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Comportamento Parental Alcock Comportamento animal - uma abordagem evolutiva

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12 
A Evolução do 
Cuidado Parental 
mbora a maioria de nós possa pensar que ambos os pais 
devem contribuir para o cuidado dos filhotes, na grande 
maioria das espécies animais nem a mãe nem o pai fazem 
algo por sua prole, enquanto em outras apenas um dos 
pais- seja a fêmea ou, mais raramente, o macho -toma to-
tal responsabilidade por sua progênie. Essa diversidade no 
comportamento parental tem sido mencionada nos capítu-
los anteriores, nos quais mencionamos o cuidado biparen-
ta! oferecido pelo araganaz-do-campo, o cuidado estrita-
mente maternal provido pela maioria dos outros mamíferos 
e a abordagem apenas paternal do maçarico-pintado e do 
falaropo-de-bico-grosso. Variedade desse tipo, como os 
leitores já devem saber, sempre interessa a biólogos evo-
lucionistas. 
A chave para explicar a diversidade no cuidado parental 
reside na abordagem de custo-benefício usada pelos ecó-
logos comportamentais. Os benefícios do cuidado parental 
são óbvios, tendo relação com o aumento da sobrevivên-
cia da prole assistida. Mas os custos de ser um pai dedi-
cado também devem ser considerados se alguém quiser 
lidar com as importantes questões evolutivas que cercam o 
comportamento parental. Já vimos o quanto é importante 
pensar sobre os custos em aptidão se quisermos explicar 
porque apenas algumas gaivotas intimidam predadores 
que estejam caçando seus filhotes (ver Capí-
tulo 6). Então começaremos este capítulo com 
outro olhar tanto nos custos quanto nos bene-
fícios de ajudar a prole a sobreviver. • 
422 John Alcock 
{A) P11isminimizamriscos 
S(;. paraelesmesmos 
Pais minimizam/ ~°'1-e 
riscos para a prole 
Tipo de minimização do risco 
(B) Predadordeninho 
(C) Predadordeadulto 
·~~'b l~ 2 =z 1 
R: 
Antes da Depois da 
apresentação apresentação 
do "predador" do "predador" 
I • Avesnorte-americanasl . • Avessul-americanas . 
FIGURA 12.1 Cuidado p11rental é 
o produto evolutivo dos custos• 
beneffcios sob.-. a aptidio. (A) As 
reações das aves pais à ameaça de 
predadores deles mesmos e de sua 
prole devem variar em relação à taxa 
de mortalidade anual dos adultos, 
que difere entre aves da América do 
Sul e do Norte. Aves norte-america-
nas com vida mais curta devem se 
esforçar mais para reduzir os riscos à 
sua prole; aves sul-americanas com 
vida mais longa devem se esforçar 
mais para promover sua própria 
sobrevivência. (8) A ta11a na qual os 
pais alimentam seus filhotes caí mais 
drasticamente em aves norte-ame-
ricanas do que em aves sul-america-
nas em resposta ao risco aparente 
de predação dos ninhos por gralhas, 
que podem achar os ninhos olhando 
aonde vão os pais. (C) A taxa na qual 
os pais alimentam seus filhotes cai 
mais rapidamente em aves da Amé-
rica do Sul do que em aves da Amé-
rica do Norte depois que os adultos 
veem um gavião capaz de matá-los. 
Adaptada de Ghalambor e Martin.™ 
A análise de custo e benefício do cuidado parental 
Em muitas espécies de aves, pais dos dois sexos trabalham de modo incansável para 
trazer alimento para uma ninhada completamente indefesa na segurança relativa de 
um ninho escondido. Sem o alimento oferecido pelos pais, as aves filhotes rapida-
mente morreriam; mas há riscos incidindo sobre as viagens em busca de alimento 
dos pais, pois predadores podem usar essas idas e vindas para encontrar o ninho e 
se alimentar de seus ocupantes; alternativamente, predadores podem ficar de tocaia 
próximo aos ninhos para interceptar os pais quando estiverem retomando com ali-
mento para sua prole. De que modo aves com cuidado parental equilibram os custos 
e benefícios de suas atividades? 
Cameron Ghalambor e Tom Martin previram que pais de aves deveriam ajustar 
seu comportamento provedor adaptativamente de acordo com dois fatores essenciais: 
a natureza do predador (se ele consome filhotes ou adultos) e a taxa de mortalidade 
anual para os adultos reprodutivos.™ Em aves com baixa taxa de mortalidade dos 
adultos, os pais devem minimizar os riscos de serem mortos por um predador, por-
que provavelmente terão muitas outras chances de se reproduzir no futuro se um 
predador não os capturar agora. Em aves reprodutivas com alta taxa de mortalidade 
anual, porém, os pais devem estar menos preocupados com a própria segurança e ser 
mais sensíveis aos riscos que seus filhotes podem enfrentar predadores de ninhos; es-
ses pais terão relativamente menos chances de se reproduzir no futuro, então ganham 
se dedicando mais à ninhada atual. 
Ghalambor e Martin sabiam que aves que se acasalam na América do Norte ten-
dem a ter vidas mais curtas e produzir ninhadas mais numerosas do que seus pa-
rentes próximos que se reproduzem na América do Sul. Então eles reuniram cinco 
pares desses parentes, incluindo, por exemplo, dois membros do mesmo gênero, o 
tordo norte-americano, Turdus migratorius, de vida curta, e o sabiá-laranjeira, Thrdus 
rufiventris, de vida longa, comum na Argentina. Quando esses ornitólogos tocaram 
gravações da gralha-de-steller (Cyanocitta stellen) para os tordas americanos e grava-
ções da gralha-picada (Cyanocorax chrysops) para seus parentes argentinos, os tordos 
e sabiás reduziram suas visitas ao ninho por algum tempo de forma a não revelar 
aos predadores onde os ninhos estavam escondidos. Porém, os tordos reduziram sua 
atividade próxima ao ninho muito mais do que os sabiás, presumivelmente porque 
tinham mais a ganhar protegendo sua ninhada atual das gralhas, considerando a pro-
babilidade relativamente baixa de se reproduzir em anos subsequentes. Quando os 
ornitólogos colocaram um gavião empalhado da espécie Accipiter striatus, predadora 
de adultos, próximo a ninhos ativos e tocaram a gravação dos seus chamados, os 
pais das espécies amostradas novamente reduziram por algum tempo suas visitas aos 
ninhos. Nessa rodada de testes, porém, os sabiás argentinos de vida potencialmente 
longa retardaram o retomo ao ninho por mais tempo do que as espécies correspon· 
dentes do Arizona (Figura 12.1).™ Esse caso é apenas um entre tantos nos quais as 
estratégias parentais de aves norte-americanas parecem diferir das espécies sul-ame-
ricanas, provavelmente devido às diferenças na pressão depredação sobre adultos ni-
dificantes nas duas regiões.90 Os custos de cuidar da prole, não apenas os benefícios, 
têm ajustado a evolução do comportamento parental. 
Por que há mais cuidado das mães do que dos pais? 
Embora em muitas espécies de aves, incluindo tordas e sabiás, tanto pais quanto 
mães ajudem sua progênie a sobreviver, no reino animal como um todo as fêmeas 
têm maior probabilidade de serem maternais do que os machos de serem patemais-
Portanto, por e11emplo, em algumas espécies de soldadinhos (Homoptera, Membra-
cidae), as fêmeas desses insetos (mas nunca os machos) montam guarda sobre~ 
ovos dia e noite para protegê-los contra predadores ou insetos parasitas que destnU· 
riam seus ovos. Em alguns casos, as fêmeas até permanecem para proteger suas nin-
fas até que se tomem adultos. Chung-Ping Lin e seus colaboradores exploraramª 
• Guardam os ovos 
Q Não guardam os ovos 
"---· Ochropepla sp. 
,_ ______ Ochropepla inaequa/is 
'-------· A/chisme ---------0 Bo/bonota 
---------· Tritropidia 
'----------· Erechtia 
Ü Enchenopa ignidorsum 
Ü Enchophyllum 
Membracis 
'-'-------Íl Kronides 
..._ _______ , J Campylenchia 
~-------'• Aconophora 
'----t• .. E.,. _______ ,. Guayaqui/aclade 1 
f ... r"'"-------,· Guayaqui/aclade 1 
"K-------1· Philya 
---------1Q Calloconophora 
~--'-'~-------1Q Hypsoprora 
-----------0 Cladonota 
Notocera 
Comportamento Animal 423 
FIGURA 12.2 O cuidado parental é 
oferecido pelas fimeas de Membra· 
dnae. Os gêneros que exibem cuida-
do maternal foram colocados em uma 
filogenia molecular desta subfamília. 
Os círculos na base das linhagens 
representam espécies ancestrais; a 
proporção do azul em cada círculo re-
flete a probabilidade de que as fêmeas 
destas espécies ancestrais cuidassem 
de ovos. Os números marcam as três 
prováveis origens do cuidado mater-nal. A fotografia mostra uma fêmea do 
gênero Guayaquila montando guarda 
sobre um conjunto de ovos cobertos 
pela secreção aplicada pela fêmea. 
Adaptada de Lin, Danforth e Wood;~ 
fotografia de Chung-Ping Lin. 
história evolutiva do cuidado parental de guarda de ovos mapeando a característica 
em uma filogenia da subfamília Membracinae que derivou de comparações molecu-
lares entre os gêneros desse grupo."'"' Seu trabalho indicou que enquanto o cuidado 
maternal provavelmente surgiu em três ocasiões diferentes nesse grupo (Figura 12.2), 
o cuidado paternal nunca evoluiu nesses insetos. 
Para discussão 
12.1 Com base na Figura 12.2, quantas vezes o cuidado maternal foi perdido depois de 
ter evoluído em Membracinae? Se você quisesse empregar o método comparativo para 
e_xa':"inar a função evoluída do cuidado maternal nesse grupo, que gênero seria de espe-
cial interesse para você e por quê? 
424 John Alcock 
(B) 
FIGURA 12.3 Cuidado paternal em peixes• oportunidades para poliginia. (A) Um ma-
cho de Opistognathus retém em sua boca os ovos de sua parceira. A guarda oral limita o 
macho a uma desova por vez. (B) Em contraste, um esgana-gato macho cuidando de um ni-
nho com desova pode atrair fêmeas adicionais, que colocam seus ovos no ninho. Este macho 
está ventilando os ovos neste ninho, na base da planta aquática, impulsionando água através 
do ninho. 
