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Autora: Profa. Cintia Domingues de Freitas Colaboradoras: Profa. Roberta Pasqualucci Ronca Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Cinesioterapia Professora conteudista: Cintia Domingues de Freitas Graduada em Fisioterapia pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Ortopedia no Esporte e também em Terapia Manual. É mestre e doutora em Ciências da Reabilitação pela USP. Atua com pesquisa de exercícios terapêuticos e patologias da coluna, principalmente de técnicas de exercícios e reabilitação da coluna lombar. Tem formação em Pilates, Reeducação Postural Global, Treinamento Funcional, Osteopatia e Abordagem Biopsicossocial da Dor Crônica. Também trabalha na área clínica, atendendo pacientes com disfunções musculoesqueléticas Iniciou sua carreira como docente na Universidade Paulista (UNIP) há 20 anos como supervisora de estágio na área de Ortopedia e também ministrando as disciplinas Cinesiologia, Cinesioterapia e Biomecânica. É autora do livro Reabilitação dinâmico-funcional da coluna lombar, publicado pela editora Phorte em 2005. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F866c Freitas, Cintia Domingues. Cinesioterapia / Cintia Domingues de Freitas. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 276 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Alongamento. 2. Fortalecimento. 3. Treinamento. I. Título. CDU 615.825 U507.81 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Lucas Ricardi Sumário Cinesioterapia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 MOBILIZAÇÕES ARTICULARES ......................................................................................................................9 1.1 Raciocínio clínico ....................................................................................................................................9 1.2 Definições de amplitudes de movimento ................................................................................... 11 1.3 Técnicas de mobilização articular, definições e indicações terapêuticas ...................... 16 1.4 Princípios e procedimentos para a aplicação das técnicas de mobilização ................. 28 1.5 Contraindicações para aplicação das técnicas de mobilização articular ...................... 29 1.6 Precauções na aplicação das técnicas de mobilização articular ....................................... 29 2 EXERCÍCIOS DE MOBILIZAÇÃO ARTICULAR NA PRÁTICA ................................................................ 30 2.1 Orientações gerais ................................................................................................................................ 30 2.2 Técnicas de mobilização articular baseadas na osteocinemática para membros superiores .................................................................................................................................... 31 2.3 Técnicas de mobilização articular baseadas na osteocinemática para membros inferiores ..................................................................................................................................... 37 2.4 Mobilizações intra-articulares ........................................................................................................ 42 2.5 Técnicas de mobilização intra-articular baseadas na artrocinemática para os membros superiores .............................................................................................................................. 42 2.6 Técnicas de mobilização intra-articular baseadas na artrocinemática para os membros inferiores ............................................................................................................................... 48 3 ALONGAMENTO MUSCULAR ...................................................................................................................... 55 3.1 Raciocínio clínico ................................................................................................................................. 55 3.2 Definições ................................................................................................................................................ 56 3.3 Fisiologia do alongamento, aspectos mecânicos e neurofisiológicos ............................ 56 3.4 Características mecânicas envolvidas no alongamento muscular ................................... 57 3.5 Mecanismos neurofisiológicos envolvidos no alongamento muscular ......................... 59 3.6 Técnicas de alongamento muscular ............................................................................................. 65 4 ALONGAMENTO MUSCULAR NA PRÁTICA ............................................................................................ 76 4.1 Parâmetros do alongamento ........................................................................................................... 76 4.2 Precauções para a prática dos exercícios de alongamento ................................................ 78 4.3 Contraindicações para a prática dos programas de alongamento .................................. 79 4.4 Exercícios de alongamento estático ativo para membros inferiores .............................. 80 4.5 Exercícios de alongamento estático ativo para membros superiores ............................. 87 4.6 Exercícios de alongamentos estáticos passivos para membros inferiores .................... 90 4.7 Exercícios de alongamentos estáticos passivos para membros superiores .................. 94 Unidade II 5 FORTALECIMENTO MUSCULAR ................................................................................................................103 5.1 Raciocínio clínico ...............................................................................................................................103 5.2 Contração muscular ..........................................................................................................................104 5.3 Tipos de cadeias cinéticas ...............................................................................................................115 5.4 Variáveis de desempenho muscular ...........................................................................................118 5.5 Princípios do treinamento resistido ............................................................................................119 5.6 Diretrizes para trabalhar o desempenho muscular ..............................................................121 5.7 Adaptações neurais e estruturais do treinamento ...............................................................1265.8 Fatores que influenciam o desempenho muscular...............................................................129 6 TREINAMENTO DE FORTALECIMENTO NA PRÁTICA .........................................................................138 6.1 Como determinar a carga do exercício .....................................................................................138 6.2 Como organizar as sessões de treinamento ............................................................................140 6.3 Precauções gerais ...............................................................................................................................142 6.4 Precauções em populações e condições clínicas específicas ...........................................144 6.5 Contraindicações para o treinamento resistido .....................................................................147 6.6 Exercícios de fortalecimento para os membros superiores ...............................................148 6.7 Exercícios de fortalecimento para os membros inferiores ................................................158 Unidade III 7 TREINAMENTO SENSÓRIO-MOTOR ........................................................................................................178 7.1 Raciocínio clínico ...............................................................................................................................178 7.2 Percepção e movimento ..................................................................................................................179 7.3 Definições ..............................................................................................................................................179 7.4 Receptores e vias do sistema sensório-motor ........................................................................181 7.5 Propriocepção vestibular .................................................................................................................201 7.6 O papel da propriocepção no controle motor ........................................................................206 8 TREINAMENTO SENSÓRIO-MOTOR NA PRÁTICA ..............................................................................211 8.1 Tipos de treinamento sensório-motor .......................................................................................211 8.2 Precauções gerais do treinamento sensório-motor .............................................................221 8.3 Contraindicações gerais do treinamento sensório-motor ................................................221 8.4 Treinamento pliométrico .................................................................................................................222 8.5 Exercícios pliométricos para membros superiores ................................................................227 8.6 Exercícios pliométricos para membros inferiores ..................................................................229 8.7 Pliometria em exercícios funcionais da vida diária ..............................................................232 8.8 Exercícios pliométricos