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1 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI PNEUMONIA CONCEITO Pneumonia é todo e qualquer processo inflamatório agudo do parênquima pulmonar decorrente da infecção por algum microorganismo. Ocorre preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório, contendo neutrófilos e exsudato purulento com debris celulares e com os agentes causadores. Caracterizada em pneumonite ou alveolite, lesão caracterizada por um infiltrado inflamatório localizado principalmente (mas não exclusivamente) nos septos alveolares, que representam o interstício do órgão. São classificadas em: PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE (PAC): doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48h da admissão na unidade assistencial. PNEUMONIA ASSOCIADA AOS CUIDADOS DE SAÚDE (PACS): ocorre em pacientes que se encontram institucionalizados, que estiveram hospitalizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes, que tem contato frequente com instituições de saúde ou que estão imunossuprimidos. EPIDEMIOLOGIA A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é a causa comum de morbidade e mortalidade, com aproximadamente 20% dos episódios resultando em hospitalização. A incidência mundial de PAC é estimada em 8 a 15 casos por 1000 indivíduos/ano. No Brasil, esses números chegariam a 2 milhões de casos ao ano. Segundo dados obtidos pelo DATASUS, as pneumonias (em geral) são as primeiras causa de morte dentre as doenças respiratórias e a quinta causa de morte entre brasileiros adultos. Dessa forma, 5% de todas as mortes no Brasil são causadas por pneumonia. FATORES DE RISCO DESNUTRIÇÃO: fragiliza o sistema imunológico; IDADE AVANÇADA: imunodepressão e aumento da colonização faríngea por gram-negativos; ÁLCOOL EM EXCESSO: diminui o reflexo da tosse e afeta a migração dos leucócitos; TABAGISMO: aumenta as secreções pulmonares e altera função ciliar; DOENÇA HEPÁTICA OU RENAL: diminui a formação de anticorpos e a função dos leucócitos; DIABETES MELLITUS: diminui a função e a mobilização dos leucócitos; OUTROS: deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa, ICC, DPOC, neoplasias malignas, fibrose cística e bronquiectasia. ETIOLOGIA PNEUMONIA TÍPICA: S. Pneumoniae, Haemophilus Influenzae, Moraxella Catarrhalis, Staphylococcus Aureus, Estreptococos do grupo A, Bactérias gram- negativas aeróbicas, Bactérias microaerofílicas e anaeróbios. PNEUMONIA ATÍPICA: Legionella Spp, Mycoplasma Pneumoniae, Chlamydia Pneumoniae, Chlamydia Psittaci, Coxiella Burnetii. Vírus respiratórios: Influenza A e B, Rinovírus, Adenovírus, Coronavírus e etc. PNEUMONIA ADQUIRIDA NO HOSPITAL: causada principalmente pelo Staphylococcus aureus resistentes à meticilina. Outra bactérias que também pode acometer são: Acinetobacter Baumannii e S. Maltophilia. 2 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI FISIOPATOLOGIA Streptococcus pneumoniae: A bactéria se multiplica nos espaços alveolares (que se comunicam entre si pelos poros de Kohn) e libera substancias com efeito vasodilatador e alto poder quimiotáxico pra neutrófilos. O processo pneumônico se instala e evolui em 4 fases sucessivas: 1) Congestão: as bactérias se multiplicam rapidamente no interior dos alvéolos, os vasos dilatam-se ingurgitando-se de sangue – um exsudato fibrinoso, com poucos neutrófilos, já pode ser visto no espaço alveolar. 2) Hepatização vermelha: exsudação de hemácias, neutrófilos e fibrina para o interior dos alvéolos – o espaço alveolar já se encontra totalmente ocupado por este exsudato (o aspecto macroscópico do lobo pulmonar acometido é semelhante ao fígado por isso chama hepatização). 3) Hepatização cinzenta: as hemácias começam a se desintegrar e o exsudato passa a conter basicamente neutrófilos e debris celulares. 