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Problema 2 Marcela Vianna XLVI 1 PNEUMONIASPNEUMONIASPNEUMONIAS Þ Definição Infecção aguda no parênquima pulmonar. - Definição histopatológica: preenchimento do espaço al- veolar por infiltrado necroinflamatório, ou seja, os alvéolos encontram-se totalmente ocupados por leucócitos (princi- palmente neutrófilos) e exsudato purulento, contendo de- bris celulares (vestígios de células ou tecidos mortos), neutrófilos e bactérias. - Pneumonite ou alveolite: lesão caracterizada por um infi- ltrado inflamatório localizado principalmente, mas não ex- clusivamente, nos septos alveolares. A diferenciação de pneumonia e pneumonite está caindo por terra. Þ Epidemiologia A pneumonia adquirida na comunidade é a principal causa de morte no mundo, com significativo impacto nas taxas de morbidade. As pneumonias são a 8ª principal causa de morte (2,3%) nos EUA, e a 1ª entre as doenças infecciosas. A taxa de mortalidade da pneumonia tem caído no Brasil, em torno de 25% nas últimas 3 décadas, mas ela ainda é a 3ª maior causa de morte. A melhora da situação socioeco- nômica, o maior acesso a cuidados de saúde, a disponibili- dade nacional de antibióticos e as políticas de vacinação ex- plicam em parte a redução das taxas de mortalidade no Brasil. A incidência é maior entre crianças menores de 5 anos e pacientes idosos. A hospitalização pode ser necessária em 12-20% dos pa- cientes, sendo que 5-10% apresentam doença grave com necessidade de tratamento na UTI. O avanço da medicina acabou fortalecendo a pneumonia: - permitiu a população envelhecer, aumentando o número de idosos, o grupo mais suscetível à infecção - aumentou a sobrevida média de certas patologias debili- tantes (neuoplasias malignas, DPOC, insuficiência cardíaca, DM e doença cerebrovacular) - intensificou o uso de drogas imunossupressoras - desenvolveu as tecnicas invasivas de suporte terapêutico, que servem como porta de entrada para bactérias no orga- nismo Þ Fatores de risco - Mecanismo de defesa pulmonares prejudicados ou resis- tência sistêmica do hospedeiro diminuida: doenças crôni- cas, deficiência imunológica, tratamento com imunosupres- sores e leucopenia - Perda ou supressão do reflexo da tosse: coma, anestesia, distúrbios neuromusculares, medicamentos ou dor toráci- ca. Isso pode levar a aspiração de conteúdo gástrico. - Lesão no aparelho mucociliar: prejuizo da função ciliar ou destruição do epitélio ciliado, em virtude do tabagismo, ina- lação de gases quentes ou corrosivos, doenças virais ou de- feitos genéticos na função ciliar (síndrome dos cílios imó- veis) - Acúmulo de secreções: fibrose cística e obstrução brôn- quica - Interferência com a ação fagocítica ou bactericida dos macrógafos por alcool, tabaco, anoxia ou intoxicação por oxigênio - Congestão e edema pulmonar - Defeitos da imunidade inata (defeitos de neutrófilos e do complemento) e da humoral tipicamente causam maior in- cidência de infecções por bactérias piogênicas. Mutações germinativas no MyD88 (adapatador para os TLRs) que é importante para ativação do fator de transcrição NFkB) também estão associados com pneumonias bacterianas destrutivas (pneumocócicas). - Defeitos da imunidade celular (congênitos e adquiridos -HIV) levam ao aumento de infecções por micróbios intrace- lulares como micobactérias e herpesvírus, além de micror- ganismos de virulência muito baixa, como Pneumocytis jire- veci. Þ Patogênese • Meios de o patógeno atingir os alvéolos - Microaspiração de patógenos que colonizam as vias aé- reas sueriores (mais comum) - Inalação de aerosol contaminado do meio ambiente (Le- gionella) - Via hematogênica Para ocorrer pneumonia, uma ou mais das situações devem estar presentes: - contato com agente de alta virulência - contato com grande quantidade de agente infeccioso - defeitos do sistema de defesa do hospedeiro • Linhas de defesa Partículas maiores que 2 micra