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Ana Monize R. Fonseca 1 Técnicas cirúrgicas de hemostasia e conduta na infecção da ferida cirúrgica Introdução Hemostasia provém do gregro haimóstasis (hemos – sangue; stasis – deter). No que se refere ao ato operatório, denomina-se hemostasia ao conjunto de manobras destinadas a previnir ou coibir hemorragias. TODO paciente cirúrgico deverá ser avaliado quando ao risco de sangramento: antecedente de perda sanguínea infundada, fluxo menstrual, uso de medicamentos que possam afetar (como anticoagulantes), história de hematomas e equimoses desproporcionais, entre outros. Objetivos: 1. Evitar perda sanguínea que pode comprometer a saúde e até a vida do paciente. 2. Manter o campo operatório limpo: permitindo reconhecer bem os elementos anatômicos. 3. Evitar a formação de hematomas e infecção consequente. Avaliação pré-operatória - História Clínica: desordens dos fatores de coagulação (hemofilia) que possam prolongar o sangramento cirúrgico ou causar hemorragia profunda em músculos e articulações; Doença de Von Willebrand ou Anormalidades plaquetárias que possam causar sangramentos superfícies mucocutâneas. - Exame Físico: atentar para presença de equimoses e petéquias, além de telangiectasias, hepatoesplenomegalia, ascite e icterícia. - Medicações: • Varfarina: poder ser mantida com INR ≤ 3.0, e substituída 2 a 3 dias antes da cirurgia, dependente do INR, por HBPN (entre 2.500 e 3.500 U subcutânea por dia). • Antiagregantes: interromper 5 a 10 dias antes da cirurgia, única dose de aspirina inibe completamente e irreversivelmente a ciclo-oxigenase. • Heparina padrão: descontinuada 2–3 horas antes da cirurgia. E heparina de baixo peso molecular (HBPN): descontinuada 12–15 horas antes da cirurgia. Reintrodução: quase de imediato após a cirurgia até 24hrs. Variáveis - Origem do sangramento - Tipo de hemorragia - Localização do sangramento - Métodos disponíveis no local Tipos ✤Pode ser: • Preventiva: medidas visando a profilaxia de uma hemorragia. • Corretiva: utilizado para coibir sangramento em andamento no ato. ✤Além de: • Temporária: fluxo reduzido ou suprimido transitoriamente. • Definitiva: obliteração permanente do lúmen vascular. Ana Monize R. Fonseca 2 Hemostasia Prévia ✤Realizada antes da intervenção cirúrgica. ✤ Intuito de interromper temporariamente o fluxo sanguíneo para local de incisão. ✤Mais frequentemente praticada nos membros com objetivo de prevenir hemorragia. ✤Eventualmente, pode ser usada em casos de atendimento aos acidentados. ✤Métodos: • Compressão em massa de membros: Faixa de Esmarch/Garrote de borracha/Faixa pneumática, torniquete. • Ligadura elástica na base de uma extremidade. • Compressão digital de artérias e veias. • Compressão manual da aorta, da veia cava. Hemostasia Temporária ✤Compressão • Pressão digital direta, o uso de gaze ou compressa. • Quando sangramento é mínimo, a compressão por tempo variável poderá formar o coágulo virando hemostasia definitiva. • Quando sangramento surge nas bordas da ferida: compressão é realizada diretamente com as mãos e dedos sobre compressas e gazes • Compressão: vasos se colabam —> espasmos vasculares —> formação de coágulo. • A compressão digital pode ser a mais indicada em certos casos. OBS: Manobra de Pringle: compressão do pedículo hepático com os dedos (casos de hemorragia do pedículo hepático ou do parênquima) • Gazes e compressas também podem ser usadas para enxugar o campo operatório. Cuidado para que esses materiais não lesionem ainda mais. • Geralmente, o auxiliar inicia a compressão enquanto o cirurgião se prepara para aplicação da pinça hemostática. • Sangramento em cavidades, como a