preceder a qualquer outra. É justamente a de suspeição. Então, muito cuidado aqui! Quer ver como é assim? Questão 2 (CESPE/TJ-AM/JUIZ SUBSTITUTO/2016) De acordo com o CPP, em regra, a ex- ceção cuja arguição precederá a qualquer outra é a exceção de a) litispendência. b) incompetência do juízo. c) ilegitimidade da parte. d) coisa julgada. e) suspeição. Letra e. A alternativa E está em conformidade com o art. 96 do CPP: a arguição de suspeição precede- rá a qualquer outra, salvo quando fundada em motivo superveniente. 25 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Assim, caso o Ministério Público tenha conhecimento da suspeição já antes do início da ação penal, pois o inquérito foi distribuído para juiz suspeito, deverá, ao oferecer a ação penal, já apresentar a exceção respectiva. A defesa, por outro lado, deverá opor exceção de suspei- ção em resposta à acusação. No entanto, em qualquer caso, se o juiz suspeito passar a atuar no feito após essas fases, as partes podem se valer da exceção assim que tomarem conhe- cimento da causa que conduz à imparcialidade do juiz. Com base nisso, parte da doutrina defende que a não arguição da suspeição na primeira oportunidade conduz à preclusão. No entanto, certo é que a suspeição do magistrado está ligada ao devido processo legal e à ga- rantia de imparcialidade do juiz, o que permite sustentar correte diversa, que diz que ela pode ser ela arguida a qualquer momento. A suspeição também pode ser arguida antes mesmo do início da ação penal, visando a que as medidas cautelares sejam analisadas por juiz imparcial. Prosseguindo, já verificamos como é oposta a exceção de suspeição. Só para recapitular: é feita arguição por escrito, em petição assinada pela parte ou por procurador com poderes especiais (ou por ambos), acompanhada de documentos ou rol de testemunhas, nos termos do art. 98 do CPP. Mas o estudo do procedimento não para por aí. Encaminhada a petição para o juiz, ele poderá: • Acolher a exceção de suspeição: caso se declare suspeito, imediatamente o juiz sustará o andamento do processo, juntará aos autos a petição e os documentos que a instruíram e ordenará sejam os autos remetidos ao substituto legal, tudo nos termos do art. 99 do CPP. Contra essa decisão que acolhe a exceção de suspeição, não há previsão legal de recurso; • Não acolher a exceção de suspeição: se o juiz não acolhe, ele vai mandar autuar a peti- ção em apartado e apresentará resposta, em até três dias, podendo juntar documentos, se possível, ou rol de testemunhas. Além disso, determinará que os autos da exceção sejam remetidos ao tribunal a quem competir o julgamento, em 24 horas. Muito embora o Código fale em remessa juiz ou ao tribunal a quem competir o julgamento, é o tribunal quem julga a exceção de suspeição. Chegando os autos ao julgador, abre-se a possi- bilidade de ser reconhecida preliminarmente a relevância da arguição, hipótese em que será marcada dia e hora para oitiva das testemunhas e, em seguida, será realizado o julgamento, independentemente de mais alegações, devendo ser citadas as partes – 26 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL excipiente e excepto. Por outro lado, se a suspeição for manifestamente improcedente, o juiz ou relator a rejeitará liminarmente. Contra a decisão do Tribunal, não há previsão legal de recurso cabível, o que, no entanto, não impede a utilização do HC ou do Man- dado de Segurança, nem tampouco dos recursos extraordinários. Diz o art. 101 do CPP que julgada procedente a suspeição, ficarão nulos os atos do pro- cesso principal, pagando o juiz as custas, no caso de erro inescusável; rejeitada, evidencian- do-se a malícia do excipiente, a este será imposta a multa de duzentos mil-réis a dois contos de réis. Contra a decisão que acolhe a exceção de suspeição, não cabe recurso, conforme o art. 581, III do CPP, que diz que cabe Recurso em Sentido Estrito contra a decisão que julgar procedente as exceções, salvo a de suspeição. Isso é intuitivo, pois como o RESE visa a atacar decisões proferidas por juiz de primeiro grau, e a exceção de suspeição é julgada pelo tribunal, não haveria margem para o cabimento do RESE. A despeito disso, possível o manejo do ha- beas corpus ou do mandado de segurança, ou mesmo dos recursos especial e extraordinário. 