para o tronco ........................................................................................233 7 APRESENTAÇÃO Cinesioterapia é o estudo do exercício terapêutico à luz da cinesiologia, da fisiologia, da anatomia e da biomecânica. Esta disciplina vai ensinar como fundamentar a elaboração e a prática dos exercícios terapêuticos e seus efeitos aplicados sobre o sistema neuromusculoesquelético para promover o restabelecimento do ato motor. Serão destacados os preceitos básicos dos movimentos corporais e suas relações com as disfunções dos diferentes sistemas do corpo humano. Por meio de conhecimentos teóricos e práticos dos exercícios terapêuticos, o aluno terá um raciocínio fisioterápico, sendo capaz de utilizar todos os recursos cinesioterápicos e da reeducação funcional com as respectivas indicações e contraindicações. O livro-texto apresentará as bases fisiológicas dos movimentos e do aprendizado motor e discutirá o uso de recursos básicos de fisiologia, anatomia e biomecânica. Também serão estudadas as condutas terapêuticas para o desenvolvimento da mobilidade articular e da flexibilidade muscular, para o aperfeiçoamento do desempenho muscular quanto à força, à resistência e à potência, com destaque para o treinamento sensório-motor. Cada tema acentuado traz o raciocínio clínico que fundamenta os conhecimentos prévios necessários para a elaboração e a execução dos exercícios terapêuticos na prática clínica. Nesse contexto, serão descritos todos os aspectos anatômicos, fisiológicos, cinesiológicos e biomecânicos e suas respectivas diretrizes, indicações, contraindicações e precauções para a aplicação dos exercícios. Por fim, serão apresentados exemplos de exercícios práticos. INTRODUÇÃO O exercício é um dos recursos mais importantes que o fisioterapeuta possui como ferramenta de trabalho. O exercício terapêutico visa trabalhar os diferentes aspectos da aptidão física e pode ser aplicado de forma preventiva ou na reabilitação das disfunções musculoesqueléticas decorrentes de patologias. Diante do paciente com alteração das funções motoras, cabe ao profissional identificar, a partir de uma avaliação minuciosa, as alterações de movimento e controle motor para estabelecer os objetivos terapêuticos e as respectivas condutas. As alterações podem envolver diminuição das amplitudes de movimento articular, perda da flexibilidade muscular, fraqueza muscular e alterações de propriocepção, de coordenação e de equilíbrio, as quais contribuirão para o prejuízo das atividades funcionais. A cinesioterapia, por meio de condutas específicas, visa melhorar essas alterações com os exercícios terapêuticos. Entre as condutas trabalhadas, destacam-se as técnicas de mobilização articular, os exercícios de alongamento muscular, o fortalecimento muscular e o treinamento sensório-motor. As funções motoras dependem do equilíbrio entre mobilidade articular, flexibilidade muscular, força, resistência e potência muscular, e elas são integradas com o sistema sensório-motor responsável pelo controle motor. Cada uma dessas características será trabalhada ao longo deste livro-texto, pautando-se na anatomia, na cinesiologia, na fisiologia e na biomecânica, para desenvolver um raciocínio terapêutico na elaboração dos exercícios. 8 Inicialmente, será estudada a mobilidade, a qual inclui a amplitude de movimento articular e a flexibilidade muscular. Para o entendimento das técnicas de mobilização e de alongamento, deve-se partir do conhecimento da cinesiologia para identificar quais são os movimentos possíveis em cada articulação de acordo com suas características anatômicas, acentuando as inserções musculares e os movimentos que cada músculo é capaz de realizar. Dessa forma, será possível identificar as alterações de movimento apresentadas pelos pacientes e transformar os movimentos estudados na cinesiologia em técnicas de mobilização e de alongamento. Serão abordados os procedimentos, as indicações, as precauções e as contraindicações dos diferentes tipos de mobilização articular e técnicas de alongamento e seus respectivos efeitos terapêuticos. Prosseguindo nosso estudo, será ilustrado o fortalecimento muscular. Os elementos fundamentais do desempenho muscular relacionados à aptidão física incluem força, potência e resistência muscular à fadiga. Quando uma ou mais dessas áreas está comprometida, poderão ocorrer limitações funcionais. Diante das alterações do desempenho muscular, a fisioterapia dispõe de intervenções que incluem o treinamento de fortalecimento, com o objetivo de recuperação funcional e prevenção de lesões. Para a elaboração dos exercícios de fortalecimento, é preciso conhecer as principais ações musculares e seguir os preceitos de anatomia, cinesiologia, biomecânica e fisiologia. Para trabalhar essas capacidades de forma integrada, visando sempre à recuperação de tarefas funcionais específicas,será apresentado o treinamento sensório-motor. O movimento humano é altamente especializado e coordenado, dependente de um sistema de controle central e de feedback sensorial periférico para garantir a eficiência de um determinado movimento ou o controle postural. O treinamento sensório-motor tem um papel importante na prevenção de lesões e na melhora do desempenho funcional e esportivo em geral. Por conta desses aspectos, serão trabalhados exercícios proprioceptivos e de controle motor específicos, desde as fases iniciais do processo de reabilitação até as fases mais avançadas. A elaboração, as indicações, as contraindicações e a evolução dos exercícios de treinamento sensório-motor com o embasamento fisiológico do controle sensório-motor em diferentes momentos da reabilitação e em diferentes populações farão parte do conteúdo desenvolvido. Ao fim de cada unidade, haverá uma grande variedade de exemplos de exercícios com algumas ilustrações para você praticar. Primeiro, você deve praticar em si mesmo, para poder identificar todas as sensações que os exercícios proporcionam e para trabalhar a sua consciência corporal. Dessa forma, a sua criatividade se desenvolverá naturalmente com a prática e você terá mais segurança ao ensinar os exercícios para os pacientes. Lembre-se sempre que o movimento é a sua principal ferramenta de trabalho; aproveite cada detalhe deste livro-texto e tente proporcionar para os seus futuros pacientes a liberdade do movimento e a independência funcional. 9 CINESIOTERAPIA Unidade I 1 MOBILIZAÇÕES ARTICULARES As mobilizações articulares são técnicas terapêuticas para o fisioterapeuta trabalhar o movimento com o objetivo de manter ou ganhar amplitude de movimento. 1.1 Raciocínio clínico Para ganhar ou manter a amplitude de movimento (ADM) das articulações, é necessário o conhecimento prévio da anatomia articular e muscular e dos movimentos que cada articulação é capaz de fazer. As características anatômicas de cada articulação determinarão a função e a amplitude de movimento. Os conceitos relacionados à cinesiologia permitem o entendimento dos movimentos. A biomecânica fundamenta a execução das técnicas em relação aos posicionamentos e alavancas, enquanto a fisiologia articular e muscular justificam as indicações e os efeitos terapêuticos. O fisioterapeuta poderá aplicar as técnicas descritas neste livro-texto quando o paciente apresentar alguma disfunção de movimento. Imagine que um paciente vá a um consultório com uma queixa relacionada à limitação de um determinado movimento. O movimento pode estar limitado por inúmeras causas, como encurtamento de tecidos moles (ligamentos, músculos, cápsulas), fraqueza muscular, aumento do tônus muscular devido a patologias do sistema nervoso central (SNC), bloqueios ósseos ou de implantes metálicos, dor, processos inflamatórios, lesões degenerativas da cartilagem, restrição da mobilidade dos nervos periféricos, alterações vasculares etc. Ao avaliar o paciente, o fisioterapeuta deverá investigar e responder às seguintes perguntas: • Por que a amplitude de movimento está limitada? • Por que o paciente sente dor ao fazer determinado movimento? Para responder a esses questionamentos, o profissional deverá avaliar o paciente, o que envolve a anamnese e um exame físico. Assim, poderá determinar as alterações e estabelecer o diagnóstico fisioterapêutico para traçar os objetivos terapêuticos (o que pretende alcançar com esse paciente) e as condutas (como vai trabalhar com o paciente, quais técnicas utilizará para atingir os objetivos). As decisões do fisioterapeuta sempre deverão partir de um raciocínio terapêutico que deverá levar em consideração o curso de cada patologia ou pós-operatório, o prognóstico de recuperação de um determinado movimento e os efeitos terapêuticos de cada técnica de mobilização. A seguir, vamos destacar essa questão abordando alguns casos clínicos. 10 Unidade I Caso clínico 1: fratura de úmero Paciente JCS, 27 anos, fraturou o úmero direito devido a um atropelamento. A fratura foi tratada conservadoramente, com imobilização gessada, período em que o cotovelo se manteve fletido no gesso. Após a retirada do gesso, esse paciente foi a uma clínica para ser reabilitado e se queixou por não conseguir “esticar totalmente o cotovelo”. Ao solicitar que ele estendesse ativamente a articulação do cotovelo, o profissional notou um flexo, conforme demonstrado na figura a seguir. Ao prosseguir com a avaliação da amplitude passiva, confirmou-se a presença do flexo do cotovelo. Qual a possível causa da restrição de movimento desse paciente? Devido ao tempo de imobilismo, ocorreu um encurtamento adaptativo dos tecidos moles periarticulares (cápsula anterior, músculos flexores do cotovelo). Nesse caso, o objetivo terapêutico é recuperar a amplitude fisiológica de extensão do cotovelo, através de condutas com técnicas de mobilização articular e alongamento muscular que estimulem o ganho de amplitude de movimento para alongar os tecidos moles encurtados. Figura 1 – Flexo de cotovelo Caso clínico 2: osteoartrite Paciente MSD, 68 anos, com diagnóstico de osteoartrite de joelhos há oito anos. Na radiografia dos joelhos, observa-se diminuição importante do espaço articular. Ao avaliar a amplitude de movimento de flexão do joelho, constatou-se limitação ativa e passiva. A limitação da ADM nesse caso deve-se às alterações estruturais degenerativas que levaram à diminuição do espaço articular. O objetivo terapêutico é tentar pelo menos manter a ADM ou tentar ganhar até a amplitude que a paciente responder. Técnicas de mobilização articular patelofemoral, femorotibial e alongamento muscular são as condutas indicadas. 