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1 Última atualização: 06/08/2021 1. Introdução distúrbio endócrino que provoca alteração dos níveis hormonais, levando à formação de cistos nos ovários que fazem com que eles aumentem de tamanho. Além das manifestações gi- necológicas, essa patologia pode cursar com alterações lipídicas, diabetes mellitus (DM), obesidade, hipertensão arterial sistêmica (HAS), aumento do risco cardiovascular, entre outros fatores. 2. Epidemiologia A etiologia da SOP ainda é desconhecida, porém acredita-se que sua origem é muitifatorial e envolvem alterações genéticas poligênicas e suas interações com condições ambientais. Em vá- rios estudos encontra-se uma maior incidência de casos dentro das famílias, sugerindo a transmissão da alteração genética. Distúrbio endócrino mais comum nas mulheres em idade re- produtiva, principalmente com idade entre 30 e 40 anos. 3. Fisiopatologia Não é muito bem esclarecida, mas sabe que ocorre uma al- teração da pulsatilidade na liberação do hormônio GnRH pelo hi- potálamo (não sabe se trata de um distúrbio primário ou secun- dário a regulação de outros produtos alterados na SOP). Com a alteração do GnRH, há aumento da liberação do LH e uma diminuição da liberação do FSH. O papel do LH é de estimular as células da teca a produzirem androgênios. Portanto, se há mais LH, haverá também maior produção de androgênio, principal- mente testosterona e androtenediona. Já o FSH estimula a produ- ção da enzima aromatase nas células da granulosa. Essas enzi- mas convertem os androgênios em estrogênios. Como há uma di- minuição da liberação de FSH, ocorre também a redução da pro- dução de estrogênios, propiciando acúmulo de androgênios. O aumento de androgênios ovarianos prejudica o desenvolvi- mento folicular normal, fazendo com que os folículos fiquem ima- turos e se transformem em múltiplos folículos subdesenvolvidos na periferia ovariana. Além disso, níveis elevados de androgênios causam alterações no perfil lipídico das pacientes com SOP e tam- bém predispõem ao surgimento de acne e hirsutismo. Os andro- gênios circulantes são convertidos em estrogênios no tecido peri- férico, sobretudo nas células do tecido adiposo, sendo assim, pa- cientes obesas com SOP tem maior produção de estrogênio. Devido ao não desenvolvimento folicular, a paciente não ovu- lará, levando ao quadro de anovulação crônica e por consequên- cia, oligo ou amenorreia. Como não há ovulação, também não há formação de corpo lúteo, que é o responsável pela produção de progesterona. Com isso, o endométrio dessa paciente será esti- mulado somente pelo estrogênio produzido, sem a oposição da progesterona, levando ao risco de sangramento uterino anormal, hiperplasia endometrial e câncer de endométrio. Ocorre diminuição da globulina ligadora de hormônios sexu- ais (SHBG, sex hermone-binding globulin), uma proteína produ- zida pelo fígado e responsável pelo carreamento dos esteroides sexuais. Com a redução dessa proteína, ocorre o aumento da con- centração de androgênios livres e disponíveis para se acoplarem aos receptores nos órgãos-alvo. A resistência insulínica pode ser responsável por levar a atre- sia folicular dos ovários, aumento da produção de androgênios pe- los ovários, diminuição da produção de SHBG e na pele leva ao surgimento de acantose nigricans. Além disso, está associada ao surgimento de DM tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e do- ença cardiovascular (DCV). Cerca de 45% das pacientes com SOP possui síndrome metabólica. 