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26 Pacientes fazendo uso de bisfosfonatos Eduardo Dias de Andrade Luciana Asprino Os bisfosfonatos (BFs) constituem uma classe de medicamentos que diminuem a reabsorção óssea pelos osteoclastos, propiciando um tecido ósseo de alta densidade.1 Esses compostos são utilizados no tratamento de doenças que afetam o metabolis- mo ósseo em associação com excessiva reabsorção, como a osteoporose pós-menopausa e a doença de Paget, e nos casos de hipercalcemia maligna ou me- tástases ósseas osteolíticas, estas últimas comuns em câncer de mama, pulmão ou próstata.2 Além de reduzir o tempo de vida útil e a fun- ção dos osteoclastos, interferindo no processo de remodelação óssea, os BFs também promovem efei- tos inibitórios sobre mediadores da inflamação, in- fluenciando no processo de reparo de lesões ósseas. O tecido ósseo adulto é caracterizado pela pre- sença de cálcio e fosfato, na forma de cristais de hi- droxiapatita, elemento responsável pela função de apoio mecânico e pelo qual os BFs têm alta afinida- de. Isso pode explicar o longo período de retenção dos BFs no tecido ósseo, que pode chegar ou mes- mo ultrapassar os dez anos.3 Pelo fato de não serem metabolizados, especula-se que o uso prolongado dos BFs possa afetar o processo de remodelação ós- sea por muitos anos, mesmo após a interrupção do tratamento.3 Isso deve ser levado em consideração por ocasião do plano de tratamento odontológico. O uso clínico dos BFs teve início em 1994. Em 2004 foi publicada a primeira série de relatos que alertavam sobre seu efeito adverso mais devastador, a osteonecrose dos maxilares (ONJ, de osteonecrosis of the jaw), principalmente quando administrados pela via intravenosa.4 Há quatro hipóteses acerca das causas da oste- onecrose induzida pelos BFs: antiangiogênese, toxi- cidade à mucosa local, fatores genéticos e supressão da remodelação óssea mediada pelos osteoclastos, esta última a mais aceita por ser baseada em evi- dências científicas.5 A etiopatogenia da ONJ ainda não se encontra bem esclarecida, mas parece ser o resultado de uma complexa interação entre o metabolismo e a remo- delação óssea, o trauma local, a má vascularização sanguínea, a infecção e o uso dos BFs.6- 8 A potência do bisfosfonato e a duração do tra- tamento parecem guardar uma relação direta com o quadro de osteonecrose dos maxilares. Pacientes submetidos a cirurgias bucais apresentam risco sete vezes maior para adquirir o problema, sendo que a mandíbula é mais afetada do que a maxila.9 A Tabela 26.1 traz os BFs atualmente comer- cializados no Brasil, com suas indicações, potência relativa e vias de administração. Mais recentemente, em novembro de 2011, foi publicado um resumo das recomendações do Con- selho de Assuntos Científicos da American Dental Association (ADA) sobre os cuidados adicionais no atendimento de pacientes recebendo terapia an- Andrade_26.indd 232Andrade_26.indd 232 23/09/13 13:1823/09/13 13:18 Terapêutica Medicamentosa em Odontologia 233 tirreabsortiva para a prevenção e o tratamento da osteoporose.10 No painel anterior, divulgado pela ADA em 2008, foi criado o termo “osteonecrose dos maxi- lares associada aos bisfosfonatos”. Após isso, po- rém, foi introduzido no mercado um novo agente antirreabsortivo que não pertence à classe dos BFs, o denosumab, para tratamento de mulheres com os- teoporose pós-menopausa, especialmente quando há complicações renais graves.10 No Brasil, o me- dicamento original do desonumab é disponibiliza- do com o nome fantasia de Prolia®, e por enquanto ainda não é fornecida na rede pública. Segundo o Conselho da ADA, já foi relatado um caso de osteonecrose dos maxilares em um pa- ciente com câncer tratado com o denosumab.11 Ou- tros agentes antirreabsortivos, incluindo os inibido- res da catepsina K, também podem