11 CINESIOTERAPIA Figura 2 – Amplitude de flexão ativa diminuída Figura 3 – Amplitude de flexão passiva diminuída Para cada paciente, o fisioterapeuta deverá desenvolver um raciocínio terapêutico e, a partir dele, baseando-se em seus conhecimentos prévios sobre o movimento normal, identificar as causas das alterações de movimento para estabelecer a conduta mais adequada de tratamento. 1.2 Definições de amplitudes de movimento Para o completo entendimento das técnicas de mobilização e suas respectivas indicações, é necessário esclarecer algumas definições. 12 Unidade I Amplitude de movimento (ADM) é definida como a amplitude completa possível em uma articulação (HALL; BRODY, 1999; KISNER; COLBY, 2005). A estrutura determina a função. A ADM fisiológica será definida pelas características anatômicas de cada articulação, como as próximas duas figuras. É fundamental diferenciar ADM fisiológica e ADM funcional. Esta última é aquela necessária para realizar algumas atividades funcionais. Por exemplo, para andar, a ADM máxima de flexão exigida é de 60 graus na fase de balanço inicial (PERRY, 2005). Portanto, mesmo que um paciente não atinja a ADM fisiológica máxima de 140 graus de flexão do joelho, se ele conquistar pelo menos a amplitude funcional, ele ainda conseguirá ter boa funcionalidade (MARQUES, 2014; KAPANDJI, 2000). Alguns pacientes, em razão da patologia apresentada ou de um determinado tipo de cirurgia, não alcançarão a ADM fisiológica, mas poderão alcançar uma ADM funcional com a devida reabilitação. Um paciente com uma osteoartrite avançada de joelho poderá recuperar a amplitude funcional para deambular, subir e descer escadas, mesmo que não atinja a ADM fisiológica completa. Saiba mais Com o livro a seguir, você poderá estudar as ADM fisiológicas e saber como avaliá-las. MARQUES, A. P. Manual de goniometria. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. Figura 4 – Características anatômicas do cotovelo 13 CINESIOTERAPIA Figura 5 – ADM de flexão e extensão do cotovelo e limites anatômicos Figura 6 – Amplitude funcional de flexão do joelho na fase de balanço inicial Figura 7 – ADM fisiológica de flexão do joelho 14 Unidade I Observação Para manter a ADM normal, os segmentos precisam ser movidos por suas amplitudes disponíveisperiodicamente, seja a amplitude articular, seja a muscular. Conforme Kisner e Colby (2016), as mobilizações articulares podem ser realizadas de forma ativa, passiva ou assistida. • ADM ativa: é o movimento dentro da ADM sem restrições e produzido por uma contração ativa dos músculos que cruzam aquela articulação. • ADM passiva: é o movimento produzido inteiramente por uma força externa, com pouca ou nenhuma contração voluntária. A força externa pode ser proveniente da gravidade, de um aparelho, de outra pessoa ou ainda de outra parte do corpo do próprio indivíduo. • ADM assistida: é um tipo em que uma força externa fornece assistência, manual ou mecânica, porque os músculos motores primários necessitam de ajuda para completar o movimento. Dependendo da condição clínica de cada paciente e dos objetivos terapêuticos, as técnicas de mobilização serão aplicadas com movimentos ativos, passivos ou ativoassistidos. O movimento articular pode ser descrito a partir da osteocinemática e da artrocinemática. A osteocinemática representa os movimentos angulares fisiológicos dos ossos quanto aos três planos cardeais, é a relação entre dois ou mais segmentos ósseos. O paciente consegue fazer voluntariamente os movimentos osteocinemáticos se apresentar grau de força suficiente. A artrocinemática é o conjunto de movimentos intra-articulares que ocorre entre as superfícies articulares, também chamados de movimentos acessórios (NEUMANN, 2011). São exemplos de movimentos osteocinemáticos: flexão, extensão, abdução, adução e rotações. Entre as superfícies articulares poderão ocorrer deslizamento, rolamento, giro, compressão e separação, dependendo da forma que a articulação apresenta (KISNER; COLBY, 2016). O movimento livre de uma articulação dependerá da osteocinemática e da artrocinemática, que trabalham de forma integrada. Saiba mais No livro a seguir, você poderá se aprofundar nas características artrocinemáticas de cada articulação. NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para a reabilitação. 2. ed. São Paulo: Elsevier, 2011. 15 CINESIOTERAPIA Para trabalhar a mobilização articular, dispõe-se de técnicas que usam os movimentos elementares da osteocinemática, assim como técnicas articulatórias que utilizam os movimentos da artrocinemática por meio de trações e deslizamentos, de modo a diminuir a dor ou restaurar a mobilidade intra-articular (KISNER; COLBY, 2016). Para a aplicação das técnicas de mobilização articular, basta reproduzir os movimentos fisiológicos (osteocinemáticos e artrocinemáticos) no paciente dentro das amplitudes disponíveis, baseando-se no conhecimento da cinesiologia e da biomecânica articular. A artrocinemática e a osteocinemática podem ser trabalhadas de forma complementar para recuperar determinado movimento articular, o que será exemplificado a seguir. Imagine um paciente que o fisioterapeuta deseja ganhar a extensão completa do joelho (extensão é o movimento osteocinemático). De acordo com a artrocinemática da articulação tíbiofemoral, quando a extensão do joelho ocorre em cadeia cinemática aberta, a superfície articular da tíbia rola e desliza anteriormente (movimento artrocinemático) em relação aos côndilos femorais, além de girar lateralmente para finalizar a extensão completa (figura a seguir). A conduta fisioterapêutica para recuperar a ADM de extensão poderá incluir deslizamentos anteriores da tíbia em relação ao fêmur e, em seguida, mobilizações da extensão do joelho, movimentando-se o segmento da tíbia no espaço. Figura 8 – Movimentos artrocinemáticos da tíbia durante a extensão do joelho 16 Unidade I Figura 9 – Mobilização artrocinemática em deslizamento anterior da tíbia Figura 10 – Mobilização articular em extensão do joelho Observação Para esse conteúdo, é importante revisar todos os movimentos artrocinemáticos de cada articulação sinovial. 1.3 Técnicas de mobilização articular, definições e indicações terapêuticas A mobilização passiva é uma técnica de mobilização articular na qual o movimento é executado sem a contração voluntária do paciente (HALL; BRODY, 1999; KISNER; COLBY, 2016). A mobilização passiva pode ser realizada pelo fisioterapeuta, pelo cuidador ou responsável pelo paciente, por um aparelho ou outra parte do corpo do próprio indivíduo (membro contralateral). É indicada quando o paciente não puder mover ativamente um segmento do corpo (KISNER; COLBY, 2016). 17 CINESIOTERAPIA A mobilização passiva seria indicada nas seguintes situações clínicas: um paciente em coma; em um pós-cirúrgico que proíba a contração muscular (músculo ou tendão que passou por um procedimento de sutura); em uma lesão nervosa central ou periférica que impeça a contração ativa de um determinado músculo; indicação de repouso completo no leito; e em casos de inflamação aguda nos quais uma movimentação ativa possa ser prejudicial no processo de regeneração dos tecidos. Na imagem a seguir, o fisioterapeuta mobiliza passivamente o membro inferior do paciente em flexão do quadril e joelho, sem contração muscular por parte do paciente. Figura 11 – Mobilização passiva de flexão de quadril e joelho Ao pensar em objetivos terapêuticos, o fisioterapeuta deverá determinar o que deseja atingir ou promover para o paciente com a mobilização passiva. Primeiro, o terapeuta deverá distinguir se deseja apenas manter uma determinada ADM ou ganhar amplitude articular, ou se visa ao alívio da dor, o que vai diferenciar a forma de aplicar a técnica quanto ao grau de mobilização. Caso o objetivo principal seja manter a mobilidade da articulação e dos tecidos conjuntivos, a mobilização passiva deverá ser realizada até a amplitude final apresentada pelo paciente. Nesse caso, a mobilização passiva previne as complicações decorrentes do imobilismo: mantém a mobilidade dos tecidos articulares e a elasticidade mecânica dos músculos; previne a formação de contraturas; auxilia a circulação e a dinâmica vascular; favorece o movimento do líquido sinovial para nutrição da cartilagem e difusão de nutrientes na articulação; diminui ou inibe a dor; auxilia o processo de regeneração após uma lesão ou cirurgia; e ajuda a manter a percepção de movimento do paciente. A mobilização passiva também pode ser aplicada para avaliar a ADM e definir as limitações ou para ensinar determinado movimento ou até mesmo pode ser aplicada para preparar o paciente para um alongamento, isto é, o terapeuta mobiliza as articulações para, em seguida, alongar passivamente. Outro objetivo da utilização de abordagens passivas é ganhar ADM quando determinado movimento se encontra restrito; nesse caso, as mobilizações devem ser realizadas além da resistência dos tecidos, com o objetivo de alongá-los. 18 