são depositadas no muco do epitélio traqueobrônquico e conduzidas pelo movimento ci- liar até a orofarínge, onde são deglutidas. O reflexo da tos- se e outros reflexos epiglóticos também eliminam essas partículas. A mucosa das vias aéreas superiores apresentam também IgA específica Partículas menores que 2 micra conseguem atingir os bron- quios terminais e alvéolos. Os alvéolos apresentam surfac- tante e outras substâncias com efeito microbiano. - IgG: reveste a superfície bacteriana, permitindo o reco- Problema 2 Marcela Vianna XLVI 2 nhecimento pelos macrófagos/céls dendríticas alveolares - IgM: ativa o sistema complemento (lise e inflamação) - Complemento, fibronectina, lisozimas, proteínas ligadoras de ferro Quando os macrófagos alveolares não conseguem conter a infecção, eles liberam quimiocinas e citocinas iniciando um processo inflamatório Þ Condições que predispõe a pneumonia - Idade avançada: imunodepressão; aumenta a colonizção faríngea por Gram-negativos - Tabagismo: inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocíti- ca dos macrófagos alveolares - DPOC: aumenta a colonizção faríngea por Gram-negativos; inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macró- fagos alveolares - Alcoolismo: aumenta a colonizção faríngea por Gram-ne- gativos; inibe a tosse e os reflexos glóticos; inibe a quimio- taxia dos neutrófilos e metabolismo oxidativo dessas célu- las - ICC: mecanismo desconhecido - Uremia crônica: menor capacidade fagocitica; inibe a qui- miotaxia dos neutrófilos e metabolismo oxidativo dessas cé- lulas - Infecções virais: lesão do epitélio taqueobrônquico (perda da atividade ciliar) - Queda da consciência: inibição da tosse e reflexos glóticos - aspiração de grandes quantidade de material fagíngeo ou gástrico - Doença cerebrovascular: inibição da tosse e reflexos glóti- cos Þ Classificação • Pneumonia adquirida na comunidade Pacientes sem história de internação > 48h nos últimos 90 dias; pacientes sem história de uso de antibiótico intrave- noso, quimioterapia ou tratamento de úlcera de pressão nos últimos 30 dias; pacientes não oriundos de unidades es- peciais de internação prolongada (asilos, home care); pa- cientes que não se encontram sob tratamento em clínicas de diálise. Podem ser bacterianas ou virais, mas as características clíni- cas e radiológicas não apresentam diferenças significativas para diferenciar as duas. A proteína C-reativa (PCR) e a pro- calcitonina são reagentes de fase aguda produzidos no fíga- do, estão mais elevados em infecções bacterianas do que em virais. Frequentemente, a infecção bacteriana segue uma infecção viral do trato respiratório superior. • Pneumonia associada à assistência à saúde É associada a uma maior mortalidade do que as pneumoni- as de comunidade. Os organismos mais comuns são Staphy- lococcus aureus e P. areruginosa resistentes à meticilina. Entram nessa classificação pacientes com histórias de: hos- pitalização de pelo menos 2 dias em um passado recente; proveniência de uma casa de repouso ou instituição de lon- ga permanência; comparecimento em hospitais ou clínicas de hemodiálise; terapia intravenosa com antibióticos recen- te, quimioterapia ou tratamento de feridas. • Pneumonia hospitalar Infecções pulmonares adquiridas no curso de uma interna- ção hospitalar. São comuns em pacientes com doença sub- jacente grave, imunossupressão, antibioticoterapia prolon- gada ou dispositivos de acesso invasivo (cateteres intravas- culares). Os pacientes com ventilação mecânica têm alto risco. Superpostas a uma doença subjacente (que causou a hospitalização), as infecções hospitalares são complicações sérias e frequentemente ameaçam a vida. Cocos Gram-po- sitivos (principalmente S. aureus e S. pneumoniae) e baci- los Gram-negativos (espécies de Enterobacteriaceae e Pseudomonas) são principalmente isolados. Há organismos isolados de maneira similar na pneumonia associada à