Certos soldadinhos, portanto, oferecem um exemplo claro da regra geral que o 
cuidado maternal evolui com mais rapidez do que o cuidado paternal. Uma explica-
ção intuitivamente atraente para a dominação das fêmeas no cuidado parental toma 
a seguinte forma: como as fêmeas (ao contrário dos machos) já investiram tanta ener-
gia na produção de óvulos, elas têm um incentivo especial para assegurar-se que o 
grande investimento inicial sobre o gamela não seja desperdiçado. Portanto, as fê-
meas continuam a prover cuidado parental após os ovos terem sido produzidos e 
fecundados. Essa hipótese sucumbe, porém, quando observamos que as fêmeas de 
um número substancial de espécies, incluindo maçaricos-pintados e muitos peixes, 
abruptamente terminam o investimento parental após depositar seus grandes e caros 
ovos, deixando totalmente ao encargo de seus parceiros (Figura 12.3). Essas espécies 
mostram que um investimento inicial considerável sobre a prole não toma automa-
ticamente vantajoso para as fêmeas investir ainda mais em suas ninhadas. Em vez 
disso, tanto os benefícios quanto os custos de cada incremento no cuidado maternal 
irá determinar se um investimento é adaptativo. 
Esse cuidado maternal custa à provedora algo que pode ser ilustrado examinan· 
do os efeitos do cuidado com a prole sobre a fêmea da lacrainha, Fmficula auricu/aria. 
que frequentemente permanece com os ovos depositados em uma cavidade, aguar-
dando a eclosão, de forma a alimentar suas larvas por algum tempo (Figura 12.4) 
(para ver um vídeo sobre esse comportamento, com narração exageradamente amá-
vel, mas excelente fotografia, ir em http://www.nationalinsectweek.co.uk/small-
talk.php#stti.tle). Fêmeas que fornecem esse cuidado ajudam as pequenas lacrainhas 
a sobreviver, benefício óbvio de seu comportamento mas que também tem um preço, 
pois, para as fêmeas maternais, o intervalo entre posturas é uma semana mais longo 
do que para fêmeas que não permanecem por perto para ajudar o grupo de filhotes a 
começar melhor a vida . .,,1 Se os custos de prover uma unidade adicional de cuidado 
exceder os benefícios em aptidão ganhos com esse ato, as fêmeas que não realizarem 
o investimento adicional deixariam mais descendentes, em média, do que fêmeas que 
oferecessem o cuidado extra. 
Como não há garantias de que as fêmeas sempre obtenham benefício líquido de 
uma dose extra de cuidado parental, devemos encontrar uma explicação para o pa· 
drão geral do cuidado parental oferecido pela fêmea que não enfoque simplesmente 
o tamanho dos gametas. David Queller sugeriu wna solução {ver também página 336) 
salientando que se os custos do cuidado parental fossem em geral mais baixos para 
as fêmeas do que para os machos, como bem poderiam ser, então isto poderia ser 
um fator de peso para que fêmeas provessem cuidado com mais frequência do que 
machos.1184 Assumiremos em favor da simplicidade, que uma unidade padrão de cui-
dado parental investida em uma prole atual reduza o ganho reprodutivo futuro de 
um macho e de uma fêmea na mes~ quantidade. Também assumiremos que esta-
mos olhando para uma espécie na qual as fêmeas algumas vezes acasalam com mais 
de um macho por estação reprodutiva. Nesse caso, o benefício médio para o macho 
cuidar de uma prole será reduzido no sentido de que alguns de "seus" filhotes sejam 
de fato prole de outro macho. Por exemplo, se sua paternidade for em média de 80%, 
então para cada cinco filhotes cuidados, o investimento do macho pode render na 
melhor das hipóteses apenas quatro filhotes, enquanto todos os cinco filhotes melho-
rarão o sucesso reprodutivo da fêmea. Em outras palavras, quando machos patemais 
enganados desperdiçam um pouco do seu custoso cuidado parental com filhotes não 
aparentados, eles se tomam menos capazes do que suas parceiras de experimentar 
uma taxa de custo-benefício favorável em cuidar da prole. 
Não apenas os benefícios do cuidado paternal são provavelmente menores do 
que os benefícios de um montante comparável de cuidado maternal, mas também 
os custos do cuidado parental são provavelmente maiores para os machos que para 
as fêmeas. Como observamos enquanto discutíamos a teoria da seleção sexual no 
Capítulo 10, machos que adquirem muitas parceiras em geral deixam muitos descen-
dentes. Esses machos bem-sucedidos pagariam um preço alto se tivessem que dividir 
seus esforços de conquistar novas parceiras para cuidar de alguns de seus filhotes. 
Imagine um lek de acasalamento de galo-lira (Lyrurus tetrix) no qual os melhores ma-
chos fecundassem a maioria dos ovos das aproximadamente 20 fêmeas que vêm ao 
lek acasalar. Como a presença regular no lek é um dos principais fatores relacionados 
ao sucesso reprodutivo do macho, um galo com chance razoável de tomar-se macho 
alfa perderia muitos filhotes potenciais se tirasse tempo das exibições para incubar 
urna ninhada.1114 A mesma regra provavelmente se aplica a machos sexualmente atra-
entes de muitas outras espécies. 
Comportamento Animal 425 
FIGURA 12.4 Uma fimea 
maternal de tesourinha guarda 
seus ovos, que protege contra 
predadores. Na natureza, dife-
rente do laboratório, a maioria 
das fêmeas oviposita no folhiço 
ou em illlgum outro abrigo. Foto· 
grafia de Mathias Kõlliker. 
426 John Alcock 
Para discussão 
12.2 Aqui está outra forma de encarar o efeito das diferenças entre machos e fêmeas 
no que tange à probabilidade de que sua suposta prole seja verdadeiramente sua prole 
genética. Se uma fêmea deposita um ovo fecundado ou dá à luz um bebê, esse filhote 
definitivamente terá 50% de seus genes. Em contrapartida, um macho que acasale com 
essa fêmea pode ou não ser o pai daquela prole. Então, o argumento segue, machos 
têm menos a ganhar com o cuidado parental, e isso desequilibra a equação em favor de 
machos não patemais que procurem parceiras múltiplas em vez de se limitar a cuidar da 
prole de uma de suas poucas parceiras. Mas vamos conferir a lógica desse argumento 
imaginando uma espécie hipotética na qual os machos tenham uma probabilidade bas-
tante baixa de serem pais da prole de qualquer parceira - digamos, uma chance de 40% 
Além disso, imagine que há dois fenótipos herdáveis de machos diferentes na população, 
um tipo paternal e um tipo não paternal. O tipo paternal acasala em média com duas 
fêmeas (cada uma com média de dez ovos), enquanto o macho não paternal em média 
acasala com cinco fêmeas (o que lhe permite fecundar em tomo de 50 óvulos). Além 
disso, digamos que machos patemais aumentem a chance de sobrevivência dos filhotes 
sob seus cuidados em 50% contra 10% da prole desprotegida dos machos não parentais 
Oue comportamentoé adaptativo aqui? Demonstre seus cálculos. A que conclusão esse 
exemplo leva sobre a evolução do cuidado parental do macho? 
12.3 Entre certos macacos com cuidado parental prolongado, as fêmeas vivem mais 
tempo do que os machos em espécies nas quais as fêmeas fornecem a maior parte ou 
todo o cuidado, mas machos vivem mais do que fêmeas em espécies nas quais os ma-
chos dão a principal contribuição ao cuidado da prole.21 Em outras palavras, adultos do 
sexo parental tendem a viver mais do que o sexo não parental. Essa descoberta indica 
que o cuidado parental traz um beneficio em aptidão para os cuidadores sob a forma 
de maior sobrevivência? Imagine que alguém alegue que a maior eitpectativa de vida 
do sexo parental tem sido selecionada porque filhotes de primatas demoram muito a se 
desenvolver, e, portanto, os pais devem viver por tempo suficiente para levar a prole até a 
idade da independência de forma a manter uma população estável. Você concorda? Você 
tem uma explicação alternativa para o padrão observado? 
Exceções à regra 
A regra geral de que machos não são parentais tem muitas exceções. O cuidado pa-
rental oferecido apenas pelo macho é na verdade comum entre os peixes (ver Figura 
12.3), embora peixes machos produzam grandes quantidades de espermatozoides, 
como a maioria dos outros animais machos. Como alguns peixes machos potencial-
mente teriam muito mais filhotes do que a fêmea mais fecunda de suas espécies, eles 
à primeira vista têm muito a perder subtraindo tempo e energia do esforço reproduti-
vo para serem bons pais. Após inúmeras reflexões, porém, podemos perceber que não 
precisa haver uma compensação entre o cuidado parental e a atratividade do macho 
em sistemas de acasalamento nos quais a escolha da fêmea envolve o cuidado dos 
machos aos ovos. Esgana-gatos fêmeas são atraídas por machos cuidando de ovos, 
que demonstram seu compromisso com a paternidade. Além disso, quanto mais ovos 
no ninho de um macho, mais seguros eles vão estar, graças ao efeito de diluição (ver 
capítulo6). 1217 
De fato, esgana-gatos machos podem cuidar de até dez desovas durante as apro-
ximadamente duas semanas que elas levam para eclodir. Em contraste, uma fêmea 
de esgana-gato pode produzir em média apenas sete desovas durante esse período, 
mesmo que não gaste tempo guardando os ovos. 251 Realizar cuidado parental seria 
bem menos vantajoso para as fêmeas de esgana-gato do que para os machos, já que 
uma fêmea cuidaria de apenas uma desova por vez. Além disso, enquanto a fêmea 
estivesse envolvida nessa tarefa, não seria capaz de forragear livremente e, portanto, 
não cresceria com tanta rapidez quanto se não o fizesse. Essa perda em crescimento 
seria especialmente danosa naquelas espécies cuja fecundidade das fêmeas aumenta 
em proporção exponencial ao aumento do tamanho do corpo. Nesse caso, para cada 
unidade de crescimento perdida com o cuidado parental, a fêmea pode pagar um 
preço particularmente alto em perda de produção futura de óvulos. Machos parentais 
também crescem mais lentamente do que cresceriam se não cuidassem dos filhotes, 
mas já que eles precisam permanecer em um território de qualquer jeito se quiserem 
atrair parceiras, a redução no crescimento resultante exclusivamente do cuidado pa-
rental é mínima. 
Para discussão 
12.4' Machos do besouro da espécie Phyllomorpha laciniata algumas vezes são es-
colhidos pelas fêmeas para receber seus ovos, que ficam grudados nas costas dos ma-
chos. Duas hipóteses possíveis foram propostas para a propensão do macho em acei-
tar esse fardo: (1) machos carregam ovos para atrair fêmeas férteis, que então podem 
copular com eles, ou (2) machos carregam ovos (de suas parceiras) para reduzir o risco 
da prole ser afetada por parasitas. Considerando essas alternativas, que significado 
você daria às seguintes descobertas: (a) machos de uma área com numerosos parasitas 
de ovos são muito mais propensos a carregar ovos do que machos de regiões com pa-
rasitas essencialmente ausentes; (b) ovos colocados sobre plantas, uma alternativa para 
fêmeas ovadas, têm dez vezes mais probabilidade de serem destruídos por parasitas 
do que ovos depositados sobre machos; e (c) quando as ~êmeas puderam escolher 
entre acasalar-se com um macho portando ovos e um macho sem ovos, elas não pre-
feriram aqueles que carregavam ovos significativamente mais do que aqueles que não 
carregavam.~ 
Os custos do comportamento parental tanto para machos quanto para fêmeas 
têm sido diretamente mensurados para um peixe cidídeo que carrega os ovos na 
boca, a tilápia Sarotherodon galilaeus, espécie na qual tanto o macho quanto a fêmea 
podem cuidar dos filhotes incubando os ovos fecundados oralmente. Os dois sexos 
perdem peso enquanto incubam os ovos na boca, já que se toma difícil alimentar-se 
com a boca cheia de ovos ou larvas de peixe. Além do mais, o intervalo entre desovas 
aumenta para peixes parentais de ambos os sexos comparados com indivíduos cujas 
desovas foram experimentalmente rembvidas (Figura 12.5). Porém, fêmeas parentais 
esperam 11 dias extras entre as desovas quando comparadas a fêmeas não parentais, 
enquanto machos incubando pagam wn preço menor - apenas sete dias extras entre 
as desovas comparados com machos não parentais. Além disso, fêmeas parentais pro-
duzem menos filhotes do que fêmeas não parentais em sua próxima desova, enquan-
to machos parentais são tão capazes de fecundar desovas completas quanto machos 
(A) (B) 
30 30 .. 