estar associados ao problema. Dessa forma, agora foi proposto que todos os casos relatados de ONJ, relacionados a tra- tamentos com agentes antirreabsortivos, recebam o nome de “osteonecrose dos maxilares induzida por agentes antirreabsortivos” (antiresorptive agent- -induced ONJ ‒ ARONJ). Com base numa ampla revisão da literatura científica e nas opiniões de especialistas, o Conse- lho de Assuntos Científicos da ADA chegou às se- guintes conclusões:10 1. O risco de um paciente que não tem câncer desenvolver ARONJ parece ser muito baixo, com uma prevalência estimada em 0,1% numa grande amostra de indivíduos. 2. A ARONJ pode ocorrer de forma espontânea, mas pode estar associada a condições médicas ou odontológicas específicas (qualquer inter- venção que aumente o risco de traumatismo ósseo). Mais comumente, porém, se manifesta após extrações dentárias. 3. Idade > 65 anos, doença periodontal, uso de próteses dentárias, tabagismo, diabetes e uso prolongado de BFs (> 2 anos) estão relaciona- dos com a incidência de ARONJ. O uso crôni- co de corticosteroides parece não ser um fator de risco consistente. 4. O médico que prescreve ou está pretendendo prescrever um agente antirreabsortivo deve in- formar o dentista que trata deste paciente. 5. O cirurgião-dentista deve investigar a história médica do paciente com relação a osteoporose, osteopenia e o uso de agentes antirreabsortivos. 6. Embora nem o médico nem o dentista possam eliminar a possibilidade de desenvolvimento da ARONJ, as consultas odontológicas regu- lares e a manutenção de uma ótima higiene bucal são condições essenciais para diminuir o risco da doença. Este documento também traz as recomenda- ções gerais para o tratamento odontológico de pa- cientes que farão ou já fazem uso de agentes antir- reabsortivos. Na maioria das vezes, os dentistas não precisam mudar a rotina do tratamento dentário somente porque o paciente faz uso desses medica- mentos. A discussão dos riscos e dos benefícios do tratamento dentário deve ser feita de forma clara e objetiva. Deve-se explicar ao paciente os riscos de desenvolver ARONJ, qual o significado clínico da doença, suas consequências e formas de tratamen- to. Também se deve propor tratamentos alternati- vos que não envolvam procedimentos cirúrgicos com traumatismo do tecido ósseo. Tabela 26.1 Algumas características dos principais BFs disponíveis comercialmente no Brasil Nome genérico Indicações Potência relativa Via de administração Etidronato Paget 1x Intravenosa Tiludronato Paget 10x Oral Clordronato Neoplasias 10x Intravenosa/Oral Pamidronato Paget e neoplasias 100x Intravenosa Alendronato Osteoporose 500x Oral Ibandronato Osteoporose 1.000x Intravenosa/Oral Risedronato Osteoporose 2.000x Oral Zoledronato Paget e neoplasias 10.000x Intravenosa Fonte: Adaptada de Ferreira e colaboradores.8 Andrade_26.indd 233Andrade_26.indd 233 23/09/13 13:1823/09/13 13:18 234 Eduardo Dias de Andrade Da mesma forma, o profissional deve informar seus pacientes de que o risco de ocorrer a doença é baixo, mas não pode ser eliminado, e que atual- mente não há nenhum exame ou técnica diagnósti- ca validada que possa predizer quais pacientes são de menor ou maior risco para a ARONJ. A interrupção do tratamento com os BFs pode não eliminar o risco de desenvolver a osteonecro- se dos maxilares. Por outro lado, pode causar um impacto negativo no tratamento da perda de mas- sa óssea, seja pela osteoporose ou pelas neoplasias. Assim, os problemas dentários devem ser bastante significativos para que se pense em descontinuar a medicação antirreabsortiva. De qualquer forma, os pacientes com doenças dentárias ou periodontais ativas devem ser tratados a despeito do risco de ARONJ. Cáries, abscessos periapicais ou doença periodontal não tratados po- dem acarretar complicações que irão requerer tera- pias mais