ven- tilação, mas os bacilos Gram-negativos são mais comuns. Pneumonia Bacteriana de ComunidadePneumonia Bacteriana de ComunidadePneumonia Bacteriana de Comunidade Þ Agentes etiológicos - Streptococcus pneumoniae (pneumococo): é um coco Gram-positivo, agente causadormais comum de PAC. O exame do escarro por coloração Gram é importante para o diagnóstico de pneumonia aguda - presença de numerosos neutrófilos contendo diplococos lancetados Gram-positivos. - Haemophilus influenzae: é uma bactéria Gram-negativa pleomórfica que ocorrem em formas não encapsuladas e encapsuladas. Existem 6 sorotipos de formas encapsuladas (A-F), dos quais o B é o mais virulento. O polissacarídeo cap- sular da forma B é presenta na vacina contra H. influenzae, diminuindo a incidência da doença causada por esse soroti- po. Em contrates, as infecções pelas formas não encapsula- das (não tipáveis) estão aumentando. Elas são menos viru- lentas e causam otite média, sinusite e broncopneumonia. A pneumonia por H. influenzae, que pode seguir uma infec- ção respiratória viral, é uma emergência pediátrica e apre- senta alta taxa de mortalidade. A laringotraqueobronquite descendente resulta em obstrução das vias aéreas, à medi- da que os brônquios menores são obstruídos por um exsu- dato denso, rico em fibrina, contendo neutrófilos, seme- lhante ao observado nas pneumonias pneumocócicas. A consolidação pulmonar geralmente é lobular e irregular, mas pode ser confluente e envolver todo o lobo pulmonar. Antes de a vacina se tornar amplamente disponível, o H. in- fluenzae era uma causa comum de meningite supurativa em crianças com até 5 anos de idade. O H. influenzae tam- bém causa uma conjuntivite aguda purulenta (olho rosa) em crianças e, em pacientes idosos com predisposição, po- de causar septicemia, endocardite, pielonefrite, colecistite e artrite supurativa. O H. influenzae é a causa mais comum de exacerbação bacteriana aguda de DPOC. - Moraxella catarrhalis: é cada vez mais presente em ido- so. É segunda causa bacteriana mais comum de exacerba- ção aguda da DPOC. - Staphylococcus aureus: é uma importante causa de pneu- monia bacteriana secundária em crianças e adultos sauda- veis após doenças respiratórias virais. Está relacionada a al- ta incidência de complicações (abcesso pulmonar e empie- Problema 2 Marcela Vianna XLVI 3 ma). Usuários de drogas intravenosas apresentam alto risco de desenvolvimento de pneumonia estafilocócica em asso- ciação com endocardite. Também é uma causa importante de pneumonia hospitalar adquirida. - Klebsiella pneumoniae: é a causa mais frequente de pneu- monia bacteriana por Gram-negativos. Afeta comumente indivíduos debilitados e desnutridos, particularmente alco- olatras crônicos. O escarro é espesso, mucoide e com raios de sangue. - Pneumonas aeruginosa: na maioria das vezes causa infec- ções hospitalares, mas também pode ser adquirida na co- munidade em pacientes com fibrose cística e imunocom- prometidos. É comum em pacientes neutropênicos e tem uma propensão a invadir os vasos sanguíneos, com conse- quente disseminação extrapulmonar. - Legionella penumophila: causa formas epidêmicas e espo- rádicas de pneumonia. Também causa a febre de Pontiac, uma infecção do trato respiratório superior autolimitada. Esse organismo prospera em ambientes aquáticos artificiais (torres de resfriamento de água e no sistema de tubulação), portanto a transmissão é feita pela inalação de água potá- vel contaminada. O diagnóstico é feito pela demosntração de antígenos de Legionella na urina ou por um teste de an- ticorpo fluorescente positivo em amostras de escarro; cul- tura continua sendo o padrão ouro para o diagnóstico. - Mycoplasma pneumoniae: são comuns entre crianças a adultos jovens. Ocorrem esporadicamente ou como epide- mias locais em comunidades fechadas (escolas, acampa- mentos militares e prisões). Tabela 1 e 2 Þ Quadro Clínico Típico • Sintomas: início