Unidade I A mobilização passiva não previne perda de força e massa muscular e também não é capaz de aumentar a força muscular, já que durante as mobilizações passivas não há contração voluntária por parte do paciente. Além disso, as mobilizações passivas não são capazes de estimular a circulação sanguínea na mesma proporção que as mobilizações ativas (HALL; BRODY, 1999). Graus de mobilização articular: dosagem do movimento Segundo Kisner e Colby (2016) e Maitland (1991), após a avaliação do paciente, quando o fisioterapeuta deverá detectar qual é a limitação de movimento, quais tecidos estão envolvidos limitando a função, qual o estágio da patologia e o quadro de dor, ele deverá determinar a intensidade que usará para realizar as mobilizações. Para definir a dosagem de movimento aplicada quanto aos graus de mobilização, primeiro o fisioterapeuta deverá testar a qualidade da dor durante o movimento e observar algumas características. Por exemplo: se, ao movimentar a articulação, a dor ocorrer antes da limitação do tecido (da resistência do tecido), como aquela que ocorre com a defesa muscular após uma lesão aguda ou durante o estágio ativo de uma doença. Nesse caso, poderão ser aplicadas técnicas articulares suavespara inibição da dor, sendo o alongamento dos tecidos contraindicado. Se a dor ocorrer simultaneamente com a limitação tecidual, como a dor que ocorre quando o tecido lesado começa a se regenerar, a limitação será tratada com cuidado com técnicas de mobilização de alongamentos suaves, que são aplicadas às estruturas retraídas para melhorar gradualmente o movimento sem exacerbar o quadro de dor. Se a dor for experimentada após ser encontrada a limitação tecidual (além da resistência do tecido) devido ao alongamento de cápsula articular ou tecidos periarticulares retraídos, a articulação rígida deverá ser mobilizada com maior intensidade, alongando-se os tecidos intra e periarticulares. Para a mobilização articular, usa-se um sistema de graduação baseado em graus por meio de técnicas de oscilação graduada. As oscilações podem ser realizadas nos movimentos fisiológicos osteocinemáticos ou artrocinemáticos. Lembrete Não se esqueça de que no movimento passivo não há contração muscular voluntária, portanto, não tem como objetivo manter ou ganhar força muscular, nem prevenir perda de massa muscular. Um dos sistemas de graduação para mobilização utilizados segue os critérios de Maitland (1991) (figura a seguir). Conforme Kisner e Colby (2016) e Maitland (1991), as dosagens de movimento são divididas em cinco graus: • Grau I: oscilações rítmicas de pequena amplitude são feitas no início da amplitude. • Grau II: oscilações rítmicas de larga amplitude são feitas dentro da amplitude, sem atingir o limite do movimento. 19 CINESIOTERAPIA • Grau III: oscilações rítmicas de larga amplitude são feitas até o limite do movimento disponível e forçadas dentro resistência do tecido. • Grau IV: oscilações rítmicas de pequena amplitude são feitas no limite da mobilidade disponível e forçadas além da resistência do tecido. • Grau V: técnica de manipulação brusca de pequena amplitude e alta velocidade para romper com as aderências no limite da amplitude disponível. Mobilidade articular disponível I II III IV Re sis tê nc ia d o te ci do Li m ite an at ôm ic o Al on ga m en to Figura 12 – Diagrama que representa as técnicas de oscilação graduada Os graus I e II são indicados para tratamento da dor, já que as oscilações têm um efeito inibitório sobre a percepção dos estímulos dolorosos pelo estímulo repetitivo dos mecanorreceptores que bloqueiam as vias nociceptivas na medula espinhal e no tronco encefálico. Esses movimentos feitos sem alongamento ajudam a mover o líquido sinovial para melhorar a nutrição da cartilagem. Por sua vez, os graus III e IV têm como objetivo primário o alongamento dos tecidos. As técnicas de manipulação brusca estão fora do escopo deste livro e requerem um curso para treinamento avançado. Áreas como a quiropraxia e a osteopatia utilizam o grau V como uma das abordagens. Ao lidar com perda de mobilidade articular, são recomendadas técnicas sustentadas aplicadas de maneira cíclica; quanto mais tempo a força de alongamento puder ser mantida, maior o arrastamento e a deformação plástica do tecido conjuntivo (KISNER; COLBY, 2016). Segundo Kaltenborn (1999), as técnicas de mobilização intra-articular translatória sustentada também podem ser divididas em graus (figura a seguir) de acordo com a dosagem aplicada. • Grau I (com folga): é aplicada uma separação (tração) de pequena amplitude onde nenhuma sobrecarga estiver localizada sobre a cápsula. 20 Unidade I • Grau II (tensionado): é aplicada separação ou deslizamento suficiente para tensionar os tecidos em torno da articulação, de forma a “tirar a folga”. • Grau III (alongado): é aplicada separação ou deslizamento com amplitude grande o suficiente para alongar a cápsula e as estruturas capsulares ao redor. Os graus I e II podem ser usados com o objetivo de aliviar a dor e para manter a mobilidade intra-articular. Já o grau III é indicado para alongar estruturas articulares e aumentar a mobilidade intra-articular. Mobilidade articular disponível I II III Re sis tê nc ia d o te ci do Li m ite an at ôm ic o Al on ga m en to Figura 13 – Diagrama que representa as técnicas de mobilização: intra-articular translatória sustentada Aplicação prática Contraturas musculares, aderências na cápsula articular e nos tecidos ao redor de uma articulação podem se desenvolver sempre que uma articulação permanece imobilizada em gesso ou tala. Geralmente, o cotovelo é imobilizado em 90 graus de flexão, levando a um padrão capsular em flexão (flexo de cotovelo), conforme figura a seguir. Nesse caso, técnicas que trabalhem o grau III ou IV são indicadas para promover alongamento dos tecidos. Figura 14 – Flexo de cotovelo após período de imobilização devido à fratura de úmero 21 CINESIOTERAPIA A seguir, serão mostradas técnicas que poderão ser aplicadas com o objetivo de ganhar a ADM de extensão do cotovelo: Figura 15 – Tração da articulação do cotovelo Figura 16 – Mobilização passiva da articulação do cotovelo Mobilização passiva contínua (MPC) Refere-se ao movimento passivo feito por um dispositivo mecânico (figura a seguir). É aplicada por uma máquina que move uma articulação passiva e repetidamente, de modo lento e contínuo, por uma ADM controlada (KISNER; COLBY, 2016; SALTER, 1989). Pode ser utilizada no ambiente hospitalar, em clínicas ou em domicílio. A imagem a seguir mostra um dispositivo de MPC para a articulação do joelho. Estudos mostram que não há diferença entre a utilização da MPC comparada a outras técnicas de ADM passiva ou outras formas de mobilização precoce (HARVEY; BROSSEAU; HERBERT, 2014). A MPC também não apresenta vantagens para prevenir o tromboembolismo (HE et al., 2014). Os ganhos funcionais são semelhantes e a MPC adiciona custos ao tratamento. 22 Unidade I Figura 17 – Dispositivo para MPC do joelho Mobilização ativa assistida O movimento ativo é auxiliado por uma força externa (manual ou mecânica). Os músculos precisam de assistência para completar o movimento devido à fraqueza muscular (HALL; BRODY, 1999; KISNER; COLBY, 2016). Durante a mobilização ativa assistida, o paciente participa da execução do movimento, contraindo a musculatura enquanto o terapeuta o auxilia. Os músculos são estimulados a se contraírem no máximo que o paciente conseguir para aos poucos serem fortalecidos. Essa técnica é indicada quando o paciente for capaz de contrair ativamente os músculos e mover um segmento, mas necessitar de assistência para realizar o movimento ou quando não conseguir realizar o movimento contra a força da gravidade (grau II de força). Na imagem a seguir, no pós-operatório de ligamento cruzado anterior, o fisioterapeuta mobiliza o membro inferior em flexão do joelho enquanto o paciente contrai ativamente a musculatura posterior da coxa. Os mesmos posicionamentos utilizados para as mobilizações passivas podem ser reproduzidos para as mobilizações ativas assistidas: Figura 18 – Mobilização ativa assistida de flexão do joelho 23 CINESIOTERAPIA Na figura a seguir, o paciente está realizando uma flexão dos joelhos ativamente com os pés apoiados sobre o rolo; assim, puxa o rolo em sua direção na ADM disponível com o auxílio da fisioterapeuta. Ao realizar o exercício com os membros apoiados, atenua-se a força para sustentar o membro contra a gravidade. Para a realização desse exercício, o paciente necessita ter no mínimo grau II de força muscular. Figura 19 – Movimento de flexão do joelho apoiado sobre o rolo Mobilização ativa É uma forma de mobilizar as articulações através do movimento produzido ativamente pelo paciente sem auxílio externo. Depende integralmente da contração voluntária do paciente (HALL; BRODY, 1999; KISNER; COLBY, 2016). A ADM ativa deve ser estimulada para movimentar regiões adjacentes acima e abaixo de uma articulação que se encontra imobilizada. A mobilidade ativa também pode ser usada em programas de condicionamento aeróbico ou como forma de aquecimento. Movimentos ativoslivres estimulam condicionamento cardiovascular e respiratório quando realizados com múltiplas repetições e maior velocidade. Eles podem ser usados como exercícios de aquecimento antes da prática de atividades físicas (KISNER; COLBY, 2016). Na figura a seguir, a paciente está executando uma extensão e flexão ativa do joelho sobre o rolo. Para a realização desse exercício, é necessário ter no mínimo grau II de força muscular. Se a paciente tivesse grau III de força muscular de quadríceps, por exemplo, conseguiria fazer sem apoio. 