abdominal, utilizam-se as pinças elásticas para conduzir os gazes e compressas até o local de sangramento. • Cuidado para não esquecer compressas e/ou gazes dentro da cavidade. • Em algumas situações, são usadas pequenas gazes enroladas para realizar dissecção tecidual. ✤Pinçamento de vaso sangrante • Utilização de pinça hemostática. • Pode ser suficiente para gerar uma hemostasia definitiva em pequenos capilares. • Propicia o impedimento de aporte sanguíneo enquanto se providencia a aplicação de ligadura com fio cirúrgico, clipe metálico ou de cauterização para hemostasia definitiva. ✤Clampeamento de tronco vascular • Em operações com vasos de grosso calibre podem ser usados visando manter um determinado seguimento sem a presença de sangue como em transplantes vascularizados de órgãos. • Materiais: pinças atraumáticas ou clampes bulldog (aquém e além do ponto para exangue das anastomoses venosas e arteriais); pinças vasculares atraumáticas (De Bakey e Satinsky) e Ana Monize R. Fonseca 3 Vessel-loop (material elástico e atraumático, preferível, nessas ocasiões, do que os fios cirúrgicos por menor risco de lesão da parede vascular). • Na ausência, são utilizados cadarços conhecidos como fitas cardíacas (embora muito mais ásperos e irritantes para o tecido). ✤Garrote ou torniquete • Em geral, é um método utilizado fora do campo operatório. • Uso de faixa ou tubo de borracha elástica, que é passada em torno da raiz do membro. • Manguitos pneumáticos e faixas de Esmarch: métodos mais eficazes de garroteamento. • Cuidado e interromper, periodicamente, a insuflação. Isquemia pode ser mantida até 60 min (MS) e 90 min (MI). • Liberar compressão durante 10 a 30 min caso a operação se prolongue mais que esse tempo. Deve ser liberada antes da síntese para se fazer uma avaliação. • Contra-indicado: presença de isquemia/ trombose venosa/ doença ou trauma vascular/ trauma ou infecção nos tecidos moles de sustentação dos membros/ fratura ósseas • Manguitos: ➡Insuflação entre 50-70 mmHg acima da PAS para MMSS e entre 90-100 mmHg para MMII); ➡Possibilita compressão mais uniforme e graduável. • Faixa de Esmarch ➡Fita elástica de borracha. ➡Mais em operações ortopédicas. ➡Aplicada em MM elevado, permitindo o esvaziamento do sangue venoso. ➡A isquemia provocada no MMSS pode ser mantida por até 60 minutos e no MMII até 90 minutos. • Torniquete Pneumático: ➡No antebraço prévio à amputação do quinto dedo da mão devido à recorrência circunferencial de um carcinoma papilar. • Torniquete com dreno de Penrose: ➡É envolvido em torno do dedo proximal ao sítio tratado. Uma pinça hemostática curva pinça o anel de torniquete com a curva virada para fora do campo cirúrgico. ✤Posicionamento anti hemorrágico • Posicionar o campo operatório acima do nível do coração: diminuição do aporte sanguíneo. • Trendelenburg: operações sobre a metade inferior do corpo. • Trendelenburg reversa: operações sobre a cabeça e pescoço. • Operações sobre as mãos: apoio do braço sobre uma mesa inclinada ✤Oclusão endovascular com cateter tipo Fogarty • Durante procedimento operatório vascular: introdução do cateter + insuflar balão = interrupção do aporte sanguíneo a uma área específica. • Uso principal: retirada de trombos arteriais e venosos. • Em oclusão do fluxo arterial: introdução na parte proximal do vaso (permitindo a manipulação distal). Ana Monize R. Fonseca 4 ✤Medicamentosa • Vasoconstritores ➡Diminuição do sangramento a nível capilar. Ex: Adrenalina. ➡Também pode ser usada de forma definitiva. Ex: Endoscopias para ruptura de varizes esofagianas e úlceras pépticas / Arteriografias seletivas para sangramentos no trato digestório. • Hipotensores ➡Leva a quadro de hipotensão