'.§. 
:;.; 
20 20 .. 
~~ 
_Q. 
n 10 10 E! 
Fêmeas Fêmeas 
Til~pia Sarotherodon ga/i/aeus parentais não parentais 
F~URA 12.5 O cuidado parantal cultll is fimeas d• tiWpla Slrodl•rodon galilaeus, 
mais do que aos machos. (A) Fêmeas que cuidaram da desova são muito mais lentas para 
~:~~:i:~:~~r~{=)b:a~~~~:.º~~:a~·~~:~ºPC::!::~~~~e~sã~:~o;:~: ~~;~c~a do 
que machos não parentais, mas a diferença entre os dois grupos é menor que para as fême-
as. Adaptada de Balshine-Eam.70 
Comportamento Animal 427 
parentais nãoparentais 
428 John Alcock 
FIGURA 12.6 Baratas d'água 
machos oferecem cuidado uni-
parental. Um macho de belos-
tomatídeo carrega ovos colados 
sobre suas costas por sua parcei-
ra. Fotografia de Bob Smith. 
não parentais. Apesar de ambos os sexos pagarem um preço pelo comportamento 
parental, os custos de cuidar da prole para as fêmeas são maiores em termos de fe-
cundidade reduzida. 70 Portanto, em peixes, o comportamento paternal pode evoluir 
porque os machos perdem menos em realizar cuidado do que as fêmeas, o que gera 
uma taxa de custo-benefício mais favorável para o cuidado paternal do que para 0 
cuidado maternal à prole.588 
Por que os machos de baratas d'água realizam todo o trabalho? 
Embora o cuidado exclusivamente paternal dos filhotes seja comum entre os peixes, 
essa característica é muito rara entre outros animais, vertebrados e invertebrados da 
mesma fonna.:zw.im Entre insetos excepcionalmente patemais estão as baratas d'água 
do género Lethocerus, que guardam e umedecem as posturas que as fêmeas grudam 
sobre os caules de vegetação aquáticas acima da linha d'água (ver Figura 1.17).1354 Ma-
chos em alguns outros géneros de baratas d'água (p.ex., Abedus e Belostoma) permitem 
que suas parceiras desovem diretamente sobre suas costas (Figura 12.6), após u que 
os machos assumem responsabilidade sobre seu bem-estar. Um macho de Abedus in· 
cubando gasta horas pousado próximo à superfície da água, balançando o corpo para 
cima e para baixo para manter a água bem oxigenada fluindo sobre os ovos. Ovos ex-
perimentahnente separados do macho cuidador não se desenvolvem, demonstrando 
que o cuidado parental do macho é essencial para a sobrevivência da prole nesse caso. 
Bob Smith explorou a história e o valor adaptativo desses raros comportamentos 
patemais. 1l55 Já que o parente mais próximo dos Belostomatidae, a fam.Oia que con-
tém essas baratas d'água patemais, são os Nepidae, família de insetos sem cuidado 
parental do macho, podemos ter certeza que as espécies cuidadorasevoluíram de 
ancestrais não parentais (Figura 12.7). Se a choca de ovos fora da água e a choca de 
ovos sobre as costas evoluíram independentemente a partir desse ancestral, ou se um 
precedeu o outro, não se sabe, embora evidências sugiram que a choca fora da água 
tenha surgido primeiro. Notavelmente, quando Lathocerus fêmeas não encontram ve-
getação exposta adequada para seus ovos, elas, algumas vezes, depositam seus ovos 
nas costas de outros indivíduos, machos ou fêmeas. Esse comportamento raro indica 
como a transição de chocas fora da água para chocas sobre as costas pode ter evo-
luído. Fêmeas com a tendência de fazer a postura sobre as costas de seus parceiros 
Belostomatidae 
• Chocam ovos nas costas 
Q Chocam os ovos (fora da âgua) Nepoidea 
1 
poderiam ter se reproduzido em lagoas temporárias assim como em poças onde a 
vegetação aquática emergente era escassa ou ausente. 
Mas por que os ovos de baratas d'água requerem cuidado parental? Um grande 
número de insetos aquáticos depositam o\'os que se saem perfeitamente bem sem cui-
dadores de nenhum dos sexos. Contudo, Smith comenta que os ovos dos belostomatí-
deos são muito maiores do que ovos de insetos aquáticos padrão, com exigência pro-
porcionalmente maior de oxigénio necessário para sustentar as altas taxas metabólicas 
subjacentes ao desenvolvimento embrionário. Mas a relação superfície-volume relati-
vamente baixa de um ovo aquático leva à deficiência de oxi~nio dentro do ovo. Como 
o oxigênio se difunde pelo ar muito mais facilmente do que pela água, fazer a postura 
dos ovos fora da água pode resolver esse problema. Mas essa solução cria outro proble-
ma: o risco de dessecação que os ovos enfrentam quando estão no alto e secos. A solu-
ção, o cuidado por machos que repetidamente umedecem os ovos, preparou o cenário 
para a transição evolutiva para o transporte dos ovos nas costas na interface ar-água. 
As coisas não seriam mais simples se os belostomatídeos simplesmente deposi-
tassem ovos pequenos com alta relação superfície-volume? Para explicar por que al-
~as baratas d'água produzem ovos tão grandes que precisam ser cuidados, Smith 
indica que baratas d'água estão entre os maiores insetos do mundo, vantagem quando 
se trata de capturar e subjugar presas grandes, como peixes, sapos e girinos. Baratas 
d'água, assim como todos os outros insetos, só aumentam de tamanho durante sua 
fase imatura, e, após a muda final para a vida adulta, nenhum crescimento adicional 
ocorre. A medida que um inseto imaturo muda de um estágio para outro, ele adquire 
~a cutícula nova e flexível que pennite uma expansão de tamanho, mas nenhum 
~to imaturo cresce mais do que 50 ou 60% por muda. Uma forma de um inseto atin-
gir grandes tamanhos, portanto, seria aumentar o número de mudas antes de fazer a 
transição final para adulto. Porém, nenhum membro da família Belostomatidae sofre 
lflais de seis mudas; essa observação sugere que esses insetos estão restritos a uma 
sequência de cinco ou seis mudas, assim como os maçaricos-pintados evidentemente 
flâo conseguem colocar mais de quatro ovos por postura. Se uma barata d'água tem 
Comportamento Animal 429 
FIGURA 12.7 Evoluçio do cui· 
dado à prole pelos machos em 
Nepoidea, o grupo que inclui as 
baratas d'água belostomatídeas. 
A ilustraçio, desenhada em es-
cala, apresenta as espécies mais 
representativas de cada grupo. 
O cuidado parental está am-
plamente distribuído na família 
Belostomatidae, mas nenhuma 
espécie da família Nepidae exibe 
esta característica. Adaptada de 
Smith.13ss 
430 John Alcock 
apenas cinco ou seis mudas para crescer o suficiente para matar um sapo, então 0 
primeiro instar (as ninfas que eclodem do ovo) já deve ser grande, porque ela s6 terá 
cerca de cinco expansões de 50% para crescer. Portanto, o desenvolvimento da barata 
d'água é um exemplo do" principio do panda" (ver página 308), no qual modificações 
evolutivas do tamanho do corpo têm que ser sobrepostas às características já evoluídas 
nessa linhagem. Para que as ninfas de primeiro instar sejam grandes, o ovo precisa ser 
grande, e, para que ovos grandes se desenvolvam rapidamente, eles têm que ter acesso 
a oxigênio, e é aí que o cuidado do macho entra em cena. O cuidado do macho é um 
desenvolvimento evolutivo auxiliar cujo fundamento ~ide na seleção de um tama-
nho de corpo que permita ao inseto caphuar presas relativamente grandes.1355 
Seria de se imaginar, porém, que baratas d'água fêmeas pudessem oferecer cui-
dado para os próprios ovos após depositá-los sobre vegetação aquática exposta. Por 
que então são os machos que realizam o cuidado e nunca as fêmeas? Aqui a situação 
se assemelha bastante à história do peixe; primeiro, baratas d'água machos com uma 
postura algumas vezes atraem uma segunda fêmea, talvez porque esse macho com 
uma carga parcial de ovos esteja alardeando com eficiência sua capacidade para o 
cuidado parental, exatamente como nos esgana-gatos;1m segundo, da mesma forma 
como acontece para alguns peixes, os custos do cuidado parental podem ser despro-
porcionalmente maiores para as fêmeas em termos de perda da fecundidade. Para 
produzir grandes poshuas de ovos grandes, belostomatideos fêmeas requerem muito 
mais presas do que seus machos. Como o cuidado parental limita a mobilidade e, 
portanto, o acesso à presa, o cuidado parental provavelmente tem maio~ custos em 
aptidão para as fêmeas do que para os machos, inclinando a seleção em favor do cui-
dado parental do macho. 
Cuidado parental diferencial 
Não importa qual dos pais ofereça o cuidado, um adaptacionista não esperaria que 
um pai ou os pais fornecessem assistência livremente a filhotes que não fossem seus 
próprios. Mas animais parentais conseguem identificar sempre sua progênie gené-
tica? Considere o morcego molossfdeo mexicano (Tadarida brasiliensis) que pode mi-
grar para certas cavernas no sudoeste da América do Norte, onde fêmeas grávidas 
formam colónias de milhões de indivíduos. Após dar à luz um único filhote, uma 
mãe morcego deixa sua prole pendurada no teto da caverna em uma creche que pode 
conter quatro mil filhotes por metro quadrado (Figura 12.8). Quando a fêmea retoma 
para cuidar de seu filhote, ela voa para o ponto no qual viu seu filhote pela última 
vez e é prontamente assediada por uma horda de filhotes de morcegos famintos.961 
Devido aos aglomerados de filhotes, os primeiros observado~ aaed.itavam que as 
mães eram incapazes de identificar sua prole e em vez disso tinha que oferecer leite 
para quem chegasse primeiro. 