hiperagudo (2-3 dias) febre alta (39- 40°C), calafrios com tremores, tosse produtiva com escar- ro mucopurulento, ocasionalmente pode ocorrer hemopti- se. Quando a pleurite está presente, ela causa dor pleuríti- ca e atrito pleural. • Exame físico: postração (MEG ou REG), taquipneia, taqui- cardia, hipertermia, estertores - Síndrome de consolidação pulmonar: sombronquial, au- mento do FTV, submacicez ou macicez, broncofonia e pec- torilóquia fônica - Síndrome do derrame pleural: MV abolido, diminuição do FTV ou abolição, submacicez e egofonia •RX de tórax: infiltrado pulmonar broncopneumônico ou lobar (área esbranquiçada). Em alguns casos o RX pode ser normal. - Pneumonia do lobo pesado: acometimento do lobo supe- rior, com abaulamento da cisura pelo edema lobar inflamat- ório. Causada principalmente pela Klebsiella pneumoniae. Acomete mais alcoólatras e diabéticos. - Pneumatoceles: formação de cistos com paredes finas ge- ralmente múltiplos, decorrentes da passagem de ar para o interstício subpleural através de pequenas roturas bron- quiolares. Staphylococcus aureus. - Pneumonia redonda: condensação em formato arredon- dado, típica em crianças. Pneumococo - Pneumonia necrosante (<2cm) e abcesso pulmonar (>2cm): pode ser causado por pneumonia aspirativa (agen- tes anaeróbios) ou Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus e pneumococo tipo 3 principalmente. Problema 2 Marcela Vianna XLVI 4 • Escarro: mostra pneumococo ou outras bactérias indenti- ficáveis pela cultura ou Gram (microrganismos típicos). A Legionella pneumophila é um bastonete Gram-negativo muito difícil de ser detectado no exame do escarro, mas que causa quadro clínico típico. Þ Quadro Clínico Atípico Se parece com uma virose respiratória prolongada. O princi- pal agente é o Mycoplasma neumoniae, incidindo geral- mente numa faixa etária jovem, entre 5 e 40 anos. • Sintomas: início subagudo (10 dias), inciando com mani- festações gerais de síndrome gripal (dor de garganta, mal- estar, mialgia, tosse seca e febre entre 38-39°C). A tosse costuma piorar após a primeira semana, passando a ser o principal sintoma. A tosse é seca, que atrapalha o sono do paciente, mas pode ser produtiva, com expectoração bran- ca. Obs: Idosos e pacientes com doenças prévias podem apre- sentar apenas febre mais baixa (38-38,5°C), desorientação, queda do estado geral e taquidispneia. • RX: infiltrado intersticial ou broncopneumônico O quadro clínico se modifica drasticamente quando é inicia- do o tratamento com antibióticos. Os pacientes podem es- tar relativamente afebris e com poucos sinais clínicos em 48-72h após a introdução de antibióticos. É necessário iden- tificar o microrganismo e determinar a sua sensibilidade a antibióticos para determinar a terapia apropriada. Þ Gravidade do quadro A avaliação da gravidade do quadro serve para determinar o nível de tratamento necessario para aquele paciente (do- miciliar, internação ambulatorial ou UTI). Os escores mais usados são o Pneumonia Severity Index (PSI) e o CURB-65. • PSI: mais complexo, desenvolvido para identificar pacien- tes com risco baixo de mortalidade. Estratifica pacientes em 5 grupos, com diferentes estimativas de risco de morte em 30 dias e sugere o local de tratamento. Tabela 3 • CURB-65: mais simples, identifica pacientes mais graves. Cada um dos critérios recebe um ponto. - Confusão mental - Ureia elevada > 7mmol/L (>50mg/dL) - Frequência respiratória >=30 irpm (Respiratory frequency) - PAS < 90mmHg e/ou PAD <= 60mmHg (Blood pressure) - Idade >=65 anos Existe também o critério CURB-65 simplificado, sem a ureia - CRB-65. • Estratificação de risco segundo concenso da American Thoracic Society/Infectious Deseases Society of America para admissão na UTI: presença de 2 ou 3 critérios meno- res ou um entre 2 critérios maiores. Problema 2 Marcela Vianna XLVI 5 Þ Complicações • Abcesso: comum em infecções por pneumococos tipo 3 ou