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8ª ETAPA – MÓDULO 01 – PROBLEMA 01: CHOQUE INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO • Choque é uma emergência médica potencialmente ameaçadora à vida. • Choque é a expressão clínica da hipóxia celular, tecidual e orgânica. o Causado pela incapacidade do sistema circulatório de suprir as demandas celulares de oxigênio, por oferta inadequada de oxigênio (DO2) e/ou por demanda tecidual aumentada de oxigênio (VO2). o Ou seja: Incapacidade do sistema circulatório de fornecer oxigênio aos tecidos o Os efeitos da hipóxia tecidual são inicialmente reversíveis, mas rapidamente podem se tornar irreversíveis, resultando em falência orgânica, síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e sistemas (SDMOS) e morte. • A perfusão efetiva de um órgão ou tecido depende de dois fatores: o (1) fluxo sanguíneo total para este órgão; o (2) distribuição adequada deste fluxo através do órgão ou tecido, de forma que todas as suas células recebam um suprimento adequado de oxigênio. HISTÓRICO • O significado da palavra inglesa shock (em português, "choque") é proveniente de um erro de tradução, ocorrido no século XVIII. • Um cirurgião francês chamado Le Dran, ao escrever um tratado sobre feridas por armas de fogo, em 1737, cunhou o termo choc como indicativo de um "forte impacto". • Ao traduzir este termo (choc para shock), o médico inglês Clarke, em 1743, mudou o seu significado ao defini-lo como "uma súbita deterioração das condições clínicas do paciente após um grande trauma". • Este termo então foi popularizado por Edwin Morris em 1867, relacionando-o sempre a eventos pós-traumáticos. o O conceito de choque foi inicialmente desenvolvido no estudo do trauma – na verdade, tratava-se do choque hemorrágico. • Passou então a constituir um importante tema da "medicina de guerra". o Antes de morrer no campo de batalha, o soldado geralmente entrava no "estado de choque" – um prenúncio da fatalidade o À medida que foram ocorrendo as guerras do século XX, foram-se aprimorando as teorias fisiopatológicas sobre o choque, o que levou a diversas e sucessivas modificações da definição desse termo. • Quatro mecanismos de choque são descritos: distributivo, cardiogênico, hipovolêmico e obstrutivo. o Existem muitas etiologias dentro de cada mecanismo, que serão discutidas ao longo deste capítulo. o Os mecanismos de choque não são exclusivos, e muitos pacientes com insuficiência circulatória apresentam mais de uma forma de choque. ▪ 5º Tipo: Choque Misto!!! EPIDEMIOLOGIA NA UTI • O choque é particularmente comum em unidades de terapia intensiva (UTI), afetando cerca de um terço dos pacientes internados nesse ambiente. o Choque séptico, uma forma de choque distributivo, é a forma mais comum de choque em pacientes internados em UTI. • Em um estudo que comparou dopamina com noradrenalina no tratamento do choque em 1.600 pacientes em terapia intensiva, o Choque séptico ocorreu em 62% dos casos o choque cardiogênico em 16% o choque hipovolêmico em 16% o Outros tipos de choque distributivo em 4% (neurogênico e anafilático, p. ex.) e choque obstrutivo em 2%. NO DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA (DE) • Pequenos estudos demonstram que o choque hipovolêmico é o mecanismo mais comum de choque. o 36% apresentavam choque hipovolêmico o 33% choque séptico o 29% choque cardiogênico o 2% outras formas de choque TIPOS DE CHOQUE • Um dos principais motivos para o uso de parâmetros hemodinâmicos avançados em pacientes em choque é identificar o tipo de choque para determinar a terapia mais apropriada. • O choque pode ser classificado em quatro categorias de acordo com o mecanismo predominante responsável pela hipoperfusão orgânica generalizada. CHOQUE HIPOVOLÊMICO • Devido à redução do volume sanguíneo em relação ao espaço vascular total, levando à queda das pressões e volumes de enchimento diastólico ventricular. • Pode ser dividido em Hemorrágico ou Não Hemorrágico. CHOQUE CARDIOGÊNICO • Devido à falência da bomba cardíaca, seja pela perda contrátil, seja por um problema estrutural intracardíaco, levando ao aumento das pressões e volumes de enchimento diastólico ventricular. CHOQUE OBSTRUTIVO EXTRACARDÍACO • Devido a um fator estrutural extracardíaco que dificulte a circulação de sangue, tal como o tamponamento cardíaco, o pneumotórax hipertensivo e o tromboembolismo pulmonar maciço. CHOQUE DISTRIBUTIVO • Devido à perda do controle vasomotor e ao distúrbio microcirculatório, levando à vasodilatação arteriolar e venular inapropriadas que, após a reposição de uidos, evolui para um estado de alto débito cardíaco e baixa resistência vascular sistêmica. • Estão incluídos nesta categoria os choques séptico, sirético, analático e neurogênico (TCE, AVE etc.). • Tipicamente, o diagnóstico de choque é baseado em três variáveis: o PRESENÇA DE HIPOTENSÃO E TAQUICARDIA. ▪ Todavia, o valor de PA sistólica pode estar na variação “normal”, especialmente em pacientes com história de hipertensão. o ACHADOS CLÍNICOS DE HIPOPERFUSÃO PERIFÉRICA, os quais incluem: extremidades frias, muitas vezes com cianose; oligúria (diurese < 0,5 mL/kg/hora) e manifestação de baixo débito no SNC (sonolência, confusão e desorientação). o HIPERLACTATEMIA, indicando metabolismo celular de oxigênio alterado. • Apesar da sobreposição de mecanismos, os estados de choque são classificados em: hipovolêmico, distributivo, cardiogênico e obstrutivo. FISIOPATOLOGIA – PRINCÍPIOS GERAIS E ESPECÍFICOS • O processo de utilização do oxigênio tecidual envolve os seguintes passos: o 1. Difusão do oxigênio dos pulmões ao sangue. o 2. Ligação do oxigênio à hemoglobina. o 3. Transporte de oxigênio pelo débito cardíaco para a periferia. ▪ Conteúdo arterial de oxigênio = (1,39 × Hb × Sat artO2) + 0,0031 × PaO2 (normal 16-22 mL/dL) ▪ Conteúdo venoso de oxigênio = (1,39 × Hb × Sat venO2) + 0,0031 × PvO2 (normal 12-17 mL/dL) ▪ Oferta de oxigênio (mL O2 /min) = CaO2 × DC × 10 (normal 700- 1.400 mL/min) o 4. Difusão de oxigênio para a mitocôndria. ▪ O consumo de