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Mariana Marques – T29 MEDICINA NOVE DE JULHO INTRODUÇÃO • O abdome consiste na parte do corpo humano localizada entre o tórax e a pelve, onde se aloja a maior parte dos sistemas digestório e geniturinário. • Os limites anteriores do abdome formam um pentágono invertido onde os vértices localizam-se: ▪ Superiores: 6º espaço intercostal direito e esquerdo. ▪ Laterais: cristas ilíacas direita e esquerda. ▪ Inferior: Sínfise púbica. • Os limites posteriores são formados pela 10ª costela até encontrar a 12ª vértebra torácica, seguindo até o prolongamento posterior da linha que passa pela crista ilíaca até a 5ª vértebra lombar. • Divisão do abdome em regiões: o abdome é dividido em 9 regiões, as quais podem auxiliar na melhor localização dos sintomas clínicos, possibilitando um diagnóstico preciso mais rapidamente, essas regiões agrupam topograficamente as estruturas apontadas na tabela: LOCALIZAÇÃO DIVISÃO ESTRUTURAS SUPERIOR 1. HIPOCÔNDRIO DIREITO Lobo direito do fígado e Vesícula biliar 2. EPIGÁSTRIO Lobo esquerdo do fígado, cabeça e corpo do pâncreas, estômago e duodeno. 3. HIPOCÔNDRIO ESQUERDO Cauda do pâncreas, estômago e flexura esplênica do cólon. MEDIANA 4. FLANCO DIREITO Cólon ascendente e partes do duodeno e jejuno. 5. MESOGÁSTRIO Jejuno, íleo e parte inferior do duodeno. 6. FLANCO ESQUERDO Cólon descendente, porções do jejuno e do íleo. INFERIOR 7. FOSSA ILÍACA DIREITA Ceco, apêndice e extremidade inferior do íleo. 8. HIPOGÁSTRIO Íleo. 9. FOSSA ILÍACA ESQUERDA Cólon sigmoide. Exame físico Abdominal Mariana Marques – T29 MEDICINA NOVE DE JULHO • Divisão do abdome em quadrantes: o abdome pode ser dividido em quatro quadrantes através de duas linhas, uma vertical (liga o apêndice xifoide à sínfise púbica) e uma horizontal (cruza perpendicularmente na altura da cicatriz umbilical). INSPEÇÃO ESTÁTICA • O médico deverá estar localizado em pé à direita do leito. • O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal. • Deve-se avaliar: forma do abdome, presença de lesões e cicatrizes, simetria abdominal, cicatriz umbilical (sempre mediana), prega inguinal, sistema piloso, retrações subcostais, pulsações na linha mediana (pode indicar aneurisma de artéria aorta abdominal) e os movimentos peristálticos. ALTERAÇÕES NA FORMA DO ABDOME • Abdome retraído ou escavado: presentes em casos de desidratação grave. • Abdome atípico: consiste no abdome normal, com aparência simétrica e plana. • Abdome globoso: quando há aumento no diâmetro anteroposterior do abdome, comum em casos de obesidade, ascites volumosas e em grávidas (também pode ser chamado de abdome gravídico). • Abdome batráquio: é caracterizado pela dilatação dos flancos gerando um aumento lateral do abdome, comum em casos de ascite e obesos. Nesse tipo de abdome, há redução da tonicidade da musculatura da parede do abdome. • Abdome em avental: consiste no abdome que cai como um avental sobre a raiz das coxas, comum em casos de obesidade que possuem elevada perda ponderal. ALTERAÇÕES NA PELE - Lesões: • Alterações de Coloração: ▪ Eritema: quando há coloração avermelhada que desaparece quando se faz pressão na pele. Pode ser chamado de rubor (eritema rubro) quando está associado a aumento da temperatura local. ▪ Telangiectasias: lesões filamentosas e sinuosas, também conhecidas como varizes. ▪ Púrpura: são manchas vermelhas ou roxas localizadas na pele que não desaparecem com pressão. Podem ser de dois tipos de acordo com o tamanho, as petéquias (puntiformes até um centímetro) ou as equimoses (maiores de um centímetro). ▪ Hipercrômica: são manchas de cor variada, que possuem um tom mais escurecido que a pele, ou seja, são depósitos