Klebsiella • Empiema: disseminação da infecção para cavidade pleu- ral, causando uma reação fibrinosupurativa intrapleural • Bronquectasia • Derrame pleural parapneumônico • Disseminação bacterêmica: para valvas cardíacas, peri- cárdio, cérebro, rins, baço ou articulações, causando abces- sos metastáticos, endocardite, meningite ou artrite supura- tiva. Þ Exames de imagem • RX de tórax A presença de opacidade à radiografia é considerada pa- drão ouro para o diagnósticode pneumonia. Além da contribuição ao diagnóstico, o RX de tórax permin- te ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complica- ções e auxiliar no diagnóstico diferencial de outras causas de tosse e febre (traqueobronquite aguda). O RX de tórax também é recomendado quando a resposta clínica ao tra- tamento for insatisfatória. Os achados diagnósticos incluem consolidação lobar, infi- ltrados intersticiais e cavidades. Não é possível diferenciar pneumonia bacteriana de não bacteriana pelo RX. Quando o exame não está disponível de imediato, a radio- grafia não é necessária para dar início ao tratamento. Po- rém, menos de 40% dos médicos são capazes de diagnosti- car pneumonias com base apenas no exame clínico. Portan- to, a radiografia deveria ser obrigatória para pacientes com suspeita de PAC. • Ultrassonografia de tórax (UST) Apresenta maior sensibilidade e maior acurácia que a radio- grafia na identificação de alterações parenquimatosas. Os principais achados são consolidações, padrão intersticial focal, lesões subpleurais e anormalidades na linha pleural. É muito útil para gestantes e pessoas restritas ao leito. A UST não é recomendada de rotina, devido ao alto custo e o fato de nao haver evidência de que possa melhorar o des- fecho e PAC. • Tomografia computadorizada de torax É o método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar. É util em casos em que a acurácia do RX e da UST é baixa (pacientes obesos, imunossuprimidos e indivíduos com alterações radiológicas prévias). É indicada na suspeita de infecções fúngicas e pa- ra auxiliar na exclusão de outros dignósticos em alguns ca- sos. Em função da alta exposição radiológica pela TC, é sugerido o uso da UST como teste auxiliar intermediário antes do uso da TC no diagnóstico em casos difíceis de diagnosticar. Ressalta-se ainda a importância da TC de tórax para a avali- ação de complicações da PAC, como abscesso de pulmão e derrame pleural loculado, e a investigação de motivos da falta de resposta clínica ao tratamento. Þ Biomarcadores • Proteína C reativa (PCR): é secretada pelas céls hepáticas em resposta a elevação das IL-1, IL-6 e TNF-α, portanto se eleva em qualquer processo inflamatório. O pico de PCR ocorre 48h após o estímulo agressor, e a meia vida plasmá- ticas é de ~19h. • Procalcitonina: produzida em grande quantidade pelas céls parenquimatosas em resposta a toxinas bacterianas e citocinas pró-inflamatórias, é pouco produzida em infec- ções virais. Os níveis se elevam dentro de 2h após o estímu- lo bacteriano. É o melhor biomarcador isolado para predizer a mortalida- de. (Esquema 1) Pode-se utilizar a procalcitonina como auxílio ao diagnósti- co da PAC, assim como procalcitonina e/ou PCR podem ser utilizados na avaliação da resposta ao tratamento. Problema 2 Marcela Vianna XLVI 6 Þ Outros testes • Exames laboratoriais: a recomendação é não realizar exames laboratoriais em PAC que fará o tratamento ambu- latorial. Para pacientes com indicação de internação, reco- menda-se coleta de sangue para hemograma, eletrólitos, função renal e hepática e saturação periférica de O2 (SpO2). Realizar também gasometria arterial se SpO2 <90% em ar ambiente e em casos graves. •Testes microbiológicos: para pacientes que farão o trata- mento ambulatorial não há recomendação para testes es- pecíficos. Nos pacientes hospitalizados é necessário reali- zar os testes pois o resultado pode alterar a antibiótico a ser