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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO BIOMÉDICO Prova 2 de Bioquímica 1 (2020-1) Data: 25/01/2021 Curso: Biomedicina Professor: Pedro Castilho Nome: Ana Beariz Rodrigues Floriano dos Santos 1. Explique o mecanismo através do qual a célula muscular utiliza ácidos graxos como combustível preferencial em condições de aerobiose, inibindo a utilização de glicose. A aerobiose é um processo de respiração celular onde é obrigatória a presença de oxigênio. Nesse processo, grande quantidade de energia se dá pela degradação da glicose. Os carboidratos são responsáveis por liberar a glicose enquanto o lipídio é responsável por liberar ácidos graxos no organismo, logo os dois são fontes de energia em condições de aerobiose. Contudo, enquanto nesse processo de respiração celular a maioria das células do corpo favorece o uso da glicose, as células musculares utilizam preferencialmente os ácidos graxos. Essa preferência dos músculos pelos ácidos graxos é explicada pelo ciclo glicose-ácido graxo. O mecanismo que suporta esse conceito está associado a uma razão elevada das concentrações de acetil-CoA/CoA-SH como consequência de uma oxidação elevada de lipídios seguida por um aumento no conteúdo intracelular de citrato e glicose-6-P (G6-P). O acúmulo do acetil-CoA gera a inibição da enzima piruvato desidrogenase (PDH), que é a enzima responsável pela fosforilação e inativação do complexo PDH, reduzindo a oferta de piruvato (glicose) como substrato oxidativo. Simultaneamente, o conteúdo elevado de citrato inibe a enzima reguladora da via glicolítica fosfofrutoquinase (PFK). Esse efeito aumenta a razão G6-P/F1,6-bifosfato inibindo a hexoquinase, a enzima responsável pela captação e fosforilação de glicose, assim reduzindo a disponibilidade intracelular de glicose como substrato. O ciclo glicose-ácido graxo é importante não somente para que tenha um aumento do fornecimento de energia aos tecidos, mas principalmente na economia da utilização dos estoques limitados de glicose. Esse mecanismo estabelece a regulação metabólica crucial para a homeostase energética. A Glicose é uma fonte valiosa de energia para o organismo, mas a sua capacidade de estoque em forma de carboidrato é limitada, fazendo necessário a busca por estratégias de economia do uso dessa fonte. Pensando nesse sentido de armazenamento, o lipídio pode ser armazenado com muito mais facilidade do que o carboidrato, produtor da glicose. Ao contrário das reservas de carboidratos, as reservas de lipídios em humanos são ilimitadas e a densidade energética dos lipídios é aproximadamente 10 vezes maior que a dos carboidratos e seu peso em estoque de energia é menor, proporcionando maior eficiência na produção final de energia em comparação aos carboidratos. Esse conceito ajuda a esclarecer a preferência do tecido muscular pelos ácidos graxos. Nessas condições, a lipólise do tecido adiposo periférico é favorecida aumentando a disponibilidade de ácidos graxos para a captação e utilização pelo músculo esquelético. Caso essa regulação não ocorra, os estoques de glicose podem acabar precocemente, comprometendo a performance muscular. 2. Por que um esquimó com dieta deficiente em carboidratos estaria nutricionalmente melhor comendo alimentos com lipídeos contendo ácidos graxos com número ímpar de átomos de Carbono ao invés de número par? Os ácidos graxos são a maior reserva de energia dos seres vivos e seu catabolismo ocorre principalmente através da β-oxidação. Esta via faz parte do metabolismo primário dos mamíferos, sendo que sua regulação é integrada à regulação de outras vias vinculadas ao balanço energético. Pela regulação da oxidação de ácidos graxos pelo organismo humano ser feita de forma integrada com a regulação de outras vias primárias do metabolismo energético, como as que controlam o uso de carboidratos ou aminoácidos como fonte nutricional, diferentes condições e dietas podem influenciar o funcionamento da β-oxidação. Esta rota pode ser entendida como uma série de reações pelas quais unidades de dois carbonos (acetil-CoA) são sucessivamente removidas da molécula de ácido graxo. Durante o processo, também são produzidos NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo) e FADH2 (flavina adenina dinucleotídeo), os quais doam elétrons para a cadeia respiratória mitocondrial que, por sua vez, os transfere ao oxigênio molecular em reações sequenciais que geram um gradiente eletroquímico utilizado para a síntese de ATP. Porém o funcionamento da β-oxidação apresenta particularidades para os ácidos graxos com número par e ímpar de carbonos, bem como para aqueles que possuem insaturação. Ácidos graxos cujas cadeias possuem número par ou ímpar de carbonos levam à formação de produtos diferentes, quando totalmente degradados pelo ciclo das quatro reações da β-oxidação. Isso porque ácidos graxos com número par de átomos de carbono chegam ao último ciclo da via com quatro carbonos, enquanto ácidos graxos com número ímpar chegam com cinco carbonos. A quantidade de ATP, resultante da oxidação de ácidos graxos saturados, com número par de carbonos, pode ser calculada a partir da soma da quantidade de ATP provenientes das moléculas de NADH e FADH2 originados na β-oxidação (ATPβ-OX), com a quantidade de ATP produzidos pela oxidação completa do acetil-CoA, no ciclo de Krebs. Já os