arterial controlada: reduz fluxo sanguíneo. Ex: nitroprussiato de sódio. ✤Coagulação Tópica • Esponja gelatinosa absorvível (Gelfoam): sua ação é uma pressão no local por elevada absorção de sangue pela esponja —> compressão • Celulose oxidada regenerada (Surgicel): maior adesão + agregação plaquetária —> coágulo de fibrina. • Adesivos de fibrina: composição: trombina, fibrinogênio, fator XIII e aprotinina: ação: é mimetizar estágios finais da coagulação —> formar coágulo —> Complementa a hemostasia. Usado em: anastomoses vasculares,ressecções parciais de baço, artroplastias. Hemostasia Definitiva ✤Ligadura • Mais frequentemente se segue a um procedimento temporário de hemostasia (método corretivo), mas também pode ser usado como método preventivo (antes que algum vaso seccione). • Na ligadura preventiva: ✓O vaso é dissecado e depois ligado. ✓Método 1: dissecção (tesoura ou pinça) + pinçamento proximal e distal (pinças hemostáticas) + secção (bisturi ou tesoura). ✓Método 2: dissecção do vaso + introdução de pinça hemostática sob o leito do vaso + fios cirúrgico para ligaduras nas porções próxima e distal + Secção do vaso (OBS: são realizados nós cirúrgicos para ligadura das porções proximal e distal). ✓Em vasos de grosso calibre, podemos acrescentar ligaduras de segurança. ✓Deixar espaço entre as ligaduras para evitar que alguma seja solta e haja sangramento. • Ligadura corretiva: realizada após vaso ser lesionado. • Pinçamento de vaso sangrante isolado: ✓ Pode ser feita pensão prévia longitudinal com uma pinça + levantar vaso + pinça transversalmente com outra pinça hemostática + ligadura. Ana Monize R. Fonseca 5 ✓ Pode ser feita com transfixação ao redor do vaso previamente pinçado com utilização de pontos em X, circulares ou helicoidais. • Pinçamento de vaso sangrante sem isolamento: ✓Em massa ou individualizado. ✓Aplicação das pinças hemostáticas + secção entre elas + ligar ambas as extremidades ✤Clipe • Hemogrampo (clipe hemostático). • De forma geral, é preferível em vaso previamente isolado. Em hemorragias de difícil controle, pode ser aplicado em massa (cuidado com estruturas nobres). • Materiais: aço inoxidável e titânio (não absorvíveis) e polímeros de ácido glicólico (os absorvíveis). • Os clipadores podem ser curvos ou angulados. • O tamanho dos clipes depende do tamanho dos clipadores (3,1 a 11,4 mm de largura). • Fornece agilidade maior aos procedimentos. Grande utilidade para hemostasia em locais com campo cirúrgico mais escasso (mais reduzido). • Grande aplicação na videocirurgia. ✤Tamponamento por compressas • Em sangramento difuso de difícil controle, tanto em parede quanto dentro de cavidades. • Vai colabar vasos seccionados e promover a ocorrência de espasmo vascular reflexo, podendo levar ao estancamento da hemorragia. • É dada preferência pelas compressas umedecidas em soro fisiológico frio (aderem menos aos coágulos formados, vasoconstrição. • Em muitos casos, o tamponamento realizado por 5-10 min já é suficiente. Tem casos em que são introduzidas várias compressas (cavidade abdominal) + fechamento da parede = retirar cerca de 24 a 48 horas depois. ✤Cauterização • Bisturi elétrico: corrente elétrica —> energia térmica —> queimadura do tecido —> retração e contração dos vasos (pequeno calibre)= Eletrocoagulação. ✤Obturação Tópica • Cera para osso (“cera de abelha”): mistura opaca e estéril de cera de abelha, parafina e diluentes. Muito usado em sangramento ósseo. Pressionada no local sangrante. Complicações da má técnica: causa um sangramento intra e pós-operatório e uma terrível tétrade como hematoma, deiscência, necrose e infecção. Infecção da ferida ✤Fatores de Risco: Ana Monize R. Fonseca 