usado. • Hemocultura: é indicado para pacientes com PAC grave, pois podem ser infectados com patógenos diferentes. Pa- cientes com deficiência de complemento, asplenia, doenças hepáticas crônicas e leucopênicos têm incidência maioria de bacteremia e também tem indicação de coleta do teste. • Escarro: o escarro pode ser submetido à bacterioscopia pelo método Gram e cultura. Se os teste for realizado em pacientes bacterêmicos, tem boa sensibilidade e especifida- de para pneumonia por Staphylococcus spp e penumia por bacilo Gram-neg. Þ Tratamento ambulatorial O tratamento antibiótico inicial é definido de forma empíri- ca pois os resultados microbiológicos só saem após o diag- nóstico de PAC. A escolha do antibiótico depende: - do patógeno mais provável no local de aquisição da doen- ça - dos fatores de risco individuais - da presença de doenças associadas - dos fatores epidemiológicos, como viagens recentes, aler- gias e relação custo-benefício. Recomendações britânicas e europeias promovem a amoxi- cilina como tratamento de primeira escolha, reservando os macrolídeos como droga alternativa. As orientações norte-americanas de 2007 defendem o tra- tamento de patógenos atípicos e pneumococos e sugerem macrolídeos ou doxiciclina quando não há suspeita de re- sistência aos antibióticos. Pacientes mais velhos, com comorbidades e mulheres preci- sam mais de tratamento adicional. *Uso de monoterapia com β-lactâmico ou macrolídeos pa- ra os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, ne- nhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco pa- ra resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas.* Fluroquinolas devem ser resevadas para pacientes com fa- tores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção de tratamento. Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos 3 meses anteriories, quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é superior a 25%, presença de doenças as- sociadas (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, DM, IC, alcoolismo ou imunossupressão). Para esses casos reco- menda-se associar macrolídeos com uma fluoroquinolona respiratória por pelo menos 5 dias. - Macrolídeos: azitromicina, eritromicina, claritromicina - β-lactâmicos: penicilina (amoxilina), cefalosporinas, carba- pênicos. - Fluroquinolas: ciprofloxacino, norfloxacino e ofloxacino, delafloxacino, gemifloxacino, levofloxacino e moxifloxacino. Tabela 4 PNEUMONIA VIRAL DE COMUNIDADEPNEUMONIA VIRAL DE COMUNIDADEPNEUMONIA VIRAL DE COMUNIDADE Infecções virais comuns incluem as dos vírus influenza tipos A e B, dos vírus sinciciais respiratórios, o metapneumovírus humano, adenovírus, rinovírus, rubéola e vírus da varicela. Qualquer um desses agentes pode causar simplesmente uma infecção do trato respiratório superior, reconhecida co- mo um resfriado comum ou uma infecção do trato respirat- ório inferior mais severa. Os fatores que favorecem essa extensão da infecção incluem extremos de idade, desnutri- ção, alcoolismo e doenças debilitantes de base. Os danos causados podem predispor a superinfecções bac- terianas, que geralmente são mais graves que as infecções virais. - Influenza: o virus influenza A é a princial causa de pande- mia e epidemias por influenza. As principais proteínas codi- ficadas pelo seu genoma são as hemaglutininas (H1-H3) e as neuraminidases (N1-N2) que fazem parte do envelope do vírus. Esse vírus infecta os pneumócitos e inibe os canais de sódio, produzindo desvios de água e eletrócitos que levam ao acúmulo de fluidos na luz alveolar. As células infectadas acabam morrendo e isso exacerba o acumulo de fluidos e li- bera “sinais de perigo” que ativam macrófagos residentes. Além disso, as células infectadas (antes da sua morte), céls endoteliais e macrófagos liberam mediadores inflamatórios (quimiocinas e citocinas) que permitem o recrutamento de neutrófilos e a ativação do endotélio pulmonar, permitindo que os