2.2. suspeIção, ImpedImento e IncompAtIbIlIdAde do Órgão do mInIstérIo públIco Dispõe o art. 258 do CPP que os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos pro- cessos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim,em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes. Portanto, tudo o que analisamos em relação à suspeição, ao impedimento e à incompati- bilidade do juiz, também se aplica ao órgão do Ministério Público. Mas aqui há alguns deta- lhes que devemos destacar. Primeiro ponto: a participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia, nos termos do enunciado 234 da Súmula do STJ. Já conversamos sobre ela na aula sobre sujeitos processuais, mas a importância do tema (um dos preferidos das bancas!) torna obrigatória a repetição do teor da súmula aqui! 27 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL As causas de suspeição, impedimento e incompatibilidade podem ser arguidas tanto quando o Ministério Público atua como parte, quanto quando ele atua como fiscal da lei. Quem decide a arguição de suspeição do Ministério Público é o juiz de primeira instância. Nos termos do art. 104 do CPP, o juiz, depois de ouvir o órgão do Ministério Público, decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo de 3 (três) dias. 2.2.1. Suspeição da Autoridade Policial Muita atenção aqui! O art. 107 do CPP dispõe que não se poderá opor suspeição às autori- dades policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal. Portanto: a autoridade policial, constatando uma hipótese que a torne suspeita, deverá declarar sua suspeição. Se não o fizer, não há procedimento que possa ser utilizado para afastá-la em juízo. Defende-se a possibilidade de recurso administrativo ao chefe de Polícia, em uma analogia ao que dispõe o art. 5, 2º do CPP. 2.2.2. Suspeição nos Tribunais de 2ª Instância e Tribunais Superiores O art. 103 do CPP disciplina a questão. Dispõe que se o revisor se declarar suspeito, o pro- cesso passará para seu substituto, na ordem de precedência. Caso se cuide do relator, os au- tos serão apresentados em mesa para nova distribuição. Não sendo o relator ou o revisor, a suspeição deve ser reconhecida verbalmente, na sessão de julgamento, o que deverá ser lançado em ata. Caso a suspeição seja do presidente do tribunal, o seu substituto – o vice- -presidente, determinará dia e hora para julgamento. Caso a suspeição não seja aceita de imediato pelo exceto, será observado o procedimento previsto nos arts. 98 a 101 do CPP, justamente aqueles dispositivos que trazem o regramento a ser seguido em caso de exceção de suspeição dos juízes, no que for aplicável. Nesse caso, será julgada pelo tribunal pleno, e o relator será o presidente, salvo quando for ele o recusado, hipótese em que o relator será o vice-presidente. 2.2.3. Suspeição dos Peritos, Intérpretes e dos Serventuários ou Funcioná- rios da Justiça Aqui, dispõe o Código e Processo Penal em seu art. 105, que o juiz deverá decidir de plano e sem recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata. 28 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL 2.3. exceções de IncompetêncIA, IlegItImIdAde, lItIspendêncIA e coIsA julgAdA Vamos analisar o procedimento previsto no nosso Código de Processo Penal para se ar- guir incompetência, ilegitimidade, litispendência e coisa julgada. Antes de iniciar a tratar de cada um deles, quero deixar algo bem claro: quando falo do procedimento das exceções, pas- so rapidamente por conceitos e pontos que entendo relevantes para que você compreenda o tema. No entanto, o aprofundamento em cada um deles é feito em aula própria. Assim, você adquire todo o conhecimento necessário sobre competência, por exemplo, na aula preparada para abordar esse tema, o mesmo que acontece com relação aos demais, tá certo? Meu avi- so vem aqui para que você não ache que estou “pulando” partes importantes do seu estudo. Tudo isso acontece para evitarmos repetições desnecessárias, tratando de cada assunto no lugar certo. Assim, assentada essa premissa, vamos avançar! 2.3.1. Exceção de Incompetência Também é conhecida como declinatoria fori. Cuida-se de defesa indireta, em que a parte pretende seja reconhecida a incompetência do juízo. Antes de falarmos sobre a exceção de incompetência propriamente dita, vamos passar rapidamente por alguns aspectos que dizem respeito à competência absoluta e à competên- cia relativa. A competência absoluta é fixada com base no interesse público. Por isso, ela não admi- te modificações. Então, temos uma competência improrrogável. Já a competência relativa é prorrogável, o juiz que, em tese, não seria competente, pode acabar se tornando competente, diante da possibilidade de flexibilização. No processo