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FERIDA TRAUMATICA O médico generalista precisa estar apto á → controlar a hemorragia e estabilizar o paciente caso haja sinais de choque hipovolêmico; avaliar a extensão e a gravidade da lesão; realizar o tratamento definitivo dos ferimentos superficiais; em casos graves e complexos, envolvendo cartilagens, tendões, nervos, vasos sanguíneos de grande calibre e ossos, realizar o tratamento inicial na unidade e encaminhar o paciente a um centro de referência secundária ou terciária, de urgência ou eletivamente. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS • Independente da causa da ferida, o processo de cicatrização se desenvolve de forma previsível e contínua, dividido em três fases: inflamatória, proliferativa e maturação → conhecer esse processo permite instituir o tratamento adequado da ferida, a programação da retirada dos pontos e do retorno às atividades de trabalho. • Todas as feridas se fecham naturalmente, mas a cura pode ser otimizada por meio de abordagem cirúrgica, que inclui: sutura, desbridamento cirúrgico e curativo. • O sucesso do fechamento cirúrgico da ferida envolve conhecimentos sobre a etiologia do trauma, a localização anatômica, o tempo do trauma, as comorbidades do paciente e a técnica cirúrgica. • As feridas podem ser tratadas por diferentes tipos de fechamento e cada um tem um efeito sobre a cicatrização. • A cicatrização pode ocorrer por primeira, segunda ou terceira intenção o Primeira intenção: é a forma mais desejável. ▪ mínima perda tecidual, resposta inflamatória rápida, menor incidência de complicações e a cicatriz apresenta menor índice de defeitos. o Segunda intenção: é a forma de tratamento para ferimentos com grande perda tecidual ou com presença de infecções. O ▪ período cicatricial é mais prolongado devido a resposta inflamatória intensa, há maior incidência de defeitos cicatriciais (cicatriz hipertrófica e queloide) e não há possibilidade de aproximação das bordas por suturas. o Terceira intenção: essa modalidade de tratamento de feridas se destina àquelas em que o fechamento primário imediato não é possível. ▪ A ferida pode ser tratada, inicialmente, com desbridamento cirúrgico, curativos, antibioticoterapia e, após o controle da infecção, ser fechada com sutura. CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS MECANISMO DE TRAUMA • Ferimentos incisos ou cirúrgicos: produzidos por um instrumento cortante. o Geralmente são feridas limpas e fechadas por suturas. o Agentes: faca, bisturi, lâmina. • Ferimentos contusos: produzidos por objeto rombo o Causam traumatismo de partes moles, hemorragia e edema, sem ruptura da pele. o Agentes: pau, pedra, soco. • Ferimentos lacerantes: apresentam margens irregulares com mais de um ângulo. o O mecanismo da lesão é por tração, rasgo ou arrancamento tecidual. o A mordedura de cão é o exemplo clássico. • Ferimentos perfurantes: são caracterizados por pequenas aberturas na pele. o Lesões pequenas porém profundas o Agentes: bala, ponta de faca, estilete. • Ferimentos por avulsão: ocorrem por forças de cisalhamento e fricção, resultando em destruição e perda tecidual o amputação é a situação mais frequente. • Queimaduras. GRAU DE CONTAMINAÇÃO FERIDAS LIMPAS • Sem sinais de contaminação e menos de 6 horas até o atendimento. • Fechamento por suturas. FERIDAS CONTAMINADAS • Sem indícios de infecção local e com mais de 6 horas até o atendimento. • Poderão ser fechadas por suturas após criterioso preparo do leito da ferida. • A prescrição de antibióticos está indicada em casos selecionados. FERIDAS INFECTADAS • intenso processo inflamatório e infeccioso. • A sutura não está indicada neste momento. • Tratar a infecção com antibióticos tópicos e/ou sistêmicos. • Após a infecção ser controlada, pode-se proceder ao fechamento da ferida por sutura AVALIAÇÃO DO PACIENTE ANAMNESE • Determinar o tempo de trauma - toda ferida é considerada contaminada após 6 horas do trauma. • Determinar o mecanismo de trauma • Verificar a presença de morbidades que podem afetar a cicatrização • Pesquisar situação vacinal – potencial de infecção por tétano ou raiva EXAME FÍSICO • Avaliar a presença de dor, parestesia e perda de função. • Avaliar a extensão e a profundidade da lesão. • Identificar o grau de contaminação e presença de corpo estranho – realizar esse processo após boa analgesia • Avaliar presença de lesão nervosa, arterial, tendão, muscular, cartilagem