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Cirurgia I Thomás R. Campos | Medicina – UFOB CHOQUE O choque circulatório consiste no fluxo sanguíneo inadequado generalizado, na extensão em que os tecidos corporais são danificados, especialmente em decorrência do suprimento deficiente de oxigênio e de outros nutrientes para as células teciduais. Desse modo, o conceito de choque envolve: 1. Queda da pressão arterial 2. Redução da perfusão tecidual 3. Alteração da oxigenação tecidual CHOQUE = Alteração da perfusão tecidual que leva à anóxia celular FISIOPATOLOGIA O choque resulta, em geral, de débito cardíaco inadequado. Dois tipos de fatores podem reduzir de forma muito acentuada o débito cardíaco: 1. Anormalidades cardíacas que diminuem a capacidade do coração de bombear sangue (IAM, estados tóxicos do coração, doença valvar, arritmias...). 2. Fatores que diminuem o retorno venoso (diminuição do volume sanguíneo, diminuição do tônus vascular, obstrução ao fluxo sanguíneo). Ocasionalmente, o débito cardíaco está normal ou até mesmo maior que o normal, ainda que a pessoa esteja em estado de choque circulatório. Essa condição pode resultar de: 1. Metabolismo excessivo do corpo, de modo que mesmo o débito cardíaco normal seja inadequado. 2. Padrões de perfusão tecidual anormal, de modo que a maior parte do débito cardíaco esteja passando por vasos sanguíneos que não os que suprem os tecidos locais com nutrientes. Então, de maneira resumida, o choque pode ser resultado de: ▪ Pré-carga diminuída ▪ Alterações na performance cardíaca ▪ Alterações na microcirculação ▪ Alterações no conteúdo arterial de oxigênio Nessas situações, o organismo lança mão de mecanismos reguladores e contrarreguladores: Reguladores: ▪ Barorreceptores ▪ SNC ▪ Catecolaminas (SR) ▪ Cortisol ▪ Sistema R-A-Ald ▪ ADH, glucagon/insulina Contrarreguladores (pioram a anóxia): ▪ Cininas ▪ Mediadores inflamatórios ▪ Endotoxinas – Gram negativas – Staphylococcus aureus ▪ Metabólitos teciduais ▪ Acidemia → ácido lático Apesar desses mecanismos, uma vez que o choque circulatório atinja um estado crítico de gravidade, independentemente de sua causa inicial, o próprio choque produz mais choque. Isto é, o fluxo sanguíneo inadequado faz com que os tecidos corporais comecem a se deteriorar, incluindo o coração e o sistema circulatório. Essa deterioração provoca diminuição ainda maior do débito cardíaco, seguindo-se ciclo vicioso, com aumento progressivo do choque circulatório, perfusão tecidual menos adequada, mais choque, e assim por diante, até a morte. O primeiro sinal laboratorial de gravidade é o lactato Cirurgia I Thomás R. Campos | Medicina – UFOB TIPOS DE CHOQUE Existem várias etiologias para o choque. Abaixo um resuminho dos tipos de choque e os sinais clínicos que nos levam a pensar em cada um deles: Agora trabalhando um pouco mais detalhado sobre cada um deles. Isso é importante do ponto de vista do tratamento. Embora exista um núcleo comum de condutas em todos os pacientes chocados, é fundamental a busca ativa para identificar o que levou o choque. TIPO DE CHOQUE FISIOPATOLOGIA CAUSAS CLÍNICA Hipovolêmico Redução do volume sanguíneo -Hemorrágico: perda sanguínea quer para o meio interno ou para o meio externo. -Não hemorrágico: diarreia, poliúria, queimaduras extensas, desidratação. -Hemorragia -Desidratação (sudorese excessiva, diarreia, vômitos, excesso na eliminação renal...) -Perda de plasma (por queimaduras) -Redução grave da PA (PAS<90), mesmo que o paciente esteja