Mas as mães desses morcegos molossídeos realmente cuidam indiscriminadamen-
te? Para descobrir isso, Gary McCracken capturou mo~os fêmeas e seus filhotes que 
mamavam. nelas e tirou amostras de sangue de ambos. 1Ele então analisou as amos--
tras usando eletroforese de gel de amido, técrrica que paj.e ser usa.da para determinar 
se dois indivíduos têm a mesma forma variante de uma enzima, e, portanto, o mesmo 
alelo do gene que codifica essa enzima. Se as fêmeas de morcego são provedoras de 
cuidado indiscriminado, então as formas variantes das enzimas das fêmeas e dos fi-
lhotes que elas alimentam deveriam ser frequentemente diferentes. Mas se as fêmeas 
tendem a cuidar apenas de sua prole, então as fêmeas e os filhotes deveriam compar-
tilhar os mesmos al~os. McCracken conçentrou--se no gene para superóxido dismuta-
se, enzima representada por seis diferentes formas na população que ele amostrou. A 
despeito das condições caóticas dentro da colónia de morcegos, os dados enzimáticos 
indicaram que as fêmeas encontravam os próprios filhotes pelo menos 80% das vezes. 
Estudos observacionais diretos mais recentes indicaram que as fêmeas provavelmente 
se saem melho~ do que isso, quase sempre reconhecendo os próprios filhotes par 
meio de sinais vocais e olfativos."'·9'2 Portanto, está claro que morcegos molossídeos 
mães dedicam seu cuidado parental principalmente a seus próprios filhotes. 
Para discussão 
12.5 McCracken descobriu que apesar das fêmeas de morcegogeralmente alimenta-
rem seus próprios filhotes, elas ocasionalmente cometem "erros,• que elas poderiam ter 
evitado deixando o filhote em um ponto sozinho em vez de numa creche com centenas 
de outros filhotes.''" Isso significa que o comportamento parental dessa espécie não é 
adaptativo? Use a abordagem de custo-benefício para desenvolver hipóteses alternativas 
que respondam por esses "erros.• 
12.6 Em alguns casos, machos ou fêmeas cuidam de filhotes que não os seus próprios, 
como quando peixes machos tomam e protegem massas de ovos que estavam sendo pro-
tegidas por outros machos ou quando patos fêmeas adquirem filhotes recém-eclodidos 
do ninho de outro indivíduo (Figura 12.9)! Delineie hipóteses alternativas para explicar 
esses fenômenos. Sob que circunstâncias adoções poderiam aumentar o sucesso repro-
dutivo do provedor de cuidado? Sob que outras circunstâncias poderiam os pais adotivos 
serem forçados a ajudar filhotes não genéticos em troca de alcançar algum outro objetivo? 
Comportamento Animal 431 
FIGURA 12.8 Morcegos mo-
lossid90S mHic:11nos, reconhe-
cem HUS filhotes, apesar das 
mães os deixarem em densas 
massas de filhotes de morcego 
quando saem da caverna para 
forragear. Quando a fêmea retor-
na para amamentar seu filhote, 
ela consegue localizá-lo entre 
milhares de outros indivíduos. 
Fotografia de Gary McCracken. 
Se a habilidade de reconhecer a prole genética for 
vantajosa de modo a evitar o risco de direcionar cui-
dado parental de forma errada, então podemos esperar 
uma convergência evolutiva do reconhecimento entre 
pais e filhotes em mamíferos coloniais além do morce-
go molossideo. Testes dessa previsão têm sido positivos 
em espécies tão diferentes quanto Octodon thgus, roedor 
chileno roliço c::jas fêmeas criam os filhotes juntas em 
tocas coletivas, e o lobo-marinho subantártico, Arcto-
cqihalus tropicalis, cujas fêmeas dão à luz em praias in-
sulares lotadas. Lobos-marinhos fêmeas permanecem 
com os filhotes por cerca de uma semana antes de saí-
rem para o oceano em viagens para pescar por até três 
semanas. Experimentos com gravações demonstraram 
que um lobo-marinho filhote leva não mais de cinco 
dias para reconhecer a voz da mãe, enquanto as mães 
também aprendem rapidamente. Quando a lobo-mari-
nho mãe retoma à praia, ela emite um chamado, e seu 
filhote emite outro de volta, levando à rewtião deles em 
menos de 15 minutos, via de regra. 256 
FIGURA 12.9 Adoção por p.ta (ginero Suce~ha/11) Es~ mã.e guia 
um grupo de patinhos marcados, alguns dos quais for~m 1dent1ficados 
pelas suas marcas como oriundos de ninhadas produzidas por outras 
fêmeas. Fotografia de Bruce Lyon. 
Andorinha-de-dorso-acanelado Andorinha-d.s-chaminés 
FIGURA. 12.10 Dlscemlblllcbde do e11nto f•dl;ta o 
reconhecimento d• prole pelos pais. Os filhotes de 
andorinha-do-dorso-acanelado, Petrochelidon pyrrho-
nota, espécie colonial comum em penhascos, produzem 
cantos altamente estruturados e distintivos, auxiliando 
seus pais a reconhecê-los individualmente. Os cantos 
dos filhotes da andorinha-das-chaminés Hirundo rustica, 
espécia menos colonial, são muito menos estruturados 
e mais similares. A frequência de canto de ambas ases-
pécies situa-se entra 1 a 6 kHz; a duração dos cantos va-
ria de 0,7 a 1,3 s para a andorinha-do-dorso-acanelado 
e de 0,4 a 0,8 s para a andorinha-das-chaminés. Adapta-
da de Medvin, Stoddard e Beecher.911 
Ainda outro teste comparativo sobre a hipó-
tese de que o reconhecimento da prole serve para 
prevenir cuidado parental maldiredonado se apro-
veita da variação entre andorinhas no risco de rea-
lizar erros na oferta de cuidados. Apesar de tanto a 
andorinha-do-barranco, Riparia riparia, e a andori· 
nha Stelgidopteryx ruficollis, nidificarem em bancos 
de argila, a andorinha-do-barranco é colonial, en· 
quanto a andorinha Stelgidopteryx nidifica sozinha. 
Filhotes em idade de voar da andorinha-do-bar· 
ranco colonial produzem vocalizações altamente 
distintivas, dando aos pais a pista potencial para 
fazer escolhas sobre que indivíduos alimentar, 
permitindo-lhes distinguir entre suas próprias ni· 
nhadas e outros filhotes que às vezes vão parar em ninhos errados pedindo por ali-
mento.Andorinhas-do-barranco raramente cometem erros apesar da alta densidade 
de ninhos na colõnia.ll'T.19 A solitária andorinha Stelgidopteryx, por outro lado, nwlCa 
tem a chance na natureza de alimentar outros filhotes e, portanto, não se esperaria 
que tenha desenvolvido mecanismos sofisticados de reconhecimento da prole, pais, 
de fato, os seus filhotes produzem cantos muito mais similares do que aqueles de 
andorinhas-do-barranco, reflexo do fato de ~e andorinhas Stelgidopteryx jovens não 
precisam comwtlcar sua identidade aos pais. 
Duas outras espécies de andorinhas, a altamente social andorinha-de-dor-
so-acanelado, Petrochelidon pyrrhonota, e a menos social andorinha-das-chaminés, 
Hirundo rustica, também deveriam diferir nos atributos de reconhecimento de seus 
filhotes. Como esperado, os filhotes de andorinha-de-dorso-acanelado produzem 
chamados contendo cerca de 16 vezes mais variação que os chamados correspon-
dentes dos filhotes da andorinha-das-chaminés (Figura 12.10).m Portanto, deveria 
ser mais fácil para as andorinhas-de-dorso-acanelado reconhecerem seus filhotes 
do que para as andorinhas-das-chaminés. Em experimento de condicionamento 
operante que requeria que adultos de ambas as espécies diferenciassem entre pa-
res de chamados dos filhotes, as andorinhas-de-dorso-acanelado atingiram 85% 
de acertos significantemente mais rápido do que as andorinhas-das-chaminés. Es-
ses resultados sugerem que o sistema perceptivo acústico das andorinhas-de-dor-
so-acanelado, assim como seus cantos, evoluiu para promover precisão no reco-
nhecimento da prole,881 assim como ocorreu para os lobos-marinhos. 
Para discussão 
12.7 O macho territorial do sargo-de-orelha-azul, Lepomis macrochirus, defende os 
ovos e larvas em seu ninho contra peixes predadores como o achigã, Micropterus sal-
moides (ver Figura 13.7). A Figura 12.11 mostra o quanto é intensa a defesa dos machos 
pelos seus ninhos em um experimento em que alguns peixes territoriais foram expostos 
a potenciais parasitas de ninho durante a estação reprodutiva. Bryan Neff colocou ma-
chos sorrateiros (ver Figura 10.27) em recipientes plásticos prfo;imos aos ninhos de seus 
sujeitos experimentais para oferecer as pistas associadas a um alto risco de parasitismo 
de ninho; ele mediu a defesa da desova pelo macho quantificando com que intensidade 
esses pais ameaçavam um predador de seus ovos e larvas, a perca-sol Lepomis gibbosus, 
que Neff colocou próximo ao ninho num saco plástico transparente.103! Como você inter-
pretaria os resultados apresentados na Figura 12.11? O que há de surpreendente neles? 
Ajudaria saber que machos de sargo-de-orelha-azul podem aparentemente avaliar a pa-
ternidade das larvas, mas não dos ovos, por pistas olfativas que elas oferecem? 
12.8 Quando um babuíno macho intervém em disputas entre dois juvenis, ele tende a 
tomar partido de sua prole genética (Figura 12.12). Como os pesquisadores podem ter 
segurança sobre essa informação? 
Por que adotar desconhecidos genéticos? 
Os casos descritos até agora sustentain a previsão de que os pais deveriam reconhecer 
seus próprios filhotes e descartar outros quando a probabilidade de ser explorado 
pelos filhotes de alguém for alta. Mesmo assim, algumas gaivotas coloniais que fazem 
ninhos no chão adotam filhotes não aparentados. Apesar dos pesquisadores inicial-
mente terem relatado que os adultos consistentemente rejeitaram filhotes mais velhos 
(B) 
1 0,8 
' .§. 0,4 
a 
g o 
J 
Comportamento Animal 433 
Sargo-de-orelha-aiul 
~::l.tl • :l. BO 
~ a 60 
40 
Ovos Larvas Ovos Larvas 
Controle Experimento 
FIGURA 12.11 Reações dos 
sargos-de-orelha-.11zul, Lepomis 
m•crochirus, a potenciais preda-
dores de ovos e larvas sob duas 
condições. Machos experimentais 
foram expostos a recipientes conten-
do machos menores destaespécie, 
imitando a presença de rivais que 
poderiam ter fecundado alguns de 
seus ovos no ninho do defensor; 
machos-controle não foram sujeitos 
a este tratamento. O "cuidado pa-
rental" foi quantificado usando uma 
fórmula baseada no número de exi-
bições e mordidas dirigidas a sacos 
plásticos contendo uma ~erca preda-
dora. Adaptada de Neff. 032 
-0,4 
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 
Pais observadores 
FIGURA 12.12 Machos de babuínos intervêm em favor de sua 
prole quando babuínos jovens começam a lutar uns com os ou-
tros. (A) O macho adulto abriga seu filhote protegendo-o contra ou-
tro jovem agressivo. (8) Dos 15 pais cujo comportamento foi m.onito-
rado, 12 tenderam mais a ajudar seus próprios filhotes do que iovens 
não aparentados. A, fotografia de Joan Silk; B, segundo Buchan e 
colaboradores.202 
Gaivota-de-bico-riscado (larus delawarensis) 
e seu filhote 
180 
170 
160 
- Sobreviveu até sair do ninho 
- Filhotesquedeixaramos 
ninhos em que nasceram 
- Mortos ou desaparecidos 
1 2 3 4 s 6 7 8 9 10 11 12 
Idade do filhote (dias) 
FIGURA 12.13 Por que procurar pais adotivos? Filhotes de gilivota que abandonaram 
seus ninhos natais em busca de pais adotivos pesavam muito menos que a média dos filho-
tes da sua idade que sobreviveram após o 1i- dia. Porém, estes filhotes adotivos potenciais 
algumas vezes foram adotados por não parentes, e, como resultado, pesaram em média 
mais no 11º dia do que os ninhegos indefesos que eventualmente morriam ou desapareciam. 