e fratura → encaminhar EXAME COMPLEMENTARES Geralmente não são necessários, solicitar se: hipertensão arterial, diabetes mellitus, uso de corticoide e imunossupressores e uso de ácido acetilsalicílico (AAS) e anticoagulantes OBS: coagulo é considerado um corpo estranho e tardia a cicatrização SE AMPUTAÇÃO, IMPOSSIBILIDADE DE UNIR BORDAS, TRAUMA TRANSFIXANTE NA ORELHA, TRAUMA TOTAL DE PÁLPEBRA E NARIZ → ENCAMINHAR • Fratura – pois a presença de fratura modifica a conduta, sendo necessário que o paciente seja encaminhado • Se ferida extensa que o paciente necessite ir para o centro cirúrgico ETAPAS DO TRATAMENTO 1. ANALGESIA 2. LIMPEZA 3. HOMEOSTASIA 4. DESBRIDAMENTO DE TECIDO DESVITALIZADO 5. ESCOLHA DE FIO E SUTURA IDEAL 6. USO DE ATB VENOSO PROFILÁTICO, SE NECESSÁRIO 7. CURATIVO IDEAL 8. ORIENTAÇÕES DE ALTA CONSIDERAÇÕES • Ferimentos contaminados quando tempo do trauma > 6 horas (golden period) até a abordagem cirúrgica E/OU apresente sujidade no leito da lesão. • Os ferimentos contaminados, incluindo os causados por mordedura de cães e gatos, podem ser suturados após receber cuidados especiais de limpeza do leito da ferida. • Se ferimentos perfurantes (projétil de arma de fogo e prego) MESMO sem sinais de contaminação, NÃO devem ser suturados, porque estes instrumentos levam partículas potencialmente contaminadas para a profundidade da lesão. • O médico deve se paramentar com gorro e máscara, lavar as mãos e calçar luvas estéreis. ANALGESIA - local, regional, geral ou venosa O anestésico mais usado é a lidocaína, com ou sem epinefrina. • Vantagens do uso da epinefrina incluem: início mais rápido de analgesia, longa duração, maior controle da dor pós-operatória, redução do uso de torniquetes ou de outras manobras para controle de sangramento, menor absorção sistêmica e menor quantidade de anestésico necessário. • A dose máxima de lidocaína sem vasoconstritor é de 7 mg/kg/dose, e com vasoconstritor, de 10 mg/kg/dose. LIMPEZA • Realizar limpeza das bordas e da pele adjacente com clorexidine degermante OU PVPI • Irrigar o leito da ferida com SF 0,9% em jato usando 200-250mL o O “jato” permite a redução da contagem bacteriana e a remoção de corpos estranhos • Se ferimento muito contaminado pode-se realizar a lavagem do leito da ferida com clorexidine, porém o excesso precisa ser removido com SF pois são substancias citotóxicas HOMEOSTASIA Através da compressão, ligadura e cauterização • Os sangramentos maiores podem ser estancados por ligaduras ou por eletrocauterização • Face, mãos e couro cabeludo sangram mais pois são mais vascularizados – realizar homeostasia apenas com compressão DOSE SEGURA 5 m/kg/dose para lidocaína sem vasoconstritor 7 mg/kg/dose com vasoconstritor • O sangramento da ferida torna-se preocupante na presença de vaso sanguíneo pulsátil DESBRIDAMENTO • É um processo necessário pois tecido morto é “alimento” para bactéria • Realizar ampliação da ferida SEMPRE que se tratar de uma ferida pontiaguda → o objeto só poderá ser removido pelo medico generalista se não ultrapassar o subcutâneo • O desbridamento diminui a necrose • Possibilita a equivalência entre as bordas FIO E SUTURA IDEAL FIOS • Preferir os fios monofilamentares não absorvíveis (náilon) - menores índices de infecção e são os mais utilizados. • Se subcutâneo, fáscias e músculos → fios sintéticos absorvíveis monofilamentares,como o vicryl, são os mais indicados para suturas de subcutâneo, fáscias e músculos. • Na ausência de vicryl, utilizar o categut em suturas que envolvam o plano subcutâneo e náilon nas suturas de fáscias, que demandam maior resistência SUTURAS • Suturar utilizando ponto simples, evitando suturas continuas e intradérmicas • Na presença de bordas irregulares NÃO suturar de forma padrão – “montar o quebra-cabeça” o As bordas contraem e se desalinham o Começar a suturar de acordo com os “encaixes” • A sutura deve ser feita respeito os planos permitindo que a borda da ferida seja “selada” com 24- 48 hrs o se fuga das normas técnicas da sutura não haverá o fechamento das bordas no período previsto • A sutura nos planos corretos também evita a formação de espaço morto, coleções líquidas (seroma e hematoma) e consequente infecção ATB PROFILÁTICO E PROFILAXIA ANTITETANICA Avaliar necessidade conforme: • Localização da ferida • Idade do paciente • Presença de comorbidades • Fisiopatologia • Grau de contaminação ANTIBIOTICOS • Se ferimentos