4. Quadro Clínico • Amenorreia / Oligomenorreia: consequências do estado de anovulação que não forma corpo lúteo e por isso não produz progesterona. Em algumas pacientes com SOP, a amenorreia pode ser explicada pelos níveis elevados de androgênios. Sangramento uterino anormal: pode ocorrer sangra- mentos uterinos que variam de intensidade e duração e aparecem de maneira imprevisível. Esses sangramentos se devem a estimulação do endométrio pelos estrogê- nios, sem contraposição da progesterona, levando a sur- gimento de um endométrio espesso e instável, resultando em sangramentos. • Acne: deve ao bloqueio da abertura folicular por hiper- ceratose, produção excessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e inflamação por ação androgênica. Alopecia: ocorre devido a ação da 5-alfa-redutase no fo- lículo piloso, gerando queda do cabelo. Hirsutismo: manifestação mais comum do hiperandro- genismo, definido como a presença de pelos mais escu- ros e ásperos em padrão de distribuição tipicamente masculino. A testosterona e principalmente a DTH são os responsáveis por engrossar e enegrecer os pelos de áreas sensíveis a androgênios. • Resistência insulínica: um dos marcadores da resistên- cia insulínica é o aparecimento de acantose nigricans que é a consequência do estímulo insulínico no desenvolvi- mento de queratinocitos e fibroblastos da pele, levando ao espessamento e escurecimento em áreas de flexão da pele, principalmente nas axilas e na nuca. DM2 / Intolerância a glicose: apresentam risco elevado de desenvolvimento devido a disfunção das células beta pancreáticas presentes nessa patologia. • possui alta prevalência na SOP e se caracte- riza por níveis elevados de lipoproteína de baixa densidade (LDL), triglicerídeos e colesterol, além níveis reduzidos de lipo- proteína de alta densidade (HDL). • cerca de metade das pacientes com SOP são obesas, ou seja, tem IMC maior que 30. O padrão típico é an- drógeno, com aumento da relação cintura/quadril. Esse as- pecto contribui para o desenvolvimento de dislipidemia e au- mento o risco cardiovascular em mulheres com SOP. • alta prevalência em mulheres com SOP e está relacionada com obesidade central, resistência insulínica e alterações metabólicas e hormonais presentes na SOP. • mulheres com SOP tem três ve- zes mais chance de desenvolver neoplasias endometriais de- vido ao quadro de anovulação crônica, associada a estimula- ção estrogênica sem oposição progestágena. • devido ao processo de alteração do eixo hi- potálamo-hipófise-ovariano, ocorre anovulação, visto que o desenvolvimento folicular não é completado. Dessa forma, a SOP é responsável por cerca de 80% dos casos de infertilidade anovulatória. 2 Última atualização: 06/08/2021 • possui risco aumentado de ocorrer em pacientes com SOP, sobretudo no final da idade reprodu- tiva. 5. Diagnóstico Há vários critérios que podem ser usados para o diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos. O mais utilizado é o critério de Rotterdam, em que devem estar presentes 2 dos 3 critérios pro- postos para o diagnóstico: → Alterações dos ciclos menstruais (oligo-amenorreia); → Hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial; → Morfologia ovariana policística à ultrassonografia (USG). Além disso, é obrigatório que outras doenças que causam hi- perandrogenismo devem ser excluídas. De acordo com os critérios de Rotterdam é possível o diagnóstico de SOP em mulheres com ciclos regulares e ovulatórios, desde que tenha hirsutismo e ová- rios policísticos a USG. Outro ponto é de que com esses critérios, é possível haver pacientes com SOP sem os sinais de hiperandroge- nismo, que caracteriza a doença. ! Novos consensos recomendam que para o diagnóstico de SOP, as adolescentes devem estar presentes os três critérios citados no consenso de Rotterdam. Em exames complementares: LH e FSH: normalmente virá com a relação aumentada, (> 2); BHCG: exclusão de gravidez em pacientes com amnorreia; Avaliação hormonal: testosterona, androstenediona e SDHEA que podem estar normais ou levemente aumentados; SGBG: estará reduzida devido a redução da sua síntese no fígado por ação dos andrógenos circulantes. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DE HIPERANDROGENISMO INVESTIGAÇÃO (DOSAGEM) Disfunçõestireoidianas TSH e/ou T4 livre Hiperprolactinemia Prolactina Tumor ovariano produtor de an- drogênio Testosterona total ou livre Tumor adrenal Deidroepiandrosterona sulfatada (DHEA-S) Hiperplasia adrenal congênita 17-alfa-hidroxiprogeste- rona (17OHP) Insuficiência ovariana primária FSH 6. Tratamento O tratamento dos sintomas da SOP varia de acordo com as queixas de cada paciente individualmente. Além disso, o trata- mento precoce da SOP reduz a morbimortalidade por doenças cardiovasculares. – TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO – Uma das queixas frequentes entre as pacientes com SOP é o sobrepeso e obesidade, por isso recomenda modificações do estilo de vida, com cessação do tabagismo e do uso abusivo de álcool, prática de atividade física regular e alimentação saudável. A perda de peso está associada a melhora da obesidade, dislipide- mia, hipertensão, doença hepática gordurosa não alcoólica, ap- neia do sono, regulação endócrina, hiperglicemia e efeitos positi- vos na normalização dos ciclos menstruais. Evidências apontam que a perda de peso melhora os índices de ovulação, contribuindo para redução da infertilidade. Além disso, está relacionada a re- dução de abortamentos e doenças gestacionais, tanto fetais, quanto maternas. – TRATAMENTO FARMACOLÓGICO – Tem como objetivo reduzir as queixas mais comuns das paci- entes com SOP: • recomendado o uso prefe- rencial de anticoncepcionais hormonais combinados (AHC) no tratamento de mulheres que não desejam gestar. Além de promover a regularização dos ciclos menstruais e anticon- cepção, também estão ligados a redução dos níveis de andro- gênios circulantes e promove antagonismo endometrial com a progesterona. Os AHC diminuem o hirsutismo e mais da metade das pacientes e reduz a proliferação endometrial Mulheres que possuem contraindicação ao uso de AHC, podem fazer uso de progestágenos isolados para regulariza- ção do ciclo, porém esse medicamento não previne a gravidez e o não melhora o hirsutismo, além de está ligado a efeitos colaterais como cefaleia e ganho de peso. ! Alguns estudos apontam que a metformina além da melhora no perfil metabólico, está associada a redução da secreção de androgênios, melhorando assim o ciclo menstrual. Pode ser usado no tratamento de segunda linha para melhorar ir- regularidades menstruais. • utiliza os antiandrogêni- cos, associado a AHC. A medicação de escolha é o acetato de ciproterona. Entretanto, estão associados ao ganho de peso e redução da libido. Medicações antiandrogênicas como espironolactona e finasterida, inibidor da enzima 5-alfa-redutase, também po- dem ser utilizadas no tratamento do hirsutismo, mas pos- suem alguns efeitos colaterais, sendo mais usadas quando há contraindicação ou não resposta às demais medicações. • a metformina é opção adju- vante para mulheres que não alcançam o controle metabólico somente com mudanças no estilo de vida. Associada à redu- ção da resistência insulínica, obesidade e melhora do perfil li- pídico, além de reduzir a gliconeogênese hepática e melhorar as taxas de ovulação. • pacientes que desejam gestar podem utilizar medicações que induzem a ovulação sendo a droga de pri- meira escolha o citrato de clomifeno. Na intolerância a essa droga, pode utilizar ainda gonadotrofinas. Deve ficar atento aos efeitos colaterais como a síndrome do hiperestímulo ova- riano. ! A fertilização in vitro (FIV) também tem altas taxas de su- cesso em pacientes com SOP que desejam engravidar. – TRATAMENTO CIRÚRGICO – • opção para pacientes que tiveram insucesso no controle do peso com medidas de mudanças do estilo de vida associada a medidas farmacológicas, sobretudo com obesidade grave. Essa cirurgia, independente da técnica empregada, está relacionada à redução ponderal, regulariza- ção hormonal e metabólicos, além de melhoria no hirsutismo, irregularidade menstrual e fertilidade.
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