Adaptada de Brown.197 
e que já se locomoviam experimentalmente transferidos entre ninhos,983 os ataques 
dos adultos sobre esses jovens transferidos aparentemente ocorreram devido ao com-
portamento apavorado dos filhotes deslocados.5611 Quando jovens voluntariamente 
deixam seus ninhos - o que às vezes fazem caso sejam pouco alimentados por seus 
pais (Figura 12.13) - eles não tentam fugir de pais adotivos potenciais, mas ao con-
trário imploram por alimento e se abaixam em submissão quando ameaçados. Esses 
jovens têm boa chance de serem adotados, mesmo na idade tardia de 35 ciias,'71 e, se 
forem aceitas, eles têm mais chances de sobreviver do que se tivessem permanecido 
com seus pais genéticos que falhavam em lhes fornecer alimento suficiente.197 
A adoção de estranhos se qualifica ÇOillD um quebra-cabeça Darwiniano, porque 
aqui temos pais aparentemente incapazes de agir no melhor interesse de seus genes. 
Como sempre, a resolução do paradoxo requer radodnio sobre os custos e não ape-
nas os benefícios da característica em questão, p o reconhecimento da prole apren-
dido acarreta tanto custos como benefícios, como o n.:o de incorrer em erro ao não 
alimentar ou até atacar e matar um de seus filhotes. Em vez de errar por ferir sua 
prole genética, as gaivotas desenvolveram a tendência a alimentar qualquer filhote no 
ninho que peça alimento confiantemente quando um adulto se aproxima.1136 Algumas 
vezes essa regra permite que um estranho genético roube comida de um conjunto 
de pais adotivos ao dormir dentro de um ninho com outros filhotes de sua idade e 
tamanho. 7113 Quando as adoções ocorrem, os pais adotivos perdem cerca de 0,5 ~e 
seus próprios filhotes em média; porém, a adoção é rara, com menos de 10% dos pais 
recebendo estranhos por ano. 191 O custo modesto em aptidão anual dessa regra que 
resulta em adoções ocasionais tem que ser considerado em comparação com a possí-
vel rejeição de um de seus próprios filhotes genéticos se as gaivotas pais fossem mais 
relutantes em alimentar filhotes em seus ninhos. 
O argumento aqui é que mesmo uma regra comportamental prática imperfeita 
pode ser seletivamente vantajosa se o mecanismo proximal responsável pela regra 
tiver uma relação de custo-benefício mais favorável do que mecanismos psicológicos 
alternativos que resultariam em regras de decisão diferentes. Essa hipótese foi usada 
para explicar porque os machos do pássaro Sialia mexicana adotam filhotes sob cer-
tas circunstâncias. Quando Janis Dickinson e Wes Weathers removeram alguns ma-
chos nidificantes, a maioria das fêmeas experimentalmente enviuvadas rapidamente 
atraiu parceiros substitutos, a maioria dos quais alimentou os filhotes das fêmeas às 
quais se uniram, mesmo que pelo menos alguns dos filhotes tivessem sido gerados 
pelo macho original.'°1 A observação de que os pais substitutos eram aqueles que en-
contravam as fêmeas enquanto ela ainda depositava ovos (e, portanto, sexualmente 
receptiva e potencialmente fértil) sugere que madlos desse pássaro têm um mecanis-
mo proximal de tomada de decisão "tudo ou nada" para regular sua oferta de cuida-
do parental. Se o macho se juntar a uma fêmea dwante sua fase fértil, ele exibe cuida-
do parental completo; se ele se une a ela após seu período fértil ter terminado, então 
a regra é "nenhum cuidado". Da mesma forma, no pássaro Sericornis frontal is, espécie 
poliândrica com machos alia e beta, a ~a para o subordinado é ser parental apenas 
quando ele tiver copulado com a fêmea. 1 1 Se pássaros machos pudessem fazer testes 
de DNA em seus supostos filhos, então poderiam distinguir perfeitamente entre sua 
progênie genética e aquela de outros machos. Como essa temologia obviamente está 
fora do alcance deles, a seleção natural pode favorecer regras comportamentais de to-
madas de decisão melhores do que as alternativas possíveis, mesmo que essas regras 
nem sempre produzam a resposta "perfeita".1161 
Para discussão 
12.9 Parasitismo de ninhada interespecífico é muito raro em aves, com apenas cerca 
de 1% do total das espécies praticando b comportamento.im Faça uma previsão sobre 
que grupos de aves, aqueles com filhotes precociais ou com filhotes altriciais, teriam 
maior probabilidade de evoluir e se tomar parasitas de ninhadas especializados. (Em 
espécies altriciais, os ovos são pequenos em relação ao peso do corpo da mãe, mas os 
recém-eclodidos são, no início, completamente dependentes do alimento fornecido para 
eles pelos pais. Em espécies precociais, os ovos são relativamente grandes, mas os jovens 
podem se locomover e alimentar por conta própria logo depois de eclodir.) Compare 
suas previsões com as de Lyon.llQr, 
A história do parasitismo de ninhada interespecífico 
Mas como chopins, cucos e similares se especializaram em parasitar outras espécies 
de aves? No caso dos cucos, uma reconstrução filogenética com base em dados mo-
leculares indica que o parasitismo especializado surgiu três vezes dwante a história 
evolutiva desse grupo (Figura 12.14). 44 Levandoem conta essa filogenia e a raridade 
geral das espécies especialistas em parasitar ninhos, Oliver Krüger e Nick Davies cria-
ram a hipótese de que o ancestral dos cucos parasitas atuais era uma ave "padrão" 
tujos adultos cuidavam dos próprios filhotes. Aproveitando-se das informações deta-
lhadas sobre a história natural de muitas das 136 espécies de cucos em todo o mundo, 
dos quais 83 não são parasitas e 53 dão um jeito de conseguir que outras aves criem 
sens filhotes, Krüger e Davies conseguiram demonstrar que o estado ancestral era re-
Ptesentado não apenas pelo cuidado parental, mas também pela ocupação de peque-
nas áreas de vida e a ausência de migração. O próximo estágio da evolução envolveu 
espécies que forneciam cuidado parental para sua prole, mas possuíam áreas de vida 
relativamente grandes e a tendência a migrar. Linhagens desse tipo deram origem aos 
Comportamento Animal 435 
436 John Alcock 
Cacomant1s Rabelliformis 
ChtySococcyx osculans 
Cercococcyx montanus 
Cuculus po/iocephalus 
Cuculuscanorus 
Sumicu/us lugubris 
'---- Cuculuspallidus 
modernos parasitas de ninhada, que também têm gran. 
des áreas de vida e são em geral migratórias.813 Parasitas 
de ninhada preswnivelmente ganham ao deslocar-se por 
grandes distâncias em busca de hospedeiros apropriados 
ao longo de uma extensa área de vida; essa prontidão em 
se deslocar enquanto busca fontes efêmeras de hospedei-
ros pode ter levado à evolução de tendências migratórias 
nesse grupo.Mas o que dizer sobre a transição entre com-
portamento parental e parasitismo de ninhada especiali-
zado? Essa mudança poderia ter ocorrido por fases, com 
uma fase intermediária quando os parasitas almejavam 
adultos da própria espécie, com a mudança para membros 
de uma ou mais espécies ocorrendo mais tarde. Alternati-
vamente, o parasitismo interespecífico especializado pode 
ter surgido de forma abrupta com a exploração dos adul-
tos de outra espécie desde o início. O primeiro cenário 
gradualista leva à previsão de que as fêmeas de algumas 
das aves de hoje deveriam pôr seus ovos nos ninhos da 
própria espécie, e, de fato, parasitismo desse tipo tem sido 
documentado em cerca de 200 espécies e pode ocorrer em 
muitas outras também.361 
Clamator glandarius 
Clamator jacobinus 
Phaenicophaeus superciliosus 
Phaenicophaeus CUIVirostris 
Coccyzus eiythrophthalmus 
Piayacayana 
Piayacayana 
Coccyzus americanus 
~----L ~:::~:;:aasulcirostris 
L--------1L ~::;,::a::phasianellus 
~-------- Caprimulguslongirostris 
FIGURA 12.14 Parasitismo de ninhada especializado em cucos 
evoluiu tris vezes, baseado numa filogenia desta família de aves, 
que contém tanto parasitas de ninhada quanto espécies parentais 
e nidificadoras padrão. Os ramos azuis indicam as linhagens cujos 
descendentes modernos são parasitas especializados. Os ramos 
vermelhos simbolizam duas espécies parasitas ocasionais. Adapta-
da de Aragón e colaboradores.""' 