24 Unidade I A) B) Figura 20 – Movimento ativo de flexão (A) e extensão do joelho (B) Movimentos ativos para estimular a mobilidade dos joelhos também podem ser realizados em uma bicicleta sem carga: Figura 21 – Mobilização ativa dos joelhos em flexão e extensão na bicicleta sem carga Saiba mais Para complementar seus estudos sobre graus de força muscular, leia: KENDALL, F. P. et al. Músculos: provas e funções com postura e dor. 5. ed. Barueri: Manole, 2007. Quanto aos objetivos terapêuticos das mobilizações ativas e ativoassistidas, de acordo com Kisner e Colby (2016), se não houver inflamação ou contraindicação para o movimento ativo, os mesmos objetivos da mobilização passiva poderão ser alcançados com a mobilização ativa. A contração muscular presente nas mobilizações ativas e ativoassistidas agrega mais benefícios fisiológicos: mantém a elasticidade 25 CINESIOTERAPIA e a contratilidade fisiológica dos músculos participantes; oferece feedback sensorial proveniente dos músculos em contração; gera estímulo mecânico para a manutenção da integridade óssea e articular; estimula a circulação sanguínea e previne a formação de trombos; e desenvolve a coordenação e as habilidades motoras para atividades funcionais. Para músculos fortes, contração muscular não irá manter ou aumentar a força, sendo indicado o exercício resistido de acordo com a capacidade de cada paciente. Outro exemplo de exercícios ativos são os exercícios ativos de bombeamento: são movimentos ativos livres das extremidades (dorsiflexão, flexão plantar e circundução do tornozelo) e são indicados para diminuir o edema, aumentando o retorno venoso e prevenindo complicações vasculares como a trombose venosa profunda. São indicados, por exemplo, para pacientes acamados no leito ou com distúrbios venosos dos membros inferiores (MMII). Podem ser realizados com o paciente em decúbito dorsal, com os membros inferiores elevados acima do nível do coração. Solicitam-se os movimentos de flexão plantar e dorsiflexão alternados ou circundução. A flexão plantar, por meio da contração do tríceps sural, estimula o retorno venoso pela compressão sequencial dos vasos sanguíneos. Figura 22 – Exercícios de bombeamento em flexão plantar e dorsiflexão em decúbito dorsal Figura 23 – Exercícios de bombeamento em circundução dos pés em decúbito dorsal 26 Unidade I O edema periférico com a posição pendente, que ocorre após longos períodos em pé ou sentado, é uma manifestação comum em indivíduos que apresentam insuficiência venosa crônica, os quais costumam relatar dor difusa contínua ou cansaço no membro afetado. Para esses indivíduos, são recomendados exercícios de bombeamento das extremidades e deambulação (LEAL et al., 2016). O estudo de Kropp et al. (2018) demonstrou que exercícios ativos do tornozelo e dos dedos aumentam o retorno venoso pela análise do exame de ultrassonografia doppler. Entre os exercícios analisados encontram-se: flexão plantar dos tornozelos associada à flexão dos dedos do pé; elevação do calcanhar; dorsiflexão associada à extensão dos dedos; flexão isolada dos dedos dos pés; e flexão plantar do tornozelo. Stein et al. (2009) também demonstraram que tanto os exercícios de bombeamento com movimentos do tornozelo em posição supina como sentado foram eficientes para aumentar a velocidade do retorno venoso, reduzindo a tendência para estase venosa. Ainda acentuam que podem ser úteis para prevenir a trombose venosa profunda. Mobilização autoassistida ou automobilização Nesse caso, o paciente se automobiliza usando o membro normal para mobilizar o membro lesado. A automobilização também pode ser realizada com recursos externos (bastões, cordas, bolas, aparelhos para exercícios recíprocos) associados ao movimento, de forma que um membro assiste ao movimento do membro contralateral (HALL; BRODY, 1999; KISNER; COLBY, 2016). Os exercícios de automobilização tornam-se muito úteis como exercícios domiciliares, assim, o paciente pode manter em casa o trabalho desenvolvido pelo fisioterapeuta. Na figura a seguir, solicitou-se que o paciente utilizasse o membro direito apoiado por baixo do membro esquerdo operado de forma a auxiliar a extensão do joelho, já que esse paciente apresentava fraqueza muscular do quadríceps esquerdo (grau II de força). Figura 24 – Automobilização de extensão do joelho 27 CINESIOTERAPIA No exemplo da figura a seguir, solicitou-se que a paciente usasse o membro sadio (esquerdo) para puxar a corda para baixo enquanto o membro contralateral fosse elevado em flexão na outra extremidade da corda. Figura 25 – Automobilização de flexão do ombro com corda Outro exemplo de automobilização envolve os exercícios pendulares de Codman (1869-1940) para o ombro (figura a seguir). Nesse caso, a técnica utiliza os efeitos da gravidade para afastar o úmero da cavidade glenoide. Tais exercícios auxiliam a manter a integridade e a mobilidade dos tecidos moles e ajudam a aliviar a dor por meio de movimentos leves de tração e oscilação. Os exercícios pendulares são muito usados nas fases iniciais de protocolos pós-cirúrgicos de ombro (KISNER; COLBY, 2005). Esses exercícios incorporam três padrões distintos de movimento do ombro: circundução, flexão e extensão (para frente e para trás) e abdução horizontal (de um lado para o outro). Eles promovem o alívio da dor através de movimentos de leve tração (grau I e II) e dão mobilidade precoce às estruturas articulares e ao líquido sinovial. À medida que o indivíduo tolera o alongamento, pode-se introduzir pesos leves nos punhos para conseguir uma força de separação articular (grau III e IV). Os exercícios podem ser realizados com o indivíduo em pé em flexão de quadril de 90 graus ou em decúbito ventral numa maca com o membro superior pendente para fora, sendo realizados no sentido horário, anti-horário, laterolateral e anteroposterior. A musculatura escapular deve estar totalmente relaxada, com o paciente buscando, progressivamente, alcançar maiores amplitudes (KISNER; COLBY, 2016). 28 Unidade I Figura 26 – Exercícios pendulares de Codman Após entender as indicações e os efeitos terapêuticos de cada tipo de mobilização, e levando em consideração o estágio da cicatrização dos tecidos, o tempo de imobilização, os tecidos que estão afetados, o estágio da lesão ou do protocolo pós-cirúrgico, o fisioterapeuta será capaz de selecionar a técnica mais adequada. Lembrete Tenha sempre em mente qual é o seu objetivo terapêutico antes de definir qual técnica será aplicada. 1.4 Princípios e procedimentos para a aplicação das técnicas de mobilização De acordo com Kisner e Colby (2016) e Hall e Brody (1999), os movimentos podem ser realizados: • Contra a gravidade ou sem a gravidade (depende do grau de força). • Nos planos de movimento anatômicos: frontal, sagital, transverso. • Em padrões combinados: diagonais ou vários planos de movimento. • Em padrões funcionais: movimentos usados em atividades de vida diária. • Dentro da ADM disponível sem dor, suave e rítmico até o ponto de resistência dos tecidos, respeitando-se o feedback de dor do paciente e a biomecânica articular. • Cinco a dez repetições por movimento (ou dependente dos objetivos do programa de reabilitação e das respostas ao tratamento). • Associados ou não a recursos (bolas, bastões, cordas etc.). 29 CINESIOTERAPIA Durante a realização das mobilizações passivas ou ativoassistidas, o fisioterapeuta deverá estarcom as duas mãos em contato com o paciente, estabilizando o segmento mais proximal e mobilizando o segmento mais distal à articulação que se deseja trabalhar o movimento. Deve-se posicionar o paciente alinhado e estável. O terapeuta deve estar próximo à articulação que será mobilizada e usar uma mecânica corporal apropriada. O profissional deve manter a sua base de sustentação maior e usar o seu corpo como um pivô, acompanhando os movimentos do paciente. 1.5 Contraindicações para aplicação das técnicas de mobilização articular A contraindicações são situações nas quais o fisioterapeuta não deverá fazer as técnicas específicas de mobilização. A mobilização passiva e a ativopassiva não deverão ser aplicadas se o movimento puder irritar o tecido e aumentar o quadro inflamatório agudo, bem como em situações em que os movimentos puderem prejudicar a cicatrização, em amplitudes que coloquem suturas em risco e no caso de instabilidade local, por exemplo, fraturas não consolidadas. A mobilização ativa será contraindicada para as mesmas situações citadas anteriormente e também em condições cardiovasculares instáveis, como suspeita de trombose venosa profunda e instabilidade hemodinâmica (HALL; BRODY, 1999; KISNER; COLBY, 2016). 1.6 Precauções na aplicação das técnicas de mobilização articular De acordo com Kisner e Colby (2016), são situações nas quais durante a aplicação das técnicas o fisioterapeuta deverá tomar certos cuidados: em relação aos ângulos de movimento que possam sobrecarregar indevidamente estruturas; compensações; velocidade e ritmo do movimento; estabilização e posicionamento corretos do paciente; e mobilidade controlada com exposição gradual em condições inflamatórias e cirúrgicas. Em casos de pacientes após infarto do miocárdio ou cirurgia de revascularização arterial, ao realizar exercícios de mobilização ativa de membros superiores (MMSS) e inferiores ou caminhadas, será preciso monitorar os sintomas, a percepção do esforço e os sinais vitais (frequência cardíaca, pressão arterial). Nos protocolos de reabilitação cardíaca, por exemplo, as atividades são individualizadas e progridem gradualmente conforme a tolerância do paciente. Outra situação que exige precaução envolve os casos de pós-operatórios que necessitam de uma ADM controlada para não prejudicar a cicatrização de um tecido. Por exemplo, em um pós-operatório de ligamento cruzado anterior, os protocolos determinam uma evolução controlada da amplitude de flexão do joelho ao longo das primeiras semanas; o paciente inicia com flexão de 90 graus e, depois, a cada semana, evolui-se a amplitude para não prejudicar o enxerto que substituiu o ligamento. A amplitude final fisiológica de flexão do joelho é permitida em torno da sexta semana do pós-operatório (KISNER; COLBY, 2016). 