oxigênio (VO2 ) é definido pela equação de Fick: ▪ Consumo de oxigênio (mL O2 /min) = (CaO2 – CvO2 ) × DC × 10 (normal 180-280 mL/min) ▪ A taxa de extração de O2 pelos tecidos descreve a habilidade da periferia em remover o O2 do sangue: ▪ Taxa de extração de oxigênio = VO2 /DO2 ou = (Sat arterial O2 – Sat venosa O2 ) / Sat arterial O2 (normal 20-25%) • Uma maneira simplificada de se pensar no choque é que este consiste no desequilíbrio entre oferta (DO2 ) e consumo (VO2 ) de O2 , devendo-se lembrar dos contribuintes de cada um. • Uma vez estabelecido o choque, o organismo lança mão de mecanismos compensatórios inicialmente, mas a hipoperfusão tecidual leva à disfunção orgânica, o que perpetua a resposta inflamatória, levando a mais disfunção orgânica. • Isso gera um círculo vicioso, que culmina NA SÍNDROME DE DISFUNÇÕES DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS E SISTEMAS (SDMOS), condição caracterizada pelo acúmulo de duas ou mais disfunções orgânicas, sem considerar a disfunção inicial. • Quando estabelecida, a SDMOS apresenta alta morbimortalidade, sendo difícil de ser revertida. ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS • O padrão hemodinâmico do choque pode inclusive categorizá-lo em seus diversos tipos. • O sistema circulatório é um circuito fechado contendo um fluido – o sangue, esse fluido é bombeado pelo coração, de modo a circular pelos órgãos e tecidos. • O fluxo total de sangue produzido pela bomba cardíaca é denominado débito cardíaco. • O sangue bombeado passa pelo sistema arterial, ganha o leito capilar e retorna ao coração através do sistema venoso. • Para que o sangue perfunda adequadamente o leito capilar dos órgãose tecidos, é preciso que a Pressão Arterial Sistêmica Média (PAM) se mantenha em um nível adequado (geralmente entre 60-120 mmHg), o que é garantido pelo produto do Débito Cardíaco (DC) pela Resistência Vascular Sistêmica (RVS). PAM = DC X RVS • De forma mais...minuciosa, recordando essa outra fórmula básica da fisiologia, que regula a pressão de perfusão tecidual: PAM - PVC = DC X RVS • Onde: PAM = Pressão Arterial Média PVC = Pressão Venosa Central DC = Débito Cardíaco RVS = Resistência Vascular Sistêmica • A RVS é determinada pelo tônus muscular das arteríolas, de modo que a vasoconstricção arteriolar aumenta a RVS, enquanto a vasodilatação arteriolar reduz a RVS. o O tônus arteriolar depende de fatores extrínsecos e intrínsecos: ▪ Extrínseco: • Inervação simpática. ▪ Intrínsecos: • Resposta da musculatura lisa ao fluxo sanguíneo local. • Liberação de vasodilatadores quando aumenta a atividade metabólica local. • Vasodilatação durante hipoxemia regional. • A maioria dos órgãos e tecidos (pele, subcutâneo, musculoesquelético, vísceras) funciona como principais reguladores da RVS, pelo tônus de suas arteríolas, de forma a garantir a pressão necessária para manter a perfusão dos órgãos nobres (cérebro e miocárdio). • O sistema venoso é de suma importância em todo esse contexto, pois funciona como o grande armazenador de sangue – cerca de 70% da volemia encontra- se no leito venoso, enquanto que apenas 20% está no leito arterial e 10% no leito capilar. o Quando as veias dilatam (venodilatação ou venoplegia), chega menos sangue ao coração, isto é, diminui o retorno venoso e, portanto, o débito cardíaco. o Quando contraem (venoconstricção), o retorno venoso se eleva. • O DC é determinado basicamente por quatro fatores: o (1) pré-carga; o (2) pós-carga; o (3) contratilidade miocárdica; o (4) frequência cardíaca. • Os três primeiros determinam o volume de sangue bombeado a cada batimento – o débito sistólico. • A pré-carga representa o retorno venoso que determina o volume de enchimento diastólico do ventrículo. • A pós-carga representa a “dificuldade” imposta à ejeção ventricular, determinada pela própria RVS, pela impedância da aorta e pela geometria ventricular. o O aumento da pós-carga prejudica o esvaziamento ventricular, portanto, reduz o débito sistólico. • A contratilidade miocárdica é a capacidade contrátil intrínseca ao músculo cardíaco, independente da pré e pós-carga. • O débito cardíaco é o produto do Débito Sistólico (DS) pela Frequência Cardíaca (FC). DC = DS x FC • Nas taquiarritmias com frequência muito elevada (> 200 bpm), o tempo de enchimento diastólico é tão encurtado, que o débito sistólico “despenca”, tendo como resultado a queda do débito cardíaco, ao invés do seu aumento • Nas bradiarritmias, o tempo de enchimento diastólico fica maior, aumentando o volume diastólico e, portanto, o débito sistólico. o Porém, se a frequência cardíaca estiver muito baixa (< 40 bpm), o débito cardíaco geralmente cai significativamente (respeitando a fórmula acima). ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS NO CHOQUE • Em relação às alterações hemodinâmicas, podemos dividir o choque em dois grandes grupos, de acordo com o DC e a RVS: • (1) os choques hipodinâmicos o Relacionados ao baixo débito cardíaco e aumento da RVS (vasoconstricção); • (2) os choques hiperdinâmicos o Relacionados a um alto débito cardíaco e redução da RVS (vasodilatação). • Os primeiros são representados pelos choques hipovolêmico, cardiogênico e obstrutivo extracardíaco. • Os últimos são representados pelos choques distributivos (séptico, sirético, anafilático, neurogênico). CHOQUES HIPODINÂMICOS • O débito cardíaco, por definição, está comprometido o POR UMA REDUÇÃO PRIMÁRIA DO RETORNO VENOSO (HIPOVOLÊMICO) o POR UM DEFEITO NA BOMBA CARDÍACA (CARDIOGÊNICO) o POR UMA OBSTRUÇÃO MECÂNICA À CIRCULAÇÃO (OBSTRUTIVO) • Quando o DC se reduz, a tendência é para a queda da PAM, prejudicando a perfusão orgânica; contudo o estímulo imediato dos baroceptores, localizados nas carótidas, átrios e ventrículos, determina uma hiperativação neuro- humoral, representada pelo sistema nervoso simpático e medula adrenal. o As catecolaminas elevam-se nas fendas sinápticas do coração e vasos sanguíneos (noradrenalina), bem como na própria circulação (adrenalina). • As catecolaminas aumentam a contratilidade e a frequência