neutrófilos se liguem e extravasem para o interstício em 1-2 dias de infecção. - Metapneumovírus Humano (MPV): está associada a infec- ções dos tratos respiratórios superior e inferior. É mais co- mum em crianças jovens, idosos e pacientes imunocom- prometidos. O MPV humano pode causar infecções seve- ras, como bronquiolite e pneumonia, e é responsável por 5% a 10% das hospitalizações e 12% a 20% das visitas am- bulatoriais de crianças que sofrem de infecções agudas do trato respiratório. Os métodos de diagnóstico incluem PCR para RNAviral eimunofluorescência direta. Aribavirina é o único tratamento antiviral que está atualmente disponível para infecções pelo MPV humano. - Síndrome respiratória aguda severa (SARS): a causa da SARS é o novo coronavirus. Muitas infecções respiratórias superiores são causadas por coronavírus, porém o vírus da SARS difere dos outros coronavirus pois infecta o trato res- piratório inferior e se dissemina por todo o organismo. Problema 2 Marcela Vianna XLVI 7 Þ Curso clínico É extremamente variado. Muitos casos são mascarados co- mo infecções do trato respiratório superior severas ou co- mo resfriados. Tosse pode estar ausente, e as principais manifestações podem ser apenas febre, dor de cabeça, do- res musculares e nas pernas. O edema e a exsudação estão estrategicamente localizados, causando desequilíbrio na re- lação ventilação/perfusão e, consequentemente, produzin- do sintomas desproporcionais aos achados físicos escassos. As infecções virais geralmente são leves e se resolvem es- pontaneamente, sem qualquer sequela duradoura. Contu- do, pneumonias intersticiais virais podem assumir propor- ções epidêmicas, e nessas circunstâncias, mesmo com bai- xas taxas de complicações, podem levar a morbidade e mortalidade significativas, como é tipicamente visto nas epidemias de influenza. PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃOPNEUMONIA POR ASPIRAÇÃOPNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO Ocorre em pacientes muito debilitados ou naqueles que aspiram o conteúdo gástrico quando estão inconscientes (AVC) ou durante episódios repetidos de vômitos. Esses pa- cientes possuem reflexos de engasgo e deglutição anor- mais, que predispõe a aspiração. A pneumonia resultante é em parte química (suco gástrico) e em parte bacteriana (flora oral - organismos aeróbios são mais comuns). Esse tipo de pneumonia é frequentemente necrotizante, e segue um curso clínico fulminante e é frequente causa de morte. Naqueles que sobrevivem o abcesso pulmonar é uma complicação comum. A microaspiração, por outro lado, ocorre frequentemente em quase todas as pessoas, especialmente em indivíduos com doença do refluxo gastroesofágico. Ela resulta, geral- mente, em pequenos granulomas malformados, não necro- tizantes, com reação das células gigantes multinucleadas do tipo corpo estranho. Geralmente, não traz consequências, mas pode exacerbar outras doenças pulmonares preexis- tentes como asma, fibrose intersticial e rejeição pulmonar. PNEUMONIA CRÔNICAPNEUMONIA CRÔNICAPNEUMONIA CRÔNICA Na maioria das vezes, é uma lesão localizada em pacientes imunocomprometidos, com ou sem envolvimento de linfo- nodos regionais. Tipicamente, a reação inflamatória é gra- nulomatosa e é causada por bactérias (M. tuberculosis) ou fungos (Histoplasma capsulatum). ReferênciasReferênciasReferências 1. Robbins. Bases patológicas das doenças. 9ª ed 2. Luiz Carlos Corrêa Silva. Pneumologia, principios e práti- ca. 3. SPPT. Pneumonias adquiridas em comunidade. Vol 5 4. JBP. Recomendações para o manejo da penumonia adqui- rida em comunidade 2018 Problema 2 Marcela Vianna XLVI 8 Tabela 1 - Agentes que causam quadro típico de PAC Tabela 2 - Agentes que causam quadro atípico de PAC Problema 2 Marcela Vianna XLVI 9 Tabela 3 - PSI Esquema 1 Problema 2 Marcela Vianna XLVI 10 Tabela 4 - Tratamento de PAC
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