penal, tanto a incompetência absoluta como a relativa podem ser apreciadas pelo juiz de ofício. Esta, de acordo com a maioria, até o instante da absolvição sumária. A ab- soluta, por outro lado, pode ser reconhecida, inclusive de ofício, a qualquer tempo. A exceção de incompetência pode ser manejada tanto para arguir incompetência relativa quanto absoluta. Apesar de a incompetência absoluta poder ser arguida em qualquer peça processual, nada impede que seja manejada por exceção – por se tratar de matéria de ordem 29 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL pública, o juiz irá apreciá-la tanto de ofício, quanto por provocação, o que pode se dar por qualquer meio. Nos termos do art. 108 do CPP, a exceção de incompetência deverá ser oferecida no prazo da resposta à acusação. Pode ser oposta verbalmente ou por escrito e não suspende o cur- so do processo principal. Prossegue aquele dispositivo legal, em seus parágrafos, tratando sobre o procedimento da exceção de incompetência, dispondo que o juiz ouvirá o Ministério Público antes de decidir quanto à exceção. Caso seja aceita, os autos serão remetidos ao juí- zo competente, que ratificará os atos anteriores e determinará o prosseguimento do feito. Se, por outro lado, o juiz recusar a incompetência, continuará no feito, fazendo tomar por termo a declinatória, se formulada verbalmente. A despeito da previsão de que a exceção de incompetência será oferecida no prazo da res- posta à acusação, há também a possibilidade de o Ministério Público fazer uso dela, visando a arguir a incompetência do órgão jurisdicional, ainda antes do oferecimento da denúncia, ao observar a distribuição dos autos para juízo que entende ser incompetente. Sendo reconhecida a incompetência do juízo, caberá Recurso em Sentido Estrito com base no artigo 581, II do CPP. Por outro lado, se o juiz julga procedente a exceção de incompetên- cia, caberá RESE, com fundamento no artigo 581, III. No entanto, se o juiz julga improcedente a exceção de incompetência, não há previsão legal de recurso cabível, o que não impede a utilização de habeas corpus ou de mandado de segurança, sequer que seja a matéria arguida como preliminar de eventual apelação. 2.3.2. Exceção de Ilegitimidade Conforme dispõe o art. 110, caput, do Código de Processo Penal, o procedimento da exce- ção de ilegitimidade é semelhante ao da incompetência do juízo. Aqui podemos tratar tanto da ilegitimidade ad causam como também abordar a ilegitimi- dade ad processum e temos que ter cuidado para não confundir. A ilegitimidade ad causam é uma condição da ação penal, que diz respeito à legitimidade para agir: Ministério Público na ação penal pública, ofendido ou representante legal ou sucessores na ação penal privada. A ilegitimidade de parte conduz a uma nulidade absoluta. A ilegitimidade ad processum, por 30 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENALoutro lado, cuida-se de pressuposto processual de existência da relação processual. Assim, em uma ação penal privada iniciada pelo ofendido, ele tem legitimidade ad causam, mas não terá legitimidade ad processum se for menor de 18 anos. Aqui temos uma nulidade relativa, abrindo-se a possibilidade de ser a queixa ratificada pelo representante legal. A ilegitimidade ad causam ou ad processum deve ser reconhecida de ofício pelo juiz, já quando do recebimento da peça de início. Caso não o seja, pode ser posteriormente analisa- da, a qualquer tempo. Sendo reconhecida a ilegitimidade ad causam já no curso do processo, este será anulado desde o início – nulidade absoluta. Já o reconhecimento da ilegitimidade ad processum pode ser sanada a todo tempo, mediante ratificação dos atos processuais, nos termos do art. 568 do CPP. Quais os recursos cabíveis contra a decisão que aprecia a legitimidade? São quatro as possibilidades: • se o juiz rejeita a peça acusatória, em razão da ilegitimidade, cabe o Recurso em Senti- do Estrito, nos termos do art. 581, I; • se o juiz julga procedente a exceção de ilegitimidade, também cabe RESE, porém com base no inciso III, do art. 581; • se o juiz anula a instrução processual, em razão da ilegitimidade também cabe RESE, só que com base no art. 581, XIII; • se o juiz julga improcedente a exceção, não cabe recurso. Pode caber, a depender do caso, habeas corpus ou mandado de segurança. A matéria também pode ser veiculada como preliminar de apelação. 