6 ✤Patógenos mais encontrados: • Stapbylococcus (coagulase-negativo). • Enterococcus (grupo D). • Stapbylococcus aureus. • Candida albicans. • Eschericbia coli. ✤Classificação das Feridas Operatórias: • Limpa (1-3%): sem penetração de víscera oca, fechamento primário da ferida, sem inflamação, sem falhas na técnica asséptica, e procedimento eletivo. • Limpa contaminada (5-8%): víscera oca penetrada mas controlada, sem inflamação, fechamento primário da ferida, pequena falha na técnica asséptica, utilização de dreno mecânico e preparação intestinal no pré-operatório • Contaminada (20-25%): extravasamento descontrolado de uma víscera, inflamação aparente, ferida aberta traumática e grande falha na técnica asséptica. • Suja (30-40%): não tratada com extravasamento descontrolado de uma víscera, pus na ferida cirúrgica, ferida aberta superlativa e inflamação grande. ✤Quadro Clínico: • Quase que imediato pode aparecer geralmente entre o 5-6º dia de pós operatório. • 80-90% das infecções —> primeiros 30 dias após a cirurgia. • 30-40% após alta hospitalar. • As feridas se apresentam na forma de eritema, sensibilidade elevada, edema e ocasionalmente, drenagem. • Geralmente, está mole ou flutuante no local da infecção, que é diferente da rigidez encontrada na borda em cicatrização. • O paciente pode apresentar leucocitose e febre de baixo grau. • Na ferida infectada observa-se a drenagem de um material altamente purulento pela ferida, ela se abre de forma espontânea e drena líquido purulento. E há drenagem de líquido da ferida em cultura positiva para bactéria após exame com corante de Gram. • O cirurgião observa eritema ou drenagem e abre a ferida depois de considerá-la infectada. O tratamento começa com a implementação de medidas preventivas antes e durante a operação. Infecção na ferida provavelmente no 5/6º dia de pós cirurgia. Pele não eritematosa porém com abaulamento. Sempre: 1. Olhar o que o doente é (diabético, imunodeprimido..); 2. O que foi feito nessa incisão enorme (cirurgia/prótese/quebra de segurança/contaminação); 3. A própria cirurgia como local e método (ferimento caiu da moto e caiu um pedaço de pau com areia dentro você ja espera que vai ter infecção). No segundo caso você já analisa a necrose. Esse ferimento já tem um tempo. Não pode esperar que a secreção purulenta comece a sair para dizer que está infectada. Tem que agir de imediato. Ana Monize R. Fonseca 7 Condutas/Tratamento das infecções: ✤Superficiais e Profundas: 1. Remover sutura; 2. Avaliar comprometimento; 3. Limpeza da região com soro de temperatura ambiente; 4. Avaliar necessidade de ATB; 5. Evolução e avaliação de fechamento; 6. Situações especiais. ✓ Ferida pequena, infecção superficial, sem sinais de infecção: NÃO REALIZA! ✓ Infecções complexas, deiscência da aponeurose: REALIZA! ✓Realizar desbridamento cirúrgico em ambos os casos. ✤Cicatrização • Maioria ISC —> 2ª intenção —> epitelização como evento final. ✤Medidas Preventivas do Paciente: • Pele: solução antisséptica e banho pré-operatório com solução antisséptica. • Remoção adequada dos pelos: tricotomia somente se necessária e imediatamente antes do ato cirúrgico, e não usar lâminas de barbear ou lâminas de bisturi. • Profilaxia antimicrobiana adequada: somente quando indicado e no momento adequado. Infundir completamente o antibiótico em até uma hora antes da incisão e suspender a prescrição do antibiótico em 24 horas de pós-operatório na maioria dos procedimentos. • Glicemia: <180mg/dl (IA). • Cessar tabagismo. • Perder peso. • Suspender ou diminuir uso de corticóides. ✤Medidas Preventivas da Equipe Cirúrgica: • Remover ADORNOS. • Lavar as mãos com água e sabão. • Manter unhas