cardíaca (receptores beta-1), promovem vasoconstricção arteriolar e venosa (receptores alfa). • Como resultado temos: o (1) a RVS se torna elevada pela vasoconstrição – evitando a queda da PA; o (2) o DC se eleva mais um pouco, pelo efeito direto das catecolaminas no coração e pelo aumento do retorno venoso – venoconstrição. • Acabamos de descrever a fase compensada do distúrbio que mais tarde poderá levar ao choque. • O choque irá se instalar quando esses mecanismos compensatórios forem insuficientes, ou seja, não mais capazes de manter uma pressão arterial mínima para garantir a perfusão dos órgãos e tecidos. o Os primeiros órgãos que sofrem isquemia são: pele, subcutâneo, musculoesquelético, vísceras. o Em segundo lugar, os rins. o Por último, o cérebro e o miocárdio. • CHOQUE HIPOVOLÊMICO → pressões de enchimento de ambos os ventrículos são baixas → o retorno venoso está primariamente comprometido → redução da PVC, PAP diastólica e PCP. • CHOQUE CARDIOGÊNICO → as pressões de enchimento ventricular estão elevadas o Se o comprometimento principal for do ventrículo esquerdo (mais comum), teremos um aumento de PCP (> 16 mmHg) e da PAP diastólica. o Se o comprometimento for do ventrículo direito, teremos um aumento da PVC, PCP e PAP diastólica normais ou baixas. • CHOQUE OBSTRUTIVO DO TAMPONAMENTO CARDÍACO – as pressões de enchimento do coração esquerdo (PCP, PAP diastólica) e direito (PVC) estão equalizadas. • No PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO, pela compressão da veia cava, os parâmetros hemodinâmicos são os MESMOS DO CHOQUE HIPOVOLÊMICO, apesar do paciente apresentar uma turgência jugular patológica bem marcada. • No choque obstrutivo do TROMBOEMBOLISMO PULMONAR, as pressões de enchimento do coração direito estão elevadas (PVC), juntamente com a Pressão Arterial Pulmonar (PAP), enquanto que a PCP encontra-se normal ou baixa. • Sempre que a Resistência Vascular Pulmonar (RVP) estiver aumentada, a PAP diastólica aumenta consideravelmente em relação à PCP. CHOQUES HIPERDINÂMICOS • Choque séptico – o principal representante deste grupo • Existem dois problemas primários: o (1) uma intensa vasodilatação sistêmica, que compromete os leitos arterial e venoso; o (2) uma má distribuição do fluxo a nível microvascular • No choque séptico, desde o início do quadro, observa-se um ambiente microvascular totalmente “corrompido” • Dilatação inapropriada de vasos arteriolovenulares que desviam o sangue dos capilares (microshunts), fenômeno exacerbado pela obstrução de capilares por plugs de neutrófilos, hemácias e microtrombos. • A constricção dos esfíncteres pós-capilares, em conjunto com o aumento da permeabilidade do endotélio, provoca um extravasamento de fluidos para o espaço intersticial. • Esta perda de fluidos do intravascular para o interstício associa-se a outros tipos de perda hídrica comuns na sepse (hiperpneia, vômitos, diarreia, peritonite, pleurite, distensão intestinal etc.). • Uma importante venodilatação ocorre precocemente na sepse. • Um sistema venoso dilatado aliado à perda de fluidos do intravascular acarreta numa redução significativa do retorno venoso e, portanto, do débito cardíaco nas fases iniciais do choque séptico – uma espécie de “componente hipovolêmico”. • Após a reposição vigorosa de fluidos, o retorno venoso é corrigido,permitindo a expressão completa da natureza hiperdinâmica do choque séptico. A Pressão Capilar Pulmonar “encunhada” (PCP) reflete as pressões de enchimento do coração esquerdo, enquanto que a Pressão Venosa Central (PVC) reflete as pressões de enchimento do coração direito. Pressão da Artéria Pulmonar (PAP) Pressão Capilar Pulmonar (PCP) Pressão de Oclusão de Artéria Pulmonar (PAOP) • Nesse momento, teremos um choque com um DC elevado e RVS bastante deprimida. • O choque séptico então tem uma fase inicial em que a hipovolemia relativa (venodilatação) e absoluta (perda hídrica para o terceiro espaço) “escondem” a sua natureza hiperdinâmica. • A partir da reposição volêmica, as suas características hemodinâmicas aparecem. • Além do “componente hipovolêmico”, o choque séptico também tem o seu “componente cardiogênico”. • A lesão miocárdica decorrente dos chamados “fatores de depressão miocárdica da sepse” provoca uma disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, justificando um aumento das pressões de enchimento ventricular. • Ele encontra-se dilatado (aumento de seus volumes sistólico e diastólico), mas com fração de ejeção reduzida. • Apesar de existir disfunção miocárdica, o DS encontra-se elevado, pois o coração trabalha contra uma pós-carga muito baixa (vasodilatação arteriolar), facilitando a ejeção ventricular. METABOLISMO CELULAR NO CHOQUE • As células para sobreviverem precisam produzir energia • Para isso, utilizam a combustão da glicose ou de ácidos graxo que, via ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa mitocondrial, produzindo Trifosfato de Adenosina (ATP), dióxido de carbono (CO2) e consumindo oxigênio (O2) e água (H2O) – é o processo de aerobiose. • Sem oxigênio, não há fosforilação oxidativa, nem ciclo de Krebs – o metabolismo da mitocôndria para. • O produto final da glicólise – o piruvato, que antes era utilizado para produzir acetil-CoA, alimentando o ciclo de Krebs, agora se acumula no citoplasma e é convertido em lactato. • Os estoques de ATP da célula caem vertiginosamente na hipoxia o Anaerobiose produz 02 ATP / 01 Glicose o Aerobiose produz 36 ATP/ 01 Glicose • A atividade metabólica da célula usa a energia do ATP, ao “quebrar” a ligação de alta energia do terceiro fosfato, transformando-o novamente em ADP (difosfato de adenosina). o Essa reação libera um H+, que então se liga ao lactato acumulado, transformando-o em ácido lático. • O ácido lático então sai da célula e ganha o espaço extracelular e o plasma. • Como resultado, teremos a ACIDOSE LÁTICA – a causa mais comum de acidose metabólica. o Primeiros indícios de que um paciente está em choque: ▪ O aumento dos níveis de lactato (> 2,5 mM) ▪ Aparecimento de um deficit de bases (base