2.3.3. Exceção de Litispendência A litispendência se dá quando o mesmo acusado responde a dois processos penais con- denatórios diferentes, mas que digam respeito à mesma imputação, independentemente da classificação que lhe seja atribuída. Está, portanto, ligada a um princípio importante – princí- pio do ne bis in idem. A litispendência tem seu amparo exatamente nesse princípio, tendo em vista que ninguém pode responder duas vezes pelo mesmo fato delituoso. E quando haverá identidade de ações no processo penal? 31 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL O pedido no processo penal será sempre o mesmo – o de condenação. Então o que tenho que ter em mente aqui, para verificar a ocorrência ou não de litispendência, é que se faz ne- cessário verificar quais são os fatos atribuídos a um mesmo acusado em dois processos di- ferentes. Se a imputação feita ao réu for a mesma, em dois processos diferentes, que estejam em curso, está configurada a litispendência. Quer ver um exemplo? A vítima, entendendo estar o órgão ministerial inerte, vale-se do direito que lhe é conferido constitucionalmente e inicia uma ação penal privada subsidiária da pública. Acontece que dias depois o órgão ministerial, desconhecendo a existência daquela ação penal proposta, oferece denúncia contra aquele mesmo réu, imputando a ele justamente o fato criminoso que consta da queixa subsidiária de que se valeu a vítima. Clara está aqui a litispendência – duas ações penais, atribuindo ao mesmo réu a prática da mesma conduta delitiva. E pouco importa que a vítima tenha, na ação que movimentou, capitulado aquela conduta em determinado tipo penal, enquanto o Minis- tério Público tenha entendido cuidar-se de outro fato típico: o que gera a litispendência é a imputação feita ao réu, é o fato que lhe é atribuído. Também não importa o fato de que não há identidade de partes, sob a perspectiva do sujeito ativo: Ministério Público movendo uma ação, vítima movendo a outra. O que caracteriza a litispendência no processo penal, portanto, é meramente a imputação do mesmo FATO ao mesmo ACUSADO. Dito isso, importa ressaltar que o procedimento da exceção de litispendência é aquele da exceção de incompetência, também em conformidade com o art. 110 do CPP. A exceção de litispendência pode ser arguida a todo momento. Para saber qual processo deve ser extinto, devem ser observados os critérios de prevenção e de distribuição: havendo juízo prevento, será ele o competente para continuar a processar o réu. Não havendo preven- ção de nenhum dos juízes, observa-se a distribuição. Quais são os recursos cabíveis, relacionados à exceção de litispendência? • Se o juiz julga procedente a exceção, o recurso cabível será o RESE, nos termos do art. 581, III; • Se o juiz julga improcedente a exceção, não há previsão de recurso, porém, é cabível o manejo de habeas corpus em favor do acusado, assim como do mandando de seguran- ça, sem deixar de mencionar a possibilidade de a matéria ser aventada como preliminar de apelação; 32 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL • Se o juiz reconhecer a litispendência de ofício, tal decisão tem força de definitiva, assim caberá Apelação, com fundamento no artigo 593 II do CPP. 2.3.4. Exceção de Coisa Julgada A decisão judicial torna-se imutável caso não seja recorrida, ou quando se exaurirem as vias recursais. Assim, transitada em julgado determinada decisão, estamos diante da coisa julgada. Está ligada à segurança jurídica. Caso estejamos diante de uma sentença condenatória ou absolutória imprópria, podemos falar em uma coisa julgada relativa, tendo em vista a possibilidade de utilização, a qualquer momento, da revisão criminal ou mesmo do habeas corpus, visando a modificar aquele pro- vimento jurisdicional. No entanto, diante de uma sentença absolutória ou declaratória da ex- tinção da punibilidade, a coisa julgada, no processo penal, tem caráter absoluto. Aqui se tem o que a doutrina denomina coisa soberanamente julgada, que impede novo processo pelo mesmo fato, ainda que aquela primeira decisão tenha sido proferida por juízo absolutamente incompetente. Os limites objetivos da coisa julgada dizem respeito ao fato natural imputado ao acusado, pouco importando a qualificação que lhe seja atribuída. Se o acusado for absolvido como autor de um crime, pode ser novamente processado, agora como partícipe, daquele mesmo crime, tendo em vista que as imputações são diferentes. Já os limites subjetivos, dizem res- peito à pessoa do acusado. Por isso, a absolvição de um dos coautores, não faz coisa julgada quanto aos demais, exceto se o juiz reconhecer a