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CASOS CLÍNICOS MEDICINA INTERNA 1.2 Tatiana Rodrigues 01 Homem de 56 anos vai a sua clínica pela primeira vez. Há sete anos, no exame de saúde no trabalho, teve diagnóstico de hipertensão e de hipercolesterolemia. Na ocasião, consultou um médico que prescreveu um diurético e o aconselhou a perder algum peso com dieta e exercícios. Desde aquela época, o paciente não procurou atendimento médico. Durante os últimos dois meses, tem cefaleia ocasional, que atribui à tensão no trabalho. Nega dor torácica, falta de ar, dispneia de esforço e dispneia paroxística noturna. Fuma um maço de cigarros por dia desde os 15 anos de idade. Normalmente, bebe dois copos de vinho no jantar. O paciente é obeso, você calcula seu índice de massa corporal (IMC) em 30 kg/m2. A pressão arterial no braço direito é de 168/98 mmHg e de 170/94 mmHg no braço esquerdo. Quais devem ser os próximos passos? A pressão arterial não se altera com mudanças de posição. A frequência cardíaca é de 84 bpm. Não tem aumento de tireoide ou linfadenopatia. O exame do fundo de olho mostra estreitamento de artérias, cruzamento arteriovenoso patológico e hemorragias em chama de vela com exsudatos algodonosos. O exame cardíaco mostra que o ictus está desviado 2 cm para a esquerda da linha hemiclavicular. Há galope B4, e não são auscultados sopros. O exame dos pulmões e do abdome é normal. Próximo passo no tratamento: Avaliação laboratorial para medida da função renal, incluindo análise de eletrólitos, creatinina e exame de urina; avaliação de outros fatores de risco cardiovascular, como glicemia e perfil lipídico e realização de um ECG basal para avaliação de dano em órgão-alvo; Iniciar esquema de dois fármacos anti-hipertensivos que inclua um diurético tiazídico; Recomendar mudança no estilo de vida, sendo a mais importante o abandono do tabagismo. Resumo: Homem hipertenso de 56 anos está sendo avaliado como paciente novo. Sua pressão arterial está na faixa de 170/95 mmHg. O exame de fundo de olho mostra retinopatia hipertensiva. O ictus está desviado lateralmente, sugerindo cardiomegalia, e há quarta bulha cardíaca, isto é, com ventrículo espessado não complacente. Além disso, tem múltiplos fatores de risco cardiovascular, incluindo idade, obesidade e tabagismo. RESPOSTA PARA O CASO 01 CONSIDERAÇÕES Esse é um homem de 56 anos com hipertensão grave e evidências de lesão hipertensiva de órgãos-alvo, isto é, retinopatia hipertensiva e hipertrofia ventricular esquerda. Além disso, tem múltiplos fatores de risco para doença aterosclerótica. O diagnóstico mais provável é hipertensão essencial, mas causas secundárias ainda devem ser consideradas. Embora você tenha medido sua pressão arterial apenas na clínica, ele disse que era hipertenso e parece já ter dano em órgãos-alvo por esse motivo. Sua pressão arterial está acima de 160/100 mmHg, o que o coloca no estágio II de hipertensão, com indicação de tratamento com duas medicações de imediato. 02 Um homem de 39 anos é levado à emergência por uma ambulância depois de ter sido encontrado vagando na rua em estado desorientado. Está confuso e agitado, e a história é obtida de sua mulher. Ela relata que durante os últimos meses ele se queixa de cefaleia intermitente, palpitações e sensação de cabeça leve e rubor quando joga basquete. Há três semanas, teve diagnóstico de hipertensão, iniciando o uso de clonidina duas vezes por dia. Tomou-a durante duas semanas, mas, por causa de sedação, foi instruído pelo seu médico há cinco dias para suspendê-la e iniciar tratamento com metoprolol duas vezes por dia. Ao ser examinado, está afebril, com frequência cardíaca de 110 bpm, frequência respiratória de 26 mpm, saturação de oxigênio de 98% e pressão arterial de 215/132 mmHg, igual em ambos os braços. Está agitado, com diaforese e olhando em torno da sala; parece não reconhecer sua esposa. As pupilas estão dilatadas e reativas, e ele tem papiledema e hemorragias retinianas difusas. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual é a etiologia subjacente? Qual deve ser o próximo passo? Não tem aumento de tireoide. Os exames do coração, dos pulmões e do abdome são normais. Os pulsos são amplos e iguais nos braços e nas pernas. Move todos os membros, os reflexos são rápidos e simétricos e está ligeiramente trêmulo. Uma TC sem contraste do crânio é negativa quanto à hemorragia. Os exames laboratoriais incluem contagem normal de leucócitos e nível de hemoglobina de 16,5 g/dL. O nível de sódio sérico é de 139 mEq/L, o de potássio é de 4,7 mEq/L, o de cloreto é de 105 mEq/L, o de bicarbonato é de 29 mEq/L, o de ureia é de 68,5 mg/dL e o de creatinina é de 1,3 mg/dL. O exame de urina é normal, e a pesquisa de drogas na urina é negativa. É feita punção lombar, e o líquido cerebrospinal (LCS) não tem hemácias nem leucócitos, não apresenta xantocromia, e os valores de proteína e glicose estão normais. Diagnóstico mais provável: Encefalopatia hipertensiva. Etiologia possível: Feocromocitoma, considere a hipótese de hipertensão de rebote por clonidina. Próximo passo: Internar na unidade de terapia intensiva (UTI) e reduzir imediatamente a pressão arterial com agente parenteral e realizar monitoração cuidadosa da pressão arterial. Resumo: Homem de 39 anos com diagnóstico recente de hipertensão está agora no SE com estado confusional sério e pressão arterial criticamente elevada. Vem tendo episódios de palpitações, cefaleia e sensação de cabeça leve. Sua medicação recentemente foi mudada de clonidina para metoprolol. O exame físico é significativo, com pupilas dilatadas, edema de papila e pulsos periféricos amplos. A pesquisa de drogas na urina é negativa. A TC de crânio e os exames de LCS não mostram hemorragia intracraniana ou infecção. RESPOSTA PARA O CASO 02 CONSIDERAÇÕES Trata-se de um homem relativamente jovem com pressão arterial muito elevada que apresenta estado mental alterado. O uso de drogas ilícitas, como cocaína e anfetaminas, deve ser considerado, mas a pesquisa de drogas foi negativa. A encefalopatia hipertensiva, que apresenta sintomas como pressão arterial muito elevada, confusão, aumento de pressão intracraniana e/ou convulsões, é um diagnóstico de exclusão, ou seja, devem ser eliminadas outras causas de declínio mental agudo, tais como acidente vascular, hemorragia subaracnóidea, meningite e lesões de massa. Não é necessário saber a etiologia específica da hipertensão para tratar a encefalopatia; a redução urgente da pressão arterial está indicada. No entanto, não é necessário, e pode ser danoso, normalizar a pressão arterial muito rapidamente, porque isso pode causar hipoperfusão cerebral. Devem ser usadas medicações parenterais para reduzir a pressão arterial para a faixa de 160/100-110 mmHg. O paciente tem taquicardia, hipertensão, diaforese, pupilas dilatadas e leve tremor, sinais de estado hiperadrenérgico. O feocromocitoma deve ser considerado como possível etiologia subjacente da hipertensão. A mudança da medicação anti-hipertensiva também pode ter contribuído, talvez com rebote pelo cessamento do uso da clonidina. 03 Homem de 28 anos vai à sua clínica porque está há cinco dias com náusea, vômito, dor abdominal difusa, febre de 38,3°C e dores musculares. Perdeu o apetite, mas tolera líquidos e não tem diarreia. Não tem história médica ou familiar significativas e não viajou para fora dos EUA. Admite ter tido 12 parceiras sexuais durante a vida, nega uso de drogas ilícitas e bebe álcool ocasionalmente, mas não depois que a doença começou. Não toma medicação rotineiramente, mas vem tomando aproximadamente 30 comprimidos de paracetamol por dia há dois dias por causa de febre e das dores no corpo desde que a doença começou. Durante o exame, sua temperatura é de 38oC, a frequência cardíaca é de 98 bpm e a pressão arterial é de 120/74 mmHg. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual é o exame diagnóstico imediato mais importante? O paciente está ictérico, mas o tórax está limpo à ausculta, e o ritmo cardíaco é regular, sem sopros. O fígado é percutível por 12 cm, liso e levementedoloroso à palpação. Não há distensão abdominal ou edema periférico. Os exames laboratoriais mostram hemograma normal, com níveis de creatinina de 1,1 mg/dL, alanina aminotransferase (ALT) de 3.440 UI/L, aspartato aminotransferase (AST) de 2.705 UI/L, bilirrubina total de 24,5 mg/dL, bilirrubina direta de 18,2 mg/dL, fosfatase alcalina de 349 UI/L, albumina sérica de 3 g/dL e tempo de protrombina de 14 segundos. Diagnóstico mais provável: Hepatite aguda, infecção viral ou lesão tóxica, possivelmente exacerbada por uso de paracetamol. Exame diagnóstico imediato mais importante: Nível de paracetamol, porque a toxicidade por paracetamol pode exacerbar muito a lesão hepática, mas é tratável. Resumo: Um homem de 28 anos queixa-se de náusea, vômito, dor abdominal difusa, febre e mialgia. Teve 12 parceiras sexuais durante a vida e atualmente está tomando paracetamol. Tem icterícia, febre