excess negativo) • Nesse momento, a pressão arterial ainda pode encontrar-se na faixa normal, já que o sistema neuro-hormonal já está ativado. o O lactato não é apenas um “grande vilão”, ele também tem a sua importância fisiológica no choque, ao servir como substrato energético para o músculo cardíaco. o Já está bem documentado que, excetuando-se os casos de choque cardiogênico por fenômenos de isquemia ou infarto miocárdico, o tecido miocárdico não libera lactato – pelo contrário, consome-o. • O nível normal de lactato no sangue é de aproximadamente 1 mmol/L (ou 9 mg/dL), e o nível é aumentado (> 2 mmol/L ou >18 mg/dL) no choque. • O grande produtor de lactato no choque é o músculo esquelético e, em segundo lugar, as vísceras. • A reutilização do lactato para formar piruvato, que então pode ser convertido em glicose (gliconeogênese) ou utilizado no ciclo de Krebs, é denominada ciclo de Cori. HORMÔNIOS NO CHOQUE • O estresse isquêmico e inflamatório estimula a liberação de cortisol e adrenalina pela suprarrenal e de glucagon pelo pâncreas – são os hormônios contrarreguladores da insulina. • Eles promovem glicogenólise (quebra do glicogênio) e gliconeogênese no fígado, lançando mais glicose no sangue – razão da hiperglicemia frequentemente encontrada nas fases iniciais do choque, da sepse e do trauma. • A supressão insulínica permite o efeito da adrenalina e do cortisol no tecido adiposo, promovendo a liberação de ácidos graxos (lipólise), que serão utilizados como principal substrato metabólico para o músculo esquelético. • Ao agir sobre os receptores beta-2 do músculo esquelético, a adrenalina promove o influxo de potássio, levando à hipocalemia (achado também frequente no choque, sepse ou trauma). • O sistema reninaangiotensina-aldosterona também se encontra ativado, auxiliando as catecolaminas a “proteteger" a hemodinâmica do paciente, devido ao efeito vasoconstritor e retentor de sal e água da angiotensina II e aldosterona, respectivamente. EXTRAÇÃO TECIDUAL DE OXIGÊNIO NO CHOQUE • A falta de O₂ às células, leva a perder as reservas de energia (ATP) e produzir ácido lático. • A hipóxia celular sobrevém por um dos seguintes mecanismos: o (1) não há oferta suficiente de oxigênio aos tecidos; ▪ Baixa DO₂, que mede a quantidade de O₂ que chega aos tecidos na unidade de tempo ▪ Valor normal = 700-1.200 ml/min. ▪ Uma queda expressiva da DO₂ caracteriza os choques hipodinâmicos (hipovolêmico, cardiogênico, obstrutivo). o (2) os tecidos não estão mais extraindo o oxigênio de forma adequada. ▪ O consumo tecidual de oxigênio é representado pelo VO₂, que mede a quantidade de O₂ extraída pelos tecidos na unidade de tempo. ▪ Valor normal = 180-280 ml/min. ▪ A taxa de extração tecidual de oxigênio – representada pela TEO₂ – é o percentual do O₂ ofertado aos tecidos que é efetivamente extraído, ou seja, quantos por cento do que é ofertado (DO₂) é consumido (VO₂). TEO₂ = VO₂/DO₂ x 100 ▪ Em condições normais, a TEO₂ está entre 25 e 35%, ou seja, vai de 0,25 a 0,35. ▪ Quando a DO₂ começa a cair, como na hipovolemia ou na insuficiência cardíaca, o consumo tecidual de O₂ (VO₂) permanece inalterado à custa de uma maior TEO₂. ▪ À medida que a DO₂ vai caindo, chega num ponto crítico (na faixa de 500 ml/min), no qual a TEO₂ tornou-se máxima (em torno de 70% ou 0,70) – a partir daí, qualquer queda adicional da DO₂ levará a uma redução proporcional do consumo (VO₂). • No choque distributivo, a taxa de extração de oxigênio pelos tecidos está comprometida, isto é, a TEO₂ encontra-se abaixo de 0,25. o Mesmo com uma DO₂ alta, o consumo (VO₂) está baixo, apesar de uma demanda tecidual elevada de O₂. o Nestes pacientes observamos que o ponto crítico da DO₂ é maior que o esperado – o VO₂ começa a cair antes da DO₂ atingir 500 ml/min. o A isto denominamos dependência patológica da DO₂. MECANISMOS DE LESÃO CELULAR NO CHOQUE • O mecanismo do êxito letal no choque é a Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas (DMOS). • O aspecto mais importante do choque, na verdade, é a evolução para uma fase tardia, caracterizada pela lesão orgânica múltipla. • Nesse momento, a letalidade torna-se bastante elevada, mesmo se o distúrbio hemodinâmico for corrigido. • A hipóxia celular, o trauma e a sepse são fatores capazes de ativar o sistema inflamatório. • A inflamação é um processo fisiológico definido pela vasodilatação (calor e rubor) e aumento da permeabilidade capilar (edema) desencadeados por mediadores químicos - atraem neutrófilos e monócitos para o local. • No choque, entretanto, o estímulo inflamatório pode ocorrer em vários órgãos e tecidos ao mesmo tempo, culminando em lesão orgânica generalizada. • Mais importante fator: o fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α) o Bem documentado no choque séptico o Endotoxina dos Gram-negativos e o ácido teicoico dos Gram-positivos podem induzir a sua liberação. • O TNF-α estimula a invasão de leucócitos aos tecidos, ao aumentar a formação de neutrófilos na medula óssea (leucocitose) e ao mesmo tempo promover aexpressão endotelial de moléculas de adesão leucocitária • Os neutrófilos podem ser os responsáveis diretos pela lesão tecidual – quando ativados, liberam radicais livres derivados do oxigênio, N-cloraminas e enzimas proteolíticas – substâncias de um alto poder lesivo. • O TNF-α também estimula leucócitos a produzir e liberar citocinas (IL-1, IL-6, IL-8 e o próprio TNF-α) importantes na manutenção e exacerbação do processo inflamatório. • Diversos mediadores inflamatórios são liberados por efeito direto ou indireto das citocinas: PAF (um dos mais potentes), prostaglandinas, leucotrienos, bradicinina, fatores quimiotáticos do sistema complemento (C3a, C5a). • Existe no choque séptico um estado pró-coagulante • MASSSSSSS... como não chegamos ainda na tutoria de choque séptico, vamos falar disso posteriormente!!! • Outro aspecto da lesão tecidual é a lesão de reperfusão. • A hipóxia prolongada depleta progressivamente os estoques de ATP das células. • À medida que vai sendo utilizado, o ATP volta a ser ADP. • O ADP pode seguir um caminho metabólico, convertendo-se sequencialmente em AMP, adenosina, inosina e hipoxantina. • A hipoxantina, na presença de O₂, sofre ação da xantina oxidase, que transforma a hipoxantina em xantina e o O₂ em O₂ - (ânion superóxido). Esse radical livre sofre ação da superóxido dismutase, se convertendo em H₂O₂ (peróxido de hidrogênio) que logo libera o radical hidroxila (OH), altamente reativo. • Quando reperfundimos um tecido depletado previamente em ATP, podemos aumentar mais ainda a lesão a suas células, pois o O₂ fornecido acaba sendo transformado em radicais livres altamente citotóxicos. • Os eventos acima descritos podem culminar na morte celular. • Se o processo se generalizar entre os diversos órgãos e sistemas, a morte do organismo sobrevém. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS CHOQUES HIPODINÂMICOS • Os pacientes com choque hipodinâmico se apresentam com "fáscies de sofrimento" • Palidez cutâneo-mucosa • Sudorese fria e pegajosa, principalmente nas extremidades • Taquicardia • Taquipneia • Pulsos radiais finos ou impalpáveis • Oligúria • Hipotensão arterial o Não é obrigatória – pode se manifestar tardiamente CRITÉRIOS EMPÍRICOS PARA O DIAGNÓSTICO DE CHOQUE 1. "Fácies de sofrimento" ou alteração do estado mental. 2. Taquicardia (FC > 100 bpm). 3. Taquipneia (FR > 22 ipm) ou PaCO2 < 32 mmHg. 4. Base excess < - 5 mEq/L ou lactato sérico > 4 mM. 5. Débito Urinário < 0,5 ml/kg/h. 6. Hipotensão arterial (PA sistólica < 90 mmHg) por um período > 20min • O restante do quadro depende da causa do choque. • Populações especiais no choque hipovolêmico: crianças, grávidas, idosos, atletas e obesos. • A causa mais comum de choque cardiogênico é o IAM. o Esse diagnóstico deve ser suspeitado mesmo na ausência de dor torácica. o Por isso, o ECG é um exame mandatório nesses casos CHOQUES HIPERDINÂMICOS CHOQUE SÉPTICO • Sepse é definida pela presença de disfunção de órgãos ameaçadora à vida, sendo ocasionada por uma resposta inflamatória desregulada do hospedeiro à infecção. o (1) INFECÇÃO é definida por invasão de tecido normalmente estéril por micro-organismos. o (2) BACTERIEMIA é a presença de bactérias viáveis na corrente sanguínea ou crescimento de bactérias na hemocultura. o (3) SEPSE é definida pela presença de disfunção de órgãos ameaçadora à vida, sendo ocasionada por uma resposta inamatória desregulada do hospedeiro à infecção. ▪ A disfunção de órgãos encontra-se presente quando há elevação aguda ≥ a 2 pontos no escore SOFA consequente à infecção. o (4) CHOQUE SÉPTICO pode ser considerado um subtipo da sepse; é definido como a persistência de hipotensão e lactato sérico elevado (> 18 mg/dl ou > 2 mmol/L) apesar de uma ressuscitação volêmica adequada em pacientes com sepse. ▪ Estes pacientes necessitam obrigatoriamente do uso de aminas vasopressoras para manter uma PAM ≥ 65 mmHg. • • • Outro escore, rápido de ser avaliado à beira do leito, tem sido preconizado em pacientes fora de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quick SOFA e inclui três dados: o FR ≥ 22 irpm o Alteração do estado mental o PA sistólica ≤ 100 mmHg • Os sinais e sintomas da sepse continuam sendo pouco específicos e incluem diversas combinações dos seguintes: o (1) sintomas direcionados a uma fronte infecciosa (tosse e dispneia podem sugerir pneumonia, dor e exsudato purulento em uma ferida operatória podem indicar infecção de sítio cirúrgico); o (2) hipotensão arterial (hipotensão arterial sistólica < 90 mmHg ou PAM < 70 mmHg); o (3) temperatura > 38,3ºC ou < 36ºC; o (4) FC > 90 bpm; o (5) taquipneia (FR > 20 irpm); o (6) alteração do estado mental; o (7) íleo adinâmico; o (8) tempo de enchimento capilar prolongado, cianose ou livedo • O choque séptico passou a ser uma variedade da sepse, situação em que o indivíduo permanece hipotenso e com níveis de lactato > 18 mg/dl (> 2 mmol) CHOQUE ANALÁTICO • O choque anafilático é desencadeado pela exposição a um determinado alérgeno, que pode ser um medicamento ou uma substância presente nos alimentos • Outras condições que podem precipitar uma reação anafilática incluem veneno de insetos da ordem Hymenoptera (abelhas e vespas), exercício (associado a alimentos ou isoladamente), imunoterapia (aplicação terapêutica de alérgenos) e látex e transfusão de plasma (< 1% dos casos). • Reação de hipersensibilidade imediata (tipo I), dependente da liberação de grandes quantidades de histamina pelos mastócitos, além de outros mediadores importantes, como PAF, leucotrienos e bradicinina. o Mediada por IgE • Clínica: o Dor abdominal o Vômitos o Prurido o lesões cutâneas do tipo urticária o angioedema de face o edema de glote o broncoespasmo • O choque anafilático é um choque hiperdinâmico, desencadeado por uma vasodilatação generalizada inapropriada. • Pode ser revertido prontamente com o uso de adrenalina. • A droga inicialmente é administrada pela via intramuscular, no vasto lateral da coxa (dose de 0,3 mg para adultos e 0,15 mg em crianças < 50 kg), com uma ou duas doses repetidas; • Em pacientes que já desenvolveram hipotensão significativa ou naqueles que não responderam ao uso intramuscular, a adrenalina venosa deve ser iniciada, na dose de 2 a 10 μg/min (em crianças 0,1 a 1 μg/kg/min), em infusão contínua. • Os anti-histamínicos utilizados são tanto os bloqueadores H1 (difenidramina) quanto os bloqueadores H2 (ranitidina); estas medicações promovem uma resolução mais rápida da urticária, sem influenciar nos níveis de pressão arterial ou em outros sintomas. • Os corticosteoides são recomendados de forma empírica, com o objetivo de atenuar possíveis reações tardias. As drogas mais empregadas são a metilprednisolona e a prednisona. • O glucagon endovenoso pode ser administrado em pacientes não responsivos à adrenalina, principalmente naqueles que utilizam rotineiramente os betabloqueadores. CHOQUE NEUROGÊNICO • choque hiperdinâmico, semelhante ao choque séptico. • Pode ser desencadeado por condições como traumatismo cranioencefálico grave ou Trauma Raquimedular (TRM). • Todo o fluxo