inexistência do fato criminoso. Caso haja duas condenações, transitadas em julgado, em razão do mesmo fato, decorren- tes de processos distintos, prevalecerá a que primeiro transitou em julgado. O procedimento da exceção de coisa julgada é o mesmo da exceção de incompetência, nos termos do art. 110 do CPP. Quais são os recursos cabíveis relacionados ao tema exceção de coisa julgada? Aqui, é quase idêntico ao que falamos sobre litispendência: • se o juiz julga procedente a exceção, o recurso cabível será o RESE, nos termos do art. 581, III do CPP; 33 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL • se o juiz julga improcedente a exceção, não há previsão de recurso, porém, nada impede o uso do habeas corpus, do mandado de segurança ou a arguição como preliminar de eventual apelação; • se o juiz reconhece de ofício, extinguindo o processo sem a apreciação do mérito, tal decisão tem força de definitiva, e o recurso cabível será o de apelação, conforme art. 593, II do CPP. 2.4. restItuIção de coIsAs ApreendIdAs O Código de Processo Penal trata nos artigos 118 a 124 do procedimento legal para de- volução de coisas que tenham sido apreendidas no curso de investigação e que não mais interessem à persecução penal. Isso porque, havendo dúvida quanto à propriedade do bem apreendido, há que se instaurar verdadeiro procedimento incidental, visando à restituição dos bens. Antes de mais nada, importa fazer uma rápida digressão aos dispositivos do Código de Processo Penal que tratam sobre a possibilidade de apreensão de bens. O § 1º do art. 240do CPP traz a possibilidade de que sejam apreendidos: coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contra- feitos; armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso; objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu; cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato. O objetivo, em linhas gerais, da apreensão desses bens é para que: sejam periciados, o que se mostra imprescindível quando a infração penal deixa vestígios; possam ser os instrumentos do crime exibidos futuramente (o que é mais comum de ocorrer no plenário do tribunal do Júri); realizar contraprova; devolver o bem ou valor ao legítimo proprietário ou possuidor; decretar o perdimento em favor da União. Esses objetos apreendidos ficam sob custódia da autoridade policial, durante o curso da investigação. Após, são remetidos à autoridade judiciária. O produto direto da infração é objeto de apreensão, nos termos aqui tratados. Por outro lado, o produto indireto é passível de sequestro, instituto que estudaremos adiante. O que seria 34 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL produto indireto? Aquele que decorre de alienação do bem subtraído, por exemplo. Por isso a doutrina afirma que o art. 121 do Código de Processo Penal está tecnicamente incorreto, ao falar sobre a apreensão de coisa adquirida com os proventos da infração, pois nesse caso é cabível o sequestro. Para exemplificar: o dinheiro subtraído da vítima pode ser apreendido. No entanto, o celular adquirido com o valor subtraído é objeto de sequestro. Esse aspecto pode ser destacado em uma questão subjetiva. Apesar disso, fique atento à literalidade da lei (que fala em proventos da infração) para questões objetivas. Feitas essas considerações iniciais, vamos tratar especificamente da restituição das coi- sas apreendidas. O Código de Processo Penal traz algumas vedações à restituição de coisas apreendidas. Vamos a elas: • as coisas apreendidas não podem ser restituídas, antes do trânsito em julgado da sen- tença final, enquanto ainda interessarem ao processo (art. 118 CPP). Apesar de a lei se referir a “sentença final”, certo é que a devolução é possível após decisões definitivas outras, que ponham fim ao processo, como aquela que determina o arquivamento do inquérito ou que declara extinta a punibilidade do réu; • os instrumentos do crime, desde que seu fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito, não poderão ser restituídos, sequer depois do trânsito em julgado da sentença final, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé (art. 119 CPP). O que se depreende desse dispositivo é que a restituição de instrumentos do crime apenas é vedada quando se cuidar de objeto proibido ou que esteja ilegal quando da infração penal. Por exemplo, não serão restituídas, em momento algum, cédulas falsas ou drogas apreendidas em poder do réu, ainda que venha ele a ser absolvido. Cuidando- -se de objeto lícito, pode ser