ácidos graxos ímpares também são oxidados pela β-oxidação, só que neste caso a última volta da via leva à formação de uma unidade de acetil-CoA (dois carbonos) e uma de propionil-CoA (três carbonos). Enquanto o primeiro pode ser oxidado no ciclo de Krebs, o proprionil-CoA não pode, e por isso ele é transformado em succinil-CoA por três reações catalisadas pelas enzimas proprionil-CoA carboxilase, metilmalonilCoA epimerase e metilmalonil-CoA mutase. O succinil-CoA gerado pode ser desviado para a gliconeogênese ou ser oxidado no ciclo de Krebs. Lembrando que succinil-CoA é um dos metabólitos que atua como espécime catalítica regenerada no próprio ciclo e não como fonte de energia. Por isso ele precisa ser convertido em malato por reações habituais do ciclo de Krebs e transportado da matriz mitocondrial para o citosol. O malato é descarboxilado à piruvato pela enzima málica. O piruvato entra novamente na matriz mitocondrial onde sob a ação do complexo piruvato desidrogenase sofre descarboxilação oxidativa originando acetil-CoA, que efetivamente pode ser oxidado no ciclo de Krebs. O Esquimó ao possuir uma dieta deficiente em carboidratos tem, consequentemente, uma dieta com pouca glicose. A glicose é responsável por gerar piruvato na via da Glicólise, que é a principal fonte de Oxaloacetato. Por consequência da falta de Oxaloacetato a velocidade do ciclo de ácido cítrico reduz. Logo, ao esquimó se alimentar de ácidos graxos com um número ímpar de carbono ele estaria repondo a sua necessidade de gerar piruvato. Como foi visto e detalhado acima, a conversão do propionato em succinil-CoA fornece intermediários para o ciclo do ácido cítrico e precursores de quatro carbonos para a gliconeogênese. Assim não afetando a produção de energia e auxiliando na manutençãodo ciclo do ácido cítrico. Manutenção essa que não é possível de ser feita com ácidos graxos com número de carbonos para. 3. A membrana externa da mitocôndria é permeável à maioria dos solutos de baixo peso molecular. A membrana interna, entretanto, possui seletividade, sendo impermeável por exemplo a coenzimas, nucleotídeos, etc. De posse dessas informações responder as seguintes indagações: a) Como os acil-CoA produzidos após ativação dos ácidos graxos podem ser degradados na β-oxidação? As enzimas da oxidação de ácidos graxos nas células animais estão localizadas na matriz mitocondrial. Uma vez dentro das células, os ácidos graxos são ativados na membrana mitocondrial externa pela conversão em tioésteres de acil-CoA graxos. A acil-CoA graxo que será oxidada não conseguem passar livremente através das membranas internas da mitocôndria. Por isso, para entrar na matriz mitocondrial primeiro eles precisam passar pelas três reações enzimáticas do ciclo da carnitina. Este processo de transporte envolve a ação de uma transférase da membrana mitocondrial externa (carnitina palmitoil-transférase I) que catalisa a transferência do acil do acil-CoA para a carnitina, um transportador da membrana mitocondrial interna que é um antiporter (troca acil-carnitina que entra por carnitina que sai) e uma outra transférase (localizada na membrana interna da mitocôndria mas cujo centro ativo está voltado para a matriz) que reverte o processo catalisado pela primeira transférase permitindo a formação de acil-CoA dentro da matriz celular (carnitina palmitoil-transférase II). 1. carnitina(fora) + acil-CoA(fora) → acil-carnitina(fora) + CoA(fora) 2. acil-carnitina(fora) + carnitina(dentro) → acil-carnitina(dentro) + carnitina(fora) 3. acil-carnitina(dentro) + CoA(dentro) → carnitina(dentro) + acil-CoA(dentro) b) Como o NADH produzido na via glicolítica pode ser reoxidado na cadeia respiratória? A NADH-desidrogenase da membrana mitocondrial interna de células animais pode aceitar elétrons somente do NADH na matriz. Considerando que a membrana interna não é permeável a NADH, a molécula depende de sistemas especiais de lançadeiras para carregarem equivalentes redutores do NADH citosólico para as mitocôndrias por uma via indireta. Assim, o NADH gerado pela glicólise no citosol pode ser reoxidado a NAD1 pelo O2 ao longo da cadeia respiratória. 4. Um microorganismo aeróbico facultativo é cultivado em meio líquido glicosado com aeração e sem aeração. Em qual das duas culturas o consumo de glicose pelas células é maior? Justificar a resposta em termos de regulação metabólica. Com Aeração → Glicose → co2 + h2o + 38ATPs Sem Aeração → Glicose → Lactato + 2ATPs Ao observar o rendimento da glicose em cada caso, vemos que o rendimento no caso aeróbico é muito maior do que no anaeróbico, logo o consumo de glicose é menor no meio com aeração e maior no meio sem aeração. No caso do metabolismo aeróbico o baixo consumo de glicose é explicado pela alta relação de ATP/ADP. As concentrações de ATP e ADP estabelecem a velocidade de transporte de elétrons pela cadeia respiratória, por uma série de controles interconectados sobre a respiração, a glicólise e o ciclo do ácido cítrico. A fosforilação oxidativa é regulada pelas demandas energéticas celulares. Assim, a baixa concentração de ADP deixa de estimular a cadeia respiratória e também a isocitrato desidrogenase, gerando um acúmulo de citrato. O citrato e o ATP em altas concentrações no citosol inibem a fosfofrutoquinase 1 que é o principal ponto de regulação da glicólise.
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