Uma possível pista de um estágio primitivo na evo-
lução do parasitismo de ninhada intraespectfico vem do 
estudo dos patos-arolinos, Aix sponsa. Nessa espécie, ni-
nhos apropriados em ocos de árvores são escassos, e como 
resultado, duas fêmeas às vezes colocam seus ovos antes 
que uma das patas expulse a outra. A "vencedora" então 
cuida dos ovos da outra junto com seus próprios, fazen-
:!: 1~~;~:a;;r:~::1~tm;;l~o~: 
fariam se tivessem permanecido no ninho, então a seleção 
poderia favorecer variantes que voluntariamente depositassem e abandonassem seus 
ovos no ninho de outras - comportamento bastante comum em outra espécie de pato 
que nidifica em ocos, o patCHia-islândia, Bucephala islandica.423 
Outro parasita de prole ocasional é o galeirão-americano Fulica americana, ave 
aquática comum, cujas fêmeas "flutuantes" sem ninhos ou territórios próprios co-
locam ovos nos ninhos de outras fêmeas de galeirão, aparentemente no esforço de 
tirar o melhor proveito de uma situação ruim, já que elas não podem cuidar de seus 
próprios ovos sozinhas. Porém, algumas fêmeas totalmente territoriais com ninhos 
próprios também colocam regularmente ovos adicionais nos ninhos de vizinhas des-
prevenidas. Já que existe um limite para quantos ovos e jovens uma fêmea pode criar 
com seu parceiro, mesmo uma fêmea territorial pode aumentar um pouco sua aptidão 
se aproveitando sub-repticiamente do cuidado parental de outro casal."'°' A natureza 
exploradora desse comportamento é revelada pela descoberta de que fêmeas mais 
velhas e maiores selecionam outras mais novas e menores para receber seus ovos, pre-
sumivelmente porque esse tipo de hospedeira não pode evitar que uma fêmea grande 
tenha acesso ao seu ninho.906 Esse tipo de pressão aparentemente delineou a evolução 
do comportamento de galeirões, a julgar pelo fato de que fêmeas parasitadas tendem 
a enterrar os ovos das outras ou a manter seus próprios ovos na melhor posição no 
centro do ninho.907 
A hipótese da mudança gradual para evolução do parasitismo entre espécies car-
rega consigo a previsão de que, quando parasitas intraespecífi.cos começaram a ex· 
piorar outras espécies de hospedeiros, eles deveriam ter selecionado outras espécies 
aparentadas com necessidades similares de ninho e alimento. Atualmente, a maioria 
das espécies de parasitas de ninhada aproveita-se de f!Spécies não aparentadas a elaS, 
mas talvez a maioria dos parasitas de ninhada esteja evoluindo há milhões de anos 
Comportamento Animal 437 
Ancestral 
FIGURA 12.15 Evoluçlo do par11sitismo 
de nlnhMbi entre os choplns. A filogenia 
representa as rel•ções evolutivas entre os 
chopins segundo uma análise molecular. 
Acima da filogenia, os números representam 
as espécies hospedeiras parasitad.s por 
cada espécie vivente de chapim. (0 "grupo 
e)(l:emo" é uma espécie de chopim que não 
realiza parasitismo de ninhada.) O padrão 
sugere que originalmente chopins parasitas 
de ninhada vitimio:avam apenas uma única es· 
pécie muito aparentada de hospedeiro, com 
parasitismo de ninhada generalizando cada 
vez mais na evolução subsequente. Adaptada 
de Lanyon ... 1 
desde o smgimento de seu comportamento parasítico interespecffico. Portanto, para 
checar essa previsão, precisamos encontrar parasitas de ninhada que tenham origem 
relativamente recente. Os chopins, aves comuns nas Américas pertencentes ao gênero 
Molothrus, estão entre essas espkies parasíticas que se originaram há "apenas" três a 
quatro milhões de anos, enquanto os cucos parasitas evoluíram cerca de 60 milhões 
de anos antes.361 A espécie atual de chapim que se acredita ser mais aparentada ao 
parasita de ninhada ancestral de fato parasita uma única espécie hospedeira que per-
tence ao mesmo gênero que ela; a próxima espécie mais aparentada parasita outras 
aves da própria fam.Oia (Figura 12.15).M.1 Esses dados, se forem apropriadamente in-
terpretados, oferecem suporte à hipótese de mudança gradual. 
Da mesma forma, as viúvas da f4lllfila Viduidae parasitam 
pássaros pertencentes à família Estrildidae. As duas famílias são 
proximamente aparentadas (Figura 12.16), e talvez por isso am-
bos, parasitas e hospedeiros, compartilhem um número grande 
de fatores importantes, especialmente ovos brancos e brilhantes 
e um comportamento de pedido incomum dos ninhegos, no qual 
os filhotes ficam quase de cabeça para baixo e se balançam de um 
lado para o outro, em vez de esticar a cabeça para cima como a 
maioria das outras espécies de pássaros. Assumindo que a viúva 
parasita ancestral também possuía esses atributos, a exploração 
sensorial (ver Capítulo 9) poderia responder pelo sucesso obtido 
pela prole do parasita original após a eclosão no ninho de um 
estrildídeo hospedeiro.1312 Mas outra hipótese contrária é- que o 
A AS A--" 
jovem da espécie hospedeira rapidamente evoluiu para se en-
quadrar ao comportamento do parasita, cuja tática de pedido de 
alimento nova e altamente eficiente colocou os filhotes dos hos-
f:!~ em desvantagem até que tivessem adotado sinais simi-
Por outro lado, a grande maioria dos parasitas de ninhadas 
viventes se aproveita de espécies não aparentadas muito menores 
do que elas mesmas, l:Ml descoberta que poderia ser explicada se 
OS parasitas ancestrais tivessem sofrido uma mudança abrupta do 
CUid21do parental normal para a exploração de uma ou mais es-
pécies menores não aparentadas. Essa mudança poderia ter dado 
certo com maior probabilidade, posto que, como já percebido, fi-
Bic:o-de-lacre Pardal inglês 
Viduidae Estrildidae Ploceidae y 
F1GURA 12.16 Viúvas parasitam espécies aparenta-
das. Viúvas (da família Viduidae) parasitam ninhos de pás-
saros da família Estrildidae (grupo irmão de Viduidae). Ma-
chos adultos de viúvas, como o macho de Vidua macroura 
mostrado aqui, não se parecem com seus hospedeiros, 
mas fêmeas adultas desta espécie e seus filhotes se pa· 
recem com fêmeas e filhotes de bico-de-lacre (Estrilda 
astri/CÍ), estrildídeo parasitado por viúvas. 
438 John Alcock 
- I .-
Chapim-real Chapim-azul 
~ 100 
~ 
.& ao 
~ 
f 60 .• 
_g 40 
-~ 
~ 20 
• ~ O ~C~h.~pim~-u~o-VC-h•-·-m·~~-V-Chapim-real/ Chapim-•ul/ 
chapim-azul chapim-real ch.Pm-azul chapim-ru i 
Filhotes/pais hospedeiros 
FIGURA 12.17 O taimanho de um filhote de "parasita de ninhada" experimental em re-
lação a sua espécie hospedeira determina a chance de sua sobrevivência. Ninhegos grandes 
de chapim-real (Parus major) sobreviveram bem quando transferidos para ninhos dos d1a-
pins-azuis, Cyanistes caeruleus, menores, enquanto chapins-azuis se saíram mal nos ninhosde chapins-reais. Adaptada de Slagsvold. '34J 
lhotes de parasitas de ninhada que se tomam maiores do que a prole de seus hospe-
deiros tem maior probabilidade de se alimentar, outra forma de exploração sensorial 
que funciona em favor do parasita. 
A importância da disparidade de tamanho entre hospedeiro e parasita tem sido 
demonstrada criando parasitas de ninhada experimentais. Quando Tore Slagsvold co-
locou ovos de chapim-azul, Cyanistes caouleus, em ninhos de chapim-real, Parus major, 
os filhotes de chapim-azul experimentalmente parasfticos, menores do que os de cha-
pim-real, se saíram muito mal. No experimento reciproco, porém, a maioria dos filhotes 
de chapim-real cuidados pelos pais de chapins-azuis sobreviveram até saírem do ninho 
(Figura 12.17).1343 Essa descoberta sugere que a menos que mutantes originais de parasi-
tas de ninhada interespecíficos casualmente depositassem seus ovos em ninhos de espé-
cies menores, a probabilidade de sucesso (do ponto de vista do parasita) não era grande. 
Yoram Yom-Tov e Eli Geffen têm aplicado o método comparativo para determi-
nar qual cenário histórico para a evolução do parasitismo obrigatório em aves é mais 
provável - o caminho indireto e gradual, com um estágio parasítico intraespeclfico in-
termediário, ou o caminho direto em que o cuidado parental padrão foi rapidamente 
substituído pelo parasitismo obrigatório (Figura 12.18). Sua análise indica que, para 
um grande grupo de espécies de aves altriciais (aquelas cujos filhotes são indefesos 
ao eclodirem), era muito mais provável que a espécie ancestral dos parasitas atuais 
fosse uma ave que não realizava parasitismo intraespecífico, mas em vez disso se 
aproveitava de membros de uma espécie completamente diferente (ver Figura 4.7).1&JO 
Então, os proponentes de ambos os cenários evolutivos para o parasitismo de prole 
interespectfico têm pelo menos alguma evidência que os sustente para indicar, o que 
deixa o resto de nós no limbo. 
Para discussão 
12.10 Quando chapins-reais (Parus major) são criados experimentalmente nos ninhos de 
chapins-azuis (Cyanistes caeruleus) eles sobrevivem bem, como mencionado. Mas muitos 
desses parasitas de prole experimentais não se associavam a membros de sua própria 
espécie quando se tomavam adultos, e frequentemente não conseguiam se acasalar com 
chapins-reais (ver Figura 3.6). O sucesso reprodutivo desses indivíduos era consequen-
temente baixo. 1344 Explique esses resultados em termos de mecanismos proximais de 
estampagem (ver Capitulo 3) e discuta os efeitos positivos e negativos que esse processo 
ontogenético poderia ter sobre a evolução do parasitismo de ninhada interespecífico. 
.---- Elminia longicaudata 
~------1 Terpsiphoneviridis 
Ancestrais 
não parasitas 
Eurocephalus anguitimens 
Laniussenator 
Corvinella corvina 
r---c: ~~~~::;;u~=~us 
Camaroptera brevicaudata 
Cisticolafulvicapilla 
Hypergerus atriceps 
Locustella ochotensis 
Pycnonotus barbatus 
Parisoma subcaeruleum 
~-------- Stumusvulgaris r----- Anomalopsiza imberis 
Vrdua chalyb.ata 
Vrdua hypocherina 
Vidua paradisaea 
Vidua macroura 
Estrildaastrild 
Hypargos niveoguttatus 
Ortygospiza atricollis 
Spermestes cucullatus 
Lagonosticta sanguinodorsalis 
Amandava subflava 
-----,.....__ Chloebia goldiae 
Sporopipes fronta/is 
Ploceusocularis 
Eup/ectes macrourus 
Que/ea quelea 
._--te :~:;::;:~~:~~$ 
Ambly0$spiza abifrons 
Prunella modularis 
Prunella montanella 
Motacillaalba 
Petroniadentata 
Passer domesticus 
Carduelis pinus 
Fringilla coelebs 
Junco hyemalis 
_ Scaphidura oiyzivora 
Molothrus bciiiãfienstS __ _ 
Por que aceitar o ovo de um parasita? 