curtas. • Degermação cirúrgica das mãos. • Secar as mãos com toalhas estéreis e colocar aventais e luvas estéreis. • Antissepsia cirúrgica das mãos. ✤Medidas Preventivas do Ambiente e Estrutura: • Manter a porta da sala fechada. • Limitar o número de pessoas na sala cirúrgica. • Esterilização de todo o instrumental cirúrgico. • Rigor na paramentação cirúrgica e manutenção da barreira máxima no ato cirúrgico. • Utilizar técnica asséptica para a execução do curativo. • Utilizar luvas estéreis e produtos estéreis no contato com as feridas. ✤Antibioticoterapia: • Tratamento empírico baseado na história e quadro clínico. • Cultura mais usada em pacientes que já estão em um uso de polibioticoterapia ou casos mais complicados. • O mais usado no pré-operatório: cefalosporina/ cefalotina. Ana Monize R. Fonseca 8 • Os ATB pré-operatórios para profilaxia são administrados seletivamente. • Feridas sujas: o ATB é terapêutico e não profilático. • Feridas limpas: profilaxia controversa. Observa-se ligeiro benefício com cefalosporinade 1ª geração. • Ferida limpa contaminada: profilaxia indicada. • Combate aos agentes mais prováveis do local da lesão. Mais eficiente é administrar via IV, 30 minutos antes da incisão. Dose Pré-operatória após 4 horas; doses intra-operatórias: 2 doses e pós-operatórias com intervalo adequado. ✤Medidas preventivas: • Cuidadosa manipulação. • Hemostasia, dissecção e desbridamento. • Controle compulsório de todo o conteúdo intraluminar. • Preservação do suprimento de sangue. • Eliminação de corpos estranhos. • Manutenção de total assepsia. • Limpeza completa da ferida e irrigação utilizando solução salina morna. • Manutenção do paciente eutérmico. • Expressar uma decisão sobre o fechamento ou limpeza da ferida. Check List Pré-Operatório ✓Entrada (antes da indução anestésica): realizada em conjunto por cirurgião, enfermeiro e anestesiologista. ✓ Identificação do paciente. ✓ Procedimento. ✓Confirmação de marcação do local, quando for o caso. ✓Avaliação anestésica. ✓ Sangue disponível. ✓ Pausa cirúrgica (antes da incisão cutânea): iniciada/liderada pelo cirurgião. ✓ Saída (procedimento concluído): realizada pela equipe do centro cirúrgico Casos # Caso 1 Paciente 38 anos, primigesta, previamente hipertensa, com diabetes gestacional. Fazia acompanhamento ambulatorial para as comorbidades associadas à gestação. No terceiro trimestre procurou com frequência pronto atendimento de um hospital local devido a picos hipertensivos. Na 37ª semana de gestação foi admitida para controle pressóricos na vigência de pré-eclâmpsia. No dia seguinte, na vigência da Síndrome de Hellp, segundo os exames laboratoriais foi iniciado tratamento com Sulfato de Magnésio. Apresentou dor em faixa em abdome superior e nucalgia que se estendeu para membro superior esquerdo. Dosou-se enzimas cardíacas que não evidenciaram síndromes coronarianas e exames laboratoriais revelaram nova queda no número de plaquetas. Foi então optada pela cesariana de urgência. ✤Ato Cirúrgico: Ana Monize R. Fonseca 9 • Ao adentrar na cavidade peritoneal por incisão de Pfannenstiel exteriorizou-se sangramento em grande quantidade. Foi realizado histerotomia e retirado recém-nascido único, vivo, Apgar 9/9, seguido por histerorrafia, sem outros sangramentos uterinos. Foi identificado origem do sangramento no quadrante superior direito do abdome. • Realizado o primeiro packing (empacotamento) de cavidade com 3 compressas e transfundido concentrado de hemácias e 3 bolsas de plasma. Procedimento antes praticado sob raquianestesia foi convertido para anestesia geral. Ampliada incisão para mediana supra umbilical e no inventário da cavidade foi identificado ruptura da cápsula