complexas. RECOMENDAÇÕES DE TRATAMENTO PARA CONDIÇÕES ESPECÍFICAS Tratamento de doenças periodontais Pacientes sob terapia com agentes antirreabsorti- vos e portadores de doenças periodontais crôni- cas devem ser tratados de forma conservadora. A descontaminação dos sítiosinfectados, por meio de instrumentação mecânica, combinada com re- avaliações periódicas, pode ser considerada como a melhor conduta. No entanto, isso não significa que as cirurgias de acesso e outros procedimentos cirúrgicos periodontais sejam contraindicados nes- ses pacientes. Não há estudos publicados até o momento sobre o risco de ARONJ após procedimentos de regeneração tecidual guiada ou enxertos ósseos. O emprego de tais técnicas deve ser avaliado de forma criteriosa, em função das necessidades do paciente.10 Como as exodontias se constituem no maior fator de risco para a ARONJ, o profissional deve monitorar regularmente os pacientes portadores de doença periodontal crônica, com o objetivo de impedir sua progressão para o ponto no qual as ex- trações dentárias sejam imprescindíveis. Os pacientes fazendo uso de BFs e que não apresentam doença periodontal devem receber tra- tamento preventivo e orientações sobre os cuidados domiciliares de higiene bucal. Tratamento endodôntico Em pacientes com maior risco de desenvolver ARONJ, nos casos em que o dente pode ser salvo, o tratamento endodôntico é preferível à exodontia. Os profissionais devem empregar técnicas endo- dônticas de rotina, devendo-se evitar a manipula- ção além do ápice. Evidências científicas, embora limitadas, mostram que a cura dos tecidos peria- picais após tratamento endodôntico é semelhante, independentemente do histórico do uso de BFs.10 As recomendações para os procedimentos ci- rúrgicos endodônticos são idênticas às de qualquer outra cirurgia bucal. Restaurações e colocação de próteses Não há evidências de que as forças mastigatórias ou a má oclusão aumentem o rico de desenvolver ARONJ. Os dentistas devem proceder rotineira- mente, com o cuidado de minimizar o impacto so- bre o osso, de forma a não aumentar o risco de in- fecção. Para evitar traumatismos e ulcerações com possível exposição óssea, os aparelhos protéticos devem estar perfeitamente ajustados.10 Tratamento ortodôntico Embora a maioria dos pacientes que necessitam da ortodontia seja constituída de crianças e adolescen- tes, tem aumentado o número de adultos que pro- curam esse tipo de tratamento. A ortodontia é a única das especialidades odontológicas cujo tratamento se baseia no tênue equilíbrio entre a função dos osteoclastos e osteo- blastos. Embora não haja estudos suficientes que avaliaram a relação dos efeitos dos BFs no trata- mento ortodôntico, dois relatos de casos mostra- ram a inibição dos movimentos dentários em pa- cientes tratados com tais medicamentos. Portanto, os pacientes devem ser informados sobre essa pos- sível complicação.12 Os ortodontistas devem ter ciência do proble- ma da ARONJ e entender as alterações na fisiologia óssea causadas pela terapia antirreabsortiva. Como a duração do tratamento ortodôntico pode ser lon- ga e previsível, o movimento uniforme dos dentes pode ser comprometido com o uso dos BFs.10 Andrade_26.indd 234Andrade_26.indd 234 23/09/13 13:1823/09/13 13:18 Terapêutica Medicamentosa em Odontologia 235 Cirurgias ortognáticas e exodontias requerem maior reparo ósseo e remodelação. As considera- ções ortodônticas relacionadas a esses casos devem incluir os riscos potenciais da cirurgia, bem como o movimento dentário tardio pós-cirúrgico. O pla- nejamento do tratamento, nesses casos, pode exigir maior vigilância. Cirurgia bucal e maxilofacial Quando não se obtém sucesso com outras formas de tratamento das doenças dentárias ou periodon- tais, a intervenção cirúrgica muitas vezes é a única alternativa. Os médicos devem informar