simpático é interrompido de forma brusca e o paciente evolui rapidamente com uma intensa vasoplegia, acometendo os leitos arterial e venoso. • A venoplegia reduz o retorno venoso e, portanto, o DC. • A dilatação arteriolar é responsável pela queda da RVS. • O tratamento consiste em ressuscitação volêmica para "preencher espaço" nos vasos extremamente dilatados, somada ao uso de aminas vasopressoras como a noradrenalina ou a fenilefrina (efeito somente alfa). DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS CLÍNICOS • O choque deve ser suspeitado em pacientes com sinais de hipoperfusão tecidual • Pressão arterial média • Débito urinário• Nível de consciência • Tempo de enchimento capilar • Perfusão de pele/livedo • Cianose de extremidades • Lactato sérico • pH arterial, bicarbonato • Saturação mista de oxigênio venoso (SmvO2 ou ScvO2) • pCO2 venosa mista • Oxigenação do tecido musculoesquelético (StO2) EXAMES COMPLEMENTRARES • Exames laboratoriais, radiográficos e outros específicos devem ser solicitados para avaliação da perfusão tecidual e orgânica, diagnóstico de lesões por trauma, busca por foco infeccioso na sepse e identificação da causa da falência cardíaca. • A radiografia torácica identifica traumas torácicos significativos, infecções pulmonares, edema pulmonar ou pneumotórax hipertensivo. • ECG auxilia na identificação de isquemia cardíaca, falência cardíaca por arritmias ou embolia pulmonar. • Glicemia capilar identifica alterações importantes de glicose que podem afetar a evolução de focos infecciosos • Hb < 8 g/dl sugere fortemente a necessidade de hemotransfusão se não houver outros critérios para o choque. • Eletrólitos: hiponatremia com hipercalemia sugere insuficiência suprarrenal. • Gasometria arterial para identificar acidose metabólica de origem lática. • Aumento da relação ureia/creatinina sugere desidratação ou sangramento gastrointestinal. • Leucograma identifica anemia ou neutropenia. • Lactato sérico DEVE ser solicitado o mais rápido possível. As medidas do lactato sérico e do deficit de base podem ser realizadas rapidamente e refletem bem a perfusão global do paciente. Níveis elevados estão relacionados com a evolução para falência de múltiplos órgãos. • Exame de urina pode identificar desidratação com base na densidade ou infecção urinária como causa do choque séptico. • Ultrassonografia à beira do leito para avaliação cardíaca e abdominal, com medida da veia cava inferior para avaliação do volume venoso central. Os critérios para diagnóstico de choque hipodinâmicos e hiperdinâmicos já foram dispostos acima, agora só senta aí e atenção que o resto é jogo rápido! TRATAMENTO DO CHOQUE • De maneira geral, o tratamento do paciente em choque inclui dois principais aspectos • a. Restauração rápida da perfusão e da oferta de oxigênio aos órgãos vitais. o Ressuscitação com fluidos. o Vasopressor, se indicado. o Suporte respiratório e correção da hipoxemia. • b. Identificação e tratamento da causa de base; o Pericardiocentese no tamponamento cardíaco; o Punção torácica no pneumotórax hipertensivo; o cardioversão imediata nas taquiarritmias; o Revascularização do miocárdio, se choque + síndrome coronariana aguda; o trombólise de embolia maciça; o epinefrina na anafilaxia; o estancar imediatamente uma hemorragia. o Antimicrobiano no choque séptico. • É importante lembrar que, se o paciente necessitar de noradrenalina, ela pode ser iniciada em veia periférica calibrosa (antecubital ou jugular externa), mas não em veias distais ou de membros inferiores; a infusão pode ser mantida por algumas horas, até que um cateter venoso central seja passado com segurança. • Não se deve deixar o paciente em choque por receio de iniciar noradrenalina em veia calibrosa periférica. • Também não se deve passar um cateter central às pressas (mantendo o paciente chocado nesse intervalo). o Inicie a noradrenalina e estabilize o paciente. CONDUTAS DO CHOQUE HIPOVOLÊMICO • A restauração da volemia é de grande importância no tratamento da grande maioria dos pacientes e ocasiona melhora no fluxo sanguíneo microcirculatório e aumento do débito cardíaco CHOQUE HEMORRÁGICO • A maioria dos pacientes com perdas hemorrágicas avaliados por um cirurgião apresenta uma das duas condições: politrauma ou hemorragia digestiva. • No choque hemorrágico é importante que se defina o grau de perda, principalmente nos casos de hemorragia aguda, uma vez que este parâmetro servirá para determinar a gravidade das manifestações e auxiliar na reposição volêmica inicial. • • • ATLS 10ed: Acesso venoso: Obtenha acesso ao sistema vascular imediatamente. Essa medida é melhor realizada inserindo-se dois cateteres intravenosos periféricos de calibre grande (mínimo de calibre 18 em um adulto). • Escolha da solução inicial: ainda é tema controverso e nem coloides nem cristaloides parecem ser superiores um ao outro, porém o custo das soluções cristaloides é bem menor e, por isso, são as recomendadas. o O ringer lactato, geralmente é a primeira escolha • A taxa de fluxo é proporcional à quarta potência do raio da cânula e inversamente relacionada ao seu comprimento, conforme descrito na lei de Poiseuille. • Na criança, este valor inicial é de 20 ml/kg. • O uso de noradrenalina não é recomendado, uma vez que pode agravar ainda mais a hipoperfusão tecidual. • A reposição de fluidos deve continuar enquanto a PA sistólica estiver baixa – sendo que em vítimas de trauma que não obtiveram controle da hemorragia, uma PA sistólica no limite inferior da normalidade ou uma "discreta" hipotensão é permitida (ressuscitação balanceada) • A ideia de que os níveis de hemoglobina e hematócrito nos momentos iniciais do sangramento não nos permitem estimar a perda sanguínea não é um conceito totalmente correto, pois vai depender se já foi iniciada ou não a administração de fluidos • As principais indicações de transfusão incluem: o (1) queda da pressão arterial; o (2) sinais clínicos e hemodinâmicos compatíveis com baixa oferta de oxigênio aos tecidos, tais como, extremidades frias e úmidas, rebaixamento