4) Resolução ou organização: o exsudato celular dá lugar a um material semifluido e granulado, formado pelos debris das células inflamatórias, os quais vão sendo consumidos por macrófagos até a completa resolução do processo. A ocupação total do espaço alveolar pelo exsudato neutrofílico pode ocorrer numa grande área do parênquima – consolidação alveolar. PNEUMONIA LOBAR BRONCOPNEUMONIA Consolidação alveolar extensa, ocupando uma grande área do parênquima pulmonar, como um lobo inteiro – Streptococcus pneumoniae. Consolidação alveolar multifocal (múltiplos focos acinares) que predominam na região peribrônquica – qualquer agente, mais comum!! O surfactante alveolar é rico em substâncias de efeito antibacteriano como IgG, IgM, complemento, fibronectina, lisozimas e proteínas ligadoras de ferro. Os anticorpos antibacterianos específicos agem de duas formas: IgM: ativa o sistema complemento capaz de destruir a bactéria pelo seu poder lítico. IgG: reveste a superfície bacteriana, permitindo o seu reconhecimento pelos fagócitos alveolares. No interior dos alvéolos encontram-se alguns macrófagos, responsáveis pelo primeiro ataque fagocítico às bactérias. Se a virulência for alta eles consegue sem multiplicar mesmo na presença de macrófagos alveolares. Algumas bactérias consegue se proteger do sistema humoral pela liberação de exotoxinas e pela presença de uma cápsula polissacarídica, como no caso das pneumococos. Quando os macrófagos não conseguem conter a proliferação bacteriana, passam a servir de mediadores de resposta inflamatória, liberando citocinas, como TNF-a, IL-1 e fatores de quimiotaxia para neutrófilos, como IL-8, o C5a e o leucotrieno B4. VIAS DE COLONIZAÇÃO: ASPIRAÇÃO: essencial que o agente infeccioso inicialmente colonize a orofaringe, para que possa ser aspirado. Imunodepressão, internação hospitalar, idade avançada e presença de comorbidades são condições que aumentam a probabilidade de colonização da orofaringe por bactérias Gram- negativas. OBS: a idade avançada e determinadas afecções debilitantes, como DPOC, DM e alcoolismo, podem modificar a flora colonizadora por reduzir a quantidade fibronectina do epitélio, permitindo a exposição de receptores das células epiteliais para agentes gram-negativos aeróbios. INALAÇÃO: é um mecanismo muito importante nas pneumonias por Legionella sp. e Mycoplasma pneumoniae. VIA HEMATOGÊNICA: é a implantação nos pulmões de agentes infecciosos circulantes na corrente sanguínea. Um exemplo é a 3 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI presença de infecções em partes moles por Staphylococcus aureus e a presença de endocardite infecciosa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS TÍPICO: Início hiperagudo (2-3 dias) Calafrios com tremores Febre alta Dor pleurítica Tosse produtiva com expectoração purulenta (esverdeada) Estertoração pulmonar Taquipneia (FR > 24) Taquicardia (FC > 100) Síndrome de consolidação pulmonar (broncofonia, aumento do FTV, submacicez, pectorilóquia fônica) Derrame pleural (MV diminuído ou abolido, FTV diminuído ou abolido, submacicez e egofonia) Exames laboratoriais: Hemograma: leucocitose neutrofílica (15.000-35.000) com desvio para a esquerda. Gasometria arterial: hipoxemia (grave se PaO2 < 60 mmHg), alcalose respiratória. Raio-X do tórax: Pneumonia do lobo pesado ou pneumonia de Friedlander: (tipo especial de pneumonia lobar, onde o comprometimento do lobo superior provoca abaulamento da cissura): Klebsiella pneumoniae. Geralmente observada em alcóolatras ou diabéticos. Pneumatocele: (cistos com paredes finas, decorrentes da passagem de ar para o interstício subpleural através de pequenas roturas bronquiolares. Não exigem drenagem, pois regridem com a antibioticoterapia):Staphylococcus aureus. Pneumonia necrosante/abcesso: pensar em: anaeróbios (pneumonia aspirativa), Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae sorotipo 3. Quando as lesões cavitárias são pequenas (< 2 cm), usa-se a denominação pneumonia necrosante, e quando a lesão cavitária é grande (> 2 cm), contendo nível hidroaéreo ➔ abscesso pulmonar. Pneumonia redonda: (manifesta-se na radiografia de tórax como uma condensação de formato arredondado, chamada de pseudotumor): Streptococcus