seus pacientes que fazem uso dos BFs, e que irão se submeter a pro- cedimentos cirúrgicos bucais, de que existe o risco, ainda que pequeno, de desenvolver ARONJ. Embo- ra as cirurgias não sejam totalmente contraindica- das, o médico deve entrar em contato com o dentis- ta para discutir planos alternativos de tratamento. Quando as cirurgias forem necessárias, o den- tista deve considerar uma técnica conservadora com fechamento da ferida como primeira intenção. A co- locação de membranas semipermeáveis sobre a feri- da cirúrgica pode ser apropriada caso a sutura básica não seja possível. Além disso, antes e depois dos pro- cedimentos cirúrgicos envolvendo tecido ósseo, o paciente deve ser orientado a bochechar suavemente uma solução de digluconato de clorexidina 0,12% até completar o processo de reparo (2 vezes ao dia, du- rante 4-8 semanas, é o regime mais preconizado).10 Há algumas evidências de que a profilaxia an- tibiótica sistêmica, iniciada um dia antes e esten- dendo-se por três a sete dias após os procedimen- tos cirúrgicos, pode ser benéfica na prevenção da ARONJ. Num estudo clínico comparativo com 75 voluntários submetidos a procedimentos cirúrgi- cos, dos quais 43 receberam profilaxia antibiótica, foram constatados oito casos de ARONJ, todos ocorrendo em sujeitos do grupo controle.13 Outro estudo prospectivo testou um protoco- lo para diminuir o risco de ARONJ em 23 sujeitos tratados com BFs intravenosos (na maioria com o alendronato) e que necessitavam de exodontias. O protocolo consistiu no prévio controle local da placa dentária (mecânico e químico, por meio de clorexidina), associado à profilaxia antibiótica. Fo- ram realizadas 38 extrações dentárias, não sendo constatado nenhum caso de ARONJ num período médio de avaliação pós-operatória de 229 dias.14 Múltiplos fatores parecem estar relacionados à incidência de ARONJ, porém três podem ser des- tacados: duração da terapia com BFs, uso pela via intravenosa e cirurgia dentoalveolar. Portanto, no plano de tratamento odontológico de pacientes que fizeram uso de BFs intravenosos, por mais de três anos, a cirurgia dentoalveolar deve ser evitada. Pa- ralelamente, deve-se instituir medidas preventivas para evitar a necessidade de exodontias. Colocação e manutenção de implantes dentários Em alguns estudos de curto prazo, pesquisadores examinaram o risco de ARONJ e da falha de im- plantes dentários em pacientes com história de uso de BFs por via oral ou intravenosa. Num desses estudos, 61 indivíduos (cuja du- ração média do uso oral dos BFs foi de 3,3 anos) foram acompanhados pelo período de 1-2 anos após a colocação de implantes dentários, não sen- do constatado nenhum caso de ARONJ ou falha do implante.15 Numa outra amostra, 42 sujeitos tratados com BFs pela via oral (intervalo de 6 meses a 11 anos) e que receberam 101 implantes, foi observada uma taxa de sucesso de 95% dos implantes e nenhum caso de ARONJ.1 Resultados similares foram demonstrados em outro ensaio clínico,16 pois nenhum caso de ARONJ foi observado após a colocação de 468 implantes dentários em 115 sujeitos tratados com BFs pela via oral, com taxa de sucesso dos implantes de 99,6%. Em outro experimento, 121 implantes foram colocados em 55 voluntários tratados com BFs (um terço dos quais há mais de 5 anos), comparado a um segundo grupo de 82 sujeitos que não recebe- ram tratamento com a medicação antirreabsortiva, sendo colocados 166 implantes. Não houve casos de ARONJ em nenhum dos grupos. As taxas de su- cesso dos implantes dentários foram de 99,2% em usuários e 98,2% em não usuários de BFs.17 Na opinião do Conselho de Assuntos Cientí- ficos da ADA, esses dados são encorajadores. Os dentistas podem informar o paciente de que o risco de desenvolver ARONJ como resultado de terapia antirreabsortiva é baixo, e que as taxas de sucesso para implantes