pigmentares. ▪ Hipocrômicas: são manchas por diminuição de pigmentos ou ausência, as quais podem ser máculas (não palpáveis com até um centímetro) e manchas (não palpáveis com mais de um centímetro). • Formações Solidas (elevações palpáveis): ▪ Pápulas: são circunscritas, elevadas com cerca de um centímetro (no máximo). ▪ Placas: circunscritas, elevadas e maiores do que um centímetro. ▪ Nódulo: são lesões localizadas na hipoderme mais palpáveis do que visíveis, com mais de meio centímetro e consistência firme. ▪ Vegetação: lesão pedinculada que pode se apresentar de forma verrucosa e condilomatosa. ▪ Urticárias: uma elevação irregular, branco-rósea ao vermelho e pruriginosa. • Coleções líquidas: lesões com conteúdo líquido, podendo ser seroso, sanguinolento ou purulento. ▪ Vesículas: lesão elevada com conteúdo líquido até um centímetro de diâmetro. ▪ Bolha: lesão elevada com conteúdo líquido com mais de um centímetro de diâmetro. ▪ Pústula: lesão elevada com conteúdo purulento até um centímetro de diâmetro. ▪ Abcesso: lesão elevada com conteúdo purulento com mais de um centímetro de diâmetro. • Perdas Teciduais: ▪ Erosão: Perda superficial da epiderme. ▪ Fissura: solução de continuidade linear da epiderme e derme. ▪ Úlcera: Perda profunda de continuidade da derme e epiderme, podendo acometer até hipoderme. ▪ Fístula: Pertuito cutâneo ligado a um foco profundo, onde drena normalmente líquido purulento. Mariana Marques – T29 MEDICINA NOVE DE JULHO - Cicatrizes: • Deve-se avaliar a localização, o tamanho e o aspecto da cicatriz, realizando sua descrição. • Quelóide: crescimento anormal de tecido cicatricial formada no local de um corte, traumatismo ou cirurgia de pele. • Cicatrização hipertrófica: consiste em um desordenamento das fibras de colágeno gerando certo endurecimento, porém, não invade a pele ao redor da cicatriz. - Manchas/sinais: • Sinal de Grey Turner: caracteriza-se pela equimoses nos flancos, é um sinal indicativo de pancreatite aguda. • Sinal de Cullen: caracterizado equimoses na região periumbilical devido à uma hemorragia retroperitoneal, podendo ser causada por pancreatite aguda necro- hemorrágica, ruptura de gravidez ectópica, ou em menor número de casos quando há rompimento de um aneurisma de aorta ou de órgão em caso de trauma. - Circulação colateral: • Circulação colateral do tipo porta: é o tipo mais comum e ocorre devido à um obstáculo do fluxo venoso em direção ao fígado. É possível observar uma circulação característica de “cabeça de medusa”, onde há dilatação de vasos próximos à cicatriz umbilical. • Circulação colateral tipo cava inferior: ocorre quando há obstrução na veia cava inferior, sendo comum em tromboses onde observa-se os vasos na região inferior e lateral do abdome com fluxo ascendente. - Pulsatilidade: • Aneurismas da aorta abdominal: são dilatações localizadas na parede da aorta, na região que passa pelo abdômen (aorta abdominal), podendo causar uma sensação pulsante no abdômen e, caso se rompam, podem provocar dor profunda e extrema, hipotensão arterial e morte. - Movimentos peristálticos: • Peristaltismo: são movimentos involuntários e rítmicos que ocorrem como consequência da contração dos músculos lisos que constituem os órgãos do tubo digestório, são essenciais para o processo digestivo, uma vez que garantem a movimentação dos alimentos ao longo do sistema digestório. • Os movimentos peristálticos podem estar aumentados em casos de obstruções. AUSCULTA • Na avaliação do abdome, recomenda-se que a ausculta seja realizada antes da inspeção dinâmica, da palpação e da percussão para evitar o aumento involuntário do peristaltismo. • Deve-se avaliar a motilidade intestinal através da presença de