BEG -PVC reduzida Cardiogênico Incapacidade do músculo cardíaco de gerar um débito adequado às necessidades metabólicas do organismo -Insuficiência de VE -IAM -Miocardiopatia -Miocardite -Disfunção miocárdica da sepse -Lesões valvares -Shunt A-V -Arritmias -Aneurisma ventricular -Achados cardíacos à ausculta e exames complementares -Hipotensão -Taquicardia -Sudorese fria Obstrutivo Obstrução ao fluxo sanguíneo, o que causa redução do débito cardíaco devido ao inadequado enchimento ventricular -Embolia Pulmonar -Tamponamento cardíaco -Pneumotórax hipertensivo -Coarctação da aorta -Mixoma atrial -Sinais de obstrução, como estase jugular, pletora facial Séptico Infecção generalizada que cursa com resposta inflamatória exagerada e vasodilatação descontrolada -Disseminação de infecção: contiguidade, via hematogênica... -Sinais de infecção (Febre alta) -Hipotensão grave, irresponsiva a drogas vasoativas Anafilático Reação imunológica desencadeada por agentes externos que causa modificação do tônus e aumento da permeabilidade vascular -Mordeduras de animais -Contrastes endovenosos -Manifestações cutâneas (edema, eritema, prurido) -Colapso cardiorrespiratório em poucos minutos Neurogênico Queda do tônus vasomotor, com dilatação maciça das veias -Trauma medular (lesão do SN Simpático) -Anestesia geral profunda -Lesão cerebral -Bradicardia (único choque que tem isso) -Pulso fino -Pele quente e seca Cirurgia I Thomás R. Campos | Medicina – UFOB GRAVIDADE DO CHOQUE O choque é dividido em 04 frases: ▪ Fase 1: é a que passa pela grande maioria dos médicos e é um estágio que os mecanismos de regulação ainda são efetivos, o paciente pode ser assintomático e por isso o quadro pode passar despercebido. ▪ Fase 2: a perda da volemia é maior, suficiente para causar alterações clínicas. Porque os mecanismos regulatórios vão começar a falhar. ▪ Fase 3: o quadro começa ficar mais comprometido. E outro achado importante é diminuição considerável da diurese, além de alteração do sensório. ▪ Fase 4: é o paciente agônico, a principal característica é a alteração neurológica. Se a intervenção não for rápida, o paciente vai morrer. DIAGNÓSTICO 1. Clínico – Sinais e sintomas mais sugestivos de cada tipo de choque – Débito urinário – Perfusão periférica 2. Laboratorial (Gasometria arterial → lactato) 3. Hemodinâmico (PVC, PAP, DC, Δpp, US cava/AD, etc.). TRATAMENTO O tratamento visa, lógico, melhorar a perfusão e oxigenação. Por isso, é preciso verificar parâmetros hemodinâmicos. Em primeiro lugar, é preciso buscar ativamente as causas! Ademais existem cuidados comuns a todos os tipos de choque: ▪ Suporte de O2 ▪ Monitorização e controle hemodinâmico ▪ Reposição volêmica – Soluções cristalóides (expandem a volemia rapidamente) – Soluções hipertônicas (quando o choque é associado a volemia grave) – Soluções colóides (quando o choque é associado a volemia grave) – Sangue (se nada dos anteriores funcionar, e principalmente se for choque do tipo hipovolêmico) ▪ Drogas vasoativas Cirurgia I Thomás R. Campos | Medicina – UFOB Objetivos do tratamento: – PAM > 65 mmHg – PAS > 90 mmHg – PVC: 8 a 12 cmH2O – DC: 2 a 4 L/min/m2 – SatO2 > 90 mmHg e SatVO2> 70 mmHg – Lactato < 2,0 – Débito Urinário: 30 a 50 mL/h (0,5 a 1 mL/Kg/h) → tem que medir a cada hora, não pode esperar 12h pra ver a sonda, porque o cara vai morrer até lá – Retorno consciência → se o paciente volta a conversar, é um sinal de melhora Resposta ao tratamento:
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