colocados em pacientes que recebe- ram tratamento com BFs são praticamente as mes- mas que para implantes colocados em pacientes sem história do uso desses medicamentos.10 Andrade_26.indd 235Andrade_26.indd 235 23/09/13 13:1823/09/13 13:18 236 Eduardo Dias de Andrade Com os dados atualmente disponíveis, a tera- pia antirreabsortiva parece não ser uma contrain- dicação absoluta para a colocação de implantes dentários. No entanto, não resta dúvida de que mais estudos longitudinais em maiores populaçõespo- derão confirmar ou não essa hipótese.10 Deve ser ressaltado que as conclusões e reco- mendações que constam do relatório, baseadas na análise crítica de relevantes evidências científicas, não representam um protocolo de atendimento. Devem apenas ser integradas com o julgamento do profissional e com as necessidades e preferências do paciente.10 Vale ressaltar, ainda, que há dados suficientes para justificar, com segurança, a indicação de reabi- litação com implantes osseointegráveis em usuários de BFs pela via oral. Ao contrário, nos usuários por via intravenosa, deve-se restringir essa indicação. Como ainda não há consenso sobre os riscos de ARONJ em pacientes que fazem uso de BFs (ou de outros antirreabsortivos ósseos), o cirurgião-den- tista deve se precaver e elaborar um termo de con- sentimento livre e esclarecido, por escrito, para que o paciente possa autorizar a execução do tratamento proposto, após ser informado detalhadamente sobre os riscos e benefícios do procedimento. Há como predizer o grau de risco para a ARONJ? Devido ao fato de a maioria dos casos de ARONJ desenvolver-se após cirurgia dentoalveolar, como extrações dentárias e instalação de implantes, es- forços têm sido feitos para definir possíveis detec- tores do risco de ARONJ em cada paciente para, a partir dessa definição, ser estabelecido o plano de tratamento. A dosagem dos marcadores biológicos que evidenciam a remodelação óssea pode ser útil na detecção do risco de ARONJ. Pelo menos três marcadores já foram avaliados quanto a essa pos- sibilidade: o CTX-plasmático, o nível de hormônio paratireóideo (PTH) e a dosagem sérica de fosfata- se alcalina. O CTX-plasmático, produto da degradação do colágeno tipo I, principal componente da matriz óssea orgânica, é um marcador bioquímico de re- modelação óssea, sendo empregado para se estimar o nível da atividade metabólica do tecido ósseo em pacientes com osteopenia ou osteoporose.10 Já foi sugerido que a dosagem do CTX tam- bém permite avaliar o nível da atividade metabólica do osso mandibular e predizer o risco de desenvol- ver ARONJ. Dessa forma, poderia contribuir para que médicos e dentistas decidam quanto ao melhor momento para intervir cirurgicamente junto ao te- cido ósseo. Diferentes investigadores têm defendido a do- sagem do CTX-plasmático para prever o risco de desenvolver ARONJ,18-22 enquanto outros autores ainda questionam sua utilidade.23-25 A primeira aplicação clínica da dosagem desse marcador para prevenir a ARONJ foi relatada por Marx e colaboradores,18 que propuseram três graus de risco para a osteonecrose dos maxilares após ci- rurgias bucais, em função dos níveis plasmáticos de CTX, com o paciente em jejum (Tab. 26.2). Com base no resultado desse exame, os auto- res recomendam que as cirurgias bucais não sejam programadas até que o CTX plasmático atinja < 150 pg/mL, e que para tal a terapia com os BFs seja sus- pensa por 4-6 semanas até atingir esse limiar.18 Kunchur e colaboradores19 concluíram que o CTX não é preditivo para a ARONJ, se for conside- rado o paciente individualmente, mas reconhecem que valores entre 150-200 pg/mL colocam-no na faixa de “alto risco”. Lazarovici e colaboradores20 avaliaram o CTX- -plasmático, o nível de PTH e a dosagem sérica de fosfatase alcalina em 78 pacientes usuários de BFs e submetidos a cirurgia