Qualquer que seja a origem e a história subsequente do parasitismo de prole interes-
pedfico, é inegável que, para um filhote parasita se beneficiar das regras de decisão 
Parental de uma espécie hospedeira, o ovo contendo o parasita precisa eclodir. Por 
que então as espécies hospedeiras não reagem imediatamente contra os ovos de 
parasitas? Algumas aves o fazem, como mencionado anteriormente reconhecendo 
o ovo estranho e o enterrando, ou o removendo do ninho, ou abandonando o ninho 
como um todo, inclusive o ovo do parasita. Contudo, cada uma dessas opções traz 
desvantagens.159'7 Pais de aves que incubam os ovos dependendo do reconhecimen-
to aprendido dos ovos que eles mesmos puseram algumas vezes podem abandonar 
ou deshuir alguns de seus próprios ovos por engano, tratando-os como se fossem 
Comportamento Animal 439 
FIGURA 12.18 Atriillnsiçio 
par• o parasitismo obrig.tório 
foi prov•velmente abrupta 
na maioria dos grupos de 
aves. Aqui uma filogenia de um 
grande grupo de aves mostra 
que 0$ dois grandes grupos de 
parasitas obrigatórios {aqueles 
que exclusivamente colocam 
seus ovos nos ninhos de outras 
espécies) tinham ancestrais que 
provavelmente eram comple-
tamente não parasitas (isto é, 
alguns indivíduos não colocavam 
ovos em ninhos de outros mem-
bros de sua espécie). Adaptada 
de Yom-Tov e Geffen.1630 
Mariquita-protonotária 
14 r------
12 
10 
•Feioutroninho 
• Não fez outro ninho 
NUmero de sítios de nidificação potenciais no território de cada fêmea 
FIGURA 12.19 A probabllid•de de um• flmu de marfqulb-protonotáirfa, Protonotaria 
cittwa, nldiflur nov•mente em seu território depende do número de locais de nidificação 
potenciais em seu território. Quando apenas poucas cavidades estiverem presentes, a fêmea 
raramente faz uma segunda tentativa de nidificar no território; se relativamente muitos locais 
estiverem disponíveis, a fêmea geralmente produz outro ninho. Adaptada de Petit. 1121 
ovos de parasitas. De fato, pássaros do gênero, Acrocephalus, algumas vezes acabam 
jogando fora alguns de seus próprios ovos enquanto tentam se livrar de ovos de 
cuco.357 Se o parasitismo de ninhada vitimizar apenas uma pequena minoria da po-
pulação hospedeira, então até mesmo um pequeno risco de custosos erros de reco-
nhecimento pelo hospedeiro pode tornar a aceitação dos ovos do parasita a melhor 
opção.-
A aceitação do ovo do parasita é mais provavelmente adaptativa quando o 
~~sl:1p:' ::rcuu:'0:. 1~Pa~e;:b!:~u~::d:::;~~=~:n~::r~ 
ninhada, seja deixando o ninho ou construindo um novo ninho sobre o antigo, ou 
permanecer e continuar a criar a ninhada junto com o ovo do parasita. A opção do 
abandono impõe duras penas ao hospedeiro, que deve encontrar um novo ponto 
de nidificação, construir um novo ninho e fazer uma nova postura. Os custos dessa 
opção são especialmente altos para espécies que nidificam em ocos porque buracos 
adequados nas árvores são em geral raros. Talvez a disposição da fêmea após reco-
nhecer um ovo de chapim no ninho seja afetada pela quantidade de outros buracos 
adequados existentes em seu território. Embora mariquitas-protonotárias da espé-
cie Protonotaria citrea ~am severamente prejudicadas ao abrigar em seus ninhos 
um filhote de chapim,' fêmeas que não tenham muitas alternativas de cavidades 
em seu território frequentemente toleram um chopim no ninho por falta de locais 
alternativos (Figura 12.19).1121 Da mesma forma que a mariquita-amarela, Dendroica 
petechia, tende a aceitar ovos alheios quando seus ninhos são parasitados perto do 
fim da estação reprodutiva, quando resta pouco tempo para criar uma nova ninha-
da desde o irúcio.1291 
Mesmo que as aves hospedeiras pudessem jogar fora ou cobrir um ovo de pa-
rasita sem o risco do erro, um parasita poderia tornar essa decisão não lucrativa 
retomando ao ninho para destruir ou comer ?5 ovos ou filhotes do hospedeiro caso 
descobrisse que seus }:>róprios haviam sido prejudicados (Figura 12.20). Essa "hipó-
tese da máfia" foi testada examinando as interações entre o corvídeo pega-rabuda, 
Pica pica, e o parasita cuco-rabilongo, C1amator glandllrius. 1366 De fato, ninhos do çer-
vídeo pega-rabuda dos quais ovos de cuco tinham sido jogados para fora sofreraI1l 
significativamente maior taxa de predação do que aqueles que aceitaram ovos de 
cucos (87% contra 12% eai.wna aritostra). Além do mais, quandoos pesquisadores 
removeram o ovo de cuco aparentemente monitorado por um cuco e trocaram taro-
bém os ovos dos hospedeiros por réplicas de massa de modelar, o cuco se aproximou 
do ninho após o pesquisador ter terminado e deixou marcas de bicadas nos falsos 
ovos do hospedeiro. Na natureza, pega-rabudas que perderam suas ninhadas tive-
ram que fazer outro ninho, o que as expôs a todos os efeitos negativos que atrasos na 
reprodução têm em um ambiente sazonal. Em função disso, não é de se surpreender 
que hospedeiros que aceitem os ovos do parasita de fato tenham sucesso reproduti-
vo ligeiramente maior, medido em termos de filhotes que sobrevivem, em relação a 
hospedeiros que jogam fora ovos de cuco.136l 
Chopins Molothrus attr também ~o aves mafiosas, segundo Jeffrey Hoover e 
Scott Robinson em wn estudo com uma de suas vítimas favoritas, a mariquita-pro-
tonotária, ProtonotaritJ citrea. Os ornitólogos trabalharam com uma grande amostra 
de mariquitas que haviam construído ninhos em caixas no alto de paus de sebo -
imunes, portanto, a serpentes e pequenos mamíferos que frequentemente predam 
ovos e filhotes dessa ave. Mas esses ninhos ainda estavam vulneráveis, pelo menos 
inicialmente, a chopins que podiam entrar e depositar um ovo. Ninhos parasitados 
dessa fonna foram divididos em três grupos: (1) os pesquisadores removeram o 
ovo do chopim e deixaram a entrada do ninho como estava - larga o suficiente 
para permitir a entrada do chapim; (2) o ovo do chopim foi deixado no lugar e a 
entrada do ninho não foi modificada; (3) o ovo do chopim foi removido e a entrada 
do ninho foi reduzida para que apenas as mariquitas e não os chopins pudessem 
entrar no ninho. Os resultados nesses grupos foram os seguintes: (1) quando o ovo 
de chapim era removido, o ninho com frequência recebia visitas subsequentes de 
uma ave predadora, quase certamente o chopim cujo ovo havia sido retirado, e os 
ovos da mariquita eram destruídos. (2) Quando o ovo do parasita não era retira-
do pelos experimentadores, os ovos das mariquitas desapareciam com menos fre-
quência, mesmo que os chopins adultos ainda tivessem acesso livre ao ninho nessa 
categoria. (3) Quando os chopins eram impedidos de revisitar os ninhos que eles 
haviam parasitado, a perda de ovos para chopins e outros predadores não ocorria 
(Figura 12.21). Esses resultados sugerem fortemente que fêmeas de chapim com 
frequência retornam ao ninho que parasitaram, de forma a punir qualquer hospe-
deiro ousado o suficiente para se livrar de ovos parasfticos indesejados. 6&0 
A abordagem que usamos até agora foi examinar a proposta de que os custos 
de se recusar a incubar um ovo de parasita, ou de alimentar um filhote parasita 
ComportamentoAnimal 441 
FIGURA 12.20 Remoção de 
ovo por um cuco. Aqui uma 
fêmea de cuco canoro, Cucu-
/us canorus, destrói um ovo de 
rouxinol-pequeno-dos·caniços, 
Acrocephalus sdrpaceus, antes 
de colocar seu próprio ovo no 
ninho. Cucos podem punir aves 
que danifiquem seus ovos des-
truindo todos os ovos do ninho 
de uma vitima não cooperativa. 
Fotografia de lan Wyllie. 
442 Jolin Akock 
FIGURA 12.21 A hipótese da 
máfia conforme testada com cho-
pins, Molothrus at.r, parasitas e 
mariquitas-protonoUirias, Proto-
notaria dtru. (A) No tratamento 
1, um chopim colocou um ovo no 
ninho, que então foi removido pe-
los pesquisarores. Posteriormente, 
os ovos das mariquitas na maioria 
dos ninhos deste tratamento foram 
destruídos, presumivelmente pelo 
chopim desafiado. No tratamento 2, 
todos os ninhos foram parasitados, 
mas o ovo de chopim foi deixildo no 
ninho, que depois disso, na maioria 
dos casos não foi tocado por pre-
dadores. No tratamento 3, o ovo 
de chopim foi removido dos ninhos 
parasitados, que então foram deixa-
dos inacessíveis a chopins; nenhum 
destes ninhos foi atacado após a 
remoção do ovo do parasita. (B) As 
mariquitas produziram mais filhotes 
sob os tratamentos 2 e 3 do que sob 
o tratamento 1. Adaptada de Hoover 
e Robinson.611J 
(A) 
80 
(B) 
Chopim Molothrus ater 
Tratamento 
após a eclosão, poderiam na verdade superar os benefícios da recusa. Outra for-
ma complementar de encarar a interação entre hospedeiro e parasita é aplicar a 
perspectiva da teoria da corrida armamentista. Sempre que houver duas partes em 
conflito uma com outra, elas exercem pressões seletivas recíprocas com uma mu-
dança adaptativa feita por um levando a seguir a uma mudança adaptativa corres-
pondente no outro. Vtmos esse fenômeno na interação entre morcegos produtores 
de ultrassom e mariposas capazes de ouvir ultrassom (ver Capitulo 4), no conflito 
sexual que ocorre entre machos e fêmeas de muitas espécies {ver capítulo 10) e nas 
tentativas dos filhotes de cuco manipularem seus pais adotivos produzindo voca-
lizações que imitam as vocalizações de uma ninhada inteira de rouxinóis-peque-
nos-dos-caniços (ver Figura 9.29).360 
A abordagem da corrida armamentista nos ajuda a dar sentido à interação entre 
~=:e~h!X=:;1!~=~:!:~=~po~':~:=~rie:t:~:~ 
tenham começado a colocar seus próprios ovos, eles quase sempre constroem outro 
sobre o ovo invasor e abandonam o ninho definitivamente se o cuco puser seus ovos 
após os maluros começarem a incubar sua própria ninhada. Portanto, os maluros têm 
defesas contra os cucos. Fêmeas adultas de cuco porém evoluíram uma contrarres-
posta; elas são muito boas em entrar sorrateiramente e colocar o ovo quando o ninho 
do hospedeiro contém apenas uma postura parcial de ovos de malwos, nesses casos, 
o ovo do cuco é quase sempre aceito e incubado com os ovos do hospedeiro. Mas 
quando o filhote de cuco eclode e empurra seus companheiros de ninho para fora e 
para a morte, o maluro abandona o ninho cerca de 40% das vezes, deixando o filhote 
de cuco morrer também. No resto dos casos, porém, as fêmeas de maluro continuam 
cuidando do único ocupante de seus ninhos desperdiçando seu tempo e energia cui· 
dando do algoz de sua prole. 