hepática no segmento 4b. Houve tentativa de hepatorrafia mas o parênquima apresentava-se extremamente friável. Foi realizado novo packing hepático com 7 compressas —> controle de danos. ✤UTI: • Estabilização clínica onde foi transfundindo mais um concentrado de hemácias. • Introdução de ATB profilático; • Realizou radiografia de tórax, onde foi visto compressas com fita radiopaca empacotando o fígado e TC de abdome que evidencia o Packing hepático com hematoma peri hepático no pós operatório imediato. ✤Dia seguinte: • Transferência para hospital terciário de referência com equipe especializada em cirurgia hepatobiliopancreatica para condução do caso —> mandar para um local que conseguisse parar de vez o sangramento. • Procedeu-se reabordargem cirúrgica com retirada do Packing hepático, hepatorrafia e cauterização com bisturi de argônio. • Limpeza exaustiva da cavidade abdominal. • Colocação do dreno para vigilância de sangramento. # Caso 2 Paciente de 20 anos idade, leucoderma, admitida no Hospital das Clínicas da UFMG no 18º dia de puerpério pós-cesariana com febre persistente, dispneia, distensão e dor abdominal. Estavam preservados a diurese e o apetite. Estava internada em outro hospital onde fora submetida à laparotomia exploratória com descrição da presença de grande quantidade de material purulento intraabdominal (faltou mais informações sobre útero poderia já estar com uma complicação). Foi inserido dreno de Penrose e iniciada a Clindamicina, Gentamicina e Ceftriaxona. Evoluiu com choque séptico, sendo realizada hemotransfusão. A paciente era tercigesta, já submetida a 2 abortos e uma cesariana. ✤Exame Físico: • Consciente, orientada, hipocorada, dispnéica, com temperatura axilar de 37,5ºC, PAS de 130/90 mmHg e FC de 104 bpm. • Ausculta pulmonar com crepitações em base do pulmão direito. • Abdômen estava distendido com útero palpado acima da cicatriz umbilical. O exame especular mostrou corrimento vaginal branco fluido. • A ferida operatória apresentava drenagem da secreção serossanguinolenta com saída de pequena secreção purulenta por penrose. ✤Evolução: • Manteve-se febril com média de 38º C. Foi submetida a nova laparotomia exploradora sob suspeita e peritonite difusa sendo drenados 4L de secreção purulenta, desfeitas as aderências, realizada histerectomia total, e deixada provisoriamente uma bolsa de Bogotá (não se usa mais este tipo de procedimento e sim o curativo a vácuo. Não poderia fechar se fechasse a paciente Ana Monize R. Fonseca 10 morreria com aumento da pressão abdominal assim consegue acompanhar a evolução do abdome e agir de imediato em casos de isquemia ou fístulas). • No pós-operatório estava hemodinamicante estável, febril, com super intensivo e em uso de Meropenem e Vancomicina. Foi submetida, posteriormente, a outras 3 cirurgias para reaproximação das bordas (fechamento por 3ª intenção: primeiro precisa limpar, drenar e por fim fecha) da parede abdominal e fechamento da aponeurose com tela de polipropileno (em contato com vísceras tem uma alta aderência podendo causar fístulas). # Caso 3 Paciente sexo feminino, 35 anos encaminhada ao serviço para avaliação de possível correção cirúrgica para cicatriz inestética em abdome, resultante de cirurgia ginecológica realizada dois anos antes (miomatose uterina/histerectomia). Histórico de tabagismo (já avisando que ia ter problemas no pós) e transtorno bipolar misto em uso de múltiplas medicações, referindo tentativas prévias de autoextermínio devido a grande descontentamento com o contorno corporal. No momento, refere bom controle da doença. Em primeiro momento pode contra-indicar a cirurgia neste primeiro momento. ✤Exame Físico: • Cicatriz xifopúbica