dentoalveolar. Os autores verificaram que valores de CTX < 150 pg/mL esta- vam significativamente associados a ARONJ e que o nível de fosfatase alcalina foi menor nos pacientes que desenvolveram ARONJ. Já o nível de PTH foi similar entre os pacientes que desenvolveram ou não ARONJ. Assim, concluíram que a dosagem de CTX deve ser realizada nos pacientes usuários de BFs candidatos a cirurgia oral e que o nível de fosfa- tase alcalina pode ter benefício adicional. Na opinião do Conselho de Assuntos Cientí- ficos da ADA,10 ainda não há evidências científicas suficientes para recomendar o uso desse exame ou de outros testes sorológicos como preditores de ris- Tabela 26.2 Nível plasmático de CTX e grau de risco para a ARONJ após cirurgias bucais Concentração plasmática de CTX (pg/mL) Grau de risco para ARONJ > 150 Baixo 100-150 Médio < 100 Alto Andrade_26.indd 236Andrade_26.indd 236 23/09/13 13:1823/09/13 13:18 Terapêutica Medicamentosa em Odontologia 237 co para ARONJ. Além disso, não há informações suficientes para recomendar a interrupção do tra- tamento com fármacos antirreabsortivos ósseos ou períodos de espera antes de realizar o tratamento cirúrgico odontológico para a prevenção da osteo- necrose dos maxilares. Como tratar a ARONJ? O tratamento dos pacientes com ARONJ ainda se constitui num desafio, pois muitas vezes até mesmo as intervenções cirúrgicas não conseguem erradicar o processo. Alguns autores defendem a suspensão da te- rapia antirreabsortiva; no entanto, cada caso deve ser julgado individualmente, pois a suspensão da medicação não deve ser baseada na presença da ARONJ, mas sim na doença e no estado atual do paciente. Devemos ter em mente que a suspensão da terapia pode ter consequências sérias, como o desenvolvimento de metástases ósseas, a progres- são de lesões osteolíticas e a recorrência da dor. Diversos protocolos de tratamento são des- critos, incluindo medidas de higiene bucal, uso de antissépticos na forma de bochechos, antibiotico- terapia sistêmica, debridamento local superficial, ressecção óssea, oxigenoterapia hiperbárica e debri- damento local associado com plasma rico em pla- quetas ou com retalho cirúrgico para fechamento da ferida em camadas. De qualquer modo, o objetivo do tratamento de pacientes com a doença ativa é a preservação da qualidade de vida, por meio do controle da dor, de cuidados com a infecção e da prevenção do apa- recimento de novas áreas de necrose e de fraturas patológicas.5 Ruggiero,5 na sua mais recente publicação, propõe o algoritmo apresentado na Figura 26.1 para o tratamento da ARONJ, de acordo com o es- tágio da doença. REFERÊNCIAS 1. Bell BM, Bell RE. Oral bisphosphonates and dental implants: a retrospective study. J Oral Maxillofac Surg. 2008;66(5):1022-4. 2. Lipton A. New therapeutic agents for the treatment of bone diseases. Expert Opin Biol Ther. 2005;5(6):817- 32. 3. Russell RG, Watts NB, Ebetino FH, Rogers MJ. Me- chanisms of action of bisphosphonates: similarities and differences and their potential influence on cli- nical efficacy. Osteoporos Int. 2008;19(6):733-59. Exposição óssea em paciente em terapia antirreabsortiva Sem sinais ou sintomas de infecção Acompanhamento de 6-8 semanas Antisséptico oral Cuidados de higiene bucal Debridamento de sequestro ósseo, se necessário Dor, evidência clínica de infecção Antisséptico oral Analgésicos Antibioticoterapia via oral Debridamento de sequestro ósseo, se necessário Dor, infecção, necrose óssea extensa, fístula extraoral, fratura Antisséptico oral Analgésicos Antibioticoterapia VO ou EV Debridamento ou ressecção cirúrgica Figura 26.1 Recomendações para o tratamento da ARONJ, de acordo com o estágio clínico. Fonte: Adaptada de Ruggiero.5 Andrade_26.indd 237Andrade_26.indd 237 23/09/13 13:1823/09/13 13:18
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