30 Unidade I Observação Se durante as mobilizações houver aumento da dor ou da inflamação, é um sinal de mobilização excessiva ou incorreta. 2 EXERCÍCIOS DE MOBILIZAÇÃO ARTICULAR NA PRÁTICA 2.1 Orientações gerais A seguir, serão demonstrados os posicionamentos e os movimentos que podem ser reproduzidos de forma passiva, ativoassistida ou ativa para os membros superiores e inferiores. A escolha do tipo de mobilização se baseará nas características clínicas de cada paciente. As orientações gerais para a execução das técnicas de mobilização são: • O fisioterapeuta deverá posicionar o paciente de forma que ele permaneça confortável e permita uma posição favorável para executar a técnica. • Nas mobilizações passivas ou ativoassistidas, as duas mãos do fisioterapeuta deverão estar em contato com o corpo do paciente. A mão proximal é aquela localizada mais próxima do eixo central do corpo na linha média, e a parte distal da mão é a mais distante. • Trabalhar os movimentos fisiológicos dentro dos planos anatômicos correspondentes, respeitando a anatomia e a biomecânica articular. • Assim que possível, progredir das mobilizações passivas para as ativoassistidas e para as ativas, para que o paciente evolua no ganho de força e independência funcional. • Movimentar o segmento dentro da ADM disponível sem dor, de forma suave e rítmica até o ponto de resistência dos tecidos se o objetivo do profissional for manter amplitude e, se o objetivo for ganhar amplitude, além da resistência dos tecidos. • O paciente deverá estar com roupas que permitam o livre movimento das articulações. Quando necessário, despir a região a ser abordada. • O fisioterapeuta sempre deverá manter o posicionamento que favoreça a sua movimentação corporal e possa visualizar a face do paciente durante as mobilizações. Deverá manter-se próximo do corpo do paciente, homolateral ao membro que será mobilizado para facilitar a sua mecânica corporal. 31 CINESIOTERAPIA Lembrete A mobilização realizada até o ponto de resistência do tecido mantém a amplitude. Se realizada além da resistência do tecido, será executada uma técnica de alongamento para ganhar amplitude. 2.2 Técnicas de mobilização articular baseadas na osteocinemática para membros superiores Flexão da articulação glenoumeral • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão. • Execução: segure o antebraço do paciente com a parte distal de sua mão de forma que você consiga oferecer uma sustentação para o punho e para a mão do paciente; mantenha a outra mão sobre o cotovelo do paciente, movimente o membro superior do paciente no sentido da flexão do ombro e vire o seu corpo acompanhando o movimento ao longo da amplitude disponível, em seguida retorne (figura a seguir). Figura 27 – Mobilização passiva em flexão glenoumeral Extensão da articulação glenoumeral • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em extensão. • Execução: aproxime o paciente da beira da maca, coloque a sua mão proximal sobre o ombro do paciente para estabilizá-lo, mantenha o cotovelo fletido próximo de 90 graus e, com a parte distal da mão, segure o antebraço próximo ao punho do paciente e movimente o segmento no sentido da hiperextensão do ombro, sem deixar que o ombro compense em protração. 32 Unidade I Figura 28 – Mobilização passiva em extensão glenoumeral Abdução da articulação glenoumeral • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em abdução. • Execução: segure com a parte mais distal da mão o punho do paciente, mantenha a mão proximal sustentando o cotovelo do paciente e mova o segmento na direção da abdução para realizar o movimento no plano escapular (braço levemente à frente em relação ao plano da maca) associado à rotação externa do úmero. Figura 29 – Mobilização passiva em abdução glenoumeral Adução horizontal da articulação glenoumeral • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em adução. • Execução: a mobilização da adução será realizada no plano horizontal. A partir da abdução horizontal, segure com a parte mais distal da mão o punho do paciente, mantenha a mão proximal 33 CINESIOTERAPIA sustentando o cotovelo do paciente e mova o segmento na direção da adução horizontal para que o membro superior cruze a linha média do corpo. Figura 30 – Mobilização passiva em adução glenoumeral Rotação externa e interna da articulação glenoumeral • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em rotação. • Execução: com a parte distal da mão, segure o punho do paciente; com a mão proximal, estabilize o cotovelo do paciente, rode o braço internamente ou externamente a partir da alavanca do antebraço, levando o antebraço para baixo em direção à maca até a amplitude disponível. A mão estabilizadora também poderá ser colocada anteriormente ao ombro para evitar as compensações em protação da cintura escapular. Figura 31 – Mobilização passiva em rotação interna e externa glenoumeral 34 Unidade I Mobilizações da cintura escapular • Indicações: manter ou ganhar movimento escapulotorácico. • Execução: realize os movimentos de elevação, depressão, protação, retração e rotações escapulares. A clavícula também se move junto com osmovimentos escapulares. Para rotação, direcione os movimentos no ângulo inferior da escápula. Figura 32 – Mobilização passiva da cintura escapular Flexão e extensão do cotovelo • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão ou extensão de cotovelo. • Execução: coloque a sua mão proximal embaixo do cotovelo a ser mobilizado, segure o punho do paciente com a parte distal da mão e mova o segmento do antebraço em direção à flexão ou à extensão. É possível variar a mobilização associada à pronação, supinação ou posição neutra do antebraço. Figura 33 – Mobilização passiva em flexão ou extensão do cotovelo 35 CINESIOTERAPIA Pronação e supinação do antebraço • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em pronação ou supinação. • Execução: cotovelo do paciente fletido próximo de 90 graus para isolar a pronação e a supinação. Envolva o punho e a mão do paciente com a parte distal da mão, estabilize o cotovelo com a outra mão e mova o segmento do antebraço no sentido da pronação ou da supinação, variando a amplitude de flexão e extensão do cotovelo. Figura 34 – Mobilização passiva em pronação e supinação do antebraço Flexão e extensão e do punho • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão ou extensão de punho. • Execução: paciente em decúbito dorsal, braço ao longo do corpo, cotovelo fletido, antebraço em pronação para trabalhar a flexão e em supinação para trabalhar a extensão. O paciente também poderá ser colocado sentado com a mão para fora da mesa. Segure a mão do paciente com a parte distal de sua mão, estabilize o antebraço com sua mão proximal e mova o segmento no sentido da flexão ou extensão dentro da amplitude disponível. 36 Unidade I Figura 35 – Mobilização passiva em flexão do punho Mobilidade intrínseca da mão • Indicações: manter ou ganhar movimento intrínseco da mão. • Execução: envolva com as suas mãos a mão do paciente, abra e feche o arco da mão na amplitude disponível para fazer um achatamento e um arqueamento do arco da mão. Figura 36 – Mobilização passiva intrínseca da mão Flexão e extensão das articulações interfalangeanas • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão ou extensão das articulações interfalangeanas. • Execução: paciente em decúbito dorsal, braço ao longo do corpo, cotovelo fletido, antebraço em pronação. O paciente também poderá ser colocado sentado com a mão para fora da mesa. Segure a mão do paciente com sua mão proximal e, com sua mão proximal, mova o segmento no sentido da flexão ou extensão dentro da amplitude disponível. O mesmo posicionamento poderá ser usado para mobilizar as articulações metacarpofalangeanas. 37 CINESIOTERAPIA Figura 37 – Mobilização passiva em flexão das articulações interfalangeanas 2.3 Técnicas de mobilização articular baseadas na osteocinemática para membros inferiores Flexão do quadril • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão do quadril. • Execução: com a mão proximal, sustente a coxa inferiormente pela porção mais distal, segure a perna ou o pé do paciente com o seu antebraço e mova o segmento em direção à flexão do quadril associada à flexão do joelho. A flexão do joelho será necessária para tirar a tensão dos músculos isquiotibiais. Figura 38 – Mobilização passiva do quadril em flexão 38 Unidade I Extensão do quadril • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em extensão do quadril. • Execução: estabilize a pelve do paciente com sua mão proximal, segure o membro inferior, mantendo o joelho próximo da extensão, enquanto leva o quadril para a amplitude de extensão disponível. Para alcançar a ADM completa de extensão do quadril, não flexionar o joelho no máximo, já que o retofemoral, por ser biarticular, entrará em tensão e limitará a ADM de extensão do quadril. Figura 39 – Mobilização passiva em extensão do quadril Abdução da articulação do quadril • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em abdução do quadril. • Execução: com sua mão proximal, sustente a coxa do paciente pela porção distal, próxima ao joelho, ou apoie-a sobre a pelve, segure o membro inferior próximo ao tornozelo, mantendo o joelho estendido, quadril em rotação neutra, enquanto leva o quadril para a amplitude de abdução disponível. Figura 40 – Mobilização passiva em abdução do quadril 39 CINESIOTERAPIA Adução da articulação do quadril • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em adução do quadril. • Execução: poderá ser usada a mesma posição da figura anterior. Com sua mão proximal, sustente a coxa do paciente pela porção distal, próxima ao joelho, ou apoie-a sobre a pelve, segure o membro inferior próximo ao tornozelo, mantendo o joelho estendido, quadril em rotação neutra, enquanto leva o quadril para a amplitude de adução disponível além da linha média. Rotação interna e externa da articulação do quadril • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em rotação do quadril. • Execução: deixe o quadril e o joelho do paciente a 90 graus de flexão, coloque sua mão proximal na parte distal da coxa, sustente a perna do paciente com a sua mão e antebraço do outro lado e rode a coxa para dentro ou para fora no sentido da rotação que desejar. Figura 41 – Mobilização passiva em rotação interna e externa de quadril Flexão do joelho • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão do joelho. • Execução: estabilize a coxa com a sua mão proximal e leve o quadril para a flexão enquanto leva a perna em direção à flexão do joelho com a parte distal de sua mão, que sustenta o pé do paciente. 