ruídos hidroaéreos: ▪ Devem ser auscultado cerca de 5 a 34 ruídos hidroaéreos por minuto em cadaquadrante do abdome. ▪ Em casos de ausência de ruídos, deve-se auscultar por 5 minutos cada quadrante alterado. ▪ A ausência de ruídos deve ser assinalada após 2 minutos de ausculta. ▪ Ruídos hidroaéreos aumentados podem indicar diarreia ou fases iniciais da obstrução intestinal. ▪ Ruídos hidroaéreos reduzidos podem indicar obstrução intestinal. ▪ Ruídos hidroaéreos ausentes podem indicar peritonites ou um quadro de íleo adinâmico. • Sons vasculares: deve-se procurar a presença de sopros arteriais (aorta abdominal, artérias renais e artérias ilíacas comuns). Mariana Marques – T29 MEDICINA NOVE DE JULHO INSPEÇÃO DINÂMICA • Realizada após a ausculta para evitar aumento do peristaltismo. • Realiza-se manobras para inspecionar a presença de hérnias na parede abdominal: ▪ Manobra de Smith-Bates: paciente realiza a elevação das pernas, sem fletir os joelhos. ▪ Manobra de valsava: solicita-se que o paciente sopre a sua mão sem que o ar saia, para que ocorra elevação da pressão intra-abdominal, fazendo com que a hernia apareça, caso haja. PERCUSSÃO • É realizada com o objetivo de delimitar limites hepáticos (hepatimetria), identificar massas, avaliar distribuição dos gases no abdome, identificar presença de ascite e identificar sinais de esplenomegalia. • Sons da percussão abdominal: ▪ Timpânico: vísceras ocas e no espaço de Traube. ▪ Maciço: vísceras sólidas, tumores, cistos e ascite. ▪ Hipertimpanismo: meteorismo e pneumoperitônio. • Espaço de traube: espaço semilunar localizado na região de hipocôndrio e flanco esquerdo, apresenta som timpânico nessa região. ▪ Limites topográficos: - Direito: lobo esquerdo hepático. - Esquerdo: linha axilar anterior esquerdo. - Superior: diafragma e pulmão esquerdo. - Inferior: rebordo costal esquerdo. Observação: a ausência de timpanismo do espaço de traube indica esplenomegalia. • Hepatimetria: percussão realizada de forma descendente a partir do 4º espaço intercostal da linha hemiclavicular direita usada para delimitar e quantificar o tamanho hepático. Deve-se ouvir a transição de som claro pulmonar para som maciço e depois de som maciço para timpânico e medir a distância entre os pontos de transição sonora com uma fita métrica. ▪ Valor referência de normalidade: 6 a 12cm na linha hemiclavicular direita. • Ascite: consiste em um acúmulo de líquido que contém proteínas dentro do abdômen. Quando há a presença de ascite, locais do abdome que deveriam estar timpânicos durante a percussão, encontram-se maciços. Há três formas de percutir-se um abdome ascítico, e essas formas vão ser utilizadas de acordo com o tamanho desse acúmulo de líquido. Macicez móvel: • Utilizada em casos de ascite leve. • Posiciona-se o paciente em decúbito lateral direito e percute-se todo o abdome. Se houver ascite, deve-se ouvir um timpanismo no flanco esquerdo e macicez no flanco direito. O inverso deve acontecer se o paciente estiver posicionado em decúbito lateral esquerdo. Semicírculo de Skoda: • Utilizado em casos de ascite moderada. • Com o paciente em decúbito dorsal, deve-se percutir todo o abdome, iniciando a partir da cicatriz umbilical para regiões laterais. Mariana Marques – T29 MEDICINA NOVE DE JULHO • Encontra-se macicez em região de flancos devido ao acúmulo de líquido na região. Sinal de Piparote: • Utilizado em casos de ascite grave. • Consiste em uma manobra em que o paciente adota a • posição de decúbito dorsal e ele próprio ou um auxiliar coloca a borda cubital da mão sobre a linha mediana do abdome, fazendo uma pequena pressão, o examinador se posiciona ao lado direito do paciente, repousa a mão • esquerda no flanco