baixa e hepatomegalia dolorosa. Os exames laboratoriais indicam lesão hepatocelular grave e alguma diminuição de função hepática. RESPOSTA PARA O CASO 03 CONSIDERAÇÕES Esse paciente tem lesão hepática aguda e sintomas sistêmicos que antecedem o uso de paracetamol. O grande aumento dos níveis de transaminases hepáticas e bilirrubinas indica hepatite viral ou possivelmente lesão tóxica. Esse paciente nega uso de drogas intravenosas, que seriam fator de risco para as hepatites B e C. Sua história sexual é uma possível indicação. O grau e o padrão da elevação das transaminases alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) podem fornecer alguns indícios para ajudar a diferenciar possíveis etiologias. Níveis de transaminases acima de 1.000 UI/L são vistos em doenças que causam necrose hepática extensa, como lesão tóxica, hepatite viral e isquemia. A hepatite alcoólica quase sempre tem níveis abaixo de 500 UI/L e frequentemente possui relação AST:ALT de 2:1. Nesse caso, é importante considerar a possibilidade de toxicidade por paracetamol, porque ela pode produzir insuficiência hepática fatal e porque há um antídoto eficaz disponível. Obtendo o nível sérico de paracetamol e sabendo o tempo de sua última ingestão, os dados podem ser colocados em um nomograma (Figura 11.1) para auxiliar na estimativa prognóstica da lesão hepática relacionada com paracetamol e na avaliação da necessidade de administração de N- acetilcisteína, que é o antídoto. 04 Mulher de 38 anos vai à sua clínica para avaliação de irregularidade menstrual. Afirma que começou a menstruar aos 12 anos, com ciclos regulares desde então, a cada 28 a 30 dias. Ela teve três gestações e partos sem complicações. Há cerca de nove meses o ciclo pareceu prolongar-se e, nos últimos três meses, ela não tem mais menstruação. Deixou de amamentar há três anos, mas nos últimos três meses notou que poderia obter uma pequena quantidade de líquido leitoso à expressão mamária. Fez ligadura tubária após a última gravidez e não tem outra história médica ou cirúrgica. Não usa qualquer medicação, exceto polivitamínicos. Ao longo do último ano, ela acha que engordou cerca de 5 kg e sente-se como se não tivesse energia, apesar de dormir bem. Qual é o diagnóstico mais provável? Qual é a etiologia mais provável? Notou leve afilamento do cabelo e textura de pele levemente áspera. Nega cefaleia e alterações visuais. O exame físico, incluindo exame ginecológico e exame das mamas, é normal. Não é obesa nem hirsuta. Uma discreta secreção mamilar esbranquiçada é notada em suas mamas. O teste de gravidez é negativo. Diagnóstico mais provável: Oligomenorreia e galactorreia por hipotireoidismo. Etiologia mais provável: Nessa paciente, que antes menstruava normalmente, com sintomas de ganho de peso, fadiga, afilamento do cabelo e galactorreia, o hipotireoidismo é o diagnóstico mais provável. Resumo: Mulher de 38 anos queixa-se de oligomenorreia e amenorreia secundária, juntamente com galactorreia. Ela costumava ter ciclos regulares e teve três gestações e partos sem complicações. Foi submetida à ligadura tubária bilateral após a última gestação, não tem outra história de doença clínica ou cirúrgica e não usa medicações que possam causar galactorreia. Tem apresentado ganho de peso, fadiga, leve afilamento dos cabelos e pele um pouco mais áspera. Nega cefaleia ou alterações visuais, que poderiam sugerir um adenoma de hipófise. O exame físico, incluindo exame ginecológico e de mamas, é normal. Ela não é obesa nem hirsuta. Você nota pequena secreção esbranquiçada nos mamilos. RESPOSTA PARA O CASO 04 CONSIDERAÇÕES Essa mulher de 38 anos tem amenorreia secundária, ganho de peso, fadiga e galactorreia, apesar de já ter tido menstruação normal e ter suspendido o aleitamento há três anos. Sua história de fadiga, ganho de peso e perda de cabelo sugere uma causa sistêmica para os sintomas, possivelmente hipotireoidismo. No entanto, o exame físico normal, com ausência de mixedema e bradicardia, os reflexos normais, a cognição normal e a falta de deslocamento do ictus sugerem hipotireoidismo leve. A ausência de virilização e de obesidade não exclui a síndrome de ovários policísticos, mas torna esse diagnóstico menos provável. O hipotireoidismo por si só pode causar galactorreia porque pode associar-se com hiperprolactinemia. Os prolactinomas também podem causar galactorreia e amenorreia secundária, todavia, devem ser excluídos.
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