e cicatriz transversa suprapúbica associadas a retração e distorção da parede abdominal com aspeto de abdome “em avental” bipartido, que causava grande desconforto e insatisfação à paciente. ✤Conduta: • Paciente foi orientada quando à perda de peso para melhora do resultado estético, cessação de tabagismo e controle/manutenção do tratamento psiquiátrico para definição do momento cirúrgico. Risco alto de TVP ✤Evolução: • Após 105 dias do primeiro contato, estando há 30 dias sem fumar e após ter passado por 3 consultas para preparo pré-operatório, a paciente foi submetida à dermolipectomia abdominal com fénica de marcação em flor-de-liz, para correção da cicatriz e distorção abdominal, com preservação da cicatriz umbilical. O procedimento foi realizado sob anestesia peridural associada a sedação venosa sem intercorrências. • A paciente evoluiu bem no pós-operatório imediato, apenas com dor difusa e mínima secreção sero-hemática pelo dreno. Recebeu alto no 2ºDPO, bem disposta, sem queixas, sem o dreno, em uso de malha compressiva abdominal. • No 6ºDPO, apresentava pequena área de sofrimento de pele em região infraumbilical com necrose de borda da FO, sem secreções e foi orientada a descontinuar com uso de malha cirúrgica. • No 13º DPO, entrou em contato telefônico com equipe referindo piora, com perda da continuidade da ferida. Relatava deiscência superficial em grande parte da incisão vertical, incluindo cicatriz umbilical. • Na ocasião referiu ter passado por intercorrências pessoas retomando tabagismopassando a forma 4 maços de cigarro/doa. Apresentava discurso melancólico, derrotista, deprimido e persecutório, chegando inclusive a mencionar desejo de morte e ameaça suicida. Foi orientada Ana Monize R. Fonseca 11 a retornar ao serviço para avaliação mas a paciente se recusou. • No 19º DPO, mantendo evolução desfavorável, concordou em retornar ao hospital. Internando a paciente para observação mais criteriosa. Apresentava deiscência (já imaginava que ia acontecer) quase completa da FO vertical e foi submetida a derribamento da ferida no CC com confecção de sutura elástica para aproximação das bordas e drenagem com dispositivo laminar siliconado (controle de dano mas não garante que segure a ferida). • Recebeu alta após 5 dias de internação em uso de ATB sistêmico, ferida com bom aspecto, sem secreções, com curativo com loção de A.G.R. Nexcare. • No 26º DPO apresentava deiscência de parte da sutura elástica mantendo áreas de perda de continuidade na ferida operatória e necrose do coto da cicatriz umbilical. • Submetida a novo debridamento com reavivamento das bordas e ressutura. Os cirurgiões optaram por reconfeccionar a sutura elástica sobre ferida suturada, com objetivo de manter a tração contínua nas bordas e tentar prevenir nova deiscência. • Em posição correspondente à cicatriz umbilical necrosada foi deixada área cruenta para que, cicatrizando por segunda intenção, pudesse haver retração e formação de nova cicatriz. Este procedimento foi realizado em caráter ambulatorial. • No prazo de 1 semana, a paciente apresentava áreas de maceração na epiderme devido ao atrito com material da sutura mantinha área cruenta na região umbilical e pequena deiscência suprepúbica. Foi, então, retirado o elástico e orientada troca, duas vezes por dia, de curativos com creme à base de urucum. • Após 15 dias, a paciente já estava com ferida cicatrizada, sem área cruenta, mas começou a apresentar retração em região suprapúbica, além de hipertrofia da cicatriz vertical, com grande insatisfação com aspecto estético da cicatriz. • Pode fazer para melhor: micropigmentação paramédica.
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