40 Unidade I Figura 42 – Mobilização passiva em flexão do joelho Extensão do joelho • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em extensão do joelho. • Execução: poderá ser realizada a posição anterior, no sentido da extensão do joelho, ou como na figura a seguir, nos últimos graus de amplitude, com a coxa apoiada enquanto o terapeuta puxa a perna para cima em extensão. Figura 43 – Mobilização passiva em extensão do joelho Dorsiflexão do tornozelo • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em dorsiflexão do tornozelo. • Execução: com a mão proximal, estabilize a perna do paciente contra a maca; envolva a face plantar do calcanhar do paciente com a parte distal da mão e apoie o antebraço contra a planta do pé e depois mova o tornozelo em direção à dorsiflexão. Se você posicionar o joelho em flexão, poderá obter maior amplitude de dorsiflexão devido à liberação da tensão do gastrocnêmio, que é biarticular. 41 CINESIOTERAPIA Figura 44 – Mobilização passiva em dorsiflexão do tornozelo Flexão plantar do tornozelo • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em flexão plantar do tornozelo. • Execução: com o paciente em decúbito dorsal, como na figura anterior, o terapeuta apoiará uma das mãos sobre a face anterior da tíbia e a outra sobre o dorso do pé, levando o pé para baixo em direção à flexão plantar. Inversão e eversão da subtalar • Indicações: manter ou ganhar movimento articular em inversão ou eversão subtalar. • Execução: apoie a face plantar do calcanhar com uma das mãos e o antebraço na sola do pé do paciente; coloque a outra mão sobre a tíbia para estabilizá-la e mova o calcâneo para dentro ou para fora em direção à inversão ou à eversão. Figura 45 – Mobilização passiva em inversão subtalar 42 Unidade I 2.4 Mobilizações intra-articulares Os movimentos trabalhados na primeira parte prática deste livro-texto são aqueles que o paciente pode fazer voluntariamente, isto é, os movimentos fisiológicos clássicos. Conforme assinalamos, o termo osteocinemática é utilizado quando são descritos os movimentos dos ossos. Os movimentos que serão abordados a seguir referem-se à artrocinemática. São os movimentos que ocorrem dentro da articulação, entre as superfícies articulares, e não podem ser realizados voluntariamente pelo paciente. São os movimentos acessórios da mobilidade intra-articular. Os procedimentos que envolvem separação(tração) ou deslizamento entre as superfícies articulares para diminuir a dor ou para recuperar a mobilidade intra-articular são realizados passivamente. Os principais exemplos serão descritos a seguir. Indicações das mobilizações intra-articulares Para pacientes que apresentam dor, defesa muscular ou espasmo. Os movimentos são aplicados com menor amplitude (grau I e II) e não devem impor um alongamento dos tecidos. Os efeitos terapêuticos acontecem a partir de efeitos neurofisiológicos e mecânicos. Os movimentos oscilatórios e de separação de pequena amplitude estimulam os mecanorreceptores, o que, por consequência, inibe a transmissão de estímulos nociceptivos na medula espinhal e no tronco encefálico. Os movimentos oscilatórios e de separação de pequena amplitude promovem movimento do fluido sinovial, nutrindo a cartilagem articular. Para o objetivo de mobilidade geral e alongamento de tecidos, deve-se usar amplitudes maiores (graus III e IV) (KISNER; COLBY, 2016). Cada mobilização intra-articular tem uma indicação relacionada também a um movimento osteocinemático, já que a osteocinemática trabalha de forma integrada com a artrocinemática. As respectivas indicações serão descritas a seguir. Observação Não esqueça de aplicar a separação grau I associada a cada técnica de deslizamento. 2.5 Técnicas de mobilização intra-articular baseadas na artrocinemática para os membros superiores Articulação glenoumeral • Indicações: para alívio da dor ou mobilidade geral da glenoumeral. • Execução: mover o úmero lateralmente, afastando a cabeça do úmero da cavidade glenoide. 43 CINESIOTERAPIA Figura 46 – Tração articular glenoumeral Deslizamento caudal glenoumeral • Indicações: para aumentar a abdução (grau III), para reposição da cabeça do úmero se estiver posicionada superiormente. • Execução: deslizar a cabeça do úmero inferiormente no grau desejado. Pode ser feito em amplitudes maiores ou menores de abdução e também na posição sentada. Figura 47 – Deslizamento caudal glenoumeral 44 Unidade I Deslizamento posterior glenoumeral • Indicações: para aumentar a flexão e a rotação interna (grau III). • Execução: deslizar a cabeça do úmero posteriormente no grau desejado. Figura 48 – Deslizamento posterior glenoumeral Deslizamento anterior glenoumeral • Indicações: para aumentar a extensão e a rotação externa (grau III). • Execução: deslizar a cabeça do úmero anteriormente e levemente medial no grau desejado. Figura 49 – Deslizamento anterior glenoumeral 45 CINESIOTERAPIA Cotovelo • Indicações: para alívio de dor, para aumentar a flexão ou a extensão. • Execução: aplicar a separação da articulação. Figura 50 – Tração: separação articular Punho • Indicações: para alívio da dor ou mobilidade geral da articulação radiocárpica. • Execução: tracionar a mão no sentido distal ao antebraço, mantendo a articulação na posição neutra. Figura 51 – Tração: separação da articulação radiocárpica 46 Unidade I Deslizamento palmar da articulação radiocárpica • Indicação: para aumentar a extensão do punho. • Execução: terapeuta envolve a mão em torno dos ossos do carpo e mobiliza inferiormente no sentido da palma da mão. Progredir movendo o punho até o fim da amplitude disponível e deslizar na direção definida. Figura 52 – Deslizamento palmar da articulação radiocárpica Deslizamento dorsal da articulação radiocárpica • Indicação: para aumentar a flexão do punho. • Execução: terapeuta envolve a mão em torno dos ossos do carpo e mobiliza superiormente no sentido do dorso da mão. Progredir movendo o punho até o fim da amplitude disponível e deslizar na direção definida. Figura 53 – Deslizamento dorsal da articulação radiocárpica 47 CINESIOTERAPIA Deslizamento dos ossos do carpo • Indicações: mobilidade geral da mão e do punho. • Execução: o terapeuta estabiliza um dos ossos enquanto faz o deslizamento do osso adjacente. Figura 54 – Deslizamento dos ossos do carpo Dedos • Indicações: controle da dor e mobilidade geral dos dedos. • Execução: tracionar o osso mais distal em relação ao osso mais proximal. Essas trações poderão ser aplicadas entre as articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas. Também poderão ser associadas aos movimentos dos dedos. Figura 55 – Tração: separação metacarpofalangeana 48 Unidade I Deslizamentos • Indicações: para aumentar a ADM de extensão ou flexão dos dedos. • Execução: os deslizamentos serão feitos entre os ossos adjacentes no sentido anterior ou posterior. Poderão ser realizados entre as articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas. Figura 56 – Deslizamento posterior da articulação metacarpofalangeana 2.6 Técnicas de mobilização intra-articular baseadas na artrocinemática para os membros inferiores Quadril • Indicações: para alívio da dor ou mobilidade geral do quadril. • Execução: tracionar o eixo longitudinal do membro inferior à medida que o fisioterapeuta inclina o corpo para trás. Figura 57 – Tração: separação articular do quadril 49 CINESIOTERAPIA Deslizamento posterior do quadril • Indicações: para aumentar a flexão e a rotação interna. • Execução: o terapeuta aplica com a parte distal de sua mão uma força no sentido posterior. Figura 58 Deslizamento anterior do quadril • Indicações: para aumentar a flexão e a rotação interna. • Execução: o terapeuta aplica com a parte distal de sua mão uma força anterior sobre a parte posterior do trocânter maior enquanto estabiliza a pelve. Figura 59 50 Unidade I Joelho • Indicações: para controle da dor e mobilidade geral. • Execução: tracionar no eixo longitudinal da tíbia para separar as superfícies articulares. Figura 60 – Tração: separação da articulação tibiofemoral Deslizamentos patelares • Indicações: para aumentar a mobilidade patelar para a flexão do joelho. • Execução: terapeuta posiciona sua mão acima da base da patela e a desliza no sentido caudal, paralelamente ao fêmur. Figura 61 – Deslizamento distal da patela 51 CINESIOTERAPIA Deslizamento mediolateral da patela • Indicação: para aumentar a mobilidade patelar. • Execução: deslizar a patela no sentido medial ou lateral conforme a restrição. Figura 62 – Deslizamento mediolateral da patela Deslizamento anterior