pneumoniae ATÍPICO: Início subagudo (10 dias) Sintomas gerais de uma síndrome gripal: dor de garganta, mal estar, mialgia, cefaleia, tosse seca e febre Tosse piora na primeira semana Estertores crepitantes ou sibilos Exames laboratoriais: Hemograma: leucocitose neutrofílica (20%). Raio-X do tórax: Os infiltrados costumam ser do tipo broncopneumônico (típico das infecções por Mycoplasma ou Chlamydia) ou do tipo intersticial reticular ou reticulonodular (típico das viroses). DIAGNÓSTICO CLÍNICO + EXAMES LABORATORIAIS + RX DO TÓRAX. Procura do agente etiológico (exame de escarro) – em caso de dúvidas ou necessário para pacienres com PAC grave ou não respondedora à terapia empírica inicial, bem comos internados em UTI. USG de tórax: útil na avaliação de gestantes e em indivíduos restritos ao leito. TC: método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar, porém possui alto custo e alta exposição à radiação. É um exame útil principalmente nos casos em pacientes obesos e imunossuprimidos. BIOMARCADORES: podem ser úteis como exames complementares. Procalcitonina: produzida em grande quantidade pelas células parenquimatosas em resposta a toxinas bacterianas e citocinas pró-inflamatórias, mas é pouco produzida na presença de infecções virais. PCR: é inespecífica e é secretada pelas células hepáticas em resposta à elevação das interleucinas e TNF-α. O pico da PCR ocorre cerca de 48 h após o estímulo agressor. OBS: Estudos mostraram uma melhor importante da acurácia diagnóstica quando acrescentaram a dosagem desses dois biomarcadores, sendo a procalcitonina o melhor marcador isolado para predizer a mortalidade. TRATAMENTO CONDUTA CLÍNICA: 4 GABRIELA M. D. FARIAS MEDICINA FIPGUANAMBI 0-1: mortalidade baixa ➔ tto ambulatorial 2: mortalidade intermediária ➔ tto hospitalar ≥3: mortalidade alta ➔ tto hospilar (avaliar UTI) OBS: SE O PACIENTE NÃO TIVER COMO COMPRAR O REMÉDIO, JÁ É CRITÉRIO DE INTERNAÇÃO INDEPENDENTE DOS ESCORES. QUANDO INTERNAR EM CTI? TRATAMENTO AMBULATORIAL: A recomendação é o uso de MONOTERAPIA COM β-LACTÂMICO OU MACROLÍDEOS para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação. AMOXICILINA OU AMOXICILINA + ÁCIDO CLAVULÂNICO (7 dias) OU MACROLÍDEOS (AZITROMICINA 3-5 dias ou CLARITROMICINA – 7 dias). SE TIVER FATORES DE RISCO, DOENÇA MAIS GRAVE, USO RECENTE DE ANTIBIÓTICOS: Β-LACTÂMICO MAIS MACROLÍDEOS. SE TIVER ALERGIA A Β-LACTÂMICOS OU MACROLÍDEOS: MOXIFLOXACINO OU LEVOFLOXACINO OU GEMIFLOXACINO. TRATAMENTO HOSPITALAR: A recomendação é: β-LACTÂMICO ASSOCIADO A UM MACROLÍDEO OU FLUOROQUINOLONA RESPIRATÓRIA ISOLADA. CEFALOSPORINAS DE TERCEIRA GERAÇÃO (CEFTRIAXONA) + MACROLÍDEO (AZITROMICINA OU CLARITROMICINA) por 7- 10 dias OU LEVOFLOXACINO OU MOXIFLOXACINO OU GEMIFLOXACINO EM MONOTERAPIA por 5-7 dias. TRATAMENTO UTI: β-LACTÂMICO ASSOCIADO A UM MACROLÍDEO OU FLUOROQUINOLONA RESPIRATÓRIA ASSOCIADA A UM β-LACTÂMICO. CEFALOSPORINAS DE 3ª GERAÇÃO (CEFTRIAXONA) OU AMPICILINA/SULBACTAN + UM MACROLÍDEO (AZITROMICINA OU CLARITROMICINA) por 7-14 dias OU CEFALOSPORINAS DE 3ª GERAÇÃO (CEFTRIAXONA OU CEFOTAXIMA) + QUINOLONA RESPIRATÓRIA por 7-14 dias. ATENÇÃO!!! PAC NÃO GRAVE: 5 a 7 dias. PAC DE MODERADA A ALTA GRAVIDADE: 7 a 10 dias. O tratamento pode ser estendido até 14 dias. CORTICOIDES: APENAS EM CASOS DE CHOQUE SÉPTICO. Falha terapêutica: broncoscopia com coleta de material para cultura + BAAR + coloração para P. jirovecii e fungos + anti-HIV. PREVENÇÃO Vacina anti-influenza: pessoas > 60 anos, indivíduos com alto risco para complicações do influenza, contatos íntimos de pessoas com alto risco e profissionais de saúde. Vacina antipneumocócica: pessoas > 60 anos, com dose de reforço 5 anos após, e em situações especiais de alto risco. REFERÊNCIAS: Diretrizes Brasileiras para Pneumonia na Comunidade em Adultos Imunocompetentes. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2009. Atualização das recomendações de manejo da PAC. SBPT. 2018. Murray e Nadel, Tratado de Medicina Respiratória.
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