do nível de consciência, anúria, acidose láctica, taxa de extração de oxigênio > 0,3 e oferta de oxigênio (DO 2) < 10 a 12 ml/kg/min. • A avaliação da resposta a fluidos com a manobra de elevação passiva das pernas (leg raising), levando ao aumento ≥ 15% do débito cardíaco avaliado ao ecocardiograma point of care, pode predizer resposta positiva a alíquotas de 300- 500 mL de solução cristaloide CONDUTAS DO CHOQUE CARDIOGÊNICO • A causa mais comum de choque cardiogênico é a síndrome coronariana aguda, mais precisamente o IAM extenso. • São pacientes que aparecem no pronto-socorro com um quadro de dor torácica súbita, sudorese, vômitos, um ECG mostrando supradesnivelamento de ST em várias derivações, e que evoluem em 6 a 24 horas para estado de choque refratário à reposição volêmica. • A letalidade desses pacientes oscila em torno de 40 a 70%, mesmo com a máxima terapia de suporte medicamentoso. • Pacientes em choque cardiogênico necessitam de monitorização hemodinâmica invasiva (cateter de Swan-Ganz), uma conduta fundamental que nos auxilia na infusão adequada de volume e no uso de inotrópicos positivos e vasopressores. • Após uma infusão cuidadosa de líquidos para aumentarmos as pressões de enchimento ventricular, objetivando uma PCP > 20 mmHg, devemos iniciar vasopressores e inotrópicos. • A noradrenalina é iniciada na dose de 2 a 4 μg/kg/min, com aumentos progressivos. • Além de vasoconstritores, drogas inotrópicas são prescritas, com a dobutamina sendo a mais comum, com doses que variam de 2 a 10 μg/min. • Duas medidas podem ajudar a salvar o paciente em choque cardiogênico por comprometimento isquêmico importante do miocárdio ventricular esquerdo: o (1) Balão Intra-Aórtico de Contrapulsação (BIAC); o (2) Angioplastia primária. • O uso do BIAC é a única maneira de se aumentar o DC e a pressão arterial diastólica, sem vasodilatar o paciente. • O BIAC é contraindicado na insuficiência aórtica (por aumentar a regurgitação diastólica pela valva aórtica) e em pacientes com doença arterial grave dos membros inferiores.• ECMO (Extracorporeal Membrane Oxygenation) consiste em um circuito de circulação extracorpórea capaz de oxigenar o sangue e retirar gás carbônico por meio de um oxigenador. o Esse dispositivo é recomendado em pacientes em choque cardiogênico que não respondem ao tratamento inicial convencional, sendo utilizado somente em centros com experiência na técnica. • Dispositivos cirúrgicos implantáveis podem ser empregados em pacientes selecionados, como ponte para o transplante. • A melhor maneira de salvar um paciente com IAM em choque cardiogênico é a obtenção da reperfusão miocárdica através da angioplastia primária. o Está indicada até um delta-tempo de dor de 24 horas. • O paciente deve ser levado à sala de hemodinâmica após a colocação de um BIA. • É então submetido à coronariografia que geralmente irá revelar uma oclusão coronariana – a responsável pelo IAM. • Em seguida, o hemodinamicista abre a oclusão pelo uso do balão de angioplastia e coloca um stent. • O paciente deve ser mantido com heparinização plena, AAS e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa. CONDUTAS DO CHOQUE ANAFILÁTICO • A fase efetora da resposta imune dependente de IgE ocorre em três padrões ou reações que diferem quanto ao tipo de alérgeno, ao intervalo de tempo entre a exposição e o aparecimento da reação, e aos tipos celulares envolvidos. • A anafilaxia é caracterizada por manifestações clínicas isoladas ou em diversas combinações, envolvendo algum dos seguintes sistemas: respiratório, cardiovascular, neurológico, cutâneo e gastrintestinal • O diagnóstico é eminentemente CLÍNICO, e tem dois pilares: a exposição a um possível desencadeante e o pico dos sintomas ocorrendo em média 30 a 60 minutos após a exposição. • Os sintomas podem ocorrer em minutos a horas depois do contato com o alérgeno, sendo mais comuns na primeira hora subsequente. • A rapidez com que os sintomas ocorrem guarda relação com a gravidade dos sintomas. • O quadro clínico pode seguir um curso unifásico, em que os sintomas aparecem e não mais retornam; ou bifásico, quando os sintomas, reaparecerem cerca de 8 a 10 horas após, ou até mesmo 72 h após a resolução do quadro inicial. • O curso bifásico é encontrado em até 23% dos casos, sendo mais frequente em pcts após exposição oral ao antígeno ou naqueles com manifestações iniciais após 30 minutos da exposição. • Corresponderia, nos casos mediados por IgE, à expressão clínica da reação tardia da resposta alérgica. • Ainda há a anafilaxia prolongada, que tem frequência desconhecida e que pode durar horas, dias ou até semanas. • As manifestações podem incluir: o Pele: o envolvimento cutâneo é a apresentação mais comum, ocorrendo em até 90% dos casos, representado por urticária e angioedema, que podem ser precedidas por eritema e prurido. o Sintomas respiratórios: ocorrem em até 70% dos indivíduos acometidos e podem ser de via aérea alta (rinorreia, obstrução nasal, disfonia, rouquidão, sensação de garganta fechada), como de via aérea baixa (tosse, sibilância, dispneia). o Sintomas gastrointestinais: ocorrem em 45% dos casos e geram náusea, vômitos, diarreia e cólicas. o Sintomas cardiovasculares: ocorrem também em 45% dos casos, podendo variar de leves como tontura e taquicardia, passando por síncope, hipotensão e choque. SINAIS E SINTOMAS DE ALERTA: o Rápida progressão dos sintomas a partir da exposição. o Esforço respiratório, tosse persistente, estridor laríngeo. o Vômitos persistentes. o Hipotensão, arritmia, dor torácica, síncope. CONDUTA IMEDIATA: • Há muito poucas evidências que embasem o tto da anafilaxia, e o tto é mais baseado em consensos do que em ensaios clínicos randomizados. • Mas há princípios no atendimento de emergência que devem ser contemplados em 100% dos casos: o Remova o agente causal se o paciente ainda estiver exposto a ele. o Uma vez que o dg seja feito, inicie imediatamente epinefrina intramuscular (NÃO ATRASE O INÍCIO DA EPINEFRINA). o A aplicação da adrenalina próximo ao local de injeção de