superficiais - realizar cobertura para Staphilococcus epidermidis e o Staphilococcus aureus • Se mordedura por cães e gatos, realizar cobertura para pasteurella multocida CUIDADO – Se vaso calibroso visualizado porém não pulsátil → excluir a possibilidade de choque pois o vaso fica colabado/contraindo SITUAÇÕES ONDE ESTÁ INDICADO O USO • Extremos de idade • fraturas ou lesões nas articulações; tendões ou cartilagens; • feridas que são grosseiramente contaminadas e não podem ser adequadamente limpas • tempo de trauma muito alongado (> 18 horas); • mordedura por animais cefalexina, doxiciclina, clindamicina ou sulfametoxazol com trimetoprima Amoxicilina + clavulanato PROFILAXIA ANTITETANICA • Se o paciente tomou três doses ou mais, última dentro de um período de 10 anos → não é necessário se fazer reforço. • Se o paciente estiver com sua situação vacinal desatualizada → encaminhar para vacinação • Considerar imunização passiva com imunoglobulina humana (homóloga), levando-se em consideração as características da ferida, as condições sob as quais ela ocorreu e o estado prévio de imunização ativa do paciente CURATIVO IDEAL Acidos graxos essenciais, sulfadiazine de prata ou curativos a base de prata • O oléo de girassol hidrata bem, porém forma uma crosta sendo um foco de infeção – orientar o paciente a tomar banho 3x/dia • Neomicina x s. de prata o Neomicina – da mais infecção sistêmica o S. de prata – tempo de ação de 12hrs sendo necessário trocar a cada 12 hrs ORIENTAÇÕES DE ALTA • Receita médica – analgesia com dipirona ou o paracetamol via oral o evitar AINE pois podem afetar o processo de cicatrização • Encaminhamento para vacinação • Orientações sobre quando retirar os pontos e onde • Orientações sobre a remoção do curativo – geralmente 24-48hrs o Retirar o curativo no domicilio, lavar o local da ferida durante o banho e enxugá-lo com uma toalha macia sem esfregar. CASO CLÍNICO 1 – QUEDA DE BICICLETA • Considerar escoriações como “queimaduras de 2º grau superficial” • OBS: sempre pensar nas feridas como queimaduras o Se atingiu epiderme e derme superficial → queimaduras de 2º grau superficial o Se atingiu derme profunda → queimaduras de 2º grau profunda o Se ultrapassou a derme →3º grau • Analgesia simples venosa – dipirona, tramadol, cetoprofeno e/ou dolantina • Limpeza com clorexidine degermante e SF 0,9% • Curativo de troca diária – ácidos graxos essenciais, sulfadiazine de prata ou curativos a base de prata • Acompanhamento ambulatorial • Analgesia oral e uso de AGE diário CASO CLÍNICO 2 – ACIDENTE DE TRABALHO • Preocupação com o nível de profundidade • Realizar analgesia venosa + analgesia local com xilocaína • Limpeza com clorexidine degermante e SF 0,9% em jato Média de 5-7 dias Face 3-5 dias Articulações 14-21 dias Couro cabeludo 10-14 dias • Neste caso, está indicado a solicitação de exames complementares como RX de mão em 2 ou mais incidências • Avaliar déficit funcional e fraturas • Encaminhar para ortopedista • Realizar desbridamento e ampliação da ferida • Profilaxia contra tétano CASO CLÍNICO 3 – LESÃO EM COURO CABELUDO • Limpeza com SF 0,9% em jato e bordas com clorexidine degermante OU PVPI • Anestesia em leque INTERNAMENTE pois dói menos • Realizar sutura “em encaixes” • Acompanhamento ambulatorial – retirar pontos com 10-14 dias CASO CLÍNICO 4 - AGRESSÃO FÍSICA COM FACA • Analgesia local • Limpeza com clorexidine degermante e SF 0,9% em jato • Desbridamento das bordas da ferida para deixar a espessura do corte equivalente entre as bordas e diminuir a área de necrose • Sutura – corte obliquo torna as bordas irregulares, sendo necessário suturar “em encaixes” • ATB venoso profilático • Profilaxia contra tétano • Retorno ambulatorial – retirar pontos com 5-7 dias CASO CLÍNICO 5 – TRAUMA COM VIDRO EM PÉ HÁ 6 DIAS • Analgesia • Limpeza exaustiva • Desbridamento amplo • Sutura – não existe uma janela de tempo máximo para realização da sutura • ATB venoso e oral para uso ambulatorial - a partir de 6 hrs, a ferida já é contaminada • Retirada dos pontos com 14 dias CASO CLÍNICO 6 – QUEDA DE MOTO • Por se tratar de uma ferida extensa com grande perda da musculatura → ENCAMINHAR O PACIENTE • Estabilizar o paciente • Realizar curativo úmido compressivo com SF e gaze algodoada • Anestesia no centro cirúrgico • Avaliação da ortopedia, vascular e cirurgia plástica • ATB e profilaxia antitetânica
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