Se a aceitação parcial dos filhotes de cuco se baseia na habilidade do parasi-
ta em combater as defesas evoluídas de seu hospedeiro, então deveríamos prever 
que esses filhotes devem possuir alguma forma especial de estimular o cuidado 
parental - e possuem. Assim como os filhotes de cuco canoro, eles produzem sons 
de pedido que soam muito parecidos com aqueles produzidos pelos filhotes do 
hospedeiro (Figura 12.22).137 Naomi Langmore e colaboradores acreditam que o rni-
metismo vocal do filhote do cuco Chrysococcyx basa/is é uma resposta evoluída tren· 
te a capacidade discriminatória dos hospedeiros. Em apoio a essa conclusão, eles 
Comportamento Animal 443 
Chrysococcyx basa/is 
15 
10 ,.,,,.. """ 
5 , 
Ma/uruscyaneus 
15 
?10 
"' !"'"' -!:"" ·"""" .~ ! 5 
Chty$ococcyx lucidus 
15 
10 
·*·~:ttf·~-
200 
Tempo (ms) 
400 
FIGURA 12.22 O produto de uma corrida ar-
mamentista evolutiva? Filhotes do cuco, Chryso-
coccyx basa/is, parasita de ninhada especializado 
em maluros, Malurus c.yaneus, mimetizam os cantos 
dos filhotes dos hospedeiros de forma muito seme-
lhante, o que pode ajudá-los a vencer as defesas 
dos pais hospedeiros. Em contraste, os filhotes de 
outra espécie, o cuco, Chrysococcyx lucidus, que 
raramente parasitam maluros, não apenas não se 
parecem com filhotes de seus hospedeiros, como 
também não possuem uma boa imitação dos pedi-
dos dos ninhegos de maluro. Adaptada de lang-
more, Hunt e Kilner.m 
apontam o fato de maluros sempre abandonarem os ninhos parasitados por uma 
espécie, o cuco, Chrysococcy:{ luciflus, ,:ujos filhotes produzem vocalizações muito 
düerentes dos filhotes do hospedeiro. Suspeito que você pode imaginar com qual 
frequência cucos dessa espécie cometem o erro de depositar um ovo no ninho do 
.cnaluro Malurus cyareus. 
Para discussão 
12.11 Ma/uros c.yareus são uma das poucas espécies que abandonam os filhotes de 
parasitas de ninhada. Por que outras espécies vitimizadas não fazem o mesmo? Afinal, 
muitas outras aves exploradas por cucos podem identificar e agir contra ovos parasitas, 
aprendendoas características visuais distintivas de seus próprios ovos e rejeitando aque-
las que não se encaixam. Mas as mesmas espécies extremamente boas em reconhecer os 
ovos em ger;1I falham por completo em reconhecer o filhote de cuco.117 A primeira vista, 
essa falha parece ser mal-adaptativa, mas considere as consequências do reconhecimen-
to dos filhotes aprendido em aves parasitadas com sucesso em seu primeiro ano repro-
dutivo por um único filhote de cuco que tenha dominado totalmente o ninho e eliminado 
444 John Alcock 
todos os jovens do hospedeiro, como é o hábito entre os cucos. Como um adulto hos-
pedeiro deveria responder a seus próprios filhotes nas próximas tentativas reprodutivas? 
(0 que você prevê sobre a resposta dos maluros a seus filhotes após ter criado um cuco 
parasita uma vez?) Como esse caso ilustra a importância da análise de custo-benefício em 
ecologia comportamental, assim como o valor de considerar os mecanismos proximais 
pelos quais os indivíduos atingem objetivos comportamentais? 
12.12 Cerca de 15 a 20%. de todos os ninhegos de cucos parasitas são abandonados 
ou deixados para morrer por seus hospedeiros rouxinóis-pequenos-dos-caniços após 
cerca de duas semanas de cuidado parental adotivo. Tomas Grim suspeitou que rouxi-
nóis-do-caniço tinham evoluído um mecanismo proximal para evitar o cuidado dedicado 
a um parasita: um tempo limite de cuidado parental para uma ninhada. 514 Para testar essa 
ideia, ele realizou experimentos no qual manipulou ninhadas de rouxinol de forma a esten-
der o período de cuidado parental necessário para os filhotes desenvolverem penas. Ele 
transferiu filhotes mais jovens (e mais velhos) entre ninhos criando várias proles experimen-
tais de um ou quatro indivíduos. Como ele esperava que o rouxinol parental responderia a 
cada tipo de prole experimental se a hipótese de tempo limite estivesse correta? Que van-
tagens estâo associadas com um mecanismo que nâo requer que os rouxinóis aprendam 
que tipo de ninhego eles devem cuidar e que tipo eles devem rejeitar? 
A evolução do favoritismo parental 
Mesmo quando os pais investem apenas nos seus próprios filhotes, eles raramente 
distribuem seu cuidado de forma completamente igualitária. Considere que as tá· 
t:icas dos pais da abelha solitária, Osmia rufa, cujas fêmeas nidificam em caules ocos 
e fornecem pólen e néctar para diversos favos de cria, provendo-lhes um após o 
outro. Inicialmente, quando fêmeas adultas estão jovens e em boas condições, elas 
tendem a dar aos primeiros filhotes grandes quantidades de alimento.1JOt Essas pro-
les iniciais são produtos de ovos fecundados e, portanto, se desenvolverão em filhas 
da abelha solitária (ver página 483). Mas à medida que a estação progride e que as 
fêmeas ficam mais velhas, sua condição fisiológica declina, tomando-se mais difícil 
para elas forragearem. A medida que isso ocorre, as fêmeas passam a oferecer muito 
menos comida por favo de cria e ali depositam ovos não fecundados, que se desen-
volvem em filhos que pesam muito menos que suas irmãs (Figura 12.23). Como as 
fêmeas dessa e de outras espécies de abelha são capazes de controlar tanto o sexo 
do ovo quanto a quantidade de alimento provido para o filhote, elas podem investir 
mais em filhas do que em filhos. Dessa forma, mães dão às suas filhas os recursos 
necessários para produzir seus óvulos energeticamente caros e para realizar o tra· 
balho pesado de buscar alimento para a prole delas. Os filhos podem ser menores, 
porque produzem espermatozoides minúsculos e passam o tempo buscando fême-
as recept:ivas, tarefa presumivelmente menos desgastante do que as realizadas pelas 
fêmeas. 
Outros animais podem não ter os mecanismos necessários para controlar o sexo 
da prole com tanta precisão quanto as abelhas, fonnigas e vespas, mas ainda podem 
investir mais em algtIDS filhotes do que em outros. Adultos do besouro-coveiro, Ni· 
crophorus vespilloides, cooperam no comportamento parental enterrando um camun· 
dongo, removendo a pelagem do animal morto e expondo um calombo de carne. A 
fêmea então deposita ovos próximo a esse calombo. Quando as larvas eclodem, elas 
podem se alimentar da carcaça preparada ou receber a carniça regurgitada proces· 
sada por um dos pais. As larvas de besowo podem diferir visivelmente em tama· 
nho, porque algumas eclodem mais cedo do que outras, e, sob essas circunstâncias, 
seus pais dão mais alimento às que eclodiram mais cedo (sênior) do que às que edo--
diram mais tarde (júnior) (Figura 12.24). Considerando que apenas certo número 
de filhotes pode se sustentar da carcaça de um camundongo, os pais podem ganhar 
ajudando aqueles filhotes que mais provavelmente atingirão a idade adulta, em es-
Comportamento Animal 445 
FtGURA 12.23 Ajustes de investimento em filhos •filhas pela (A) abelha 
solitária Osmia rufia. (8) Quando as fêmeas são jovens no início da e!itação re-
produtiva, sua eficiência de suprimento é alta, e (C) nessas condições, a razão 
sexual de su• prole favorece a produção de filhas. Filhos pequenos são pro-
duzidos quando as fêmeas são mais velhas e sua eficiência em preenchimento 
dos favos é baixa. Eficiência de suprimento é medida em termos do aumento 
m&dio na massa da larva por hora de suprimento de alimento ao ninho. A, fo-
tografia de Nicolas Vereecken; B e C, adaptada de Seidelmann.1»4 
(B) (Q 
1,0 
·.~~~-,~.~~~~~~~~~~~~~ 
~ 
ldade(dias) Eficiência de provisionamento (mg/h) 
pecial devido à quantidade absoluta de alimento necessária para atingir a maturi-
dade ser menor para larvas que estão mais adiantadas no caminho da metamorfose 
para se tomarem adultos.13Sa 
Adultos de besouros-coveiros distribuem comida desigualmente para a pro-
le ao alimentar diretamente algumas larvas enquanto recusam outras. Na gar-
ça-branca grande, Ardta alba, os pais realizam uma abordagem de não interferir 
e deixar seus filhotes lutarem pela posse de pequenos peixes trazidos ao ninho e 
jogados na frente deles (Figura 12.25).991 A luta entre filhotes pode se desenrolar 
ao ponto de um ninhego dominante bater em um irmão ou irmã até a morte ou 
atirá-lo para fora do ninho, monopolizando assim o alimento trazido. Você pode se 
perguntar como comportamentos dessa natureza podem aumentar a aptidão dos 
pais quando levam à morte certa de um ou até dois membros de uma ninhada de 
três ou quatro. 
Talvez os pais não ganhem nada com o frahiddio, que pode ter evoluído devido 
à Vantagem adaptativa obtida pelo filhote capaz de se livrar de seus innãos. Imagine 
Utna família com dois filhotes, cada um dos quais acabará produzindo três filhotes 
sobreviventes em média. Agora imagine que se um dos dois eliminar o outro, o fi-
lhote fratricida aumente seu rendimento para cinco filhotes sobreviventes, graças à 
habilidade de se empanturrar com o alimento adicional que seus pais oferecem após 
a morte de seu innão ou innã. Apesar do fratricida perder três sobrinhos, que seu ir-
.. 
30 
446 John Alcock 
FIGURA 12.24 Cuid.do parwntal dHef9nciado 
pelo besouro-coveiro, Nlcrophorus vespilloi-
du. (A) Um besouro adulto inspeciona a prole, 
que vive dentro de uma bola de carniça prepa· 
rada pelos pais para sua ninhada. {B) Quando a 
mãe estiver presente, a larva sénior (mais velha 
e maior) é mais alimentada e cresce mais do que 
quando a mãe estiver ausente. Este efeito não se 
aplica âs larvas júnior (mais novas e menores). A, 
fotografia de C.F. Rick Williams; B, adaptada de 
Smiseth, Lennox e Moore. 1341 
FIGURA 12.25 Agrftlio entr. 
filhotes na garça-branca-grande, 
Ardea alba. Dois filhotes lutam inin-
terruptamente em uma batalha que 
pode resultar na morte de um deles. 
A garça adulta boceja enquanto a 
luta continua. Fotografia de Dou-
glas Mock, para Mock, Drummond e 
Stinson."3 
(B) 
250 
- Mãe presente, filhote júnior 
- Mãe ausente, filhote júnior 
24 4B 72 96 120 144 
Idade da prole (h) 
mão teria produzido se não fosse sua morte premahlra, esse custo genético é mais do 
que compensado, do ponto de vista individual do fratricida,

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