substância implicada na anafilaxia e o uso de torniquetes não são recomendados. o Coloque o paciente em posição supina com os membros inferiores levantados. o Forneça oxigênio suplementar a 100%. o Consiga preferencialmente dois acessos venosos periféricos calibrosos (jelco 14 g ou 16 g). o Faça a ressuscitação hemodinâmica com cristaloides. o Mantenha o paciente sob monitorização. • A seguir, faça uma abordagem ao pct iniciando pelas VIAS AÉREAS. o Se houver estridor ou sinais de insuficiência respiratória, realize intubação orotraqueal imediatamente. o Em caso de presença de edema de língua e face, a intubação não é obrigatoriamente imediata, mas você deve solicitar que o material fique disponível à beirado leito. • Em alguns casos mais graves é necessário ter material para realização de cricotiroidotomia de urgência. • A seguir faça AVALIAÇÃO CIRCULATÓRIA. o Todo pct com manifestações cardiovasculares, principalmente hipotensão (ou mesmo hipotensão postural), deve receber pelo menos 5 a 10 mL/kg de soro fisiológico nos primeiros minutos, e mais fluidos a seguir, se necessário (30 mL/kg na 1a hora). • Pcts que cheguem em PCR devem receber as manobras de ressuscitação conforme diretrizes • A EPINEFRINA (ADRENALINA) É A BASE DO TRATAMENTO DA ANAFILAXIA. NÃO HÁ CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA A SEU USO. o Atualmente, estão disponíveis inclusive canetas autoinjetáveis para esta função (EpiPen®, Adrenaclick®, Twinject®). o Deve ser feita por via intramuscular no músculo vasto lateral da coxa, por possibilitar picos mais rápidos na circulação. o Não fazer via subcutânea. o A dose é de 0,3 a 0,5 mg e pode ser repetida em intervalos de 5 a 15 minutos em pcts com sintomas sistêmicos persistentes. • Lembre-se de que a nossa ampola de adrenalina contém 1 mg/ml (ou 1 g: 1.000 ml). Mas eu não posso fazer 1 mg direto na veia... Isso é para PCR! o Do contrário desencadearíamos taquiarritmias potencialmente fatais. o Devemos então obter uma solução menos concentrada e fazer uma dose menor. o E como fazer isso? ▪ Diluindo a nossa ampola em SF 0,9% para obter uma solução a 0,1 mg/ml (ou 1 g: 10.000 ml). o Para isto colocamos uma ampola de adrenalina com 9 ml de SF 0,9%. Inicialmente, faremos 1 ml desta solução diluída. o Isto é, faremos 100 µg de adrenalina. Algumas referências recomendam uma dose inicial maior, com 2,5 ml desta solução. o Se não houver resposta, infundiremos adrenalina IV! • Paciente usuário de betabloqueador pode ser resistente à ação da epinefrina – nesse caso, glucagon deve ser administrado (1-5 mg IV, por cinco minutos). o Para estes pcts devemos utilizar glucagon para reverter os efeitos do b-bloqueador e permitir a ação da epinefrina. o O glucagon possui propriedades inotrópicas e cronotrópicas positivas e efeitos vasculares independentes dos receptores β, além de induzir o aumento de catecolaminas. o Seus efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômitos e hiperglicemia. • Pcts que persistirem com hipotensão após expansão inicial com cristaloides e três doses de adrenalina podem receber o diagnóstico de CHOQUE ANAFILÁTICO. o Nesses casos instalamos a adrenalina por via endovenosa em BIC na diluição de 4 μg/mL (0,004 mg/mL). o Se o pct ainda assim for refratário, a opção é usar a vasopressina, a despeito das evidências serem bastantes escassas nesse sentido. o Pode ser revertido prontamente com o uso de adrenalina. o A droga inicialmente é administrada pela via IM, no vasto lateral da coxa (dose de 0,3 mg para adultose 0,15 mg em crianças < 50 kg), com uma ou duas doses repetidas; • Em pcts que já desenvolveram hipotensão significativa ou naqueles que não responderam ao uso intramuscular, a adrenalina venosa deve ser iniciada, na dose de 2 a 10 μg/min (em crianças 0,1 a 1 μg/kg/min), em infusão contínua. • Os anti-histamínicos utilizados são tanto os bloqueadores H1 (difenidramina) quanto os bloqueadores H2 (ranitidina); o Estas medicações promovem uma resolução mais rápida da urticária, sem influenciar nos níveis de pressão arterial ou em outros sintomas. • Os corticosteoides são recomendados de forma empírica, com o objetivo de atenuar possíveis reações tardias. • As drogas mais empregadas são a metilprednisolona e a prednisona. • O glucagon endovenoso pode ser administrado em pcts não responsivos à adrenalina, principalmente naqueles que utilizam rotineiramente os betabloqueadores. • As demais manifestações da anafilaxia devem ser tratadas da seguinte maneira: • Sintomas cutâneos: o Prescrição de antihistamínicos associando bloqueio H1 e H2. o Não utilizar prometazina por conta do risco de induzir hipotensão e sedação no paciente. o Utilizar difenidramina associada a ranitidina. • Sintomas de broncoespasmo: o Tendem a melhorar com a adrenalina, mas pode ser necessário realizar inalações com b-2- agonistas inalatórios. • Corticosteroides: o Têm mais papel em evitar a resposta bifásica do que reverter sintomas na fase aguda. o Deve ser prescrito de início e mantido na alta por até 5 dias, assim como os anti-histamínicos. • * Não existem evidências para recomendar antihistamínicos ou esteroides na PCR, entretanto o ACLS fala que é uma conduta possível; recomendação IIb; nível de evidência C. • Anti-histamínicos (difenidramina, prometazina, cetirizina): quadros de urticária. • Broncodilatadores (albuterol): em caso de broncoespasmo. • Glicocorticoides (metilprednisolona): esses medicamentos demoram algumas horas para agir, não fornecendo alívio para os achados iniciais. o Sua grande indicação se dá para os sintomas tardios que podem ocorrer no curso bifásico da anafilaxia (recorrência nas próximas horas). o O mecanismo deste fenômeno é desconhecido, mas parece ser mais comum quando a terapia é iniciada tardiamente e os sintomas de apresentação são mais graves. • Resumo de Anafilaxia: o Adrenalina intramuscular o Anti-histamínico (H1 e H2) parenteral o Corticosteroide parenteral o Oxigenoterapia o Reposição de fluidos o Beta-adrenérgico inalatório
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