do outro lado e percute com petelecos a face lateral do abdome. Se houver líquido suficiente na cavidade peritoneal, a mão esquerda irá sentir os choques das ondas líquidas. PALPAÇÃO Palpação superficial: • Avalia-se sensibilidade, temperatura da parede abdominal, tensão e possíveis desníveis. • Deve-se palpar com cerca de 2cm de profundidade. • Com as mãos aquecidas iniciar palpação com delicadeza, palpa-se de forma simétrica em relação à linha mediana o epigástrio, mesogástrio, hipogástrio, flancos e fossas ilíacas. • Manobra de Carnett: utilizada para avaliar a presença de hernias e tumorações abdominais. É realizada com o paciente em decúbito dorsal, fazendo com que ele eleve a cabeça contra a mão do examinador. Se a massa visível desaparecer, indica que a tumoração encontra- se na região intra-abdominal, se permanecer visível e palpável indica que a tumoração encontra-se na parede abdominal. Palpação profunda: • Avalia-se a presença de massas abdominais e a exploração de estruturas intra-abdominais tais como: músculo psoas, estômago, porção terminal do íleo, ceco, cólon, sigmoide, fígado, polo inferior do rim direito, bexiga quando cheia, aorta abdominal e artérias ilíacas. • Deve-se palpar com cerca de 10cm de profundidade. • Palpação do baço: ▪ O baço em condições normais geralmente não é palpável. ▪ Pode-se palpar o baço através de três técnicas diferentes, sendo elas: - Lemos Torres, Mathieu-Cardarelli e Schuster. • Palpação do fígado: ▪ Deve-se avaliar a forma, superfície e consistência. ▪ Geralmente, pode ser palpável, mas não é incomum a impossibilidade de palpação. ▪ Pode-se palpar o baço através de duas técnicas principais, sendo elas: - Lemos Torres e Mathieu-Cardarelli. Técnicas de Palpação: • Mathieu Cardarelli: o paciente deve estar em decúbito dorsal, o examinador posiciona-se a direita (para palpar o fígado) ou a esquerda (para palpar o baço) voltado para os pés do paciente. As mãos são colocadas em paralelo sob o rebordo costal direito ou esquerdo do paciente e os dedos em garra realizam a palpação durante a expiração. Mariana Marques – T29 MEDICINA NOVE DE JULHO • Lemos Torres: o paciente deve estar posicionado em decúbito dorsal, o examinador posiciona-se a direita (para palpar o fígado) ou a esquerda (para palpar o baço), a mão esquerda do examinador é colocada abaixo do gradeado costal à direita (para o fígado) ou a esquerda (para o baço) e a mão direita palpa a região durante a expiração. • Shuster: utilizada para palpação do baço, deve-se posicionar o paciente em semidecúbito lateral a direita com membro inferior fletido. O examinador posiciona-se a direita do paciente e com a mão esquerda apoia o gradeado costal, enquanto a mão direita palpa desde a fossa ilíaca direita até rebordo costal esquerdo. SINAIS • Sinal de Blumberg: consiste na descompressão brusca positiva do ponto de McBurney (situado entre a cicatriz umbilical e a espinha ilíaca antero- superior). É indicativo de apendicite aguda. • Sinal de Rovising: consiste na palpação retrógada dos cólons, comprimindo em direção contrária ao fluxo intestinal, iniciando-se na fossa ilíaca esquerda. Pode ser indicativo de apendicite. • Sinal de psoas: coloca-se o paciente em decúbito lateral esquerdo, o paciente sente dor à extensão da coxa direita sobre o quadril. Pode ser indicativo de apendicite. • Sinal do obturador: coloca-se o paciente em decúbito lateral esquerdo, o examinador flexiona coxa direita do paciente e faz uma rotação interna. • Sinal de Giordano: deve-se realizar uma punho percussão no dorso do paciente no nível da 11ª e 12ª costela. Utilizado na pesquisa de pielonefrite ou litíase renal.
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