restituído, quando não mais interessar à persecução penal. Também deve ser respeitado o direito do terceiro lesado ou de boa-fé. Não é incomum que crimes sejam cometidos fazendo uso de objetos de terceiros, a exemplo de armas de fogo anteriormente subtraídas. Muito embora o autor da infração penal não tenho o direito de porte daquela arma, certo é que o terceiro, que foi vítima de crime anterior, pode tê-la restituída, quando não mais interessar à persecução penal (necessidade de perícias, por exemplo); 35 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL • não podem ser restituídos quaisquer bens ou valores que constituam proveito auferido pelo agente com a prática do crime, mesmo depois do trânsito em julgado, salvo se pertencerem ao lesado ou a terceiro de boa-fé. Assim, seja o produto direto do crime, seja o produto indireto, ou proveito da infração, não podem ser, em hipótese alguma, restituídos ao autor da infração penal. Possível, obviamente, a restituição ao lesado ou a terceiro de boa-fé; • sem o comparecimento pessoal do acusado. Nos termos do art. 60, § 3º da Lei n. 11.343/2006 e art. 4º, § 3º da Lei de Lavagem de Capitais, no que diz respeito aos bens apreendidos em decorrência de crimes previstos naquelas leis, o pedido de restituição não será conhecido se o acusado não comparecer pessoalmente. Não havendo dúvida quanto ao direito, e não interessando o bem ao feito, será restituí- do em seara criminal, seja pela autoridade policial, seja pela judiciária, independentemente da instauração de incidente. É o que dispõe o art. 120 do CPP: a restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamante. Isso porque, sendo certa a propriedade e não havendo interesse para a investigação/instrução, o bem é restituído, sem necessidade de qualquer incidente. Por outro lado, se houver dúvida quanto ao direito de quem pleiteia a restituição, ou quando o bem foi apreendido em poder de terceiros de boa-fé, a hipótese é de instauração de procedimento, o qual passamos a analisar. 2.4.1. Incidente de Restituição de Coisas Apreendidas Não havendo interesse na manutenção da coisa nos autos, e não havendo dúvida quanto ao direito do interessado, a coisa apreendida poderá ser restituída, mediante simples pedido nos autos, sem necessidade de autuação em apartado, tanto pela autoridade policial, ainda no curso das investigações, quanto pelo juiz, já em andamento o processo penal. Podem requerer a restituição o proprietário ou o possuidor, aqui incluídos o investigado, o acusado, o lesado e o terceiro de boa-fé. A restituição pode ocorrer até noventa dias após o trânsito em julgado, nos termos do art. 123 do CPP. Decorrido esse prazo, sem requerimento de resti- tuição, ou se não pertencerem os objetos ao réu, serão vendidos em leilão, depositando-se o saldo à disposição do juízo de ausentes. 36 de 129www.grancursosonline.com.br Danielle Rolim Questões Prejudiciais e Processos Incidentes DIREITO PROCESSUAL PENAL Havendo dúvida quanto ao direito de quem pleiteia o bem, ou quando as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, vai ser instaurado o incidente de restituição de coisas apreendidas. O incidente é autuado em apartado, perante o juízo criminal, sempre que se cuidar de apreensão vinculada a inquérito policial ou processo penal que apure fato crimi- noso ou contravenção penal. Questão 3 (FCC/2014/MPE-PE/PROMOTOR DE JUSTIÇA) A restituição de coisas apreen- didas poderá ser ordenada pela autoridade policial, se encontradas em poder de terceiro de boa-fé e não houver dúvida quanto ao seu direito. Errado. A alternativa está incorreta, pois estando o bem em poder de terceiro de boa-fé, só pode ser ordenada pela autoridade judicial, nos termos do art.120, § 2º do CPP. Nesse caso em que há dúvida quanto ao direito de quem pleiteia o bem, após a autuação do pedido em apartado, será assinado o prazo de 5 dias para que o requerente prove o seu direito. Aqui, apenas o juiz criminal pode decidir quanto à restituição, não mais a autoridade policial. Por outro lado, se as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, ele será intimado para alegar e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e outro dois dias para arrazoar. O procedimento será autuado em apartado, e ape- nas poderá ser resolvido pelo juiz. Em qualquer caso, o Ministério Público será SEMPRE ouvido quanto ao incidente de res- tituição. Sendo necessária ampla dilação probatória, o juízo criminal remeterá
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