da articulação tibiofemoral • Indicação: para aumentar a extensão do joelho. • Execução: forçar com a mão sobre a tíbia proximal no sentido anterior. Figura 63 52 Unidade I Deslizamento posterior da articulação tibiofemoral • Indicações: para aumentar a flexão do joelho. • Execução: o fisioterapeuta deve estender os seus cotovelos, deslocando o seu corpo para cima da tíbia, deslizando-a posteriormente. Figura 64 Articulação tibiofibular proximal • Indicações: para aumentar o movimento da cabeça da fíbula e para reposicionar uma cabeça posicionada posteriormente. • Execução: o fisioterapeuta aplica uma pressão com as eminências tênar e hipotênar contra a face posterior da cabeça da fíbula no sentido anterolateral. Figura 65 – Deslizamento anterior da articulação tibiofibular proximal 53 CINESIOTERAPIA Tornozelo • Indicações: controle da dor e mobilidade geral. • Execução: tracionar o pé com as mãos apoiadas sobre o tálus no sentido distal, fazendo uma inclinação posterior com o seu corpo. Figura 66 – Tração: separação tibiotalar Deslizamento posterior da articulação tibiotalar • Indicação: para aumentar a dorsiflexão. • Execução: empurrar o tálus para que deslize posteriormente em relação à tíbia. O terapeuta deverá manter o cotovelo estendido para aumentar a precisão da manobra. Figura 67 54 Unidade I Deslizamento anterior da articulação tibiotalar • Indicação: para aumentar a flexão plantar. • Execução: empurrar o tálus para que deslize anteriormente em relação à tíbia. O terapeuta deverá manter o cotovelo estendido para aumentar a precisão da manobra. Figura 68 Deslizamento medial ou lateral da articulação subtalar • Indicações: deslizamento medial para aumentar a eversão, e o deslizamentolateral para aumentar a inversão. • Execução: empurrar com a base da mão movendo o calcâneo no sentido lateral ou puxar com os dedos no sentido medial, paralelamente à superfície plantar do calcanhar. O terapeuta deverá manter o cotovelo estendido para aumentar a precisão da manobra. Figura 69 – Deslizamento lateral da articulação subtalar 55 CINESIOTERAPIA Lembrete O fisioterapeuta deve ter em mente qual é o seu objetivo terapêutico para estabelecer o grau que aplicará na ADM. 3 ALONGAMENTO MUSCULAR 3.1 Raciocínio clínico Os exercícios de alongamento estão entre as condutas para manter ou desenvolver mobilidade. A elaboração de um exercício de alongamento dependerá de um conhecimento prévio de anatomia e cinesiologia. Com esse conhecimento, o fisioterapeuta deverá ter em mente que o exercício de alongamento deverá colocar em afastamento a origem e a inserção muscular, considerando-se a ação contrária do músculo, de forma a envolver todas as articulações por onde o músculo passa. Para músculos que possuem mais de uma ação muscular, o exercício deverá incluir uma combinação de todos os movimentos contrários para que o alongamento seja eficiente. O conhecimento da origem e da inserção muscular também possibilita ao fisioterapeuta controlar e corrigir as possíveis compensações que o paciente puder fazer durante o exercício. Vamos entender esse raciocínio aplicado a um alongamento de um músculo do membro inferior e a um músculo do membro superior. Exemplo: os músculos isquiotibiais são extensores do quadril e flexores do joelho, portanto, para alongá-los, deve-se utilizar posicionamentos que coloquem o quadril em flexão e o joelho em extensão, associados a uma anteversão fisiológica da pelve para afastar a origem e a inserção desse grupo muscular adequadamente e obter um alongamento efetivo. No membro superior, destaquemos o músculo bíceps braquial, que é flexor do ombro, flexor do cotovelo e supinador do antebraço. Para alongá-lo, deve-se posicionar o membro em extensão de ombro associado à extensão do cotovelo e pronação do antebraço, sem permitir uma protração do ombro. Para saber qual técnica escolher, serão necessários conhecimentos básicos relacionados à fisiologia do tecido conjuntivo e muscular e aspectos relacionados à neurofisiologia do alongamento e os efeitos do alongamento. Assim, será possível identificar qual o melhor momento para aplicar cada técnica de acordo com o objetivo terapêutico e a condição clínica do paciente e como executar as diferentes técnicas para promover o ganho de flexibilidade. Saiba mais Estude origens, inserções e ações musculares na obra a seguir para entender os posicionamentos dos exercícios: HOUGLUM, P. A.; BERTOTI, D. B. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 6. ed. Barueri: Manole, 2014. 56 Unidade I 3.2 Definições Os termos que serão definidos a seguir são importantes para entender as técnicas e os objetivos terapêuticos do alongamento muscular: • Alongamento: é uma modalidade de exercício que tem como objetivo proporcionar maior flexibilidade, para aumentar o comprimento muscular, possibilitando a uma ou a mais articulações em sequência se moverem em uma determinada ADM. O objetivo do alongamento envolve aumentar ou manter a mobilidade articular, influenciando a extensibilidade dos tecidos moles que atravessam as articulações (HARVEY et al., 2010). • Flexibilidade: é definida como a amplitude máxima fisiológica de um dado movimento articular, habilidade de mover uma articulação ou uma série de articulações de modo regular e fácil por toda a ADM normal, sem restrição ou dor. Derivada do latim flectere (dobrar-se) ou flexibilis (dobradiço), a palavra flexibilidade é definida como “qualidade do que é flexível, maleável; facilidade e ligeireza de movimento” (ALTER, 2010). A flexibilidade dos tecidos periarticulares pode influenciar a amplitude e a economia de um movimento. No esporte, a ADM será importante para a execução técnica de certos gestos esportivos que exigem amplitude extrema de algumas articulações. Na reabilitação, o alongamento é usado para manter ou recuperar as amplitudes de movimentos necessárias para a realização de atividades de vida diária, laborais ou esportivas (GUISSARD; DUCHATEAU, 2006) • Flexibilidade ativa: é a máxima amplitude que se pode obter através de movimentos efetuados pelos músculos de forma voluntária. Outro termo que pode ser utilizado é a flexibilidade dinâmica, que se refere à habilidade de usar certa ADM no desempenho de uma atividade física em velocidade normal ou rápida (ALTER, 2010). • Flexibilidade passiva: é a máxima amplitude articular que se consegue em um movimento através da ação de uma segunda pessoa, aparelhos, força da gravidade etc. • Contratura: é o encurtamento adaptativo da unidade musculotendínea e de outros tecidos moles que cruzam uma articulação, resultando em resistência significativa ao alongamento passivo ou ativo e limitações da ADM. • Hipomobilidade: refere-se à mobilidade diminuída. As restrições de mobilidade podem variar de um leve encurtamento muscular adaptativo até contraturas irreversíveis (KISNER; COLBY, 2016). 3.3 Fisiologia do alongamento, aspectos mecânicos e neurofisiológicos É essencial compreender a biofísica do músculo e do tecido conjuntivo sob os vários tipos de estresse para determinar os meios ótimos de aumentar a ADM. Ao lidar com os tecidos moles, deve-se considerar suas respostas mecânicas, elétricas e bioquímicas. Além disso, com seres humanos, é preciso levar em conta fatores não biofísicos, como sensações (prazer e dor) e emoções (medo, motivação, euforia) (ALTER, 2010). 57 CINESIOTERAPIA 3.4 Características mecânicas envolvidas no alongamento muscular Sempre que um tecido ou material é submetido a uma força, poderá ocorrer alguma mudança na sua forma ou tamanho, o que dependerá do tipo de força, intensidade, temperatura e duração da força. Quando uma força de tensão é aplicada ao material e seu comprimento aumenta, esse aumento é uma deformação axial ou de tensão; em termos mais simples, o alongamento é o processo de esticar. Portanto, a aplicação de uma força de tensão é a parte fundamental de qualquer programa de treinamento de flexibilidade ou de reabilitação destinado a incrementar a ADM (ALTER, 2010). Para entender o comportamento dos tecidos moles no alongamento, é importante conhecer algumas propriedades: • Extensibilidade: é a capacidade do músculo de ceder às forças de tração; é o quanto o músculo permite ser esticado. A extensibilidade é conhecida como distensibilidade ou capacidade de alongamento. Distensibilidade é a capacidade do músculo se alongar em resposta a uma força externa aplicada. Se você pegar um elástico e esticá-lo, o quanto ele permite ser distendido representará a sua extensibilidade. No caso do músculo, a resistência ao alongamento (o quanto ele permitirá ser distendido) é influenciada por fatores neurais e por fatores mecânicos. Quanto maior a rigidez do tecido mole, maior deverá ser a força necessária para produzir o alongamento. Clinicamente, os tecidos mais rígidos necessitam de maior força e duração de alongamento, como será visto em alguns idosos ou em tecidos que permaneceram muito tempo imobilizados, por exemplo (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016). • Plasticidade: é a capacidade de um material assumir um novo comprimento ou a propriedade de deformação permanente do material quando a carga aplicada ultrapassa o limite elástico. Observe um exemplo prático de deformação plástica permanente: um saco plástico que permaneceu esticado e se deformou e assim se manteve mesmo após a força de alongamento ser removida (ROSÁRIO; MARQUES; MALUF, 2004). Isso pode acontecer em um estiramento muscular, por exemplo, quando o mecanismo de lesão ultrapassou, portanto, o limite elástico do tecido. Outra situação envolve as mudanças estruturais do colágeno que ocorrem no tecido conjuntivo, através do remodelamento das fibras de colágeno e da redistribuição
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